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Universidade Federal do Pará (UFPA): Faculdade de Direito

Professor: Victor Sales Pinheiro


Disciplina: História do Pensamento Jurídico (2020.2)
Turma: 050.2022

Prova da 1° avaliação.

1)
O direito feudal, originado a partir da queda do Império Romano, se consolidou
após as invasões bárbaras, pois estas possibilitaram a miscigenação e, consequentemente,
a mistura do ordenamento jurídico romano e os costumes bárbaros. Quanto aos costumes,
acordado na Lei Sálica, era o modo que os bárbaros se organizavam socialmente e
buscavam solucionar os problemas vivenciados dentro do império, além disso, as penas
desta lei eram aplicadas de acordo com as diferenças sociais existentes e evidenciavam
as relações desiguais entre o homem livre e o conde, assim como a diferença entre os
francos e romanos. (Pluralismo Jurídico) Tal desigualdade, é experimentada e vivida no
pluralismo jurídico da época, exemplificada nas diferentes leis que poderiam ser aplicadas
(Lex Burgundiorum e Lex Romana Visigothorum) para uma mesma situação e definiam a
penalidade do indivíduo, seja beneficiando ou prejudicando, além de estar presente na
organização dos concílios, no qual gozavam de certa independência e possuíam um
regimento distinto um do outro, na maioria das vezes. (Corporativismo social) A
sociedade feudal vigorava em uma sociedade de ordens e estamentos, tendo isso em vista,
havia uma organização socioeconômica que determinavam as relações entre os homens,
que se dividiam entre oratores, bellatores, laboratores, identificando a forte presença da
igreja como centro aglutinador desse corpo social. Quanto à organização jurídica, o feudo
era de direito e coação sistematizada, e o enfoque das leis era para assegurar e proteger
os bens de cada indivíduo, admitindo que a Justiça era o centro da vida jurídica.

2)
A reforma Gregoriana, liderada pelo papa Gregório VII de 1073-1085, estava
inserido em um contexto político que vigorava o modelo carolíngio, no qual o poder
eclesiástico estava subordinado ao poder civil, o que fazia com que a Igreja tivesse
autoridade moral e tradicional, mas não possuísse autoridade jurídica, além de que a
jurisdição religiosa era muito vaga, abrindo margem para que houvesse a intervenção
política, à exemplo dos bispos, que era considerado um benefício (alto cargo clérigo dado
a um leigo) que subjugava o comprometimento da igreja. No cenário religioso, a Igreja
era descentralizada, organizada em uma espécie de federações nacionais, que dificultava
a tomada de decisões e o alinhamento ideológico que o Papa, figura de maior autoridade
eclesiástica, julgava como certo. Atentando para a submissão da Igreja perante o poder
secular, Gregório VII elabora o Dictatus Papae, conjunto de vinte e sete proposições que
pretende tornar a Igreja livre do poder civil, que criticava diretamente a simonia, o
casamento dos clérigos e a nomeação de leigos para cargos altos. Com isso, a finalidade
da reforma se resumia no estabelecimento do poder nas mãos do papa, a um controle
central de uma população dispersa e da superioridade das leis sobre os costumes. O
resultado das reinvindicações de Gregório, influenciou na formação do direito canônico,
haja vista, que houve a soberania da Igreja além da construção do conceito de jurisdição,
estabelecimentos de cortes e tribunais e o incentivo ao estudo do direito.

3)
O direito comum europeu (ius commune), surgido da compilação das fontes do
direito romano e da influência do direito canônico, era uma interpretação dos doutores e
estudados nas universidades, exceto na Inglaterra, pois se organizavam no modelo
common law, o que estimulou a formação dos juristas letrados. Além do papel na
formação dos juristas, o estudo universitário foi importante, pois, contribuiu para o
enfretamento das disputas entre o direito secular e o canônico, os direitos reais, feudais,
comunais e corporativos, além de se iniciar a racionalização em ambiente “acadêmico”.
Nas universidades os homens poderiam ser treinados nas artes mecânicas e nas artes
liberais, o que lhe concebia a característica de duplo conteúdo. A primeira relacionada
aos trabalhos manuais, a segunda está associada ao domínio da escrita e da leitura pelos
clérigos e homens livres, as artes liberais ainda se dividiam em duas partes: o Trivium,
que representam as disciplinas da lógica, retórica e gramática e o Quadrivium, que
representa a geometria, aritmética, astrologia e harmonia. Após essas duas fases é que o
aluno se voltaria, de fato, para o estudo do direito. Dentro da universidade, o ius commune
possuía características que definiam sua competência e sua jurisdição. Quanto à
competência, foi definida uma série de requisitos, entre eles, o processo deveria ser
conduzido por um profissional de Direito, primazia pela uniformização, a concentração e
a centralização do poder, uma perspectiva investigativa em detrimento à uma perspectiva
acusatória além de impor a escrita sobre a oralidade, por meio da documentação. Quanto
à jurisdição, passa a distinguir-se em matéria de foro interno e foro externo. Um indivíduo
poderia ser penalizado com a imposição de penitencias (foro da consciência) ou por meio
de sanções disciplinares (foro do juiz). São então estabelecidos dois critérios objetivos
para delimitar a jurisdição que seria tomada: ex ratione personarum e ex ratione materiae.
O primeiro, estava relacionado à pessoa, uma causa que envolvesse os clérigos, que
também, compreendia os professores, estudantes, mendigos, órfãos e peregrinos e
possuíam o chamado privilegium fori absoluto. O segundo, era referente à matéria e
julgada nos tribunais eclesiásticos, estava no âmbito da ex ratione materiae os
sacramentos, matrimônios, testamentos e toda a matéria de pecados públicos. Para que o
direito canônico fosse afirmado foi necessário a formalização do processo, que cumpriu
o papel disciplinador que a legislação sozinha não cumpriria, e dividiu com clareza as
fases processuais, as quais, diz respeito, progressivamente, a convocação do réu, a
apresentação das exceções, a contestação, a apresentação e colheita das provas e, por fim,
a decisão. Quanto as provas, é princípio, agora, que a investigação deve conduzir o
convencimento do juiz e para o uso das provas foi padronizado características que as
tornem válidas, entre elas, a probabilidade, relevância e materialidade, além de que
passaram a ser classificadas e, portanto, eram apreciadas segundo regras estabelecidas
legislativamente.
4)
Tómas de Aquino era um téologo do séc. XIII, que dedicou sua vida à igreja e ao
estudo do direito a partir de Deus como causa fundadora, vive em um contexto da
racionalização e da disputa entre o poder político entre igreja e o poder secular. Tómas
de Aquino em sua teoria retoma a confiança na razão, além de defender o bem comum
como um ideal regulador. A lei, para Tomás de Aquino, é uma ordenação da razão para
o bem comum promulgada pelo chefe da comunidade e para compreensão disso
argumenta por quatro causas: final, formal, eficiente e material. A causa final faz
referência à natureza do ser, a causa forma é o conjunto de elementos (estrutura) que
permite um ente atingir sua finalidade, a causa eficiente é aquilo que faz com o que o ente
se forme e se distinga e a causa material é a matéria submetida a mudança de forma. A
partir das definições das causas é possível determinar um conceito de lei que leva em
conta os indivíduos agindo com uma finalidade, sendo a regra e medida dos atos, que
objetiva o bem comum. Tomás de Aquino, ainda argumenta sobre os tipos de leis, que
ele define como: lei eterna, lei natural, lei positiva humana e lei positiva divina. A eterna,
é a própria razão de Deus aquilo que dá ordem e existência a todo universo. A lei natural,
não é um imperativo existe como participação da razão humana no universo. A lei positiva
humana é o próprio direito positivo. A lei positiva divina é a guia no discernimento do
pecado e reconduz o homem ao seu fim sobre natural. Quanto à justiça, Tómas de Aquino,
diz que é um hábito pelo qual atribuímos a cada um o que lhe pertence, é a virtude (o
hábito do bem), é feita a distinção de três tipos de justiça: corretiva, particular e legal ou
geral. A legal é relativa ao bem comum, próximo do conceito de justiça social. A justiça
particular divide-se em comutativa e distributiva.

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