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elaborado por
RITA CASTANHEIRA ALVES
psicóloga clínica, directora do
Projecto Psicóloga dos Miúdos

ESCOLAS tendam utilizar o filme para trabalhar o Bullying com os alunos


Sabemos que o cinema é um excelente veículo do conhecimento, e alunas do 3.º ciclo e secundário.
e que potencia a imaginação e criatividade das crianças e jovens. Neste manual de apoio, numa primeira parte, os professores têm
Aprender e reflectir sobre assuntos sérios torna-se divertido e acesso a uma pequena sinopse do filme, seguida de umas breves
mais fácil!
páginas informativas: conceito de bullying; tipos de bullying; sinais
Esta oferta cruza sessões de cinema e conteúdos disciplinares,
de alerta e factores de risco da(s) vítima(s) e do(s) agressor(es).
dentro do contexto escolar. Aqui encontram-se diferentes pro-
gramas temáticos adequados a diferentes disciplinas e áreas do Numa segunda parte do manual, são disponibilizados diferentes
conhecimento que pretendem usar a paixão e a empatia cinema- recursos para trabalhar o filme com os alunos, disponibilizando:
tográfica na exploração de diferentes conteúdos programáticos. um conjunto de subtemas que poderão ser debatidos com os alu-
nos a partir do filme; uma lista de excertos (em minutos exactos)
Porquê trazer a arte para a sala de aula?
do filme com os respectivos temas/momentos para trabalhos/ini-
Nos últimos anos, assistimos a um crescente afastamento entre
ciativas mais específicas com os alunos; uma lista de questões/
as dinâmicas vividas nas escolas e os interesses dos alunos e isto é
transversal a vários escalões etários, no entanto, a escola assume, perguntas facilitadoras do debate em grupo/turma; dinâmicas e
cada vez mais responsabilidades no que se refere à educação dos exercícios para trabalhar o bullying com alunos e com professores.
alunos, essencialmente devido ao grande número de horas que Apesar de ser um manual dirigido ao trabalho dos professores
estes passam nos estabelecimentos educativos. com alunos e alunas, também é possível de usar os recursos e
Sabe-se hoje que uma enorme percentagem das profissões que propostas do mesmo em iniciativas com professores, técnicos,
vão existir daqui a dez anos, não foram sequer ainda inventadas. encarregados de educação, assistentes operacionais e outros
Quais são então as competências fundamentais no futuro? agentes educativos.
Como pode o sistema educativo responder a este desafio que é
Esperamos que vos seja útil e que se constitua com um contri-
o desconhecido?
buto na capacitação de todas e todos na prevenção e combate
Privilegiar a educação emocional numa visão transversal, recor-
rendo às linguagens criativas e envolvendo todos os participan- ao bullying.
tes no processo educativo, é uma aposta válida neste processo
de ressignificação da escola e da aprendizagem.
Desculpa! De que se trata?1
Como professores e educadores em geral, temos a responsabi-
Jochem é vítima de bullying pelos seus colegas de escola. O seu
lidade de contribuir para um desenvolvimento pessoal e social
daqueles que crescem ao nosso lado, a criatividade, a arte e a amigo David não quer participar, mas tem medo de dizer alguma
ludicidade, são canais de comunicação que promovem uma arti- coisa. Uma manhã o diretor da escola conta à turma que Jochem
culação entre as funções educativas dos espaços culturais e as não voltou para casa depois de uma festa. David sente-se cul-
funções culturais dos espaços educativos num diálogo enrique- pado e juntamente com uma amiga vai à procura de Jochem para
cedor capaz de motivar e mobilizar eficazmente a comunidade. lhe dizer que está arrependido. Mas será que é tarde demais?
Referindo Paulo Freire, e o conceito de “Cidade educadora” que Nesta adaptação do best-seller Spijt de Carry Slee, Jochem (Stefan
introduz na pedagogia, com a ideia de que a escola não pode Collier) é perseguido diariamente pelos seus colegas de
conter tudo, que há uma comunidade, um espaço público que
turma. David (Robin Boissevain) e Vera (Dorus Witte) são os úni-
pode e deve participar - famílias, espaços, culturais, associações...
cos que, aparentemente, se sentem incomodados com a situa-
- abrindo a escola para uma coresponsabilização, porque a edu-
cação deve ser para todos e por todos. ção, mas mesmo assim não intervêm, por vergonha ou medo.
Até mesmo o professor de Educação Física acha que tudo não
passa de uma brincadeira própria da idade.
Com o passar do tempo, Jochem vê-se mais próximo da ami-
DESCULPA! zade de David e Vera, mas uma série de mal-entendidos acaba
Professoras e professores, além do filme, um manual para vos por arrefecer a relação, enquanto os episódios de bullying con-
apoiar. tinuam a aumentar.
Finalmente, Jochem, incentivado por David e Vera, decide parti-
O filme Desculpa! é um excelente ponto de partida para a sen- cipar na festa da turma, apesar de reticente. O que ele não sabia
sibilização, informação e envolvimento dos alunos e das alunas, é que este momento, que deveria ser de alegria, trará grandes
bem como dos professores e professoras e restante comunidade revelações e situações assustadoras.
educativa, incluindo os pais, relativamente à temática do Bullying.
Como tal, a Zero em Comportamento juntamente com o pro-
1 Sinopse do dossier de imprensa da Zero em Comportamento do filme
jecto Psicóloga dos Miúdos criaram uma manual de apoio para Desculpa!
professores e outros técnicos em contexto educativo que pre-
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Para começarmos, importa esclarecer. fracos ou incapazes de se defenderem; depressivos, ansiosos ou
Afinal o que é isto de bullying?2 com baixa autoestima; têm poucos amigos e são pouco popu-
O termo Bullying, usado pela primeira vez por Dan Olweus, inves- lares; têm dificuldades de relacionamento com os pares, vistos
tigador, surgiu para caracterizar um tipo específico de violência/ como aborrecidos, “esquisitos” ou provocadores.
agressão entre pares na escola.
Quando nos referimos a bullying falamos de comportamentos
Há alunos com mais factores de
agressivos, não consentidos entre crianças/adolescentes em idade
risco para serem agressores?
escolar. Envolve sempre um desequilíbrio de poder real ou perce-
São agressivos e têm baixa tolerância à frustração; têm um tem-
bido entre o agressor e o agredido: quem agride é mais forte ou
peramento com tendência opositiva; têm menos envolvimento
está em maior número; a vítima tem alguma característica que
parental e/ou problemas familiares; têm pensamentos negativos
a distingue do(s) outro(s) e que a pode levar a ser discriminada
sobre os outros; dificuldade em cumprir regras; vêem a violên-
e/ou tem alguma característica que a pode levar a ser percep-
cia de forma positiva; têm amigos que também são agressores.
cionada como mais vulnerável. Podem acontecer em contexto
escolar, mas também estender-se a outros contextos.
Estes comportamentos agressivos repetem-se no tempo, aconte- Subtemas que poderão ser falados/debatidos
cendo mais do que uma vez e têm intencionalidades negativas. com os alunos a partir do filme
• Autoestima;
• Solidariedade e sentido de pertença ao grupo;
Bullying é só bater? • Estereótipos e preconceitos;
Existem diferentes tipos de bullying: físico, verbal, sexual, cyber- • Sinais de alerta de uma vítima de bullying e sinais de alerta
bullying e social. de um agressor (bully);
• Estratégias e medidas em caso de bullying (do próprio ou
Sinais e Riscos 3
de colega/amigo);
• Como detecto que um(a) aluno/a é vítima de bullying?
• Consequências do bullying para a vítima e para o agressor;
• Feridas e nódoas negras sem explicação;
• Papel do aluno na prevenção e intervenção no bullying;
• Perda/destruição de roupas, livros, aparelhos tecnológicos
• Papel do professor na prevenção e intervenção no bullying;
ou acessórios;
• Depressão;
• Dores de cabeça/estômago frequentes; sentir-se doente ou
• Problemas de saúde mental;
fingir-se doente;
• Suicídio;
• Alterações nos padrões alimentares (aumento ou redução súbitos);
• Sexualidade e amor;
• Perturbações no sono ou pesadelos constantes;
• A importância das emoções;
• Quebra do rendimento escolar, perda de interesse pelas tare- • A importância da rede de suporte familiar e social;
fas escolares e/ou recusa escolar; • A importância de ter amigos;
• Evitamento de situações sociais; perda de amigos; isolamento; • Alimentação saudável;
• Perda de autoestima; • A importância do desporto;
• Comportamentos auto-lesivos; fugas de casa; ideação suicida. • Papel da comunicação social no bullying;
• Cyberbullying;
• Papel da escola na prevenção e intervenção no bullying;
Como detecto que um(a) aluno(a) é agressor?
• A educação e o bullying;
• Envolve-se em lutas físicas ou verbais;
• Estratégias para minimizar o bullying.
• Tem amigos que maltratam outros;
• Regista ao longo do tempo um aumento da agressividade;
• Manifesta frequentes comportamentos de indisciplina em Identificação de excertos (em minutos)
sala de aula e recreio; e respectivos temas/momentos
• Aparece com dinheiro extra ou novos pertences sem explicação; 0:00-03:20 · Exclusão e mau-trato verbal por menor competência
• Goza com frequência com os problemas e dificuldades dos outros; atlética;
• Não aceita responsabilidade sobre os seus comportamentos; 3:00-5:45 · David observa mau-trato e não reage: consentir o mau-trato
• Competitivo e muito preocupado com a sua reputação ou 5:50-7:35 · Desequilíbrio de poder entre agressores e vítima (vários
popularidade. contra um); professor reforça mau-trato
8:28-8:50 e 26:00-27:00 · Automutilação
9:20-10:10 e 40:00-41:15 · Professor mal trata
Há alunos com mais factores de 11:00-12:00 · Professora refere-se aos alunos como “broncos” com
risco para serem vítimas?
um aluno ao pé que reage ao que ouve
São percepcionados como diferentes pelos pares (exemplos: peso
13:45; 20:40-21:50 e 60:00 · A bully: factores de risco e sinais de
a mais ou a menos; uso de óculos ou de roupas diferentes; ser alerta da bully
novo na escola/na turma; não exibe nem consegue exibir o que 16:50-18:00 · Motivos que contribuem para o medo dos especta-
os outros miúdos consideram “fixe”; são percepcionados como dores (colegas) defenderem a vítima
18:00-20:30 · Criação de novas redes de suporte e actividades como
2 Informações baseadas em https://www.apavparajovens.pt/pt/go/o-que-e2 formas de fortalecer a vítima
e https://www.stopbullying.gov/what-is-bullying/index.html
24:30-26:00 · Importância de nos preocuparmos com o(s) outro(s);
3 São apenas sinais de alerta. A presença de alguns ou de todos os sinais
não significa que o/a aluno(a) seja agressor(a). Solidariedade
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28:42-29:10 · Dificuldade na mudança de hábitos - a influência embaraço. Depois de todos escreverem e dobrarem o seu papel,
da família é dito que as regras mudaram e irão fazer aquilo que escolhe-
31:50-33:00 · Bullying físico ram para outros. No final, debate-se o que sentiram, com o que
34:40-35:45 · Papel da família: compactuar; defender ou não; fizeram e ao verem os outros fazer.
receio da denúncia b) Divide-se a turma em grupos e cada grupo recebe uma pequena
36:25-37:00 · Marcas de agressão física: mentiras da vítima por situação de bullying. Deverão em conjuntos identificar:
medo e vergonha quando questionada - que tipo de bullying é?
38:25-38:50 · Bullying psicológico e verbal - que sinais de alerta tem a vítima? Que sinais de alerta
40:00-41:15 ·Bullying psicológico; espectador defender a vítima e tem o agressor?
ser também maltratado - que soluções propõem para a vítima ser ajudado?
42:20-44:10 · Bullying psicológico: obrigar a fazer trabalhos forçados
- que soluções propõem para o agressor ser ajudado e
46:30-49:35 · Ajuda dos amigos à vítima
não repetir o comportamento de agressão?
53:20-55:45 · Canção anti-bullying; sensibilização de todos, res-
c) cada aluno, individualmente, é convidado a reflectir sobre si e
ponsabilidade de todos; várias situações de bullying
sobre que características poderiam levá-lo a ser vítima e ser agres-
57:00-57:30 · Bullying psicológico, físico; quando não se ajuda por-
que estamos centrados nos nossos problemas sor. No final, os alunos que quiserem partilham com o grupo e
59:20 · ocultar informações perante o desaparecimento da vítima são todos convidados a reflectir e debater como se poderia pro-
60:00-68:00 · Suicídio teger essa pessoa de ambas as situações.
68:00-70:00 · Características e aptidões da vítima: ver alguém além d) a pares, partilham, à vez, uma situação em que foram maltra-
da imagem tados e maltrataram (mesmo não sendo bullying) com as regras
72:00 e 84:00-85:00 · Sensibilização através dos media de não se julgarem mutuamente e de se escutarem. Depois, à
74:00-76:00 · o professor e a culpa - importância do trabalho em vez, poderão recomendar o que deverá o outro fazer para que
equipa e todos serem parte do problema e da solução.´ não se repitam os comportamentos de mau-trato.
e) em conjunto, façam uma lista de contributos da turma para comba-
ter o bullying na escola e ponham em prática três desses contributos;
Questões facilitadoras de debate com turma;
f) um elemento, à vez, é convidado a sair. Os outros que ficam
• Não ter intenção, chegou para prevenir consequências?
decidem uma característica banal (exemplo: olhos castanhos)
• Vários elementos da turma nunca defenderam a vítima,
para o maltratarem (ficticiamente). O elemento volta a entrar e
mesmo assistindo aos maus-tratosPorquê?
com base nas reacções dos colegas tem de adivinhar que carac-
• O que achas sobre os colegas que nada fizeram? Não tinham
terística está a servir para o bullying. No final, reflecte como se
responsabilidade?
sentiu e como se sentiram os colegas no lugar dos agressores.
• Será que o arrependimento veio a tempo?
g) em grupos de 3 ou 4 elementos fazerem uma pesquisa na inter-
• A verdade sobre o que realmente aconteceu só veio depois
net sobre cyberbullying e após a pesquisa, partilharem em grande
do suicídioAinda é importante? Porquê?
grupo o que descobriram. No final, construírem um documento com
• Que fragilidades tinha a vítima? E os agressores?
os cuidados a ter na internet para não ser vítima de cyberbullying.
• E se a situação fosse contigo? Como agirias?
• O que levou a vítima a esconder alguns maus-tratos dos
amigos e a não querer que a mãe interviesse? Como sensibilizar, desenvolver competências,
• O que achas da atitude do professor? Que motivos pode- munir os(as) professores(as) de competências
riam estar na base da mesma? de prevenção, detecção e intervenção?
• O que deveria ter feito a escola?
Dinâmicas e exercícios para trabalhar o tema bullying com
• Porque ficou o David a sentir-se culpado?
pais e com professores.
• O que mudarias na história?
• Adaptar alguns dos exercícios feitos com os alunos;
• O que mudarias nas atitudes de cada uma das personagens:
• Reflexão sobre os estereótipos e preconceitos de cada um(a):
dos agressores à vítima, passando pelos colegas, família e
aceitar que todos temos e é fundamental estar consciente
equipa escolar?
dos mesmos para a detecção precoce ou prevenção;
• Porque é que o David defendia a vítima? Porque não teria medo?
• Em conjunto, definirem sinais de alerta para estarem aten-
• O que achas que levou à atitude da Vera na festa? De que
tos e características de risco;
tinha ela medo?
• Em conjunto, definirem um conjunto de iniciativas em escola
• Porque foi feito um artigo no jornal sobre o que se passou?
para prevenir bullying;
O que pensas sobre isto?
• Criar um espaço de troca de preocupações entre professores,
• Que emoções sentiste ao longo do filme?
para se ajudarem uns aos outros na intervenção;
• Convidar um(a) psicólogo(a) da escola/colégio/agrupamento
Como sensibilizar, desenvolver competências, ou outro(a) psicólogo(a) de outra instituição;
munir os alunos de competências de • Envolver os pais em sessões sobre o tema.
prevenção, detecção e intervenção?

Dinâmicas e exercícios para trabalhar o tema bullying com


alunos de 3.º ciclo e com alunos de secundário
a) Cada aluno, individualmente, escreve num papel branco, algo
para outro colega fazer que seja ridículo, provoque vergonha e

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