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FÍSICA MODERNA
NA
TECNOLOGIA CONTEMPORÂNEA
Capítulo 2
De Schrödinger à Física de Semicondutores
Versão preliminar, sem revisão. As numerações de figuras e equações
podem ter erros.
EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
Força central e conservação de energia
Tanto o sistema gravitacional como o atômico, são governados pelo que se denomina de
campo central, ou campo de forças centrais, ou forças conservativas. Nesse tipo de
sistema, as interações são produzidas através de forças que só dependem da distância
entre o objeto e a origem da força e se orientam segundo a linha que une o objeto e a
fonte. Esse sistema é tal que existe uma energia potencial que só depende da
configuração, ou seja da distribuição de massas no caso gravitacional, e de cargas
elétricas no caso atômico. A energia total, ou seja a soma da energia cinética e da energia
potencial é conservada.
Fazendo uso desse princípio e de alguns postulados, Bohr deduziu a energia de
um elétron no átomo de hidrogênio. Foi assim também que Schrödinger deduziu sua
famosa equação, mas neste caso ele teve outras duas fontes inspiradoras. As equações de
Hamilton-Jacobi, estudadas na mecânica clássica, e a teoria de Louis de Broglie, que
estudamos na primeira parte do curso, e vamos repetir aqui com um pouco mais de
aprofundamento.
A dualidade partícula-onda
Resumidamente, necessitamos de duas preliminares para apresentar a teoria de de
Broglie:
1) Ter em conta as definições de velocidade de fase e de velocidade de grupo de uma
onda. Para isso, considere uma onda representada pela seguinte função
Ψ(𝑥, 𝑡) = 𝐴𝑒 !(#$%&') = 𝐴𝑐𝑜𝑠(𝑘𝑥 − 𝑤𝑡) + 𝑖𝐴𝑠𝑒𝑛(𝑘𝑥 − 𝑤𝑡), (1)
onde A é a amplitude da onda, k o número de onda, w a frequência angular e t o tempo. O
comprimento de onda é dado
2𝜋
𝜆=
. (2)
𝑘
Define-se a velocidade de fase pela expressão
𝑣) = 𝜆𝑓. (3)
Por outro lado,
𝑤 = 2𝜋𝑓, (4)
de modo que
𝑤
𝑉) =
, (5)
𝑘
A velocidade de grupo é definida pela relação
2
𝜕𝑤
𝑉* =
. (6)
𝜕𝑘
2) De acordo com a teoria da relatividade restrita, a energia de um corpo está associada à
sua massa e à velocidade da luz através da relação
𝑚+ 𝑐 ,
𝐸= , (7)
C1 − 𝛽 ,
-!
onde m0 é a massa de repouso do corpo, c é a velocidade da luz no vácuo, e éa
./%0 "
massa do corpo, que varia com a sua velocidade, ou seja
𝑚+
𝑚= , (8)
C1 − 𝛽 ,
𝑣
𝛽 = . (9)
𝑐
De Broglie postulou que cada partícula, com massa m e velocidade v, tem a ela
associada uma onda. A partir das considerações acima ele mostrou que a frequência dessa
onda é dada por
𝑓+
𝑓= , (10)
C1 − 𝛽 ,
e que a velocidade de fase é
𝑐 𝑐,
𝑉) = = . (11)
𝛽 𝑣
Eliminando b nessas duas expressões, e considerando que o índice de refração é dado por
n=c/Vf, obtém-se
𝑓+,
𝑛 = I1 − . (12)
𝑓,
3
A equação de Schrödinger independente do tempo
Em 1924, de Broglie tinha todas as ferramentas para deduzir a equação de Schrödinger.
Não se sabe porque ele não fez essa dedução. De Broglie observou que o caráter
ondulatório de corpúsculos materiais poderia ter sido proposto no final do século 19, já
que a teoria de Hamilton-Jacobi permitia à dinâmica clássica agrupar as trajetórias
possíveis de um ponto material, em determinado espaço, de tal modo que as trajetórias de
um mesmo grupo sejam similares à propagação de uma onda, no sentido da ótica
geométrica. Ou seja, a partir da teoria de de Broglie e da teoria de Hamilton-Jacobi é
possível chegar à equação de Schrödinger. Portanto, a ótica geométrica está para a ótica
física, assim como a mecânica clássica está para a mecânica ondulatória. A mecânica
clássica é aplicável quando o comprimento de onda é muito pequeno, comparado às
dimensões espaciais da situação física.
A equação de onda, clássica ou relativística, é dada por (para simplificar vamos
considerar em uma dimensão)
𝜕,Ψ 1 𝜕,Ψ
= , (15)
𝜕𝑥 , 𝑣), 𝜕𝑡 ,
cuja solução é do tipo
Ψ(𝑥, 𝑡) = 𝐴𝑒 !(#$%&') . (16)
4
Reescrevendo a eq. (20) em três dimensões, em coordenadas esféricas, e
realizando a separação de variáveis, obtém-se a eq. de Schrödinger em coordenadas
esféricas
1 𝑑, Φ 𝑠𝑒𝑛, 𝜃 𝑑 , 𝑑𝑅 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑑 𝑑Θ
= − U𝑟 V − U𝑠𝑒𝑛𝜃 V
Φ 𝑑𝜑 , 𝑅 𝑑𝑟 𝑑𝑟 Θ 𝑑𝜃 𝑑𝜃
2𝑚 ,
− 𝑟 𝑠𝑒𝑛, 𝜃 [𝐸 − 𝑉(𝑟)], (23)
ℏ,
cuja solução é do tipo
Ψ23-# (r, θ, φ) = R 23 (r)Θ3-# (θ)Φ-# (φ), (24)
onde
5
𝑅23 (𝑟) = 𝑒 %4 2 𝑟 3 𝑥 (𝑝𝑜𝑙𝑖𝑛ô𝑚𝑖𝑜 𝑒𝑚 𝑟); (25𝑎)
Θ3-# (θ) = 𝑠𝑒𝑛|-#| 𝜃 𝑥 (𝑝𝑜𝑙𝑖𝑛ô𝑚𝑖𝑜 𝑒𝑚 𝑐𝑜𝑠𝜃); (25𝑏)
Φ-# (φ) = e!-# 7 , (25𝑐)
onde n, l, e ml são, respectivamente denominados número quântico principal, número
quântico azimutal e número quântico magnético, e obedecem às seguintes restrições:
𝑛 = 1, 2, 3, … (26𝑎)
𝑙 = 0, 1, 2, … (𝑛 − 1). (26𝑏)
𝑚3 = 0, ±𝑙, ±(𝑙 − 1), ±(𝑙 − 2), … (26𝑐)
A esses números, acrescenta-se o número quântico de spin, ms, cujos valores são
𝑚8 = ± 1M2 . (26𝑑)
Os números quânticos principais, que designam os níveis ou camadas da estrutura
eletrônica, têm denominações específicas:
n = 1, nível ou camada K,
n = 2, nível ou camada L,
n = 3, nível ou camada M,
n = 4, nível ou camada N, e assim por diante.
Os números quânticos azimutais, que designam os termos na nomenclatura
espectroscópica, também têm denominações especiais:
l = 0, termo s, orbital s;
l = 1, termo p, orbitais px (ml=+1), py (ml=-1), pz (ml=0);
l = 2, termo d, orbitais dz2 (ml=0), dxz (ml=+1), dyz (ml=-1), dxy (ml=+2), dx2-y2 (ml=-2);
l = 3, termo f, orbitais fz3 (ml=0), fxz2 (ml=+1), fyz2 (ml=-1), fxyz (ml=+2), fz(x2-y2) (ml=-2),
fx(x2-3y2) (ml=+3), fy(3x2-y2) (ml=-3).
5
De acordo com o princípio de exclusão de Pauli, é impossível que dois elétrons
tenham os mesmos números quânticos n, l, ml e ms. Portanto, cada orbital nlml só pode
conter dois elétrons, um com ms=+1/2, e outro com ms=-1/2. Assim, o número máximo
de elétrons nos diferentes níveis ou camadas será:
Camada K, 2 elétrons no orbital s;
Camada L, 8 elétrons, sendo 2 no orbital s e 6 nos orbitais p;
Camada M, 18 elétrons, sendo 2 no orbital s, 6 nos orbitais p e 10 nos orbitais d.
Diagrama de Pauling
A ordem do preenchimento dos termos é obtida através do seguinte
diagrama.
6
Observe que o termo 4s é preenchido antes do 3d, o 5s antes do 4d, e assim
por diante.
Notação da configuração eletrônica
A configuração eletrônica é designada através do número da camada (K=1, L=2,
M=3, N=4, etc.) e da letra do termo (s, p, d, f) tendo como expoente o número de
elétrons. Portanto, as camadas cheias são assim designadas:
• K: 1s2
• L: 2s22p6
• M: 3s23p63d10
• N: 4s24p64d104f14
A configuração do hélio, Z=2, é 1s2. A do lítio, Z=3, é 1s22s. Costuma-se
representar a configuração do lítio assim: [He]2s. Essa forma de representação é
usada para todos os átomos. Ou seja, coloca-se a configuração do gás nobre anterior
juntamente com o restante da configuração do elemento em questão. Por exemplo, a
configuração do cálcio é [Ar]4s2
Exemplos
1) Configuração eletrônica do nitrogênio, Z=7
Um modo prático de aplicar as regras de Hund é separar os níveis em seus
diversos orbitais, sabendo que cada orbital só comporta dois elétrons, conforme o
princípio de exclusão de Pauli. Inicialmente, preenche-se os orbitais de cada subnível, na
ordem determinada pelo diagrama de Pauling, com os spins de todos os elétrons no
mesmo sentido. Quando todos os orbitais estiverem ocupados com os spins em um
sentido, os primeiros orbitais começam a serem preenchidos com dois elétrons, com spins
contrários.
O diagrama de Pauling fornece a configuração eletrônica, enquanto as regras de
Hund indicam como os orbitais são ocupados. Para o nitrogênio, a configuração
eletrônica é 1s22s22p3 = [He]2s22p3, enquanto os orbitais são ocupados conforme o
desenho abaixo.
s p
K
L
7
s p
K
L
M
8
Fig. 2 - Disponível em <http://www.physics-assignment.com/uncategorized/band-theory-of-solids>.
Acesso em 20/5/2016.
9
Para um cristal com N átomos de silício, teremos 2N estados 3s e 6N estados 3p,
ou seja 8N estados, sendo que 4N estarão ocupados, formando a banda de valência, e 4N
estarão desocupados, formando a banda de condução. Costuma-se denominar os elétrons
que ocupam esses estados pela letra do estado. Ou seja, no cristal de silício tem 2N
elétrons p, porque em cada átomo tem 2 elétrons no nível p.
Entre essas bandas existe uma região proibida, também conhecida como banda
proibida. Elas são separadas por uma barreira energética, conhecida como gap de energia.
Como os nomes sugerem, a banda de valência é onde ficam os elétrons responsáveis pela
ligação atômica, enquanto a banda de condução é o espaço por onde circulam os elétrons
portadores da corrente elétrica. Ou seja, só haverá condução elétrica se houver elétrons na
banda de condução. Todos os materiais cristalinos apresentam bandas de energia, mas
suas características são diferentes para os diferentes tipos de materiais, como ilustra a
Fig. 4.
No contexto do presente capítulo, entende-se por característica da estrutura de
banda apenas a separação energética entre as bandas de valência e de condução. Nos
materiais isolantes, ou dielétricos (na terminologia moderna), o gap de energia é
suficientemente grande para impedir que, em condições normais de temperatura, pressão
e voltagem aplicada, elétrons da banda de valência passem para a banda de condução. Por
outro lado, nos materiais semicondutores a separação é tal que por agitação térmica
alguns elétrons da banda de valência migram para a de condução. Esse processo é mais
facilmente realizado quando uma voltagem é aplicada. Cada elétron que passa para a
banda de condução, deixa uma lacuna, ou buraco, na banda de valência. Esta lacuna pode
se movimentar na banda de valência. Assim, nos semicondutores temos condução elétrica
através do movimento dos elétrons e do movimento das lacunas. Voltaremos a essa
questão logo em seguida.
Fig. 4 – Adaptado de
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Energy_band1.svg?uselang=pt-br>. Acesso
em 20/5/2019.
10
Situação completamente diferente ocorre nos materiais condutores, onde há uma
superposição das duas bandas. Assim, elétrons na banda de valência têm liberdade para
se movimentar na banda de condução. Qualquer voltagem, por pequena que seja, é capaz
de induzir uma corrente elétrica nos materiais condutores. Na Fig. 4 há uma linha
pontilhada, marcada energia de Fermi, ou nível de Fermi, que separa, na temperatura do
zero absoluto (0 K), os estados ocupados daqueles desocupados. Ou seja, na temperatura
de 0 K, não há estados ocupados acima da energia de Fermi. Pelas características dos
isolantes e dos semicondutores, apresentadas acima, é óbvio que para esses materiais o
nível de Fermi deve ficar na banda proibida.
11
Fig. 5 – Elementos químicos semicondutores. Adaptado de
<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e5/Periodic_table_of_elements_showing_electron_sh
ells.png>. Acesso em 20/5/2016.
12
Ψ(𝑥, 𝑡) = 𝐴𝑒 !(#$%&') . (1)
O elétron, representado por este pacote de ondas, está sujeito a um potencial
periódico produzido pelos núcleos dos átomos do cristal. Sem entrar em detalhes a
respeito da estrutura desse potencial cristalino que atua sobre o elétron, podemos dizer
que a energia do elétron é dada por
ℏ, 𝑘 ,
𝐸 = ℏ𝑤 =
. (2)
2𝑚
Da teoria de de Broglie, sabe-se que a velocidade do elétron é igual à velocidade
de grupo do pacote de ondas a ele associado. Ou seja,
𝜕𝑤 1 𝜕𝐸
= 𝑣* = . (3)
𝜕𝑘 ℏ 𝜕𝑘
A aplicação de uma voltagem, significa a aplicação de um campo elétrico, que
resultará em uma força sobre o elétron, dada por
𝜕𝐸 𝜕𝐸 𝜕𝑘 𝜕𝐸 𝜕𝑘 𝜕𝑡
𝐹= = = . (4)
𝜕𝑥 𝜕𝑘 𝜕𝑥 𝜕𝑘 𝜕𝑡 𝜕𝑥
Usando as relações (2) e (3), e as propriedades derivadas, mostra-se que
𝜕𝑘
𝐹=ℏ . (5)
𝜕𝑡
ℏ,
𝑚∗ = . (9)
𝜕𝐸 ,M
𝜕𝑘 ,
13
Pode-se mostrar que as lacunas têm massas efetivas formalmente idênticas às dos
elétrons, mas são negativas. Quando se diz formalmente, quer-se dizer que a fórmula é
igual à relação (9), mas o cálculo é diferente. Explicarei sem entrar nos detalhes. Elétrons
em diferentes estados de uma banda de energia têm diferentes funções de onda (pacotes
de onda) e portanto, diferentes valores de w e k. Os elétrons de condução encontram-se
na parte de baixo da banda de condução, portanto, o cálculo de (9) para os elétrons é
realizado com os valores mínimos de k pertencentes à banda de condução. Por outro lado,
as lacunas encontram-se na parte superior da banda de valência, de modo que o cálculo é
realizado com os valores máximos correspondentes à banda de valência. A tabela 1
apresenta valores típicos de me* e ml* em relação à massa de repouso do elétron,
m0=9,1x10-31 kg, calculadas para T=300 K.
Tabela 1 – Valores típicos da massa reduzida de elétrons e lacunas, em relação à massa de repouso do
elétron, calculadas para T=300 K.
Cristal me*/m0 ml*/m0
Ge 0,12 0,23
Si 0,26 0,38
GaAs 0,068 0,50
Semicondutores extrínsecos
Os semicondutores intrínsecos são pouco utilizados em dispositivos
principalmente porque, além de baixa, sua condutividade é muito dependente da
temperatura. Uma alternativa é colocar impurezas que superem essas duas dificuldades.
Os materiais obtidos com a dopagem, como é conhecido o processo de inclusão de
impurezas, são denominados semicondutores extrínsecos. A Fig. 1 ilustra o processo.
Existem duas possibilidades de dopagem. Uma é a utilização de um material que tenha
mais elétrons na camada externa do que material base. Por exemplo, fósforo, que tem 5
elétrons na última camada dopando silício, que tem 4 elétrons na última camada. Neste
caso, o fósforo é impureza doadora, porque libera um elétron para a condutividade do
material, que passa a ser denominado semicondutor tipo N, porque tem mais elétrons do
que lacunas disponíveis para conduzir a eletricidade. Diz-se que nesses materiais os
elétrons são os portadores majoritários. A outra possibilidade é dopar com um material
que tenha menos elétrons na última camada, como o boro em relação ao silício. Esse
14
material é denominado impureza aceitadora, e o semicondutor é denominado
semicondutor tipo P. O processo é um pouco mais complicado do que o anterior. Neste
caso, para completar a ligação covalente o material base cede um elétron, ficando com
uma lacuna em sua banda de valência. Essa lacuna na banda de valência do material base
pode conduzir eletricidade como se fosse uma carga positiva. Portanto, o semicondutor P
tem tem mais lacunas do que elétrons, e portanto as lacunas são os portadores
majoritários.
15
Fig. 2 -
16
Dispositivos semicondutores: junção p-n
O primeiro dispositivo semicondutor fabricado foi a junção p-n. A junção se
forma quando determinado semicondutor é dopado em lados opostos com impurezas tipo
p e n. No semicondutor tipo p há um excesso de lacunas, enquanto no semicondutor tipo
n há um excesso de elétrons. Diz-se que há um gradiente de lacunas do lado p para o n, e
de elétrons no sentido contrário. Esses gradientes de concentração provocam a difusão de
lacunas em direção ao lado n, e de elétrons em direção ao lado p. Na região da interface,
elétrons e lacunas se recombinam, deixando uma faixa de íons positivos no lado n e outra
de íons negativos no lado p. Essa região é conhecida como região de carga espacial (por
causa das cargas dos íons), ou região de depleção, por faltam elétrons e lacunas, que se
recombinaram.
17
Na Fig. 2 a junção p-n está ligada a uma bateria no modo denominado polarização
direta. O terminal positivo da bateria ligado ao semicondutor p e o terminal negativo ao
semicondutor n. O que ocorre pode ser assim resumido:
1. Do terminal negativo saem elétrons em direção à junção no lado do semicondutor
n.
2. O terminal positivo remove elétrons do semicondutor p, deixando lacunas que
migram para a interface.
3. Se a voltagem da bateria for superior à barreira de potencial da junção, elétrons e
lacunas se aniquilam na interface e abrem espaço para mais elétrons e lacunas. É
assim que surge a corrente. Ou seja, a corrente inicia quando a voltagem aplicada
é superior à barreira de potencial da junção.
4. A região de depleção fica mais estreita.
18
Na Fig. 4 é esquematicamente apresentada a curva da corrente em função da
voltagem aplicada.
MOSFET
MOSFET é o acrônimo de Metal-Oxide-Semiconductor Field Effect Transistor, o
transistor mais usado em computadores. O texto sobre o MOSFET encontra-se no
capítulo 3 do livro Energia e Matéria.
Efeito túnel
A história da descoberta e os princípios básicos do efeito túnel encontram-se neste
artigo:
http://www.ciencia.org.br/noticia/v/ler/id/3020/n/o_fantasminha_camarada_da_microelet
ronica
Complementarei o artigo com detalhes que não cabiam na coluna da CH. Embora
mesmo aqui nem todos os detalhes podem ser discutidos, pois exigem conhecimento de
mecânica quântica que não dispomos. Vamos tentar uma narrativa consistente com o
nível de conhecimento que temos da mecânica quântica.
19
Fig. 5 – Curva I-V para um diodo túnel.
Na Fig. 5 temos uma curva I-V de um diodo túnel. A característica típica desse
diodo é a região em que o dispositivo apresenta resistência negativa. Esse fenômeno não
é específico desse tipo de diodo. Ele acontece em descargas em gases, em lâmpadas de
neon, entre outros dispositivos. Antes do diodo túnel, a resistência diferencial negativa
(NDR: Negative Differential Resistance) já era conhecida. Em cada tipo de dispositivo o
mecanismo responsável pelo fenômeno é diferente, mas o resultado experimental é o
mesmo, ou seja, corrente e voltagem crescem em sentidos contrários, ao contrário do que
acontece na lei de Ohm, i=Rv, onde corrente e voltagem variam no mesmo sentido.
Vamos nos restringir ao caso do diodo túnel descoberto por Leo Isaki nos anos 1950.
Para uma junção p-n apresentar o fenômeno da resistência negativa é necessário
que a concentração de dopantes, de um lado e de outro da junção, seja muito alta, algo
superior a 1018 cm-3 (elétrons por unidade de volume). Este nível de concentração diminui
a espessura da zona de depleção, o que aumenta a probabilidade de tunelamento quântico.
Fig. 6 -
Na região I o elétron pode ser representado por uma função de onda do tipo
𝜓: (𝑥) = 𝐴𝑒 !#$ + 𝐵𝑒 %!#$ , (1)
onde
20
√,-<
𝑘= ℏ
. (2)
21
junção. Como essa interface é muito estreita, é grande a probabilidade de tunelamento
quântico.
22
O movimento do elétron em torno do núcleo produz o momento angular, 𝐿 t⃗, ao
qual se associa um momento magnético, 𝜇⃗, cujo módulo é igual a iA. Sua origem tem a
ver com a lei de Ampère.
23
o que implica em
𝑒𝐿 2𝜋ℎ 𝑒𝐿 𝑒ℏ 2𝜋
𝜇 = = = 𝐿
2𝑚 2𝜋ℎ 2𝑚 2𝑚 ℎ
Ou seja,
𝐿t⃗
𝜇⃗ = −𝜇@ ,
ℏ
onde µB é o magnéton de Bohr,
𝑒ℏ
𝜇@ =
2𝑚
Em 1921, Stern e Gerlach descobriram o spin do elétron em um experimento com
um feixe de hidrogênio submetido a um campo magnético. O feixe dividiu-se em dois e o
fenômeno foi atribuído à existência do spin, com valor ½. Os dois feixes correspondem
aos números quânticos mS, similares aos números quânticos ml. Portanto, 𝑚A = ±1/2.
Desde então, o momento angular atômico passou a ser considerado como a soma
do momento angular orbital com o spin, ou seja
𝐽⃗ = 𝐿t⃗ + 𝑆⃗
𝑆 = { 𝑚8
𝐿 = { 𝑚B
𝐽 = { 𝑚C
𝑚D = 𝑚3 + 𝑚8
24
Cada momento possui uma constante, ou fator g, sendo aquele associado ao
momento angular total o mais famoso. Ele é conhecido como fator de Landé, que
depende da estrutura eletrônica do material, e varia entre 1 (g do elétron) e 2 (g do spin)
1≤𝑔≤2
Propriedades macroscópicas
As propriedades microscópicas do magnetismo manifestam-se
macroscopicamente através de algumas propriedades mensuráveis, como a magnetização
total por unidade de volume, definida como
∑! 𝜇⃗!
tt⃗ =
𝑀
𝑉
As propriedades macroscópicas associadas ao magnetismo causam muita
confusão, até mesmo em respeitáveis livros didáticos e artigos científicos publicados em
revistas de boa qualidade. Elas podem ser definidas diferentemente, dependendo do
sistema de unidades. Por exemplo, as expressões podem ser diferentes quando escritas no
sistema internacional, SI, ou no CGS. Além disso, há muito confusão quanto às duas
grandezas que expressam o campo magnético, a intensidade de campo magnético, H, e a
indução magnética, B. Não raras vezes uma dessas grandezas é usada no lugar da outra.
A intensidade de campo magnético, H, é relacionado com a corrente que cria o
campo magnético, cujo valor pode ser obtido através da lei de Ampère
t⃗. 𝑑𝑙⃗ = 𝜇+ 𝑖
€𝐻
ou da lei de Biot-Savart, que fornece o valor do campo magnético produzido por uma
corrente que percorre uma trajetória C
𝜇+ 𝑖 𝑑𝑙⃗𝑥𝑟̂
t⃗ =
𝐻 €
4𝜋 4 𝑟 ,
Para o caso de uma corrente em um círculo de área, obtém-se
𝜇+ 𝑖𝐴 𝜇+ 𝜇
𝐻(𝑧) = =
2𝜋 𝑧 E 2𝜋 𝑧 E
Geralmente os livros didáticos escrevem essas três expressões substituindo H por
B. A discussão é extensa demais para os objetivos deste curso. Aqui é suficiente termos
em mente as relações entre as grandezas macroscópicas e suas unidades nos dois sistemas
mais usados, SI e CGS.
Algumas técnicas de medidas de propriedades magnéticas utiliza o fluxo
produzido pela indução magnética, dado pela relação
t⃗ . 𝑑𝑠⃗
Φ = „𝐵
25
t⃗ = 𝜇+ (𝐻
𝐵 t⃗ + 𝑀
tt⃗)
No sistema CGS
t⃗ = 𝐻
𝐵 t⃗ + 4𝜋𝑀
tt⃗
onde µ0 é a permeabilidade magnética do vácuo.
𝜇+ = 4𝜋𝑥10%F 𝑁M𝐴,
A permeabilidade magnética de um meio qualquer é dada por:
No sistema SI
𝜇 = 𝜇+ (1 + 𝜒)
No sistema CGS
𝜇 = 1 + 4𝜋𝜒
onde c é a susceptibilidade magnética do meio, definida por
𝑀
𝜒=
𝐻
Nos materiais paramagnéticos e diamagnéticos, H e B relacionam-se através da
permeabilidade
t⃗ = 𝜇𝐻
𝐵 t⃗
Nos materiais ferromagnéticos, antiferromagnéticos e ferrimagnéticos, a relação é
mais complexa, depende do material e do processo de magnetização.
t⃗ = 𝑓(𝐻
𝐵 t⃗)
µ N/A2 adimensional
c adimensional adimensional
26
Materiais magnéticos
Os materiais magnéticos são classificados em:
1. Paramagnéticos;
2. Diamagnéticos
3. Ferromagnéticos;
4. Antiferromagnéticos;
5. Ferrimagnéticos.
Existem duas propriedades magnéticas que todos os materiais apresentam. A
primeira é que qualquer material apresenta uma componente diamagnética. O
diamagnetismo tem origem na lei de Lenz-Faraday. Em um circuito fechado, por
exemplo, uma bobina, uma corrente será induzida para se opor à variação do fluxo
magnético através do circuito. Então, quando um campo magnético atua sobre qualquer
material, seus elétrons produzirão um campo magnético para se opor ao campo externo.
Isso faz com o material seja repelido pelo campo magnético. Os materiais que apresentam
esse fenômeno com maior intensidade são aqueles que possuem todos os orbitais com
elétrons emparelhados. Nos outros materiais, que possuem orbitais com elétrons
desemparelhados, esse efeito é muito pequeno, mas está sempre presente.
A outra propriedade que todo material apresenta é o paramagnetismo acima de
determinada temperatura, que depende da natureza do material. Abaixo dessa temperatura
crítica, o material sofre uma transição magnética e passa a ser ferromagnético,
antiferromagnético ou ferrimagnético.
Um material é ferromagnético, quando abaixo da temperatura crítica todos os
momentos magnéticos alinham-se numa mesma direção. Neste caso, a temperatura crítica
é denominada temperatura de Curie, TC. Ela vale 7770C para o ferro.
27
Em alguns materiais antiferromagnéticos, uma das sub-redes tem momento
magnético menor do que na outra. Esses materiais são denominados ferrimagnéticos, e
apresentam propriedades similares aos ferromagnéticos. É por isso que sua temperatura
de transição é denominada temperatura de Curie e não temperatura de Néel.
Curiosamente, o primeiro material magnético descoberto, a magnetita, Fe3O4, que todos
pensavam ser ferromagnético, é na verdade ferrimagnético, com TC=5850C. A descoberta
desse fato se deve a Louis Néel.
28
Domínios magnéticos
Por causa das imperfeições durante os processos de crescimento cristalino, quer
seja espontaneamente na natureza ou sob condições controladas em laboratório, os
materiais são geralmente inomogêneos. Essas inomogeinidades manifestam-se pela
formação de pequenos grãos. Isso é verdade tanto do ponto de vista da estrutura
cristalina, quanto da estrutura magnética. Neste caso, os grãos são denominados domínios
magnéticos.
29
É óbvio que a magnetização total do material cresce à medida que cresce a
intensidade do campo externo. A situação pode ser ilustrada numa curva de
magnetização, M, ou indução magnética, B, versus campo magnético, H.
Ciclos de histerese
Uma das manifestações magnéticas mais importantes da interação entre um material e um
campo magnético é o ciclo de histerese, cuja fase inicial é apresentada na figura acima.
Quando se atinge o campo de saturação, ou seja o valor do campo H, acima do qual não
há mais crescimento significativo de M ou B, inicia-se a diminuição de H. Nos materiais
ferro, ferri e antiferromagnéticos, a curva de descida não é igual à de subida. Durante a
subida ocorrem transformações irreversíveis, ou seja, aqueles domínios que cresceram e
rodaram não voltam mais para suas configurações originais. Na curva de subida, também
denominada curva inicial de magnetização, M=0 quando H=0, mas na curva de descida,
M=MR quando H=0. MR é denominada magnetização remanente ou residual. A
magnetização só volta a ser nula quando o campo é invertido e atinge um valor
genericamente conhecido como HC, ou campo coercivo.
30
Os valores de MR e HC, bem como o formato do ciclo de histerese caracterizam a
natureza do magnetismo dos materiais. Por exemplo, materiais magnéticos chamados
duros apresentam ciclos “retangulares” com altos valores de MR e HC. Enquanto os
materiais doces ou permeáveis apresentam baixos valores de HC.
31
Apenas os materiais paramagnéticos apresentam transformações reversíveis, de
modo que suas curvas MxH ou BxH não apresentam histerese, como ilustra a figura
abaixo.
32
Numa visão clássica a RNM funciona assim: um campo magnético aplicado ao
núcleo (nas aplicações médicas geralmente usa-se o núcleo de hidrogênio, ou seja o
próton) faz o momento magnético precessionar em torno da direção do campo externo.
Um pequeno campo transversal é aplicado, de modo que o momento magnético é levado
para uma direção perpendicular à inicial. Quando o campo transversal é retirado, o
momento volta para a posição inicial, um processo tecnicamente conhecido como
relaxação, e que depende do material em volta do núcleo. O núcleo emite sinais durante a
relaxação, cuja detecção permite a investigação do ambiente em sua volta.
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Esses momentos magnéticos, com spins +1/2 e -1/2, são distribuídos de acordo
com a estatística de Boltzmann, segundo a qual a ocupação do estado inferior é maior do
que a do estado superior, ou seja
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Aplicações tecnológicas de materiais magnéticos
Textos da coluna Do laboratório para a fábrica, publicados na Ciência Hoje
Online:
1. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2952/n/conectomica:_o_cerebro_so
b_investigacao
2. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2989/n/nanoparticulas_que_salvam
_vidas
3. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/3016/n/magnetismo,_farmacologia_
e_medicina
4. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2948/n/nanotoxicologia:_melhor_pr
evenir_que_remediar
5. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2967/n/como_medir,_afinal,_os_ris
cos_da_vida_nanometrica
6. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2996/n/como_medir_o_risco_dos_n
anomateriais
7. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2989/n/nanoparticulas_que_salvam
_vidas
8. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/3015/n/histerese_magnetica%3A_p
erdas_e_ganhos/
9. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/3018/n/feynman,_o_profeta_da_nan
otecnologia
10. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2948/n/nanotoxicologia:_melhor_pr
evenir_que_remediar
11. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2967/n/como_medir,_afinal,_os_ris
cos_da_vida_nanometrica
12. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2996/n/como_medir_o_risco_dos_n
anomateriais
13. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/2989/n/nanoparticulas_que_salvam
_vidas
14. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/3016/n/magnetismo,_farmacologia_
e_medicina
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15. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/3015/n/histerese_magnetica%3A_p
erdas_e_ganhos/
16. http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/3018/n/feynman,_o_profeta_da_nan
otecnologia
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