Resenha critica do artigo intitulado “Atribuições da carne de frango relevantes ao
consumidor: foco no bem-estar animal”
O aumento da demanda mundial de alimentos é o maior desafio do sistema de
produção global, que para suprir uma demanda estimada pela FAO de 70% superior a atual em 2050, inevitavelmente necessitará intensificar os modelos atuais dos sistemas de produção e introduzir novas tecnologias e inovação no sistema produtivo. Tais desafios implicam soluções para adequar a relação entre produtividade e bem estar animal, uma vez que as conquistas com sanidade, nutrição, manejo e desempenho zootécnico obtidos com os sistemas de produção intensiva se confrontam com uma sociedade constituída pelos consumidores esclarecidos, legisladores, cientistas e entidades de proteção dos animais, questionando os impactos éticos do atual modelo praticado, de exploração massiva da produção animal sem considerar o bem estar dos animais, ou cogitar um ponto de equilíbrio com a produtividade (FAO, 2009). O bem-estar animal pode ser considerado uma demanda para que o sistema de produção seja defensável eticamente e aceitável socialmente, pois os consumidores desejam comer carne com atributos diferenciados, isto é, carne oriunda de animais que foram criados, tratados e abatidos em sistemas que promovam o seu bem-estar, e que sejam ambientalmente corretos. Entretanto, o bem estar animal tem sido relacionado com um aumento nos custos de produção. Na Europa diferentemente do Brasil, a população apresenta maior conhecimento sobre as condições da agricultura e do bem-estar animal, além de possuir maior tolerância ao aumento do preço desses produtos. Além disso, o conhecimento e a atitude de compra influenciam na melhoria das condições de bem- estar animal na fase de produção. No Brasil, dentre os atributos observados na hora da compra da carne de frango, a qualidade de vida do animal, representa apenas 3,7% dos consumidores que os citaram durante a pesquisa. Dos entrevistados, 68,5% desconhecem o sistema de produção, porém, após observar fotos dos sistemas, acreditam que o modelo semi-intensivo proporciona melhor bem-estar e resulte em produtos de melhor qualidade. A falta de informação referente aos temas da agricultura animal é um dos grandes entraves para o desenvolvimento. Grande parte do público não tem conhecimento de como são criados os animais que geram os alimentos oferecidos no varejo e, boa parte da informação chega ao público colocada de forma simplista. O trabalho também cita que 94,9% dos consumidores acreditam que o sistema de produção provoca alterações na qualidade da carne e 88,9% deles atribuem ao sistema alternativo um produto final de melhor qualidade. Esta possível correlação entre bem-estar e qualidade da carne, segundo a percepção do consumidor, pode representar uma demanda para os dois atributos que se reforçam mutuamente e pode ser utilizada como estratégia para desenvolvimento de produto em determinado segmento de mercado. Na simulação de mercado, 70,9% dos consumidores pagariam mais por produtos que com certificação de bem-estar animal e carne firme e rosada. Neste estudo pode-se verificar ainda que o preço é o atributo de maior relevância para o consumidor na hora da compra. A qualidade de vida dos animais inicialmente não foi considerada importante, somente após uma reflexão sobre o tema, a maioria dos consumidores mostrou-se disposta a pagar um valor adicional pelo produto. Faz-se necessário uma maior divulgação de informações acerca do sistema de produção adotado e seus impactos no bem estar animal. Por considerar as implicações maiores da agricultura no bem-estar das populações humanas e no meio ambiente, a criação (e não a "produção") animal sustentável pode ser a síntese desse processo, e nesta síntese o bem-estar animal deve estar necessariamente implicado.
Referências
BONAMIGO, A.; BONAMIGO, C. B. S. S.; MOLENTO, C. F. M. Atribuições da carne
de frango relevantes ao consumidor: foco no bem-estar animal. R. Bras. Zootec., v.41, n.4, p.1044-1050, 2012.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION – FAO. How to feed the world in