Você está na página 1de 6

PENSAMENTO SOCIAL E POLÍTICO NO SÉCULO XIX:

1. ANARQUISMO – CARACTERÍSTICAS BÁSICAS

1.A. Características em comum:


● Ao contrário do que se diz, o homem pode viver em harmonia num mundo sem
Estado – ao contrário do que nos fizeram acreditar, para os anarquistas, é o próprio poder
que cria a ilusão de sua própria necessidade. O poder não é a solução para nossas mazelas,
mas, pelo contrário, são o poder, a hierarquia, a desigualdade e a lei os criadores das
misérias humanas:
“O melhor governo é o que absolutamente não governa, e quando os homens estiverem
preparados para ele, será o tipo de governo que terão.”
Henry Thoureau
● Crítica ao Poder, ao Estado, ao Nacionalismo, ao Machismo, Forças Repressora:
“nem pátria, nem padre, nem patrão”;
● Ação espontânea pela igualdade e fim do Estado;
● Crítica ao liberalismo e ao socialismo marxista:

"Socialismo sem liberdade é tirania e opressão; liberdade sem socialismo é privilégio e


injustiça."
Bakunin (1a Internacional dos Trabalhadores em Londres, 1864 – debate Marx x
Bakunin)

“[Ser governado é] ser inspecionado, espionado, controlado, censurado, comandado,


extorquido, roubado, reprimido, maltratado, espancado, aprisionado, fuzilado, julgado,
sacrificado, vendido, traído e ridicularizado por seres que não tem nem o título, nem a honra
e nem a virtude.”
Proudhon

“Atualmente, a ordem – o que eles entendem por ordem – são os nove décimos da
humanidade trabalhando para procurar o luxo, os gozos, a satisfação das paixões mais
Todos direitos reservados
www.seliganessahistoria.com.br
Página 1
execráveis, para um punhado de mandriões. A ordem é a privação para estes nove décimos,
de tudo que é a condição necessária de uma vida higiênica, de um desenvolvimento das
faculdades intelectuais. Reduzir nove décimos da humanidade a um estado de bestas de
carga, vivendo dia a dia, sem nunca se atrever a pensar nos gozos dados ao homem pelo
estudo das ciências, pela criação artística – eis a ordem. A ordem é a fome e a miséria
tornadas em estado normal da sociedade. A ordem é a mulher que se vende para dar
alimento aos filhos, é a criança reduzida a ser encerrada numa fábrica, ou a morrer de
inanição, é o operário reduzido ao estado de máquina”
Piotr Kropotkin, Palavras De Um Revoltado, 1885.

1.B. Algumas correntes anarquistas


● Proudhon: protoanarquista: mutualismo ou “socialismo conciliador”: “a propriedade
é um roubo”
● Thoureau: A Desobediência Civil (ver filme: Into the Wild)
● Bakunin: Terrorismo Anarquista (ver filme: V de Vingança)
● Rachvol o maior terrorista anarquista francês, tinha um lema: “chegará, chegará,
cada burguês sua bomba receberá”.
● Tolstoi: Anarquismo cristão – inspira Gandhi
● Anarcossindicalismo

2. SOCIALISMOS UTÓPICOS1 – CARACTERÍSTICAS BÁSICAS

2.A. Características em comum: ação coletiva pela igualdade. Igualdade só se realiza


quando ocorre também no plano socioeconômico. Marx chamou essas primeiras ideias de
socialismos utópicos, pois, para ele, careciam de uma profundidade teórico-analítica e,
muitas vezes, apostavam na conciliação de classes, na “bondade” dos capitalistas ou
louvavam a pequena propriedade.

2.B. Exemplos

1 “A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe,
jamais alcançarei. Então, para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” Eduardo Galeano
Todos direitos reservados
www.seliganessahistoria.com.br
Página 2
● Saint Simon: sociedade estável, única, integrada, sem ociosos ou intrigas entre as
classes. Sociedade seria governada por sábios e artistas, capazes de uma administração
justa e igualitária. A ciência poderia desempenhar a mesma função de conservação social
que a religião tivera no período feudal. Os cientistas, assim, assumiriam a função do clero.
● Charles Fourier (cunhou o termo “feminismo”): falanstérios, fazendas
agroindustriais autossuficientes, pautada pela organização coletivista e liberdade sexual.
● Robert Owen: fábricas na Escócia, ele instaurou uma administração em conjunto
com os trabalhadores, reduziu para dez horas a jornada de trabalho, instituiu um fundo de
pensão para os trabalhadores, criou para eles hospitais, escolas, creches e centros de lazer.
● Papa Leão XIII: Bula Rerum Novarum (“Das coisas novas”), de 1891, apelou para o
espírito cristão dos capitalistas, intimando-os a tratar bem seus operários. A conciliação
entre patrões e operários seria a condição para a construção de uma sociedade harmônica.

3. MARXISMO – CARACTERÍSTICAS BÁSICAS

3.A. Praxis, prática, ação concreta:


“Os filósofos até agora se limitaram a interpretar o mundo de diversas maneiras; mas
o que importa é transformá-lo.”
Marx, 11ª Tese sobre Feuerbach

3. B. Materialismo Histórico-Dialético e a Metáfora do Edifício


● “A estrutura econômica da sociedade condiciona as suas formas jurídicas, políticas,
religiosas, artísticas ou filosóficas. Não é a consciência do homem que determina o seu ser,
mas, ao contrário, são as relações de produção que ele contrai que determinam a sua
consciência.” K. Marx e F. Engels, O Manifesto Comunista.
● “Em todas as formas de sociedade existe uma determinada produção e suas relações,
que atribuem a todas as outras produções e suas relações seu alcance e sua influência. É
uma iluminação generalizada na qual todas as outras cores estão mergulhadas e que
modifica suas tonalidades específicas. É um éter específico que define a gravidade
específica de tudo que se encontra dentro dele” Karl Marx, Grundisse, Berlim, 1953, p. 27.
● Capítulo I de A Miséria da Filosofia: “sem antagonismo, não há progresso”.

Todos direitos reservados


www.seliganessahistoria.com.br
Página 3
● “A história de toda a sociedade que até hoje existiu é a história da luta de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre e oficial, em suma,
opressores e oprimidos sempre estiveram em constante oposição; empenhados numa luta
sem trégua, ora velada, ora aberta (...) a luta pela democracia, monarquia, direito de voto e
etc, são apenas maneiras ilusórias nas quais se desenvolve a verdadeira luta de classes”
Manifesto Comunista.

3.C. Socialismo e Comunismo


● Contradições do capitalismo levariam a sua superação: Marx vê no capitalismo
uma série de contradições que o levariam a sua superação. O capitalismo teve uma missão
histórica específica: ele foi responsável por gerar o máximo de riqueza e aumentar a
capacidade produtiva. A tarefa do proletariado, portanto, é tomar o poder em suas mãos e
efetuar o fim da sociedade capitalista.
● Transição: Socialismo - Revolução e Ditadura do Proletariado: primeiramente, o
proletariado realizaria uma revolução na qual tomariam o Estado (que, até então,
representava os interesses da burguesia), apropriando-se de todos os meios de produção
e realizando uma “ditadura do proletariado”. A revolução socialista seria uma violenta
derrubada das condições sociais existentes, e a ditadura do proletariado uma etapa de
transição em direção ao comunismo, sociedade sem classes almejada pelos marxistas. O
que é ditadura do proletariado? Ditadura do Proletariado, diz Marx numa carta a J.
Wedemeyer, datada de 5 de março de 1852, constitui “apenas uma transição para a abolição
de todas as classes.” O sentido da palavra ditadura no século XIX referia-se às ditaduras
romanas, ou seja, uma ditadura provisória que suspenderia temporariamente todas as leis.
Nesse período, as riquezas seriam distribuídas, as pessoas ainda receberiam por seu
trabalho (logo, ainda há classes e desigualdade), e a propriedade privada e o direito de
herança seriam gradualmente extintos, colocados nas mãos de órgãos auto administrados.
Marx, em A guerra civil na França, mostra a Comuna de Paris, de 1871, como exemplo de
“ditadura do proletariado”, pois foi uma época em que governava um conselho de
trabalhadores eleito pelo sufrágio universal (e não um conjunto de parlamentares), todos
os servidores públicos – juízes e magistrados – eram eleitos e demissíveis, todo o serviço
público era remunerado com salário igual ao dos trabalhadores, a polícia e o exército foram
substituídos pelo povo armado – enfim, chegou-se a uma democracia verdadeiramente
Todos direitos reservados
www.seliganessahistoria.com.br
Página 4
social e direta. O período da ditadura do proletariado, no qual ocorre a distribuição das
riquezas, é chamado socialismo, período mais democrático que o anterior, pois os
governantes seriam a maioria. A propriedade privada, gradativamente, teria fim. No estágio
socialista, há uma espécie de caráter pedagógico: nesse momento, os valores consumistas,
competitivos e individualistas do mundo deveriam ser extintos.
● Comunismo – Sociedade sem classes e, por consequência, sem Estado: Terminada
a distribuição dos meios de produção, acabar-se-iam as classes sociais e,
automaticamente, o Estado seria desnecessário, pois, sendo o Estado o veículo pelo qual
uma classe assegura seu domínio, sem classes ele perderia sua função. Com o fim do
Estado chegaríamos à superação do socialismo, o comunismo, quando os homens não
mais receberiam pelo seu trabalho, mas contribuiriam de acordo com a capacidade, e
receberiam conforme a necessidade. O objetivo da produção é a necessidade, e o objetivo
do aumento da produtividade é reduzir as horas de trabalho. Uma nova “estrutura de
necessidades” (Agnes Heller) emerge, e a vida cotidiana não é mais construída em torno do
trabalho produtivo e do consumo material, mas sim em torno de atividades e relações
humanas que são fins em si mesmos. No comunismo, para Marx, o homem está livre da
concepção capitalista de trabalho, ou seja, da alienação: não estando mais preso a um
trabalho específico, no comunismo cada um poderia aperfeiçoar-se em todos os ramos de
trabalho que lhe agradam, sendo pescador, caçador, pastor ou crítico de acordo com a
própria vontade, não limitando sua capacidade criativa a um único trabalho específico. Diz
Migaild Markovic, que o comunismo “NÃO é uma sociedade perfeita, mas apenas a
possibilidade ótima da atual época histórica. Ele não resolve todos os conflitos humanos, e
provavelmente gerará outros, novos, imprevisíveis no momento, mas porá fim à produção
voltada para o lucro e voltada ao desperdício, à dominação e exploração de classe e a
opressão pelo Estado.”2
“Vocês se horrorizam com o fato de querermos abolir a propriedade privada. No
entanto, a propriedade privada foi abolida para nove décimos dos integrantes de sua

2 Observação: É errôneo falar que Marx acreditava numa “Teleologia”: para muitos, Marx acreditava que a história teria um “sentido específico” (a

Teleologia), regido por “leis determinadas”. Apesar de caracterizar esses princípios gerais do capitalismo e sua superação, Marx sempre aceitou o acidental e o
imponderável. Para saber isso, basta ler o 18 Brumário de Luís Bonaparte, e ver como trabalha o Marx historiador. Vale ler também uma de suas cartas de 1877, na
qual ele nega “qualquer teoria histórico-filosófica da marché-generale imposta pelo destino a todos os povos.” Se, em cartas escritas quando Marx era mais jovem, ele
chegou a falar que a Revolução ocorreria nos países mais industrializados, no texto A luta de classes na Rússia, escritos por Marx e Engels entre 1875 e 1894, eles
analisam as condições desse país como aquelas que engendrarão a Revolução Socialista.
Todos direitos reservados
www.seliganessahistoria.com.br
Página 5
sociedade; ela existe para vocês exatamente porque para nove décimos ela não existe.
Vocês nos acusam de querer suprimir a propriedade cuja premissa é privar de propriedade a
imensa maioria da sociedade. Vocês nos acusam, em resumo, de querer acabar com a sua
propriedade. De fato, é isso que queremos.”
Manifesto Comunista

Todos direitos reservados


www.seliganessahistoria.com.br
Página 6

Você também pode gostar