Você está na página 1de 1

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES

Espaço Físico e a sua dimensão trágica em Frei Luís de Sousa


A primeira característica da estruturação do espaço em Frei Luís de Sousa é a concentração.

Os espaços desta peça são em número reduzido, sendo que a mudança de ato implica a alteração de cenário.

· Primeiro ato

Decorre no palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada, numa sala ampla e decorada de forma rica e luxuosa,
“câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância dos princípios do século XVII". Este espaço caracteriza-
se pela luminosidade, pela abertura ao exterior (através das grandes janelas rasgadas), pelas sugestões cromáticas e
pela liberdade de movimentos, o que espelha a felicidade daquela família, que será, apenas aparente.

O retrato de Manuel de Sousa Coutinho que está nesta sala é um elemento simbólico: ao ser devorado pelas chamas
que consomem o palácio, funciona como indício de desgraça.

· Segundo ato

Passa-se “no palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada, salão antigo, decorado num gosto melancólico e
pesado, com grandes retratos de família…”. Aqui o retrato de Manuel de Sousa Coutinho é substituído pelos retratos
de D. João de Portugal, de D. Sebastião e de Camões. O retrato de D. João funciona como anunciador de uma fatalidade
iminente: Maria e D. Madalena fitam-no uma como que fascinada, outra aterrorizada e no final deste ato torna-se o
meio de reconhecimento do Romeiro.

No salão deste palácio, a vontade própria das personagens desvanece, a abertura dá lugar ao fechamento e as portas
cobertas de reposteiros fazem o mundo exterior desaparecer.

As evocações do passado e a melancolia prenunciam a desgraça fatal.

· Terceiro ato

Desenrola-se na parte baixa do palácio de D. João de Portugal, cuja porta comunica com a capela da Senhora da
Piedade. O espaço perde abertura e luz e ganha frieza e escuridão, tornando-se mais restrito e austero (“é um casarão
vasto sem ornato algum”). Este espaço denuncia o fim das preocupações materiais. Os bens do mundo são
abandonados. A presença de elementos próprios da religião cristã como, por exemplo a cruz de Cristo indicadora de
sofrimento e martírio; a referência à Semana Santa( morte e ressurreição), simbolizando a ressurreição para uma nova
vida, mas esta espiritual e a presença de uma toalha como para limpar os pecados.

Podemos concluir que o afunilamento gradual do espaço em Frei Luís de Sousa anda a par com o avolumar da tragédia.

Há um afunilamento quer a nível de luz, decoração ou amplitude. Ou seja, vai evoluindo no sentido da ação: vão
surgindo acontecimentos que afetam a vida normal familiar e que culmina com a morte de Maria. Caminha-se de
objetos confortáveis para objetos que são alusões cada vez mais nítidas à catástrofe. Do profano ao religioso/ da vida
à morte.

Você também pode gostar