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TOP NON STOP NON STOP NON STOP NON

metamorfose do lugar teoria 2 | MiArq | faup | 12 de janeiro de 2021 | T2 | gB3


Daniel Baptista | Jéssica Andrade | Luísa Moraes | Nadja Guimarães | Luís Viegas | Francisco Oliveira
#ABSTRACT
A casa, a habitação plurifamiliar, o museu
ou o centro comercial não são para nós
nomenclaturas estranhas, todos conhecemos e
sabemos as suas finalidades em suas diferentes
formas. Mas uma casa, uma habitação ou um centro
comercial começam e acabar em si próprios? A
problemática da potencialização do espaço tem em
consideração que um edifício é feito de espaços onde
coabitam os valores da permanência e os valores da
mutação, valores que possibilitam a vivência de um
espaço e a sua fácil apropriação. Uma obra não deve,
por isso, ser um processo fechado, mas aberto a
progressivas afinações. Quanto maior for a sua
capacidade de adaptação a novos tempos e
necessidades maior será a sua perpetuidade no
tempo.
Quem é responsável por dar esse poder de
adaptação a um projeto é o seu próprio autor, o qual
antecipa a forma como os utilizadores irão ocupar o(s)
espaço(s). Uma vez que a obra está inserida na
cidade, que se apresenta em constante movimento,
esta demonstra as necessidades dos seus habitantes
que estão em constante mutação, a qual não é
necessariamente física, mas utilitária, isto é, o papel
do edifício é proporcionar ao utilizador a capacidade
de ocupá-lo para diferentes fins e formas, tirando
assim máximo partido do que já existe, assumindo o
mesmo como um princípio para uma constante
evolução.

Palavras-chave
flexível espaço adaptação sustentável

2
I. Tema
sociedade atravessa, marcada pela dinâmica socio-
antropológica de individualização, racionalização e
diferenciação social, e pelos avanços tecnológicos.
Adaptação do edifício no tempo
Paralelamente, o papel da arquitetura na sociedade
contemporânea, também tem sido alvo de uma
Há um número crescente de cenários
constante transformação, distanciando-se
heterogéneos que nos rodeiam, reais e virtuais. Como
gradualmente do conceito do objeto arquitetónico
nos tempos passados, quando a existência da
como elemento estático e intemporal. A tentativa de
população se baseava na sua capacidade de
compreender novas estratégias de resposta aos
mobilização e adaptabilidade, como forma de
desafios do crescente sintoma de transitoriedade,
sobrevivência aos fatores naturais, foi se perdendo à
estendendo-se simultaneamente, os limites e o poder
medida em que a sociedade foi aprendendo a
de atuar com disciplina tornam necessário encarar a
controlar os fatores externos.
arquitetura com base nas ações decorrentes da
passagem do tempo e reconhecê-la como uma
entidade transformável e transitória. Por sua vez, a
[o cidadão] "vive normalmente numa
resiliência, aptidão de retoma e defesa perante
cidade que não foi feita pelos seus
condições adversas, é aqui introduzida, como uma
contemporâneos, mas sim pelos
capacidade proporcionada à sociedade
antepassados; é verdade que a transforma e
contemporânea, e que resulta da eventual
modifica, e que sobretudo a usa à sua
contribuição decorrente da “arquitetura mutável”.
maneira, descobrindo em si próprio a sua
Deste modo, edifícios construídos no
vocação peculiar, mas é, de imediato, uma
passado deteorizaram-se dada a sua inutilidade na
realidade recebida, herdada, histórica”1
vida da sociedade contemporânea, uma vez que o seu
criador não refletiu na ideia basilar do ser humano: o
desejo da evolução. Não se deve pensar que o que se
Atualmente, por motivos distintos, a
constrói num determinado momento só servirá o
mutabilidade é novamente uma aptidão necessária no
propósito para o qual fora desenhado. É uma atitude
desenvolvimento da sociedade e na produção
egoísta por parte do autor, assim como um pouco
arquitetónica convencional, uma vez que os seus
inconsciente. O ser humano é o arquétipo da
modelos desatualizados não têm conseguido
evolução, um ser inquieto, em constante processo de
providenciar uma resposta sustentável ao exercício da
alteração de pensamento e da sua filosofia. Será
criação da urbe.
possível que um edifício perdure no tempo com a
mesma natureza de utilização?
“Julgo que se mantém a necessidade
A arquitetura, através da sua génese,
na habitação de um território próprio de cada
mostra uma capacidade intrínseca de resposta às
um e isso contém a ideia de abrigo. Isto em
necessidades do presente, mas distanciando-se das
paralelo com um mundo mais dinâmico,
práticas comuns de fins especulativos, e da
frenético e atrativo, o mundo da mobilidade e
valorização de uma imagem dessubstanciada.
da constante viagem. [...] Estes factos
Compete ao criador, como protagonista, dar resposta
configuram uma nova realidade que obriga a
a esta questão, tendo uma análise preliminar no ato
encarar a questão da habitação de forma
de projetar para que "a flexibilidade [proporcione] a
bem diferente. É um mundo em profunda
criação de uma capacidade de ampla margem que
transformação e evolução. Essa tendência é
permit[a] diferentes e mesmo opostas interpretações
real.”2
e usos"3 numa postura futurista face ao conceito de
apropriação futura. Tornar os seus espaços o mais
A interpretação que designa o conceito
suscetíveis à metamorfose será um caminho
“espaço-tempo” sofreu profundas alterações, devido à
sustentável para que os seus futuros habitantes
nova etapa no processo de modernização que a
consigam gerenciar uma fácil e correta apropriação.

1 CHUECA, Goitia, F. (2010, [1982]), Breve História do Urbanismo, 3KOOLHAAS, R. (1997). Small, Medium, Large, Extra-large,
1ªEdição, Lisboa: Editorial Presença, página 34 Benedikt Taschen, Koln, página 240
2 SIZA, Álvaro (2006) – Conversa com José Adrião e Ricardo

Carvalho. Jornal Arquitectos. Lisboa. 224 (julho-setembro de


2006) 60-75. ISSN 0870-1504.

3
Nesse sentido, a mutabilidade, enquanto
modo de projetar em arquitetura, pode representar
uma alternativa, ampliando a capacidade de resposta
dos edifícios às exigências imprevisíveis de um futuro
próximo assim como às vicissitudes das sociedades
atuais, de modo a satisfazer as necessidades dos
seus habitantes. A mutabilidade, qualidade do que é
versátil, caracteriza um conjunto de abordagens,
baseadas no “tempo” enquanto impulsionador e
condicionante da conceção projectual, relacionados
com os espaços interiores flexíveis e adaptáveis, com
as arquiteturas evolutivas e modulares, com a
efemeridade e reutilização adaptativa, entre outros,
criando uma base ideológica que procura estimular o
desenvolvimento de soluções inovadoras, com vista a
um futuro resiliente.

“O ato de habitar é geralmente


compreendido em relação ao espaço, como
uma maneira de domesticar ou controlar o
espaço, mas devemos igualmente
domesticar e controlar o tempo, reduzindo a
escala da eternidade para torná-lo
compreensível.”4

4 PALLASMAA, Juhani, "Habitar", GG, Página 9

4
II. VIDEO
A área de intervenção, Centro Comercial
Stop, explora-se como ideia de projeto, a presença do
objeto arquitetónico como elemento primário - aquele
que permanece no tempo pela importância
conquistada no tecido da cidade, não obstante das
mudanças funcionais que possam ocorrer. Para
ilustrar a ideia presente no capítulo I deste relatório,
percebeu-se que a estratégia da gravação de um filme
sucinto teria um impacto e assertividade superior a
outros métodos em relação ao ambiente e
consequências que resultaram da constante mutação
daquele espaço. O ponto que queremos provar será
sempre algo de refutações, por isto, achamos
interessante utilizar um método que demonstre uma
mensagem clara e emotiva, mas também aberta a
novas conclusões mediante o observador. Apesar de
tudo, o alvo de estudo assenta na dualidade
estabelecida entre a permanência na malha urbana e
a mutabilidade do seu uso. É um lugar marcado pela
passagem do tempo (e principalmente das pessoas) e
as alterações que resultaram do mesmo tornaram-no,
em parte, um espaço mais apetecível ao
desenvolvimento de uma critica visual e sonora, uma
vez que outrora seria só mais um centro comercial
abandonado. É um exemplo de um edifício (entre
muitos) que após a sua conceção, foi-se tornando
cada vez mais interessante e peculiar pelo modo de
que as pessoas o utilizavam. Outrora as luzes
encadeavam os tristes olhares das curtas visitas ao
pequeno comercio popular, entre paredes, e agora, na
sombra dos corredores desertos sentem-se as
vibrações de uma segunda oportunidade. Foram “as
cerca de 300 bandas que ensaiam no stop,
transformaram o centro comercial que esteve à beira
da falência, num fenómeno único em Portugal e até
na Europa. Não existe nenhum outro local que reúna
tantos músicos com idades e gostos tão distintos
quanto a música que ali se ouve e produz.”5

5S/A, “Centro Comercial STOP – A Verdadeira Casa da Música” in


Grande Reportagem SIC, 29 de março de 2013

5
III. MÉTODO
O nosso trabalho procura abordar a
apropriação do espaço do centro comercial Stop feita
pelos populares consoante a degradação em que o
espaço se encontrava. O nosso objetivo é apresentar,
através de vídeo, aquelas que são as novas
características do lugar. Visualmente desejamos ligar
a degradação da fachada com a falta de estimo do
interior, mas também o cuidado e respeito que sem
mantém pela história que os habitantes tentam
preservar ao máximo, o ambiente escuro dos espaços
de circulação que ligam as atuais salas de ensaio
musicais que tão pouca atenção receberam. Em
contraste, sobrevivem as cores vibrantes, que
curiosamente, agora vibram ao som das notas
tocadas pelos músicos que lá habitam.

desde o uso do espaço como a ocupação com os


instrumentos musicais utilizados pelos artistas nas
antigas lojas e os espaços de circulação onde o
percurso é apresentado com pouca salubridade e
utilização, assim como a música produzida e sons que
caracterizam o ambiente.

-Caracterizar lojas 104 lojas de 131 tornaram-se,


desde estúdios de gravação a salas de ensaio – 300
bandas. Existe uma grande diversidade do tipo de
bandas presentes no centro. As salas são o mundo
deles e os corredores estão sempre fechados e sem
luz

Gustavo Costa – “Eu pessoalmente acho muito bonito,


caminhar aqui por estes corredores que parecem
desertos, mas estão sempre ocupados e por pessoas
a fazer música, mas também compreendo que para
algumas pessoas que venham cá pela primeira vez
possam achar que este espaço é um bocado
abandonado, possam senti-lo como abandonado,
mas é precisamente o contrário.”

-Ambiente musical

-Salubridade

-Entrevista de usuários do espaço

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REFERÊNCIAS
- BRAZÃO, Adriana, “Metamorfose do construído”,
Lisboa, FAUL, março de 2015, página 25

- CHUECA, Goitia, F. (2010, [1982]), Breve História do


Urbanismo, 1ªEdição, Lisboa: Editorial Presença,
página 34

- KOOLHAAS, R. (1997). Small, Medium, Large,


Extra-large, Benedikt Taschen, Koln, página 240

- PALLASMAA, Juhani, "Habitar", GG, Página 9

- S/A, “Centro Comercial STOP – A Verdadeira Casa


da Música” in Grande Reportagem SIC, 29 de março
de 2013

- SIZA, Álvaro (2006) – Conversa com José Adrião e


Ricardo Carvalho. Jornal Arquitectos. Lisboa. 224
(julho-setembro de 2006) 60-75. ISSN 0870-1504.

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