Você está na página 1de 4

O amplo espectro de manifestações clínicas e histopatológicas da hanseníase se deve

a diversidade da resposta imune desenvolvida frente ao M. leprae. A forma como a


doença se manifesta no paciente depende principalmente de como o organismo do
hospedeiro responde à infecção, se a resposta for mediada Th1, ou seja, gerado uma
resposta imune mediada por células, a doença será mais controlada, já se a resposta
for do tipo Th2, do tipo humoral, por não ser especializada em combater
microrganismos intraceulares, as manifestações clínicas serão mais graves.

Obs: As células T CD4 podem se diferenciar de duas formas, originando células Cd4
Th1 e Th2. As citocinas secretadas pelas células Th1 desviam a resposta imune em
direção à ativação dos macrófagos, que conduz a inflamação e à resposta imune
mediada por células. Isso significa uma resposta dominada por células T citotóxicas
CD8 e/ou células Th1 CD4, macrófagos e outras células efetoras do sistema imune.
As citocinas secretadas pelas células Th2, em contraste, induzem principalmente a
diferenciação das células B e a produção de anticorpos. A resposta que envolve a
produção de anticorpos é conhecida como resposta imune humoral.

Considera-se a via respiratória como a principal via de transmissão. Neste local, o


primeiro contato como o patógeno é feito pelas células dendríticas, pois estão fazendo
reconhecimento de DAMP´s e PAMP´s através dos PRR´s, e então surgem os
macrófagos que também reconhecem o patógeno e se tornam as células hospedeiras
primárias do M. leprae, obtendo papel importante na defesa do organismo mediante a
captura/fagocitose por processar e apresentar antígenos e conseguir secretar
monocinas. Contudo, esse papel pode não ser eficaz, o que colabora com a
disseminação do bacilo no interior da célula e propagação da doença, pelo fato de o
bacilo possuir mecanismos de impedir a formação do fagolisossomo dentro do
macrófago, o que permite a multiplicação da bactéria dentro da vesícula fagocitica.

Para ajudar, outros PRR´s, como os TOLL-LIKE 2, 4, 6, 8 etc. identificam os PAMP´s,


ex: lipoproteínas, o que resulta na produção de citocinas inflamatórias, como: TNF, IL-
12, o que induz respostas do tipo Th1, consequentemente podem ter a expansão de
células dendríticas e diferenciação de macrófagos, ou citocinas IL-4 e IL-3 que
induzem resposta Th2.
Um fato interessante é que os macrófagos produzem reativos intermediários de
oxigênio e nitrogênio que são eficientes para eliminação de patógenos, num processo
conhecido como burst oxidativo. Contudo, a fagocitose do M. leprae não leva a um
intenso burst oxidativo, possivelmente pela remoção de ânions superóxido pelo
glicolipídio fenólico I (PGL-I), ou ação da enzima superóxido dismutase, cujo gene foi
descrito no bacilo. A produção de óxido nítrico(NO) parece ser efetiva para inibição do
metabolismo do bacilo em macrófagos murinos.

Em lesões de pacientes hansenianos, a expressão da enzima iNOS (oxido nítrico


sintase induzível), responsável pela síntese de NO, é mais intensa na forma
tuberculoide em comparação à forma virchowiana, sugerindo sua efetividade no
controle da multiplicação bacilar.

Sabendo disso, a indução da resposta Th1 se torna essencial por produzir IFN-γ, este
interferon é o mediador crítico que permite que os macrófagos controlem a infecção
estimulando a maturação do fagolisossomo e também expressando óxido nítrico
sintase induzível que produz óxido nítrico, causando o processo de burst oxidativo.
Além disso este interferon também induz a autofagia, eliminando reservatório da
bactéria.

Contudo, nem sempre a resposta Th1, consegue ser desenvolvida corretamente, um


dos motivos pelo qual há diversas maneiras de manifestação da Hanseníase. Quando
há uma superação/ predomínio da resposta Th2 sobre a resposta, dizemos que o
paciente está com polo anergico da doença, visto que o organismo não conseguiu
combater de forma eficaz.

A hanseníase virchowiana é caracterizada por resposta imune Th2, secreção de IL-10


e IL-4, produção de anticorpos, ausência de granulomas e falha em conter o
crescimento do M. leprae. As DCs de pacientes com a forma virchowiana produzem
IL-4 e IL-10, polarizando a resposta para o polo Th2. Quando ocorre uma polarização
para a resposta imune do tipo Th2, observa-se exacerbação da resposta humoral que
é ineficaz para a eliminação dos bacilos intracelulares e causa maior suscetibilidade à
hanseníase. Como visto, o M. leprae possui mecanismos de escape à sua eliminação,
como a produção dos antígenos PGL-I e LAM, que têm como função a supressão da
ativação macrofágica e estimulação da resposta Th2, o que proporciona condições
para que o bacilo fique protegido no citoplasma da célula, multiplicando-se, formando
globias e disseminando-se.

A resposta imune humoral cursa com a produção de citocinas como TGFβ, IL-4, IL-5 e
IL-10, as quais inibem a ativação de macrófagos e diminuem a expressão de
moléculas MHC II pelas células apresentadoras de antígenos. A IL-4 atua ainda
diminuindo a expressão de TLR-2 nos monócitos e induz a produção de
imunoglobulinas por linfócitos B. O TGF-β (transforming growth factor-β) tem atividade
imunossupressora de linfócitos T pela inibição da produção de IL-12 e IFN-γ. Isso tudo
favorece a defesa ineficiente do organismo.

Os linfócitos T CD4+ são mais abundantes nas lesões tuberculoides enquanto os


linfócitos T CD8+, que podem apresentar fenótipo supressor, predominam nas lesões
virchowianas. Nas lesões tuberculoides, a distribuição dos linfócitos é mais ordenada,
com linfócitos T CD4+ no centro das lesões e linfócitos T CD8+ com função
supressora nas margens, contendo a resposta imune.

As lesões de pacientes virchowianos são caracterizadas pelo acúmulo de lipídeos no


interior de macrófagos e que posteriormente foi observado também em células de
Schwann. Inicialmente, acreditava-se que estes lipídeos eram derivados do bacilo,
mas vários estudos têm demonstrado que tais lipídeos são oriundos, pelo menos em
parte, do hospedeiro, o que deve estar relacionado com a maior capacidade fagocítica
dessas células. Esses lipídeos se agregam formando corpos lipídicos que são
organelas dinâmicas cuja formação é induzida pela infecção com o M. leprae de modo
tempo e dose dependente. Os corpos lipídicos contribuem para a evasão do bacilo dos
mecanismos de defesa do hospedeiro e funcionam como uma fonte de nutrientes
possibilitando a persistência bacilar, além disso, estão relacionados com maior
produção de mediadores inflamatórios derivados do ácido araquidônico com efeitos
imunossupressores com a prostaglandina-E2, que direciona a resposta imune para um
Th2 compatível com o observado em pacientes virchowianos.
Os granulomas são uma consequência do processo inflamatório crônico da
hanseníase na forma paucibacilar. Ele se apresenta com bastante células epitelioides,
anel de leucócitos mononucleares em volta geralmente não possui necrose caseosa e
nem células gigantes, coisas que são vistas por exemplo na tuberculose, doença
também causada por uma micobactéria que partilha de mecanismos muito
semelhantes.

Você também pode gostar