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FACULDADE SANTA ANA LTDA –ME

Portaria de Credenciamento nº 672, de 25 de agosto de 2021


Mantenedora escrita no CNPJ nº 21.141.311/0001-40
End. Rod. PI-144, Lagoinha, São Raimundo Nonato-PI

Especialização em Educação Infantil e Educação


Inclusiva

DISCIPLINA:

Currículo, Aprendizagem e Avaliação no Processo de Aquisição da Leitura e da Escrita

PROFESSORA:

Ma. Nádia Narcisa de Brito Santos

SÃO RAIMUNDO NONATO - PI

2022
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

CURRÍCULO INCLUSIVO:
O DIREITO DE SER ALFABETIZADO

UNIDADE 1 | ANO 3

Brasília
2012
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Sumário
Secretaria da Educação Básica – SEB
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)

CURRÍCULO INCLUSIVO: O DIREITO DE SER ALFABETIZADO

Iniciando a conversa 05

Aprofundando o tema 06
Ponto de partida:
currículo no ciclo de alfabetização  06

Alfabetização:
o que ensinar no terceiro ano do ensino fundamental 13

Avaliação para inclusão:


alfabetização para todos 22
Tiragem 134.158 exemplares Direitos de aprendizagem no ciclo de alfabetização
– Língua Portuguesa 29
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500 Compartilhando 29
CEP: 70047-900 Fichas de acompanhamento da aprendizagem das crianças 37
Tel: (61)20228318 - 20228320
Ficha do perfil da turma 43

Aprendendo mais 44
Sugestões de leitura  44

Sugestões de atividades para os encontros em grupo  46


Aprofundando o tema diretrizes coletivas entre suas comuni- Ao analisarem 14 documentos curriculares
dades e crenças partilhadas por aqueles de secretarias estaduais de educação e 12 de
que a protagonizem, é importante não se secretarias municipais de capitais brasilei-
esquecer de que o currículo em ação se dá ras, Leal e Brandão (2012) evidenciaram
por meio de negociações constantes. Há que todos os documentos explicitavam a
sempre uma correlação de forças de poder necessidade de favorecer, desde o início da
Ponto de partida: em jogo, em que os consensos precisam escolarização, a aprendizagem de leitura e

currículo no ciclo de alfabetização ser construídos entre os grupos dentro de


cada escola. Por outro lado, é necessário
produção de textos. Isto é, os documentos
priorizam, logo nos primeiros anos do En-
Ana Lúcia Guedes-Pinto
reconhecer, também, a existência de gran- sino Fundamental, o trabalho voltado para
Telma Ferraz Leal des acordos concretizados em documentos a inserção dos estudantes em situações de
oficiais que possam dar uma homogenei- contato com a leitura e a escrita, embora al-
dade aos sistemas de ensino brasileiros. guns documentos enfatizem mais aspectos
Há, por exemplo, no momento atual, uma relacionados à estrutura dos textos e menos
Um dos autores brasileiros que tem se dedi- [...] um conjunto de intenções discussão premente no que concerne ao os aspectos relativos aos processos de inte-
cado a pensar sobre o currículo escolar, Fer- educativas e um conjunto de direito à alfabetização e ao acesso à cultura ração por meio deles. A pesquisa sugere que
raço, alerta que “a questão do conhecimento diretrizes pedagógicas que se escrita nos primeiros anos de escolarida- haja maior atenção às discussões acerca da
e, em particular, do currículo, não pode articulem para orientar a orga- de. Desse modo, pode-se, hoje, afirmar articulação entre análise linguística, leitura
ser simplificada nem a textos prescritivos nização e o desenvolvimento da que é necessário um compromisso dos e produção de textos, de modo sensível às
nem a singularidades subjetivas” (2008, sua prática educativa. Referen- educadores em torno do pressuposto de características dos gêneros textuais, tanto
p. 18), ou seja, o currículo é construído na ciais mais amplos - de natureza que até oito anos de idade as crianças em relação a aspectos sociodiscursivos
prática diária de professores e, portanto, político-filosófica, epistemo- tenham se apropriado dos conhecimentos (finalidades, destinatários, portadores de
nem sempre reflete exatamente o que os necessários à escrita e à leitura de textos textos, espaços de circulação dos textos),
lógica e didático-pedagógica -
documentos oficiais orientam, mas também que circulam socialmente. quanto os relativos às formas composicio-
definidos conjuntamente, ofe-
não pode ser entendido como decisão de nais e estilísticas. Apesar dessa ressalva,
recerão as bases para a análise A necessidade de tal defesa decorre da
cada um. Precisa ser, na verdade, fruto de como foi dito, o trabalho precoce com os tex-
da realidade atual da escola e o constatação de que, no Brasil, há um con-
construções coletivas que tenham como tos que circulam na sociedade (diferentes
planejamento da intervenção junto de objetos culturais que são desi-
norte princípios partilhados. Desse modo, é gêneros), com foco na diversidade deles, é
sobre ela. (MURTA, 2004, p. 21) gualmente distribuídos na sociedade, tais
reincidente nos documentos.
importante que em cada unidade escolar se-
como a escrita e seus diferentes suportes.
jam firmados compromissos que garantam
No entanto, apesar de existirem gran- É com base no reconhecimento dessas
os direitos de aprendizagem dos estudantes.
No entanto, é importante reconhecer que, des disparidades quanto ao domínio de semelhanças entre o que está presente
Murta (2004) também corrobora essa ideia
embora exista uma busca para a garantia ferramentas culturais poderosas, pode-se em propostas curriculares elaboradas em
e defende que em cada escola os educadores
de que no cotidiano de uma escola haja dizer que há um discurso comum de que é diferentes partes do país, que se pode afir-
deveriam eleger:
dever da escola dar acesso à cultura escrita mar que alguns conhecimentos e algumas
a todos que a frequentam. capacidades cognitivas possam fazer parte

unidade 01 07
dos acordos firmados nas escolas públicas e no esforço conjunto de todos os envolvidos levar a refletir sobre o Sistema como a ideia de atividade única a todos, ao
Os direitos de
aprendizagem
que tenham como finalidade a construção no processo para a consecução de um fim, de Escrita Alfabética, entender mesmo tempo, em todas as ações propostas
de crianças com de situações favoráveis de aprendizagem, podem nos ajudar no trabalho pedagógico. os textos que lê. Ensinar é uma aos alunos. A escolha de temas relevantes ao
necessidades
educacionais em uma perspectiva inclusiva, isto é, em O termo esforço neste texto é bastante apro- provocação e só ensina quem convívio das crianças na sociedade precisa
especiais são
discutidos no
uma perspectiva de garantia de aprendiza- priado uma vez que a tarefa de trabalhar a aprende, sem esta concientiza- ser compatível com o princípio de que todas
“Caderno de Edu- gem para todos. A busca por um currículo favor da inclusão de todos no processo de ção, não atingiremos o objetivo as áreas de conhecimento precisam ser
cação Especial - a
alfabetização de inclusivo rompe com os valores relativos à ensino-aprendizagem requer do professor desejado: as aprendizagens dos mobilizadas para fortalecer as capacidades
crianças com defici-
ência: uma propos-
competitividade, ao individualismo, à busca uma ação cuidadosamente planejada e que estudantes, em todas as áreas do de ação social dos estudantes. Esse é um dos Na unidade 2
há reflexão sobre
ta inclusiva”. de vantagens individuais. Os princípios de precisa ser constantemente retro-informa- conhecimento. pontos que tornam visíveis as contribuições o planejamento
no ciclo de
um currículo inclusivo incluem a definição da, ou seja, necessita de avaliação frequente trazidas por uma perspectiva de trabalho alfabetização.
de alguns conhecimentos a serem apropria- para que seja possível re-encaminhamentos interdisciplinar, em que as áreas do conhe-
dos por todos os estudantes, respeitando-se que propiciem a inclusão juntamente à Reafirmamos, portanto, que o acesso e a cimento são tratadas de forma articulada.
as singularidades, diferenças individuais e garantia do ensino da leitura e da escrita. compreensão de alguns direitos de apren- Paulo Freire, um dos educadores brasileiros
de grupos sociais. Em função dessa pre- É sobre tais necessidades que a professora dizagem a serem garantidos para todos é mais conhecidos internacionalmente e
missa da inclusão, deparamo-nos com uma Ivanise Cristina da Silva Calazans, do 2º ano uma forma de auxiliar cada escola a ter uma reconhecido por sua contribuição à edu-
pergunta que não quer calar: Como garantir da Escola Municipal Nova Santana, Camara- ação mais inclusiva. É importante que essa cação brasileira, apresentou princípios de
aprendizagem a todos? gibe – PE, trata no depoimento abaixo: difusão seja feita de modo que também trabalho que tomam como pressuposto a
Desde os tempos de Comênio, quando sejam consideradas as singularidades de articulação entre os diversos campos do
escreveu sua Didática Magna no século cada local, levando-se em conta os valores conhecimento. Em seus princípios vemos
XVII, há propostas de ensinar tudo a todos.
A avaliação diagnóstica é im- culturais das comunidades, rumo à valoriza- a importância que as palavras geradoras
Embora tenhamos consciência de que não é
portante, pois possibilita elabo- ção de identidades de grupos sociais. assumem no processo alfabetizador. Essas
possível ensinar tudo a todos e que a escola rar o planejamento, atendendo palavras geradoras, escolhidas pelo grupo –
às necessidades gerais da turma Para que sejam ao mesmo tempo garantidas alunos e professores, são geradas após uma
é uma das esferas sociais em que o ensino algumas aprendizagens comuns às escolas
ocorre, mas não é a única, concebemos que e às individuais das crianças. ampla pesquisa em torno de seu cotidiano
Sabemos que não existe turma de todo o país e a apropriação de conhe- e de suas demandas de vida. Elas têm em
há conhecimentos que podem ser vistos cimentos singulares dos espaços sociais
homogênea, cada estudante tem comum o fato de conterem significados
como fundamentais na Educação Básica. É onde as escolas se inserem é necessário
suas especificidades, as quais importantes para os sujeitos envolvidos na
frente a essa constatação que investimos na planejar a organização do tempo escolar o
precisam ser atentamente ob- empreitada do ensino-aprendizagem da
busca de garantir alguns direitos de apren- que significa também considerar os “tem-
servadas, a fim de que possamos língua. Por exemplo, uma professora, depois
dizagem a todos e favorecermos condições pos de aprendizagem” dos alunos. Nessa
desenvolver atividades, aju- de conversar com sua turma sobre suas pre-
de aprendizagens coletivas, singulares a organização do tempo definimos quais ocupações em torno de seu cotidiano, chega
cada comunidade, a cada grupo social. dando-os a ganhar autonomia
são as prioridades, de modo a favorecer a um conjunto de palavras tais como traba-
em leitura e produção de texto. aprendizagens significativas, rompendo lho, salário, entrevista, emprego, demissão
Os princípios da inclusão, tendo em vista a
Sabemos que não é tão simples. com as tendências que impõem excesso e greve, que reúnem sentidos específicos
realização de um currículo calcado no reco-
Atender a todos os estudan- de conteúdo e pouca profundidade, bem para eles. A partir, portanto, dos centros
nhecimento das diferenças entre os sujeitos
tes implica provocar, desafiar,

08 unidade 01 unidade 01 09
de interesse que essas palavras indicam, centros de interesse que existem na vida de correspondência entre escolas desen- a importância que atribuem à atividade
a professora pode lançar bases para um real permite que a alfabetização seja algo volvido por ela. Ao redigir junto com seus da leitura na escola, ao escolherem relatá-
trabalho de leitura e de escrita de diversos mais concreto para os sujeitos que estão alunos uma carta em que eles explicam o -la ao destinatário e, além disso, listarem
textos que remetem aos sentidos por eles engajados em tal processo. Freire e Faundez que fazem na escola, ela diz: todas as histórias lidas. Acreditamos que
compartilhados. É interessante notar que (1985, p. 49) explicam seu posicionamento: esse exemplo também estampa o que vem
o que é colocado em foco são os interesses “é preciso que o educando vá descobrindo a a ser os conteúdos da alfabetização. Eles
e as motivações que aparecem no grupo. relação dinâmica, forte, viva, entre palavra Fui escrever hoje a cartinha com se constituem a partir daquilo que cada
Não é relevante verificar se as palavras são e ação, entre palavra-ação-reflexão”. Os eles. Pra você ter ideia, eu esta- grupo decide estudar a partir das proble-
formadas por sílabas simples ou por grafe- autores sempre defenderam a relação direta va com as crianças escrevendo e matizações levantadas pelo professor. Não
mas que pertencem a uma mesma família entre o ensino na escola e o conteúdo da eles tinham que falar o que eles se reduzem à aprendizagem apenas da es-
morfossintática. Em função do encaminha- vida concreta e material de cada sujeito. faziam na escola. A primeira coi- trutura morfossintática da língua. Assim, a
mento dos trabalhos de aprofundamento do alfabetização se define e se desenha tendo
A alfabetização se caracteriza, assumindo- sa que eles lembraram foi assim:
estudo provocado pelas palavras geradoras, em conta as necessidades trazidas pela
chega-se a temas geradores que podem,
-se uma perspectiva interdisciplinar, por “A gente lê muita história”. O análise das preocupações de cada turma de
então, definir novas pesquisas para o grupo,
uma forma de trabalho em que o ensino da que eu achei muito legal ter vin- alunos com seu professor.
integrando novos conceitos e teorias cons-
leitura e da escrita articula-se necessaria- do deles é que eles disseram “A
mente a demandas objetivas formuladas a gente lê”, isto é, não é a profes- Araújo (1998, p. 94) ressalta que a apro-
truídos no campo da ciência, em diferentes
partir de desafios reais. O conteúdo, por- sora que lê, mas é: “A gente que priação da linguagem nos primeiros anos
áreas de conhecimento, e em outros campos
tanto, da alfabetização se define pela ne- lê”. Eles fizeram uma relação de escolares deve “possibilitar vivências com
da atividade humana. Ainda no exemplo ci-
cessidade de se registrar conversas, obser- um monte de histórias que eu li, a leitura e a escrita que tenham relevância
tado, pode-se inferir que um dos temas que
vações feitas no grupo, que precisam ser e significado para a vida da criança, algo
podem ser desdobrados, relativos ao que as que nem eu lembrava que tinha
gravadas, ou seja, como forma de produzir que se torne uma necessidade para ela e
palavras inferem, pode se voltar aos desafios lido pra essa turma1 .
memórias, documentos a respeito do que que lhe permita refletir sobre sua reali-
do trabalhador no mundo urbano ou ainda
se discute e do que se aprende na escola. dade e compreendê-la”. A perspectiva de
ao ingresso no mercado de trabalho.
Assim, a leitura, a escrita, a fala e a escuta trabalho interdisciplinar, que entende o
Dito de outra forma, podemos depreender assumem centralidade por se constituírem Percebemos nesse relato o grau de en- diálogo mútuo entre os diversos campos de
que a proposta alfabetizadora de Paulo como atividades em que os conhecimentos volvimento das crianças nos trabalhos na conhecimento, possibilita que os problemas
Freire baseia-se na perspectiva da inter- emergentes de diferentes campos do saber escola e o quanto elas se reconhecem como tratados na escola se convertam em necessi-
disciplinaridade, em que os interesses e são mobilizados e medeiam as interações sujeitos ativos do processo de ensino. Ao dades em relação ao conhecimento, repletas
as curiosidades que mobilizam o grupo de sociais. Por esse motivo, é fundamental optarem por escrever na carta “a gente lê”, de significados para os alunos, quando estes
educandos tornam-se os grandes propul- que as crianças se sintam ativas. incluem-se como leitores. Tal afirmativa se reconhecem como agentes corresponsá-
sores do ensino, e não uma divisão estática revela não só a relação democrática de en- veis pelas tarefas que desempenham, o que
O sentimento de sujeito ativo sobre o qual sino vivida com a professora como também
de conteúdos por componente curricular. faz com que aquilo que se aprende na escola
comentamos no parágrafo anterior apare-
Um mesmo fenômeno pode ser abordado de esteja estreitamente relacionado com o que
ce na fala de uma professora da educação
modo a mobilizar conhecimentos gerados 1 Fragmento de uma entrevista do banco de dados do se vive na sociedade.
infantil da cidade de Campinas, estado projeto temático Fapesp intitulado “Formação do pro-
em diferentes campos da ciência. A ligação fessor: processos de retextualização e práticas de le-
de São Paulo, ao contar sobre um projeto tramento”, com coordenação geral da Prof. Dra. Angela
do ensino da leitura e da escrita com os Kleiman (processo n. 2002/09775/0).

10 unidade 01 unidade 01 11
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional

Caderno de
Educação Especial

A ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA:


UMA PROPOSTA INCLUSIVA

Brasília 2012
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Secretaria de Educação Básica – SEB
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)
_______________________________________________________________

Brasil. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.


Caderno de educação especial : a alfabetização de crianças com deficiência : uma
proposta inclusiva / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria
de Apoio à Gestão Educacional. -- Brasília : MEC, SEB, 2012.
[48] p.

ISBN 978-85-7783-125-8

1. Alfabetização. 2. Educação especial. 3. Aluno com deficiência. I. Título.

CDU 37.014.22
_____________________________________________________________________

Tiragem 403.255 exemplares


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500
CEP: 70047-900
Tel: (61)20228318 - 20228320
Aprofundando o tema

1. Introdução
Tícia Cassiany Ferro Cavalcante
Rafaella Asfora
Wilma Pastor de Andrade Sousa
Carlos Antonio Fontenele Mourão
Ana Gabriela de Souza Seal

A inclusão da pessoa com deficiência no Documentos, como, por exemplo,


âmbito escolar é um debate atual que a Declaração de Salamanca (1994),
demanda a organização de várias propostas defendem que o princípio norteador da
de trabalho, pelas especificidades inerentes escola deve ser o de propiciar a mesma
à pessoa humana e pelas diversas barreiras educação a todas as crianças, atendendo
existentes no contexto escolar. às demandas delas. Nessa direção, a
inclusão traz como eixo norteador a
Ao se pensar essa inclusão é importante legitimação da diferença (diferentes
refletir acerca do que é incluir de fato, já práticas pedagógicas) em uma mesma sala
que se trata de um tema polêmico do ponto de aula para que o aluno com deficiência
de vista da prática educacional. De acordo possa acessar o objeto de conhecimento.
com Sassaki (2006), a integração propõe a Acessar aqui tem um papel crucial na
inserção parcial do sujeito, enquanto que a legitimação da diferença em sala de aula,
inclusão propõe a inserção total. Para isso, pois é preciso permitir ao aluno que
a escola, como instituição que legitima a tenha acesso a tudo, por outras vias, que
prática pedagógica e a formação de seus eliminem as barreiras existentes. Isso
educandos, precisa romper com a perspectiva poderá ocorrer por meio de alternativas
homogeneizadora e adotar estratégias para diversas (jogos, brincadeiras e
assegurar os direitos de aprendizagem de experimentação de diferentes estratégias)
todos. Contudo, tais estratégias dependem que o professor precisará buscar para
das especificidades de cada pessoa, da tratar dos conhecimentos em sala de
experiência, e da criatividade e observação aula, perpassando, portanto, como se
do professor com sensibilidade e acuidade, disse anteriormente, pela sensibilização,
além de uma formação inicial e continuada criatividade e formação necessárias a esse
que o encaminhe para isso. professor.
Assim, dentro da perspectiva social de deficiência podemos afirmar que a pessoa com
deficiência procura outro percurso de desenvolvimento distinto daquele que está impedido
biologicamente (VYGOTSKY, 2004). A pessoa cega, por exemplo, aprende e se desenvolve na
busca de novos acessos, cognitivos e sociais, utilizando-se do braile e de recursos de tecnologia
de informação e comunicação acessíveis. Já a pessoa surda, usuária da língua de sinais, tem
acesso ao objeto de conhecimento por meio dessa língua.

É importante ressaltar que a concepção de que os alunos não começam sua apropriação do
sistema de escrita alfabética do zero também é válida para as crianças com deficiência (REILY,
2004). A escola deve disponibilizar recurso e tecnologia assistiva, a fim de promover condições
de acessibilidade assegurando, assim, plena participação e possibilidade de aprendizagem às
crianças com deficiência em igualdade de oportunidade com as demais crianças.

No âmbito da teoria sócio-histórica, uma educação inclusiva deve ser fundamentalmente


de caráter coletivo e considerar as especificidades dos estudantes. Por meio das interações
sociais, e pela mediação semiótica, dá-se a reorganização do funcionamento psíquico de
pessoas com e sem deficiência, favorecendo-lhes o desenvolvimento superior.

08 caderno de educação especial


Referências

BRASIL. Declaração de Salamanca e de ação sobre necessidades


educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994.

REILY, Lúcia Helena. Escola Inclusiva: linguagem e mediação. Papirus


editora, 2004.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos.


7. ed. Rio de Janeiro: WVA, 2006.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. Obras escogidas. Fundamentos de defectología.


Madrid: Visor, 1997.

caderno de educação especial 09


2. A pessoa com deficiência motora
frente ao processo de alfabetização
Tícia Cassiany Ferro Cavalcante

A deficiência motora caracteriza-se pelos de recursos de alta tecnologia, como o uso de


impedimentos nos movimentos e na computadores com sistemas de comunicação
coordenação de membros e/ou de cabeça, alternativa.
em que a pessoa necessitará de adaptações
que garantam a acessibilidade motora, ou Uma questão importante que deve ser
seja, o seu acesso a todos os espaços, serviços lembrada é que nem sempre a falta de recursos
e instituições. Isso significa que é preciso de acessibilidade está relacionada à questão
permitir tanto o acesso aos espaços físicos, financeira, pois o professor pode utilizar
com uma estrutura arquitetônica apropriada, recursos simples e conseguir garantir o acesso
garantindo a autonomia e independência do seu aluno na aprendizagem. Dessa forma,
da pessoa, como também de uma prática duas questões tornam-se centrais nesse
pedagógica que considere as especificidades tópico: (a) a identificação das peculiaridades
da criança. educacionais de cada estudante é
fundamental para a escolha das estratégias
Focaremos as discussões no aluno com e dos recursos didáticos e pedagógicos; (b)
paralisia cerebral, por ser uma das principais a promoção de acessibilidade nem sempre
causas de deficiência motora presente em depende de alta Tecnologia Assistiva (área do
nossas escolas. Clinicamente, a paralisia conhecimento e de atuação que desenvolve
cerebral é definida como uma desordem do serviços, recursos e estratégias que auxiliam
movimento e da postura em decorrência de na promoção de acessibilidade às pessoas
uma lesão, não progressiva, do cérebro ainda com deficiência), já que o professor pode
em desenvolvimento (TELES; NASCIMENTO, utilizar de sua criatividade para realizá-las.
2005). Esta deficiência motora central pode
estar associada à deficiência de fala, visão A pessoa com deficiência motora, muitas
e audição, ou à deficiência intelectual, o vezes, é discriminada e excluída do
que nesse caso caracterizaria deficiência ambiente educacional, pois a grande
múltipla. parte dos professores concebe que não há
possibilidades de aprendizagem e que,
Os recursos de tecnologia assistiva utilizados atrelada à deficiência motora, a pessoa possui
na prática pedagógica dependerão das também deficiência intelectual, o que não é
funcionalidades de cada estudante e de suas verdade para todos os casos. A segregação se
necessidades educacionais específicas. São torna ainda mais grave quando a deficiência
exemplos de recursos de tecnologia assistiva motora acomete consideravelmente a fala e
usados para promover acessibilidade: um impede o uso da comunicação oral de forma
lápis engrossado, para facilitar a escrita, ou fluente – impedimento bastante comum.

10 caderno de educação especial


Um dos principais recursos de tecnologia O professor, com apoio do professor
assistiva que pode possibilitar a erradicação especialista, precisa realizar uma avaliação
das barreiras comunicacionais, importante do seu aluno e da situação na qual o sistema
no âmbito educacional, é a Comunicação será utilizado para determinar o que será
Alternativa e Suplementar (CAS). A CAS mais útil e funcional, como bem destacam
contempla os recursos e estratégias que Zaporoszenko e Alencar (2008). É importante
complementam ou trazem alternativas para que o professor faça uma lista das principais
a fala de difícil compreensão ou inexistente necessidades do aluno, para depois,
(pranchas de comunicação e vocalizadores juntamente com ele, começar a construir os
portáteis), conforme descreve Reily (2004). cartões que constituirão a prancha. Depois
Prevê ainda estratégias e recursos de baixa da lista, ocorre o reconhecimento dos cartões
ou alta tecnologia que promovem acesso pelo aluno. Assim, o professor expõe dois
ao conteúdo pedagógico (livros digitais, cartões, escolhe um dos dois e solicita que o
softwares para leitura, livros com caracteres aluno aponte. A comunicação torna-se mais
ampliados) e facilitadores de escrita, no caso eficaz quando é estabelecida em contexto
de deficiência motora, com engrossadores de educacional naturalístico, em situações reais
lápis, órteses para digitação, computadores de interação e em atividades rotineiras.
com programas específicos e periféricos
(mouse, teclado, acionadores especiais). Quais os recursos disponíveis na
escola?
Uma pergunta norteadora: como
usar um sistema de comunicação Antes de iniciar o trabalho pedagógico
alternativa em sala de aula para devemos conhecer os recursos disponíveis na
alunos com paralisia cerebral? escola, desde as condições de acessibilidade
física, como rampas, banheiros adequados,
Inicialmente, é preciso avaliar as sinalizações; assim como os recursos que
potencialidades dos alunos para que possam auxiliam a mobilidade do aluno, como cadeiras
ser definidos os caminhos que garantam a de rodas e corrimões. Além disso, como
acessibilidade motora, como objetivo inicial bem enfatizam Sartoretto e Bersch (2010),
de estabelecer uma comunicação mínima devemos pensar nos materiais pedagógicos
entre professor e aluno e entre os alunos. adequados, como lápis e canetas ajustados à
Zaporoszenko e Alencar (2008) argumentam condição do aluno, alfabeto móvel, pranchas
que os alunos com necessidades de CAS com letras e palavras, computadores, teclados
apresentam níveis de competência linguística e mouses acessíveis, acionadores, órtese
diversificados. O sistema de CAS só pode de mão funcional para escrita e digitação,
ser implementado depois que o professor ponteiras de boca ou cabeça.
conhecer seu aluno, pois as pranchas sempre
serão construídas com a colaboração dos E se não houver esses recursos? Uma questão
usuários. Este é o primeiro passo. importante já mencionada é que alguns

caderno de educação especial 11


recursos podem ser elaborados pelo professor. e da escrita é conceitual e não mecânica
Dessa forma, não precisamos esperar que as (SARTORETTO; BERSCH, 2010). Muitas
tecnologias assistivas apareçam em nossas alternativas de adaptação podem ser
salas. Podemos confeccionar materiais construídas para promover acessibilidade ao
interessantes e acessíveis e compartilhar aluno.
com os nossos colegas, como as pranchas em
material emborrachado e jogos. As pranchas de letras são indicadas para o
aluno que escolhe, letra a letra, enquanto
Refletindo sobre o processo de um colega ou o professor registra a produção
alfabetização e letramento textual. De acordo com Sartoretto e Bersch
(2010), quando o aluno não consegue
No que se refere à apropriação do SEA apontar a letra, alguém faz uma varredura,
(Sistema de Escrita Alfabética) do aluno com apontando as letras, até que ele emita um
deficiência motora, o professor também não som, pisque o olho ou faça qualquer sinal
encontrará receitas prontas e precisa pensar previamente estabelecido entre os parceiros
em um currículo capaz de revolucionar a sua comunicativos2. Há muitas maneiras de se
práxis, atendendo às peculiares dos alunos. escrever: se não for possível manejar um lápis,
então, se propõe uso de outro instrumento,
a)É possível escrever com incoorde- como de letras em emborrachado ou em
nação manual e impedimentos de lo- madeira; teclado comum ou adaptado; ou
comoção? mesmo um escriba que anote letras indicadas
em uma prancha.
A criança com deficiência motora apresenta a
coordenação manual e a locomoção impedidas, b) Como fica o acesso à leitura?
não vivenciam o brincar de escrever que é
tão importante. As situações cotidianas de A leitura pode ser facilitada, pois o único
interação com a leitura e a escrita também impedimento refere-se a alterações de
precisarão ser garantidas para essas crianças movimentos e a utilização da CAS pode
cadeirantes ou que apresentem distúrbios ser suficiente para o sucesso na leitura. A
de coordenação manual. Dessa forma, se dificuldade de leitura pode se encontrar
a criança com deficiência não chega até o apenas no formato de apresentação do texto.
objeto escrito, o objeto vai precisar chegar até As pranchas podem ser construídas com
as suas mãos. O que fazer? objetivos diversos e distintos, como pranchas
de rotina, de contação de história, pranchas
Essa aprendizagem pode ser garantida, de escolhas, dentre outros conteúdos
sobretudo porque a aprendizagem da leitura curriculares, como as pranchas a seguir.

2 Sugerimos, para reflexão acerca da importância da comunicação alternativa, o filme “o escafandro e a borbo-
leta”, por abordar a história de uma pessoa que tem muitos impedimentos motores e que estabelece uma forma
de comunicação alternativa com o piscar de um único olho.

12 caderno de educação especial


Prancha em material Prancha da ferramenta
emborrachado Boardmaker extraída do
site www.clik.com.br .

c)É possível alfabetizar um aluno pictograma x palavra; (c) pictograma


com deficiência motora? Como? x sílaba; (d) palavra x palavra; (e)
suporte para exploração de textos; (f)
Os sistemas de CAS (Comunicação instrumentos para intepretação de texto;
Alternativa e Suplementar) podem (g) oferecer ao aluno um material para
ser um grande aliado na alfabetização encaixar as sílabas; (h) retirar estímulo
das crianças com deficiência que têm visual escrito e solicitar que escreva a
impedimentos comunicacionais, seja de palavra correspondente ao pictograma
ordem motora ou intelectual. Associado à apresentado. O software Boardmaker,
figura representativa da mensagem que se ferramenta de CAS do tipo PCS
quer passar, os sistemas são compostos de (símbolos de comunicação pictográfia),
palavras escritas. Além disso, os cartões disponibilizada pelo MEC para as salas
podem representar classes gramaticais de recursos multifuncionais das escolas
distintas, permitindo a formação de frases públicas, permite que se criem esses
simples e complexas. tipos de pareamento.

Zaporoszenko e Alencar (2008) fornecem Outra sugestão trazida pelas autoras é deixar
uma dica para a realização das atividades espaço no cartão pictográfico para que o
de alfabetização, com diferentes tipos de aluno possa inserir a escrita da imagem.
pareamentos dos cartões: (a) pictograma x Nesse espaço deverá ter velcro ou ímã
pictograma (somente com figuras); (b) para que as sílabas possam ser fixadas.

caderno de educação especial 13


Referências

REILY, Lúcia Helena. Escola Inclusiva: linguagem e mediação. Papirus


editora, 2004.

SARTORETTO, Mara Lúcia; BERSCH, Rita De Cássia Reckziegel. Educação


especial na perspectiva da educação inclusiva. Recursos pedagógicos
acessíveis e comunicação aumentativa e alternativa. Ministério da
Educação. Secretaria de Educação Especial. Universidade Federal do Ceará,
2010.

TELES, Liliane; NASCIMENTO, Yvone Portilho do. Atuação fonoaudiológica


na paralisia cerebral. Goiás, Editora UCG, 2003.

ZAPOROSZENKO, Ana; ALENCAR, Gizeli Aparecida Ribeiro de. Comunicação


Alternativa e paralisia cerebral: recursos didáticos e de expressão.
Caderno pedagógico. Série: Educação Especial. Secretaria de Estado da
Educação. Superintendência da Educação. Universidade Estadual de Maringá.
Programa de Desenvolvimento Educacional, 2008.

14 caderno de educação especial


3. Pensando a alfabetização da
pessoa com deficiência intelectual
Tícia Cassiany Ferro Cavalcante

3.1 - Introdução: bases da


discussão

A deficiência intelectual historicamente vem possível avaliar os alunos como menos ou


sendo considerada uma condição deletéria, mais inteligentes e rotulá-los como tal?
vista como fator que impossibilitava a
participação social e educacional da pessoa3. Carneiro (2007) menciona que os alunos
Hoje, com a política pública de inclusão com deficiência intelectual são os que
na rede regular de ensino, tem se mudado forçam a escola a reconhecer a inadequação
essa visão que segrega e subestima as de suas práticas para atender às diferenças
possibilidades de desenvolvimento da pessoa dos educandos. De fato, as práticas escolares
com deficiência intelectual . convencionais não dão conta de atender
às pessoas com deficiência intelectual, em
Prioste, Raiça e Machado (2006) todas as suas manifestações, assim como
argumentam que a educação da pessoa não são adequadas às diferentes maneiras
com deficiência tem sido um desafio para de os alunos, sem qualquer deficiência,
os educadores, provocados a reverem suas abordarem e entenderem um conhecimento
práticas homogeinizadoras e, por isso, de acordo com suas capacidades.
excludentes.
Padilha (2000) enfatiza que os
Há um estigma em relação aos fatores procedimentos de avaliação com base nos
relacionados à aprendizagem que está testes de QI negligenciam alguns aspectos
completamente atrelado à classificação do que marcam a história de vida da pessoa
grau de deficiência, como também à grande com deficiência, a qual não se resume
tradição dos testes de inteligência, que apenas às determinações biológicas4. Ela
favorecia os acima da média e segregava as defende ainda que as avaliações para medir
pessoas que estivessem abaixo da média. É a inteligência não consideram, na maioria

3 A partir de 2004, com a Declaração de Montreal, a deficiência de ordem cognitiva que era denominada de
Mental passou a ser chamada de Deficiência Intelectual.

4 Esse tipo de classificação imperou nos laudos psicológicos até a década de 1990, determinando o tipo de
programação educacional. Atualmente, os diagnósticos não mais se baseiam unicamente no QI (Quociente de
Inteligência), mas buscam uma visão social da pessoa, valorizando as potencialidades de cada um dentro da
comunidade em que vive.

caderno de educação especial 15


das vezes, a reconstrução da linguagem a)Percepção do professor
pelos sujeitos com impedimentos na
comunicação. Desconsidera-se, assim, a Vale destacar a importância do trabalho
elaboração (ou a reelaboração) do discurso e, articulado entre o professor da sala de aula
consequentemente, as esferas do simbólico. e o professor do atendimento educacional
especializado AEE, a fim de garantir
Não se pode mais categorizar o desempenho as condições necessárias ao ensino e à
escolar a partir de instrumentos e medidas aprendizagem das crianças com deficiência,
arbitrariamente estabelecidos pela escola. em classes comuns do ensino regular.
Para Carneiro (2006), é preciso levar em
conta a situação de deficiência, ou b) Apoio da família
seja, a condição que resulta da interação
entre as características da pessoa e as dos Se você, professor, perceber que a família
ambientes em que ela está provisoriamente está sendo negligente, a escola pode
ou constantemente inserida. Além disso, procurar apoio do conselho tutelar para
todos os alunos deveriam ser avaliados pelos que intervenha na família. Para Prioste,
progressos que alcançam nas diferentes áreas Raiça e Machado (2006), solicitar ajuda
do conhecimento e a partir de seus talentos ao conselho tutelar não significa assumir
e potencialidades, habilidades naturais e atitude provocativa ou de culpabilidade ante
construção de todo tipo de conhecimento. os pais, e, sim, proteger a criança que pode
estar em situação de risco. Vale ressaltar
Assim, a deficiência intelectual não é uma que antes de contatar o Conselho Tutelar, a
condição estática, nem um traço pessoal, escola deve procurar estabelecer parcerias
não podendo ser vista somente pelos produtivas com as famílias, a fim de acolher
impedimentos. Ela deve ser compreendida as dificuldades destas, ao evitar que os
dentro de uma abordagem ecológica que problemas se agravem, colaborando, assim,
considere o funcionamento da pessoa para a resolução proativa dos problemas.
na interação com o mundo em que vive, É importante que a escola também faça
observando as oportunidades e o apoio parceria com instituições que possam
recebidos ao longo da vida. O trabalho do oferecer serviços complementares na área de
professor deve priorizar o desenvolvimento saúde, assistência social, dentre outras.
intelectual e a autonomia dos seus
alunos com deficiência intelectual, não c) A criança com deficiência
enfatizando atividades mecânicas, e sim o intelectual é incapaz de aprender?
desenvolvimento das funções psicológicas
superiores com aprendizagens significativas, A pessoa com deficiência intelectual é capaz
conforme defende Vygotsky (1994; 1997). de aprender. Dessa forma, o professor não
Algumas questões do cotidiano escolar: deve considerar o laudo de deficiência

16 caderno de educação especial


intelectual como uma condição de estratégias utilizadas fazem uma diferença
incapacidade da aprendizagem, colocando a significativa na aprendizagem da criança,
culpa da não aprendizagem do seu aluno na que, às vezes, é pouco percebida em curto
deficiência dele. Você já parou para pensar prazo, mas certamente é fundamental ao
se as condições de aprendizagem do seu longo da vida da pessoa com deficiência.
aluno são favoráveis? Seu aluno está sendo Uma dica é o professor ter material didático
incluído nas atividades pedagógicas e no projetado para propiciar a participação
seu planejamento diário? Você conhece e autônoma do aluno com deficiência no seu
considera suas características individuais? percurso escolar.
Está avaliando adequadamente? Se esses
fatores não tiverem sendo respeitados, então d) Como estabelecer uma comunica-
seu aluno não vai aprender, mas não porque ção eficaz com o aluno com deficiên-
ele não tem condições, e sim porque seus cia intelectual?
direitos à aprendizagem estão sendo negados.
Em outros termos, você estará negando ao Existe uma diversidade de uso da linguagem
seu aluno a inclusão, restando-lhe apenas as oral pelas crianças com deficiência
condições de inserido no universo da sala intelectual. A educação infantil inclusiva
de aula, mas excluído dos processos que nela pode favorecer bastante o desenvolvimento
ocorrem, para que todos tenham garantidos da comunicação oral e a construção de
os direitos de aprendizagem. sentidos pelas crianças com impedimentos
cognitivos, pois a plasticidade neural
Ferreira, Ferreira e Oliveira (2010) relatam desempenha um papel imprescindível nesse
que muitos professores consideram que seus processo (SILVA; KLEIMAN, 2006), eles
alunos com síndrome de Down não podem estão em fase de desenvolvimento, quanto
aprender simplesmente porque não falam mais estímulos receberem do meio, maior
ou porque falam insuficientemente. A fala desenvolvimento haverá.
não é a única forma válida de comunicação.
Podemos usar de tecnologias assistivas, Apesar de variável, uma característica
como as ferramentas de CAS para facilitar importante é o uso demasiado de gestos e
a comunicação e a aprendizagem dessas vocalizações pelas crianças com deficiência
crianças, como já foi abordado no item intelectual. Vários pesquisadores
deficiência motora. Devemos atender mencionam que há um descompasso
às especificidades de cada pessoa e não entre a produção e a compreensão de
esquecer de que as atividades significativas linguagem oral (LIMONGI, 2004). Dessa
beneficiam todas as crianças. Assim, as forma, a compreensão da linguagem é mais
pessoas com deficiência de ordem cognitiva preservada quando comparada à produção/
podem ter acesso aos mesmos conteúdos das expressão.
crianças sem deficiência.
Prioste, Raiça e Machado (2006) mencionam Assim, o uso de CAS pode ser utilizado
que o desejo de ensinar do professor e as em detrimento dos gestos e vocalizações,

caderno de educação especial 17


podendo favorecer uma comunicação Em consonância com o trabalho realizado em
eficiente entre pares. Cavalcante (2011) sala de aula, com uma aluna com síndrome de
realizou um estudo com crianças com Down, com 7 anos de idade, matriculada em
síndrome de Down e observou que as uma turma do 1º ano do ensino fundamental,
mesmas utilizam mais gestos do que foram realizados alguns AEEs, com o uso de
verbalizações. Quando há verbalizações, elas materiais diversos. A atividade descrita é da
constituem-se de construções verticais, ou contação da história “Uma tartaruga a mil por
seja, frases compostas de um único elemento hora” com o uso de fantoches dos personagens
linguístico. A autora sugere que pode haver e colagem de figuras de animais, que como a
uma mudança no uso da comunicação oral tartaruga , começam com a letrinha T 5.
com o uso da CAS, levando os alunos a
mudarem sua comunicação: do uso de gestos
e construções verticais para construções
horizontais (frases simples e complexas).
Caso não haja o avanço na construção de
sentidos via linguagem oral, eles podem ser
construídos através de ferramentas de CAS.

e) As crianças com deficiência


intelectual podem se alfabetizar?
Qual o tempo necessário?

Assim como qualquer outra criança as com


deficiência intelectual podem se alfabetizar
junto com os seus pares de idade. Claro
que vão existir diferenças individuais Prancha em material emborrachado

quanto à apropriação do SEA, em todas as


crianças. Considerando as peculiaridades, as
crianças com deficiência intelectual devem
ser contempladas na prática pedagógica
planejada para a turma da qual faz parte.

Podemos criar pranchas que trabalhem


conteúdos escolares específicos, como o
exemplo do pequeno relato a seguir, dado
de um projeto de pesquisa em andamento
(Cavalcante, 2012):
5 A obra “Uma tartaruga a mil por hora” de Márcia Honora é uma obra que pode ser trabalhada com crianças
com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), pois relata a história de uma tartaruga hiperativa.

18 caderno de educação especial


Tais atividades com o uso de pranchas e outros materiais, como a elaborada acima, per-
mitem que as pessoas com deficiência intelectual se favoreçam da atividade, por lançar
mão de recursos visuais.

Um recurso interessante refere-se à escrita com símbolos. Existem no mercado alguns


softwares, a exemplo do comunicar com símbolos ou a ferramenta simbolar do
Boardmaker que pode apoiar a escrita, a leitura e o aumento do vocabulário dos alunos
com deficiência.

Prancha confeccionada com


a ferramenta simbolar do
Boardmaker.

caderno de educação especial 19


Referências

CARNEIRO, Moacir Alves. O acesso de alunos com deficiência às escolas


e classes comuns. Possibilidades e limitações. Petrópolis, RJ: Editora Vozes,
2007.

CAVALCANTE, T. C. F. Acessibilidade em indivíduos com impedimentos


comunicativos: contribuições para educação inclusiva. Pesquisa em
andamento. Recife, 2012.

FERREIRA, Diana Regina dos Santos Alves; FERREIRA, Wímory de Andrade;


OLIVEIRA, Marinalva Silva. Pensamento e linguagem em crianças com
síndrome de Down: um estudo de caso da concepção das professoras.
Ciências & Cognição, 15 (2), 216-227, 2010. Disponível em http://www.
cienciasecognicao.org/revista.

JUNKES, Amélia de Oliveira. Formação de professores e condições de


atuação em educação especial. Florianópolis: Insular, 2006.

LIMONGI, Suely Cecília Olliveira. Linguagem na Síndrome de Down. In:


Léslie Piccolotto FERREIRA; Debora Maria BEFI-LOPES; Suely Cecília Oliveira
LIMONGI (Orgs.). Tratado de Fonoaudiologia, pp. 954-966. São Paulo:
Editora Roca Ltda, 2004.

PADILHA, Anna Maria Lunardi. Práticas educativas: perspectivas que se abrem


para a educação especial. Educação & Sociedade, ano XXI, 71, 197-220, 2000.

SILVA, Maria de Fátima Minetto Caldeira; KLEINHANS, Andréia Cristina dos


Santos. Processos cognitivos e plasticidade cerebral na Síndrome de Down. Rev.
Brasileira de Educação Especial. Vol. 12, n. 1., 2006.

VYGOTSKY, Lev Semonovitch. A formação social da mente: o


desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo:
Martins Fontes, 1994.

VGOTSKY, Lev Semonovitch. Obras escogidas. Fundamentos de


defectología. Madrid: Visor, 1997. Visor,1997.

20 caderno de educação especial


4. Estratégias de ensino na alfabetiza-
ção da pessoa cega e com baixa visão
Ana Gabriela de Souza Seal

Em meio à história das pessoas com fundamental para enfrentamento de toda


deficiência no Brasil, é possível perceber e qualquer barreira, mas aparece como
a reprodução de preconceitos dos quais a uma aprendizagem primordial em prol
cegueira se destaca como uma incapacidade do desenvolvimento cognitivo e mesmo
que pode gerar falta de condições de promove a ampliação da atuação das
subsistência, ou mesmo impedindo a pessoas nas relações sociais mediadas
construção da vida autônoma e convivência pela escrita. Assim, torna-se relevante
harmônica com os demais. Os impedimentos passarmos a tecer considerações sobre o
enfrentados por elas, muitas vezes, são que configura a deficiência visual, bem
gerados pela falta de oportunidades, falta de como apresentar alguns apontamentos
estímulos ou de acesso aos bens sociais. O para atuação dos alfabetizadores de
acesso ao ensino escolarizado, em particular pessoas cegas e com baixa visão.
em redes regulares, aparece como uma das
portas de inserção social importante para Deficiência visual: perfis
essas pessoas, por meio da qual a garantia da sociais e diagnósticos no âmbito
alfabetização torna-se essencial. escolar

Nesse contexto, é necessário, portanto, A deficiência visual pode ser classificada de


compreender o que caracteriza a duas formas que agregam uma diversidade
deficiência visual para identificar as relevante de casos, a cegueira e a baixa
formas mais adequadas de estímulo visão. As pessoas com deficiência visual
aos alunos que a possuem, em prol de podem apresentá-la já com o nascimento
uma aprendizagem da alfabetização de ou podem vir a adquiri-la por motivos
forma significativa, vinculada às funções diversificados ao longo da vida. A cegueira
sociais cumpridas pela linguagem verbal é caracterizada pela ausência da visão,
em nosso cotidiano. Efetivamente, a enquanto a baixa visão é a diminuição
aprendizagem da linguagem escrita não da acuidade do campo visual. Mesmo
é garantia da mudança de compreensão nos casos de cegueira, não é possível
da sociedade acerca da deficiência visual, afirmar que as pessoas vivem em completa
nem mesmo se constitui como ponto escuridão, pois em muitas situações essas

caderno de educação especial 21


pessoas podem chegar a identificar áreas enquanto indivíduo, mas iguais às demais
de luminosidade, pontos de luz ou mesmo pessoas, enquanto capacidade produtiva
níveis de sombra (DOMINGUES, 2010). e relacional, com enorme potencial a ser
desenvolvido e com possibilidades de
Essa afirmativa contribui para derrubar as desenvolver vários trabalhos e serviços de
concepções prévias sobre as condições da que a sociedade precise, desde que lhes
cegueira pela sociedade em geral. De modo sejam oferecidas oportunidades e condições
imediato, passa-se a entender que não se trata necessárias.
de viver na escuridão, como se concebia. De
modo amplo, a deficiência visual não impede Mosquera (2010) indica que há algumas
a elaboração de percepções em outros níveis. possibilidades de medição da acuidade
É importante salientar também que se por um visual. O autor indica que em escolas
lado a deficiência visual não cerceia a atuação regulares se faz uso da Tabela de Snellen para
social das pessoas que a possuem, pois estas identificar os alunos com deficiência visual:
podem estabelecer outros tipos de relações
com o mundo que as cerca, por outro lado
não as dota de capacidades superespeciais
como creem algumas pessoas, como, por
exemplo, de uma extraordinária memória
(DOMINGUES, 2010). É preciso, portanto,
pensar nas possibilidades de acesso e
definição impressas pelo campo visual de
cada aluno em particular para elaborar
as situações de intervenção adequadas às
condições de aprendizagem colocadas.

Dessa forma, a pessoa com deficiência visual


não é menos desenvolvida que a vidente,
ela apenas estabelece relação com o mundo
que a cerca de forma diferente, pois se
utiliza, também, de meios e instrumentos
próprios para fazê-lo, tais como: habilidades
perceptivas táteis e sinestésicas; sistemas
simbólicos alternativos e recursos materiais
como a bengala; sistema de escrita braile;
materiais didáticos adaptados, como destaca
Silva (2006). Ela pode ser olhada e entendida
como pessoas diferentes, sim, enquanto
aparência, enquanto forma de comunicação,

22 caderno de educação especial


Tal tabela é fixada na parede a seis passos escolas: infraestrutura, mobiliário, bem
dados por um adulto ou a cinco metros de como sinais táteis e visuais para indicação
distância do aluno. O avaliador, que poderá dos locais que precisam ser implantados em
ser qualquer profissional da escola, deverá busca de facilitar a mobilidade e a autonomia
estar certo de que a medição será feita em da pessoa com deficiência visual na escola.
uma sala clara, de que a tabela esteja fixada Além disso, a perspectiva de inclusão das
na altura do rosto de quem será avaliado e de pessoas com deficiência visual nas escolas
que o avaliado compreendeu o que precisa regulares imprime a urgência da preparação
fazer [...] Um dos olhos da criança é vedado dos docentes em geral para a socialização
para que possamos investigar as vistas dos saberes acumulados historicamente e
isoladamente. O retorno do aluno ou o sinal instituídos como válidos à sistematização
que vai mostrar pode ser efetuado com os escolar, dentre eles o ler e escrever.
dedos da mão livre, indicando para o lado que
“as pernas da letra” apontam (MOSQUERA, No caso das crianças com deficiência visual, é
2010, p. 47 e 48) preciso refletir que essas não poderão contar
com o mesmo acesso visual aos objetos e
Esse procedimento pode colaborar com o ilustrações considerados atrativos utilizados
trabalho do professor alfabetizador à medida com as crianças videntes. Será preciso,
que os alunos identificados com deficiência portanto, pensar em outras situações de
visual são encaminhados aos especialistas motivação e atratividade para essas na
para que tenham acompanhamento médico- reflexão das instâncias do ler e escrever.
oftalmológico que pode vir a contribuir em
alguns casos. Além disso, torna-se possível “Nesse contexto, é importante compreender
ao docente prever estratégias de ensino o desenvolvimento da consciência da escrita
da linguagem acessíveis aos alunos com em crianças com cegueira, considerando
cegueira ou baixa visão. que elas não têm as mesmas possibilidades
de contato com a riqueza de material gráfico
Inclusão das pessoas com defici- emergente no universo da escola e da família.
ência visual na escola: propostas Além disso, a preponderância de recursos
em prol da aprendizagem da lei- pedagógicos referenciados na exploração e na
tura e escrita comunicação visual e a escassez de material
acessível acentuam significativamente esta
Pontue-se que é possível identificar defasagem” (DOMINGUES, 2010, p. 47).
iniciativas nas escolas das redes regulares
de ensino para atendimento da pessoa com Ao mesmo tempo, será necessário pensar na
deficiência visual em todo o Brasil, seja via familiarização dessas crianças desde cedo
intervenções específicas dos docentes ou com a escrita em braile, em prol da diferen-
materiais didáticos adequados. É necessário ciação dessa e das demais representações
atentar, contudo, às condições físicas dessas táteis que possam estar presentes em livros,

caderno de educação especial 23


embalagens ou outros suportes. Essa ação se É relevante pensar que é preciso inserir as
torna pertinente, sobretudo, para permitir crianças com deficiência visual em situações
o treino da sensibilidade tátil, necessária às em que a leitura e a escrita sejam utilizadas
pessoas com deficiência visual no que tan- de forma significativa e de preferência em
ge às ações da leitura e da escrita (DOMIN- situações reais, adequadas ao gênero textual
GUES, 2010). É preciso pensar também que e ao contexto de utilização. Se para as crianças
essa familiarização, se inserida via situações videntes as ilustrações passam a ser mais
planejadas que conduzam a criança ao reco- um atrativo, para as com deficiência visual
nhecimento de uma e de outra representação o uso de descrições ou objetos/situações
da escrita em braile pode levá-la a iniciar as que possam dar vida às situações da leitura
diferenciações entre registros que represen- e escrita precisa ser promovido. Portanto,
tem números, pontuações, letras e possíveis a utilização de outros instrumentos que
relações sonoras que possam ser estabeleci- provoquem a exploração dos demais sentidos
das. Entretanto, apenas apresentar a escrita em prol da aproximação dos alunos com a
em braile à criança ou fazê-las reconhecer o leitura e a escrita passa a ser primordial nas
registro de cada letra não garante a alfabeti- primeiras experiências das crianças com
zação. essas ações (DOMINGUES, 2010, p. 45).
A professora Nilma Gonçalves exemplifica
Da mesma forma que é preciso entender essa necessidade ao explorar os contos
que o processo de alfabetização de crianças infantis com crianças cegas e com baixa
que possuem a acuidade visual é pautado visão. A professora tece uma introdução
em construções conceituais a respeito da acerca das características e personagens dos
escrita, a alfabetização das crianças com contos por meio de uma roda de conversa
deficiência visual também precisa promover para, posteriormente, realizar outras
a aprendizagem de conceitos, em particular, intervenções:
da apropriação da escrita alfabética. Dentre
esses, é preciso destacar a necessidade de
compreensão dos princípios do sistema de
escrita alfabética e da análise fonológica
(MORAIS, ALBUQUERQUE, LEAL, 2005).

24 caderno de educação especial


Durante a roda é claramente notável que crianças com deficiência visual, como cegueira
congênita, não possuem determinados conceitos, por exemplo jardim, muro, torre, casa, e
outros desenhos apresentados; é necessário descrever esses conceitos e criar estratégias para
que elas possam construir essa representação. Outro grupo importante são as crianças com
baixa visão. Estas fazem a transitória pelas duas realidades, possuem determinados conceitos,
conseguem enxergar o que está próximo, mas, deparam-se com a realidade de não enxergar
quando partimos para o trabalho de leitura e escrita. Esse alunado merece uma atenção
especial, pois é, muitas vezes, tido como crianças tímidas, e é até mais difícil a aceitação da
deficiência, pois através do resíduo visual observa os colegas de sala e quer ler o mesmo livro
e o mesmo tamanho de letras. E ainda dentro da deficiência visual, outra realidade também
necessita de uma atenção a mais, são as crianças que apresentam perda visual recente, essas
chegam à escola com baixa estima porque dominam os conceitos apresentados, possuem
toda a orientação espacial e, quando falamos, elas constroem na memória aquilo que está
sendo apresentado [...] Em um outro momento, fizemos a apresentação das maquetes com os
principais elementos da história. Na maquete do jardim, colocamos diversos tipos de flores
com diferentes tamanhos e formas, juntamente com isso colocamos essência semelhante
ao perfume das flores. Foi também um momento onde nós utilizamos outro conteúdo.
Trabalhamos a percepção olfativa. Trouxemos também para nossa sala frutas diversas.

É possível perceber que o trabalho com escrita. Análise sobre o início e o fim das
a familiarização dos contos infantis para palavras, contagem de letras, ordem das
crianças com deficiência visual agrega a letras, semelhanças e diferenças sonoras
necessidade de ampliação de suas instâncias e gráficas, relações entre pauta sonora e
de atratividade e ludicidade. Percebido isso, registro escrito são instâncias de exploração
a docente tece outros percursos para inserir da escrita alfabética que a professora também
as crianças em momentos de deleite no realiza com seus estudantes.
contato com o texto escrito. Faz isso levando-
as a construir representações por meio Qual o papel da escola e da
das descrições, como também incentiva prática pedagógica?
a brincadeira e criatividade à medida que
promove o acesso ao conteúdo do texto Toda escola deve ofertar material didático
via outros sentidos, como o olfato, por acessível para os alunos cegos e com baixa
exemplo. Em paralelo, a exploração do texto visão, como regletes e punção (ferramentas
no processo de alfabetização de crianças para escrita em braile), soroban (ábaco para
exige, além das situações de apreciação e o ensino do sistema numérico), ferramentas
reflexão das instâncias de circulação dos de comunicação, com sintetizadores de voz
gêneros textuais, atividades mais específicas que possibilitam a leitura e a escritura pelo
de análise acerca do sistema alfabético de computador, lupas manuais, eletrônicas,

caderno de educação especial 25


plano inclinado, jogos com letras e palavras a fim de melhorar a sua condição de leitura,
em tipo ampliado, cores contrastantes e sua mas será preciso analisar as necessidades de
representação em braile. Além disso, no cada caso, como bem destaca Reily (2004).
AEE, o aluno cego deve receber o ensino do
braile, noções de orientação e mobilidade e Considerando as diferenças de visualização,
de atividades de vida autônoma e social. É não é possível padronizar um único material
preciso, contudo, lembrar que a utilização para todas as crianças. As necessidades
desses recursos não substitui o currículo e as de cada caso precisam ser consideradas
aulas regulares. individualmente. Existe um princípio geral:
o aluno com baixa visão não consegue utilizar
Os alunos cegos e com baixa visão devem material impresso comum. O texto fica mais
participar das mesmas atividades, tendo acessível quando é reproduzido eliminando-
assegurada condição de acessibilidade de se os excessos de detalhes e estímulos visuais,
acordo com a escolha do estudante. Assim, deixando a imagem e o texto mais limpos.
o professor pode áudio-descrever todas as
atividades e utilizar materiais concretos para Reily (2004) destaca que, às vezes, a
que eles manipulem. Esses materiais devem criança com deficiência visual movimenta a
ser o mais próximo possível do real, como cabeça de maneira pouco usual, mas é dessa
miniaturas com o nome em braile e materiais maneira que ela consegue enxergar. Mediada
táteis. pelo adulto, ela pode aprender a procurar
os detalhes relevantes, que lhe fornecerão
Para os alunos com baixa visão, alguns importantes dicas para identificação daquilo
cuidados podem ser tomados na sala de aula, que está diante de si.

26 caderno de educação especial


Referências

MOSQUERA, C. F. F.. Deficiência Visual na Escola Inclusiva. Curitiba:


IBPEX, 2010.

DOMINGUES, C. A.. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão


Escolar: os alunos com deficiência visual: baixa visão e cegueira.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, Universidade
Federal do Ceará, 2010.

MORAIS, A. G.; ALBUQUERQUE, E. B. C; LEAL, T. F. Alfabetização:


apropriação do sistema de escrita alfabético. Belo Horizonte: Autêntica,
2005.

REILY, Lúcia Helena. Escola Inclusiva: linguagem e mediação. Papirus


editora, 2004.

SILVA, L. G. S. Estratégias de ensino utilizadas, também, com um


aluno cego, em classe regular. In: MARTINS, L. A. R.; PIRES, J. G.N.L. PIRES
e F.R.L.V. MELO, (orgs.) Inclusão: compartilhando saberes.. 3.ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2008.

PIRES, G.N. L; MELO, F. R. L. V. (orgs.). Inclusão compartilhando saberes.


Petrópolis, RJ: editora Vozes, 2006.

caderno de educação especial 27


5. A alfabetização da pessoa surda:
desafios e possibilidades
Wilma Pastor de Andrade Sousa
Carlos Antonio Fontenele Mourão

Atualmente, o Brasil, signatário da educacional dessas crianças é mais complexo


Convenção sobre os Direitos das Pessoas do que levá-las a ser capaz de oralizar. Esse
com Deficiência (ONU/2006), formula e material busca, portanto, levar luz a questões
implementa políticas públicas intersetoriais, básicas que o educador enfrenta diante dos
com a finalidade de garantir que as pessoas desafios e possibilidades nesse contexto
surdas ou com deficiência auditiva6 tenham educativo.
acesso a todos os meios de comunicação e
expressão, em todas as etapas da vida. É importante lembrar que a surdez não está
associada à perda da capacidade cognitiva,
O processo de alfabetização da pessoa surda como se explica:
na língua portuguesa é considerado um
dos grandes desafios na educação desses “Portanto, os problemas tradicionais
sujeitos. Assim, entender as implicações da apontados como característicos da pessoa
surdez na alfabetização passa também pela surda são produzidos por condições sociais.
compreensão da importância da audição para Não há limitações cognitivas ou afetivas
alfabetizar em uma língua oral auditiva, cuja inerentes à surdez, tudo depende das
escrita alfabética é um sistema notacional. possibilidades oferecidas pelo grupo social
para seu desenvolvimento, em especial para
Em crianças ouvintes, a audição é o meio a consolidação da linguagem (GÖES, 1996,
primário para o desenvolvimento de uma p.38).”
língua oral. No caso de crianças surdas ou
com deficiência auditiva, certos recursos Nesse sentido, é necessário criar condições
de tecnologia assistiva, como aparelhos de para a aprendizagem, já que a falta de
amplificação sonora, sistema de frequência linguagem comum é o que dificulta esse
modulada e implante coclear auxiliam processo. Para isso, é garantido a você,
no processo de oralização, se estas forem educador, o apoio das salas de Atendimento
devidamente acompanhadas e corretamente Educacional Especializado (AEE), onde
estimuladas para esse fim. É preciso levar o plano de ação conjunta entre escola,
em conta, no entanto, que o processo família, estudantes e parceiros deve buscar

6 O Decreto 5.626/2005 considera pessoa surda aquele que, por ter perda auditiva, compreende e interage
com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Libras; e
considera deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total de 41 dB (perda moderada) ou mais.

28 caderno de educação especial


estratégias válidas para os casos que se pode prejudicá-lo, já que a reverberação ou
apresentam, partindo da avaliação das o barulho externo devem causar desconforto.
condições concretas dos indivíduos. Aconselhamos que o professor saiba manter
um diálogo entre as escolhas e necessidades
A propósito, como é que a criança surda dos alunos, atitude que se inicia pela
se alfabetiza? Qual é o ponto de partida observação e conhecimento prévio da vida
na alfabetização da criança surda? Que deles. É necessário conhecer quem são esses
atividades propor? Eu tenho um aluno sujeitos, quais as suas especificidades, pois
surdo, o que fazer? Primeiro, o professor há algumas pessoas surdas que falam e fazem
precisa saber que a pessoa surda percebe leitura labial muito bem; outras comunicam-
e compreende o mundo por meio da visão, se apenas por gestos ou mímicas; outras por
preponderantemente, mesmo que utilize língua de sinais e algumas usam sinais e
recursos para aquisição da língua oral. Esse oralização em situações diferentes – são os
pressuposto vai nortear as atividades no surdos bilíngues. Por trás de cada um desses
sentido de que sejam explorados os recursos contextos, há um histórico sociocultural
visuais. No entanto, as imagens precisam ter que precisa ser levantado para que se tenha
significado, não se trata apenas de usá-las a clareza do ponto de partida e do percurso
como ornato, deve-se sondar o que e como educacional adequado à característica
foi compreendido por esse público. Quando desses sujeitos. Assim, apresentaremos a
necessário, abrir-se a uma nova explicação, seguir dicas que devem ser observadas na
usando outras perspectivas, acompanhando comunicação com pessoas surdas ou com
a apreensão do mundo a partir do que deficiência auditiva:
visualmente se apresenta.
1. A comunicação é um direito e, portanto,
Outro questionamento comum é: Onde o a pessoa com perda auditiva precisa ser
aluno surdo deve se sentar? A princípio, respondida em suas perguntas e encontrar
em qualquer lugar, ele deve ter esse no contexto socioeducativo as condições de
direito preservado, como todos os outros, interagir com todos; isso é imprescindível
a fim de que se mantenham vivos os para o seu desenvolvimento;
princípios de autonomia, independência e
equidade entre todos os alunos. É preciso, 2. Procure reconhecer as tentativas de
entretanto, levar em conta que, no caso comunicação. As respostas devem ser
da pessoa surda, é importante que ela dadas de modo condizente ao que o
visualize confortavelmente seu interlocutor contexto pede, utilizando o canal mais
(professor, intérprete, professor- adequado entre os interlocutores. Para tal
intérprete). Quanto a isso, ajuda-nos fim, em contexto adequado, é bem-vindo
também saber que, se o aluno for usuário de fazer uso de um sorriso, palavras escritas,
aparelho auditivo ou de implante coclear, concordância com o meneio de cabeça, de
sentar junto a paredes, portas ou janelas gestos, sinais ou de aproximações;

caderno de educação especial 29


3. Não se refira a essas pessoas como surdos- • É muito importante para crianças surdas o
mudos, pois o fato de eles poderem falar convívio com surdos adultos usuários da
e também por fazerem uso de uma língua Libras e com ambiente onde esse idioma
de sinais esvazia o sentido dessa expressão seja utilizado;
considerada discriminatória;
• É muito importante que a Libras seja
4. Se precisar chamar uma pessoa surda que inserida no convívio escolar para todos,
está de costas para você, toque no braço principalmente entre os colegas ouvintes
dela levemente; caso esteja distante, daquela criança surda;
quando possível e necessário, faça uma
vibração no chão com uma pisada mais • A criança surda que não conhece Libras
forte ou com a ajuda de um objeto. deve ser levada a conhecer e a praticar esse
idioma;
5. Evite puxar, cutucar, agarrar ou segurar
pelo queixo para conseguir a atenção de • O planejamento das aulas deve levar
uma pessoa surda. em conta que, de um modo geral, se
organizado, primeiramente levando em
Quando no contexto comunicativo for conta as necessidades da criança surda,
necessário fazer uso de linguagem oral, pode-se atingir melhor a todos os outros
orientamos que você: a) fale de frente, de alunos.
forma clara e pausada, mas sem artificializar
a articulação (com exagero ou sem De acordo com o Decreto nº 5.626/05,
movimentos musculares); b) fale sempre em a pessoa surda tem direito ao ensino da
ambiente claro e com boa visibilidade; c) use Libras e também da Língua Portuguesa
expressões faciais correspondentes às ações; como segunda língua, desde a educação
d) use frases curtas e simples; e) reforce infantil. No Art. 22, § 1o desse documento,
o conteúdo da fala com recursos visuais por exemplo, são denominadas escolas ou
(gestos, figuras e ou escrita). classes de educação bilíngue aquelas em que
a Libras e a modalidade escrita da Língua
No contexto em que a educação se dá por Portuguesa sejam línguas de instrução
meio da Libras, há alguns aspectos a serem utilizadas no desenvolvimento de todo o
considerados, tais como: processo educativo. Todavia, a educação

30 caderno de educação especial


bilíngue não se resume apenas ao uso de duas escrita, lembrando ainda que o ensino de
línguas, implica, também, incluir adultos língua portuguesa na sua modalidade oral
surdos fluentes em Libras no quadro de deve ser uma oferta obrigatória na educação
profissionais. Segundo Quadros e Schmiedt básica, resguardando o direito de opção da
(2006, p.19), “a educação bilíngue depende família e do aluno8.
da presença de professores bilíngues”.
Depende também de intérpretes de Libras Nessa direção, pensar a alfabetização da
e de outras medidas que garantam não pessoa surda requer pensar em possibilitar
apenas a implantação dessa política, mas, o acesso à construção do conhecimento
sobretudo, a sua efetivação. Outra questão por meio da língua de sinais, e para isso
que pode surgir é: o que significa L2 7 no são necessários professores fluentes na
contexto da alfabetização do surdo? Significa Libras. Requerendo também o ensino da LP
considerar que esse sujeito vai aprender a ler embasado no aprendizado de uma segunda
e a escrever uma língua que ele não fala ou língua, onde os sujeitos estão ou estarão
fala com menor fluência. vivendo o processo de interferência entre
idiomas de convivência, fenômeno que
Outro aspecto a ser considerado na chamamos de “interlíngua”, momento onde
comparação entre os dois idiomas é quanto à é fundamental haver a ação orientadora do
modalidade: o Português é uma língua oral- educador. Para isso, o professor deve levar
auditiva e a Libras é visual-espacial, como em consideração alguns aspectos, tais como:
toda língua de sinais. Isso implica dizer que a a) a surdez ou a deficiência auditiva não é um
criança, para adquiri-la, precisa ter o contato impedimento para que o surdo se alfabetize;
com um usuário. Entretanto, a maioria das b) a LP deve ser ensinada ao surdo por meio
crianças surdas são filhas de pais ouvintes de metodologia própria para o ensino de L2,
que, via de regra, não sabem a língua de sinais, fazendo uso de recursos visuais e de unidades
logo, é na escola que elas vão adquirir a língua com significados, por exemplo, palavras
de sinais (L1), isso quer dizer que poderá inteiras para que a criança encontre uma
chegar à escola sem uma língua estruturada. correspondência com algo que já conhece o
Como é, então, que ela vai aprender a L2 sentido na L19. Portanto, partir da língua de
se ainda não tem a L1? É nesse sentido que sinais se apresenta como uma possibilidade
o professor questiona: Qual é o ponto de na alfabetização da pessoa surda, não apenas
partida na alfabetização da criança surda? O por propiciar o conhecimento de mundo, mas
ponto de partida é esse sujeito ter uma língua também por promover o desenvolvimento de
que lhe sirva de arcabouço para pensar, habilidades metacognitivas e a construção
hipotetizar, por isso devemos começar pela do conhecimento, à medida que possibilita o
língua de sinais, para chegarmos ao ensino domínio linguístico e a comunicação fluente
de língua portuguesa na sua modalidade entre os seus utentes.

7 Segunda língua
8 Decreto 5.626/05, Art. 16.
9 Língua majoritária do indivíduo

caderno de educação especial 31


Referências

BRASIL. Presidência da República. Lei de Libras. Lei nº 10.436, de 24 de


abril de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivi_03/leis/2002.
Acesso em: 21 de junho, às 15h40min.

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004. Acesso em: 21 de junho de 2012, às
15h40min.

GÓES, Maria Cecília Rafael. Linguagem, surdez e educação. Campinas: Autores


Associados, 1996.

QUADROS, Ronice Müller de; SCHMIEDT, Magali L. P. Ideias para ensinar


português para alunos surdos. Brasília, MEC/SEESP, 2006.

SKLIAR, Carlos. A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora


Mediação, 1998.

WILCOX, Sherman; WILCOX, Phyllis Perrin. Aprender a ver. (Trad.) LEITE,


Tarcísio de Arantes. Rio de Janeiro: Arara Azul, 2005.

32 caderno de educação especial


6. O Atendimento Educacional
Especializado nas Salas de Recursos
Multifuncionais
Rafaella Asfora

Inicialmente, antes de introduzirmos os povos indígenas, mulheres, pessoas com


a temática, é importante situarmos deficiência, etc.
historicamente como as pessoas com
deficiência passam a usufruir de direitos, Nessa direção o movimento de pessoas com
dentre eles o direito à aprendizagem com deficiência ganha força política e social e novas
igualdade de condições de acesso aos discussões e debates surgem, na sociedade
conteúdos curriculares e ao conhecimento em civil e nos grupos políticos, passando a
geral, em classes comuns do ensino regular, orientar a legislação e consequentemente a
tendo assegurada a oferta do atendimento elaboração de novas políticas públicas.
educacional especializado - AEE, em salas
de recursos multifuncionais. Tanto o acesso As pessoas com deficiência se reposicionam
à escolarização em escolas comuns, quanto socialmente a partir da tomada de consciência,
o AEE, configuram-se como um direito do dessa minoria política, enquanto sujeitos
estudante com deficiência. de direitos. Para Figueira (2008) “Se até
aqui a pessoa com deficiência caminhou em
Historicamente a afirmação de direitos silêncio, excluída ou segregada em entidades,
culminada na Revolução Francesa (1789) a partir de 1981 – Ano Internacional da
contrapunha-se à falta da perspectiva de Pessoa Deficiente – , tomando consciência
igualdade existente no modo de produção de si, passou a se organizar politicamente”
feudal, mas ainda era restrita à lógica (FIGUEIRA, 2008, p. 115).
dominante dos direitos necessários para
o desenvolvimento da classe burguesa. Passados 25 anos, o movimento atinge o seu
Avançando na história, a Declaração ápice com a Convenção sobre os Direitos
Universal dos Direitos Humanos (1948) surge da Pessoa com Deficiência (Nova Iorque,
como um marco que amplia a visão de direitos 2006), aprovada pela ONU (Organização
universais apontando mais claramente os das Nações Unidas) (2007) e ratificada
sujeitos de direito dessa declaração. Os pelo Brasil (2008), que assegura a essas
direitos humanos passam a ter um caráter pessoas o princípio da dignidade humana,
cada vez mais universal incorporando as anteriormente reafirmado na Declaração
inúmeras particularidades existentes, tais Universal dos Direitos Humanos (1948). Essa
como o direito das minorias políticas, como convenção vem, então, a reafirmar

caderno de educação especial 33


“A universalidade, a indivisibilidade, a nortear as ações do governo, materializadas
interdependência e a inter-relação de na forma de políticas públicas. Dessa forma,
todos os direitos humanos e liberdades o Ministério da Educação elabora a Política
fundamentais, bem como a necessidade de de Educação Especial na Perspectiva de
garantir que todas as pessoas com deficiência uma Educação Inclusiva (2008) com o
os exerçam plenamente, sem discriminação“ objetivo de assegurar a inclusão de alunos
(Art. 24, pág. 14). com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/
Dentre esses direitos está o direito à superdotação, orientando os sistemas de
educação, à aprendizagem, em um sistema ensino, dentre outras ações, a garantir: a)
educacional inclusivo, que inclua as Atendimento Educacional Especializado;
crianças com deficiência e promova o seu b) o desenvolvimento profissional e a
desenvolvimento, dando-lhes oportunidades participação da comunidade escolar; c)
de aprendizagem por meio de recursos e utilização de recursos de acessibilidade; d)
serviços que ajudem a eliminar barreiras articulação de políticas públicas.
à aprendizagem, como por exemplo, a
comunicacional e a pedagógica. Nesse cenário, o que mudou, então? Se
antes, as políticas de educação especial
A Convenção de Nova Iorque (2006) se favoreciam a segregação de pessoas com
sustenta nos princípios do paradigma da deficiência em classes e escolas especiais,
inclusão, ao defender: a não discriminação, por estas não avançarem na educação, a
o respeito pela diferença e pela aceitação partir de 2008, com a Política de Educação
das pessoas com deficiência como parte Especial na Perspectiva de uma Educação
da diversidade humana, acessibilidade e Inclusiva, a educação especial, a luz de
igualdade de oportunidades. Além disso, deve uma nova perspectiva, é entendida como
assegurar que as pessoas com deficiência uma modalidade transversal de educação,
recebam apoio no sistema regular de ensino perpassando todos os níveis, etapas e
favorecendo o seu desenvolvimento, uma modalidades, e atua complementando e
vez que parte das barreiras à educação suplementando o ensino regular, por meio
está posta pelo ambiente escolar e é de de atendimento educacional especializado –
responsabilidade social. AEE.

Ao ser signatário da presente Convenção,


o Estado brasileiro assume o compromisso
de elaborar diretrizes, princípios que irão

34 caderno de educação especial


Atendimento Educacional Especializado: Definição, público-
-alvo e caracterização

As Salas de Recursos Multifuncionais (SRMF) foram instituídas pelo Programa de Implantação


de Salas de Recursos Multifuncionais, via Portaria nº 13, de 24 de abril de 2007. Localizada
nas escolas de educação básica das redes públicas de ensino, é o lócus, espaço físico, onde se
realiza, prioritariamente, o atendimento educacional especializado (AEE) que “[...] identifica,
elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para
a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas” (SEESP/MEC,
2008).

De acordo com o §1º do artigo 1º do Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, considera-


se público-alvo da educação especial as pessoas com deficiência, com transtornos globais do
desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação.

No caso dos estudantes surdos e com deficiência auditiva serão observadas as diretrizes e
princípios dispostos no Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
Ainda com relação a esse decreto 7.611/2011, artigo 3º, são objetivos do atendimento
educacional especializado:

I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir ser-


viços de apoio especializados de acordo com as necessidades individuais dos estudantes;
II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular;
III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as bar-
reiras no processo de ensino e aprendizagem;
IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modali-
dades de ensino.

Com o objetivo de dar suporte às escolas públicas na inclusão de crianças com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, estas salas
foram criadas. Buscou-se atender às demandas das crianças com deficiência em igualdade
de condições com os demais alunos do ensino regular. Para que as SRMF se efetivem
cabe ao gestor municipal, estadual ou federal, a garantia do profissional especializado e
a disponibilidade de um espaço físico para a sua instalação e funcionamento.

caderno de educação especial 35


A partir da demanda do atendimento atitudinais e favorecendo a aprendizagem
educacional especializado, ou seja, de e desenvolvimento desses alunos.
alunos público alvo da educação especial,
matriculados em classe comum, a Sobre o atendimento das salas de
escola regular deve dispor de Salas de recursos multifuncionais, é importante
Recursos Multifuncionais do tipo I ou caracterizar o tipo de atendimento. As
II. As salas do tipo I são constituídas de atividades desenvolvidas no atendimento
“microcomputadores, monitores, fones de educacional especializado diferenciam-
ouvido e microfones, scanner, impressora se daquelas realizadas na sala de aula
laser, teclado e colmeia, mouse e acionador comum, não sendo substitutivas à
de pressão, laptop, materiais e jogos escolarização, com foco pedagógico e não
pedagógicos acessíveis, software para clínico. É importante lembrar que não
comunicação aumentativa e alternativa, deve ser confundido com sala de reforço,
lupas manuais e lupa eletrônica, plano e sim como um ensino complementar.
inclinado, mesas, cadeiras, armário” Deve ser realizado no turno inverso ao
(Brasil, 2010). Já as salas do tipo II, da classe comum, na própria escola ou
além dos recursos da sala do tipo I, têm: centro especializado, que realize esse
impressora braile, reglete de mesa, atendimento educacional, a fim de que o
punção soroban, globo terrestre acessível, aluno não deixe de ter acesso aos conteúdos
software para produção de desenhos curriculares e conviver com os seus pares.
gráficos e táteis, dentre outros específicos
para o atendimento de alunos cegos. Cabe ao professor, elaborar, executar
e avaliar um plano de atendimento
Quanto aos profissionais envolvidos educacional especializado para o aluno;
no AEE, um aspecto relevante é que os definir cronograma e atividades dos alunos,
professores tenham formação que lhes respeitando seus interesses, organizar
possibilite essa atuação específica, além as estratégias pedagógicas e elaborar e
da articulação desses professores da utilizar recursos acessíveis, como pode ser
educação especial com os professores do observado no relato da professora Evanice
ensino regular. Além disso, é fundamental Lemos na sala de recurso multifuncional
a participação das famílias, recebendo da Escola Dom Hélder Câmara.
orientações e trocando experiências,
bem como o diálogo com os demais “A atividade foi desenvolvida com uma
serviços públicos de saúde, assistência, aluna de seis anos que cursa o 1º ano,
entre outros. Por fim, ressalta-se que a possui estrabismo e apresenta indícios
relação entre professor da sala regular de deficiência intelectual que está sendo
e o professor de SRMF deve ser de um investigada por uma neuropediatra.
trabalho harmonioso, em parceria, Apesar de ser uma menina muito atenta
buscando a eliminação de barreiras às situações que acontecem ao seu redor

36 caderno de educação especial


demonstra sérias dificuldades cognitivas por meio de um alfabeto emborrachado,
em relação à compreensão de conteúdos. o que através da mediação da professora
Dessa forma, a atividade foi pensada para possibilita o desenvolvimento da
ser trabalhada a sequência das letras do autonomia na construção de seu
alfabeto, o nome e o reconhecimento conhecimento, uma vez que é comum
dessas letras. Desenhamos uma trilha no a criança com deficiência intelectual
chão da sala com giz, com a participação manifestar dependência da resposta do
da estudante, além de confeccionarmos outro quando diante de uma situação
fichas grandes com as letras do alfabeto em problema.
impressão maiúscula para serem colocados
na trilha de acordo com a sua sequência Possibilidades de Atendi-
correta. À medida que a atividade se mento nas Salas de Recursos
desenvolvia falávamos o nome da letra e Multifuncionais
quando as letras eram colocadas na trilha
na sequência errada perguntávamos se era Quanto às crianças com idade de zero a
ali mesmo o local correto e repetíamos a três anos, o AEE se efetiva por meio de
sequência do alfabeto desde o começo. serviços de estimulação precoce, os quais
Quando ela não conseguia identificar o têm como objetivo otimizar o processo
erro, reforçávamos que continuasse que de desenvolvimento e aprendizagem em
ao final ela iria corrigir. Após o término, consonância com outros serviços públicos.
colocamos um alfabeto emborrachado no Avançando no processo de desenvolvimento
chão e solicitamos que ela mesma fizesse e potencializando a sua aprendizagem, para
a correção, para que pudesse confrontar os alunos com deficiência visual, surdez,
seus erros e acertos.” deficiência física, intelectual e motora
descreveremos abaixo algumas atividades
Na atividade acima descrita, de desenvolvidas nesses espaços.
apropriação do sistema de escrita
alfabética, a professora propõe uma Alunos com Cegueira
atividade e pede que a aluna expresse • Ensinar o Sistema braile.
oralmente, o conhecimento do nome das
• Realizar atividades de Orientação e
letras e a sequência das letras do alfabeto, Mobilidade.
já que a capacidade de operar no
• Ensinar Atividades de Vida Diária (AVD).
nível das representações mentais
constitui uma fragilidade para o • Transcrever materiais do braile para
tinta e vice versa.
aluno com deficiência intelectual,
e a oralidade pode possibilitar o • Fazer adequação de materiais didático-
pedagógico em parceria com o CAPs
desenvolvimento dessa capacidade (Centros de Atendimento Pedagógico
(BRASIL, 2010). Além disso, é solicitado para Deficientes Visuais).
que a aluna confronte seus erros e acertos

caderno de educação especial 37


Alunos com Baixa Visão
• Ensinar a usar os recursos ópticos e não ópticos.
• Estimular o resíduo visual com o uso de materiais que tenham cores fortes e contratantes.
• Ampliação de fontes.
• Produção de materiais com contraste visual.
• Produção de materiais didático-pedagógicos adequados ao tipo visão.

Alunos Surdos
• Ensinar a Libras.
• Coordenar oficinas de Libras.
• Promover o aprendizado da língua portuguesa na modalidade escrita.
• Encaminhar para os serviços de fonoaudiologia os que optarem pela oralização.
• Estabelecer parceria com o CAS.
• Adequar materiais didático-pedagógicos que promovam experiências visuais de ensino.

Alunos com Deficiência Física


• Adequar materiais didático-pedagógicos.
• Adequar recursos de informática.
• Adequar o mobiliário.
• Providenciar recursos de auxílio da AVD e recursos de mobilidade.
• Desenvolver projetos em parceria com profissionais da arquitetura, terapia ocupacional,
fonoaudiologia, engenharia, dentre outros.

Alunos com Deficiência Intelectual


• Promover atividades em que o aluno seja sujeito ativo do conhecimento e que resgate a
autonomia.
• Ensinar A.V.D.
• Possibilitar o desenvolvimento da criatividade.

Em todas as etapas e modalidades da educação básica, o AEE é organizado para apoiar


o desenvolvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino.
Tanto o professor da sala comum, o professor da sala de recursos, o gestor e toda a equipe
escolar, juntamente com a família, devem estar atentos para que a sala de recurso não
seja um mecanismo de exclusão, de um atendimento segregado, que minimize o poten-
cial de aprendizagem dos alunos, mas que a escola cumpra a sua função social de valori-
zar e respeitar a diferença, como parte da diversidade humana, garantindo o direito de
aprendizagem de cada criança.

38 caderno de educação especial


Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Política


Nacional de Educação Especial, na perspectiva da Educação
Inclusiva. Brasília:MEC/SEESP, 2008.

FIGUEIRA, Emílio. Caminhando em Silêncio – Uma introdução à


trajetória das pessoas com deficiência na História do Brasil. Giz
editorial, 2008.

BRASIL. Ministério da Educação Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011.


Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/
Decreto/D7611.htm#art11. Acesso em: 19 de outubro de 2012, às 20h38min.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção sobre os Direitos das


Pessoas com Deficiência, 2006.

caderno de educação especial 39


AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: APROXIMAÇÕES E
DISTANCIAMENTOS
Ivan Vale de Sousa1

Categoria: Comunicação oral

Eixo Temático/Área de Conhecimento: Políticas públicas e direitos da pessoa com


deficiência.

RESUMO: Avaliar na Educação Inclusiva demanda um olhar humanizador às


práticas de ensino-aprendizagem e direcionado a todos os sujeitos. Nesse sentido,
são objetivos deste trabalho: discutir o processo de avaliação à luz do
desenvolvimento de habilidades na inclusão escolar; destacar a relevância das
adaptações curriculares na aprendizagem dos inclusos; correlacionar a flexibilidade
do planejamento com a elaboração do documento Parecer, de modo que atenda às
necessidades dos alunos; refletir e promover um projeto individual e coletivo de
avaliação acessível na atuação docente com os sujeitos atendidos. As reflexões,
aqui, enaltecidas partem de um estudo de revisão da literatura específica e
contribuem com as inquietações no processo avaliativo escolar à luz da inclusão.

Palavras-chave: Educação Inclusiva. Adaptações curriculares. Avaliação acessível.

1. INTRODUÇÃO

A gênese da Educação Inclusiva no contexto escolar é efetivada quando


todos os sujeitos têm suas necessidades educacionais enxergadas e atendidas. O
que hoje conhecemos como “educação inclusiva” tem sua corrente epistêmico-
ideológica na Educação Especial e, nesse sentido, a prática inclusiva não é
destinada, unicamente, às pessoas com necessidades educativas especiais, mas, a
todos os sujeitos que estão inseridos nas propostas pedagógicas acessíveis.

1Mestre em Letras pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Professor de Língua
Portuguesa na E.M.E.F. Novo Horizonte, em Parauapebas - PA. E-mail:
ivan.valle.de.sousa@gmail.com.
Entretanto, a Educação Inclusiva não pode ser entendida como uma questão
de modismo, porém, como proposta efetivada na promoção dos direitos éticos. Aos
propositores das práticas socioeducativas e das estratégias de produção do saber,
competem possibilitar a participação do aluno com necessidades educacionais
especiais no campo científico do conhecimento. De todas as intervenções
metodológicas, as que se mostram urgentes são as formas de avaliação no contexto
inclusivo, que carecem de ser repensadas a partir de sua realização; é preciso rever
conceitos, readequar e construir outros à luz da averiguação das aprendizagens
acessíveis. Avaliar, nessa concepção, pressupõe possibilitar as condicionantes que
aproximem os sujeitos das metodologias de formulação do conhecimento.
As reflexões, aqui, ponderadas são, metodologicamente, de revisão da
literatura especializada e estão organizadas em dois tópicos discursivos. No
primeiro, a avaliação é focalizada no contexto da escola regular e, no segundo, as
reflexões são direcionadas ao processo avaliativo à luz da Educação Inclusiva,
perpassando pelas finalidades discursivas da avaliação escolar. Para isso, parte-se
do propósito relevante de destacar as adaptações curriculares como indicadores de
aprendizagem, mediante a flexibilidade no planejamento e na função do Parecer do
aluno como acompanhamento individual de suas carências, colocando a avaliação
como processo reflexivo e prático da avaliação na escola com todos e para todos.

2. OS MÚLTIPLOS OLHARES NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ESCOLAR

Avaliar é uma ação que se realiza em todo e qualquer processo de ensino-


aprendizagem e, nesse sentido, os olhares destinados à provocação avaliativa
devem partir de uma multiplicidade de concepções, já que por meio da arte de
avaliar é possível verificarmos as nossas atitudes diante do outro que carece de
nossas intervenções. Quando direcionamos nossos olhares para o processo
avaliativo temos a chance de rever metodologias e adequá-las às necessidades dos
sujeitos em situação de ensino.

IV CONGRESSO PARAENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL


18 a 20 de outubro de 2017 – UNIFESSPA/Marabá-PA
ISSN 2526-3579
A escola é, por natureza, a instituição que mais trabalha na concepção
avaliativa. Por exemplo, avaliamos os alunos na leitura, nas produções escritas, nos
textos de verificação das aprendizagens, na oralidade, na organização do material
didático e nas atitudes éticas e cidadãs. É também no contexto escolar que a
avaliação assume (ou deveria) seu caráter sistematizador e flexível na produção dos
múltiplos saberes.
Transitar entre as inquietações das propostas avaliativas na escola é
entender que não há apenas uma única e aceitável maneira de avaliar, como
também não existe somente uma modalização em que as aprendizagens se
efetivam. Entretanto, avaliar um grupo heterogêneo e dinâmico de sujeitos em
situação de aprendizagem não é uma tarefa fácil; avaliar é um processo contínuo e
transformador, assim como são as fontes de produção de conhecimentos.
Toda ação avaliativa está repleta de significados, bem como das
concepções que o professor tem dessa árdua e necessária função. Avaliar na escola
não é uma proposta construída no plano vago dos argumentos, antes, fundamenta-
se em um projeto caracterizado político e pedagogicamente capaz de adequar-se às
significativas necessidades dos sujeitos. Quase sempre, temos utilizado as mesmas
metodologias para avaliar um vasto grupo de estudantes e por, muitas vezes, os
resultados não são demonstrados, conforme os esperados pelo professor.
A avaliação deve se caracterizar como um instrumento capaz de
estabelecer as condições de aprendizagem do aluno e sua relação com o
ensino. Seus procedimentos devem permitir uma análise do desempenho
pedagógico, oferecendo subsídios para o planejamento e a aplicação de
novas estratégias de ensino que permitam alcançar o objetivo determinado
pelo professor em cada conteúdo específico. (OLIVEIRA; CAMPOS, 2005,
p. 53)

Avaliar não é um processo de penalização do estudante, como também não


se fortalece na retenção dos conteúdos. Avaliar é entender como as práticas de
ensino se realizam, para que a partir delas, o professor, principal agente na
promoção do conhecimento, repense estratégias e tome decisões capazes de
possibilitar a aprendizagem de todos os sujeitos, o que não omite também a

IV CONGRESSO PARAENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL


18 a 20 de outubro de 2017 – UNIFESSPA/Marabá-PA
ISSN 2526-3579
necessidade de readequação das estratégias, das abordagens e das habilidades
que se queiram atribuir ao processo de ensino.
As concepções relacionadas ao ato de avaliar partem da dinamicidade
promovida entre professor e aluno, isto é, a avaliação dinâmica, o que não pode ser
entendido, aqui, como um processo de maquiagem dos verdadeiros resultados que
determinadas turmas apresentam, porque é a partir dessas implicações que a
proposta avaliativa se adequa aos saberes dinâmicos e múltiplos encontrados no
contexto da sala de aula.
Refletir a funcionalidade da avaliação na escola é, ao mesmo tempo,
repensar como esse instrumento tem sido utilizado e visto na cotidianidade das
práticas de ensino. A partir desse olhar, é necessário compreender, de fato, que são
os currículos que se adequam às necessidades dos sujeitos e não estes se
moldarem à efetivação daqueles. Além disso, é preciso, ainda, trabalhar com o
conceito de avaliação em uma proposta multifacetada em que não se tenha apenas
a preocupação de preparar os alunos para se saírem bem nos exames e seletivos,
mas, principalmente, instrumentalizá-los de modo que se tornem proficientes e
autônomos na formulação, na averiguação e na seleção dos saberes que lhes são
pertinentes.
As situações-problema que direcionam o trabalho à luz da avaliação escolar
são entendidas como inquietações no momento de elaboração do planejamento
docente. A função reflexiva deste trabalho não se justifica em encontrar culpados ou
inocentes no processo avaliativo educacional, porém, trazer para o centro do debate
as nossas convicções de como utilizar, de maneira dialógica e adaptável, as nossas
intervenções no que se refere à arte de aprender. Assim, parte-se do seguinte
questionamento: o que deve ser enfocado na ação avaliativa na escola?
[...] o processo avaliativo deve focalizar: o contexto da aula (metodologias,
procedimentos didáticos, atuação do professor, relações interpessoais,
individualização do ensino, condições físico-ambientais, flexibilidade
curricular, etc.); o contexto escolar (projeto pedagógico, funcionamento da
equipe docente e técnica, currículo, clima organizacional, gestão, etc.).
(BRASIL, 1999, p. 57)

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É, pois, em uma concepção de valorização dos diferentes contextos sociais
que a avaliação precisa ser concebida, de modo que permita ao professor utilizar
outros métodos para a averiguação das aprendizagens. As finalidades que são
destinadas para a produção de um trabalho escrito diferem qualitativamente de uma
proposta avaliativa oral, por exemplo, a apresentação de um trabalho, a promoção
de seminários, os resultados de uma entrevista são apenas uma das inúmeras
possibilidades de permitir que os estudantes se envolvam nas metodologias de
ensino e demonstrem ao docente as suas aptidões com determinadas concepções
avaliativas.
São os múltiplos olhares que precisam ser direcionados à arte de avaliar.
Partir das perspectivas múltiplas significa também repensar a formação de professor
para o trabalho com a avaliação na escola, assim, tanto a metodologia docente
quanto a receptividade discente se coadunam em uma pedagogia processualística
entre ambos os sujeitos e seus contextos. Pensar nessas questões é rever as
condicionantes no processo de ensino-aprendizagem, a começar pela compreensão
de que a “formação se faz antes da mudança, faz-se durante, produz-se neste
esforço de inovação e de procura dos melhores percursos para a transformação da
escola” (NÓVOA, 1995, p. 28).
A concepção avaliativa na escola se faz a partir de uma proposta reflexiva e
dinâmica em que as concepções relacionadas à formação docente simbolizem as
ideologias dos professores no direcionamento de seus olhares para o processo de
produção do conhecimento. O que se faz preciso, ainda, é saber quais são os
motivos da avaliação na averiguação das aprendizagens e como fazê-la no âmbito
das transformações sociais e dos múltiplos letramentos. Assim, a avaliação
pedagógica não é entendida a partir de um único viés, todavia de múltiplas ações
eficazes que possibilitem aos sujeitos dialogarem com as propostas metodológicas
utilizadas no percurso acessível das dinâmicas aprendizagens.
A avaliação pedagógica como processo dinâmico considera tanto o
conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto às
possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica
processual e formativa que analisa o desempenho do aluno em relação ao
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seu progresso individual, prevalecendo na avaliação os aspectos
qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do professor.
(BRASIL, 2008, p. 11)
A escola tem por função avaliar todos os alunos que se encontram nos
contextos de aprendizagem, adequando os instrumentos, de modo, que melhor
atendam às suas carências pedagógicas. Nesse sentido, por meio de um plano
dinâmico do processo avaliativo no ambiente sistematizador da escola há a
possibilidade de projetar novas metas a serem alcanças tanto pelos educadores
quanto pelos educandos, embora, que para isso, a aprendizagem seja vista a partir
da dialogia epistêmico-interventiva.
Enxergar na avaliação uma ponte dialógica entre a mudança nas práticas
metodológicas e as ações no aprendizado discente é, ao mesmo tempo, destacar
que não compete apenas ao professor cumprir esta tarefa. Todos os agentes
escolares (professores, coordenadores e gestores) precisam olhar as etapas de
avaliação a partir de uma perspectiva de múltiplas concepções, da revisão de
projetos e das readequações estratégicas que, de fato, atendam às necessidades de
aprendizagem dos estudantes.
Discutir de que forma o processo avaliativo se adequa às múltiplas
aprendizagens não significa atribuir somente ao professor essa função, como
também não se justifica a elaboração de atividades sem desafios pertinentes ao
público atendido. As palavras-chave no entendimento da avaliação na escola
dialogam com as adaptações curriculares que, muitas vezes, são politizadas na
formação de linguagem, ética e cidadã dos educandos; isso justifica que cada sujeito
apresenta um ritmo de aprendizagem diferenciado e que carece de ser entendido e
respeitado a partir de suas peculiaridades na concepção de dinamizar as
habilidades.
Para que o progresso da criança seja acompanhado, formas de avaliação
deveriam ser revistas. Avaliação formativa deveria ser incorporada no
processo educacional regular no sentido de manter alunos e professores
informados do controle da aprendizagem adquirida, bem como no sentido
de identificar dificuldades e auxiliar os alunos a superá-las. (UNESCO,
1994, p. 9)

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Avaliar é diagnosticar o que o aluno já é capaz de realizar, de compreender
e de formular no contexto das aprendizagens. A ferramenta essencial à promoção
do ensino se mostra a partir de duas óticas: a do professor que elege o que os
sujeitos já capazes de concretizar com autonomia e dos alunos que demonstram o
que, ainda, precisam aprender para se tornarem proficientes diante dos desafios na
aquisição, na complementação e na suplementação dos estágios de novos saberes.
A pedagogia que rege a proposta avaliativa se efetiva pela prática da
continuidade de readaptações metodológicas capazes de identificar as lacunas e
destacar as potencialidades dos alunos. Ratifico, aqui, novamente, que avaliar é
uma missão dos agentes escolares, que juntos planejam ações e metas a serem
atingidas, considerando as especificidades de cada aluno e de sua interação com as
ações metodológicas, pois, avaliar não é penalizar e, sim, rever conceitos,
readequar estratégias e buscar outras fontes que enalteçam as diferentes
aprendizagens.
A avaliação se destina a obter informações e subsídios capazes de
favorecer o desenvolvimento das crianças e a ampliação de seus
conhecimentos. Dispondo dos principais elementos relativos a elas e a pré-
escola como instituição, podemos planejar e (re)direcionar nosso trabalho
cotidiano [...]. A avaliação tem uma importância social e política crucial no
fazer educativo. (KRAMER, 1992, p. 94)

Quando se traz ao debate a funcionalidade da avaliação nas práticas


escolares, objetiva-se, ao mesmo tempo, realizar proposições reflexivas das ações
metodológicas que se perpetuam nos interiores das instituições escolares e como
tais inquietações podem ser direcionadas. Enxergar a avaliação a partir de olhares
múltiplos e dinâmicos significa reafirmar que as aprendizagens seguem a dinâmica
de uma proposta inclusiva em que as estratégias são pontes acessíveis na aquisição
do conhecimento na escola e fora dela.

3. AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O QUE DIZER? COMO FAZÊ-LA?

A avaliação é um processo complexo e dinâmico que envolve decisões na


produção do conhecimento, no desenvolvimento de habilidades e de atitudes.
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Quando projetamos as discussões relacionadas ao ato de avaliar na Educação
Especial em uma proposta inclusiva, os desafios se tornam mais amplos, apesar dos
impasses que são muitos, avaliar na Educação Inclusiva não é uma atitude
impossível, visto que todos os alunos precisam passar por um processo dialógico,
avaliativo e de adequações das práticas epistêmico-pedagógicas.
As reflexões que envolvem esta discussão no que se referem à avaliação na
concepção das necessidades educativas especiais dos sujeitos são pontuadas a
partir da função do professor, agente principal e articular do conhecimento, na
proposta de planejamento dos objetivos para cada especificidade acadêmica.
Elaborar metas e propor desafios requer, muitas vezes, a realização de um trabalho
individual, embora, isso não omita a função de trabalhar também à luz da
coletividade.
A função do professor na avaliação contextual da Educação Inclusiva
ultrapassa a noção de investigador do conhecimento e atribui-lhe a característica de
propositor metodológico no atendimento às necessidades de aprendizagem dos
sujeitos. Pensar nas atitudes docentes significa também projetar metas a serem
atingidas e estabelecer um projeto de referência no ensino, mediante o uso de
metodologias ativas de aprendizagem que leve em consideração o ser humano.
As metodologias ativas de aprendizagem têm como característica o fato de
se desenvolverem em pequenos grupos e de apresentarem problemas
contextualizados. Trata-se de um processo ativo, cooperativo, integrado e
interdisciplinar. Estimula o aprendizado a desenvolver os trabalhos em
equipe, ouvir outras opiniões, a considerar o contexto ao elaborar as
propostas das soluções, tornando-o consciente do que ele sabe e do que
precisa aprender. Motiva-o a buscar as informações relevantes,
considerando que cada problema é um problema e que não existem receitas
para solucioná-los. (ROPOLI et al, 2010, p. 29-30)

Na proposta da aprendizagem metodológica ativa, o aluno assume a função


de protagonista e o professor de orientador das aprendizagens, juntos socializam as
práticas de inclusão, já que não existe um receituário próprio e pronto para o
trabalho com a avaliação, sendo, pois, preciso, muitas vezes, ousar, propor e,
principalmente, envolver-se. É necessário identificar os problemas e saber como as

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intervenções estão inseridas nas singularidades dos estudantes, já que “entendemos
a avaliação como um componente que deve favorecer o processo de ensino-
aprendizagem e valorizar as especificidades de cada contexto e sujeito, com o
intuito de enriquecer ao que se refere às aprendizagens ocorridas” (SIMÕES, 2011,
p. 6).
Rever as estratégias de ensino que possibilitem ao sujeito questionar, ser
questionado e participar das práticas metodológicas significa inseri-lo no contexto da
aprendizagem ativa e inclusiva. A mola mestra e propulsora nesse propósito se
justifica pelo encontro entre o ser, o objeto e seu contexto e, neste caso, os
métodos, aqui, reportados são as intervenções pedagógicas que vão ao encontro
das necessidades aquisitivas de conhecimento a partir da dinâmica escolar. Não
basta, pois, refletir acerca das finalidades da avaliação sem que as ações de
promoção e de inserção dos sujeitos não sejam repensadas e nem se mostrem
eficazes.
É preciso e, porque não dizer, urgente, que precisamos nos despir de
discursos vagos e buscarmos inserir o aluno no caminho dinâmico da produção da
aprendizagem ativa? Discutir é, de fato, importante, porém, sair do plano inerte do
que se pretende é imprescindível. O que se entende por ações inclusivas subjaz o
compartilhamento e a projeção de um “procedimento em construção, pois incluir é,
de fato, um ato de trocas, entendimento, respeito e valorização. É antes de tudo uma
luta contra todo processo de exclusão” (SOUSA, 2015, p. 3).
Quantas vezes o processo avaliativo tem se tornado uma arena em que
vencem os melhores? Quantas vezes, pensamos, de maneira homogênea, que a
avaliação está de acordo com as necessidades individuais do sujeito? Quantas
vezes tomamos a avaliação como uma maneira de penalizar o aluno? Quantos
equívocos têm sido cometidos por meio de uma série de questionamentos que,
denominamos, avaliação? E quantas, ou quem sabe, inúmeras vezes, deixamos de
lado as habilidades dos alunos com necessidades educacionais especiais?

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Repensar essas questões é urgente e enxergar a avaliação não como prática de
exclusão, mas de inclusão.
As indagações não têm a finalidade de macular a atuação docente, porém,
muitas vezes, as concepções de avaliação que o professor defende não são
condizentes com as realidades e dinâmicas da sala de aula. Direitos e deveres
devem ser equalizados para todos, entretanto, quase sempre, os alunos especiais
têm passado despercebidos nas práticas avaliativas. Ensinar à luz da aprendizagem
ativa e inclusiva pressupõe perceber que há outras e milhares formas de avaliar
tanto o aluno com necessidades quanto os sujeitos sem alguma incidência.
A educação para todos é a mola propulsora da Educação Inclusiva: para
todos os alunos com suas diversidades e adversidades, suas peculiaridades e suas
limitações, seus medos, seus anseios e sonhos. Não é à toa que o espaço escolar
se configura como ambiente inclusivo, justamente, pela sequência de suas práticas
que não devem seguir uma linearidade ou homogeneidade, mas, partir de uma
concepção dinâmica das múltiplas reverberações de leitura realizadas a partir das
ações escolares.
No entanto, a avaliação do aproveitamento escolar do aluno com deficiência
tem-se caracterizado como um processo complexo devido às
especificidades de suas necessidades e de seu desenvolvimento, muitas
vezes bastante diferenciado. As características específicas de alguns
quadros de deficiência dificultam a avaliação pedagógica e o
estabelecimento das adequações ou adaptações necessárias para garantir
a escolaridade desse aluno. (OLIVEIRA; CAMPOS, 2005, p. 55)

Atitudes precisam ser pensadas à luz da avaliação em uma perspectiva


inclusiva. Avaliar no contexto ético, político, epistêmico e educativo da escola
inclusiva requer do professor um trabalho voltado para as adaptações curriculares,
visto que não são os sujeitos que devem se adequar ao currículo, entretanto, as
intervenções curriculares se moldarem às carências dos alunos; saber, por exemplo,
o que precisam aprender e de que forma o aprendizado pode ser politizado.
Um dos grandes equívocos cometidos no processo de avaliação na escola
inclusiva é partir da concepção de que uma intervenção homogênea será capaz de

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atender aos sujeitos na formulação do conhecimento, todos apresentam suas
singularidades ou aptidões e planejar ações auxiliadoras no desenvolvimento
humano é uma questão necessária, o que, muitas vezes, é “errado exigir de
diferentes crianças o mesmo desempenho e lidar com elas de maneira uniforme”
(BEYER, 2006, p. 28).
O olhar que direciona as nossas práticas na etapa de avaliação à luz da
Educação Inclusiva é o mesmo que enriquece o trabalho à ótica das adaptações
curriculares e metodológicas na busca por orientações que fortaleçam o processo de
ensino-aprendizagem. Há que se esclarecer, ainda, que adaptar uma proposta
metodológica não é omitir os desafios de aprendizagens; adequar,
metodologicamente, determinado conteúdo ou atividade é possibilitar ao aluno
refletir mediante suas concepções e necessidades.
Assim, a proposta de adaptação curricular no terreno complexo da avaliação
tem a finalidade de “identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de
acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos,
considerando suas necessidades específicas” (BRASIL, 2008, p. 10).
Além de avaliar a partir das adaptações necessárias, há, ainda, a
funcionalidade de construção do Parecer do aluno. Precisamos compreender tal
documento não como uma finalização do processo avaliativo, mas, como forma de
elencarmos o que o aluno é capaz de fazer sozinho, o que ele já sabe, o que
necessita aprender e ser redirecionado, como também servir de orientação para que
outros profissionais tenham uma visão panorâmica e particular das habilidades e
carências do sujeito. Quando se atribui relevância ao Parecer (diagnosticando e
prognosticando) o aluno, há entre outras, a possibilidade de valorização do
repertório cultural, linguístico e social do sujeito, para isso é preciso enxergá-lo com
suas limitações sem omitir as competências construídas.
A característica principal que envolve o Parecer discente é a descrição das
particularidades do nível de aprendizagem do aluno, em que podem ser atribuídos
diferentes olhares avaliativos para que se revejam metodologias. Nesse sentido, o

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documento, em pauta, não é produzido em questões de uma semana ou semestre,
como também não está finalizado em si mesmo; é um processo de observação
contínua e da forma que o estudante se relaciona com as intervenções, para que se
possam enaltecer avanços e suprir os retrocessos do sujeito.
A abrangência do Parecer do aluno incluso se justifica pela orientação aos
demais profissionais na proposta de avaliação, bem como na proposição de debates
sobre os avanços discentes, embora, isso não exclua a função da família no
desenvolvimento cognitivo na e formação ética do sujeito. Assim sendo, o “processo
avaliativo é de suma importância em todos os âmbitos do processo educacional para
nortear as decisões pedagógicas e retroalimentá-las, exercendo um papel essencial
nas adaptações curriculares” (BRASIL, 1999, p. 57).
Interagir por meio do processo de avaliação nas práticas dinâmicas de
aprendizagem e na concepção da Educação Inclusiva, pressupõe considerar o
espaço escolar como ambiente receptivo, que traz como marca filosófica o
atendimento às necessidades dos sujeitos. Logo, adaptar as atividades, planejar
metas, elaborar e ampliar os Pareceres discentes são objetivos que inserem os
indivíduos em um processo dialógico, reflexivo, dinâmico e inclusivo da avaliação na
escola.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A visão ampla da avaliação na escola precisa ser rediscutida e inserir o


sujeito nas propostas de ensino é preciso, bem como perceber que cada um
apresenta uma maneira própria de conceber e se relacionar com o conhecimento.
Além disso, avaliar na ótica escolar das possibilidades não é utilizar uma única
concepção na efetivação de todo o processo avaliativo.
O desafio de avaliar na escola à luz da inclusão compreende as
aproximações atitudinais enaltecidas pelos docentes na formação do sujeito. Estas
aproximações se mostram quando o professor enxerga o sujeito além de suas
necessidades, efetiva o desenvolvimento de novas habilidades, adequa suas
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práticas e insere no Parecer discente a função de acompanhamento contínuo das
aprendizagens. Além disso, há, ainda, os distanciamentos que são perceptíveis nas
intervenções metodológicas quando não há abertura de espaço pelo professor para
novas discussões e mudanças pedagógicas, enfocando apenas as limitações do
aluno em detrimento de sua interação.
Avaliar na escola é partir de duas esferas: global e particular. Na concepção
ampliada, as necessidades heterogêneas dos sujeitos são consideradas e todos são
envolvidos no processo avaliativo, já no contexto restrito, as especialidades do
alunado são vistas como a construção de um projeto de transformação individual.
Dessa forma, a avaliação na escola é uma tarefa de todos os agentes que propõem
mudanças culturais, éticas e cidadãs dos sujeitos com e sem deficiência na
proficiência autônoma e na tomada de decisões.

REFERÊNCIAS
BEYER, Hugo Otto. Inclusão e avaliação na escola de alunos com necessidades
educacionais especiais. 2ª ed. Porto Alegre: Editora Mediação, 2006.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: adaptações curriculares. Secretaria


de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1999.

_______. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação


Inclusiva. Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria
Ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria nº 948, de 09 de
outubro de 2007. Brasília – DF, 2008. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/politica.pdf.> Acesso em: 25 ago. 2017.

KRAMER, Sonia. (Org.). Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular
para a Educação Infantil. São Paulo: Ática, 1992.

NÓVOA, Antônio. Formação de professores e profissão docente: In: NÓVOA,


Antônio. (Org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom
Quixote/ Instituto de Inovação Educacional, 1995.

OLIVEIRA, Anna Augusta Sampaio; CAMPOS, Thaís Emília. Avaliação em


Educação Especial: o ponto de vista do professor de alunos com deficiência.
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Revista Estudos em Avaliação Educacional, v. 16, n. 31, jan./jun. 2005.
Disponível em: <www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1222/1222.pdf>.
Acesso em: 25 ago. 2017.

ROPOLI, Edilene Aparecida et al. A Educação Especial na perspectiva da


Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Especial [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010.

SIMÕES, Eleonora das Neves. Avaliação por parecer descritivo: solução? In: Anais
do X Congresso Nacional de Educação e I Seminário Internacional de
Representações Sociais, Subjetividade e Educação – EDUCERE/ SIRSSE. 7 a
10/11/2011. Pontifícia Universidade Católica do Paraná: Curitiba, 2011. Disponível
em: <educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/6109_3882.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2017.

SOUSA, Ivan Vale de. Atuação do professor itinerante na Educação Básica. In: II
Congresso Paraense de Educação Especial/ I Fórum Permanente de Educação
Especial do Sul e Sudeste do Pará. 12 a 14 de novembro de 2015. Disponível em:
<https://cpee.unifesspa.edu.br/images/Anais_IICpee/Ivan_Vale_de_Sousa.pdf>.
Acesso em: 25 ago. 2017.

UNESCO. Declaração de Salamanca e Linhas de Ação sobre Necessidades


Educativas Especiais. Brasília: CORDE, 1994.

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FACULDADE SANTA ANA LTDA –ME
Portaria de Credenciamento nº 672, de 25 de agosto de 2021
Mantenedora escrita no CNPJ nº 21.141.311/0001-40 End.
Rod. PI-144, Lagoinha, São Raimundo Nonato-PI

ATIVIDADE AVALIATIVA DA APREDIZAGEM

CURSO: Especialização em Educação Infantil e Educação Inclusiva


DISCIPLINA: Currículo, Aprendizagem e Avaliação no Processo de Aquisição da Leitura e da
Escrita
DOCENTE: Nádia Narcisa de Brito Santos E-mail: nadiabrito45@hotmail.com
DISCENTE:

Observação: A avaliação deve ser respondida e enviada apenas as respostas para o


whatsapp da professora até o dia 31/08/2022. Número do whatsapp 89 9 7400-7945,
atenção ao adicionar o número na agenda do seu celular, não esqueça de colocar o DDD
89 como está descrito acima, pois caso não coloque o DDD o número salvo será de outra
pessoa e não da professora Nádia Narcisa.

1. O fazer docente pressupõe a realização de um conjunto de operações didáticas coordenadas entre si.
São o planejamento, a direção do ensino e da aprendizagem e a avaliação, cada uma delas desdobradas
em tarefas ou funções didáticas, mas que convergem para a realização do ensino propriamente dito.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2004, p. 72 .

Considerando que, para desenvolver cada operação didática inerente ao ato de planejar, executar e
avaliar, o professor precisa dominar certos conhecimentos didáticos, avalie quais afirmações abaixo se
referem a conhecimentos e domínios esperados do professor.

I. Conhecimento dos conteúdos da disciplina que leciona, bem como capacidade de abordá-los de modo
contextualizado.
II. Domínio das técnicas de elaboração de provas objetivas, por se configurarem instrumentos
quantitativos precisos e fidedignos.
III. Domínio de diferentes métodos e procedimentos de ensino e capacidade de escolhê-los conforme a
natureza dos temas a serem tratados e as características dos estudantes.
IV. Domínio do conteúdo do livro didático adotado, que deve conter todos os conteúdos a serem
trabalhados durante o ano letivo.

É correto apenas o que se afirma em:


a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) II e IV.
e) III e IV

2. Ao elaborar um currículo é necessário que os conteúdos que serão selecionados e a forma como esses
conteúdos será ensinada seja um consenso. Existe, portanto, por meio do currículo, uma legitimação de
determinados saberes e da forma como fatos e acontecimentos são vistos. Saberes contrários à visão de
mundo hegemônica devem ficar de fora do currículo, e para isso devem ser considerados incorretos ou
sem valor. Assinale a alternativa que apresenta uma estratégia utilizadas para legitimação de alguns
conteúdos e desvalorização de outros.

a) Censurar a aprendizagem de alguns conteúdos que não estão de acordo com a visão de mundo
dominante.
b) Desqualificar diferentes culturas e diferentes saberes para que sejam considerados incorretos,
inferiores ou impróprios.
c) Explicitar o contexto de luta de classes em nossa sociedade e esperar que os alunos optem por
aprender aqueles conteúdos que atendem aos interesses da classe social a qual pertencem.
d) Ensinar os diferentes pontos de vista sobre um mesmo conteúdo e explicar para o aluno qual deles é
o correto.

3. No texto ‘Educação, currículo e multiculturalidade’, de Wagner Yordaky, o autor discute a


importância do currículo oculto na aprendizagem de conhecimentos que vão além daqueles planejados
para serem ensinados em sala de aula. Assinale a alternativa que explica corretamente o conceito de
currículo oculto.

a) Currículo oculto é aquele estabelecido pelos sistemas de ensino ou pela instituição educacional. É
aquele que está expresso em diretrizes curriculares, com conteúdos e objetivos dentro das áreas das
disciplinas escolares.
b) Currículo oculto é aquele que acontece na sala de aula em decorrência de um projeto pedagógico e
dos planos de ensino. Ele nasce da prática dos professores e do uso que é feito do currículo formal.
Corresponde aqueles conteúdos que de são ensinados na escola.
c) Currículo oculto é aquilo que os alunos aprendem pela convivência com as práticas escolares, por
meio das atitudes, dos comportamentos, dos gestos comuns ao ambiente escolar. É uma forma de
currículo que não está prescrita no planejamento.
d) Currículo oculto é aquele que é ensinado pelo professor de maneira sistemática e planejada,
considerando os conteúdos prescritos nos currículos oficiais elaborados por sistemas e redes de ensino.

4. Os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem assegurar:

1) a alfabetização e o letramento.
2) o desenvolvimento das diversas formas de expressão, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa,
da Literatura, da Música e demais Artes, da Educação Física, assim como o aprendizado da Matemática,
de Ciências, de História e de Geografia.
3) a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a complexidade do processo de alfabetização e os
prejuízos que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como um todo e, particularmente, na
passagem do primeiro para o segundo ano de escolaridade deste para o terceiro (Parecer CNE/CEB
11/2010).

Para tanto, é necessário considerar os três anos iniciais do Ensino Fundamental voltados para ampliar
as oportunidades de sistematização e aprofundamento das aprendizagens básicas, imprescindíveis para
o prosseguimento dos estudos, a todos os alunos. E, ainda, devem ser considerados como:

a) um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de interrupção.


b) séries que determinam uma duração e se completam nelas mesmas.
c) conjuntos de atividades que se complementam numa continuidade curricular.
d) um grupamento com projetos específicos lúdicos e de socialização.

5. No que se refere ao processo de alfabetização, analise os itens a seguir e, ao final, assinale a


alternativa correta:

I – Existem alguns fatores fundamentais no processo de aquisição da leitura e escrita, como os fatores
cognitivos que estão relacionados com a percepção, a atenção e a memória.
II – O ambiente social da criança também é relevante, pois uma atmosfera letrada, com estímulo de
jornais, revistas e livros, é fator positivo.
III – Para aquisição da leitura, a criança deve diferenciar visualmente as letras e saber que cada
símbolo corresponde a um determinado som.

a) Apenas o item I é verdadeiro.


b) Apenas o item II é verdadeiro.
c) Apenas o item III é verdadeiro.
d) Apenas os itens I e II são verdadeiros.
e) Todos os itens são verdadeiros.

6. A alfabetização é a aquisição do código da escrita e da leitura, esta se faz pelo domínio de uma
técnica: grafar e reconhecer letras, usar o papel, entender a direcionalidade da escrita, pegar no lápis,
codificar, estabelecer relações entre sons e letras, de fonemas e grafemas, a criança percebe unidades
menores que compõem o sistema de escrita (palavras, sílabas, letras). Já o letramento é a utilização desta
tecnologia em:
a) práticas de pesquisas.
b) práticas de ensino da leitura.
c) práticas de codificação da escrita
d) práticas sociais de leitura e de escrita.

7. A realidade social é dinâmica e está constantemente em mudança; o indivíduo é o agente ativo que
constrói e dá sentido à realidade; o programa educativo não é um produto considerado à margem do
contexto e dos sujeitos que o desenvolvem. Desta forma, na avaliação do processo de ensino e
aprendizagem,

a) Somente o aluno, os resultados e os conhecimentos são avaliados. Há a informação sobre a


compreensão dos conteúdos, objeto da avaliação, possibilitando a classificação dos alunos.
b) Avaliam-se os resultados pretendidos, as pessoas, não necessariamente de forma contextualizada.
Fornece um feedback sobre o processo de ensino e aprendizagem.
c) Há necessidade de garantir o diálogo crítico dos alunos sobre as dificuldades que vivenciam no
processo e considerar tanto os aspectos intelectuais como os afetivos, sociais e éticos. Fornece um
feedback sobre o processo de ensino e aprendizagem.
d) Não há espaço para a proposição de melhoria do processo, e sim da aprendizagem do aluno; não há
previsão de uma autoavaliação discente. O objetivo é verificar e quantificar a aprendizagem. Fornece
um feedback sobre a aprendizagem de cada aluno.

8. Um aspecto fundamental quando se fala do currículo e sua organização nos tempos e espaços
escolares é a forma como se avalia as aprendizagens que os alunos efetivam durante seu
desenvolvimento. Ou seja, currículo e avaliação da aprendizagem escolar são faces indissociáveis de
uma mesma moeda e que, portanto, ocorrem simultaneamente. Sobre estes aspectos, é correto afirmar
que:

a) Quando a concepção de avaliação vai além da classificação, preocupando-se com o processo de


aprendizagem ao longo do desenvolvimento curricular e ocorrendo por meio de um acompanhamento
do aluno com o objetivo de reorientá-lo a cada dificuldade encontrada, situa-se na perspectiva somativa.

b) Quando a concepção de conhecimento ainda se apresenta fragmentada, a proposta curricular da escola


costuma ser organizada na forma de disciplinas organizadas em regime seriado que, ao serem
desenvolvidas, não dialogam e não buscam pontos de articulação. Além disso, e por consequência, a
prática avaliativa, costuma ser regulatória.

c) Sempre a organização curricular em regime seriado vem acompanhada de uma avaliação


classificatória. Esse avanço ocorre quando a concepção de conhecimento e sua respectiva proposta
curricular estão fundamentadas numa epistemologia que considera o conhecimento como uma
construção socio-interativa que ocorre na escola e em outras instituições e espaços sociais.

d) Quando a ideia de que a avaliação da aprendizagem dos alunos é um processo dissociado do


desenvolvimento curricular prevalece, a avaliação da aprendizagem consiste somente na aplicação de
instrumentos avaliativos, em períodos regulares e com o objetivo de verificar a quantidade de
informações que os alunos assimilaram naquele período e classificá-los em escalas de notas ou de
conceitos tratados como se fossem notas.
Responder

9. Antes de mais nada “Para aprender a ler e escrever, a criança precisa construir um conhecimento de
natureza conceitual.” (BRASIL, 2001, vol. 3, p. 122). Com base na citação significa defender a
alfabetização como:
I. função da maturação biológica.
II. desenvolvimento de capacidades relacionadas à percepção, memorização e treino de um conjunto
de habilidades sensório-mecânicas.
III. um processo de construção de conhecimento pelas crianças por meio de práticas que têm como
ponto de partida e de chegada o uso da linguagem e a participação nas diversas práticas sociais e de
escrita.
IV. aquisição de um código de transcrição da fala.
Está(ão) correto(s) apenas o(s) itens(s):
A) I.
B) II.
C) III.
D) IV.
E) I e IV.

10. De acordo com uma atividade de linguagem escrita, Laura (6 anos) escreveu: “LEITI” (leite) então
a professora pede que ela leia o que escreveu e como pensou sobre aquela escrita.
Refletindo em suma do trabalho da criança, a principio de uma perspectiva que considere o
conhecimento um processo a ser construído a partir da relação entre o que se sabe e o objeto de
conhecimento, a professora constatou que a aluna
A) afinal ainda não conhece bem a relação fonema-grafema e, por isso, errou ao escrever a letra “I” no
lugar da letra “E”, ao final da palavra.
B) apresentou uma relação de transcrição direta da fala para a escrita, porque em comum no processo
de construção da base alfabética.
C) errou por estar desatenta em seu trabalho, sendo então melhor que repita a atividade.
D) não aprendeu ainda a grafia das letras do alfabeto e por isso não completou a escrita da letra E ao
final da palavra.
E) errou por não ter aprendido adequadamente a família do TA-TE-TI-TO-TU, todavia deve repetir
essa unidade.

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