JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR

1

NINGUÉM DEIXADO PARA TRÁS
R
ecentemente, o ministro da Economia, Paulo
Guedes, em uma reunião com empresários,
‘confessou’ que dois setores essenciais para
a Nação, a Educação e a Saúde, ficaram sem a devida
atenção por parte do governo federal para enfrentar a
crise. Disse mais o ministro: que, inclusive, teria tido
receio em propor ajuda, pois já investiu em Educação
e tinha parentes próximo atuando no setor – a irmã de
Guedes é presidente da associação
que reúne universidades particu-
lares. Ao mesmo tempo, segundo o
relato de participantes da mesma
reunião, o ministro teria mostrado
preocupação com a elevada ina- 2020 começou
dimplência na Educação.
Somente nas escolas particu-
com uma boa
lares do estado de São Paulo, a perspectiva para as
inadimplência média apurada pelo
Sieeesp simplesmente dobrou de escolas particulares,
março para abril, saltando
de 10,86% para 19,73%. Em
e com a maioria
maio, pelos números apurados dos analistas
até o fechamento desta edição, o
índice médio piorou ainda mais, e economistas
ultrapassando os 21% em mé-
dia (21,34%). Trata-se do maior
prevendo
indicador nos últimos tempos. crescimento
E, se levarmos em consideração
os porcentuais apurados desde o
início do ano, veremos que a inadim-
plência média mais do que triplicou:
em janeiro, o índice foi de 6,37%. E, se olharmos com
um pouco mais de atenção, veremos que esse porcen-
tual é ainda menor do que a média da série histórica
apurada pelo Sieeesp, que sempre se situou na faixa
entre 7% e 8%.
O que podemos perceber por esses tristes números
é que 2020 começou com uma boa perspectiva para
Editorial
BENJAMIN
RIBEIRO DA SILVA
Presidente do Sieeesp
benjamin@einstein24h.com.br
as escolas particulares, e com a maioria dos analistas
e economistas prevendo crescimento. Mas a explosão
da crise da pandemia e a inércia das autoridades
públicas em todos os níveis fez desabar as previsões
otimistas, e já se fala em queda histórica do PIB. O
Banco Mundial, por exemplo, estima um tombo de 8%.
Além da inadimplência, temos a crescente evasão
escolar, que não para de subir, e que se alastra como
um rastilho de pólvora. Pesquisa
desenvolvida por parceiros e com a
colaboração do Sieeesp, por exem-
plo, mostrou uma evasão média de
15% na educação infantil entre os
respondentes. Se somarmos todos
os níveis do Ensino Básico certa-
mente se elevará.
Esse grave quadro de todo o
segmento nos levou a cobrar ações
que pudessem reduzir o profundo
impacto da crise e o fechamento
das escolas desde o final de março.
Reivindicamos junto às prefeitu-
ras, Câmara Municipal de São
Paulo governo do Estado, Assem-
bleia Legislativa de São Paulo, ao
Congresso Nacional e líderes o
vaucher educacional, de ajuda às
famílias das classes C, D, e E, que
mais sofrem com a crise. Inclusive
ao presidente Jair Bolsonaro e ao
ministro da Educação.
A mesma solicitação do vaucher, e de linhas de
crédito com juros acessíveis, também foi feita a Paulo
Guedes. E que o ‘aceno’ feito pelo ministro não fique só
nisso, no campo das boas intenções, e se concretize em
ações que ajudem as famílias menos favorecidas, que
querem honrar seus compromissos. E que ninguém,
de fato, “será deixado para trás” nessa triste história.
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
3
 Expediente / Índice

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3 28
sieeesp Ninguém deixado Professor on-line?
DIRETORIA para trás Professor virtual?
Presidente
Benjamin Ribeiro da Silva
Profyoutuber?
5 Desafios em tempos de
Colégio Albert Einstein
1º Vice-presidente
José Augusto de Mattos Lourenço pós-pandemia. O que
Colégio São João Gualberto
2º Vice-presidente Não fomos preparados será da escola?
Waldman Biolcati
Curso Cidade de Araçatuba para isso
1º Tesoureiro
José Antônio Figueiredo Antiório 32
6
Colégio Padre Anchieta
2º Tesoureiro
Antônio Batista Grosso LGPD – Como os
Colégio Átomo
1º Secretário O retorno das aulas: colégios se preparam
Itamar Heráclio Góes Silva
Educ Empreendimentos Educacionais um desafio muito para segurança das
2º Secretário
Antônio Francisco dos Santos maior e mais complexo plataformas utilizadas
Sistema Educacional São João
do que pensávamos por alunos e professores

DIRETORES DE REGIONAIS
ABCDMR
Oswana M. F. Fameli - (11) 4437-1008
14 36
Araçatuba
Waldman Biolcati - (18) 3623-1168 Inclusão na quarentena Desafios e reflexões:
Bauru protocolos em saúde
Gerson Trevizani Filho - (14) 3227-8503
para reabertura
Campinas
Antonio F. dos Santos - (19) 3236-6333
Guarulhos
18 das escolas
Wilson José Lourenço Júnior - (11) 4963-6842
Educação e pandemia:
40
Marília
(14) 3413-2437
o que acontecerá com
Ribeirão Preto
João A. A.Velloso - (16) 3610-0217 o ano letivo de 2020?
Osasco Pandemia e
José Antonio F. Antiório - (11) 3681-4327
desinfecção nas
Presidente Prudente
Antonio Batista Grosso - (18) 3223-2510
Santos
22 escolas: como vencer
Ermenegildo P. Miranda - (13) 3234-4349 esse desafio
São José dos Campos
O poder do feedback
(12) 3931-0086
na construção de
São José do Rio Preto
Cenira Blanco Fernandes Lujan - (17) 3222-6545
Sorocaba
equipes vencedoras 41
Edgar Delbem - (15) 3231-8459
Empresas Individuais
JULHO DE 2020 - Edição 268
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de inteira responsabilidade dos autores. 46
4 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020

Não fomos preparados para isso
T
enho assessorado escolas
e secretarias de Educação,
nesse período de pan-
demia, a colocarem em prática as
atividades pedagógicas não presen-
ciais conforme define o Parecer
005 do CNE (Conselho Nacional
de Educação). Não que eu tenha
respostas prontas para todas as
dúvidas e novas necessidades; mas,
como estou em contato com vários
contextos, procuro ser uma espécie
de disseminador de possibilidades
e mobilizador de coragem para
enfrentar o momento de distancia-
mento social. A realidade está nos
exigindo, acima de tudo, coragem.
Tenho ouvido frequentemente a
frase “não fomos preparados para
isso”, o que me fez pensar sobre o
quanto estamos despreparados para
lidar com mudanças disruptivas,
que são aquelas que não respeitam
o curso normal das coisas, não se-
guem as fases lógicas de um pro-
cesso. Taxistas tiveram que enfren-
tar os aplicativos de transporte e,
hotéis, os aplicativos de hospedagem
em casas particulares. Mudanças
disruptivas serão cada vez mais
comuns em nosso mundo, já previ-
ram cientistas sociais e futurólogos
e, nesse contexto, a coragem e a
predisposição para buscar soluções
substituirão a velha “preparação”.
Acreditar que saídas sempre
existem e estar empenhado em
encontrá-las é a principal condição
para lidarmos com a realidade das
mudanças abruptas. Nesse contexto,
fico me perguntado para o quê esta-
mos preparados enquanto educado-
res e enquanto escolas? A realidade
está nos mostrando que, de forma
geral, não conseguimos desenvolver
autonomia em nossos alunos - vide
problemas de compreensão das
atividades a distância. Não con-
Não estávamos
preparados para
isso, mas sempre
surgem novas
estruturas a
partir do caos
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
Práticas Pedagógicas
seguimos construir uma relação
metodológica motivadora, capaz de
tornar o ato de aprender um desafio
prazeroso e, tampouco, demos conta
de ter claros o real papel dos pais no
processo de aprendizagem escolar.
É fato. Não estamos preparados
para isso. Estamos tendo que nos
preparar ao longo do caminho e
penso que nosso principal apren-
dizado é esse: trocar o pneu do carro
com o carro em movimento e, num
momento surpreendente, descobrir
que é possível! Tenho recebido mui-
tos relatos de professores encanta-
dos com as possibilidades que estão
descobrindo através do “mundo
tecnológico”; e, outros, dizendo do
quanto ter que buscar novas manei-
ras de ensinar tem contribuído para
que eles percebam o quanto estavam
precisando mudar. Lindos insights
em tempos de pandemia.
De fato, não estávamos prepara-
dos para isso, mas sempre surgem
novas estruturas a partir do caos.
Imagino que somos lançados numa
situação caótica para que a ruptura
com o velho modelo seja imediata.
A disrupção serve para que paremos
de dar desculpas e abandonemos de
vez o velho jeito de fazer as coisas.
Lembro-me de quando minha mãe
tirou e escondeu as rodinhas de
minha bicicleta. Protestei de todas
as formas possíveis e de nada adian-
tou. Pirracei, dizendo que não an-
daria nunca mais de bicicleta. Mas o
tempo e a vontade de me superar fi-
zeram com que, após várias quedas,
eu aprendesse a me equilibrar em
duas rodas. Em certos momentos é
essencial que não sejamos prepara-
dos para isso. •
JÚLIO FURTADO
Pedagogo,
psicopedagogo,
mestre em
Educação, doutor em Ciências da
Educação.
5
 Matéria de Capa
O retorno
das aulas:
um desafio muito
maior e mais
complexo do que
pensávamos
Os professores e gestores
rapidamente precisaram
se reinventar, e de forma
muito rápida
C
omeçamos o ano letivo
de 2020 acreditando que
seria mais um ano e que
daríamos alguns passos, certa-
mente lentos, em direção a esse
futuro da educação que sempre se
anunciou como fundamental, mas
que também se retardou o máximo
que pode. Mas, de uma hora para
outra, a vida dos professores foi
virada de ponta cabeça. O vírus
Sars-Cov-2 ocasionou uma mu-
dança drástica em suas rotinas e
na das escolas.
Com a suspensão das aulas, as
escolas foram pegas de surpresa.
Num primeiro momento, todos
ficaram atônitos e se preocuparam
mais com o fechamento das escolas,
antecipando recessos ou férias,
6 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
e observando o comportamento
da sociedade frente a pandemia
instaurada. Foi um período difícil,
pois todas as certezas que tínhamos
com relação ao modo de vida que
levávamos viraram pó. A preocu-
pação se voltou mais ao isolamento
social, aos cuidados com a higiene e
os protocolos da saúde e a manuten-
ção da vida.
Uma segunda fase, talvez a
mais complicada, foi o retorno das
atividades escolares. Os profes-
sores e gestores rapidamente pre-
cisaram se reinventar, e de forma
muito rápida. Um período difícil,
de susto, inquietação, angústia e
incerteza, mas que rapidamente se
converteu em ação. Esta, por si só,
descontrolada, pouco eficiente e
sem objetivos claros. Aos poucos, as
ações foram dando espaço a outras
mais bem planejadas, estudadas
e melhor executadas. Passado o
susto, os educadores perceberam
que o avião continuou no ar.
Estudos preliminares mostram
que no Brasil tivemos de imediato
inúmeras experiências e formas
desse ensino remoto ocorrer. Alguns
acertaram a “fórmula” quase que de
imediato; contudo, uma boa parcela
demorou mais para encontrar um
formato, uma metodologia, um
tempo certo para que as atividades
não presenciais pudessem ocorrer
com um nível mínimo de satisfação
de pais, professores e alunos. Deste
modo, podemos definir esta segun-
da fase como o período em que pela
primeira vez na história da educação
brasileira precisamos implantar o
ensino não presencial. Alguns de
forma mais estruturada, outros de
maneira mais improvisada e com
menos consistência.
Conforme o tempo foi passando,
vários problemas foram sendo so-
lucionados pelos professores, com
o auxílio dos gestores, dos pais e
até dos alunos. Hoje já estamos
mais habituados às plataformas
de transmissão de conteúdo, à
gravação de vídeos, às lives e às
atividades ao vivo, além da indica-
ção de materiais para os estudos e
trabalhos individuais dos alunos.
Sistemas, redes de ensino, esco-
las e professores adotam metodo-
logias diferentes, dependendo da
realidade da escola, da disciplina
que ministram, das séries, das
idades dos alunos, dos aparatos tec-
nológicos, do tempo disponível dos
alunos e pais, entre outros fatores.
Estamos aprendendo.
As famílias se obrigaram a par-
ticipar mais da vida escolar dos
filhos e acompanhar seus estudos.
Muitos pais estão surpresos com o
comportamento positivo ou nega-
tivo dos seus filhos, assim como
estão surpresos com o trabalho
desenvolvido pelos professores,
gestores e escolas. Sentimos que
os pais estão valorizando muito
mais esses papéis. Isso não significa
que não haja críticas, muito pelo
contrário. Conforme os pais vão
participando mais, as críticas se
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
tornam naturais. Entretanto, são
elas que estão ajudando os profes-
sores e gestores a encontrarem
caminhos que venham ao encon-
tro de muitas expectativas desses
pais, e que sejam minimamente
satisfatórias no que tange à apren-
dizagem dos alunos.
Os pais, na sua grande maioria,
têm se mostrado parceiros da es-
cola. Em pesquisas realizadas por
sindicatos de escolas particulares
no Brasil, os pais têm demonstrado
alta satisfação com relação às aulas
ministradas não presencialmente.
Esses números divergem, mas não
muito, quando estudamos as esco-
las públicas. Os pais têm entendido
que não é o melhor método, mas que
os professores estão conseguindo se
7
 Matéria de Capa
Todos sabem
que jamais a
educação não
presencial irá
substituir a
presencial
superar e apresentar o seu melhor.
“O avanço é inegável. No início das
atividades a distância o professor
não sabia nem usar o microfone.
Durante toda uma aula ele falou e
não saiu som algum. Hoje, passado
pouco de mais de um mês, o profes-
sor já demonstra grande domínio
no uso das tecnologias e da mesma
forma tem motivado os alunos a
assistirem suas aulas.” Esse trecho
é um depoimento de uma mãe de
um aluno de escola pública, numa
pesquisa que está sendo realizada
pelo Instituto Casagrande e pela
Associação Brasileira de Educação
a Distância (ABED).
Com mais propriedade, os pro-
fessores começaram a perceber as
contribuições fantásticas que as
tecnologias podem oferecer à edu-
cação, assim como fazem há tempos
em praticamente todos os setores da
sociedade. Entre tantas outras possi-
bilidades, usam os motores de buscas
inteligentes, a partir de comandos
verbais que utilizam a comunicação
natural e a tradução multilingual
simultânea. Utilizam em suas aulas
8 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
textos com hyperlink, que têm per-
mitido a qualquer momento que seus
alunos se desloquem para lugares
ou para o contato com informações
diversas. As aulas se tornaram mais
atraentes a partir do uso do áudio e
do vídeo, permitindo, também, que
os materiais e programas acessados
possam ser baixados e editados, de
acordo com as necessidades de cada
aluno ou professor.
Quando o aluno tem acesso à
tecnologia, internet e possui equi-
pamentos adequados, muitos im-
peditivos, que até então eram con-
siderados pelos professores e pelas
escolas, vêm se mostrando não tão
impeditivos assim. O que havia era
preconceito e falta de informação.
Muitos professores e alunos estão
trabalhando de forma satisfatória
com o uso de recursos tecnológicos,
em substituição às tradicionais salas
de aula.
Enfim, observamos ainda um
leque de possibilidades para os
próprios estudantes organizarem e
criarem conteúdo, a partir de grupos
e comunidades com os quais se man-
têm conectados, independentemente
da localização em que vivem, asso-
ciados a uma infinidade de recursos
de mobilidade que ocupam. A tec-
nologia é, cada vez mais, um espaço
considerável na vida das pessoas.
Todos sabem que jamais a edu-
cação não presencial irá substituir
a presencial. Mas, ela pode e tem
nos ensinado a utilizar novas for-
mas e métodos de aprendizagem.
Sentimos falta e estamos ávidos por
abraços, pelos contatos pessoais,
pelas interações, fundamentais
para o processo pleno de apren-
dizagem. Esse lado subjetivo e im-
portantíssimo faz falta e, portanto,
deixa o momento atual um pouco
técnico e objetivo demais.
Não há numa aprendizagem de
fato e uma formação integral do
indivíduo sem a escola. Mas, tam-
bém, não estávamos conseguindo
fazer só na escola a transformação
necessária para uma nova e efetiva
aprendizagem.
Essa mudança vai ao encontro
de estudos realizados pelo pes-
quisador Scott Freeman, e um
grupo de colegas professores da
Universidade de Washington, que
revelaram que abordagens de en-
sino que transformam os alunos
em participantes ativos, em vez de
apenas ouvintes, reduzem conside-
ravelmente as taxas de reprovação
em função de uma aprendizagem
mais efetiva.
Mas, quando mal nos acostuma-
mos à rotina das aulas remotas já
se anuncia um novo, importante e
esperado momento: o retorno das
aulas presenciais. Diferentemente
do que imaginávamos ou quería-
mos, o retorno às escolas não será o
mesmo. Voltaremos diferentes para
uma escola diferente. Informações
e estudos preliminares sobre o
tempo de paralisação das ativi-
dades escolares normais apontam,
ainda, um longo período em que
teremos de ter distanciamento e
isolamento social.
Ao contrário do que alguns
educadores e até pais pensavam,
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
o ensino remoto ou as atividades a
distância na educação básica não
serão tão breves e nem se tratam
de modismos. A educação não
presencial deverá perdurar por um
período considerável, e a educação
mediada por tecnologias, como as
que estamos presenciando neste
momento, deverão se fazer presen-
tes nas escolas e nas aulas a partir
de agora, independentemente da
pandemia e da crise de Covid-19. O
que sabemos de antemão nos leva a
novo e talvez longo momento, que é
a convivência com o ensino híbrido.
Essa parece ser uma tendência
inevitável.
O retorno das aulas
presencias e a implantação
do ensino híbrido nas escolas
A volta às aulas nas escolas não
será simples e nem fácil. Estudos
desenvolvidos pela Universidade
de Harvard apontam efeitos da
pandemia na educação, orientando
9
 Matéria de Capa

que professores precisam estar dos possam ter o mesmo conteúdo e para suas aulas. Essa situação nova
preparados para lidar com crianças as mesmas aulas presencialmente. vai exigir de todos, professores,
que voltarão às escolas com medo Enquanto 1/3 dos alunos estará pais, alunos e gestores, um novo
e com a saúde emocional afetada. em aulas presenciais, 2/3 estarão aprendizado;

Crianças e adolescentes acuados,
desesperados, com estresse fami-
liar, violência doméstica, a ideia de
perder familiares, de verem seus
pais ficarem sem trabalho e ter
em aulas remotas. Isso exigirá dos
professores um trabalho hercúleo,
pois terão que se desdobrar em
muitos para dar conta das ativi-
dades diárias escolares;
•
4- Os alunos voltarão muito
diferentes de quando as aulas foram
paralisadas. Alguns terão avançado
bastante; outros, nem tanto. Isso

pouco dinheiro para sobreviver.
Voltaremos numa situação mui-
to delicada. Os professores pre-
cisarão manter a calma, tranqui-
lidade e possuir habilidades para
lidar com todos esses problemas.
Essas sensações devem ser inter-
pretadas como um sinal de alerta
a todos os professores, ajudando
as crianças e adolescentes a não
desenvolverem doenças psíqui-
cas. Associada a esses cuidados
teremos uma volta extremamente
complexa. Em diversos estudos
que tenho feito sobre o retorno das
aulas presenciais tenho chegado
a algumas conclusões um pouco
perturbadoras. Ouso elencar 10
tópicos que precisam ser discuti-
dos exaustivamente pelos gestores
educacionais, professores e pais,
e que devem nortear a rotina das
escolas nesta fase de volta às aulas.
Vamos a eles:
•
3- Assim, as escolas precisarão
mesclar ensino presencial e não
presencial, ou seja, passaremos
a conviver com o ensino híbrido.
Os professores deverão organizar
atividades presenciais e atividades
remotas, de preferência assíncro-
nas (aulas gravadas) para os alunos
que continuarão em casa, enquanto
uma parcela estará em sala de aula
com o professor ministrando aulas
presenciais. Isso exigirá dos profes-
sores muito mais tempo de preparo
exigirá do professor, após uma
rigorosa avaliação diagnóstica, um
grande esforço e um trabalho in-
tenso. As turmas serão muito hete-
rogêneas. O professor, ao mesmo
tempo em que recupera os alunos
com defasagem na aprendizagem,
ministrará novos conteúdos e irá
avante com o programa. Ainda
deverá dedicar um tempo, além
da recuperação de conteúdos para
determinados alunos, a reposição
de carga horária parcialmente
perdida durante a paralisação. Em

• 1- A volta às aulas presenciais

não será na forma como estávamos
habituados antes da paralisação.
O retorno será gradativo e parcial.
Algumas escolas iniciarão pelo
ensino médio outras pela educação
infantil, dependendo da realidade
de cada escola. Não voltarão todos
os alunos e séries ao mesmo tempo.
As turmas com menos alunos pro-
vocarão um novo “ensalamento”,
uma nova redistribuição de aulas,
carga horária, atividades remotas,
entre outros fatores;

• 2- Se nos espelharmos nos

países que já retornaram ou que es-
tão retornando às aulas, deveremos
ter 1/3 dos alunos por turma. Isso
significa que o professor poderá
repetir a mesma aula três vezes
numa mesma semana para que to-

10 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020

síntese, precisará haver uma reor-
ganização de todos os processos de
aprendizagem;
•
5- A logística de organização das
atividades presenciais e não pre-
senciais também não será simples,
visto que o professor passará a ter,
em média, três vezes mais turmas
do que tinha antes da paralisação,
ministrando o mesmo número de
aulas semanais. Isso demandará
da gestão um planejamento e uma
organização apurada das atividades
a serem desenvolvidas na escola
e em casa e o controle das cargas
horárias;
•
6- Muitos pais se recusarão a
enviar seus filhos para a escola e
tais comportamentos deverão ser
respeitados. Portanto, parte dos
alunos continuará apenas com
Algumas escolas iniciarão
pelo ensino médio outras pela
educação infantil, dependendo
da realidade de cada escola
ensino remoto, exigindo dos profes-
sores um plano de trabalho especial
para esses estudantes em função
de não participarem das atividades
presenciais. Teremos, assim, dois
grupos de alunos na mesma turma:
os que terão ensino híbrido (ensino
presencial e não presencial) e os
que continuarão tendo apenas o
ensino remoto;
• •
7- A escola, ao reabrir, toma para
si uma enorme responsabilidade.
Não podemos compará-la com um
shopping, academia ou mesmo um
comércio. Temos uma relação assi-
métrica e de plena responsabilidade
com os alunos. Além disso, a quan-
tidade de alunos sob a responsabi-
lidade de adultos é grande, impos-
sibilitando um total controle sobre
os comportamentos das crianças
e até adolescentes. Teremos situa-
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
ções em casos extremos de pais
responsabilizando as escolas caso
alguma criança ou até membros da
família dessas crianças venham a
ser diagnosticados com Covid-19.
Isso também poderá causar pavor
em pais com filhos estudando na
mesma turma, ou até na mesma
escola que crianças diagnosticadas
positivamente para a doença;
8- Os espaços físicos das escolas
deverão ser adaptados, garantindo
as distâncias exigidas pelos órgãos
da Saúde. Carteiras deverão ser
retiradas ou inutilizadas, marca-
ções no pátio e nos banheiros, com
controle sobre cada passo que o
aluno dará na escola. Os momentos
de intervalos e recreios deverão
ter uma vigilância redobrada, não
permitindo em hipótese alguma
que as crianças brinquem entre
si, que tenham qualquer tipo de
contato físico, e que se mantenham
com as máscaras todo o tempo que
estiverem na escola;
• 9- A escola deverá ter um pro-
tocolo rígido em relação às regras
de higiene e de saúde. As normas e
procedimentos precisam ser cons-
tantemente reforçados na escola,
exigindo dos professores um tempo
excessivo nas orientações e nos cui-
dados com os alunos, prejudicando
em parte o tempo a ser dedicado
às aulas;
• 10- Professores e funcionários
que estão no grupo de risco tam-
bém deverão ser dispensados das
atividades presenciais, exigindo
da escola a contratação ou remane-
jamento de outros professores e
profissionais, para a substituição
desses nas atividades presenciais.
Isso poderá acarretar em custos
ou exigir da escola uma complexa
reorganização de atividades.
Associado a esses problemas, as
escolas precisarão investir pesado
na formação continuada dos profes-
sores, que deverá ocorrer em para-
lelo com as atividades realizadas.
11
 Matéria de Capa
Os professores precisam desenvol-
ver novas metodologias de ensino,
de avaliação de aprendizagem, e
do uso de diferentes tecnologias,
principalmente em função da im-
plantação do ensino remoto e do
ensino híbrido.
Enfim, esses são alguns de
vários problemas que as escolas
passarão a ter com o retorno das
aulas – muito mais complexos que
os de outros setores. Gestores e pro-
fessores se veem pressionados no-
vamente a buscar soluções efetivas
e emergenciais, que possibilitem o
mínimo de segurança aos alunos e
demais profissionais, considerando
as peculiaridades de cada nível de
ensino. Essa é a realidade da escola
se reinventando.
É certo que sonhamos e dese-
jamos a volta à total normalidade.
Quando isso ocorrer, seja pela cura
da doença, pelo surgimento da
vacina ou pela criação em massa
12 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
de anticorpos, já não seremos os
mesmos. Todas essas mudanças
vividas na pandemia terão nos
transformado. Será impossível
voltarmos àquele ponto de partida.
Alunos, pais e professores estarão
vivendo e acostumados a uma nova
realidade, a do ensino mediado
por tecnologias. Entraremos nessa
fase ávidos e ansiosos pelo contato
pessoal, pelas relações humanas,
pelos abraços, pelas rotinas presen-
ciais. No entanto, não deixaremos
de lado nossos aliados em todas
aquelas difíceis fases vividas. Já
teremos aprendido que é possível e
muito mais eficaz utilizar todos os
recursos tecnológicos disponíveis
na atualidade. No futuro, para ala-
vancarmos a educação, nada será
como antes.
Todos esses desafios e essas
mudanças só estão e só serão
possíveis com a transformação,
engajamento, mobilização e com-
É possível e
muito mais eficaz
utilizar todos
os recursos
tecnológicos
disponíveis na
atualidade
prometimento dos professores.
Com novos comportamentos e
atitudes, eles poderão dar saltos
quantitativos e qualitativos em
suas aulas. Esses comportamentos
não virão somente por desejo dos
professores, mas precisam estar
calcados em nossas competências
e habilidades a serem rapidamente
desenvolvidas, para que o avanço
ocorra e essas mudanças se con-
solidem.
Por fim, precisamos admitir que
há muitas incertezas, medos e desa-
fios pairando no ar. Mas sabemos
que de tudo isso vamos tirar grandes
lições e evoluir em muitos pontos,
no que tange ao conhecimento e
uso de novas tecnologias. Este é
um momento de aprendizado, de
reflexão, mas também é momento
de ação e de construção de novas
rotas para a educação. Seguimos
trabalhando com afinco e pensando
sempre em dias melhores, em pou-
sos mais seguros e na revolução tão
necessária nas escolas e na educação
do nosso País. •
RENATO CASAGRANDE
Presidente do
Instituto Casagrande.
É conferencista,
palestrante, escritor, pesquisador e
consultor em Gestão da Educação e em
Liderança no Ambiente Educacional.
Também é autor de livros e artigos
publicados no Brasil e no exterior.
Doutorado em Educação, mestrado em
administração com linha de pesquisa
em gestão educacional, especialista
em liderança educacional, gestão de
pessoas, gestão educacional, bacharel
em Administração e licenciado em
Matemática.
 Inclusão

Inclusão na
quarentena

Você pode
iniciar com algo
atrativo, aos poucos
ampliar o repertório,
e acrescentar o
conteúdo necessário
14 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
A
s escolas estão fecha-
das desde março, algo
inédito para todos nós!
O modelo de aulas precisou ser
revisto rapidamente, e cada um se
ajustou como pode.
Passados quase três meses, as
aulas on-line estão acontecendo e a
maioria dos professores se adaptou.
As gravações, lives e estratégias
pedagógicas remotas estão mais con-
fortáveis. A maior parte dos alunos
também se acostumou com a nova
rotina e está conseguindo aprender.
Entretanto, um grupo considerável
de estudantes ainda não está bem
encaixado. Estou me referindo aos
estudantes que já enfrentavam
dificuldades para aprender antes da
pandemia, os alunos e alunas com
deficiência ou dificuldade. Seja ela
física, sensorial, intelectual, TEA,
com transtornos ou dificuldade de
aprendizagem, questões transitórias
ou permanentes, as aulas on-line
estão sendo um grande desafio.
Tem sido frequente a lamen-
tação de pais e educadores; eles
ainda não sabem como atender
esse público no formato on-line.
Professores não sabem flexibili-
zar o conteúdo e as atividades, as
crianças estão frustradas por não
darem conta da demanda e os pais
estão angustiados. Pensando nessa
situação, seguem algumas dicas
para ajudar a pensar estratégias
pedagógicas mais assertivas:
Contemple os interesses do es-
tudante. Prestamos mais atenção
em assuntos que gostamos; com
a criança é a mesma coisa. Você
pode iniciar com algo atrativo,
aos poucos ampliar o repertório, e
acrescentar o conteúdo necessário.
Utilize recursos pedagógi-
cos atrativos
Procure recursos que conectem
os interesses do seu aluno e o
conteúdo que precisa desenvolver.
Desta forma será mais fácil usar a
mesma estratégia pedagógica para
o estudante com deficiência e seu
grupo de alunos.
Os vídeos e jogos são ótimos
aliados. Chegou a hora de usar a
tecnologia a nosso favor: existem
diversos aplicativos voltados para
educação em todos os níveis e dis-
ciplinas. Eles motivam o grupo e
tornam mais fácil a flexibilização
das atividades para os alunos com
deficiência ou dificuldade. A Uni-
Os vídeos e jogos
são ótimos aliados
versidade Federal de Brasília (UNB)
tem um projeto incrível chamado
Participar: ele dispõe de softwares
e aplicativos gratuitos para facilitar
a aprendizagem dos alunos com
deficiência intelectual e autismo.
Os programas também atendem a
necessidade de comunicação e au-
tonomia, aspectos tão necessários
para o desenvolvimento deles.
Já ouviu falar em Soroban? É
o ábaco japonês. O objetivo dele
é fazer contas matemáticas, mas
também ajuda no desenvolvimento
da concentração, coordenação mo-
tora e cálculo mental. Pessoas cegas
aprendem matemática com esse
material, mas elas são um recurso
pedagógico interessante para todos
os estudantes. Existem aplicativos
e tutoriais para deixar o processo
mais dinâmico.

Olhe para o aluno

Durante esses meses de traba-
lho on-line você pode observar
como tem sido o engajamento do
estudante. As atividades propostas
atendem à necessidade educativa
do estudante com dificuldade ou
deficiência? Ele está dando conta
das tarefas? Está interessado?
Quais mudanças no seu planeja-
mento podem deixar as atividades
pedagógicas mais inclusivas?
 Inclusão
O momento da
atividade
pode ser
mais leve,
sem deixar
de fazer o
que precisamos
Já pensou em realizar uma
gincana virtual? Ou quem sabe
um campeonato de Soroban? Será
um momento leve e divertido para
todos os seus alunos. Pense nisso!
Flexibilize o tempo e as
atividades
A grande maioria dos alunos
com deficiência, transtorno ou
dificuldade terá problemas para
dar conta de grandes demandas de
atividade. Tenha clareza sobre seus
objetivos pedagógicos e flexibilize
as atividades, diminuindo a quanti-
dade ou fracionando a mesma ativi-
dade do grupo em tarefas menores.
É previsto ter dificuldades para
registrar conteúdos no caderno;
gravar um vídeo ou podcast pode
ser mais fácil. Percebe a diferença?
O preenchimento do livro tam-
bém pode ser flexibilizado. Simpli-
fique o enunciado para facilitar a
compreensão, sugira pistas visuais
quando possível. Reduza a quan-
tidade para garantir a qualidade:
menos é mais.
O momento da atividade pode
ser mais leve, sem deixar de fazer
o que precisamos. Tenho certeza
de que estratégias planejadas desta
forma proporcionarão maior enga-
jamento, participação e autonomia
dos estudantes, inclusive aqueles
com deficiência.
Avalie o processo de apren-
dizagem
A avaliação é um processo con-
tínuo. Chegou o momento em que
podemos avaliar os alunos de forma
mais inclusiva.
16 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
Quem sabe gravar um podcast,
um vídeo ou a produção de um
jogo? Seu aluno com deficiência
poderá expressar o que aprendeu
com mais facilidade e você terá a
oportunidade de conhecer talentos
escondidos em seu grupo de alunos.
Quem sabe incluir a rubrica no
processo avaliativo? Essa também
é uma estratégia de avaliação muito
efetiva.
Interaja com a família
Seja empático com os pais; eles
também estão inseguros. Além de
todas as responsabilidades que já
tinham, precisaram lidar com os
filhos em tempo integral, e isso nem
sempre é fácil!
A presença e suporte deles é
fundamental para trabalhar com
estudantes com deficiência; pre-
cisamos ajudá-los nessa tarefa.
Interaja com a família, os inclua no
planejamento: ouça deles o que é
possível fazer, pois só assim estarão
comprometidos.
Promova estratégias para de-
senvolver a autonomia, organizar
o tempo e a rotina de estudo. Crie
um quadro de rotina onde o aluno
consiga visualizar as atividades
do dia, ensine a controlar o tempo
dedicado com alarmes ou outras
formas para promover a autono-
mia. Existem diversos aplicativos
para facilitar essa tarefa. Busque
algum que atenda a necessidade
do estudante.
Converse com o aluno
As conversas virtuais têm pro-
porcionado refrigério nestes tempo
de solidão. Aproveite este tempo
para ouvir seu aluno, acolher as
emoções e escutar deles como que-
rem ser ajudados.
Será uma oportunidade para
você ter insights para estratégias
mais inclusivas que comtemplem
todos os alunos, cada qual com sua
especificidade e característica. •
SILVIA FERRARESI
Atua com pessoas
com deficiência há
mais de 30 anos.
Parte desse período como educadora,
outra como fisioterapia neuro
pediátrica. Fisioterapeuta e pedagoga.
Mestranda em Intervenção Psicológica
no Desenvolvimento e na Educação,
na Universidad Europea del Atlantico.
Coach parental e escolar, especialista
no método neuroevolutivo bobath
básico e baby e produtora de conteúdo
para o curso Educação Conectada
do BNDES. Idealizadora do Inclusão
na Escola, empresa que atua na
formação continuada e assessoria para
professores e gestores.
 Bett Educar
Débora Thomé
EDUCAÇÃO E PANDEMIA:
o que acontecerá com o
ano letivo de 2020?
C
autela. Essa é, de uma
maneira geral, a palavra
de ordem que norteia to-
das as ações do setor educacional,
para lidar com as questões que
surgem em virtude da interrupção
das aulas presenciais em todo o
País, em decorrência da prevenção
da contaminação por Covid-19. É,
também, o que se lê nas entrelinhas
do parecer do Conselho Nacional
de Educação (CNE), que reúne
diretrizes aprovadas em plenário
virtual pelos 21 conselheiros, que
18 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
visam a orientar escolas da educa-
ção básica e instituições de ensino
superior durante a pandemia.
O Conselho reitera que aulas e
atividades não presenciais sejam
validadas como carga horária. O
documento, elaborado com a co-
laboração do Ministério da Educação
(MEC), orienta estados e municípios
a buscarem alternativas para mini-
mizar a necessidade de reposição
presencial de dias letivos. O objetivo,
com isso, é permitir que seja mantido
um fluxo de atividades escolares aos
estudantes enquanto durar a situa-
ção de emergência sanitária. Mas
também delibera que a organização
dos calendários é de responsabili-
dade dos sistemas de ensino.
“As escolas esperam que os
Conselhos Estaduais regulem
a educação no Estado para que
tenham regras mais claras, pois
dentro do País temos realidades
bem diferentes em relação ao índice
de contágio. Portanto, cabe a cada
estado, dentro de sua responsabi-
lidade com a população e com as

crianças, definirem seus calen-
dários, suas atividades e seu ano
letivo. É possível que 2020 termine
em 2021, dependendo das expecta-
tivas de aprendizagem que forem
propostas”, explicou Maria Alice
Carraturi, diretora de Conteúdo
da Bett Educar, maior evento de
inovação e tecnologia em Educação
da América Latina.
Esse mesmo alerta foi feito
pelo conselheiro do CNE Eduardo
Deschamps, um dos relatores do
parecer. Mas um dos pontos cen-
“É um momento histórico, nem
após a Segunda Guerra vivemos uma
situação dessa natureza”
trais dessa questão de concentrar
esforços, para mitigar efeitos do
afastamento social na educação,
por meio da continuidade do apre-
ndizado, de forma não presencial, é
garantir que a criança ou jovem não
perca o contato com a comunidade
escolar durante o tempo que durar
a pandemia.
“Um estudo da OCDE mostra
que um longo período de inativi-
dade escolar retrocede a apren-
dizagem dos estudantes. Isso é
obser vado mesmo durante as
férias escolares. Se nada for feito,
prejudicará não só o fluxo deste
ano, como também o do próximo”,
explicou o conselheiro. Ainda se-
gundo Deschamps, as redes de en-
sino devem buscar manter o aluno
ativo também para que o calendário
letivo possa ser cumprido. Isso
porque não será possível repor to-
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
Eduardo Deschamps
das as aulas. “Deve-se utilizar algu-
mas atividades para que o retorno
seja mais palatável. As orientações
para o retorno das aulas, quando
for possível, deverá ser bem plane-
jado e aos poucos”, disse o relator,
acrescentando que o CNE deverá
emitir outro parecer, com detalhes
e recomendações de protocolo de
abertura das instituições escolares
em todos os segmentos.
Para a diretora de conteúdo da
Bett Educar, a volta não deve ser
apressada. “Estamos vivendo no-
vas expectativas a cada semana. A
imprevisibilidade de abertura das
escolas e de outros serviços diante
do índice de contágio nos deixa
bastante inseguros. Sabemos que
não será fácil restabelecer a rotina
e uma nova deve se estabelecer, mas
precisamos priorizar o bem-estar
das pessoas.”
19
 Bett Educar

Maria Alice Carraturi

“As escolas esperam

que os Conselhos
Estaduais regulem a
educação no Estado
para que tenham
regras mais claras”

Retorno às aulas deverá

ser gradual e exigirá
reforço pedagógico
Países europeus que sofreram
milhares de perdas humanas, mas
conseguiram achatar a curva de
contágio, já dão os primeiros passos
para a volta às escolas. Portugal ini-
ciou a abertura pelos adolescentes
e jovens de anos finais. Na França,
que também está reabrindo escolas
‘em ondas’, porque alguns locais
precisaram paralisar as atividades
presenciais novamente em função
de novos registros de contamina- rem as escolas para a volta às aulas. Deschamps ainda indicou que
ção, as aulas serão intermitentes. Além de cuidados sanitários, todas no pós-pandemia as instituições
Na Alemanha, onde o governo agiu as soluções mostram o revezamen- de ensino planejem um período de
rápido para minimizar perdas em to de alunos, que não voltam todos acolhimento, inclusive emocional,
decorrência do lockdown, foi criado de uma vez. Os professores também dos alunos e professores. “É um
um protocolo rigoroso de retorno às deverão ter sua atuação modificada. momento histórico, nem após a
aulas que inclui uso de máscaras, Terão que trabalhar parte na escola, Segunda Guerra vivemos uma
distanciamento, revezamento, tro- parte on-line para os alunos que situação dessa natureza”, disse o
ca de materiais escolares, higieni- ficarão em casa. Precisará cuidar conselheiro do CNE, que também
zação, medição de temperatura, para não atuar em muitas turmas recomenda uma avaliação diag-
entre outras ações. diariamente”, revelou Maria Alice nóstica dos alunos. “Não necessari-
“Algumas escolas, inspiradas Carraturi, que também foi asses- amente um teste, mas uma análise
nos protocolos europeus, estão sora de Tecnologias na Educação e para entender se o aluno teve ou
elaborando seus protocolos. Mon- Formação de Professores da Secre- não condições de ensino e quais
taram comitês com professores, taria de Estado da Educação de São serão os planos de recuperação e
arquitetos, sanitaristas para prepa- Paulo (SEE-SP). reforços necessários”, disse. •

20 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020

 Gestão

O poder do feedback
na construção de
equipes vencedoras

Como essa ferramenta de gestão de pessoas pode contribuir para o alinhamento

das atividades, tornando o ambiente empresarial cada vez mais eficiente

U
ma pergunta que todos
os gestores deveriam
se fazer diariamente é:
quantos feedbacks você aplicou
hoje? Com o objetivo de encorajar
e criar confiança entre os profis-
sionais, bem como harmonizar todo
o ambiente interno de uma orga-
nização, a transmissão de feedback
é uma prática bem popular entre
as empresas de todo o mundo. Se-
gundo um estudo global realizado
pelo Top Employers Institute, que
entrevistou 600 empresas em 99
países, o método de medição de
desempenho é o preferido e o mais
eficaz entre as organizações.
Ainda de acordo com a pesquisa,
das 26 empresas brasileiras entre-
vistadas, todas estão empenhadas
em aprofundar a utilização desse
instrumento estratégico de gestão
de pessoas. Enquanto gestor, não
tenho dúvidas de que isso se jus-
tifica pelo fato de que o uso dessa
poderosa ferramenta está ligado
diretamente ao desempenho dos
profissionais, uma vez que é por
intermédio do feedback que todas
as atividades podem ser alinhadas
e, os erros, corrigidos.
Além disso, é importante ter
em mente que, com feedbacks bem
conduzidos, é possível reforçar as
relações interpessoais dentro da
organização. Neste ponto, compar-
tilho da visão do especialista em
Gestão, Hudson Félix, que acredita
que o feedback é uma via de mão
dupla, ou seja, merece colaboração
mútua, na qual tanto o líder quanto
seus colaboradores devem se sen-
tir igualmente responsáveis pelo
sucesso daquele momento.
No entanto, mesmo com esse
conceito já presente na realidade de
boa parte das instituições há alguns
anos, a transmissão de feedbacks
assertivos não é tão simples quanto
parece. Uma vez que ele ainda é
confundido por muitos colabora-
dores como o “momento da bronca
do chefe”, gerando tensão e ansie-
dade. Por isso, é importante que os
gestores busquem adotar práticas
que façam desse momento algo
simples e objetivo, que seja rece-
bido com clareza por suas equipes,
impactando suas motivações.
Pensando nisso, refleti sobre
alguns pontos que são indispen-
sáveis durante a transmissão de
um feedback realmente positivo.
São eles:
• Seja transparente
Um ponto primordial do bom
feedback é a sinceridade. Nesse
sentido, é importante que os ges-
tores apresentem os devidos reco-
nhecimentos que a equipe merece,
destacando pontos positivos e

22 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020


Um ponto
primordial do bom
feedback é a
sinceridade
demonstrando que todo o trabalho
valeu a pena e que será recompen-
sado. Do mesmo modo, é funda-
mental pontuar com honestidade o
que precisa ser melhorado, sempre
com tom motivacional, inspirando
os colaboradores a darem seu mel-
hor pela empresa.
• Esteja aberto ao diálogo
Para o sucesso de um feedback,
é fundamental que o líder consiga
expressar seus pensamentos e ideias
de modo assertivo, incentivando suas
equipes a darem o melhor pela com-
panhia. Além disso, é importante
construir pontes de diálogo, nas
quais o gestor possa falar o que pen-
sa, mas que também saiba escutar
o ponto de vista dos colaboradores,
construindo, assim, um ambiente
cada vez mais eficiente e harmônico.
•Mesmo
Torne essa prática contínua
sendo uma situação de-
safiante, é importante estabelecer
uma periodicidade para aplicação
de feedbacks. Posto isso, os líderes
devem tratar o assunto de forma
objetiva, porém sem transformar
o processo em algo desgastante e
ainda mais tenso. Ao fazer dessa
prática algo contínuo, é possível
traçar estratégias de desenvolvi-
mento pessoal e orientar os colabo-
radores para que, juntos, obtenham
resultados cada vez mais positivos
para a organização.
• Apresente soluções
Não basta destacar pontos posi-
tivos ou negativos. É preciso que os
gestores, sobretudo, apresentem
soluções às suas equipes, ou seja,
deem dicas de como crescer e de-
sempenhar assertivamente suas
atividades. Com isso, os profis-
sionais se tornarão cada vez mais
produtivos, desempenhando um
papel fundamental tanto no seu
próprio crescimento quanto no da
organização como um todo.
O líder e seu papel na transmissão
de feedbacks eficientes
Em todos os pontos apresenta-
dos anteriormente, o gestor exerce
um papel fundamental no processo
de feedback. Isso é natural, pois ele
– gestor – é o protagonista nesse
processo de feedback, ouvindo,
orientando seus colaboradores e
desenvolvendo práticas assertivas
em prol da transformação da cul-
tura de uma empresa.
Para tanto, diante de tamanha
responsabilidade, é preciso que ele
domine habilidades de comunica-
ção, como saber ouvir seus colabo-
radores e saber se expressar de
forma clara e objetiva. Além disso,
é preciso estar sintonizado com
todas as operações e equipes da
instituição, monitorando de perto
suas atividades para que as ações
estejam alinhadas com os objetivos
estratégicos da empresa.
É papel do líder, inclusive, pen-
sar em soluções rápidas e eficazes
para possíveis problemas. Por
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
tanto, manter um diálogo saudável
é indispensável. Por fim, o equilí-
brio e o respeito na transmissão de
feedbacks, tanto positivos quanto
negativos, é crucial!
Diante da importância do feed-
back, é essencial que o líder seja
capaz de ouvir, inclusive, avaliações
sobre seu próprio desempenho
enquanto gestor. Afinal, com críti-
cas construtivas é possível buscar
por ações que melhorem suas
atividades diárias, auxiliem em
seu crescimento profissional e até
pessoal, além de contribuir, sem
dúvidas, para a promoção de um
ambiente de trabalho harmônico.
Feedback: ferramenta eficaz
para um aprendizado contínuo
É notório que a transmissão do
feedback como uma ferramenta es-
tratégica de gestão de pessoas pode
gerar benefícios expressivos, como
a motivação dos colaboradores,
a construção de relações mais
próximas e harmônicas, equilíbrio
da organização como um todo e
sincronia das atividades diárias
com o plano estratégico.
Vale ressaltar ainda que esse
processo deve ser visto como uma
tarefa que requer aprendizado
contínuo, pois, em um ambiente tão
complexo e com mudanças frequen-
tes como é o nosso ecossistema de
negócios, errar é apenas uma das
etapas para o desenvolvimento dos
nossos colaboradores. Por isso, con-
tar com total apoio nesse processo
de transformação é a chave para o
sucesso de qualquer profissional! •
ALEXANDRE VELLILA
GARCIA
Pós-graduado
(PMD) pelo IESE
– University of
Navarra (2016) e MBA pelo INSPER
(2006). Formado em Ciências
Econômicas pela USCS e em Ciências
Contábeis pela UNISA. Membro
do Comitê Estratégico de CEO’s da
AMCHAM, Diretor Vogal do IBEF
(Instituto Brasileiro de Executivos
de Finanças) e membro do conselho
consultivo do CEAP. É presidente do
Cel.Lep, desde julho de 2017.
23
 Atividades
Ensinado
com arte,
na volta
às aulas
A
arte é o caminho para as
mudanças na educação.
Com a arte trabalhamos
a sensibilidade e a possibilidade das
relações criativas com o mundo.
Assim, o trabalho do professor
com a criança deve estar sempre
vinculado às atividades lúdicas e
artísticas, o que vai tornar a apren-
dizagem mais prazerosa para ela.
As atividades com histórias
estimulam a imaginação e a cria-
tividade da criança, ao mesmo
tempo em que vai explorar novos
conhecimentos ao despertar a
observação e atenção. Também vai
organizar ideias e pensamentos,
ampliar o vocabulário, enriquecer
experiências, além de proporcionar
liberdade de expressão e desen-
volver a sociabilidade.
Para as crianças, as histórias
ilustradas são mais interessantes:
24 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
gravuras, desenhos, bonecos, fan-
toches, dobraduras. Música, dra-
matização, artes visuais, são de
grande valia nessa atividade, uma
vez que as histórias cantadas e dra-
matizadas encantam as crianças.
Desde pequena, a criança dra-
matiza: ela associa a realidade à
fantasia e com frequência identifica-
se com o personagem. Isso acontece
quando os pequenos brincam no
mundo imaginário das histórias. As-
sim, nas histórias infantis, a criança
deverá participar ativamente, uma
vez que ao contar ou ouvir histórias
ela sempre projeta algo de sua vida.
Dessa forma, as artes visuais devem
integrar-se às atividades de ex-
pressão oral, corporal e escrita, uma
vez que uma ideia pode se expressar
em várias linguagens.
A criança poderá, por meio da ex-
pressão corporal, usar a mímica para
se expressar, imitar animais, pessoas,
meios de transportes e elementos da
natureza (vento, chuva, mar).
Como sugestão, o professor
poderá propor a criação de uma dra-
matização a partir da história con-
tada, em que a criança será a autora
dos diálogos, da expressão corporal,
da música e criação dos personagens:
bonecos de papel, fantoches, dobra-
duras. A criança poderá mudar toda
a história, mudar os personagens, ou
somente o final da história. O pro-
fessor poderá, também, fazer uma
releitura de uma história conhecida,
observando a faixa etária da criança,
seu desenvolvimento e sua área de
interesse. Se o professor tiver uma
formação adequada, essa prática
será constante em seu trabalho na
educação da criança.
Pelo que observei durante mi-
nha experiência como professora

do Curso de Formação de Profes-
sores, os alunos demonstravam
interesse em trabalhar com práticas
criativas e renovadoras. Alunos
desses cursos, que já lecionavam,
narravam experiências em sala de
aula muito interessantes e criativas.
Também, durante os estágios,
dentro da instituição de ensino,
observamos que os professores
da Educação Infantil reuniam-se
semanalmente para elaborarem
projetos artísticos muito criativos.
Cito dois projetos: a Turma da
Mônica e a obra de Salvador Dali.
Nesses projetos, toda a educação
infantil participava, e a seguir fa-
ziam uma exposição dos trabalhos.
As crianças se divertiam e apren-
diam muito.
Seguem atividades que poderão
ser realizadas na escola, após essa
crise porque passamos.
AS HISTÓRIAS
Faixa etária – 03 anos em dian-
te (crianças menores de 04 anos
poderão participar, desde que o
professor faça algumas adaptações
nas atividades).
- Tem como objetivo principal
desenvolver a imaginação e a cria-
tividade da criança por meio das
histórias em atividades lúdicas e
interdisciplinares, com fantoches,
bonecos, máscaras, dobraduras,
jogos, tendo como meta, a apren-
dizagem.
- Propor uma abordagem sobre
arte e literatura em atividades
com a criança, uma vez que, tanto
a arte como as histórias são de
grande relevância para formar
seres alegres, criativos e felizes.
1- ATIVIDADES
• Reunir as crianças em círculo e
contar a fábula A Formiga e a Cigarra.
• As crianças são incentivadas
a comentar a fábula e criar uma
releitura da mesma.
• Dando sequência, poderão ser
mencionadas as estações do ano,
diferenciando o frio do calor.
• Criar com as crianças uma
dramatização sobre as estações do
ano, informando as características
de cada estação.
• O cenário e as roupas serão
criados pelas crianças, utilizando
papel crepom, canetas e outros
tipos de materiais.
A partir da fábula A Formiga
e a Cigarra introduzir o assunto:
Trabalho.
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
• Mostrar uma gravura em que
pessoas estão trabalhando.
Sugestão: Apresentar uma ima-
gem da obra de Portinari: Café.
• Falar sobre o artista e comen-
tar a sua obra.
• Perguntar às crianças: o que
vê nesse quadro? Por que será que
Portinari pintava pés e mãos tão
grandes?
A par tir das respostas das
crianças, explicar que o artista
queria mostrar a luta do trabalha-
dor rural.
• Após essa observação da obra
Café, inserir outros assuntos, como
a vida rural, os trabalhadores, a
terra.
• Sobre a terra, de acordo com a
maturidade da turma, poderão ser
desenvolvidas atividades de mode-
lagem utilizando argila, em que a
criança deverá ter conhecimento
de onde vem esse material e, em
seguida, o plantio de sementes e
mudas de plantas.
• Ao falar sobre trabalho, brinca-
deiras que envolvam profissões
poderão ser desenvolvidas, traba-
lhando a expressão corporal: cada
criança faz uma mímica de uma
profissão (poderá ser a profissão
do pai, da mãe ou a que a criança
pretende seguir). As outras crian-
ças deverão descobrir a profissão
sugerida pela mímica.
Outra sugestão: recortar de revis-
tas gravuras de pessoas trabalhan-
do. Colar e desenhar livremente
com tinta guache ou giz de cera.
• Propor brincadeiras cantadas.
Temos como exemplo a música:
Marré de si, onde as profissões são
mencionadas e escolhidas pelas
crianças.
• Voltando à obra de Portinari,
desenvolver atividades sobre pés
e mãos. Em relação aos pés, além
de várias atividades, as crianças
poderão pintar a sola dos pés com
guache e andar sobre uma folha de
papel grande, dançando ao som de
uma música. No final, completam
a atividade utilizando pintura ou
colagem. A atividade poderá ser
em grupo.
25
 Atividades
CRIANDO COM AS MÃOS
Sugestão: música Pirulito que
bate, bate...
• A criança canta e bate palmas
ao ritmo da música, alternando as
mãos (direita e esquerda) com a
outra criança que está a sua frente.
Essa brincadeira tem como obje-
tivo despertar a percepção sobre
mão esquerda e direita.
ATIVIDADES DE
ARTES VISUAIS
• Numa folha de papel contornar
a mão utilizando caneta hidrocor.
A criança poderá preencher o de-
senho como quiser; depois, recorta
e cria outra composição com a sua
mão decorada. Sugestão: criação
de uma guirlanda com as mãos das
crianças.
26 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
Várias atividades poderão ser
criadas: pintura de blusas, com-
posições criativas, um teatro de
dedos pintados, brincadeira de
mindinho, seu vizinho, pai de to-
dos, fura bolo, mata piolho.
2- SEGUNDA ATIVIDADE
Releitura da fábula A Festa no
Céu (essa releitura consta do livro
Contar Histórias com Arte e En-
sinar Brincando).
• Relembrar a fábula original da
Festa no Céu.
• Chamar a atenção da criança
sobre os passos do coelho (rápidos)
e da tartaruga (lentos). A seguir,
organizar uma brincadeira em que
algumas crianças imitam os paços
do coelho e outras os paços da
tartaruga.
• De acordo com a história,
conversar com as crianças sobre a
modernidade: a televisão, o cine-
ma, o computador, os meios de
transportes.
• Sobre os meios de transportes,
construir, usando sucata (caixas de
fósforos, pasta de dentes, sapatos,
entre outras) carro, ônibus, car-
roça, trem, avião.
• Sobre festas, construir ins-
trumentos musicais, também uti-
lizando sucata: latas, copos de
iogurte, qualquer material que pro-
duza som, podem se transformar
em chocalho, tambor, entre outros.
• Criar instrumentos musicais
não convencionais: amassar, do-
brar, rasgar, balançar a folha de
papel. Ouvir o som de chaveiros,
tampas de panelas, batidas no chão
e na mesa, ouvir o som da natureza
e o barulho da rua.
Organizar uma banda de música
com esses sons.
• Criar pinturas e colagens sobre
meios de transportes e instrumen-
tos musicais.
• No final, com os instrumentos
de sucata, organizar uma banda de
música e uma festa no céu. •
AURORA FERREIRA
Graduada em
Desenho e
Artes Plásticas.
Especialista em Arteterapia/Educação
e Saúde e Tecnologia da Imagem.
Mestre em Ciências Pedagógicas.
Autora dos livros “Contar Histórias
com Arte e Ensinar Brincando” e “A
criança e a Arte – O dia a dia na sala
de aula” – (Wak Editora).
 Reflexão
Professor on-line?
Professor Virtual? Profyoutuber?
Desafios em tempo de pandemia e pós-pandemia.
O que será da escola?
A
tualmente, observamos
uma amplitude de infor-
mações e acesso ao uso
de tecnologia que têm invadido nos-
sas famílias, casas e todos os locais
em que vamos. Podemos observar
pessoas andando com o celular,
levando para os lugares como se
fosse um membro da família. Há
grupos de amigos, de trabalho,
de amigos mais próximos, de pais
na escola, de professores. Uma
avalanche de mensagens que, na
maioria, nos acompanha em todos
os lugares e em qualquer horário.
Este novo mundo digital invadiu
o meio acadêmico, não pelos profes-
sores, mas sim pela nova juventude,
que possui habilidades em lidar
com este volume de informações de
forma rápida. Muitos são os ques-
tionamentos. Até que ponto utilizar
tecnologia em sala de aula traz
benefícios para a aprendizagem?
Busca-se fazer uma ref lexão
ainda maior sobre como isto pode
afetar o campo da inteligência, dos
aspectos socioemocionais e, con-
sequentemente, da aprendizagem.
Atualmente, nosso país passa
por um período de pandemia, onde
todas as pessoas foram “obrigadas”
e não “convidadas” a permanecerem
em suas casas por muito tempo.
Neste ponto, tivemos que aprender,
reaprender, e criar novas situações
para adaptar-se a um momento que
não fazia parte do hábito.
Esse momento de isolamento
social gerou crises de depressão,
ansiedade e também tensão, em
aprender ferramentas tecnológi-
cas que não faziam parte do dia a
dia da escola. Foi necessária uma
mudança em aprender a aprender.
28 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
O que mudou, o que mudará e
o que era necessário mudar antes
mesmo da avalanche digital? Que é
preciso mudar e ter autoconsciên-
cia de gerenciamento de aula e da
escola, isto é fato. Quais impactos
a educação, a saúde e a sociedade
terão após o isolamento social?
Não sabemos ainda e não temos a
resposta.
As dificuldades enfrentadas
pela educação são imensas. Nin-
guém estava preparado para uma
educação emergencial: é necessário
aprender, reaprender e estar dis-
posto a enfrentar o novo, desafios
jamais esperados. Aprender tec-
nologia é simples para os alunos
que são nativos digitais, mas quase
que impossível para professores até
mesmo universitários. Conexões
que são instáveis, ruídos dos vizi-
nhos para gravar videoaulas, com-
putadores que não são compatíveis
às plataformas.
Neste momento é importante
que a inteligência emocional esteja
equilibrada e se consideramos o
professor um líder é preciso que
o mesmo tenha habilidades socio-
emocionais. Mas como?
Se o nosso cérebro aprende por
interação social e através de de-
safios, e o desafio estimula novas
sinapses, como saberemos se esta-
mos no caminho certo? Mudar, e
desafiar o novo, é algo que sustenta
a espécie humana.
Realizei uma pesquisa infor-
malmente com mais de 50 professo-
res sobre as mudanças enfrentadas
nesta época de aulas remotas e
nesta nova adaptação com aulas on-
line. Há muitos relatos que as aulas
e a nova aprendizagem foram boas,
 O que era
algo estreito
entre professor
e aluno passou
a ser família
e professor

aprenderam muito e foi favorável

todo este aprendizado.
Por outro lado, há muitos relatos
de professores trabalhando mais
horas do que em aulas presenciais
e em constante tensão, pois as
aulas saíram das paredes da sala
de aula, foram de forma abrupta
para dentro das casas das famílias
dos alunos. O que era algo estreito
entre professor e aluno, passou a
ser família e professor.
Há ainda queixas de famílias
que interferem na aula, não con-
cordam com as estratégias adota-
das pelo professor, somada a um
estresse de estarem conectados
o tempo todo. No ensino básico a
grande maioria são mulheres que
ao mesmo tempo em que dão aula,
cuidam dos filhos e da casa, são
chefes de família.
E ainda temos o fato das escolas
públicas que não conseguem man-
ter uma equidade e igualdade entre
todos. Alunos que não possuem o
básico para sua sobrevivência e a
educação fica em segundo plano.
Em contrapartida, as escolas par-
ticulares lutam para manter as
mensalidades e seu quadro de
funcionários.
Em meio ao caos econômico,
acadêmico e de saúde, encontra-se
os alunos nesta sociedade esmaga-
dora.

JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR

29
 Reflexão
Professores aprendendo, tentan-
do ser atores de um programa real,
são comparados aos youtubers,
mas não são! São professores, es-
tavam preparados para a interação
social, inclusão, conteúdo e lousa
com livro. Saíram da universidade
prontos, ou pelo menos deveriam,
para “dar aula” como muitos dizem,
para lidar com as salas, mesmo com
30, 35 alunos, não importa. Es-
tudaram, aproximadamente quatro
anos para isto, sem falar dos cursos
de especialização.
E em dias tudo mudou! O mun-
do mudou! A sala de aula virou
nossa casa, e agora?
O primeiro impacto é uma
incerteza. Percorrer um caminho
desconhecido.
O que será da sala de aula, da
escola e dos nossos alunos? Mudan-
ças emergenciais sim, porém, além
dos desafios enfrentados por todos,
é necessário acreditar que a escola
não será mais a mesma e nem os
professores, pós-pandemia.
Foi necessário um vírus tão
pequeno, que busca a sobrevivência
30 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
a qualquer custo, que as escolas se
viram frente à busca também pela
sobrevivência. Manter os alunos
“conectados” com a aprendizagem.
O aluno não foi “educado” a ter
aulas remotas; ele está acostumado
com o professor que prepara a aula,
passa as informações e no final che-
ca o conteúdo na avaliação. Muitos
conseguiram se adaptar, ter apoio
da família e, principalmente, ter
autonomia para buscar e aprimorar
seu aprendizado.
É neste ponto que entra também
a família como protagonista nestas
aulas remotas. Crianças que tinham
rotina dentro de casa, são organiza-
das, desde uma simples arrumação
no quarto e a guardar seus brinque-
dos, puderam ter benefícios neste
processo. Porque delas são exigidas
organização, autonomia e ação.
Percebam a importância da
educação familiar. Famílias desor-
ganizadas em que a rotina não fazia
parte do dia a dia tiveram e têm
mais dificuldades, pois a escola
direcionava a aprendizagem e agora
elas precisam assumir este papel.
O professor tem conseguido
dar aula em circunstâncias, que
muitas vezes, até ele não acredi-
tava. Para que possamos passar
por esta experiência de forma me-
nos traumática e com sucesso na
aprendizagem algumas dicas são
importantes:
- Organizar os horários de forma
que as aulas sejam as mais prazero-
sas possíveis;
- Permitir que haja diálogo entre
as crianças para que possam con-
versar com os colegas;
- Diálogo entre a escola e a famí-
lia são fundamentais neste período.
Há uma sobrecarga também fa-
miliar, muitos pais perderam seus
empregos ou estão lutando para
continuar empregados em home
office, mas ainda com a função de
cuidar da casa, dos filhos e acom-
panhar as tarefas escolares.
E a retomada? É preciso dialo-
gar com os alunos, acolher as tur-
mas e ver como estas crianças
estão, o que passaram, ter a in-
teligência emocional mais sensata
antes do conhecimento acadêmico.
 Inteligência Artificial e In-
teligência Emocional?
Goleman e Senge (2015) des-
tacam no programa de Apren-
dizagem Social e Emocional cinco
competências que são ensinadas
neste programa e que deveriam ser
adotadas em todas as escolas. São
elas: autoconsciência, autogestão,
empatia, habilidade social e boa
capacidade de tomada de decisões.
Apesar de sua obra ter sido
escrita anos antes da pandemia,
nunca se tornou tão atual. “Nomear
as emoções com precisão ajuda as
crianças a ter mais clareza acerca
do que está acontecendo ...é ne-
cessário para tomada de decisões
lúcidas e para administrar as
emoções ao longo da vida.”
Muitos
conseguiram se
adaptar, ter apoio
da família e,
principalmente,
ter autonomia
para buscar e
aprimorar seu
aprendizado
É exatamente isto que levanta-
mos, o tempo demasiado que o
jovem interage com a tela deve ser
revisto. As habilidades humanas
citadas por Goleman podem ser
desenvolvidas sim com o uso da
tecnologia, porém devem ser reali-
zadas com cuidado.
A empat ia, habilidades de
conhecimento de si e do mundo,
compaixão e valores sociais se
constroem com interação e com
diálogo. Este é o ponto que temos
que refletir: como voltaremos pós-
pandemia?
Independente de aulas presen-
ciais ou remotas é preciso rees-
truturar o eu interno, a busca
pelo equilíbrio emocional, uma
inteligência interpessoal, que é a
maneira como construímos nos-
sas relações com o outro, e como
interagimos com as diferenças e
semelhanças de atitudes ou de va-
lores. Se o equilíbrio emocional, a
escuta e as habilidades de interação
são bem estabelecidas, o conteúdo
programático será recuperado.
A mudança já aconteceu, não
seremos mais os mesmos, a es-
cola, a família; e o aluno teve que
se adaptar às mudanças, teve que
aprender e buscar conhecimento e
informação. É nesta mudança tão
necessária que a escola passou que
transforma a postura do professor e
REFERÊNCIAS:
AGUILAR, R. Metodologias Ativas e Educação 5.0. São Paulo: Editora Edicon, 2020.
GOLEMAN, D; SENGE, P. O foco triplo- uma nova abordagem para a educação. Rio
de Janeiro: Editora Objetiva, 2015.
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
do aluno como seres em constante
aprendizado.
Os recursos tecnológicos estão
à nossa frente, não há como negá-
los, é preciso fazer bom uso destas
ferramentas, é essencial que tanto
aluno quanto professor saibam que
o conhecimento é gerado pela inte-
ração e provocação, por mais per-
guntas e menos respostas prontas.
Trabalhar com uma educação
com metodologias ativas é sair da
ferramenta pela ferramenta e am-
pliar competências socioemocio-
nais: é gerir nossas emoções e saber
fazer escolhas sábias para que a
aprendizagem seja realmente cria-
tiva, imaginativa e encantadora.
Acreditar na mudança é acredi-
tar que mudar é preciso e ninguém
obtém isto sozinho. Precisamos uns
dos outros. •
RENATA AGUILAR
Mestranda em
Intervenção
Psicológica do
Desenvolvimento; Neuropsicopedagoga
com extensão em Neuropsicologia.
Psicopedagoga, Especialista em
Gestão e Administração Escolar.
Graduada em Educação Física
e Pedagogia. Especialista em
Alfabetização e Matemática. Professora
e Coordenadora Pedagógica. Autora
de livros, entre eles, “Neurociência
aplicada à educação e metodologias
ativas e Educação 5.0”.
31
 Segurança Digital
P
ara o uso das platafor-
mas digitais, é bem pos-
sível que um expressivo
número de alunos e professores
estejam preparados. Já com rela-
ção ao quesito segurança, além do
termo parecer um tanto amplo, a
funcionalidade e “valor agregado”
tendem a ser os fatores que mais in-
teressam e representam prioridade
quando o assunto é “tecnologias
educacionais”. Mas este olhar deve
mudar e, se você ainda não sabe o
motivo, entenderá ao ler este artigo.
Cada dia que passa nos sur-
preendemos mais com os incríveis
avanços tecnológicos e, mais ainda,
com o potencial que estes vem
representando no universo edu-
cacional.
A partir de novos recursos e
oportunidades, professores inovam
suas metodologias e estratégias
pedagógicas. Graças a plataformas
educacionais, transformam signifi-
cativamente o processo de ensinar
32 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
e, por conseguinte, o de aprender.
O fácil acesso à informação, a pos-
sibilidade de interação entre alunos
e professores, as descobertas e
trocas de conteúdos pedagógicos
relevantes, inovadores e ainda, o
inimaginável ensejo de contínua
e “automática” avaliação de de-
sempenho, não somente tende a
otimizar exponencialmente os
resultados, como, também, imple-
mentar práticas cada vez mais
customizadas e centradas no aluno.
Contudo, sempre que optamos
por gozar dos benefícios das novas
tecnologias, seja por meio de um
aplicativo, plataforma, site ou,
até mesmo, quando desejamos
usufruir do acesso à determinada
informação ou meio de entre-
tenimento oferecido, por exemplo,
através de um jogo on-line, concor-
damos, inequivocamente, que da-
dos pessoais – que nos identificam
ou nos tornam identificáveis, sejam
coletados e tratados.
E se pensarmos que os dados
pessoais a que se referem são de
titularidade de crianças e adoles-
centes? Sim, um sinal de alerta,
ainda maior, deve soar.
Antes de tudo, vale lembrar que
em termos legais, crianças são su-
jeitos de direitos, como quaisquer
pessoas. Aliás, considerando sua
condição peculiar de ser em desen-
volvimento, fazem jus a um trata-
mento diferenciado, não sendo exa-
gero afirmar que dispõem de mais
direitos que os próprios adultos.
Nesse sentido, a Convenção sobre
os Direitos da Criança, adotada pela
Organização das Nações Unidas em
1989 e vigente desde 1990, acolhe a
“concepção do desenvolvimento in-
tegral da criança”, reconhecendo-a
como verdadeiro sujeito de direito,
que exige proteção especial e ab-
soluta prioridade. No que tange ao
dever de garantir sua privacidade,
o artigo 16 do documento é claro ao
dispor que a lei deve protegê-las de

Aos usuários
deverá ser
conferido o
pleno direito
de saber para
qual finalidade
exata seus dados
estão sendo
coletados, como
serão tratados,
onde serão
armazenados
e como serão
apagados
ataques ilegais à sua forma de vida,
família, lar, honra e ao bom nome.
Diante desta ampla e indis-
cutível preocupação, podemos
afirmar que a Lei Geral de Proteção
de Dados (LGPD) brasileira, san-
cionada em agosto de 2018 e com
início de vigência previsto para
agosto de 2020, representa mais
um importante marco legislativo
em defesa dos direitos da criança e
do adolescente, já que dedicou o ar-
tigo 14 para assegurar, com especial
atenção, a privacidade deste grupo.
Essa proteção específica de-
verá aplicar-se, nomeadamente,
à utilização de dados pessoais de
crianças e adolescentes para efeitos
de comercialização ou de criação de
perfis de personalidade, bem como
ao recolhimento de dados pessoais
em relação às mesmas, quando da
utilização de serviços, on-line ou off-
line, oferecidos diretamente a elas.
Vale destacar que, nos termos da
LGPD, tudo o que se refere a dados
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
pessoais, não somente de crianças
e adolescentes, deve submeter-se à
norma. Devem ser consideradas as
bases de processamento estabeleci-
das no artigo 7º, sempre e antes de
se coletar quaisquer informações
relativas a uma pessoa singular
identificada ou identificável, seja
adulto, criança ou adolescente,
seja de forma física ou digital. Uma
dessas bases de tratamento é o con-
sentimento. Em poucas palavras,
aos usuários deverá ser conferido
o pleno direito de saber para qual
finalidade exata seus dados es-
tão sendo coletados, como serão
tratados, onde serão armazenados
e como serão apagados quando por
seu titular assim for solicitado.
Logo, se para funcionalidade e
eficácia plena de uma plataforma
educacional, determinados da-
dos pessoais forem imprescindí-
veis, a transparência acerca do
propósito da coleta dos dados é
uma condição fundamental para
o seu tratamento, assim como o
consentimento.
Ainda, importante destacar que
referida lei deixa claro que o uso
de dados além do necessário,
e fora do estabelecido com o
usuário, passa a ser considerado
ato ilícito e passível de punição,
assim como o seu armaze-
namento, quando esses dados
não têm mais utilidade.
Tendo, pois, a escola um papel
tão importante no desenvolvi-
mento do ser humano e onde se
passa a maior parte da infância e
da adolescência, não poderia deixar
de inovar. Inovar na introdução das
novas tecnologias da informação e
comunicação à proposta pedagógi-
ca, inovar no uso das ferramentas
tecnológicas que otimizam proces-
sos administrativos e educacionais,
além de, claro, inovar capacitando
discentes e docentes para o melhor
e mais seguro proveito de tudo
o que vem sendo continuamente
oferecido nesta nova era.
Aliás, podemos dizer que uma
instituição de ensino efetivamente
preparada para os desafios da era
33
 Segurança Digital
digital é aquela que compreende o
quão invasivo e violador pode ser
o compartilhamento ou o vaza-
mento de dados pessoais, os quais
dispõem por força da relação esta-
belecida com seu aluno.
Coletar, armazenar, tratar, e pro-
cessar dados pessoais de terceiros
requer muita responsabilidade,
sobretudo quando se trata de dados
de crianças e adolescentes. Profes-
sores, famílias e os próprios alunos
precisam estar plenamente cientes
sobre cada um dos propósitos que
justificam a coleta de seus dados e
a forma como eles serão utilizados.
Ainda sob este aspecto, im-
portante esclarecer que, uma
vez coletados dados de alunos
para uma finalidade específica,
seu aproveitamento para outro
propósito não expressamente
definido e apresentado quando
da obtenção do consentimento
da coleta é visto, à luz da LGPD,
como um ato ilegal.
Daí a importância de, a partir
do disposto na norma, verificar
se todos os dados coletados e dos
quais atualmente dispõem para o
uso de plataformas digitais são, de
fato, imprescindíveis ao cumpri-
mento de seu objetivo maior. Na
oportunidade, devem desenvolver
mecanismos e diretrizes que ga-
rantam a coleta somente daqueles
dados necessários e sua segurança.
Ou seja, por mais habitual e
aparentemente inofensivas que
34 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
Coletar, armazenar, tratar, e processar
dados pessoais de terceiros requer muita
responsabilidade, sobretudo quando se trata
de dados de crianças e adolescentes
determinadas práticas possam pa-
recer no âmbito escolar, podem ser
consideradas abusivas de acordo
com o que dispõe a LGPD. Para es-
tar em conformidade com a LGPD,
todo e qualquer projeto deverá ter
como prioridade não só a sua uti-
lidade e valor agregado, mas, tam-
bém, proteger os dados pessoais e
a privacidade dos envolvidos, assim
como toda inovação que demande
o acesso a informações pessoais ter
como foco principal garantir aos
titulares a segurança e proteção
necessárias. A ideia é a de que o
risco à privacidade seja sempre
considerado, de forma que medi-
das de prevenção sejam contínua e
cuidadosamente adotadas.
Outro ponto que merece espe-
cial atenção é sobre conhecer os
fornecedores dos serviços que con-
tribuem para a inclusão digital e fo-
mentam a utilização das inúmeras
ferramentas e possibilidades que
prometem deixar o processo ensino-
aprendizagem mais dinâmico,
interativo e customizado. Isso fará
toda a diferença. Certificar-se de
que estão alinhados com as exi-
gências da LGPD é imprescindível
para mitigar riscos de incidentes
e comprovar a diligência de quem
contratou o serviço.
Diante do atual cenário, é fun-
damental que se comece a praticar,
desde já, além do dever social de
conscientização geral acerca do
tema, também o dever legal de
implementar todas as regras es-
tabelecidas pela Lei Geral de Pro-
teção de Dados, já que as sanções
previstas na norma independem de
incidentes de segurança ou vaza-
mentos, ou seja, para estar sujeito
às advertências ou multas, basta
agir em desconformidade com a
mesma. •
ALESSANDRA BORELLI
Advogada, sócia e
diretora executiva
da Nethics Educação
Digital e da Opice Blum Academy;
professora convidada dos cursos
Proteção de Dados e Direito Digital
do Insper e FAAP. Autora de diversos
livros, artigos e cartilhas relacionados
a Proteção de Dados, Educação e
Direito Digital e palestrante no Brasil
e exterior, tendo participado da Bett
Show, do LearnIT - London/2019 e do
International Society for Technology in
Education (ISTE) - Philadelphia/2019.
 Saúde
Desafios e reflexões: protocolos em saúde
para reabertura das escolas
A
pandemia de Covid-19 e
o início da quarentena
trouxeram o fechamento
das escolas e, simultaneamente, inú-
meras preocupações e incertezas
para gestores, equipes escolares
e famílias. Alguns dos desafios
enfrentados no momento foram
a rápida adaptação para aulas a
distância, a manutenção dos alu-
nos e a gestão financeira. Agora,
com a possibilidade de reabertura
das escolas e o retorno das aulas
presenciais, mais um desafio se
coloca diante dos gestores: como
reabrir com segurança e transmitir
confiança às famílias e aos alunos?
Antes de tudo, esse tema precisa
ser pensado e amplamente discu-
36 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
tido para que as escolas possam
se planejar, realizar as adaptações
necessárias e implantar protocolos
de saúde e segurança que garantam
um retorno de forma a minimizar o
perigo da transmissão de Covid-19
e os riscos aos alunos e à equipe
escolar.
Podemos acompanhar a expe-
riência de retorno às aulas em
outros países e aprender com ela.
Se, por um lado, falta orientação de
autoridades sanitárias para reaber-
tura das escolas em nível local, por
outro, há diversas recomendações
de órgãos internacionais como a
OMS – Organização Mundial da
Saúde e UNICEF e publicações
científicas que dão respaldo à
elaboração de protocolos para nos-
sas escolas.
A criação de protocolos de saúde
para a retomada das aulas com-
preende um grande número de
ações, que vão desde o acesso de
funcionários e alunos ao ambiente
escolar até os detalhes de cada área
interna e seus respectivos processos.
Os protocolos devem contem-
plar, prioritariamente, os seguintes
•
aspectos:
Distanciamento social – re-
duzir o contato pessoal e evitar
aglomerações, tanto nos espaços de
sala de aula como em refeitórios e
entrada/saída de alunos. Evitando
também eventos escolares neste
momento.
 • Uso de máscaras – de acordo
com as recomendações do Ministé-
•
rio da Saúde e autoridades locais.
Higiene das mãos – ampliar
os pontos de pias para lavagem das
mãos com disponibilidade de sabo-
•
nete neutro e papel toalha.
Limpeza e desinfecção das
áreas – estabelecer procedimentos
claros sobre higienização de am-
bientes, inclusive salas de aula, ba-
nheiros e refeitórios, com especial
atenção aos locais de circulação e
superfícies tocadas com frequência
•
como corrimão e maçanetas.
Horários – reorga niza r
horários de intervalos e refeições,
alternando horários entre as tur-
mas e reduzindo o número de pes-
•
soas nos espaços.
Estrutura – adequar espaços
de sala de aula e refeitórios quanto
à capacidade de pessoas, respeitan-
do o distanciamento estabelecido
entre as pessoas; instalação de la-
A criação de protocolos
de saúde para a
retomada das aulas
compreende
um grande número
de ações
vatórios para as mãos em pontos es-
tratégicos e suficiente ao número de
• •
alunos e adaptação de bebedouros.
Berçários – atualizar proto-
colos de troca de fraldas, roupas de
cama, banho, alimentação dos bebês,
preparo e higienização de mamadei-
•
ras, desinfecção e uso de brinquedos.
Saúde do aluno – atualizar
fichas de saúde considerando o
cenário atual e estabelecer condu-
tas para avaliação diária do estado
• •
de saúde.
Equipe escolar – monitorar o
estado de saúde dos funcionários
seguindo recomendações das au-
toridades para aqueles que apre-
sentarem sintomas e disponibilizar
uniformes e EPI (Equipamentos de
Proteção Individual) necessários ao
•
enfrentamento da pandemia.
Ventilação – manter uma boa
ventilação nos espaços, preferen-
cialmente natural, e na impossibi-
lidade desta, estabelecer procedi-
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
mentos de limpeza de equipamen-
tos de ventilação e ar condicionado
com maior frequência.
Plano de contingência –
definir condutas para casos con-
firmados de Covid-19 e planejar
espaços reservados para alunos/
funcionários que apresentarem
sintomas até que sejam direcio-
nados aos serviços de saúde, bem
como estabelecer procedimento de
desinfecção para reabertura após a
confirmação de casos.
Segurança dos alimentos – atua-
lizar procedimentos de boas práticas
em toda cadeia, contemplando do
recebimento até a distribuição.
Dentre os aspectos citados para
elaboração dos protocolos, desta-
camos os cuidados relacionados à
alimentação. Até o momento, não
há evidências da transmissão do
novo coronavírus pelos alimentos.
Entretanto o tempo de persistência
do vírus em diferentes superfícies e
37
 Saúde
suas características de transmissão
podem trazer riscos de contamina-
ção nos ambientes de cozinhas e re-
feitórios, seja pelo contato de mãos,
utensílios ou outras superfícies.
Para a reabertura, a fim de
auxiliar as escolas no tocante a
segurança dos alimentos em re-
lação à Covid-19, elaboramos um
roteiro com as ações que devem ser
priorizadas:
38 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
Acreditamos
que apenas com
informação e
ações efetivas
seja possível
uma reabertura
das escolas
com segurança
e confiança
1. Disponibilize treinamento
em segurança dos alimentos para a
equipe de cozinha, e todos aqueles
envolvidos no momento da refeição,
com foco nas condutas relacionadas
aos cuidados da Covid-19.
2. Mantenha o controle de
saúde da equipe de cozinha em
dia, seguindo as orientações das
autoridades sanitárias quanto às
condições de saúde e realização de
exames médicos específicos para
manipuladores de alimentos.
3. Garanta que os funcionários
tenham uniformes em quantidade
suficiente para troca diária e para
uso exclusivo dentro do ambiente,
inclusive calçados de segurança
para equipe de cozinha.
4. Disponibilize pia exclusiva
para lavagem das mãos com sa-
bonete líquido, papel toalha não
reciclado e álcool gel, garantindo a
frequente higienização das mãos,
que reduz as chances de contamina-
ção pelo coronavírus e por diversos
agentes causadores de doenças
transmitidas por alimentos.
5. Forneça máscaras em núme-
ro suficiente para trocas a cada 2
– 3 horas. E, no caso de máscaras
de tecido, oriente a equipe quanto
aos corretos procedimentos de
manuseio e higienização.
6. Nos berçários, atualize os
POPs (Procedimentos Operacionais
Padronizados) para higienização
de mamadeiras, bicos, copos de
transição e chupetas utilizando,
preferencialmente, a desinfecção
por uso do calor (fervura), após a
lavagem com água e detergente.
7. Atualize os procedimentos
de manejo de resíduos (lixo), au-
mentando a frequência de retirada
do lixo, higienização das lixeiras e
uso de EPI, como luvas de borracha
e aventais plásticos, exclusivos para
essa tarefa.
8. Separe uma área para recebi-
mento de materiais e alimentos, de
forma a realizar a higienização prévia
dos itens com álcool 70%, antes que
sejam levados para áreas internas.
9. Substitua bebedouros de
pressão e mantenha apenas aqueles
utilizados para encher copos ou
garrafas individuais. Realize a
higienização diariamente da área
externa do equipamento e a troca
do elemento filtrante de acordo com
as recomendações do fabricante.
10. Atualize e monitore a aplica-
ção dos POPs de higiene ambiental,
que inclui todas as estruturas como
paredes, pisos, portas, mesas e
afins, respeitando as orientações
dos produtos e respectivas concen-
trações, que devem ser adotados
para o momento da pandemia, de
acordo com as novas notas técnicas
publicadas pela Anvisa.
11. Reavalie a forma de higieni-
zação dos utensílios de consumo e
utilize, preferencialmente, máqui-
nas de lavar profissionais que reali-
zam a lavagem com altas tempera-
turas que são importantes para a
eliminação do vírus. Na impossibili-
dade de uso de máquinas, revise os
procedimentos adotados, a fim de
garantir que além da lavagem com
água e detergente seja realizada
também a desinfecção com álcool
70%, ou solução de hipoclorito de
sódio. Na impossibilidade destes,
faça a opção por itens descartáveis,
preferencialmente biodegradáveis.
12. No refeitório, diminua o
número de funcionários e alunos
por turno, de forma a manter o
distanciamento, e inclua intervalos
entre os turnos, para que se possa
garantir a higienização adequada
de mesas e cadeiras.
13. Faça adaptações nos ser-
viços de buffet e autosserviço. Neste
momento não é aconselhável o au-
tosserviço; portanto, como alterna-
tiva, disponibilize um funcionário
treinado para essa finalidade. No
buffet, faça adaptações e instale
proteção de vidro ou acrílico, que
reduza a exposição dos alimentos e
o contato com os usuários e alunos.
14 . Ev ite ativ idades como
lanches coletivos ou o compartilha-
mento de lanches durante o período
da pandemia.
15. Nas cantinas escolares,
reduza o fluxo de dinheiro e, prefe-
rencialmente, utilize pagamento
por meio de cartões específicos,
por aproximação ou outras alter-
nativas que reduzam o contato. É
importante que o funcionário que
realizar o atendimento e manuseio
de cartões e/ou dinheiros não tenha
contato com a entrega dos produtos
e alimentos.
16. Estabeleça um check list de
acompanhamento para os protoco-
los implantados.
Sugerimos, ainda, estruturar a
retomada no âmbito da saúde em
cinco etapas (vide gráfico ao lado).
Acreditamos que apenas com
informação e ações efetivas seja
possível uma reabertura das es-
colas com segurança e confiança.
Desta forma, para além da idea-
lização, este artigo visa discutir
a premente retomadas das aulas
propondo reflexões e ações fun-
damentais. •
VIVIAN ZOLLAR
Nutricionista e
técnica em Nutrição
com especialização
para equipes multidisciplinares e
mestrado em Ensino de Ciências
da Saúde pela Unifesp. Atuação em
consultoria em escolas e segurança dos
alimentos. Fundadora da Qualy Food
e sócia do Grupo Tria – Consultoria e
Treinamento. Voluntária no grupo de
trabalho e acompanhamento do Plano
Municipal de 1ª Infância da cidade de
São Paulo. Conselheira do Conselho
Regional de Nutricionistas da 3ª região
(CRN-3) na gestão 2017-2020.
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
39
 Covid-19

Pandemia e desinfecção nas escolas: forma continua e homogênea em

todas as superfícies visíveis e es-
como vencer esse desafio condidas. Isso garante uma espécie

E
de envelopamento das superfícies e
m breve as escolas estarão retomando as au- elementos do ambiente escolar, seja
las, e deverão incorporar diariamente uma qual for o projeto arquitetônico do
série de procedimentos, principalmente os local. A própria escola tem autono-
cuidados com a saúde dos alunos para evitar o risco de mia em desinfectar diretamente por
contaminação de Covid-19. Como será essa volta às au- meio de seu pessoal de limpeza ou
las? De que forma proceder à desinfecção e higienização se utilizar de empresa terceirizada.
dos ambientes escolares? Que produtos ou tecnologias Mas esses procedimentos exigem
pode-se utilizar? Para conversar sobre essas questões ouvimos o fundador treinamento, tanto dos funcionários
e CEO da Continuum Chemical, Maurizio Bortali. quanto dos terceirizados, a fim de
Em quais segmentos a Con- das famílias dos alunos. Atuamos obter rapidez na aplicação do produto
tinuum atua? E há quanto tendo com referência os protocolos desinfectante, bem como a garantia
tempo? hospitalares, que são os de mais alta da eficiência.
A Continuum (www.continuum exigência em resultados, onde os
chemical.com.br) atua no mercado produtos de desinfecção já cumprem Quais seriam os critérios
desde 2000, e adquiriu um expertise seus objetivos, sendo comprovada- para desinfecção dos ambien-
muito grande em desinfecção e hi- mente eficazes no combate a vírus tes escolares?
gienização de ambientes, desde hospi- e bactérias (H1N1-SARS-MARS- As desinfecções ambientais de to-
tais privados de referência – em UTIs COVID-19, hepatite), como outros dos os locais, dentro de uma unidade
e Centros Cirúrgicos – a escritórios, agentes contaminantes (fungos, escolar (berçário, educação infantil,
shoppings, indústrias e escolas. A odores, bolor etc.), permitindo que ensinos fundamental I e II, ensino
pandemia de Covid-19 vem exigindo as escolas também possam usufruir médio e outros), devem obedecer a
de todos os setores da sociedade a dessa experiência positiva. critérios de periocidade e método,
revisão imediata de seus padrões de atendendo as exigências de cada
limpeza, desinfecção de ambientes e Que tecnologias são em- caso. A aplicação e o resultado final,
superfícies, sobretudo no segmento pregadas para realizar a após a nebulização do produto, não
escolar, que lida com a elevada circu- desinfecção? Quem poderia devem exceder a 10 minutos para
lação de bebês, crianças, adolescentes aplicar os produtos? a eliminação dos vírus e bactérias
e adultos, elevando ainda mais a Como exemplo podemos citar existentes no ambiente, visando a
responsabilidade das escolas. a tecnologia química Desifec Vital rápida liberação dos locais e não
Action que, associada ao equipa- comprometendo a operação da uni-
Vocês adotam processos e mento de pulverização eletrostática, dade escolar.
protocolos diferentes para as possui características inovadoras, É essencial que a escola exija
escolas? cumprindo todas as exigências da que os produtos a serem utilizados
O grande desafio dessa situação ANVISA e da FDA (agência dos tenham laudos comprovatórios de
envolve a implantação de novos EUA que regula medicamentos), eficiência e atendam a regulamenta-
processos e protocolos exigidos pelos bem como da OMS. O diferencial ção e exigências da ANVISA. E que a
órgãos reguladores da saúde e educa- neste sistema está na característica formulação química do produto não
ção, sem inviabilizar a rentabilidade, eletrostática do equipamento, que seja agressiva, devendo ser inodora e
e garantir a segurança de todos eletrifica a névoa do produto, per- totalmente compatível com as mais
no ambiente escolar, além, é claro, mitindo aplicar o desinfectante de diversas superfícies encontradas
dentro de uma unidade escolar.
Importante também observar que,
ao selecionar equipamentos para
auxiliar no processo de desinfecção,
sejam seguidas as recomendações
da ANVISA, a fim de evitar riscos
de falta de eficiência ou uso de tecno-
logias não compatíveis – como, por
exemplo, pulverizadores agrícolas
ou de combate a insetos, comprome-
tendo e colocando em risco todos os
que utilizarem esses ambientes. •

40 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020


EMPRESAS INDIVIDUAIS DE
RESPONSABILIDADE LIMITADA –
O FIM ESTÁ PRÓXIMO?
E
m julho/2011, a Lei 12.441
criou as “Empresas In-
div iduais de Respon-
sabilidade Limitada (EIRELI)”.
Referida lei, que alterou o Código
Civil criando o artigo 980-A, em
síntese, permite, desde 2012, que
uma única pessoa (física ou jurídi-
ca) possa constituir uma empresa
individual sem o comprometimento
de seu patrimônio pessoal, algo
possível, até então, apenas para as
SOCIEDADES LIMITADAS que,
obrigatoriamente, deveriam contar
com duas ou mais pessoas em seu
quadro societário.
Contudo, a EIRELI possui duas
limitações importantes, a saber:
- A pessoa natural (pessoa físi-
ca) pode ser titular de apenas UMA
única empresa nessa modalidade;
- O capital social mínimo
de uma EIRELI deverá corre-
sponder ao valor de 100 (cem) sa-
lários mínimos nacionais (em 2020:
R$ 104.500,00), devendo ser total-
mente integralizado no momento
da constituição da empresa. É
um valor muito alto para a reali-
dade de um país onde os micro e
pequenos negócios são maioria e
empregam milhões de pessoas.
Isso é totalmente perceptível pelo
número crescente de MEI’s (Micro-
empreendedores Individuais) para
negócios com faturamento anual de
até R$ 81.000,00 (percebam que
o faturamento ANUAL permitido
para o MEI é 22,5% menor que o
capital social mínimo para a cons-
tituição de uma EIRELI).
Assim, a EIRELI não é uma
modalidade que atende a todos e
a promessa de que o empresário
não precisaria mais “pedir favores”
para que um parente ou amigo
figurasse como sócio da empresa
(requisito até então obrigatório
para as sociedades limitadas: plu-
ralidade de sócios), caiu por terra.
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
Jurídico
Nos últimos anos, na maioria dos
casos, as EIRELI’s atendem neces-
sidades de empresários já estáveis
e estabelecidos, que visam um
melhor planejamento de seus negó-
cios, bem como a proteção de seu
patrimônio. Em geral, não atende
o “empreendedor de primeira via-
gem”, que tem mais vontade do que
recursos financeiros no momento
da abertura de seu negócio.
Em que pese o fato de o modelo
de EIRELI não ser acessível para a
maioria dos empreendedores nacio-
nais, a limitação de ter apenas uma
única empresa nessa modalidade
desencoraja os empresários a cons-
tituir empresas dessa natureza, já
que não se “libertam” do formato
da limitada convencional em outros
empreendimentos.
Ao que tudo indica, após oito
anos, referido problema foi “sa-
nado” com a conversão da Me-
dida Provisória nº 881/2019 na
41
Lei nº 13.874/2019 em 20/9/2019,
a chamada “Lei da Liberdade
Econômica”. O legislador entendeu,
por bem, alterar o artigo 1.052 do
Código Civil, que passou a ter a
seguinte redação:
“Art. 1.052: Na sociedade limi-
tada, a responsabilidade de
cada sócio é restrita ao valor
de suas quotas, mas todos res-
pondem solidariamente pela
integralização do capital social.
§ 1º A sociedade limitada pode
ser constituída por 1 (uma) ou
mais pessoas.
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-
se-ão ao documento de consti-
tuição do sócio único, no que
couber, as disposições sobre o
contrato social. ”
Assim, com o advento da nova
Lei, a obrigatoriedade da plu-
ralidade de sócios nas sociedades
limitadas caiu por terra, per-
mitindo que uma SOCIEDADE
possa ser composta por uma ou
mais pessoas, tornando o termo
SOCIEDADE, no mínimo, bastante
“impreciso” para os casos em que
a empresa for unipessoal (a pessoa
passou a ser “sócia” dela mesma?).
Caso o legislador tivesse optado
por retirar as restrições para a
constituição de uma EIR ELI,
talvez as confusões pudessem ser
minimizadas e a aplicabilidade das
EIRELI’s pudesse ser finalmente
“popularizada”.
De toda forma, as EIRELI’s não
foram extintas e podem continuar
sendo constituídas, observadas as
restrições previstas em Lei.
Também não existem impedi-
mentos para uma EIRELI transfor-
mar-se em SOCIEDADE LIMITA-
DA ou vice-versa. Ainda, diferente
da EIRELI, não há limitação para
que uma pessoa física seja “sócia
dela mesma” em várias SOCIE-
DADES LIMITADAS, podendo
figurar como sócia em uma ou mais
empresas dessa natureza.
A seguir, um quadro comparativo
entre os dois modelos de empresa:
42 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020
EIRELI SOCIEDADE LIMITADA
Limitada, desde que Limitada, desde que
Responsabilidade do
o capital social esteja o capital social esteja
titular/sócio da empresa
totalmente integralizado totalmente integralizado
Número de pessoas Uma ou mais pessoas
necessárias para a Apenas UMA (não há limite para o
constituição número de sócios)
Restrições para pessoas
Uma por pessoa natural
naturais figurarem como Não existem restrições
(CPF)
titular/sócio da empresa
Restrições para pessoas
jurídicas figurarem como Não existem restrições Não existem restrições
titular/sócia da empresa
Capital mínimo Não exige valor mínimo
100 salários mínimos
integralizado de capital social
A Sociedade Limitada
Unipessoal a qualquer
momento poderá
receber outros
sócios
Ainda, a Sociedade Limitada ainda estão previstas em nosso
Unipessoal a qualquer momento ordenamento jurídico.
poderá receber outros sócios, sem Em tempos de pandemia, com
precisar passar pela burocracia de o mundo se preparando para o
“transformar” a natureza jurídica “novo normal”, é mandatório que
da empresa, o que torna o processo o empresário busque formas de
mais célere. conservar e perpetuar o seu em-
O planejamento societário e preendimento, revisando a forma de
tributário não é uma “receita de trabalho, redesenhando processos,
bolo”, e varia de acordo com o perfil reorganizando receitas e despesas e,
do empresário, atividade por ele tão importante quanto, revisitando
praticada, valores envolvidos etc. o seu planejamento empresarial. •
Os cenários mudam e um ou mais
modelos de empresa podem ser
utilizados. Portanto, dizer que um ELISÂNGELA ORTIZ
DE MORAES SILVA
modelo é melhor do que o outro de
forma genérica é um erro. Todavia, Gestora de
Legalização na
espera-se que as limitações impos- Meira Fernandes.
tas à EIRELI sejam revistas, do Advogada com mais de 15 anos
de atuação nas áreas de Direito
contrário é bem possível que esse Empresarial e Societário. Graduada
modelo de empresa caia em desuso, em Direito pela Universidade São
Francisco, pós-graduada em Direito
como as sociedades em comandita Empresarial pela Escola Paulista de
simples, nome coletivo etc., que Direito, com extensões em Sociedades
Anônimas (IPEC-SP), Mediação
não acompanharam a evolução da e Arbitragem e em Contabilidade
legislação tributária e do perfil do Aplicada ao Direito (ambas pela
Fundação Getúlio Vargas).
empreendedor nacional, mas que
JULHO 2020 – REVISTA ESCOLA PARTICULAR
43
 Cursos

Agosto

O ambiente educacional brasileiro passa por uma série de
transformações. O curso de Pós-graduação em Gestão Estra-
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44 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020

 Classieeesp

AGENDA DE OBRIGAÇÕES • AGOSTO • 2020 •

• 06/08/2020 • SALÁRIOS - ref. 07/2020 • 20/08/2020 • INSS (Empresa) - ref. 07/2020
• E-Social (Doméstica) - ref. 07/2020 • PIS – Folha de Pagamentos - ref. 07/2020
• 07/08/2020 • FGTS - ref. 07/2020 • SIMPLES NACIONAL - ref. 07/2020
• CAGED - ref. 07/2020 • COFINS – Faturamento - ref. 07/2020
• PIS – Faturamento - ref. 07/2020
• 10/08/2020 • ISS (Capital) - ref. 07/2020
• EFD – Contribuições - ref. 06/2020 • 31/08/2020 • IRPJ – (Mensal) - ref. 07/2020
• CSLL – (Mensal) - ref. 07/2020
Dados fornecidos pela HELP – Administração e Contabilidade • helpescola@helpescola.com.br • (11) 3399-5546 / 3399-4385

46 REVISTA ESCOLA PARTICULAR – JULHO 2020