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Marcos Uzel
A cidade foi sofrendo várias transformações com o passar dos anos, mas o
quadro social daquela área praticamente não se alterou (pelo menos até o final da
década de 1980). Dentro dessa realidade de pobreza e exclusão, uma turma de
jovens negros fundou, no dia 25 de abril de 1979, uma pequena agremiação
carnavalesca chamada Olodum. Influenciada pela iniciativa do Ilê Aiyê em 1974, a
nova entidade foi inscrita na ata de criação como um bloco afro, Os recursos eram
mínimos. Também faltava um lugar para os ensaios. Como um dos membros da
diretoria trabalhava no Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), conseguiu
que o órgão cedesse uma precária quadra de barro situada no fundo do Teatro
Miguel Santana, no Pelourinho, onde o Olodum costumava se apresentar.
No mesmo ano em que o Olodum exaltou Cuba nas ruas, uma canção que
descrevia a disputa pelo espaço da festa entre os trios elétricos e os blocos afros
começou a fazer sucesso nas rádios mais populares de Salvador. Composta por
Gerônimo, que havia morado quatro anos no Pelourinho e conhecia de perto os
grupos negros da Bahia, a música Macuxi muita onda (Eu sou negão), de 1986,
sublinhou uma afirmação de identidade e de pertencimento a um universo
sociocultural (Eu sou negão/ Meu coração é a liberdade/ Sou do Curuzu, Ilê), além
de um posicionamento político contra a discriminação racial (Igualdade na cor/ Essa
é a minha verdade). A longa duração (6 minutos e 20 segundos) e os versos que
alternavam o cantado e o falado causaram certa estranheza, pois se diferenciavam
as letras fáceis e do ritmo frenético das canções do Carnaval de Salvador. Mas a
autenticidade da música a destacou em meio à mesmice dos modismos
carnavalescos que as rádios insistiam em repetir.