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Projeto de Investigação
Braga, 2022
Índice
Introdução .................................................................................................................... 04
Num estudo sobre a história das desigualdades, Scheildel (2017, p.76) aponta o facto da
agricultura ser um fator preponderante na desigualdade entre os povos, principalmente quanto
à escassez de recursos, o que lhe permite afirmar que “a agricultura está estreitamente
relacionada com a estratificação social e política”. Essa constatação permite-nos concluir que,
há muito tempo, o mundo em que vivemos é desigual.
Tendo essa desigualdade uma origem intimamente ligada à relação de poder que um
indivíduo exerce sobre outro, Costa (1998) considera que a falta de recursos impede o acesso
igualitário e pleno ao exercício da cidadania. Ainda, segundo o mesmo autor, o indivíduo
pobre, só pelo facto de assim ser, fica condicionado nas suas relações sociais. A escassez de
recursos, está associada ao não acesso a determinados tipos de bens, por exemplo, o acesso ao
alojamento, a cuidados de saúde, à educação ou ao emprego, entre outros.
Como acontece numa pirâmide, onde quem está em cima, nesse caso as classes
socioeconômicas favorecidas, tem o privilégio de receber mais, e quem se encontra na base
acaba por usufruir menos e com mais dificuldades. Apesar dos direitos básicos serem
assegurados pela própria Constituição Federal Brasileira, no seu artigo 5º, onde se afirma que
“todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”, a verdade é que tais direitos têm sido um
luxo, nem sempre acessível a todos.
Com base nesse cenário, a escola tem sido capaz de transformar a realidade em que os
indivíduos se encontram, ou tem-se limitado, apenas, a replicá-la? O seu contexto é
reprodutor, ou transformador?
Para Freitas (2011), a escola capitalista, embora repleta de contradições, tem sido mais
favorável para a classe dominante, uma vez que foi sendo formatada ao longo dos séculos
para subordinar e excluir a classe trabalhadora. Este autor lembra, ainda, que essa exclusão
não se circunscreve apenas à negação de acesso ao espaço físico, mas sobretudo por não
permitir que ao acessá-lo, o indivíduo consiga apropriar-se dos conhecimentos sistematizados
pelas ciências, reproduzindo, assim, a exclusão cultural presente na sociedade.
É nessa ordem de ideias que Bourdieu e Passeron (1964) concluem que a escola
transforma as desigualdades sociais em desigualdades escolares. Bourdieu (2007, pp. 41-42)
acrescenta, ainda, que, de facto, “cada família transmite aos seus filhos mais por vias indiretas
que diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema de valores implícitos e
profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre outras coisas, as atitudes face
ao capital cultural e à instituição escolar”. Os conhecimentos adquiridos pela vivência, tais
como visitas a museus, teatros, cinemas, entre outros, são oportunidades muito mais
vivenciadas pelas classes mais favorecidas, referido como privilégio cultural pelos autores
citados, fator esse que a escola não é capaz de suprir.
Numa outra perspectiva, Enguita (2007, p. 110) considera que não há contradição no
fato de a escola ser transformadora e reprodutora das desigualdades sociais; “porque se
requerem afirmações mais precisas do que esses juízos sumários no momento de analisar uma
instituição social, em toda sua complexidade”. O autor destaca que a escola tem refletido, em
grande parte, as desigualdades sociais e até mesmo criando outras, mas por outro lado
também tem sido um cenário de realização de um direito social igual para todos, como é o
caso da escolaridade obrigatória, entre outros.
Deste modo, e em sintese, escola pode desempenhar diferentes papéis, de acordo com a
realidade em que está inserida, uma vez que os indivíduos envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem são únicos e carregam a sua própria bagagem, isto é, o seu próprio capital
cultural.
Sendo, então, o foco desta pesquisa, as perspectivas dos professores sobre o processo de
desenvolvimento do currículo e o sucesso dos alunos, nas escolas em que lecionam com
realidades económicas e sociais distintas. Considerando Pacheco (2002, p.9) “a autonomia
dos pais, alunos e professores não é uma realidade observável nas escolas e nas chamadas
políticas de descentralização. Será necessário discutir se a autonomia é assumida em função
dos resultados, ou em função do processo.”
1. Objetivos da Investigação
Desenvolver um estudo exploratório, delineámos um objetivo geral, que pretende
responder à problemática da investigação, e seis objetivos específicos que ajudarão a nortear o
processo de investigação.
2. Fundamentação Teórica
Na continuidade da análise desse estudo as regiões mais pobres são as que apresentam
maior percentagem de analfabetismo e abandono escolar, sendo que nas pessoas negras ou
pardas a taxa de analfabetismo é mais do dobro da observada em pessoas brancas.
Apesar de ser um direito garantido pela constituição não é suficiente para mudar a
realidade nem, pelo menos, garantir a igualdade de oportunidades:
A educação, não depende apenas do professor, mas também do aluno. Isso conduz a uma
conclusão imediata de que a igualdade de oportunidades – incluindo as dotações no
sentido mais amplo, ou seja, os recursos materiais e a dedicação de recursos humanos –
bem como a igualdade de resultados não são compatíveis. (Enguita, 2007, p. 111)
Alunos com famílias economicamente estruturadas e letradas têm muito mais chances
de sucesso do que alunos que vivenciam o contrário. É nesse sentido que Bourdieu (2007, p.
42), ao abordar a transmissão do capital cultural, ressalta que “a parcela de ‘bons alunos’ em
uma amostra da quinta série cresce em função da renda de suas famílias”. Pelo contrário,
quando as famílias possuem diplomas iguais a rendimentos, isso não exerce nenhuma
influência.
A ideia benevolente de incluir aquele que está fora ou à margem de um processo social,
muitas vezes engana, pois, procura-se incluir o outro a partir da ótica dos grupos maioritários,
isto é, de acordo com o modelo de sociedade dominante. Por isso, é importante “defender a
presença participante de alunos, de pais de alunos, de mães de alunos, de vigias, de
cozinheiras, de zeladores nos estudos de que resulte a programação dos conteúdos das
escolas” (Freire, 2014, p. 152).
Concordando com Pacheco (2001, p.15) que reitera que o termo currículo muito tem
sido utilizado, até de uma forma vulgar, na linguagem educativa, tanto por professores, como
por alunos, políticos, encarregados de educação e etc., sem ter o seu significado dilucidado.
Não é mesmo fácil definir o currículo, uma vez que é um conceito polissémico,
Morgado (2000, p. 21) afirma que não há consenso acerca do conceito de currículo, uma vez
que existem muitas definições, não sendo possível “estabelecer uma plataforma consensual
relativamente à definição de currículo”. Para Alonso (1996, p. 18), a noção de currículo
significa tudo “aquilo que o meio escolar oferece ao aluno como oportunidade para a
aprendizagem de conceitos e factos, de procedimentos e estratégias”, dentro desta concepção
de currículo que iremos nos espelhar.
Esses resultados foram obtidos através da realização das provas de aferição, que são
aplicadas com igual conteúdo em contextos completamente distintos.
3. Metodologia da Investigação
Neste segmento de análise será descrita a metodologia de investigação utilizada, em
função das características do problema apresentado e dos objetivos expostos. Além de
referirmos os métodos e técnicas utilizados para recolha, tratamento e análise dos dados,
identificamos a população onde o estudo decorreu e a amostra que constituímos para o efeito.
4. Cronograma
Calendário
Atividades do Projeto 2022 2023
Mar Abr Mai Jun Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Definição do problema
Pesquisa bibliográfica
Revisão
Definição dos objetivos
Elaboração da metodologia
Pré Projeto
Construção e validação de
Instrumentos e recolha de dados
Recolha e Tratamento de dados
Descrição e Análise dos dados
Elaboração da dissertação
Entrega da dissertação
Defesa da dissertação
Referências bibliográficas
Machado, I. F. (2010). Educação do campo e diversidade. Perspectiva. Vol. 28, n.1, jan./jun.
Editora da UFSC.
Mónica, F. M. (1981). Escola e Classes Sociais, Editora Presença.
Morgado, J. C. (2000). A (Des)Construção da Autonomia Curricular, Edições Asa.
Pacheco, J. A. (2002). Políticas Curriculares, Porto Editora.
Pacheco, J. A. (2001). Currículo: Teorias e Praxis, Porto Editora.
Sacristán, J. G. (2000). O Currículo: uma reflexão sobre a prática. 3 ed. Artmed.
Scheidel, W. (2017). A violência e a história da desigualdade: da idade da pedra ao século
XXI. Edições 70, p. 53-101.