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NEUROPSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL,
CLÍNICA E HOSPITALAR
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SUMÁRIO
ignorando que possam ser identificados com o significado desses termos por não
compactuarem imediatamente com as propostas implementadas sobre a inclusão de
todos os alunos em classes comuns, vivenciam o processo de encaminhamento dos
alunos com deficiência para as escolas, com significativa inquietação. E, assim, não se
intimidam ao dizerem não saber como lidar com alunos com deficiência, especialmente
se tiverem que lidar com casos de deficiências mais complexas.
“Ao lidar diretamente com os alunos, no cotidiano da escola, os docentes são
invadidos por sentimentos que vão da perplexidade à frustração, da exaustão à
impotência. Não sabem o que fazer, nem como ensinar os alunos” (OLIVEIRA e
MACHADO apud GLAT, 2007, p. 36). Episódios sobre posicionamentos semelhantes
diversificam-se, dentre eles, o que foi vivenciado por Oliveira (2007, apud
MEIRELLES, 2007, p. 39), a qual nos diz o seguinte: Em um encontro de educadores,
uma professora levantou em relação à seguinte questão: é certo os alunos com
necessidades especiais serem cobaias na escola? E um rapaz com paralisia cerebral
com formação em nível superior levantou-se e disse: se eu não fosse cobaia há vinte
anos eu não estaria aqui hoje. O fato de uma escola ter me recebido, após inúmeras
tentativas de minha mãe, fez com que eu chegasse onde cheguei, provavelmente eu
estaria hoje em um canto de uma sala ou em uma rede.Autores como Glat e Nogueira
(2002), Mendes, Ferreira & Nunes (2003) e Beyer (2005) vêm alertando para a
questão da insuficiência dos cursos de formação de professores para o trabalho com a
diversidade. No que diz respeito à formação dos professores para trabalhar com os
pressupostos da educação inclusiva, pesquisadores apresentam manifestações
diversas, inclusive apontando inconsistências presentes no currículo voltado a essas
práticas.
[...] em todas as questões que se referem a currículo para formar professores,
percebemos a incompletude. Não há respostas fechadas quanto à dicotomia entre as
perspectivas de inclusão e a manutenção da exclusão diária e contumaz. Ou quanto
ao atendimento às classes heterogêneas via atividades diversificadas. Certamente,
não se constrói um currículo de forma apriorística por meio de planilhas rígidas e
objetivos estereotipados. Ele é vivo, produto de uma construção coletiva, vivenciado
no cotidiano da educação. Há muito que fazer, portanto, para que o “fazer pedagógico”
dos professores que trabalham com alunos portadores de necessidades educativas
especiais possa ser aperfeiçoado (OLIVEIRA e ABREU, 2003, p. 108 apud OLIVEIRA;
MACHADO, 2007, p. 39).
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espaço da escola regular não deve ser vista como uma proposta de diluição dos
serviços de apoio às escolas, aos alunos e aos sistemas de ensino, pois estes são
essenciais para que o processo de inclusão desses sujeitos de fato ocorra. Ao
contrário, o sucesso da política de Educação Inclusiva depende diretamente da
continuidade da existência dessa rede de suportes especializados, incluindo-se a
formação inicial e continuada de professores especialistas nos diferentes tipos de
necessidades especiais e níveis de ensino. Pois só o diálogo entre especialistas e
generalistas fará com que a escola construa as melhores respostas educativas para
todos os seus alunos (GLAT, 2007, p. 33).
Em meio a essas questões, ainda vivenciamos uma realidade que nos aponta a
existência de um número ainda desconhecido de pessoas com deficiência que não
estudam em nenhum lugar.
Os índices de fracasso e evasão escolar continuam sendo apontados como
“endêmicos”, constituindo-se como mecanismos poderosos de exclusão escolar e
social de contingente considerável da população. Porém, com frequência esses
índices são camuflados por meio da adoção de sistemas de ciclos, programas de
aceleração, de progressão continuada ou projetos para “corrigir” a defasagem idade-
série (PLETSCH, Grifos da autora, 2010, p. 74).
Na composição desse cenário, um tema emergente precisa fazer parte dos
estudos na formação dos professores e na escola, qual seja a aprendizagem. Não
menos necessário, outro assunto dessa natureza amplia nossa reflexão: como ensinar
pessoas com deficiência? Essa indagação está presente no discurso dos professores,
conforme podemos verificar em diversos pesquisadores como, por exemplo, Anache
(2007) e Ferreira (2007). Essa última pesquisadora, em um trabalho sobre os
encaminhamentos da aprendizagem de alunos com deficiência intelectual, acrescenta
outra pergunta a nossa: “adaptar o quê e como?” e, ao mesmo tempo responde:
Frente à inexistência clara de uma resposta, as professoras e professores vão
se orientando pelo senso comum cuja racionalidade é a de que, no decorrer do
processo escolar, os alunos com deficiência intelectual são incapazes de aprender.
Tais necessidades emanam de uma representação social que considera que eles são
mais lentos, e, devido à dificuldade nos processos cognitivos, devem aprender menos
conteúdo e que estes sejam mais simplificados, já que as abstrações são
complicadoras dos processos de apropriação do conhecimento (FERREIRA, 2007, p.
102).
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Essas e outras investidas nos dizem que, a depender do que lhe for oferecido
na escola para o seu desenvolvimento e aprendizagem, o aluno com deficiência
acabará evadindo da escola, interrompendo seu percurso educacional. Com base
nisso, acrescentamos ao presente estudo, reflexões sobre estratégias a serem
pensadas para o acesso de alunos com deficiência ao conhecimento, sem perder de
vista, a necessidade de contarmos com o apoio dos pesquisadores que tratam dos
seguintes assuntos:
• Aprendizagem: um tema para reflexão;
• Flexibilidade Curricular: um assunto em debate e adequações para acesso
ao currículo, como possibilidade para o desenvolvimento do trabalho pedagógico na
diversidade.
− Capacidade de concentração;
− Em quantos objetos é capaz de estar focada simultaneamente
(distribuição);
− Excitabilidade (quanto tempo demora para iniciar a atenção).
− Dimensões da Memória:
Características do pensamento:
− Capacidades de generalização.
− Capacidades de identificar e distinguir nos fenômenos e objetos da
natureza o que é essencial e o que é acessório.
− Capacidades de utilizar o cabedal de conhecimentos acumulados para
elaborar conceitos e construir raciocínios.
Conceitos:
Juízos:
Raciocínio:
para que tal desenvolvimento se dê por vias indiretas, por outros caminhos porque “a
condição mais importante e decisiva do desenvolvimento cultural é precisamente a
habilidade de empregar instrumentos psicológicos, que nessas crianças não é
utilizada” (VYGOTSKY, 1988, p. 22 apud PADILHA, 2001, p. 122).
Imbuídos do compromisso de desenvolverem nos alunos condições tais de
desenvolvimento das funções superiores, dada sua importância para os processos
cognitivos, os professores deverão direcionar suas práticas pedagógicas no sentido de
alcançar tais resultados e, consequentemente, o sucesso na aprendizagem dos
alunos. Ao mesmo tempo, devemos planejar ações, no sentido de favorecer o
desenvolvimento dos processos superiores.
Porém, “[...] nada disso poderá ser alcançado sem que o professor nutra
expectativas positivas em relação ao seu aluno” (GLAT et al., 2007, p. 94). Dessa
forma, pensar em práticas pedagógicas que resultem na aprendizagem das pessoas
com deficiência é pensar, sobretudo, em mudanças conceituais e atitudinais para
compreender as diferentes formas de aprendizagem, a fim de se desenvolver
planejamentos e reordenamentos do trabalho pedagógico, de maneira a contemplar as
pessoas com deficiência em seu desenvolvimento e aprendizagem. [...] tem havido
uma forte tendência que reforça o apelo pelo trabalho pedagógico na diversidade. O
princípio é de que as instituições educativas não se traduzem mais pelas figuras dos
alunos e professores a partir de estereótipos desejáveis e idealizados. Fica cada vez
mais difícil ignorar que os espaços educativos constituem-se de profunda e concreta
diversidade – brancos, negros, índios, imigrantes, migrantes, pobres, ricos, homens,
mulheres, sadios, deficientes, aidéticos, marginais, engajados socialmente, colonos,
criminosos, solidários; enfim, todos os com e/ou sem alguma coisa, não mais
padronizados e violentados pela lógica da identidade hegemônica (RESENDE, 2008,
p. 18).
Em se tratando de questões conceituais e atitudinais referentes à pessoa com
deficiência, há de se reconhecer que não é tão simples romper com terminologias que
as estigmatizaram. Não foram poucas as tentativas de mudança, no sentido de
suavizar os efeitos sociais oriundos da carga semântica muito mais representativas
das faltas, das incapacidades do que do sujeito atuante e capaz de responder por si,
de fazer e de ser (AMARAL, 1995).
Por isso, devemos pensar e refletir a aprendizagem das pessoas com
deficiência, também, a partir das ponderações de cientistas socialistas, cujos
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Tais instituições devem saber que a sala de aula com princípios inclusivos
requer diferentes dinâmicas, estratégias de ensino que contemplem a todos os alunos,
sem discriminação e, ainda, complementação, adequação e suplementação curricular,
quando necessários. No que diz respeito ao aspecto valorativo do referido
documento oficial (BRASIL, 1999), Oliveira e Machado, o consideram como
reconhecedor da diversidade na escola, à qual alguns caminhos são apontados,
dentre eles:
sua vez, deve favorecer a movimentação dos alunos, a escola, para tal, deve possuir
mobiliários adequados e interativos, bem como brinquedos e mobiliários adaptados.
É importante que tudo seja planejado na perspectiva das ajudas técnicas, cujo
entendimento foi expresso no Parecer CNE/CEB n. 17/2001, p. 33: Todos os alunos,
em determinado momento de sua vida escolar podem apresentar necessidades
educacionais especiais, e seus professores em geral conhecem diferentes estratégias
para dar respostas a elas. No entanto, existem necessidades educacionais que
requerem, da escola, uma série de recursos e apoios de caráter mais especializados
que proporcionem ao aluno, meios para acesso ao currículo.
• Gerar ideias
− Conversar com usuários (estudante/família/colegas).
− Buscar soluções existentes (família/catálogo).
− Pesquisar materiais que podem auxiliá-los.
− Pesquisar alternativas para confecção do objeto.
• Acompanhar o uso
− Verificar se as condições do aluno mudam com o passar do tempo e se
há necessidade de fazer alguma adaptação no objeto.
− Os recursos sugeridos no referido documento compreendem, dentre
outros: dominó de cores, de quantidade, em relevo, de Figuras Geométricas, de
Texturas, Quebra-cabeça de Cubos, e outros; Caixa
de Estímulos Jogos diversos (memória, adivinhação; Tangram Imantado; Ábaco
de Argolas; Multiplicação em Pizza, Suporte para Lápis, etc).
conteúdos.
pedagógicos especializados, tanto por parte dos professores itinerantes, como das
salas de recursos. Qual o significado do apoio nesse contexto?
[...] recursos e estratégias que promovem o interesse e as capacidades da
pessoa, bem como oportunidades de acesso a bens e serviços, informações e
relações no ambiente em que vive. O apoio tende a favorecer a autonomia, a
produtividade, a integração e a funcionalidade no ambiente escolar e comunitário
(BRASIL, 1999, p. 53).
Os apoios, portanto, devem ser previstos e provisionados em todas as
situações de vida e nos diferentes contextos relacionais da pessoa com deficiência, os
quais, dentre outros, podemos identificar os seguintes (BRASIL, 1999, p. 54):
− As pessoas: familiares, amigos, profissionais, colegas, monitores,
orientadores, professores (itinerantes, de sala de recursos, de apoio);
− Os recursos físicos, materiais e ambientais;
− As atitudes, os valores, as crenças, os princípios;
− As deliberações e decisões políticas, legais, administrativas;
− Os recursos técnicos e tecnológicos;
− Os programas e serviços de atendimento genérico e especializados.
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