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CRIATIVIDADE, GESTÃO DO

CONHECIMENTO E INOVAÇÃO
CAPÍTULO 3 - QUAL O PANORAMA
INOVATIVO NO BRASIL?
Priscila Nesello

INICIAR

Introdução
Neste capítulo, vamos estudar os seguintes temas: estratégias competitivas para
inovação, empreendedorismo e inovação, sistema nacional de inovação e inovação
aberta. Além disso, serão abordados alguns exemplos sobre como as empresas
brasileiras tratam esses assuntos no dia a dia de seus negócios. Quais tipos de
estratégias competitivas estão relacionados à inovação? Qual a relação entre
empreendedorismo e inovação? Quais são os atores que compõe um sistema
nacional de inovação? Como a inovação aberta pode ser desenvolvida nas
organizações? São questões importantes que nos irão mostrar a relação da teoria
com as práticas profissionais. Assim, vamos aprender sobre os diferentes tipos de
estratégias tecnológicas que apoiam a inovação, as relações de interdependência
entre o empreendedorismo e a inovação, como o sistema nacional de inovação
brasileiro é formado, e como o modelo de inovação aberta pode representar uma
alavanca para a geração de ideias e a inovação colaborativa. Para deixar uma
amostra do nosso estudo, temos que as estratégias competitivas e tecnológicas
estão relacionadas, sendo que as tecnológicas são uma consequência da estratégia
competitiva. O empreendedor tem papel fundamental para a inovação, pois é ele
quem vai ser o agente propulsor da mudança. Já o sistema nacional de inovação é
constituído por um grupo articulado de instituições públicas e privadas com o
objetivo de fomentar a inovação no país. Por fim, a inovação aberta considera
integrar ao processo de inovação conhecimentos externos. Vamos conhecer mais
profundamente cada um destes tópicos? Acompanhe a leitura e bons estudos!

3.1 Estratégias competitivas para


inovação
A estratégia de uma empresa pode ser definida como a forma que ela a desenvolve
para obter vantagens competitivas (BARNEY; HESTERLY, 2014). As empresas buscam
estratégias competitivas adequadas aos mercados em que atuam para minimizar o
impacto das incertezas econômicas. Além das estratégias competitivas gerais
adotadas pelas empresas, há um conjunto de estratégias tecnológicas (TIGRE, 2006).
Estas possibilitam que as empresas atuem considerando a variedade de situações
que acontecem no dia a dia dos negócios, de forma flexível e coerente aos requisitos
e potencialidades dos projetos de inovação.
O estabelecimento do escopo da inovação é importante, tanto para o governo
quanto para as empresas e universidades, pois auxiliam no desenvolvimento da
estratégia tecnológica da organização, com base em métricas, políticas e
prioridades para inovação. As atividades do processo inovativo são classificadas nos
seguintes grupos: pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento
experimental. 

3.1.1 Atividades do processo criativo


Vamos começar com a pesquisa básica, que compreende os trabalhos experimentais
ou teóricos iniciados principalmente para obter novos conhecimentos sobre os
fundamentos dos fenômenos e fatos observáveis, sem ter em vista qualquer tipo de
aplicação prática. Um exemplo aqui são os trabalhos de pesquisa acadêmica,
desenvolvidos nas universidades. A pesquisa aplicada consiste em trabalhos
originais desenvolvidos para um objetivo prático específico. Como exemplo,
podemos citar os trabalhos de pesquisa desenvolvidos como uma parceria entre
empresas e universidades.
Figura 1 - A pesquisa básica tem o viés teórico e a pesquisa aplicada tem foco na execução prática dos
conhecimentos desenvolvidos. Fonte: Ivelin Radkov, Shutterstock, 2018.

#PraCegoVer: Esta imagem tem uma figua de uma mão com uma caneta Piloto
escrevendo a Frase Teoria com uma seta circular para a palavra Prática que está
abaixo e com outra seta para a palavra de novo Teoria que está acima, escrita em
Preto com negrito.

Os trabalhos sistemáticos são considerados desenvolvimento experimental e,


baseados nos conhecimentos existentes obtidos pela pesquisa ou pela experiência
prática, dirigidos a produção de novos materiais, produtos ou dispositivos, à
instalação de novos processos, sistemas e serviços, ou à melhoria substancial dos já
existentes.  A essência da pesquisa e do desenvolvimento experimental consiste na
utilização da criatividade, de modo sistemático, para que o conhecimento possa ser
aumentado e aplicado em todos os campos, contribuindo para o desenvolvimento
da sociedade   (ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO, 2008). A articulação entre a estratégia competitiva e tecnológica é
muito importante, pois a tecnológica deriva da competitiva. Mas como podemos
classificar a estratégia tecnológica? 
VOCÊ QUER LER?
O livro A Arte da Guerra (TZU; PIN, 2015) é um tratado militar escrito durante o século IV a.C. pelo
estrategista conhecido como Sun Tzu. Atualmente é considerado a bíblia da estratégia, ultrapassando a
barreira do tempo e se mantendo como uma literatura indispensável para líderes e administradores.

De acordo com Freeman (1987), são seis as possibilidades: ofensiva, defensiva,


imitativa, dependente, tradicional e oportunista. Vamos conhecer as características
e exemplos de cada uma delas? Então, acompanhe!

3.1.2 Estratégia ofensiva e defensiva


As empresas que buscam a estratégia ofensiva de inovação são aquelas que buscam
a liderança tecnológica. Este tipo de inovação pode estar presente tanto em projetos
de produtos quanto em projetos de processos, modelo de negócios, etc. Por gerar
esses tipos de saídas, a estratégia ofensiva vai requerer o envolvimento das áreas de
pesquisa e desenvolvimento (P&D) e outras funções como marketing, logística e
adaptação dos processos organizacionais. Os riscos associados são altos, pois
consiste em uma ideia ainda não testada no mercado. Além disso, este tipo de
estratégia costuma gerar resultados de longo prazo.
A estratégia ofensiva também exige que a empresa possua uma infraestrutura
científica e tecnológica e pode ser feito por meio de agentes externos. Por exemplo,
centros de excelência universitários, ambientes culturais, educacionais e incentivos
locais (como parques tecnológicos, incubadoras, a proximidade de clientes-chave,
entre outros), são elementos que favorecem a inovação.
E em que proporção a estratégia ofensiva é adotada pelas empresas brasileiras? Na
realidade, poucas empresas brasileiras adotam uma estratégia ofensiva em nível
global (TIGRE, 2006). No entanto, a Petrobras é uma empresa brasileira que pode ser
citada como exemplo por adotar uma estratégia ofensiva, em função das condições
em que o petróleo é encontrado na costa e por ter autonomia decisória e recursos
financeiros para empreender de forma inovadora.
VOCÊ QUER VER?
No filme A Origem (NOLAN, 2010), Don Cobb é um ladrão que invade os sonhos das pessoas e rouba
segredos do subconsciente. As habilidades especiais de Cobb fazem com que ele seja procurado pelo
mundo da espionagem empresarial. 

Sobre a estratégia defensiva, temos que consistir em agir seletivamente em relação


à introdução de inovações. Ao adotar esta estratégia, a empresa tem o objetivo de
reduzir incertezas e erros. As organizações aprendem com os pioneiros, que
geralmente abrem novos mercados e introduzem soluções seguras e consistentes.
É importante ressaltar que a estratégia defensiva não tem a pretensão da cópia. Ela
quer superar os pioneiros, fazendo com que a inovação seja uma espécie de seguro
contra o risco de obsolescência tecnológica em sua linha de produtos. Podemos nos
questionar então: qual o interesse de algumas empresas em querer prologar o ciclo
de vida de seus produtos? Justamente porque estes levam algumas vantagens em
relação às inovações mais recentes: consumidores aprisionados pelo hábito utilizam
fielmente alguns tipos de produtos; em função do longo tempo de fabricação dos
produtos, seus processos produtivos são otimizados; estes produtos têm preços
competitivos, pois seus custos de desenvolvimento já foram amortizados. Portanto,
estas empresas possuem marcas conhecidas no mercado e que contam com boa
capacitação técnica. 

3.1.3 Estratégia imitativa e dependente


A estratégia imitativa consiste em oferecer produtos semelhantes aos existentes e
pretende apenas marcar presença no mercado, considerando o tempo de
defasagem da introdução do produto pelas características particulares do mercado.
Nessa estratégia, a empresa não aspira ter grandes lucros com a introdução da
inovação ou ser líder de mercado.
Este tipo de estratégia no Brasil era encorajado em função da proteção
governamental contra a competição dos produtos estrangeiros. E como isso era
feito? As políticas protecionistas, baseavam-se na substituição das importações por
meio de altas taxas alfandegárias, além de barreiras burocráticas, como anuência
prévia para importação de determinadas instâncias. Contudo, com a abertura
comercial da década de 1990 e a introdução de formas mais rígidas de proteção à
propriedade intelectual, a proteção efetiva vem caindo significativamente (TIGRE,
2006).
Um exemplo desta prática no Brasil é em relação à indústria farmacêutica. A
engenharia reversa de medicamentos era uma prática comum nos laboratórios
nacionais, pois esses possuíam a capacidade técnica necessária para lançar
produtos similares aos produzidos por multinacionais. Entretanto, com o
reconhecimento das patentes farmacêuticas, a partir de 1996, muitas empresas
nacionais tiveram que retirar os produtos similares do mercado.

Figura 2 - A estratégia organizacional é orientada pela visão da organização e realizada por meio das
pessoas, processos e parceiros. Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.

#PraCegoVer: Fundo azul-claro, é um quadrado, nela aparece várias figuras,


palavras como Estratégias, como um saco de dinheiro igual a do Tio Patinhas, com o
cifrão no meio, engrenagens, quadro de estatística, pessoas, imagens de legos
representando parceiros, pequenas figuras geométricas, folhas de papel, um gráfico
redondo quase no centro, colorido como um queijo redondo, com uma grande parte
em cor laranja, e mais dois pedaços coloridos, um em branco riscado, outro em
verde, palavras metas, a palavra Marketing, é um quadro que representa a estratégia
organizacional é orientada pela visão da organização e realizada por meio das
pessoas, processos e parceiros.

A estratégia dependente ocorre quando uma empresa menor assume um papel


subordinado em relação a empresas mais fortes (TIGRE, 2006). Elas não tomam
iniciativas com base nas mudanças técnicas de produtos ou processos e,
geralmente, não contam com capacitação própria para alterar o processo produtivo.
Esta estratégia não é necessariamente uma opção voluntária, podendo ser uma
exigência de parceiros comerciais ou controladores. Para citar um exemplo de
empresa brasileira com estratégia dependente, temos a Toyota. A empresa japonesa
deixou que sua subsidiária no Brasil, produzisse de forma independente um
utilitário diesel, porque o veículo fabricado na filial já tinha sido descontinuado na
matriz. Com isso, a filial tinha que contar com seus próprios recursos e a Toyota teve
que reduzir a flexibilidade da subsidiária local.

3.1.4 Estratégia tradicional e oportunista


Empresas que optam por uma estratégia tradicional, praticamente não mudam seus
produtos, pois o mercado não demanda mudanças ou porque a concorrência
também não inova. Estas empresas ficam restritas ao desenvolver inovações
incrementais e fazem pequenas alterações no design do produto com base na
experiência dos colaboradores. Também não contam com uma forte capacidade
técnica para iniciar mudanças.
Além disso, essas empresas contam com produtos conhecidos no mercado e um
caráter artesanal de fabricação. Quer um exemplo? O requeijão Catupiry precisou
manter a sua tradicional embalagem circular de madeira para identificar seu
produto junto aos consumidores, mesmo com o uso deste material ter sido
descontinuado da indústria de alimentos em função dos custos. Outro exemplo na
mesma linha, são os doces e cachaças “da roça”, onde mudanças no processo
produtivo são evitadas em função do risco de descaracterizar o produto.
Os mercados em rápida transformação, que não requerem grandes investimentos
em P&D, são o foco da estratégia oportunista, que está associada à exploração de
nichos de mercado ou a oportunidades temporárias. Nesses casos, mais do que
capacitação técnica, os empreendedores devem ter imaginação e conhecimento das
necessidades dos consumidores.
No Brasil, a crise energética do início dos anos 2000 é uma situação especial que
abriu oportunidades para que novos fornecedores de material elétrico
desenvolvessem lâmpadas de baixo consumo e luminárias com sensores de
presença humana para poupar energia.

3.2 Empreendedorismo e inovação


O conceito de empreendedor parte da visão de uma estrutura primária da
população, que estava organizada entre os donos de terras – que precisam cultivar a
terra, pagar os custos, aproveitar os lucros; e o resto – pessoas que viviam à custa
dos donos das terras. O empreendedor é um especialista em assumir riscos
(BREWER, 2002) e nesta configuração, ele garantia o sustento dos trabalhadores
comprando seus produtos (ou serviços) para revendê-los antes que os
consumidores manifestassem o quanto desejariam pagar por eles (pagavam custos
de produção conhecidos, mas ganhavam rendas incertas, devido à natureza
especulativa).

3.2.1 Sucesso e satisfação


Schumpeter (1934) dizia que, na vida econômica, o sucesso depende da intuição, da
capacidade de ver as coisas de uma maneira que, posteriormente, se constataria
verdadeira. Nesta visão, o empreendedor passa a ser um intuitivo. McClelland (1967)
apresentou a Teoria da Motivação pelo Êxito/Medo. Segundo esta teoria, os
indivíduos possuem diferentes níveis de cada necessidade (motivos), mas nunca a
inexistência de qualquer um deles. Assim, os principais vetores para se atingir a
satisfação são, a necessidade e o meio para obter satisfação. Vamos ver as três
necessidades que orientam o comportamento humano e os meios para se obter a
satisfação das necessidades:

Quadro 1 -
Necessidades que orientam o comportamento humano: realização, afiliação e poder e as diferentes
formas de satisfazê-las. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de McClelland, 1967.
#PraCegoVer: Um quadro retângulo, com dois quadrantes, em laranja a palavra
Necessidade, ao lado Meio para obter satisfação. Esta imagem é um trabalho que se
refere a estratégia organizacional é orientada pela visão da organização e realizada
por meio das pessoas, processos e parceiros. Como em um xadrez temos as palavras
abaixo da Necessidade, Realização, Afiliação e Poder. E ao lado a explicação de cada
uma delas pela visão da Motivação de McClelland, que é o autor.

Esses motivos estão relacionados com a resolução de problemas. Quando um


indivíduo obtém sucesso utilizando determinado meio, tenderá a repeti-lo para a
solução de outros problemas (modelos mentais). Assim, as pessoas que apresentam
elevada necessidade de realização, buscam a excelência e estão diretamente
relacionadas ao comportamento empreendedor.
Drucker (2002) diz que os empreendedores sempre procuram pela mudança,
respondem a ela e exploram-na como uma oportunidade. Na visão do autor,
inovação é o uso sistemático das oportunidades criadas por mudanças. 

3.2.2 Relação entre o empreendedorismo e inovação


Afinal, o que garante uma inovação? As primeiras condições para inovação foram
definidas por Schumpeter (1934). Na visão do autor, só pode ser considerada
inovação, uma invenção que tenha superado os diversos riscos associados, tanto
tecnológicos quanto de mercando, gerando valor para os envolvidos. Dependendo
da quão revolucionária for a inovação e do seu grau de difusão e impacto
socioeconômico, pode ser considerada “destruição criativa” (SCHUMPETER, 1934).
Quando os empreendedores tiram proveito das oportunidades geradas pela
destruição criativa, conseguem lucros positivos durante um próximo período de
estabilidade (BESANKO et al., 2012).

VOCÊ O CONHECE?
Um dos economistas mais importantes é Joseph Alois Schumpeter. Suas contribuições mais importantes
são em relação à teoria do crescimento econômico, democracia, estratégias empresarias e história
econômica (MOTA, 2016). Para conhecer mais suas ideias, acesse o link:
<http://terracoeconomico.com.br/schumpeter-inovacao-destruicao-criadora-e-desenvolvimento
(http://terracoeconomico.com.br/schumpeter-inovacao-destruicao-criadora-e-desenvolvimento)>.
O espírito empreendedor tem a inovação como um instrumento específico para
geração de riqueza e é com o empreendedor que se viabiliza os recursos necessários
para que a inovação ocorra. São quatro propriedades fundamentais que instigam o
desenvolvimento de produtos, serviços ou modelos de negócios inovadores (DOSI,
1982):
 
a)          soluções desconhecidas em função da incerteza gerada pela existência de
problemas técnico-econômicos;
b)          novas oportunidades tecnológicas no conhecimento científico que geram
dependência;
c)          atividades de pesquisa, desenvolvimento e sua execução no interior de
empresas de manufatura integradas, sendo formalizadas de forma crescente;
d)        atividades informais de solução de problemas de produção e esforços para
satisfazer as necessidades dos clientes, gerando aprendizagem.
 
Desta forma, o empreendedor detém a habilidade de ser o primeiro a introduzir
novas combinações de meios produtivos, resultando na transformação do fluxo
estabelecido. Podemos afirmar, então, que o empreendedor é quem provoca a
ruptura para introdução da inovação (DRUCKER, 2002), este processo irá ocorrer por
meio de três fatores principais: geração, seleção e implementação de novas ideias
(BESSANT; TIDD, 2009).
Figura 3 - Empreendedores visionários e seus parceiros devem estar empenhados em gerar um grande
número de ideias que darão origem a alguma inovação futura. Fonte: David Arts, Shutterstock, 2018.

#PraCegoVer: Representação de ideias, com fundo azul, no centro um grupo de


pessoas, mas esta figura está em desenho, em uma mesa circular, todos com seus
notebooks, abertos, tudo desenhado, em volta desta imagem, muitas figuras
pequenas que representam empreendedores visionários, todas as figuras que
podemos imaginar, livros, relógio, mala de executivo, chapéu de formatura, livros e
outras.
O empreendedor, portanto, é a pessoa que terá habilidade de estabelecer relações,
de visualizar oportunidades e de tirar vantagem das mesmas, fazendo com que
surjam as ideias que irão abastecer o processo de inovação. A inovação torna-se
imprescindível para manter o crescimento de uma empresa quando envolve a
exploração de avanços tecnológicos radicais (BESSANT; TIDD, 2009). A atividade
industrial e o sistema econômico, como um todo, crescem quando as empresas
inovam e ocasiona um aumento no padrão de vida da sociedade (MELLO, 2007).
A inovação já comprovou ser uma importante fonte de redefinição para a filantropia
e as práticas governamentais, não sendo apenas mais uma arma em mercados
competitivos. Chamamos este tipo de prática como: inovação e empreendedorismo
social (DAVILA; EPSTEIN; SHELTON, 2007). A relação entre o crescimento econômico
e as mudanças que ocorrem com a disseminação de inovações tecnológicas e
organizacionais, é a essência da abordagem neoschumpeteriana da inovação. Neste
caso, a empresa é o agente propulsor das mudanças por meio do conhecimento.

3.3 Sistema nacional de inovação (SNI)


O crescimento sustentado da economia é conquistado por meio da capacidade de
uma sociedade para produzir, selecionar, adaptar e comercializar o conhecimento
(GOEL, et al., 2004). Neste contexto, destaca-se a importância da incorporação, da
tecnologia à produção industrial com a intenção de promover o crescimento
econômico do Brasil. A inovação, então, pode ser definida como: “o
desenvolvimento e a implementação de novas ideias por pessoas que investem
tempo engajadas em transações com outras dentro de um contexto institucional”
(VAN DE VEN, 1986, p. 604). Mas qual a diferença entre inovação e invenção?
Continue a leitura do capítulo para chegar à resposta. 

3.3.1 Inovação e invenção 


E como podemos definir uma inovação? Uma invenção consiste em uma nova ideia
que não tenha sido institucionalizada ou implementada. Tradicionalmente, o
processo de inovação tem sido visto como uma sequência de etapas separadas -
desenvolvimento, produção e marketing -, unidas por transações relativamente
menores e que fazem os ajustes entre as etapas. Então, existem basicamente duas
variações para este processo linear: uma desenvolvida a partir da tecnologia, criada
e depois direcionada para o mercado, e outra que tem origem nas necessidades do
consumidor que estimulará o desenvolvimento de novas tecnologias.
Com base nisso, identificamos dois elementos básicos para a inovação. O primeiro é
a capacidade de desenvolver conhecimento científico, característica associada
principalmente às infraestruturas e aos membros de universidades e instituições de
ciência e tecnologia. O segundo é a capacidade de converter este conhecimento em
tecnologia, presente em produtos comercializáveis junto ao mercado, capacidade
que se encontra fortemente relacionada às empresas. A partir da compreensão
desses elementos básicos, podemos perceber o desafio de transformar o
conhecimento científico e tecnológico, existente em universidades e centros de
pesquisa, em conhecimento disponibilizado pelas empresas na forma de produtos
junto ao mercado.

Figura 4 - A invenção é um estágio anterior à inovação, quando a ideia ainda está sendo desenvolvida e
o valor econômico ainda não foi gerado. Fonte: Brian A Jackson, Shutterstock, 2018.

#PraCegoVer: Fundo azul-claro com uma mão desenhando uma lâmpada com um
lápis, na mesa um compasso, um transferidor, papeis amassados, réguas,
marcadores coloridos, um amarelo e outro verde.
As empresas tipicamente inovam e se desenvolvem por seus relacionamentos com
outras empresas e organizações, incluindo universidades e centros de pesquisa
(STEIBER; ALÄNGE, 2013). Esta ideia também é defendida por Johnson e Lundvall
(2005, p. 99) ao afirmarem que “o desempenho de inovação da economia é
sistêmico, no sentido de que depende não apenas das capacidades de inovação das
empresas individuais, mas também de como elas interagem entre si e com o setor
financeiro, as organizações de pesquisa e o governo”.
A ampliação dos estudos sobre o processo de inovação tem identificado aspectos e
conceitos relacionados aos agentes (inovação em empresas), ao sistema de
educação e pesquisa (universidades/instituições de ciência e tecnologia) e aos
governos. 

3.3.2 Sistema Nacional de Inovação


O Sistema Nacional de Inovação (SNI) foca no estudo dos participantes de um
sistema de inovação e seu ambiente, incluindo os mecanismos envolvidos na
criação e difusão de novas tecnologias e inovações (FREEMAN, 1987; LUNDVALL,
1992; NELSON, 1993). Da mesma forma, a relação entre agentes relacionados à
pesquisa, ao governo e às empresas merecem atenção na perspectiva do sistema
nacional de inovação. Neste âmbito, vamos destacar os seguintes conceitos:

sistemas tecnológicos (CARLSSON,1997);


sistemas setoriais (MALERBA, 2002);
conceitos sistêmicos baseados no papel principal do governo (SÁBATO;
BOTANA, 1968);
interações dinâmicas entre empresas, universidades e governos (ETZKOWITZ;
LEIDESDORFF, 1995).

A abordagem do SNI ressalta que o fluxo de tecnologia e informação entre as


pessoas, os empreendimentos e as instituições são a chave do processo de
inovação. Inovação e desenvolvimento de tecnologia são o resultado de um
complexo conjunto de atores no sistema, que inclui empresas, universidades e
institutos de pesquisa governamentais. A atuação do sistema nacional de inovação
pode ajudar a identificar pontos de alavancagem que aumentem o desempenho
inovador e a competitividade em geral (ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 1997). Dentro dessa perspectiva apontada, a
interação é evidenciada como um elemento importante dos sistemas de inovação.

Figura 5 - A articulação entre os participantes em um sistema nacional de inovação é como uma ponte
construída entre os empreendedores. Fonte: Brian A Jackson, Shutterstock, 2018.

#PraCegoVer: Uma mão mostrando parte do punho com uma camisa social, esta
camisa é azul-claro e está desenhando uma escada de traços finos no topo de uma
rocha muito alta, no fundo aparece um céu muito azul, no topo da montanha de
rocha, um outro homem, com uma venda nos olhos, está dando um passo no nada,
como se estivesse arriscando, mas o outro abaixo na figura está desenhando uma
ponte.
O atual SNI do Brasil exige uma abordagem histórica para compreensão das
dimensões do processo de inovação. Como o país tem uma estrutura de
industrialização tardia, baseada principalmente na importação de tecnologia, ele se
configura em um modelo de aprendizado tecnológico. Desta forma, os marcos do
SNI brasileiro de inovação são:

década de 1930: processo de industrialização com estatização da


infraestrutura, criação de estruturas de financiamento públicas e ação em
áreas estratégicas como siderurgia, petróleo e extração de minérios;
década de 1940: criação da Companhia Siderúrgica Nacional, ações para o
desenvolvimento do transporte rodoviário no país e transformação do
Conselho Nacional do Petróleo na Petrobrás;
década de 1950: a criação do Conselho Nacional de desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Ensino Superior (CAPES), foram o marco inicial da política de
Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) e em ações de diversificação da base
industrial brasileira, indústrias automobilísticas, naval, indústria pesada de
máquinas e equipamentos elétricos.

Por sua vez, no que diz respeito à intenção governamental de substituir tecnologias
importadas por tecnologias nacionais, Ieis (et al., 2013) destaca a criação, em 1968,
do Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), que funcionou até 1985,
quando houve a implementação do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND I, II e
III). É nesse momento que se estabelece o Código Brasileiro de Telecomunicações,
com a nacionalização dos serviços de telefonia, telegrafia e radiodifusão. Também
vamos citar a criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica permitiu o surgimento
da Embraer; a criação da Embrapa em 1970; a criação da Financiadora de Estudos e
Projetos (FINEP), em 1967, e a criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico, 1971 (DAVIDOVICH, 2011).  Este período foi marcado pela
atuação de empresas estatais no desenvolvimento industrial e tecnológico do país,
estimulando a capacidade tecnológica nacional (IEIS et al., 2013). Outros fatos
relevantes deste período:

década de 1970: instalação de um sistema nacional de ciência e tecnologia


com uma agência de financiamento, coordenação política e administração de
pesquisa completa;
década de 1980: dificuldades econômicas diminuíram a atenção voltada para
Ciência e Tecnologia (C&T), mesmo que em 1985 tivesse sido criado o
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT);
década de 1990: são desenvolvidas ações para garantir a propriedade
intelectual e também para a adoção de mecanismos de absorção de
tecnologia, em detrimento do desenvolvimento tecnológico nacional. No final
da década de 1990, as ações constituem-se da criação de Fundos Setoriais de
P&D, gestão compartilhada dos assuntos tecnológicos e científicos, legislação
com objetivo de estabilização de fontes de financiamento tecnológico,
incentivo à inovação e a desconcentração.

Em 2002, foi estabelecida a Política Nacional de CT&I, com um horizonte temporal


de 10 anos e, a partir disso, o setor ganhou mais visibilidade, uma nova estrutura de
planejamento e um foco mais voltado à inovação tecnológica (IEIS et al., 2013).
Durante este período, intensificaram-se as ações voltadas ao aprimoramento do SNI
brasileiro, com vistas a maior articulação entre as ações realizadas pelos atores. 

VOCÊ SABIA?
O Banco Interamericano de Desenvolvimento conta com linha de crédito condicional para incentivar
o aumento da produtividade das empresas brasileiras (BID, 2017). Para saber mais acesse:
<https://www.iadb.org/pt/noticias/comunicados-de-imprensa/2017-11-01/inovacao-no-
brasil%2C11937.html (https://www.iadb.org/pt/noticias/comunicados-de-imprensa/2017-11-
01/inovacao-no-brasil%2C11937.html)>.

Como sinalizador da maior importância atribuída à inovação ocorreu, em 2011, a


mudança na denominação do Ministério de Ciência e Tecnologia para Ministério de
Ciência, Tecnologia e Inovação. Esta mudança é citada pelo governo (BRASIL, 2012)
como o reflexo de uma ação estratégica realizada pelo Ministério em aproximação
com outros participantes do sistema nacional de inovação.
3.4. O modelo de inovação aberta
A capacidade inventiva de fontes como clientes, fornecedores, universidades e
outros são aproveitadas sob a forma de parcerias para inovação aberta (STAL;
NOHARA; CHAGAS JR., 2014). E o que vem a ser inovação aberta? 

3.4.1 Inovação aberta 


Na inovação aberta, as invenções internas, não utilizadas internamente, são
oferecidas ao mercado. Esta é uma forma de obter inovações melhores, mais baratas
e em menos tempo, constituindo o objetivo da inovação aberta.
O P&D utiliza suas capacidades não apenas internamente, mas também, para
procurar, selecionar e acessar oportunidades e ativos externos à empresa. Assim, a
formação e atuação de redes e colaboração sistemáticas oferecem conhecimento,
ideias e patentes para a geração de novos produtos e processos, gerando resultados.
Ao iniciar um projeto de inovação aberta, as empresas devem estar dispostas a
negociar os conhecimentos que possuem. Esses conhecimentos serão associados
com as competências e os esforços de outras organizações para a geração de
inovações. Inovações abertas não teriam condições de serem desenvolvidas se feitas
individualmente. 

VOCÊ QUER LER?


O artigo “Inovação Aberta em PMEs” (SCHERER, 2017) mostra os diferentes desafios enfrentados por
grandes e pequenos empresários brasileiros ao adotar uma estratégia de inovação aberta. Além disso,
são apresentados os atores envolvidos na inovação aberta. Para ler acesse:
<https://exame.com/blog/inovacao-na-pratica/inovacao-aberta-em-pmes/
(https://exame.com/blog/inovacao-na-pratica/inovacao-aberta-em-pmes/)>.

A utilização de recursos externos em projetos de desenvolvimento tecnológico de


novos produtos, auxilia no aumento dos departamentos de P&D, por meio de
modelos de negócios abertos. Canais de negócios diferentes dos tradicionais
também contribuem na comercialização de ideias internas. Atualmente, as
organizações têm dificuldades com o elevado custo para o desenvolvimento de
inovações e ciclos de vida de produtos cada vez mais curtos. Por isso, o
compartilhamento de riscos e custos da inovação aberta faz com que se tenham
mais justificativas para investimentos em inovação. Os aspectos mais relevantes
deste conceito são as mudanças no modelo de negócios, na cultura empresarial e na
gestão da propriedade intelectual (PI). Vamos entender um pouco melhor como a
inovação aberta funciona!

3.4.2 Modelo de negócios e cultura empresarial


Começamos pelo modelo de negócio adotado pela organização. Esse é um dos
aspectos mais relevantes na inovação aberta, depois da busca ativa por ideias em
fontes externas à empresa. O modelo de negócios é o método pelo qual a empresa
oferece aos seus clientes maior valor do que os concorrentes. Isto ocorre por meio
da construção e uso de seus recursos e tem como objetivo a geração de lucro
(AFUAH; TUCCI, 2001). A mediação entre a tecnologia e a criação de valor econômico
para a empresa é o foco de atuação do modelo de negócio (CHESBROUGH;
ROSENBLOOM, 2002). Você precisa saber que os elementos de um modelo de
negócios são a proposição de valor; o segmento de mercado; a estrutura da cadeia
de valor; a estrutura de custos e o potencial de lucro da organização; a posição da
empresa na rede de valor (ligação entre fornecedores e clientes) e, por fim, a
estratégia competitiva.
O capital financeiro necessário para realizar o modelo e definir o caminho para a
ampliação do negócio é justificado por esses atributos.
A inovação aberta também irá exigir mudanças em relação à cultura organizacional.
As empresas devem reconhecer que não têm condições de lidar com todos os seus
problemas organizacionais, desenvolvendo, assim, soluções internas. Esse é um dos
primeiros pontos a ser trabalhado para a criação de uma cultura organizacional
adequada à inovação aberta.
Assim entendemos que a essência da cultura organizacional é formada pelo padrão
desenvolvido para lidar com problemas de adaptação externa e integração interna
(STAL; NOHARA; CHAGAS JR., 2014). Significa que a cultura organizacional
representa as percepções dos gestores e é percebida no relacionamento da empresa
com seus clientes e colaboradores e também na autonomia que os funcionários
possuem.
Figura 6 - A consciência de que nem todo o conhecimento está internalizado na organização é o passo
inicial para que uma cultura de inovação aberta seja criada. Fonte: ESB Professional, Shutterstock,
2018.

#PraCegoVer: Pessoas conversando, todos vestindo social, três homens e duas


mulheres estão em uma mesa aparentemente em um escritório, tem xícaras de café
brancas na mesa, o homem ao centro está com um notebook aberto, todos sorrindo,
atrás deles estão prateleiras com livros todos com cores claras.

Se considerarmos que na década de 1980, as organizações eram vistas apenas como


uma forma racional de coordenar e controlar um grupo de pessoas (ROBBINS, 2002),
entendemos que desenvolver uma cultura de inovação aberta ainda é um desafio
para as organizações. Segundo Lindegaar (2009), os elementos para o
desenvolvimento de uma cultura de inovação aberta são:

reconhecer que pessoas inteligentes podem estar fora da empresa e é preciso


buscá-las;
equilibrar a P&D interna e externa, pois as duas são importantes para a
organização. A externa cria valor significativo e a interna se apropria de parte
desse valor;
desenvolver um modelo de negócios superior ao dos concorrentes, não sendo
o primeiro no mercado;
valorizar tanto as ideias internas quanto as externas. A empresa deve se
permitir compartilhar o conhecimento e fazer uso da propriedade intelectual
de outros;
desenvolver as competências interpessoais nas pessoas, para que possam
gerenciar o relacionamento com clientes e parceiros;
recompensar o esforço e o aprendizado como parte de uma trajetória de
inovação, onde as empresas estão sujeitas a riscos tecnológicos como
oportunidades de aprendizagem;
desenvolver a comunicação franca na empresa e com parceiros, criando um
ambiente de confiança onde os aspectos individuais das partes sejam
preservados, como confidencialidade e propriedade intelectual;
adotar a rotação de funções, job rotation, para ajudar os funcionários,
parceiros e clientes a construir o conhecimento e compreensão da
importância da geração de ideias e do uso de tecnologias para a consolidação
e um negócio rentável.
 
O próximo elemento a ser considerado no âmbito da inovação aberta é a gestão da
propriedade intelectual (PI). O licenciamento é uma forma da organização extrair
valor ou renda a partir de suas inovações. 

3.4.3 Gestão da propriedade intelectual


Ao adotar uma estratégia de inovação aberta, a empresa não estará tornando
pública sua PI, mas sim, desenvolvendo formas mais efetivas de trabalhar a gestão
da PI. Com isso, irá decidir se deve liberar ou proteger seus resultados, capturar
valor com seus direitos de PI e identificar o conhecimento externo que lhe pode ser
útil (ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 1997).
Uma parte importante da gestão da propriedade intelectual é o licenciamento da
tecnologia. O modo como a empresa gerencia esta atividade depende do paradigma
em que ela atua, se aberto ou fechado. A empresa fechada administra sua PI para
manter o controle sobre suas ideias, impedindo que outras empresas as utilizem.
Desta forma, as patentes não são vistas como fonte de renda e lucro, mas sim, como
barreiras de entrada. Já a empresa aberta, compartilha os resultados de invenções
que não interessam a ela com outras empresas. Isso não ocorre de forma gratuita,
mas representam uma moeda de troca para que a empresa obtenha o que necessita
dos outros parceiros.
Tanto a cultura organizacional quanto o modelo de negócios, são elementos
essenciais para a gestão do capital intelectual. A cultura organizacional é
fundamental para que as empresas sejam compradoras e vendedoras de ativos de
PI. Além de usar a PI em seu negócio, excluindo os concorrentes, a PI também pode
ser utilizada de outros negócios e beneficiar a empresa. Um bom modelo de
negócios é a forma pela qual as tecnologias chegam ao mercado, adquirindo valor
econômico. 

CASO
A EMBRAPII foi criada para induzir a cooperação entre instituições de pesquisa científica e
tecnológica e empresas industriais, explorando a sinergia entre ambas e estimulando a transferência
de conhecimentos e tecnologias. O foco das atividades da associação está no atendimento das
demandas empresariais e compartilhamento de riscos na fase pré-competitiva da inovação. O
orçamento previsto para a EMBRAPII no período de 2013 a 2019 é de R$ 1,5 bilhão, originado em
partes iguais do MCTI e do MEC. (EMBRAPII, 2014). A gestão da EMBRAPII é realizada por meio de seu
Conselho de Administração no qual participam, entre outros, o MCTI, MEC e a Confederação
Nacional da Indústria (CNI).

Seu funcionamento ocorre por meio da criação de dois tipos de estruturas: as Unidades EMBRAPII,
viabilizadas em parceria com Instituições de Ciência e Tecnologia já existentes e empresas, e os
Polos de Inovação, que serão criados junto aos Institutos Federais, em parceria com as empresas.
Este caso ilustra a função de organizações como EMBRAII para o fortalecimento do sistema nacional
de inovação. A EMBRAPII é composta por diferentes atores, sendo uma união entre instituições
públicas, privadas e centros de tecnologia. A fase pré-competitiva da inovação é o momento mais
crítico do processo, pois demanda de altos investimentos e riscos para as organizações. Neste
sentido, organizações ou agentes que fazem a intermediação entre os atores no sistema nacional de
inovação, como a EMBRAPII, tem o único interesse com o resultado dos projetos de inovação e por
isso são tão importantes neste ecossistema.

Com isso, vimos como estão relacionadas às estratégias competitivas e tecnológicas


e como as organizações podem se posicionar de diferentes formas em relação à
estratégia, dependendo dos fatores internos e externos aos quais estão expostas.
Também vimos as relações entre o empreendedorismo e a inovação. A importância
do empreendedor para a inovação é fundamental, pois é quem vai levar adiante as
ideias e projetos de inovação e transformá-los em novos empreendimentos.
Abordamos aspectos importantes da construção do sistema nacional de inovação
brasileiro e também falamos sobre como a inovação aberta pode contribuir no
sentido de complementar os conhecimentos existentes internamente na
organização para geração da inovação.
 

Síntese
Concluímos nosso estudo sobre estratégias voltadas para a inovação,
empreendedorismo e inovação, sistema nacional de inovação e inovação aberta.
Com essa discussão, esperamos que você tenha adquirido as competências
necessárias para conhecer o panorama inovativo do Brasil e explorá-lo a seu favor e
de sua organização. Vimos que a estratégia tecnológica faz parte da estratégia
competitiva da organização, que o empreendedor atua como o agente da mudança
e propulsor da inovação nas organizações, levando ao crescimento de todo
ecossistema inovador. Também sobre o surgimento do SNI brasileiro, a função junto
aos participantes de um sistema de inovação e seu ambiente. Além disso, o modelo
de negócios, aspectos culturais e a propriedade intelectual são aspectos relevantes
para a introdução da inovação aberta na organização. Por fim, é a inovação aberta
que vai permitir à empresa desenvolver de forma colaborativa com atores externos,
projetos que não poderiam ser desenvolvidos individualmente. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
definir estratégia competitiva e tecnológica, empreendedorismo, SNI e
inovação aberta;
compreender a importância do SNI para o fomento à inovação no país;
relacionar a inovação aberta com os aspectos de modelos de negócios, cultura
organizacional e propriedade intelectual.
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