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RESENHA

Carreiras sem fronteiras e transição profissional no Brasil: desafios e oportunidades para pessoas e organizações.
Elza Fátima Rosa Veloso. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 168p.

Leonardo Nelmi Trevisan


Professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, docente da Escola Superior de Propaganda e Marketing.
E-mail para correspondência: intrevisan@pucsp.br

Horizonte profissional. Nos últimos tempos, esta serve para todos”, na boa imagem que ela retomou
expressão está bem presente nas expectativas de de Briscoe, Hall & Mayrhofer para lembrar que,
todos. É preciso lembrar que a crise econômica quando se trata de carreiras, “culturas contextos,
internacional revestiu a expressão de certa preocu- personalidades, dinâmicas familiares, classes sociais”,
pação. Porém, apenas este viés de análise é insufi- dentre outros aspectos, são fatores que têm peso
ciente. Na verdade, a realidade no ambiente de enorme na estrada da felicidade profissional. O
trabalho mudou muito faz décadas. E não para de interessante é que essa perspectiva estrutural da
mudar. Hoje, portanto, parece obrigatório organizar análise da autora não funciona como fator imobi-
os sonhos profissionais de outro modo, o que inclui lizador na sua apreensão – teórica e prática – das
repensar, às vezes de modo bem radical, a ideia de novas dinâmicas de carreira.
carreira. O trabalho da Professora Elza Fátima Rosa
O texto acolhe as incertezas profissionais, típicas
Veloso, Carreiras sem fronteiras e transição profis-
do momento contemporâneo, de forma clara: “para
sional no Brasil, recém-lançado pela Editora Atlas, faz
parte dos trabalhadores, as atuais opções de carreira
exatamente isso: reorganiza as expectativas profis-
são diferentes das vislumbradas no planejamento
sionais nos limites da nova realidade do trabalho.
original da vida profissional”. Este é o ponto essencial:
No texto, a passagem da carreira organizacional transição profissional é tratada como “fenômeno
clássica para a construção de novas expectativas pro- natural”, que pode ser decisão do indivíduo, consi-
fissionais, multivariadas, privilegiou “percepções pes- derada mais como opção de vida e não só como
soais”, dispensando visões generalizantes. Postu- “remédio amargo” de situações inevitáveis. Neste
lados teóricos bem construídos, com significativa ma- aspecto, a discussão proposta pela autora de
turidade intelectual, tornam este trabalho muito con- “horizonte profissional além de uma única organiza-
sistente, mesmo enfrentando terreno tão complexo ção” é muito fértil por incluir o conceito de “atitude”,
como o da transição profissional no Brasil. Neste principalmente porque bem ancorado na evolução
aspecto, certos conceitos como o de “carreiras sem que ela traçou das teorias de carreiras.
fronteiras”, lançado em 1996, são redefinidos no Nesse processo de análise, as “situações inespera-
tempo, repensados em diferentes dimensões, a partir das” que hoje marcam tanto as carreiras (com as
da mobilidade entre “fronteiras objetivas” e “sub- fusões e aquisições, por exemplo) impõem redefinição
jetivas” no desenrolar da trajetória profissional. Car- na “sensação de pertencer” a determinada orga-
reira “proteana” ou carreiras “inteligentes”, por nização. Neste ponto, Elza Veloso abriu debate
exemplo, também são revistas conceitualmente, bus- inovador entre o “pertencer” a uma organização e
cando-se interfaces entre elas em uma realidade que o “a quem cabe a responsabilidade sobre a carreira”
é tão flexível quanto cruel. na era da globalização, da crise sistêmica e da
redivisão da oferta internacional de trabalho.
O texto de Elza Veloso não esconde o lado mais
difícil das novas trajetórias de carreira. Há um fio No Prefácio, o Professor Joel Dutra chamou aten-
condutor importante na lógica de análise que conduz ção para este ponto: o momento em que este livro é
a perspectiva da autora: “um mesmo tamanho não lançado. Para Dutra, a carreira trabalha o “imaginário

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em relação ao futuro” e, ainda segundo ele, a autora organizações e seus “processos” para conviver com
captou novas questões como a inédita situação em conceitos novos, como o de carreira sem fronteira,
que a demanda por trabalho no País é maior que a por exemplo.
oferta (por muitas razões) e, mesmo assim, as
organizações “permanecem reativas” quanto a Em todos os capítulos, porém, o papel do indivíduo,
pensar carreiras. O texto da Professora Elza avança na gestão da carreira ou nas “atitudes” de inovação
exatamente na discussão desta inércia típica do nas trajetórias, passa por constante revisão conceitual
mundo do trabalho brasileiro, rompendo a dicotomia da ideia de “autoconhecimento”. Para Elza Veloso,
paralisante entre os espaços definidos do indivíduo e esse conceito constrói diferentes atitudes que movem
os da organização na construção deste “imaginário histórias profissionais bem diferenciadas. Por exem-
do futuro” via carreira. plo, a transposição de fronteiras subjetivas de carreira
muitas vezes “depende de como se gerenciou a car-
Os capítulos do livro contemplam esse debate por reira durante a fase do trabalho estável”. Esta per-
inteiro. O primeiro organiza os conceitos, apresenta cepção é especialmente relevante para se pensar,
a evolução teórica sobre carreira e o avanço dessa de forma nova, o conceito de transição profissional.
evolução no Brasil. O segundo capítulo lida com as
mudanças no cenário mundial e as novas formas de A riqueza da análise aliada à solidez conceitual e
pensar a carreira. O terceiro analisa a ideia de à visão da realidade prática no tema abrem o
transição com um ponto muito rico: mudança boa suficiente espaço para que este livro, com base em
não é só no trabalho, é na vida também. O quarto tese de doutoramento defendida pela autora na
capítulo explora os estilos pessoais de gerenciar Faculdade de Administração da Universidade de São
carreiras, comportamentos diante da transição e, Paulo, transforme-se no embrião de um muito
especialmente, as categorias de análise contrapostas necessário handbook sobre carreira no Brasil.
às situações de transição. O último aborda as

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