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como estratégias de proteção de uma empresa contra um takeover hostil, o qual o Conselho
não concorda com a oferta proposta e o interessado se dirige aos próprios acionistas, com o
objetivo de manter o capital pulverizado. Entretanto, esses mecanismos são intensamente
atrelados à composição societária das companhias, e países como o Brasil, utilizam as poison
pills com outro objetivo. Como já entendido por Paulo Fernando Campos Salles de Toledo, o
Brasil não pratica as poison pills como concebidas nos EUA. Assim, o presente artigo busca
fazer uma comparação entre o escopo e a utilização das Poison Pills nos Estados Unidos e no
Brasil.
Em primeira análise, é necessário entender a diferença entre as composições
societárias dos países analisados. Nos Estados Unidos, o capital das empresas costuma ser
pulverizado, ou seja, distribuído entre diversos acionistas resultando em uma baixa
concentração acionária, sem um controlador. Diante disso, o Conselho de Administração é o
principal controlador e tem grandes poderes quanto às decisões e votos.
Já o Brasil, possui um histórico de empresas familiares, assim, o capital não é
pulverizado. O oposto é a realidade, sempre costuma haver um acionista majoritário e o
Conselho de Administração possui poderes limitados. Sendo assim, não há o perigo de
compras hostis, visto que para impedi-los, é só necessário que o acionista controlador decida.
Isto é, o determinante do sucesso da compra de ações por um terceiro depende da vontade
única do controlador. Ademais, há proteções positivadas em lei brasileira contra a diluição da
participação dos acionistas antigos, como o direito de preferência, no art. 171 da Lei das S.A
(L6.404/76).
A partir disso, é possível contrapor os objetivos das poison pills em cada região. Nos
EUA, as poison pills buscam manter o capital pulverizado, através de medidas que
desestimulam a compra das ações da empresa por takeovers hostis, visto que o Conselho é o
único com a competência para suspender essas medidas. Um exemplo clássico é a Flip In, na
qual, antes da aquisição de ações ser concluída pelo adquirente, a empresa permite que os
atuais acionistas, excluída a empresa adquirente, comprem ações adicionais da empresa a um
preço com desconto. Como consequência, a participação do novo acionista será diluída, na
tentativa de manter a pulverização do capital da companhia ou até impedir a compra de ações
totalmente. Além disso, essa pulverização pode aumentar o preço das ações a serem
compradas e desestimular o comprador.
No Brasil, além da concentração de capital, é necessária uma extensa justificativa para
um aumento súbito de capital, visto que é sempre presente o princípio de não diluição
injustificada dos acionistas. Nesse contexto, as Poison Pills no Brasil têm o objetivo de
preservar o controle do acionista majoritário, estando codificadas em lei.
No art. 254-A da Lei das S.A, é encontrada a lei que rege as poison pills. Caso seja
alterado o controle de uma companhia aberta através da compra de ações por um terceiro,
tanto direto ou indiretamente, há a poison pill, chamada de oferta pública por aquisição
relevante, que determina que quando a compra de ações atinge um determinado percentual,
conhecido como “gatilho” e definido no estatuto social, o adquirente deve fazer uma oferta
pública para comprar a totalidade das ações dos demais acionistas, de no mínimo 80% do
valor que a ação com direito a voto, está sendo comprada. Esse mecanismo está disposto na
seguinte maneira:
Essa medida também é uma proteção aos acionistas minoritários, conhecida como tag
along, na medida em que eles podem “acompanhar” o acionista controlador na saída da
empresa pela venda de suas ações. Um exemplo dessa poison pill pode ser encontrada no art.
44 da Lojas Renner S/A:
Assim, é notável que o ônus é estabelecido somente sobre o adquirente, também uma
distinção do modelo estadunidense.
As poison pills brasileiras, distintamente do modelo dos EUA, são definidas no
estatuto social das companhias e estabelecidas como cláusulas pétreas. Isto é, caso algum
“O que se tem observado, contudo, é que a poison pill pretende adquirir, em muitos
casos, feições de imutabilidade, de verdadeira cláusula “pétrea”, evidenciando
aquela primeira questão de utilizá-las como mecanismo jurídico de perpetuação de
um determinado grupo no controle da companhia (...). Percebe-se, neste caso, a
extrema ilegalidade e imoralidade deste tipo de cláusula de poison pill, pois
constrange o exercício do direito de voto do acionista, o qual deverá ser
manifestado, sempre, de forma livre e em consonância com o interesse social”2