Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE VEIGA Discente: Leonardo Soares

DE ALMEIDA da Costa
Disciplina: Sociedades
Anônimas S/A. Matrícula: 1210200307

O “Insider Trading”, pode ser definido como a utilização de informações


privilegiadas de maneira ilegal com o escopo de obter lucros ou vantagens,
assim como levar prejuízos tanto para si como para outrem no âmbito do
mercado financeiro. Nesse sentido, ele se desenvolve na medida que é
tomado conhecimento prévio de algum fato relevante antes de todo mundo,
logo, se utilizando de determinada informação para negociação de ativos no
mercado e obter lucro ou vantagens. Isto é, tal prática consiste basicamente
na antecipação de movimentos na negociação de valores mobiliários com
informações desconhecidas do público.

Consoante o entendimento do doutrinador Fábio Ulhoa Coelho, em seu


livro “Curso de Direito de Direito Comercial”, o direito de informação é
pressuposto ao exercício do direito de fiscalização de modo a compreender
que se deve sempre prezar pela prestação de informações coerentes,
completas e de forma clara de modo a se estabelecer uma relação calcada na
transparência na gestão dos interesses sociais. Assim compreende o autor o
direito de informação do acionista:

“O direito à informação é indissociável do direito de fiscalização e,


assim, embora não relacionado especificamente na lei, deve ser tido como
essencial, no sentido de que não pode ser especificamente suprimido nem pelo
estatuto, nem pela assembleia”.

(COELHO ULHOA, Fábio. Manual de Direito Comercial: direito de


empresa, volume 2: sociedades. 20. Ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016. p. 294-295).
Neste sentido, importante destacar o artigo 157 da Lei
6.404/1976 - Lei das Sociedades Anônimas, em seu texto prevê de
forma clara que é dever dos administradores das sociedades anônimas
abertas de cumprir com a prestação de informações aos acionistas
acerca da administração e negócios da sociedade. Logo, aplicando-se
ao administrador o dever de informar na sociedade anônima aberta. Tal
dever, encontra-se no dispositivo referido (art.157, da Lei 6.404/76) e
tem sua finalidade fundada no esclarecimento de informação para
investidores e acionistas a medida que possa influir em suas decisões,
sendo desde a decisão de investir na companhia ou sociedade, ou
como decidir em relação aos negócios futuros da sociedade. Seu
surgimento se dá de maneira a se estabelecer a transparência como
anteriormente mencionado.

O dever de comunicação, a comunicação refere-se a Bolsa de


Valores, por outro lado, a divulgação diz respeito a sociedade, que
deve ser feita a partir qualquer deliberação que ocorra em Assembleia
Geral ou por meio de órgão de administração da sociedade, fato
relevante, que tenha ocorrido nos negócios de maneira que possa
influir de maneira direta nas decisões de mercado. O administrador
deve sempre cumprir as diligências de modo a providenciar a
comunicação a bolsa de valores e a Comissão de Valores Mobiliários -
CVM, assim como tratar da publicação na imprensa acerca da
ocorrência de fatos relevantes. Para Fábio Ulhoa Coelho, fato relevante
pode ser compreendido como todo e qualquer evento econômico ou se
envolvendo a companhia, fato de repercussão econômica, ademais,
inclui-se nesse rol de fatos relevantes as deliberações de seus órgãos
societários, a realização ou não de um determinado negócio ou não,
projetos de desempenho, etc. (Ulhoa Coelho, Fábio, Curso de Direito
Comercial, 20. Ed. São Paulo: RT, 2016, p.250).
Outrossim, no que se refere a divulgação de fato relevante, este é
relevante se puder influir de modo acentuado na decisão do acionista ou
investidor do mercado de capitais, no sentido de compra e venda de valores
mobiliários emitidos pela sociedade anônima, previsão estabelecida no art.
157, § 4° da Lei 6.404/76.

Art. 157, § 4°, da Lei de Sociedade por Ações - LSA:

“Art. 157, § 4° § 4º Os administradores da companhia aberta são


obrigados a comunicar imediatamente à bolsa de valores e a divulgar pela
imprensa qualquer deliberação da assembleia-geral ou dos órgãos de
administração da companhia, ou fato relevante ocorrido nos seus negócios, que
possa influir, de modo ponderável, na decisão dos investidores do mercado de
vender ou comprar valores mobiliários emitidos pela companhia”.

Fonte: https://www.jusbrasil.com.br/busca?q=Art.+157%2C
%C2%A7+4%C2%B0+Lei+6.404%2F76

Infere-se, portanto, que o administrador de companhia aberta, diante de um


fato que em razão de sua experiência profissional, presumir, ao considerar que os
investidores ao tomarem ciência de determinada notícia relacionada à sociedade
que exerce a gestão, dariam a este a oportunidade de realizar ou deixar de realizar
determinada ação dentro do mercado de capitais, seja ela no desígnio de comprar
ou deixar de comprar ou em vender ou deixar de vender ações, deste modo, está o
administrador deparando-se com um fato relevante, cuja sua divulgação é o
cumprimento do seu dever legal.

No tocante a responsabilidade civil dos administradores, a LSA, Lei n°


6.404/74, em seu art. 158, aponta duas hipóteses em que há responsabilização civil
dos administradores de sociedades anônimas: a primeira (LSA, art.158, I) diz
respeito aos danos e prejuízos que possam ser causados por culpa ou dolo
exclusivo do administrador, importante ressaltar que, mesmo sem que esteja
presente exorbitância de poderes e atribuições, e a segunda (LSA, art. 158, II), trata-
se de violação da lei ou do estatuto. Nesse sentido, no que se refere a primeira
hipótese, há um reconhecimento unânime na doutrina quanto afirmação que o
dispositivo legal imputa aos gestores responsabilidade subjetiva clássica, ou seja,
com o necessário levamento de provas do procedimento culposo ou doloso por parte
da parte demandante. Sobre outro viés, a segunda hipótese (LSA, art. 158, II),
legalmente o que predomina é a “presunção de culpa na responsabilidade subjetiva”,
tendo também quem considere com responsabilidade objetiva. De maneira
assertiva, o supracitado autor, Fábio Ulhoa Coelho, entende que o sistema do
elemento subjetivo de aferição de culpa na responsabilidade civil do demandado
como divido em dois sistemas:

“O sistema subjetivo de reponsabilidade civil elege a culpa do


demandado como elemento indispensável à obrigação de ressarcir o
demandante. Esse sistema se divide em dois: onde um lado, o tradicional, em
que a prova da culpa deve ser feita pela vítima; de outro, o de inversão do ônus
probatório, em que cabe ao demandado provar que não agiu culposamente.”

(Ulhoa Coelho, Fábio, Curso de Direito Comercial, 20. Ed. São


Paulo: RT, 2016, p.254).

O “onus prabandi”, via de regra incumbe sempre a parte que propõe a


demanda contra o demandado, conquanto, diligente administrador, há
previsão em que se pode utilizar o demandante da inversão do ônus da prova
de modo que o administrador, então demandado, deve provar que não agiu
de maneira culposa (LSA, art. 158, I e II).

No tocante a responsabilidade solidária do administrador, está prevista


no art. 158, §§ 2° a 4° da LSA, onde a lei em comento elenca hipóteses de
responsabilidade solidária entre os administradores. Cumpre ressaltar que,
entre estas hipóteses não consta nenhuma previsão de culpa, logo, uma ação
ou omissão sem as devidas cautelas dos administradores pode ou não
caracterizar um não cumprimento de dever que pode ser imposto por lei
visando o curso normal das atividades da companhia, à medida que isto
depende sua natureza, gravidade e como isso poderá influir na possibilidade
de a infração levar a sociedade anônima à condição de inativa. Nas
companhias fechadas, os administradores, seja ou não previsto no estatuto
da sociedade que suas obrigações comprometem o normal funcionamento
das atividades, quanto gestores estes são solidariamente responsáveis pelos
prejuízos decorrentes de deveres dessa ordem. A respeito das sociedades
anônimas de capital aberto, a responsabilidade solidária entre os
administradores somente se dá mediante relação de competência direita com
os deveres que são essenciais ao funcionamento da companhia, é a
interpretação do art. 158, § 3° da LSA. Em síntese, as regras em comento não
implicam a vinculação dos administradores, não estabelece de maneira
alguma a responsabilidade objetiva, pois é necessário a comprovação da
ação ou omissão que causou prejuízo aos acionistas.

 Insider Trading: análise caso Sadia-Perdigão S/A

Antes de tudo, é imprescindível estabelecer que no ordenamento


jurídico brasileiro a competência para a apuração dos casos que envolvem os
crimes contra o sistema financeiro é atribuída a Comissão de Valores
Mobiliários - CVM, principalmente no crime em comento (Insider Trading), um
crime que por sua natureza jurídica abala de forma absurda a credibilidade
dos investidores e acionista do mercado de capitais, onde o interesse pessoal
se sobrepõe em relação ao dos acionistas, ao passo que os detentores de
informações privilegiadas utilizam-se destas para se antecipar e realizar
negociações dentro da bolsa de valores ou no mercado de capitais, de forma
a impactar diretamente nas decisões de compra e de ativo dentro do
mercado.

Nesse sentido, a CVM, dispõe no art. 2°, da Instrução n° 358, que se


atribui como crime o uso de informações relevantes que ainda não foram
divulgadas no mercado de valores mobiliários, tendo pena de reclusão de até
05 (cinco anos), sem prejuízo, com o devido pagamento do triplo do valor da
ilícita vantagem obtida na prática do crime.

Instrução CVM n° 358/02, art. 2°:


“Art. 2o Considera-se relevante, para os efeitos desta Instrução,
qualquer decisão de acionista controlador, deliberação da assembléia geral ou
dos órgãos de administração da companhia aberta, ou qualquer outro ato ou
fato de caráter político-administrativo, técnico, negocial ou econômico-
financeiro ocorrido ou relacionado aos seus negócios que possa influir de modo
ponderável[...]”.

Fonte:
http://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/
anexos/300/inst358.pdf#:~:text=Art.%202o%20Considera-se
%20relevante%2C%20para%20os%20efeitos%20desta,seus
%20neg%C3%B3cios%20que%20possa%20influir%20de
%20modo%20ponder%C3%A1vel%3A

No cenário brasileiro, o caso Sadia-Perdigão S/A, é precedente visto


que o fato datado do ano de 2006, envolvendo duas grandes empresas com
visibilidade internacional, cominando na condenação dos administradores em
razão de não cumprir com a integridade que exige o mercado de capitais.

Dos fatos, o marco do Insider Trading ter sua prática atribuída como
crime, no Brasil, se deu em 2001, sendo além de ilícito penal, também é ilícito
administrativo ao passo que está no âmbito regulamentado pela CVM, que
possui o poder de constituir normas, fiscalização e imputar sanções diante de
tal conduta.

No âmbito das negociações de compra e venda de valores mobiliários,


dentro do mercado de capitais, é importante compreender que não existe
“café grátis”, em outras palavras, a essência do mercado de capitais é
atividade remunerada, o lucro que este pode proporcionar ao investidor ou
acionista, da mesma forma que estes podem ganhar também pode ocorrer
prejuízo devido ao risco natural do negócio, mas, o lucro resultante do uso
indevido de informações privilegiadas que ainda não foram colocadas no
mercado, caracteriza o crime de Insider Trading.

No ano de 2006, entre os dias 5 e 12 de julho, em um dado momento


anterior a divulgação feita pela Sadia de uma oferta pública de concluir a
operação de aquisição de mais 50% da Perdigão, que se deu no dia 16 do
referido mês, ROMANO ANCELMO FONTANA, então administrador da Sadia,
adquiriu o correspondente a 36.000 (trinta e seis mil) em ações ordinárias o

equivalente a 18.000 ADR’s (termo em inglês: American Depositary Receipt) que


é utilizado quando uma empresa tem capital aberto nos Estados Unidos é por
meio destes que é possível a negociação dos valores mobiliários na bolsa de
valores dos Estados Unidos, posteriormente a aquisição o mencionado
administrado se desfez da posição que se colocou quando se deu a
revogação de forma pública da oferta pela Sadia, diante do ocorrido o mesmo
obteve lucro com a utilização da informação de US$ 140.000,00 (cento e
quarenta mil dólares).

Conquanto, a operação tenha sido realizada junto a bolsa estrangeira,


como no caso, as americanas, que são reguladas pela Securities and
Exchange Comission (SEC), diante disso, foi possível perceber cooperação
entre a SEC dos Estados Unidos e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
agindo em conjunto para impedir crimes contra o sistema financeiro, com o
propósito de promover práticas comerciais equitativas, ou seja, a
transparência das informações públicas responsáveis pelo equilíbrio do
mercado. Embora, o administrador tenha realizado a operação na bolsa de
Nova York, com fulcro no art. 9°, § 3° da Lei n° 6.385/76, entendeu a CVM
que era competente para o julgamento do crime.

O Processo Administrativo n° SP 2007/011774 (SADIA/PERDIGÃO),


instaurado com o objetivo de apuração dos fatos de suposto uso de
informação privilegiada que não teve sua publicação realizada na negociação
de emissão de ações da Perdigão na Bolsa de Valores de Nova York, sendo
esta conduta expressamente vedada pela Lei n° 6.404/76, art. 151, § 1°.
Outrossim, além das sanções administrativas impostas tanto pelas
autoridades brasileiras quanto norte americanas, o Ministério Público Federal,
propôs ação penal em face Romano Ancelmo Fontana Filho, administrador da
Sadia à época, Luiz Gonzaga Murat Júnior (ex-diretor de Finanças e Relações
com os Investidores da Sadia) e Alexandre Ponzio de Azevedo, pela prática
do insider trading.

Na justiça estadunidense, o ex-administrador, ficou proibido


determinadas disposições da legislação estadunidense foi obrigado a um
termo de compromisso com a SEC. Ademais, a condenação judicial culminou
na condenação da empresa ao pagamento no importe de US$ 142,848.95,
sendo o valor proporcional ao valor da vantagem indevida, ainda assim, além
da condenação no âmbito civil em razão do ganho de forma ilícita, o mesmo
perdeu o direito de exercício do cargo de administrador de sociedade de
capital aberto por 05 anos.

 DEFESA

A defesa do acusado aponta o incidente de assunção de competência


da CVM, ao passo que as operações não terem sido realizadas as
negociações de forma violenta e tampouco não há o que se falar em danos de
pessoas residentes no Brasil. Assim, apontando que a autoridade brasileira
não possui competência para processar e julgar o caso, em razão de suposta
dupla condenação “bis in idem”, que se trata da vedação da condenação pelo
mesmo fato. No entanto, como mencionado, a competência da CVM,
estabeleceu-se com fundamento no § 6°, art. 9° da Lei 6.385/76, portanto, não
restando qualquer dúvida sobre a competência da CVM para processar e
julgar o caso, apurando a conduta dos acusados.

Em síntese, o processo teve seu desfecho com a realização de acordo


judicial entre o MPF e Alexandre Ponzio de Azevedo, sendo excluído do polo
passivo do processo, o ex-administrador Romano Fontana Filho, teve
condenação estabelecida de dois anos e um mês de prisão, pena esta
convertida em prestação de serviços comunitários e proibição de exercer
cargos nas companhias de capital aberto e multa de R$ 375.000,00 (trezentos
e setenta e cinco mil reais). Vale ressaltar, que em razão dilação temporal que
se deu o processo, a pena, prescreveu. Luiz Murat, condenação estabelecida
em dois anos e seis meses, que também se converteu em prestação de
serviços comunitário, além da multa de R$ 375.00,00. O referido processo
transitou em julgado em 2017.

REFERÊNCIAS:

COELHO ULHOA, Fábio. Manual de Direito Comercial: direito de empresa,


volume 2: sociedades. 20. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016. p. 294-295.

https://www.jusbrasil.com.br/busca?q=Art.+157%2C
%C2%A7+4%C2%B0+Lei+6.404%2F76

Ulhoa Coelho, Fábio, Curso de Direito Comercial, 20. Ed. São Paulo: RT,
2016, p.254

http://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/300/
inst358.pdf#:~:text=Art.%202o%20Considera-se%20relevante%2C%20para
%20os%20efeitos%20desta,seus%20neg%C3%B3cios%20que%20possa
%20influir%20de%20modo%20ponder%C3%A1vel%3A

Você também pode gostar