Você está na página 1de 19

CONRCUSO PÚBLICO PCAL/2022

DELEGADO DE POLÍCIA

PROVA DISCURSIVA
Aula 01
1ª QUESTÃO: A investigação criminal consiste na fase inquisitória da persecução penal, tendo como
principal finalidade a demonstração do lastro probatório mínimo necessário ao início da ação penal. O
principal procedimento investigatório existente no Brasil é o Inquérito Policial (IP), o qual, porém,
eventualmente pode ser substituído por Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) ou até mesmo
dispensado. Acerca do tema, redija um texto dissertativo, em no máximo 30 (trinta) linhas, abordando
necessariamente os seguintes itens: (VALOR: 10,0 PONTOS).
1 - Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) – conceito e requisitos previstos na Lei nº 9.099/95; (3,5)
2 - Lavratura de TCO no caso de violência doméstica e familiar contra a mulher? (1,5)
3 - Legitimidade para a lavratura de TCO, com base na Lei, na Doutrina e na Jurisprudência. (3,0);
4 - Significado da dispensabilidade do Inquérito Policial. Há previsão legal no CPP? Justifique. (2,0)

1 - TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (TCO) – CONCEITO E REQUISITOS


PREVISTOS NA LEI Nº 9.099/95: O Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) é um procedimento
administrativo simplificado, consistente em um mero registro de ocorrência, o qual substitui o
Inquérito Policial (IP) (1,0), quando presentes os requisitos legais, que são: tratar-se de infração penal de
menor potencial ofensivo, é dizer, crimes com pena máxima cominada até dois anos e todas as
contravenções penais (1,0); e o infrator ser encaminhado imediatamente ao Juizado Especial Criminal
(JECRIM) (0,75) ou assumir o compromisso de a ele comparecer (0,75).
2 - LAVRATURA DE TCO NO CASO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER?
Além disso, não é possível a lavratura de TCO, em substituição ao IP ou, se for o caso, ao Auto de Prisão em
Flagrante Delito (APFD), quando se tratar de infração penal cometida em contexto de violência doméstica e
familiar contra a mulher (1,0), por vedação expressa no art. 41 da Lei nº 11.340/06 (0,5).

3 - LEGITIMIDADE PARA A LAVRATURA DE TCO, COM BASE NA LEI, NA DOUTRINA E NA


JURISPRUDÊNCIA? O art. 69 da Lei nº 9.099/95 prevê que a legitimidade para a lavratura do TCO é da
“autoridade policial” (0,75). Quando a citada Lei entrou em vigor, a doutrina travou intenso debate sobre o alcance
dessa expressão. Para uma primeira corrente, é apenas a autoridade policial em sentido estrito, ou seja,
Delegado de Polícia (0,75). Já para uma segunda, é a autoridade policial em sentido lato ou amplo (0,75), o que
compreende, também, agentes e escrivães de polícia, policiais militares, policiais rodoviários federais etc. O Supremo
Tribunal Federal (STF), recentemente, fixou entendimento no sentido da segunda corrente (0,75).

4 - SIGNIFICADO DA DISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL. HÁ PREVISÃO LEGAL NO


CPP? JUSTIFIQUE. Por fim, da mesma forma que o IP pode ser substituído pelo TCO, conforme acima ressaltado,
ele também pode ser dispensado, caso o titular da ação penal obtenha, por meio de qualquer outra fonte lícita de
informação, os elementos probatórios mínimos necessários à sua propositura (1,0). O Código de Processo Penal
(CPP), a propósito, prevê, em seu art. 39, §5º, que o órgão do Ministério Público (MP) dispensará o inquérito, se
com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, caso em que
oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias (1,0).
SUGESTÃO DE TEXTO PARA RESPOSTA
O Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) é um procedimento administrativo simplificado, consistente
em um mero registro de ocorrência, o qual substitui o Inquérito Policial (IP), quando presentes os requisitos legais,
que são: tratar-se de infração penal de menor potencial ofensivo, é dizer, crimes com pena máxima cominada até
dois anos e todas as contravenções penais; e o infrator ser encaminhado imediatamente ao Juizado Especial Criminal
(JECRIM) ou assumir o compromisso de a ele comparecer.
Além disso, não é possível a lavratura de TCO, em substituição ao IP ou, se for o caso, ao Auto de Prisão em
Flagrante Delito (APFD), quando se tratar de infração penal cometida em contexto de violência doméstica e familiar
contra a mulher, por vedação expressa no art. 41 da Lei nº 11.340/06.
Ainda sobre o TCO, o art. 69 da Lei nº 9.099/95 prevê que a legitimidade para a sua lavratura é da “autoridade
policial”. Quando a citada Lei entrou em vigor, a doutrina travou intenso debate sobre o alcance dessa expressão.
Para uma primeira corrente, é apenas a autoridade policial em sentido estrito, ou seja, Delegado de Polícia. Já para
uma segunda, é a autoridade policial em sentido lato ou amplo, o que compreende, também, agentes e escrivães de
polícia, policiais militares, policiais rodoviários federais etc. O Supremo Tribunal Federal (STF), recentemente,
fixou entendimento no sentido da segunda corrente.
Por fim, da mesma forma que o IP pode ser substituído pelo TCO, como acima ressaltado, ele também pode ser
dispensado, caso o titular da ação penal obtenha, por meio de qualquer outra fonte lícita de informação, os elementos
probatórios mínimos necessários a sua propositura. O Código de Processo Penal (CPP), a propósito, prevê, em seu
art. 39, §5º, que o órgão do Ministério Público (MP) dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos
elementos que o habilitem a promover a ação penal, caso em que oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.
2ª QUESTÃO: No expediente do dia 29/09/2022, o delegado de polícia do 22º distrito policial de Maceió/AL foi
procurado por Maria, de 21 anos de idade, a qual relatou ter sido vítima de crime de estupro praticado por um
indivíduo desconhecido, na noite do dia anterior, por volta das 22:30h, quando ela voltava do trabalho para casa, ao
tempo em que solicitou à autoridade policial que adotasse as providências legais cabíveis. Maria narrou, ainda, que o
infrator, o qual portava uma arma de fogo, praticou consigo, além de conjunção carnal, outros atos libidinosos
forçados, como sexo anal. Diante dos fatos, a autoridade de polícia judiciária baixou portaria e instaurou Inquérito
Policial (IP) para a apuração do fato, determinando, dentre outras diligências, a expedição de requisição ao Instituto
Médico Legal (IML), a fim de que a vítima fosse submetida a exame de conjunção carnal e atos libidinosos diversos.
Após uma série de diligências, fora identificado como autor do delito Paulo, de 20 anos de idade. Ao proceder ao
interrogatório de Paulo, na presença de seu advogado, o delegado de polícia suspeitou ser ele portador de deficiência
mental, o que foi corroborado pelo causídico. A partir dessa situação hipotética, redija um texto dissertativo, em no
máximo 30 (trinta) linhas, abordando necessariamente os seguintes itens: (VALOR: 10,0 PONTOS).
1 – Em relação ao delito de estupro, a instauração do Inquérito Policial (IP) só foi possível por conta da aquiescência da
vítima? Justifique. (2,0)
2 – Considerando a característica da discricionariedade do IP, a autoridade policial poderia provar a materialidade do crime
de estupro por meio de qualquer diligência lícita, incluída a confissão do acusado? Fundamente. (2,0)
3 – Tendo em vista a dúvida sobre a integridade mental do investigado, poderia a autoridade policial determinar a
instauração de incidente de insanidade mental de ofício, a fim de ele ser submetido a exame médico-legal? Justifique. (2,0)
4 – Diante da característica da sigilosidade do IP, o advogado do investigado não poderia ter acesso aos autos do IP?
Explique. (2,0)
5 – Em razão da idade do investigado, caso ele não tivesse advogado, deveria a autoridade policial nomear-lhe curador para
acompanhá-lo no interrogatório e demais atos da investigação? Fundamente. (2,0)
1 - EM RELAÇÃO AO DELITO DE ESTUPRO, A INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO
POLICIAL (IP) SÓ FOI POSSÍVEL POR CONTA DA AQUIESCÊNCIA DA VÍTIMA?
JUSTIFIQUE. Com o advento da Lei nº 13.718/2018, todos os crimes contra a dignidade sexual
passaram a ser de ação penal pública incondicionada (1,0), diante do que a instauração do
Inquérito Policial (IP), no caso sob análise, independeria de qualquer manifestação de vontade da
vítima (1,0).

2 - CONSIDERANDO A CARACTERÍSTICA DA DISCRICIONARIEDADE DO IP, A


AUTORIDADE POLICIAL PODERIA PROVAR A MATERIALIDADE DO CRIME DE
ESTUPRO POR MEIO DE QUALQUER DILIGÊNCIA LÍCITA, INCLUÍDA A CONFISSÃO
DO ACUSADO? FUNDAMENTE. Ainda em relação ao delito em tela, mesmo considerando a
característica da discricionariedade do IP, como se trata de infração penal que deixa vestígios
(intranseunte), não poderia a autoridade policial provar a sua materialidade através de qualquer
meio de prova (0,5), mas tão somente por intermédio do exame de corpo de delito (0,5), não
podendo supri-lo nem mesmo a confissão do acusado (0,5), conforme dispõe o art. 158 do CPP.
Apenas se desaparecessem os vestígios, é que seriam possíveis outros meios de prova (art. 167 do
CPP) (0,5).
3 - TENDO EM VISTA A DÚVIDA SOBRE A INTEGRIDADE MENTAL DO INVESTIGADO, PODERIA A
AUTORIDADE POLICIAL DETERMINAR A INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL
DE OFÍCIO, A FIM DE ELE SER SUBMETIDO A EXAME MÉDICO-LEGAL? JUSTIFIQUE. Em regra, o
delegado de polícia pode determinar a realização do exame de corpo de delito e outras perícias de ofício (1,0),
porém, em se tratando de instauração de incidente de insanidade mental para submeter o investigado à perícia
médico-legal, na fase da investigação, ele precisa representar perante o juízo competente (1,0).

4 - DIANTE DA CARACTERÍSTICA DA SIGILOSIDADE DO IP, O ADVOGADO DO INVESTIGADO NÃO


PODERIA TER ACESSO AOS AUTOS DO IP? EXPLIQUE. Uma vez concluídas e documentadas as diligências
investigativas, o advogado do investigado tem direito a ter acesso amplo a elas (1,0), nos termos da Súmula
Vinculante 14, embora o IP seja um procedimento sigiloso. Por outro lado, a eventuais diligências em curso o
causídico não tem esse acesso (1,0).

5 - EM RAZÃO DA IDADE DO INVESTIGADO, CASO ELE NÃO TIVESSE ADVOGADO, DEVERIA A


AUTORIDADE POLICIAL NOMEAR-LHE CURADOR PARA ACOMPANHÁ-LO NO INTERROGATÓRIO
E DEMAIS ATOS DA INVESTIGAÇÃO? FUNDAMENTE. Por fim, em sede de direitos do investigado, é oportuno
lembrar que o art. 15 do CPP prevê a prerrogativa de lhe ser nomeado um curador pela autoridade policial
presidente do IP, caso seja menor de vinte e um anos de idade (1,0), porém esse dispositivo legal foi tacitamente
revogado pelo Código Civil de 2002, o qual passou a prevê a capacidade absoluta, em razão da idade, a partir
dos dezoito anos. Portanto, não haveria necessidade de nomeação de curador no caso sob análise (1,0).
SUGESTÃO DE TEXTO PARA RESPOSTA
Com o advento da Lei nº 13.718/2018, todos os crimes contra a dignidade sexual passaram a ser de ação penal
pública incondicionada, diante do que a instauração do Inquérito Policial (IP), no caso sob análise, independeria de
qualquer manifestação de vontade da vítima.
Ainda em relação ao delito em tela, mesmo considerando a característica da discricionariedade do IP, como se
trata de infração penal que deixa vestígios (intranseunte), não poderia a autoridade policial provar a sua
materialidade através de qualquer meio de prova, mas tão somente por intermédio do exame de corpo de delito, não
podendo supri-lo nem mesmo a confissão do acusado, conforme dispõe o art. 158 do CPP. Apenas se
desaparecessem os vestígios, é que seriam possíveis outros meios de prova (art. 167 do CPP).
Nesse contexto, ressalta-se que, em regra, o delegado de polícia pode determinar a realização do exame de
corpo de delito e outras perícias de ofício, porém, em se tratando de instauração de incidente de insanidade mental
para submeter o investigado à perícia médico-legal, na fase da investigação, ele precisa representar perante o juízo
competente.
Importante mencionar também que, uma vez concluídas e documentadas as diligências investigativas, o
advogado do investigado tem direito a ter acesso amplo a elas, nos termos da Súmula Vinculante 14, embora o IP
seja um procedimento sigiloso. Por outro lado, a eventuais diligências em curso o causídico não tem esse acesso.
Por fim, em sede de direitos do investigado, é oportuno lembrar que o art. 15 do CPP prevê a prerrogativa de
lhe ser nomeado um curador pela autoridade policial presidente do IP, caso seja menor de vinte e um anos de idade,
porém esse dispositivo legal foi tacitamente revogado pelo Código Civil de 2002 que passou a prevê a capacidade
absoluta, em razão da idade, a partir dos dezoito anos. Portanto, não haveria necessidade de nomeação de curador
no caso sob análise.
3ª QUESTÃO: Após praticar, em tese, crime de homicídio contra João, na cidade de Maceió/AL, Sandro evadiu-se do
local. Ao ser acionada, a central da Polícia Militar encaminhou ao local do fato duas equipes, uma das quais providenciou
o isolamento e a preservação do local e a outra, após a obtenção de informações preliminares, iniciou perseguição
ininterrupta, conseguindo capturar Sandro no Município de Santana do Ipanema/AL, tendo ele sido apresentada à
autoridade policial desta última cidade, onde, diante do relato dos militares e da confissão do autuado, foi lavrado Auto de
Prisão em Flagrante (APF), o qual foi remetido à delegacia de homicídios da capital, Maceió/AL, que instaurou o
competente Inquérito Policial (IP). Durante as investigações, contudo, os elementos de informação colhidos indicaram que
o investigado teria agido em legítima defesa, mas ainda assim o delegado de polícia entendeu por indiciá-lo. Além disso,
tão logo instaurou o IP e ser informado da conversão da prisão em flagrante em preventiva, a autoridade policial requereu
ao juiz competente a decretação da incomunicabilidade de Sandro por 03 (três) dias, ao argumento de que a medida seria
imprescindível ao êxito da investigação, o que foi deferido pelo magistrado. A partir dessa situação hipotética, redija um
texto dissertativo, em no máximo 30 (trinta) linhas, abordando necessariamente os seguintes itens: (VALOR 10,0
PONTOS).
1 - O Auto de Prisão em Flagrante lavrado foi medida adequada? Fundamente. Se sim, qual a modalidade de flagrante?
(2,0)
2 - Os Policias Militares de Maceió/AL poderiam ter adentrado na comarca de Santana do Ipanema/AL para prender o
infrator? A autoridade policial dessa última cidade detinha atribuição para a lavratura do APF? Justifique. (2,0)
3 - A decretação da incomunicabilidade do investigado foi correta? Explique. (2,5)
4 - Caso se convencesse da tese da legítima defesa, poderia a autoridade policial arquivar o IP? Apresente o fundamento
legal de sua resposta. (1,5)
5 - Considerando o fenômeno da coisa julgada, se o IP tivesse sido arquivado pelo juiz a requerimento do Ministério
Público (MP), por conta da tese da legítima defesa, seria possível o seu desarquivamento? Fundamente. (2,0)
1 - O AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE LAVRADO FOI MEDIDA ADEQUADA?
FUNDAMENTE. SE SIM, QUAL A MODALIDADE DE FLAGRANTE? O Auto de Prisão em
Flagrante (APF) lavrado contra Sandro foi adequado (0,5), pois, nos termos do art. 302, III, do CPP,
considera-se em flagrante delito quem é perseguido, logo após a prática da infração penal, pela
autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser o seu autor (1,0).
É a modalidade de flagrante que a doutrina denomina de impróprio, imperfeito, irreal ou quase-
flagrante (0,5).

2 - OS POLICIAS MILITARES DE MACEIÓ/AL PODERIAM TER ADENTRADO NA COMARCA


DE SANTANA DO IPANEMA/AL PARA PRENDER O INFRATOR? A AUTORIDADE POLICIAL
DESSA ÚLTIMA CIDADE DETINHA ATRIBUIÇÃO PARA A LAVRATURA DO APF?
JUSTIFIQUE. Também foram corretos o ingresso dos policiais militares que perseguiam o infrator na
cidade de Santana do Ipanema/AL (0,5) e a lavratura do APF pela autoridade policial do citado
município (0,5), pois, à luz do art. 290 do CPP, se o infrator for perseguido em estado de flagrância e
passar para o território de outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão onde o
alcançar (0,5), mas deve apresentá-lo imediatamente à autoridade do local da captura, a quem
competirá lavrar o auto de flagrante, se for o caso (0,5), providenciando, a posteriori, a remoção do preso
para o local do cometimento do delito.
3 - A DECRETAÇÃO DA INCOMUNICABILIDADE DO INVESTIGADO FOI CORRETA? EXPLIQUE.
Não era possível a decretação da incomunicabilidade do investigado (0,5), pois, apesar de tal providência
ainda ser prevista no art. 21 do CPP (0,5), é dominante o entendimento de que ela não é mais admitida,
visto que o citado dispositivo legal não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988 (CF/88) (0,5),
primeiro porque esta prevê ser direito do preso a assistência da família e de advogado (0,5) e, segundo,
porque a CF/88 veda a incomunicabilidade de pessoa presa até mesmo no estado de defesa (0,5).

4 - CASO SE CONVENCESSE DA TESE DA LEGÍTIMA DEFESA, PODERIA A AUTORIDADE


POLICIAL ARQUIVAR O IP? APRESENTE O FUNDAMENTO LEGAL DE SUA RESPOSTA.
Conquanto se convencesse de ter o investigado agido escudado por legítima defesa, NÃO poderia o
delegado de polícia arquivar o Inquérito Policial (IP) (0,75), pois, em razão da característica da
indisponibilidade, não pode a autoridade policial, em nenhuma hipótese, mandar arquivar autos de IP,
consoante previsão expressa no art. 17 do CPP (0,75).

5 - CONSIDERANDO O FENÔMENO DA COISA JULGADA, SE O IP TIVESSE SIDO ARQUIVADO


PELO JUIZ A REQUERIMENTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO (MP), POR CONTA DA TESE DA
LEGÍTIMA DEFESA, SERIA POSSÍVEL O SEU DESARQUIVAMENTO? FUNDAMENTE. Por fim, caso
o IP tivesse sido arquivado pelo reconhecimento da legítima defesa ou de qualquer excludente de ilicitude, para o
STF a decisão faria coisa julgada apenas formal (0,5) e, portanto, seria possível o desarquivamento (0,5), se
surgissem novas provas; já, para o STJ, a decisão faria coisa julgada formal e material (0,5) e, logo, seria
impossível desarquivar o procedimento (0,5).
SUGESTÃO DE TEXTO PARA RESPOSTA
O Auto de Prisão em Flagrante (APF) lavrado contra Sandro foi adequado, pois, nos termos do art. 302, III, do CPP,
considera-se em flagrante delito quem é perseguido, logo após a prática da infração penal, pela autoridade, pelo ofendido ou
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser o seu autor. É a modalidade de flagrante que a doutrina denomina de
impróprio, imperfeito, irreal ou quase-flagrante.
Ademais, também foram corretos o ingresso dos policiais militares que perseguiam o infrator na cidade de Santana do
Ipanema/AL e a lavratura do APF pela autoridade policial do citado município, pois, à luz do art. 290 do CPP, se o infrator for
perseguido em estado de flagrância e passar para o território de outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a
prisão onde o alcançar, mas deve apresentá-lo imediatamente à autoridade do local da captura, a quem competirá lavrar o auto
de flagrante, se for o caso, providenciando, a posteriori, a remoção do preso para o local do cometimento do delito.
Salienta-se, ainda, que não era possível a decretação da incomunicabilidade do investigado, pois, apesar de tal
providência ainda ser prevista no art. 21 do CPP, é dominante o entendimento de que ela não é mais admitida, visto que o
citado dispositivo legal não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988 (CF/88), primeiro porque esta prevê ser
direito do preso a assistência da família e de advogado e, segundo, porque a CF/88 veda a incomunicabilidade de pessoa presa
até mesmo durante o estado de defesa.
Outrossim, conquanto se convencesse de ter o investigado agido escudado por legítima defesa, não poderia o delegado
de polícia arquivar o Inquérito Policial (IP), pois, em razão da característica da indisponibilidade, não pode a autoridade
policial, em nenhuma hipótese, mandar arquivar autos de IP, consoante previsão expressa no art. 17 do CPP.
Por fim, caso o IP tivesse sido arquivado pelo reconhecimento da legítima defesa ou de qualquer excludente de ilicitude,
para o STF a decisão faria coisa julgada apenas formal e, portanto, seria possível o desarquivamento, se surgissem novas
provas; já, para o STJ, a decisão faria coisa julgada formal e material e, logo, seria impossível desarquivar o procedimento.
4ª QUESTÃO: Ao sair de sua casa, situada no bairro do Trapiche da Barra, em Maceió/AL, em 01/01/2022, Paula foi
surpreendida por faixa anônima estendida na via pública com diversas ofensas à sua honra, caracterizadoras dos
crimes de calúnia e injúria. Diante da humilhação sofrida, Paula deixou o país e foi morar no exterior sem se interessar
em descobrir o responsável pelos fatos. Em 15/07/2022, Paula recebeu mensagem de Francisca, sua antiga vizinha,
confessando ser ela a autora das ofensas, bem como esclarecendo que informou os fatos ao delegado de polícia, em
razão de seu arrependimento. Diante disso, Paula regressou ao Brasil, procurando à delegacia de polícia competente,
onde apresentou requerimento para a instauração de Inquérito Policial (IP). Instaurado e concluído, o IP foi
encaminhado ao juízo competente, perante o qual a ofendida, em 15/08/2022, ofereceu queixa-crime, que foi recebida
pelo juiz em 23/08/2022. Após a instrução criminal, Paula atravessou declaração expressa nos autos concedendo
perdão a Francisca. A partir dessa situação hipotética, redija um texto dissertativo, em no máximo 30 (trinta) linhas,
abordando necessariamente os seguintes itens: (VALOR 10,0 PONTOS).
1 – O oferecimento da queixa-crime ainda era possível, considerando o decurso do tempo? Justifique. (1,5)
2 – A partir do requerimento da ofendida, a autoridade policial poderia ter instaurado o procedimento de investigação
apenas com base na faixa apócrifa contendo as ofensas contra a vítima? Fundamente à luz da jurisprudência. (2,0)
3 – O delegado de polícia poderia ter instaurado o IP de ofício, considerando a modalidade de ação penal? Explique.
(2,0)
4 – Diante da declaração expressa da ofendida concedendo perdão à querelada, qual o procedimento a ser adotado pelo
juiz? Haveria diferenças, caso a vítima tivesse renunciado ao direito de queixa? Fundamente. (2,5)
5 – Se, no caso da questão, tivesse havido injúria racial ou até mesmo racismo, qual seria a espécie de ação penal quanto
à titularidade? Justifique. (2,0)
1 – O OFERECIMENTO DA QUEIXA-CRIME AINDA ERA POSSÍVEL, CONSIDERANDO O DECURSO
DO TEMPO? JUSTIFIQUE. O oferecimento da queixa-crime pela ofendida ainda era possível (0,5), porque a
sua decadência se dá no prazo de seis meses (0,5), mas a contar apenas do dia em que a vítima vem a saber
quem é o autor do crime (0,5), consoante o art. 38 do Código de Processo Penal (CPP), o que ainda não tinha
ocorrido no caso sob análise.

2 – A PARTIR DO REQUERIMENTO DA OFENDIDA, A AUTORIDADE POLICIAL PODERIA TER


INSTAURADO O PROCEDIMENTO DE INVESTIGAÇÃO APENAS COM BASE NA FAIXA APÓCRIFA
CONTENDO AS OFENSAS CONTRA A VÍTIMA? FUNDAMENTE À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA. No que
tange à instauração do Inquérito Policial (IP), apesar de ser pacífico o entendimento nos tribunais superiores de
que informação apócrifa, sem uma verificação prévia de procedência das informações, não justifica a
instauração formal de IP (0,75), há precedentes do STF apontando exceção a tal entendimento, quando, por
exemplo, o escrito apócrifo constituir, ele próprio, o corpo de delito, como ocorre no caso de cartas anônimas
que evidenciem a prática de crimes contra a honra (0,75). Assim, era possível o delegado de polícia ter
instaurado o IP com base apenas na faixa anônima contendo as ofensas à vítima (0,5).

3 – O DELEGADO DE POLÍCIA PODERIA TER INSTAURADO O IP DE OFÍCIO, CONSIDERANDO A


MODALIDADE DE AÇÃO PENAL? EXPLIQUE. Como os delitos a serem apurados, no caso, são de ação
penal privada (0,75), a instauração do procedimento policial dependeria do requerimento da vítima ou, se
fosse o caso, do seu representante legal (0,75), consoante o art. 5º, §5º, do CPP, ou seja, o IP não poderia ter sido
instaurado de ofício (0,5).
4 – DIANTE DA DECLARAÇÃO EXPRESSA DA OFENDIDA CONCEDENDO PERDÃO À
QUERELADA, QUAL O PROCEDIMENTO A SER ADOTADO PELO JUIZ? HAVERIA
DIFERENÇAS, CASO A VÍTIMA TIVESSE RENUNCIADO AO DIREITO DE QUEIXA?
FUNDAMENTE. Diante da declaração da vítima (querelante) concedendo perdão, o juiz deve intimar a
querelada para dizer, dentro de três dias, se o aceita (0,5), devendo, ao mesmo tempo, ser cientificada
de que o seu silêncio importará em aceitação (0,5), conforme o art. 58 do CPP, pois o perdão, por
ocorrer após o início da ação penal (0,5), é ato bilateral, ou seja, depende do aceite por parte do
acusado (0,5), diferentemente do que ocorre com a renúncia ao direito de queixa, que se dá antes do
início do processo e, portanto, trata-se de ato extintivo da punibilidade unilateral (0,5).

5 – SE, NO CASO DA QUESTÃO, TIVESSE HAVIDO INJÚRIA RACIAL OU ATÉ MESMO


RACISMO, QUAL SERIA A ESPÉCIE DE AÇÃO PENAL QUANTO À TITULARIDADE?
JUSTIFIQUE. Por fim, se houvesse ofensa que caracterizasse o delito de injúria racial contra a
ofendida, a ação penal passaria a ser pública condicionada à representação (1,0), de acordo com o art.
140, §3º, do CPP, diferente do delito de racismo, cuja ação penal é pública incondicionada, à luz da
Lei nº 7.716/89 (1,0).
SUGESTÃO DE TEXTO PARA RESPOSTA
O oferecimento da queixa-crime pela ofendida ainda era possível, porque a sua decadência se dá no prazo de seis
meses, mas a contar apenas do dia em que a vítima vem a saber quem é o autor do crime, consoante o art. 38 do Código
de Processo Penal (CPP), o que ainda não tinha ocorrido no caso sob análise.
No que tange à instauração do Inquérito Policial (IP), apesar de ser pacífico o entendimento nos tribunais
superiores de que informação apócrifa, sem uma verificação prévia de procedência das informações, não justifica a
instauração formal de IP, há precedentes do STF apontando exceção a tal entendimento, quando, por exemplo, o escrito
apócrifo constituir, ele próprio, o corpo de delito, como ocorre no caso de cartas anônimas que evidenciem a prática de
crimes contra a honra. Assim, era possível o delegado de polícia ter instaurado o IP com base apenas na faixa anônima
contendo as ofensas à vítima.
Porém, como os delitos a serem apurados (calúnia e injúria) são de ação penal privada, a instauração do
procedimento policial dependeria do requerimento da vítima ou, se fosse o caso, do seu representante legal, consoante o
art. 5º, §5º, do CPP, ou seja, o IP não poderia ter sido instaurado de ofício.
Diante da declaração da vítima (querelante) concedendo perdão, o juiz deve intimar a querelada para dizer, dentro
de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificada de que o seu silêncio importará em aceitação,
conforme o art. 58 do CPP, pois o perdão, por ocorrer após o início da ação penal, é ato bilateral, ou seja, depende do
aceite por parte do acusado, diferentemente da renúncia ao direito de queixa, que se dá antes do início do processo e,
portanto, trata-se de ato extintivo da punibilidade unilateral.
Por fim, se houvesse ofensa que caracterizasse o delito de injúria racial contra a ofendida, a ação penal passaria a
ser pública condicionada à representação, de acordo com o art. 140, §3º, do CPP, diferente do delito de racismo, cuja
ação penal é pública incondicionada, à luz da Lei nº 7.716/89.
5ª QUESTÃO: Redija um texto dissertativo, em no máximo 30 (trinta) linhas, acerca de instauração de Inquérito
Policial (IP) e providências que podem ser adotas no seu curso, abordando necessariamente os seguintes aspectos:
(VALOR: 10,0 PONTOS).
1 - Notitia criminis, destacando o conceito, as espécies e citando ao menos um exemplo de cada; (3,0)
2 - Instauração de Inquérito Policial a partir de delatio criminis inqualificada, em conformidade com a CF/88 e a
jurisprudência dos tribunais superiores. Lembrar de eventuais exceções, exemplificando, se for o caso; (3,0)
3 - À luz da jurisprudência, é possível a instauração de IP a partir de notitia criminis veiculada na imprensa? Se sim,
qual a espécie? (1,5)
4 - Possibilidade de se determinar a identificação criminal do investigado, mesmo apresentando documento civil de
identidade, citando, se for o caso, ao menos dois exemplos. (2,5)

1 - NOTITIA CRIMINIS, DESTACANDO O CONCEITO, AS ESPÉCIES E CITANDO AO MENOS UM


EXEMPLO DE CADA: É o conhecimento do fato criminoso pela autoridade policial, de forma espontânea ou
provocada. (0,75)
A doutrina classifica a notitia criminis em: de COGNIÇÃO DIRETA, IMEDIATA ou ESPONTÂNEA,
quando o delegado de polícia toma conhecimento do fato através de suas próprias atividades rotineiras (ex.:
encontrar um cadáver) (0,75); de COGNIÇÃO INDIRETA, MEDIATA ou PROVOCADA, quando o
conhecimento da infração penal se dá por meio de provocação, através de um expediente escrito (ex.:
requisição do Ministério Público) (0,75); e de COGNIÇÃO COERCITIVA, quando a autoridade policial
toma conhecimento do fato delituoso com a prisão em flagrante do infrator (0,75).
2 - INSTAURAÇÃO DE IP A PARTIR DE DELATIO CRIMINIS INQUALIFICADA, EM CONFORMIDADE
COM A CF/88 E A JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. LEMBRAR DE EVENTUAIS
EXCEÇÕES, EXEMPLIFICANDO, SE FOR O CASO: Embora a CF/88 contenha vedação expressa ao
anonimato (art. 5º, IV) (0,75), os tribunais superiores pacificaram o entendimento de que é possível a instauração
formal de Inquérito Policial (IP) a partir de delatio criminis inqualificada, desde que feita, antes, uma
verificação prévia de procedência das informações (0,75). Conforme precedente do STF, porém, seria possível a
instauração do IP apenas com base em informação anônima (apócrifa), quando ela mesma constituísse o corpo de
delito da infração (ex.: carta apócrifa contendo ameaça ou crime contra a honra) (0,75) ou fosse produzida pelo
infrator (ex.: bilhete anônimo exigindo valor de resgate no crime de extorsão mediante sequestro) (0,75).

3 - À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA, É POSSÍVEL A INSTAURAÇÃO DE IP A PARTIR DE NOTITIA


CRIMINIS VEICULADA NA IMPRENSA? SE SIM, QUAL A ESPÉCIE? Além disso, conforme a
jurisprudência do STJ, é perfeitamente possível a autoridade policial instaurar IP a partir do conhecimento da
prática delitiva por meio da imprensa (0,75), sendo exemplo de notitia criminis de cognição imediata (0,75).

4 - POSSIBILIDADE DE SE DETERMINAR A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL DO INVESTIGADO,


MESMO APRESENTANDO DOCUMENTO CIVIL DE IDENTIDADE, CITANDO, SE FOR O CASO, AO
MENOS DOIS EXEMPLOS: Por fim, a CF/88 (art. 5º, LVIII) veda a identificação criminal do civilmente
identificado, salvo nas hipóteses previstas em lei (1,0). A Lei nº 12.037/09, que regula a matéria, por sua vez,
permite a identificação criminal, por exemplo, se o documento apresentado for insuficiente para identificar de
forma cabal o indiciado, caso de documento sem fotografia, como uma certidão de nascimento (0,75), ou apresentar
rasura ou tiver indício de falsificação (0,75).
SUGESTÃO DE TEXTO PARA RESPOSTA
Notitia criminis é o conhecimento do fato criminoso pela autoridade policial, de forma espontânea ou provocada, a
partir do que ele analisa a possibilidade de instaurar o procedimento de investigação cabível.
A doutrina classifica a notitia criminis da seguinte forma: de cognição direta, imediata ou espontânea, quando o
delegado de polícia toma conhecimento do fato através de suas próprias atividades rotineiras (ex.: encontrar um cadáver);
de cognição indireta, mediata ou provocada, quando o conhecimento da infração penal se dá por meio de provocação,
através de um expediente escrito (ex.: requisição do Ministério Público); e de cognição coercitiva, quando a autoridade
policial toma conhecimento do fato delituoso com a prisão em flagrante do infrator.
Nesse contexto, é importante lembrar que, embora a Constituição Federal de 1988 (CF/88) contenha vedação
expressa ao anonimato (art. 5º, IV), os tribunais superiores pacificaram o entendimento de que é possível a instauração
formal de Inquérito Policial (IP) a partir de delatio criminis inqualificada, se feita, antes, uma verificação prévia de
procedência das informações. Conforme precedente do STF, porém, seria possível a instauração do IP apenas com base em
informação anônima (apócrifa), quando ela mesma constituísse o corpo de delito da infração penal (ex.: carta apócrifa
contendo ameaça ou crime contra a honra) ou fosse produzida pelo infrator (ex.: bilhete anônimo exigindo valor de resgate
no crime de extorsão mediante sequestro).
Além disso, conforme a jurisprudência do STJ, é perfeitamente possível a autoridade policial instaurar IP a partir do
conhecimento da prática delitiva por meio da imprensa, sendo exemplo de notitia criminis de cognição imediata.
Por fim, a CF/88 (art. 5º, LVIII) veda a identificação criminal do civilmente identificado, salvo nas hipóteses
previstas em lei. A Lei nº 12.037/09, que regula a matéria, por sua vez, permite a identificação criminal, por exemplo, se o
documento apresentado for insuficiente para identificar de forma cabal o indiciado, caso de documento sem fotografia,
como uma certidão de nascimento, ou apresentar rasura ou tiver indício de falsificação.

Você também pode gostar