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Aula
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trativa, que vinha de rodos os lugares do califado, mas particularmente do vcrno de :il-Mansur por cerca de 15 ,tnos (e. 7S5-770). Os poderes do vizir
Iraque, o centro do poder abássida. «mrinuaram a se expandir durante o período abássida, apesar de nu nca
Ao que parece, Bagdá expandiu-se com uma rapidez exrraordi- tt·rcm sido plenos; os vizi.res normalmente não controlavam os governado-
nária; estimo plausível que a cidade tenha chegado a ter SOO mil habi- "" provinciais, pois essa era uma responsabilidade do califa (apesar dedes,
tantes no século IX.4 Isso foi possível graças ao fornecimento de água de faro, controlarem os foncioná.rios do fisco provincial), e havia sempre
do Tigre, que atravessa a cidade (Damasco cem muirn menos água, e luncionários autônomos dentro da própria Bagdá, entre eles o mordomo
nunca foi assim tão grande), e graças aos vastos recursos agrícolas daJa- (~1iijib), que administrava a grande casa do califa e cosrumava gozar de sua
zira, entre o Iraque e a Síria, e (acima de tudo) do sul do Iraque, a utcrra ,onfiança, o que poderia torná-lo um sério rival para qualquer vizir. Mas,
negra" ou Sawad, que os primeiros abássidas desenvolveram ainda mais pda primeira vez, vemos uma dara estrutura de governo no mundo árabe,
mediante projetos de irrigação que possibilitaram superar até mesmo a tom sua própria e complexa política interna, como examinaremos, que se
riqueza produtiva do Egiro. Mas isso apenas se tornou possível com o tornou ú nda mais traiçoeira devido à grande quantidade de dinheiro que
controle abássida, que conquistou todas as partes do mundo islâmico, precisava gerir.
com exceção da Espanha: al-Mansur começara do zero, e, após a execu- Al-Man sur não tinha dúvidas quanto à natureza dinástica de seu
ção de Abu Muslim, seu grande general khurasani, em 75S, não devia governo, e, graças à remoção de seus rivais, uma linha condnua de califas,
nada a ninguém. Em particular, ele deu início à reorganização do sistema mdos descendentes dele, manteve a posição até 1S17. Seu filho al-Mahdi
fiscal, coisa que os omíadas nunca conseguiram. Os árabes que viviam (77S-78S) e seu nero al-Rashid (786-809) continuaram suas práticas polí-
nas províncias gradativamenre perderam seus direiros sobre os imposros ticas - em um período de paz e prosperidade generalizadas - que contri-
provinciais, que começa.rama fluir mais consistentemente para o centro buíram para a tendência à centralização. uPaz" calvez seja um termo muito
militar e político que era Bagdá, um recurso garantido para a população brando; havia sempre guerras de froncei ra com os bizantinos; as rebd iões
da cidade, seja pa.ra os soldados e administradores, que eram pagos por provinciais estavam longe de ser inéditas, particularmente no Egito e no
eles, ou então para a multidão de lojistas, mercadores e artesãos, e servos leste do Khurasan, o que incluía a revolta campesina da Jazira, a oeste de
públicos ou privados, cujo suprimento dependia dos imposros. MossuJ, na década de 770. Mas nenhum desses eventos ameaçou a estru-
Esse processo de cermalização fiscal não poderia ter sido estabele- tura do estado, que continuou a se desenvolver. Al-Rashid, também co-
cido de um dia para o ourro, é claro, dados o tamanho e a complexidade do nhecido como H arun, seu nome de nascença (todos os califas abássidas
califado - como veremos, as décadas de 780 e 790 e de 830 viram outros tinham ao mesmo tempo um nome de nascença e um nome de governo,
desenvolvimentos nessa di.reção -, mas ele começou com al-Mansur, que apesar de os hisrnriadores preferirem usar apenas csce último), é de longe
teve mais recursos à sua disposição do que qualquer califa anterior, ou que o abássida mais famoso, e talvez o mais conhecido governante muçul ma-
qualquer imperador romano desde ao menos o século IV. Disso resulta que no medieval ao lado de Saladino, graças ao seu papel proeminente em As
al-Mansur implementou uma rede administrativa que se mostrou capaz de mil e uma noites, que, em sua forma acual, é uma coleção de histórias, em
organizar e distrihu ir tais recursos. O s omíadas já empregavam secretários sua maioria da Baixa Idade Média. Du.rante sua vida, entretanto, apesar
(kuttãb), que gozavam de considerável importância admiJÜstrativa, mas é de ser um general ativo, ele era uma figura relativamente afastada das po-
sob os primeiros abássidas que começamos a observá-los sendo mais clara- líticas internas, devotada, em grande parte, ao cerimonial. Entre 786 e
mente responsáveis por ramificações separadas do governo, ou dituãns, e é 803, o estado foi dominado pelo seu vizir Yahya ibn Khalid ibn Barmak
particularmente no governo de al-Mansur que vemos aparecer um chefe (m. 80S), filho de um dos principais funcioná.rios de al-Mansur, e antigo
executivo de todo o sistema administrativo cent.ral, o 1uazir ou vizir;s pa- ruror de Harun. Yah}'ª administrou o governo junto com seus filhos,Jafar,
rece que o primeiro vizir foi Abu Ayyub (m. 771), que administrou o go- o melhor amigo e companheüo de Harun, tanto na vida real quanto nas
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Mil e uma noites, e al-Fadl, que distribuiu a maior parte dos cargos c.-.tatais ,1/,11,1 'de .tl-Am in, cm 81 1, e al-Ma mun . .igora reivindicando o califado
entre eles e também uma sucessão de governadorias provinciais; juntos, (K 11 833), enviou Tahir contra Bagdá.
eles são conhecidos como os barmakidas.6 Os barmakidas, desde então, T:1.hir cercou a capital durante um ano, até que conseguiu dcs-
tiveram uma elevada reputação por serem administradores habilidosos e 111.11111.'iar a resistência local em 813; al-Amin foi capturado e morro. Al-
honestos, o que parece ser verdade; eles foram os principais arquitetos do l\ l.imun, entretanto, permaneceu em Khurasan, fazendo de Merv (hoje
amadurecimento do sistema fiscal abássida, contornando os governadores 1111 1urcomenistão) sua capital; além disso, ele mostrou, nesse período, um
provinciais (exceto quando eles mesmos detinham tais cargos), e direcio- , u111prometirnento xiita, acima de rudo por meio de sua exclusiva decisão
nando proporções ainda maiores de arrecadação de impostos para Bagdá. il, tornar um ilida seu sucessor, em 817, Ali ibn Musa, cujo nome de go-
Sua memória também foi fortalecida por sua queda abrupta, quando, em , n 110 seria al-Rida, "o escolhido".9 Isso assegurou a lealdade de parres do
803, praticamente do nada, al-Rashid ordenou a decapitação de Jafar e o l. lt11r.1sa11 e do Iraque, mas alienou o resto do califado. Bagdá se revoltou
aprisionamento de seus parentes, por razões pouco claras, exceto, calvez, 1111v.1mcnte, escolhendo Ibrahim, o irmão de al-Rashid, como o califa al-
por seu crescente ressentimento pelo poder acumulado por essa família. l\lubarak; também o Egito, que tivera sua própria guerra civil entre os
Os escritores árabes ponderaram por sécu los a tragédia do administrador •1 •01,1dorcs dos irmãos rivais desde 812, cedeu ao caos em 819, com a mais
ideal, Yahya, causada por um califa quase iguaJmeme ideal- especialmen- r1.1vc revolta tributária de uma população cristã desde 750.'0 Al-Mamun
te por ter acontecido poucos anos ames da morte do próprio al-Rashid, o 1,·vc Jc retroceder, mudou-se para Bagdá e definitivamente se afastou do
que ocasionou uma séria guerra civiF i111.1ginário álida em 819. O Iraque o recebeu imediatamente, e lbrahim
Era uma prática comum que os califas abássidas nomeassem seus l1.11c11 cm retirada (ele sobreviveu a esse fracasso e se reconciliou em 825;
primeiios e segundos herdeiros como meio de controlar a sucessão; isso ,,11.1 morre ocorreu, na corte, no ano de 839). O Egito, entretanto, levou
quase nunca dava certo, já que os alinhamentos polfticos mudavam, mas 11111iro mais tempo para se submeter; em 832, al-Marnun teve de comandar
pelo menos ajudava a garantir que o herdeiro inicial teria êxito sem a opo- p, ,,oalmente um exército para lograr uma rendição mais adequada.11 Dias
sição de seu suposto sucessor. Al-Rashid deu um passo adiante: designou 11111:~ de sua morte, o califa conseguiu o pleno controle sobre os domínios
um de seus filhos, al-Amin, como o próximo califa (809-813), e outro, -Ir ,cu pai, com a exceção da África Setentrional, uma província sempre
al-Mamun, como seu sucessor, mas ele também concedeu o Khurasan 11111 pouco à margem, que nunca retornou ao controle abássida.
como benefício a al-Mamun - nessa área ele seria efetivamenre autôno- Assim, a guerra civil de 811-813 desencadeou problemas. O res-
mo durante o reinado de seu irmão. Provavelmente isso se deveu ao fato 11-m,memo das provindas em relação à tributação era perene; quanto mais
de o Khurasan ter se rornado, novamente, uma província censa,8 com '" .1bássidas insistiam em enviar os imposros para o Iraque, mais grave se
as arisrocracias locais indispostas a aceitar o dfreito de Bagdá a coletar 111111ava a resistência local. No período omíada, essa resistência poderia
seus impostos (ironicamente, para pagar o amigo exércico khurasani dos 1, onrecer em termos de lealdade à pessoa do califa (já que os exércitos
abnã', na capital e na fronteira bizantina); essa situação seria diferente, ,\t ,1bcs deveriam rer o direito de manter a tributação provincial); mas,
ao menos por algum tempo, até que al-Rashid morresse e os khurasani , 1,0 esse direito não fosse mais respeirado, haveria o risco de a provín-
pudessem esperar que o futuro califa saísse de seu meio e salvaguardas- ' 1.1 derrubar a autoridade califa! inteira, corno ocorreu ames com o pró-
se seus interesses. Emretamo, as tensões não cessaram com a divisão de pi io aJ-Mamun, no Khurasan. Tal situação eventualmente poderia levar
809, e agora cada lado era comandado por um abássida. Al-Amin, ime- 111 rompimento do poder califa!. Mas é preciso enfatizar que isso ainda

diatamente, tentou sabotar o governo de seu irmão, e os khurasani per- 11.10 havia ocorrido. Al-Mamun manteve a lealdade e a cooperação - e a

suadiram al-Mamun a declarar independência em 810. Inesperadamente, 1., xação - do Khurasan, em grande pane graças à família de seu general
seu general Tahir ibn al-Husayn derrotou a invasão do grande exército l .1hir, que forneceu quatro gerações de governadores tahíridas para are-
c"l h14tulu ,k 1{01,11\ lhlttlin.rntlu ,1 f,IMh:--,!1\\ l!t"V,1~, ,.,uo. u,uo ll,1 H.1~<1.1 ,l\l'i,\V11tl,, ,) (~c'm,.h•hJ ()1111.ul,1. 1~0. 1nuu

gião, de 821 a 873, mas que eram simultaneamente governante~ da cidade (,()() caixas de livros supostamente de propriedade do hiscoriador al-Wa-
de Bagdá, que dependia da arrecadação provincial. O Egico, do ourro lado ljid1 (m. 823) - uma quantia impossível para um período tão recuado,
do califado, ficara finalmente calmo ap6s 832. O exército de al-Mamun, 111.1, ~ignificanre como imagem do sécu lo X. Teologia, filosofia, direi-

que já não se baseava no amigo abnd' abássida, era inicialmente uma co- 1o , poesia, administração, história, medicina, ciência e geografia, rodas
letânea bastante incerta de recrutas aristocráticos iranianos, que tiveram 1111ham seus especialistas nesse hiperacivo mundo cultural.
dificuldades para capturar Bagdá defendida por gangues informais de civis Esses ramos do conhecimento gradativamente desenvolveram
(ayyârun), ainda que a defesa do exército regular tivesse se desintegrado; ,u.b próprias microculturas, com juristas lendo sobretudo outros juris-
mas ele - e especialmente o militarista a.1-Mucasim (833-842), seu irmão e t.h, historiadores lendo outros hiscoriadores, poetas lendo outros poetas.
sucessor - organizou um exército de mercenários, vindos partictJarmence t-. lesmo assim, eles escavam todos ligados por duas redes principais, uma
da Ásia Cenrra.l turca, muitos dos quais eram ex-escravos, geralmente cha- ~ ultural-religiosa e oucra literária. Os estratos intelectuais em seu conjun-
mados de turcos em nossos relatos. Essa era uma força de combate eficaz, to eram vistos como urna comunidade de estudiosos, os ulemás ('ulamâ',
não suficientemente islamizada para ter seu próprio programa político, de' ilm, "conhecimento religioso").13 A comunidade era definida, inicial e
não associada a nenhuma província do califado, em particular, e muito principalmente, em termos de expertise religiosa, mas isso passou logo a
leal, pelo menos a al-Mutasim. Eles forneceram os músculos por trás do ,e estender para as disciplinas mais especializadas; sua identidade é mais
último verdadeiramente grande ataque abássida ao Império Bizantino, visível em dicionários biográficos de estudiosos, que já estavam sendo es-
que tomou a cidade de Amorion, em 838, e os chefes turcos eram cada vez ,ricos no início do século IX. Foi a imagem dessa comunidade, liderada
mais utilizados como governadores provinciais. Com as províncias apazi- por estudiosos codlnicos e juristas, cuja religião não possuía nenhuma
guadas, um exército-modelo e uma máquina fiscal e administrativa sempre hierarquia sacerdotal ou eclesiástica, que se tornou determinante para
mais sofisticada e excensa, as décadas de 830 e 840, durante os califados definir o que era o islã e como ele deveria ser entendido; e, realmente,
de al-Mucasim e de seu filho mais anódino, a.1-Wachiq (842-847), repre- isso permanece verdadeiro até o século XXI. 14
sentaram um novo ponto alto para o estado centralizado abássida e que A comunidade, naturalmente, nem sempre está de acordo. Já
poderia ter uma permanênciaefetiva: ou pelo menos é assim que pensavam. nos deparamos com a fratura entre sunitas e xiitas, que se cristalizaram
como sistemas político-religiosos alternativos no século I X. Cada um des-
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ses sistemas, porém, também tinha seus próprios subsistemas, escolas de
pensamento rivais sobre como deviam ser conduzidas a religião, a prática
A Bagdá do século IX, grande, rica e politicamente central política e a lei. Dentro do que viria a ser chamado de tradição sunita, por
como era, tornou-se um verdadeiro núcleo cultural. Assim o atesta o txemplo, havia, desde o inicio do século VIII, um considerável debate a
surpreendente número de obras que, escritas em árabe ao longo dos respeito do quanto a prática legal islâmica (shari'a) deveria basear-se na
séculos IX e X, chegaram aos nossos dias; em sua maioria (sobretudo legislação (presumivelmente dos califas), ou então nos princípios éticos
ames da década de 930 aproxi madamenre), essas obras foram redigidas básicos derivados do Alcorão, ou ainda nos complexos conjuntos da "tradi-
na capital ou perto dela. 12 Ademais, elas são apenas uma porção do que ção» (hadith), os obíter dieta, atribuídos ao profeta Muhammad e referidos
foi realmente escrito, como demonstra o Fihrist ou Index de al-Nadim a quase rodas as questões morais e legais imagináveis. (Esses pronuncia-
(rn. e. 990) - que enumera mais de seis mil títulos de livros, quase todos mentos, na realidade, davam legitimidade religiosa aos costumes locais,
escricos nos últimos 2S0 anos (essa cifra supera massivamente os 279 apesar de os costumes, por si sós, nunca terem sido considerados como
livros gregos constantes na Bibliothêkê de Fócio, ainda que esce tenha uma fonte legítima de lei.) Os "cradicionalistas" essencialmente venceram,
lido todos eles) - ou uma anedota contida no próprio Fihrist sobre as mas as quatro principais escolas de lei do islã sunita medieval, recorren-

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do, respectivamentc, a Abu Hanifa (m. 767). Malik (m. 795). ::il-Sh:ifi', 111.IIL,l um:tdas parricul:tridades da 11d11h. O mesmo vale para a narração de
(m. 820) - o mais influente intelectualmente - e Ibn Hanbal (m. 855). li1,1<'lrias [storytelli11g]. A culmraliterária deu considerável espaço às narra-
variavam consideravelmente em seu comprometimento com os hadíth, , 1, .,,: a, hist6rias abássidas são compostas de milhares de pequenos relatos
sendo os hanafitas mais receptivos ao raciocínio jurídico, e os hanbalita~ , "111plares, com várias citações diretas, supostamente saídas da boca de
mais rigidamente ligados às leituras literais dos hadith. Essas escolas, e , .d1í.1s e de seus conselheiros. A habilidade retórica exigia conhecimento
outras menos longevas, alcançaram, mesmo assim, uma tolerância mútua, , ,1 r.1ordinariamen te complexo como parte de tais narrativas; daí a existên-
como todos os constitutivos da opinião dos ulemás sunitas, e, por volta ' 1.1 Jc diversas enciclopédias de"curiosidades", 16como a de al-Tha'alibi (m.
de 900, já tinham desenvolvido o que tem sido chamado de "fechamento 1li \8), que contém informações como o nome do primeiro árabe a vestir
dos portões para o raciocínio independente": nenhuma nova lei ou opi- , .l.,s escuras, o primeiro califa a construir um hospital, o vizir com a mais
nião legislativa, incluindo as de califas ou outros lideres políticos, iria, 1.. 1,g.1e ininterrupta linhagem de ancestrais que também foram vizires, a
teoricamente, ser aceitável. A lei islâmica, portanto, se tornou cada vez 111.d~ generosa peregrina, os dois califas que mataram, cada um, três rivais
mais fixa (mas não as práticas legais). Isso serviu para definir melhor os p11lfticos, cujos nomes começavam com a mesma letra, e o alarmante (po-
ulemás como um agrupamento cultural, embora ourras disciplinas conti- 1till falso) fato de que todo sexto califa era "inevitavelmente" deposto. Esse
nuassem a se desenvolver, por séculos, de maneira simiJar ao que acontecia , n11hccimento, hoje em dia restrito aos adolescentes, era, nesse período,
na cristandade ocidental e oriental, cujas regras doutrinais delimitavam 11111 pré-requisito para a política, juncamente com saber escrever adcqua-
o desenvolvimenro do pensamento da Europa durante a Idade Média. d.nncnre uma carta e memorizar o Alcorão.
A outra maneira pela qual os campos da cultura escrita estavam A hierarquização dos administradores profissionais, desde vizires
ligados era por meio da adab, grosseiramente traduzida por "educação po- , t1urros altos secretários, até notários de escritórios fiscais provinciais, era
lítica" ou "etiqueta literária". 1s Tal prática fundou a cuJrura escrita árabe, , 11mplexa e gerava suas próprias tradições culcurais. Há coleções de con-
por volta de 800, e continuou assim por todo nosso período e mesmo de- 111, narrativos exemplares sobre administração, do mesmo modo como
pois dele. Essa cultura uniu o aprendizado à elegância estilística, e exigia de , • Miam, nas histórias, contos sobre a política: relatos de como e por que
seus praticantes um conhecimento amplo da maioria das disciplinas inte- 1mlivíduos foram promovidos ou demovidos, e das coisas inteligentes que
lectuais da época, de modo particular de língua, poesia, histórias, práticas ,11\,cram aos chefes de diwtins e vizires. As Nishwãr al-muhtidara, ou as
administrativas e hadith. A administração política é um bom parâmetro 1 1m11ersações avulsas, outro texto adab, do juiz al-Tanu.khi (m. 994), 17
para observar isso: a adab era, acima de tudo, uma qualilicação para as 1110,crarn o quanto poderia ser densa essa específica memória histórico-
carreiras no governo. Funcionava como o exato equivalente da educação 1d mi nistrativa, e como ela se estendia, mesmo no final do século X,
literária senatorial do Império Romano e do treinamento clássico e teo- ,1·m nenhuma rupcura, até os califados da metade do IX, e mesmo até
lógico necessário para os administradores, em Bizâncio, após 900, com a .d Rashid e al-Mahdi. Entre outras coisas, pode-se ficar extasiado com a
exceção de que o conhecimento que ela exigia era, em geraJ, de uma safra 111,,nc.ira como as promoções acidentais eram possíveis nesse mundo, de.s-
muito mais recente. E, realmente, o escopo da atividade intelectual cm d, que os funcionários ordinários chamassem a atenção dos poderosos.
Bagdá e outros centros mostrava a gama de habilidades que eram aceitáveis \1 FadJ ibn Marwan (m. e. 84S), 18 um criado da cozinha de um arisco-
no governo; os inteleccuais, desde o geógrafo Ibn Khurradadhbih• (m. e. ' 1,11a e então simples escrivão na época de al-Rashid, ganhou o suficiente
885) até o influentíssimo e original fiJósofo-rnédico Ibn Sina (Avicena, m. p,11,1comprar terras e viver no interior durante o cerco de Bagdá, onde ele
1037), detinham cargos governamentais e administrativos. Esse alcance , upostamente hospedou, sem saber, o futuro califa al-Mutasim; graças a
1·\,,t oportunidade, ele gradativamente subiu de posto na administração

Nome também cranslicerado como lbn Khordadbeh. (N. da T.) , ,e tornou vizir quando da ascensão de seu patrono, em 833 - embora,

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por outro lado, houvesse logo sido demitido (em 836), e tivesse de pag.1r HJI l Ji.1mish (m. 863), que manceve o vizirato por um ano antes de su:\
enormes multas, pois tentara impedir que o califa gastasse muico dinhc1 111ú11t A~ facçõcs, na realidade, transpunham essas áreas do governo
ro público. A sorce estava ligada, em grande parte, à competência adm1 "111 d1f1culdade, mesmo quando os turcos, distintos e impopulares,
nisrrativa; administrador habilidoso, al-Fadl trouxe receitas abundantl'\ 11,11 ,.11.1111 a dominar o exército. Os numerosos e vastos palácios dos
a pelo menos dois califas. Também fica claro que grande parte dessas rc• b:i"11l.1s também tinham seu próprio quadro de funcionários, dentre
ceitas ficou em suas próprias mãos, dada a sua fortuna n a década de 830. "',,11.11~ se destacam as numerosas amantes escravas dos califas, cuja
Muita papelada era, de faro, gasta para tentar impedir o peculato, mas a, li.l, 1 lf:l uma rainha, ou, se o califa não tivesse se casado formalmen-
histórias de al-Tanukhi mostram que isso podia ser facilmente subvertido, o que era a norma após o início do século IX -, uma rainha-mãe;
com documentos enganosos colocados nos regisrros, até que (ou ameno, 1111, .1, facçóes podiam transpor essa arena também.
que) os rivais descobrissem a fraude. Assim como para os merovíngios, de mencaüdade igualmente
Tem-se a imagem de uma comunidade administrativa fechada, il111N1ca e pol[gamos, a influência política das mulheres no período abás-
porém muiro ciumenta, na qual a profissão comum era considerada como i,l.1 1cndeu a se restringir às mães dos califas ou futuros califas designa-
um laço de parentesco (como disse al-Fadl, cirando um escrivão aposenta- ,f.t. O, mais famosos exemplos disso foram Khayzuran (m. 789), mãe
20
do que conhecera em sua juventude), mas na qual a promoção geralmente 1lt 11.irun al-Rashid, e Zubayda (m. 831), sua esposa e mãe de al-Amin.
dependia da destrnição dos outros. Pelo menos al-Fadl manteve sua vida, 11h.1yda manteve até mesmo alguma influência depois que al-Mamun
cm 836; muitos outros, inclusive muitos vizires, em particular, não o con- 11, 1rnbou aJ-Amin - ela negociou, por exemplo, a reconciliação do anti-
seguiram. Seria um eufemismo afirmar que as políticas administrativas e , .l1L1 lbrahim, em 825. Mas deve ser dito que a prática política abássida
da corce eram uaiçoeiras; os políticos abássidas azarados podiam morrer ti i..1 menos condição para o protagonismo feminino do que ocorria na
por meio de torturas tão criativas quanto aquelas dos merovíngios, ou de 11 11l1ção franca e bizantina. O cerimonial do ca.lifado abássida, compli-
fato até mais, já que a ciência abássida era mais desenvolvida - Ibn al-Zay- 1 ulo e em consta nte desenvolvimento, em comparação ao dos bizantinos
yat (836-847), 19 o sucessor de al-Fadl no cargo de vizir, morreu em uma ,111 ,éculo X, concedia menos espaço para as mulheres atuarem polici-
máquina de tortura que ele próprio criara. Mas Ibn al-Zayyat também 1111rnte; isso porque as regras de sucessão que procuravam propiciar a
teria, supostamente, conservado a sua posição de vizir quando da ascen- . "olha apropriada do califa dificultavam que mães de califas menores
são de al-Warhiq, em 842 - embora o novo califa o desprezasse e tivesse 1111.Icssem exercer a regência, como acontecia em Bizâncio e na Francia.
jurado matá-lo - porque de era o único alto funcionário capaz de redigir 1 1 primeiro caso deu-se no tempo de al-Muqtadir (908-932), cujo rei-
uma carra oficial que satisfizesse o governante. Essa mistura de ambição, 11.1110 foi realmeme dominado por sua formidável mãe, uma ex-escrava
ganância, violência e genuíno profissionalismo marcou a classe ad mi nis- l,1. .1nrina chamada Shaghab ("a perturbadora"), ou, simplesmente, al-
crativa em seu conjunto, ou pelo menos seu alto escalão. 'l,1yyida (~a dama"). Shaghab (m. 933)21 não é tratada de maneira inrei-
O complexo e perigoso mundo da administração refletia-se nas ' ,1111cnre hostil pelas fomes, apesar das suspeitas sobre o poder feminino
outras duas áreas das políticas califais, o exército e a residência califa!. A , 111 geral, ampüadas pelos desastres do reinado de seu filho; ela imitou o
administração civil e o exército são frequentemente vistos como rivais , H'1t1plo de Zuhayda ao fazer públicas e abundantes demonstrações de
na historiografia abássida, de maneira muito similar à historiografia , 11 idade, respeitável papel fem i.nino abássida, graças à sua vasta riqueza,
do período médio bizancino, e provavelmente de maneira igualmen- , 1"0 permitiu que alguns cronistas a representassem de maneira neurra.
te errada; assim como em Bizâncio, uma mesma pessoa podia exercer \l1.1ghab estabeleceu uma hierarquia burocrática paralela, de secretários
ambas as funções, como no caso do barrnakida al-Fadl e do rahírida linmens e assistentes mulheres, que exerceu poder direto nessas décadas.
Abd Allah ibn Tahir (m. 845), e até mesmo do general turco ocasio- 1 , todavia, importante reconhecer que tais cargos já eram normais nas
fl ltjt.t.do tlc.• ~ 011111 lluntln.mdu ,, hl.ulr J ,l .. lh•v-1,, ,.,m>• 111oi, 1l• ll,1sJ ,\ ,\t,;,,-,.tu ~ 1• l,,.lut.., <11111,,J,1. ?~O IIX)II

áreas femininas dos palácios. Rainhas, amantes principais e mães cali- 1 kg1timidade dos primdros califas. A aparente obscuridade do cerna re-
fais eram ricas já havia muito tempo, e precisavam de administradores llg10,o cm questão é um elemento que nos lembra os cismas cristológicos
para cu.idar de seus negócios; se, em raras ocasiões, como aconteceu no ,1, 1 1mpério Romano tardio. O sentido que se tira de um regime que utiliza
tempo de Shaghab, esses administradores assumiram também as rédeas 1.,I questão para forçar os extremistas religiosos a voltar à linha é também
das políticas califais, é porque tinham todas as qualificações para fazê-lo. 11111 lembrete da quase contemporânea Segunda Iconoclastia, em Bizâncio;

Os califas são representados, nas fontes, de maneiras convencio- 11·.tlmenre al-Mamun lembra seu jovem contemporâneo Teófilo, em seu
nais: al-Mansur, como eloquente e ascético, al-Mahdi, como generoso e 1111t·rcsse por debates religioso-filosóficos. No entanto, a razão que reria
amante da poesia, al-Mutasim, como um tipo marcial, e assim por diante. ln·.1do al-Mamun a escolher a doutrina da criação do Alcorão como meio
Al-Mamun (que convencionalmente tinha um senso de humor e um dom .!1" , e posicionar é ainda menos clara do que as razões da controvérsia ico-
para a poesia) é calvez o que melhor afirmou sua própria personalidade em 11ud asca. Pode ser que qualquer questão tivesse bastado para restabelecer
suas ações. 22 Sua atração pelo xiismo é uma delas, o que não se encerrou , .,utoridade religiosa califa!, especialmente em face dos "tradicionalistas".
quando ele desistiu de seu herdeiro álida, em 818-819. Também se destaca t-. 1,,s a mihna não obteve êxito e Ibn Hanbal foi restabelecido; a doutrina
seu patrocínio aos cienciscas que se envolveram em um programa de rradu- p.mou completamente para as mãos dos ulemás, após 849, e os califas - e,
ções de obras ciendficas gregas - Ptolomeu, Galeno, Eucüdes, entre outros 111.iis ainda, aqueles que os suplantaram no século X, no Irã e no Iraque, que
- e obtiveram (entre outras coisas) um cálculo preciso da circunferência , ., rcciam de função religiosa como "comandantes dos crentes" - cornararn-
da Terra: isso veio a ser executado em uma bibüoceca - e centro de pes- ,c essencialmente poderes seculares. Eles seriam patronos de intelectuais,
quisa cientí 6ca - conhecida como Bayt al-Hikma, "A Casa da Sabedoria", Juristas e ulemás, mas não seriam intelectuais eles mesmos.
fundada pelo califa, em Bagdá, em 830. Al-Mamun também foi um pro-
tagonista doutrinal, simpático a uma escola racionalista do islã chamada ...
mucazilismo. O papel do califa como uma autoridade religiosa - o que era
visco como algo normal no período omíada, e que foi instado a al-Mansur O exército turco de al-Mutasirn ficou especialmente mal com os
por seu secretário e conselheiro persa Ibn al-Mukafa (m. e. 757), no início hagdali, que eram, afinal de contas, os herdeiros do exército remunerado
do califado abássida - escava sendo minado pelo crescimento da autorida- ,interior, chamado abnã'; então o califa conscru.iu uma nova capital, em
de dos ulemás, porém al-Mamun tinha suficiente confiança em sua missão Samarra, um pouco mais acima no Tigre, e transferiu seu exército para
de colocar a doutrina no coração da política. Em 833, ele decidiu que um lá, em 836.23 O estabelecimento de novas capitais tinha sido uma prática
elemento do pensamento mutazilica, a doutrina do Alcorão criado (ou seja, comum da inicial afirmação política abássida; a própria Bagdá era o
Deus reria criado o livro no tempo, o que significa que ele não preexistia maior exemplo d isso, do mesmo modo que fora o período de al-Rashid, em
ao mundo), era suficientemente importante para que todos os ju.izes e ule- Raqqa (796-808), e de al-Marnun, em Merv (811-818). Samarra represen-
más devessem ser forçados a aceitar essa doutrina, particularmente os "tra- tou a fundação mais importante depois de Bagdá, e foi conscru.ida em uma
dicionalistas", que eram fortemente opostos a ela. Praticamente sozinho, escala enorme (o que era usual para os abássidas): suas ruínas estendem-se
Ibn Hanbal desafiou o califa e foi preso. A doutrina do Alcorão criado por 40 quilômetros ao longo do Tigre. De toda forma, assim como ante-
permaneceu um princípio para os próximos dois califas, e foi abandona- riormente ocorrera com Raqqa, ela não tinha a intenção de rivalizar com
da apenas em 847, com a ascensão de al-Mutawakkil (847-861), o irmão Bagdá como centro populacional, e permaneceu amplamente um centro
de al-Wathiq. Esse período da chamada mihna ou "inquisição" é o único militar e administrativo durante o período em que foi a capital, 836-892.
no qual uma questão de doutrina teve tanta importância política no islã O problema era que o califa, dessa forma, ficava isolado com seu exército.
medieval, ao contrário do que ocorria com os permanentes debates sobre Tanto os omíadas quanto os primeiros abássidas utilizavam exércitos remu-
O lcx11-,l,l t1,:-u,( ~ llu1nin,1ndo ,l Hl,utr \I"' hl'\"1,,, ..,no- 11•00 1,a- 111');\IH #\lºlf'""'Ull. .M '-. 1•1\.,11·•11 o.nuu1u•1 ,llf",I'- •·u •-

nerados pela cribucação geral. cujos soldados eram separados de suas regiúc, 11,,, "'ddxou de ~cr uma vamagcm quando al-Murawakkil se voltou con-
de origem, os primeiros colonos árabes, em seu am1,ir, os abná 'khu rasâ 111 1, • ,·li--, nos anos 850, e buscou derrubar seus chefes, pois eles não tinham
das, em Bagdá. Nesse aspecto, os turcos não eram atípicos, exceto pelo là10 p,1, 11111dc ir. No final, eles responderam assassinando-o, em 861. lsso de-
de virem de além das fronteiras e de terem rido também diversos sucessorc, 11, .,,kou uma década de crise em Samarra, 861-870, na qual as facçóes

no fragmentado século X. Como consequência desse padrão, no mundo 1111, ,, 111,cauraram cinco califas e mataram três deles; a crise se estendeu
árabe medieval, havia sempre uma censão entre os militares remuncradm ,. ~••;, 11.,gdJ, quando um deles, a1-Mustain (862-866), avançou para a anti-
o resto da sociedade pagante de impostos. Além disso, como as elices pro B1, .1prc.il governada por um rahírida, e, com um destacamento de turcos,
vinciais converteram-se ao islã, sobretudo no século IX, e foram acomp.i ll.11•.l,1 foi sitiada e capturada novamente, em 865-866. A estabilidade ape-
nhadas por famílias árabes que obtiveram terras - no Khurasan, duramc "'J' 1w1rnou em 870, quando a família abássida desenvolveu seu próprio
o início do século VIII, na área de desenvolvimento urbano ao redor de '11,1111cm force" militar, Abu Ahmad al-Muwaffaq (m. 891), que rinha, de
Bagdá, no 6m desse mesmo século e no Egito, durante o final do sécu lo 1,11,, \llÍado Bagdá e era muiro ligado às lideranças turcas sobreviventes;
IX-, essas famílias, porcamo, passaram a ser, nesses lugares, aristocracia\ 11, l111 colocado no comando do exército por seu irmão al-Mucamid, que
provinciais muçulmanas que podiam estar muito ressentidas pelo poder ·ni l),\Pf;l o califa (870-892), e deixou este úlcimo em Samarra enquanto

político e o peso financeiro do exército. Esse era o caso, particularmente, t\' .1«111.ilmcnte se transferia para Bagdá. Quando al-Mucadid, filho e her-
no Khurasan, onde a classe governante persa pré-islâmica, em sua maio- ,1, 1111 de al-Muwaffaq, se tornou califa (892-902), restabeleceu Bagdá for-
ria, conservou valores altamente aristocráticos e militares, porém agora 1,1 ..I111cnce como capital e pôs fim ao interlúdio de Samarra.
islamizados. Alguns membros dessa classe governante persa se juntaram, Os anos 861-870 não foram cáo longos, mas, assim como a guerra
realmente, aos exércitos de al-Mamun e al-Mutasim, como al-Afshin de t l d ,h década de 810, causaram fraturas no estado abássida que foram di-

Ushrusana (m. 841), um príncipe da Asia Central mu.ito pouco muçul- i l,, "de superar. 26 O renascido protagonismo abássida, de 870-908 (que se
mano, apesar de ele, significacivamence, ter perecido porque pensaram que · ,1 11dc:u até al-Mukcafi, o filho de al-Mutadid, 902-908), enfrentou dificul-

conspirava contra os turcos. 24 1111 k, generalizadas.27 Os safáridas, rebeldes iranianos (que não tinham raí-
O.s califas não podiam, todavia, simplesmente deixar os assuntos 1, ..r l\tocráticas e escavam perco das seitas muçulmanas marginais), tinham
militares nas mãos das aristocracias locais; eles teriam instantaneamente 11, 1mt,\do os cahí ridas, em Khurasan, entre 867 e 873, e marcharam sobre
perdido suas receitas fiscais, e o califado reria falido muito rapidamente. , • l1.tlJUe; lá eles foram derrocados, em 876, mas continuaram a controlar
Tendo isso em vista, eles podiam muito bem pagar homens de fora doca- ,, 111.11or parte do Lrã, pagando impostos apenas intermitentemente. O go-
lifado, desprovidos de pretensões aristocráticas e que eram bons em seu , , 111.1dor curcodo Egito Ahmadibn Tulun (868-884) não era diretamente
trabalho. Mas isso também comportava perigos. Numa anedota carrega- · 'I ""to aos abássidas, mas não pagava muitos impostos ao Iraque, e estendeu
da de visão recrospectiva, o historiador al-Tabari faz o tahírida Ishaq ibn ,•11 poder para a Síria e a Palestina, que então passaram igualmente a não

Ibrahim dizer a al-Mutasim: "Seu irmão valorizava as raízes e fez uso de- 1•,11,t,1r o baseante; foi apenas depois que seu 6lho Khumarawayh (884-896)
las, por isso seus ramos floresceram magnificamente; de modo contrário, Ili, , uccdeu, que um exército abássida conseguiu restabelecer uma maior
o comandante dos crentes usou apenas ramos que não floresceram porque q11.1nridade de arrecadação de impostos das províncias rulúnidas, e não foi
lhes faltaram as raízes". 25 O que equivale a dizer: al-Mamun empregou os !'111,·, de 905 que os abássidas retomaram o controle direto sobre o Egito.
tahiridas, como eu, e outros povos se enraizaram na comunidade, o que \ pl'n,1s no Iraque os abássidas exerciam controle fiscal, nas décadas de 870
foi bom; mas cu, ao contrário, empregas os turcos, que não têm tais raí- . HHO, e ali, ao redor de Basra, no sul, eles enfrentaram enormes revoltas
zes, e isso é um verdadeiro problema. Diz-se que al-Mutasim reconheceu, , ,, 1,1vas, como a dos zanjes, escravos africanos utilizados para manter os
com rrisceza, a verdade desse faro. Seja como for, o desenraizamento dos 1r•,rrn1as de irrigação: essa revolta, que durou de 869 até 883, foi o levante

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n lrt,t1til;\ t],, Jtonu tlu1111111HHlo .. hl.í,lt~(I,,, llt·\·1t\. ,4 '",:--,,ruo l l,1 H.1t\1l,1 ,\h,h,hl,, 1\ (~t'udolM l hut,u-1,,. 7'10 IOUU

escravo mais bem-sucedido da- história, antes da Revolta l laitian.1 tfl' l / 111, h, HIil 11.111 c,tivcram sob controle abássida desde o início do século lX
o que resultou em um estado xiita independente que apcn:l.\ foi Jc,u 11fil11 1Mi 111,·,1110 .11m;~, os aglábidas e depois os farímidas, no que são hoje a
com quatro anos de guerra sob o comando de al-Muwaffaq, em 879 llll, ll111hl, , .1 '.1..l lia, os iddssidas, no que é hoje o Marrocos, e os omíadas na
Os abássidas est avam seriamente sem dinheiro duramea m erade da dél,11L1 t •11,11111, N.10 podemos seguir as histórias de todos eles aqui. Mas, antes
de 880, e mesmo após esse momento tiveram de lutar sem trégua, com wu, olli 1111m, para dois deles, precisamos fazer um balanço do século da
exércitos ainda turcos, para se manterem no controle dos eventos. Ele, 11h 111tL1.I, ,li.l"ida e de seu fracasso.
tiveram sucesso nas terras cencrais, com exceção do Irá, que cada vc'.l m.11, l ) 111.1 ra'.l:io muito simples pela qual o califado abássida se de-
deslizava sob dinastias locais. Mas não podiam se dar o luxo de diminuir it11q11,111 fo1 que ele era muito grande. As sociedades locais eram muito
sua pressão. Após 908, al-Muqtadir era um governante muito desatento, e ,IOti111 "; ·" rnmunicações eram sempre lentas; o califado era maior do
sua mãe Shaghab não tinha controle sobre o exército. Por volta da dé,,111.a 111111p1·rio Romano, e não havia um mar em seu cerne, possibilitando
de 920, em um contexro de lutas internas dentro da burocracia, gencr.11, li•!" 1111 massivo relativamente fácil. As conquistas e reconquistas, com
rivais no Iraque, incursões beduínas vindas do deserto arábico, e govc111,1 !i' ~·~, 111ros no governo e um novo começo, ajudaram nas reunificações
dores sírios e egípcios que tinham parado de pagar impostos novamente, u, 1lí',d1i " cm 636-651, 747-750, 811-813, e subsequentemente com os
ganhos das últimas décadas foram todos perdidos; nos anos 930, os califa\ ,fhlo11 1 , um os turcos seljúcidas, na década de 1040 e posteriormente-,
começaram a ser depostos novamente, e após 936 o califa perdeu todo 11 1.!.I\ lil 11°11,úcs iriam sempre ressurgir. Esse foi particularmente o caso no
poder para um governador militar, o amir al-umarâ', "emir dos emires". Em h11,,1,.111 e no Irá, em seu conjunto, cuja classe governante pré-islâmica,
945, Ahmad ibn Buya (m. 967), da mais bem-sucedida dentre as ascendcn !lil 11l1:11111 protagonismo militar, sobreviveu melhor do que em qualquer
tes dinastias do Irá, os buídas, capturou Bagdá e se tornou amir al-umfllil' ili,~ p.11 tl (e cujo passado pré-islâmico ainda era celebrado por muçul-
com o nome de governo de Muizz al-Dawla, uforcificador do estado [aind,, •11101 rn1 litcraruca oral e escrita, diferentemente de qualquer outro lugar
nominalmente abássida)". Daí por diante, o Iraque seguiu sob controle dn i\ d, 111 no Ocidente, com exceção da Espanha), e que, por serem locais
Irá Ocidental por um século. ,1,1 .111 linsos, controlá-los profundamenre se tornava muito mais difícil;
A dissolução do califado abássida, que durante uma centena 1.il- 111,111111ccnde que o Império Islâmico tardio mais bem-sucedido e du-
anos foi o estado mais forte do mundo (a China Tang havia enfrenraJo ,,h.. 1111, o, otomanos, nunca renha controlado o Irá. Os problemas para
problemas na década de 750 e mesmo após essa data), necessitaria, ideal 11l1.1 .,1,I." geralmente começavam ali; o Iraque e o Egito eram muito
meme, de um relato e de um conjunto de explicações tão minucioso, 11~11. 11, 1·h de governar, e a Síria não era nenhum tipo de centro de poder
quanto aqueles que o Império Romano tinha demandado, Se apresento ,1 h.,r,11111 ,,, dois séculos após a queda dos omfadas.
sequência de eventos em um punhado de páginas, é apenas porque nesse hsc argumenro geopolítico direto é, em grande parce, susrenta-
momento, após os anos 860, sua história quase nunca se estendia para além l1t 1•111 um ponto fundamental sobre os estados sucessores muçulmanos
do Iraque, com exceção de breves períodos, e está demasiado afastada da 1,, ., , 11111 X: 28 eles eram quase todos estados arrecadadores de impostos,
história da Europa. O século X no mundo islâmico foi, como já observa- ,,111 11111 exército pago e uma burocracia centrais, do mesmo modo como
do, ainda mais fragmentado, com os samânidas e, então, os gaznévidas, 1, d1f .ido tinha sido. Apenas um dos estados curdos do sul da Anatólia e

no Irá Oriental, duas ou três unidades políticas buídas, no Irá Ocidental I~• 1111111t.rnhas iranianas, seguido pelas dinastias beduínas, na Síria e na
e no Iraque, dois governos hamdanidas, em Aleppo e (mais brevemente) J•1 ,, J 1111 ,éculo XI, tinha uma estrutura mais simples, baseada em doações
Mossul, um conjunto de dinastias curdas nas montanhas ao norte e ales- ,111, .,,,,11ncos de tributos para grupos armados rransumantes. Diferente-
te, os cármatas, no deserco arábico, os ikchídidas e depois os fatímidas, no 1111111, do fim do Império Romano Ocidental, não houve nenhum colap-
Egito, e demais unidades políticas menores - bem como aqueles do Ma- ,11 111m1ral na maioria dessas unidades políticas menores. Ao contrário

AC:A
- - - - \, lt"Jf.1(10 (I(" tuunu 11\íllllOitOOO ll hlilílr 111'f trt·\\\1~- , f\O ' l OUO l>J 11.,~cl,1Ahd_,1,1;;-:'i 1 /,r.loh• 1h nl...T.., 7',0 · 101111

dos reinos romano-germânicos, os novos grupos govcrnantéS não estav:un 1o, 11, .lc q,ufi, um imporrance núcleo de poder local, e que se enfrentavam
preocupados em se tornarem uma aristocracia rerrarencnre. A cerra, de , 111 hll\e,1dt.: posições locais e provinciais, em vez de procurá-las através do
fato, não trazia poder político na maior parte das sociedades muçulmana~ 1.11111: ;1qu i, cerra, riquezas particulares e nascimento eram relevantes (ser
medievais, apenas wn cargo no estado conferia isso: ou pelo menos era o 11111 .lltd.1 era t.:xponencialmence chique, cm especial no lrã), assim como o
que pensavam os atores políticos medievais. A riqueza também era mais t • .1111 no Ocidence. Os governadores abássidas sempre tiveram de aceitar
garantidamente obtida através de posições no estado, e as famílias antigas, ,1, l.1111ílias de poder local, caso contrário fracassariam: seriam incapazes
cuja longevidade era assegurada pela fortuna privada - inevitavelmente ,1, , olerar impostos (processo que era controlado por figuras locais), ou
em forma de terra, tanto no mundo muçulmano quanto no cristão-, não r 11h ~11tariam revolcas, ou as duas coisas. Assim também tiveram de fazer
eram especialmence privilegiadas em nenhuma estrutura estatal islâmica, ,,1 1;•>Vcrnanres do século X, numa proporção menor. Realmente, isso mos-
até mesmo no lrã. O modelo político estabelecido por Omar I - e dois sé- 11 .1, por si só, que havia uma relação entre as sociedades locais e a "classe
culos de califas omíadas e abássidas -, portanco, continuou a se susrencar. ,:q 1t.il ". Até mesmo a mais desenraizada família do exército poderia criar
De fato, ele se intensificou, na medida em que a ideia de que o poder mili- •~1,-·, locais, pelo menos como governantes, como os tulúnidas fizeram
tar devia estar nas mãos de ex-escravos sem ligações com as comunidades 11, , 1 ~ito; e rodos os governantes, burocratas e militares locais tmham de

locais ou ancestralidade familiar, experimentada, em primeiro lugar, com 11q.1,11.:iar com seus subalternos, ou ao menos com os mais ricos deles. Além
os turcos de al-Mucasim, se tornou um modelo cada vez mais comum nos d h,11, .1lgumas parcelas da "classe escacai", particularmente a administra-
úlcimos séculos. A independência em refação ao califado apenas significava • .111 u vi l, eram originárias de sociedades locais; elas, no mínimo, cinhan1

que a tributação ficaria na província em que fora arrecadada e que finan- .,(11•~ações locais escreicas. 29
ciaria um exército local: esse foi um objetivo básico das elices provinciais, De toda forma, a separação entre a "classe estatal" e as socieda-
do período omlada em diante, que somente foi anulado pelos mais forces ,1,, locais e provinciais realmente existia, e era um problema. Em geral,
governantes abássidas; porém. toda vez que o controle abássida perdia l .11~·• uma carreira na cidade e fazer uma carreira no escado eram coisas
força, como nas décadas de 810 e 860, a situação dava um passo para trás. lll' tll ui ferentes, não só no califado abássida, geograficamente vasto, mas
Desse ponto de visra, a desintegração do califado poderia até mesmo não 11111bém nas unidades políticas provinciais do século X. Isso significava
ter sido um problema; ele simplesmente passaria a ter sua política definida 'l"l ,IS sociedades locais podiam ver os diversos destinos de seus gover-
por sua dimensão otimizada: a província. 11,1 mes com uma cerra equanimidade: estes últimos eram em geral figuras
Em linhas gerais, creio que essainrerpretação é razoável. Mas ela , •cernas - fossem benevolentes ou violentos, generosos ou severos com
concentra demasiadamente sua atens:ã,o no estado; as sociedades provinciais 11 lt \CO, cultos ou marciais - sem nenhuma conexão estrutural com o es-

são deixadas de fora da equação. Líderes sociais locais eram extremamente ""º
1 dos governados. Na medida em que os governos se tornaram mais
diversos, estendendo-se desde antigas famílias de partes do Irã até as muito ,L, ularizados, agora que os desúnos da fé islâmica haviam passado para
mutáveis elites iraquianas, que tendiam simplesmente a ser herdeiras da .1, mãos dos ulernás, a imagética salvacion ista do direito de governar, tão

mais recente leva de administradores que tinham feiro dinheiro através da r k civamente invocada por Abu Muslim e os primeiros abássidas, não
caxas:ã,o e se assentaram; de qualquer forma, elas exisciam em todo lugar. 1,., mais parte da maioria dos programas políticos. Apenas os facímidas
E cercamente tinham cerras nesse momento, e também, algumas vezes, 1L·11taram-na, no século X, como veremos em breve. Então, quando um
fortunas comerciais, as quais transformavam em cerras também. Os gran- 1:uvcrnanre local enfrentava um fracasso militar, porque uma obstrução
des centros ;políticos locais, quase todos urbanos - grandes cidades, como 11,1 coleta de impostos tornava difícil pagar as rropas, ou simplesmente
Aleppo, Mossul, Rayy (amal Teerã), Merv e Nixapur no Khurasan -, eram 111.,ças a uma derrota em batalha, ele podia ser substituído sem que a
repletos de famílias locais de elice, de ulemás e outros, que buscavam a po- ,udedade local fosse realmente envolvida, desde que o novo governante

456
i") lq;;hh, Jt• Roen..i lh.1mln,1ndo 111d1hlc: d11-. lrt•v1, .., ,., ft(t • tnO(t 1)., 11,,Hd,1 Ah,\"1,1,, ,\ C/i,,hili• 111111.,.J,1 7',U 111()11

não assumisse de maneira demasiadamente violenta. Houve, cercamcrm·, 11111 t' fui .11n o núcleo do exércit o fatlmida até bem :ipós o final de nosso
alguns exemplos de protagonismo legalist a entre as elites locais, como p.-1 k,du o~ kucama adotaram al-Mahdi como seu líder carismático, e

quando os cidadãos de Mossul, em 989, expulsaram os buídas e tempo ir 11\t,l\l rc.:.uncnte aceitaram o papel que de lhes deu de equivalentes dos
rariamence restauraram seus antigos governantes, os hamdanidas, porém hh111 ,l\,tnr da "revolução" abássida. Seu general, um iraquiano chamado
eles não eram muitos.30 De certa forma, realmente, a própria facilid:llk ,\l111 \bd Allah, a versão fatímida de Abu Muslim, retirou a Ifríquia da
com a qual os abássidas perderam o controle, nas décadas de 910 aré 9-iO, 1,1 1, 11 .1 di n:mia aglábida, em 909, e al-Mahdi proclamou-se califa (910-
para serem substitu!dos por regimes que, em sua maioria, se assemelh.1 1 1) l11r.1 J c Kairouan um ano depois. Assim como Abu Muslim, Abu
vam a eles, foi uma verdadeira falha estrutural: por mais desastroso 411t· ,\1111 ;\ll,1h também foi morto por seu patrono-protegido dentro de um
fosse o período, deveria ter sido possível que alguém resistisse com m.m '" ,, , .ti Mahd i não foi importunado por rivais desde então.
energia, que houvesse um perdedor heroico comprometido com a anrig.1 A,sim como fizeram os abássidas e os aglábidas, al-Mahdi criou
legitimidade. Os abássidas não deixaram histórias desse ripo, nem o fi:rc 111 ~ p1,1prr,1 capital. em 920, em Mahdia, na costa da Tunísia. Ele utilizou
ram os buídas, posteriormente. As histórias que continuaram a chamar ,t •• r11n111,h estrucuras governamentais dos aglábidas, porém seu messia-
atenção eram ainda as sassânidas - ou então as da aremporal e fantásrk.1 11111 ,1" l\111,1elita o tornou distante, juntamente com seu exército kutama,
Bagdá de Harun al-Rashid e As mil e uma noites. 11 "11, ,t',dicos sunitas. Esse messianismo, entretanto, significou que al-
~l.d11li não se contentaria com a Ifríquia; desde o começo, os facímidas
·~· ~luv.1111 ao Oriente, com incursões no Egito. Essa estratégia foi desviada
1)1 ,, , 11 tt 1.1 revolca salvacionista berbere, dessa vez pelos kharijitas, em 944-
Os fatímidas foram os mais exitosos, ricos e estáveis dentre :1, 11 , · 111.\\ ela foi debelada, e, por volta de 960, al-Muizz (9S3-97S), bisneto
unidades políticas muçulmanas do século X. 31 Eles estenderam seu po 11, .d t\Llhdi, governava rodo o norte da África, unificado pela primeira
der por mais de um século em comparação com seus principais rivais, ff. , lnde a década de 730. Essa estabilidade permitiu a reromada do ata-
os buídas, e, de fato, governaram sobre cudo, primeiro em Kairouan, na il\if .111 l·gito, que estava sem governo após a recente morte deAbu'I Misk
Ifríquia (amai Tunísia), e depois (após 969) no recém-conquistado Egito, ,,1111, um negro que havia sido escravo e eunuco de feiura lendária, que
por mais de 2S0 anos, 909-1171. Eles também representaram, como j:'I 'I '', 111.tra o Egiro com habilidade e grande visão durante 22 anos (946-
observado, a {mica tentativa séria de um ressurgimento salvacionista apó, IJr,t<). O general fatímidaJawhar (m. 976), outro ex-cativo, um eslavo dessa
os primeiros abássidas, e foram, portanto, um caso especial no mundo 1,,mou o território com pouca violência, em 969, e al-Muizz mudou-se
islâmico do século X. Seu salvacionismo era, entretanto, xiita, e não su- I'"' '' 1.\ tJUatro anos depois.Jawhar e outros generais posteriores persegui-
nita. O primeiro fatlmida, Ubayd Allah al-Mahdi, era um ismaelita xiita 1,1111 .1, ,11nbições fadmidas dentro da Palestina e da Síria, mas pararam ao
vivendo na Síria, que pertenceu a uma das seitas do xiismo que acredita• 1nl111 de Damasco, e quando a fronteira se estabilizou, nos anos 990, ela
vam que um imâm, ou líder espiritual supremo, descendente oculto do ,!11\,t cncre Damasco e Aleppo. O expansionismo fatímida estacionou, e
califa Ali, iria reco mar para redimir o mundo. Por volta de 899, al-Mahdi ilii 1,1, 1.1 emergiu um modus vivendi entre os principais poderes regionais,
declarou - controversamente dentro do movimento ismaelita, que divi- m l.1t lrnidas, os buídas, e, desde a década de 9S0, os bizantinos. Talvez
diu em dois - que ele mesmo era o imâm. Teve de fugir d a Síria, e aca- 111 pr~·c:ndencemcnte, por volta da década de 990, os califas, agora situa-
bou entre os berberes kutama da moderna Argélia, o que foi estratégico, i 1,, dr 111aneira estável num rico Egito, estavam preparados para entregar
pois os berberes costumavam ter simparia pelos álidas - um exilado álida i•., ,111 role da Ifrfquia a uma família de governadores hereditários; dali em
anterior, Idris ibn Abd Allah (m. 795), havia fundado o reino idrísida, l,.11u.. os facímidas seriam um poder egípcio e levancino, o que continua-
no Marrocos Central, em 789. Os berberes eram também bons gucrrci- 1,1111 .1 ,cr por quase dois séculos a mais.

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-() lt·tt1Hltitl~tom,,· llu1m11,uu.h1 ~ hJ,lllt' d,I, th·Y,1~ ,11,0 rnor1 O,i m,~,u i\1•11\füt.r:rnmm~irnmnmir....~u · l lllKI

É fácil incerpJctar os anos 909-910 como uma rccnccnaç.'w do, "'1111,1\ n:1, mesquitas sunitas, que demoliu a igreja do Sanro Sepulcro,
anos 749-750 e, em certo nível, uma reposição cujo fervor religioso ccvc 1i1 ln11~:1lém, e que era, e ainda é, venerado como divino pelos drusos
um poder permanente maior, pois os farímidas começaram muito di, ,1,, 1iluno. AI-Hakim era também um autocrata caprichoso e violento,
cantes dos antigos centros de poder do mundo islâmico e, para lográ-lo,, 111.1,d~· um modo um pouco mais familiar; no encanto, sua imagética
teriam de lutar por mais tempo - de fato, eles nunca chegaram a Bagd,í. n li1:1m.1 ainda assim marca a originalidade dos fadmidas .
Sendo eles mesmos imãs xiitas, os califas fatímidas não precisavam pr.:s
tar muita atenção aos ulemás em nenhum de seus domínios, pois este~
....
eram, por definição, sunitas, e, de qualquer forma, um imã remontava Tariq ibn Ziyad, chefe berbere de um exército em grande medida
sua autoridade diretamente a Deus. Mas, ainda mais do que na Ifríquia, 1,, din e, invadiu a Hispânia visigótica cm nome dos califas omíadas de
o governo fatímida, no Egito, era simplesmente uma conrinuação do - j:.I 1.1,11 11,1\CO, e derrotou e matou o rei Rodrigo, em 711. Os berberes e os ára-
efetivo - governo de seus predecessores. Os kucama, no Egito e na Síria, hc-, 1in ham tomado quase toda a península por volta de 718. Os exércitos
eram outro exército pago, longe de casa, como os abnã' e os turcos. AI- 1i11,~111 manos fizeram incursões pela F rancia adentro, por mais uma década
-Muizz e seus sucessores recentralizaram a administração fiscal do Egito, ,, 11111.1, porém sem grande projeto conquistador; a Hispânia - al-Andalus,
como tinham feito os primeiros abássidas, ainda que no Egito ela nunca 111 1r,1be - já escava no limite extremo de seu mundo, e é provável que, se
houvesse se tornado muito descentralizada. Um estado force auxiliou o ·l.1 11."it> tivesse sucumbido cão facilmente, eles teriam parado no Estreito
desenvolvimento comercial, mas, de qualquer forma, o Egito tinha agora ti. 1 ,,bralcar.33 Seja como for, a ocupação da península foi rápida. Com o
novamente ultrapassado o Iraque enquanto região produtiva. Em gran- t •• 1, llO visigótico derrotado, os muçulmanos firmaram tratados em se-
de parte, os fatímidas permitiram que ele se desenvolvesse simplesmen- i' 11 .,Jo com diversos senhores locais, em particular com Teodomiro, no
te criando estabilidade; por conseguinre, o Egito permaneceu um dos 1llllnrc da Espanha, em 713. Eles não se instalaram na antiga capital To-
grandes poderes islâmicos até o final da Idade Média, assegurando um 1, ,!.,, mas na Córdoba, no sul mais rico; Toledo parecia-se com uma zona
protagonismo pollcico inigualável desde os tempos de Cleópatra. Sua ca- ,1, 1rnnceira, tendo um extenso território sem controle, mais ao norte, no
pital administrativa, al-Qahira, ou seja, o Cairo, foi fundada, em 969, nas d, Jo Douro, entre o muçulmano al-Andalus e as unidades políticas cris-
imediações da antiga capital provincial de Fuscat, que permanecia o nú- 1h d.1 franja norte da península. Em Córdoba, o poder escava nas mãos
cleo comercial do Egito; Fustac-Cairo foi, por um longo tempo, a grande ,1. uma sucessão de governadores escolhidos pelos califas. Al-Andalus
potência econômica de todo o Mediterrâneo Oriental, ultrapassando até ,,,.111:ncava ser uma província normal, ainda que distante, do califado.
Bagdá, como veremos em mais detalhes no próximo capítulo.32 1 l.1 foi cão afetada quanto o norte da África pela grande revolta berbere
O s facímidas podem, então, ser interpretados simplesmente h • 10, mas o califa Hisham enviou exércitos sírios para a Espanha, em
como governantes comuns do século X em diante, que, por um lado, ob- • 1 l, que reconquistaram a península, em 742-743, e se estabeleceram ali,
tiveram sucesso por seu esforço e, por ourro, sorte com a região que gover- 1111ncntando, dessa forma, o componente árabe da povoação rnuçulma-
navam. De toda forma, isso não fez dos facímidas exatamente idênticos 111 Entretanto, os sírios na Espanha replicaram os conflitos das facções
aos seus pares cm outros lugares do mundo islâmico. O ismaclismo - uma ( l.1y,i e Yamani, que ocorriam no crescente fércü, e, durante uma década,
seita hermética com elementos de neoplatonismo esotérico e abstrato, 1pú, 745, aconteceu uma guerra civil entre eles. Quando os omladas fo-
incluindo um complexo simbolismo de letras e números - continuou a 1 .1 111 derrubados, na Síria, em 750, e sua famllia quase exterminada, Abd
marcar a corte e o exército, isolados entre um mar de sunitas, cristãos d lbhman ibn Muawiya, um dos netos de Hisham, conseguiu fugir para
coptas e judeus; e os califas podiam continuar a ter sonhos messiânicos: 111 mo dos parentes berberes de sua mãe, primeiramente, na África e, então,
notadamente al-Hakim (996-1021), que mandou inscrever frases aneis- ,111 755, na Hispânia. Aqui, Abd al-Rahman encontrou apoio canto das

A,<;O 461
O ll'K.td,Jd,· ltom\l llunuu,,mlo .1 id1.u.li.· d11, 11rv,, ,, .,ou~1non

linhagens berberes quanto dos árabes yamani oponentes do govcru.1.!111 111111' " ~\11w 1n.1dores de outros lugares detinham. Difcrcnccmcnt<; de
qaysi Yusufal-Fihri. (Os yamani da Hispânia eram, porranco, pró 01111.1 h111i 1>11111 .1p.11 tt: do califado, os cm ires cambém tiveram de lidar, quase
das, e não :mtiomíadas como demonstraram ser no Oriente, em 749.) l 111 ,li, 1, ._, ,1111·1,o, LOm uma ariscocracia muçulmana terratenence, que podia
um ano, de conseguiu vencer Yusuf e tomar Córdoba. Abd al-Rah m.111 l, j l,i 1., I, 11'\l,Lir ao pagamenco de impostos de wna maneira mais eficaz
então, governou como amir por mais de 30 anos, de 756 a 788, de (01111,1 111 , 1. 111hm ainda cristãos. Por algum tempo, não havia uma "classe
totalmente independente de seus inimigos abássidas, em Bagdá. E"'ª" 1L1Iª 1111111nt:rada, seja civil ou militar. A existência da fronteira com
descendentes fizeram a mesma coisa até 1031. lll!1(1, , 110 norte, também levou a uma fragmentação político-milicar,
Todavia, a Hispânia não era como a maioria das demais províun ... !li , 11f1.1,k dr al-Andalus dividida em marcas (thugür), 37 com sedes nos
califais. Ela era muito mais descentralizada, e também, por no mínimo 11111 hn,, ,, 1111 0 , eccntrionais, como Toledo e Saragoça, ou Tudela, base
século, teve uma economia muito mais simples do que as outras p rovím a.1,, prnln ,l,1l.1mrlia Banu Qasi, outrora visigótica, sobre os quais os emi-
mais similar às economias do resto da Europa Ocidental - com produ\•ª" 111,n, 1.1\, 1•,t,1bclecidos no sul. exerciam não mais do que um pequeno
artesanal relativamente pouco sofisticada e mais local - em compar,u,.111 tlif Pli 111 l1rngo de um século ou mais. A Hispânia oferecia diferenças
com as províncias do califado, como o Egito, a Síria ou o Iraque, que cr.1111 111 ,11., 1u11 mcs, com precárias vias de comunicação; a conquista mu-
economicamente complexas e altamente urbanizadas. 34 Mesmo as pri1111 l111rn.1 111,'I.I 1,;o m que as sociedades locais se movessem drasticamente
pais cidades ibéricas, como Córdoba, Sevilha, Mérida, Toledo, Sarago\,1 1111h11' ,,111·, daícrenrcs; esses contrastes eram ainda mais exacerbados pelas
e algumas outras, eram relativamente pequenas se comparadas com as do il lil 1idn do povoamento árabe e berbere. Os berberes, por exemplo,
Mediterrâneo Oriental, e isso tanto no período árabe quanto no visigodo, 1· 1,1 ll'I pre ferido organizar-se em grupos tribais coesos,38 em zonas
assim continuaram por longo tempo. O urro aspecco crucial era que a H" 1h f'U •h l l l ,l',, mas tornavam-se senhores de terra mais convencionais (e
pânia constituía uma das poucas províncias conquistadas pelos árabes 9111· ,hlt,11.l11,) t1uando residiam próx.imo de cidades ou dentro delas. Dadas
não tinham mais do que um sistema fiscal fragmentário. Assim, tornava \l' .d ivu ,1d,1dc local. a fragmentação política e a necessidade dos emires
impraticável o procedimento habitual de ocupação árabe, que consistia cm 11l!I, ,lrnlt o começo, de reconhecerem a relevância das políticas de
assentar urna dite militar remunerada numa cidade forcificada (calvez dr • ~•. 1 l la, p:lnia muçulmana era, realmente, cão parte da Europa Oci-

nova fundação). De qualquer forma, está fora de dúvida que os berbere,, iíldl ,p1.111to parte do ambiente político árabe.
recém-islamizados (se é que algum dia se converteram de fato), pelos anm l l1 .1mc dessa realidade, os omíadas conseguiram obter algum
71 O, somente pretendiam estabelecer-se nas terras conqu iscadas, e assim u lio, I""ª 11111 tempo, mas isso foi um processo longo e não precisamente
fizeram. Porém, os sírios, enviados para lá na década de 740 como soldado, 1mplr No t , scncial, Abd al-Rahman I procurou estabelecer a cencrali-
remunerados convencionais, também se assentaram na terra ao cabo dr ,hik d, , 11,1 própria família, tarefa que ainda não escava consumada, em
pouco tempo - inicialmente como arrecadadores agrícolas e, logo depois, 111 ,•t·1dadc, os Banu Fihri, uma família poderosa tanto em África
como proprietários - e limitaram-se a desempenhar o serviço militar (pelo ,,,, , 11.1 1 , panha, da qual haviam saído nada menos do que quatro go-
qual eram remunerados por campanha); 35 eles casaram-se com a aristocraci,1 11,1 .l,11,·, .1pcnas em al-Andalus, ainda estavam em sublevação nos anos
visigótica, e a partir do século X, como veremos, havia famílias orgulhosa~ li 1.1, ,dt· então, as sucessões de pai para filho prosseguiram através da
por possuir ambas as ancestralidades, a gótica e a árabe. Jil ~de X!!O, sem interrupções; embora houvesse certamente disputas
Desde o começo, os emires coletavam todos os impostos que po· h , ,, !andei ros sobre quem deveria suceder ao pai, e ocorressem eventuais
diam, pelo que eram muito criticados pelos cronistas (como testemunha il[!' ,k pmenciais rivais, os omíadas não enfrentaram nenhum verda-
uma narrativa cristã da metade do século, ainda em latim, a Crónica dr ,l~Jn , .1, ,,1t ordo prolongado acerca de quem deveria governar, até depois
36
754). De qualquer forma, eles não tinham nem de longe o controle fis. ,h, j u,, 1000, um feito notável que contribuiu para a estabilidade ao mes-
Ol~ l ,IJ 1(0111.t flu1uin~ tlu ,1 hl ,hl\' '-!,til ll t\111 ',1 ,◄UO I CHUl l>.1 l{t1K,l.t 1\lM,•,1ll,1 ;, ( ·1·111101,,, t )mhul11 1",o HKHJ

mo tempo que dela se beneficiava. Entreranco, aré o~ ano~ 820. o estado 11~11it ," dc,dc 4uc se começou a escrever história na península (com Abd
ainda era bastante esquelético. Apesar de Abd al-Rahman I empregar LJm 1 t\1,,11~ 1lm l labib, m. 853, um inrelectual de grande escopo), foram ca-
pequeno exército remunerado, é bem pouco provável que sua capacidade Jc jl.llt\ , ll rd.1c,1r, cm detalhes, os acontecimentos ocorridos no Oriente; os
arrecadar impostos ultrapassasse a região de Córdoba-Sevilha, ligada pcl:i, 111!,11 ;1111~, de nl-Andalus estavam bastante bem informados sobre o que
planícies do vale do Guadalquivir; quando seu neto al-Hakam 1 (796-822) , •llll'l 1,1 no mundo abássida. A população, ainda que lentamente, escava
tentou estabilizar a taxação, em 818, ocorreram revolcas não apenas no~ .~,1111 rt cndo ao islã; é provável que a maior parte de al-Andalus não fosse
cemros das marcas, como Toledo, onde as insurrcições eram bem frequen fi111ç11l111.1n:1 aré bem entrado o séculoX,equeos cristãos e os judeus nunca
res, mas dentro da população urbana da própria Córdoba. Somente com t IH:\;,,• 111 deixado de ser influentes na cultura andaluzina; porém, os lídc-
Abd al-Rahman II (822-852),39 um govername mais maleável, um siste- 10, 11, grnndes centros políticos já eram, em sua maioria, muçulmanos.•
2

ma administrativo parecido com aquele dos califas orientais pôde tomar l l111 111dii:ador disso é o estranho movimento minoritário conhecido como
forma, com impostos mais alros, uma classe burocrática (encabeçada aqui m ' 111,11 tires de Córdoba". extremistas cristãos chefiados por Eulógio (m.
pelo ~ãjib, o camerário, e não pelo vizir - este último era um cargo menor H~'J) l AIvaro, que deliberadamente provocaram suas morres, na capital,
na Hispânia, e havia, geralmente, vários deles), e um controle político mais 11,1 ,111, 11lt.1r publicamente o islã, na década de 850. Havia menos de 50 de-
amplo. Abd al-Rahaman II, em 825, construiu uma nova cidade, Múrcia;º k i l . ,I.Hamence não representavam a ainda grande comunidade cristã de
no sudeste, que era, então, periférico, e se estabeleceu nela com seus coneli- 1 ·,11 .luh.1. apesar da fascinação que seus escritos (convenientemente redi-
gionários árabes; ele confrontou as tendências rebeldes de Mérida qLJando •"'"' i:m latim) despertaram em estudiosos recentes; mas o desespero de
lá construiu uma grande fortaleza, em 835, e outra, em Toledo, em 837, e 1111 111ovimenro implica que eles entendiam que apenas medidas extremas
desenvolveu uma autêntica corte em Córdoba, agora em franca expansão , 1.,111 .1<lequadas para deter o gradual avanço da hegemonia muçulmana.
enquanto cidade, cujo crescimento em poder, riqueza e comércio levou a Enrretanco, esse processo de incremento do poder dos em ires,
crer que não seria, dali em diante, uma desvantagem se a cidade se tornasse f 11, moldes políticos orientais, escava já em ruína quando da morce de
a capital de um emir force. t\ l11lt.1m mad , e, entre as décadas de 880 e 920, houve um longo período
Durante o governo de Abd al-Rahman II e seu filho Muhammad ili. f'l'rtU rbação generalizada ou fitna."3 Muhammad já tinha problemas
(852-886), al-Andalus, vista do pomo de vista do estado, passou cada vez w 111 lblcdo e Mérida; ele selou a paz com a primeira, em 873, e saqueou
mais a se equiparar ao núcleo abássida. Ela patrocinava poetas e estudiosos 1! w~unda, em 868, mas, então, Badajoz, que ficava nas proximidades e
do Oriente, entre eles o importante músico e poeta iraquiano Ziryab (m. 1111lt.1,e tornado um centro político alternativo a M érida, nos anos 870,
41
857), que recebeu um enorme salário para vir ao Ocidente. O reinado 1, 11lcou,sc rambém sob o comando do antigo líder de Mérida, Abd al-
de Abd al-Rahman também foi marcado pela cristalização de uma classe H.,hman ibn Marwan aJ-Jilliqi (m. 892). Na década de 880, Umar ibn
de 'ulamãs~ nitidamente adaptada ao modelo inteiramente ocidental, que, i l .1 1, un (m. 917) também se revoltou, em sua base em Bobastro, no exrre-
dominada pela escola jurídica maliquista, logo se fez presente em toda cida- 11111 m i, acima de Málaga. No governo de Abd Allah (888-919), filho de
de grande, mas também em várias cidades pequenas. Al-Andalus, com sua \ 111 ha.mmad, os senhores locais passaram a estabelecer uma sempre maior
tradição legitimista omíada, quase não conheceu disputas sobre o direito 111dcpcndência efetiva, ramo nas marcas quanto no núcleo andaluzino do
de governar, que foram tão frequentes em outros lugares; tampouco houve . .,k do Guadalquivir. Abd AJlah era um governante ineficiente e recluso,
polêmicas sobre a legislação. Em parte, isso deriva do caráter provinciano 111.1, o problema ia além disso. A aristocracia terracencnte muçulmana -
da política omíada cm comparação com o Oriente; porém, o continu.um .J., {!Ual muitos membros (incluindo Ibn al-Jilliqi e lbn Hafsun) tinham
cultural que os ligava permanecia intacto, e isso seguiria verdadeiro no 111,csrrais visigóticos, ainda que parcialmente - possuía bases e lealdades
tempo de Ibn Hawqal, como já vimos. Realmente, os historiadores his- l11, ;1is efetivas. Eles podiam se contentar com um esrado em expansão,

.,.
O l'-'N•"lu lil- Jtunt.1. llum1t11Hhlo •• ltludt d1H. lll'\'1, -., 1100 1oQO 1)11 ll,1~11.1 AhJ"""' l 1:1i..t11I,., 1l111i,11h,. 7',U 11100

do qual se beneficiavam, mesmo que a.~ crescentes demandas fiscais desse ,111pli.tdo foi também enviado ao norte contra os crist.ãos, o que permitiu
estado fossem opostas aos seus interesses imediatos; porém, se o estado •1111• Abd al-Rahman (que, atipicameme, costumava liderar suas próprias
fraqucjassc, eles se voltariam para suas localidades, e não para a figura 11, 1p,1s) se impusesse sobre as marcas. No final, ele passou a controlar coda

do emir. Ou seja, por debaixo do sistema político de Córdoba, de estilo .il /\ ndalus, com exceção da Marca Superior, no extremo noroeste, cujos
abássida, continuavam a existir práticas políticas de estilo mais ocidental, ,·11 h<m:s lhe forneciam serviço militar e imposcos, mas permaneciam au-
como já discutimos. O Irã, com a sobrevivência de famílias aristocráticas 1,uwmos. Mesmo ali, os Banu Qasi, a principal família antiga de origem
sassânidas, oferece-nos o paralelo mais próximo, incluindo a permanência l\11-16cica, tinha perrudo seu poder, por volta de 907, e foi substituída, na
de um imaginário político pré-arábico na memória social local; os legiti- "W·'º• pelos tujibis, uma família próxima dos omíadas, que tinha recebido
mistas zoroastrianos, que podem ser encontrados no Irã até o século X, ,, , oncrole de Saragoça, em 890, em uma das raras intervenções efetivas
têm seu paralelo em Umar ibn Hafsun, que efetivamente se converteu ao ,111 emir Abd Allah. Essa hegemonia não foi enfraquecida, com exceção
cristianismo em 898. Mas o Irã também tinha outras regiões, com exér- p,111..ial da Marca Superior, pela séria derrota de Abd al-Rahman contra os
citos remunerados forces e sociedades locais despolitizadas, que tendiam , 11,tãos de Leão, em 939 (ver capítulo 19). Esse sucesso geral, somado ao
a dominar a política. Na Hispânia, o exército pago permanente ainda , 11l.tpso do poder abássida no mesmo período e ao estabelecimento de um
não era rão forte, e o serviço mjlitar era amplamente controlado, como , .d1íado rival xiita, pelos fatímidas, em 910, levou Abd al-Rahman III a
em outras partes do Ocidente, pelos próprios aristocratas, cuja lealdade ,, .iucoproclamar califa, assim como al-Nasir, em 929.
agora est ava em dúvida. Mesmo quando Sevilha, em 899, estabeleceu sua O século X foi o período no qual o cerimonial do governante se
efetiva autonomia, sob o comando de um membro de uma das famílias de dncnvolveu de forma mais completa. Córdoba ganhou uma série de no-
suas elites locais, Ibrahim ibn al-Hajjaj (m. 911), chamado de "rei" (malik) ''" , ubúrbios, e, com sua monumental mesquita, no centro, ampliada por
nas fomes, o estado corria o risco de se desintegrar. ,11 lakam II (961-976), filho de Abd al-Rahman, entrou na mesma liga de
Abd al-Rahman III (912-961),44 neto e sucessor de Abd Allah, 111,·trópoles, como Constantinopla e o Cairo. Abd al-Rahman também fun-
foi o governante que reverteu essa tendência, e, ao fazê-lo, deu início a três ,1, ,11, por volta de 940, uma impressionante nova corte e centro admin istra-
gerações de poder central force, o mais conhecido na Hispânia desde os ro- 11vn, cm Medina al-Zahra, logo ao noroeste da cidade.45 Aqui, o ritual cali-
manos até o século XIII. Abd al-Rahman III entendia que a única maneira 1,I é regisrrado em vários textos, desde a Vida de Joao de Gorze, embaixador
de lidar com essa descentralização era lutar sistematicamente e sem trégua. ,I,· t )tão I, por volta de 935-936 - texto intransigente na hostilidade pelo
Em dois anos, ele restabeleceu o controle sobre o vale do Guadalquivir; 1,l,1, mas que, sem querer, demonstra o quanto ficara impressionado pela
logo após, prosseguiu a expansão de seu exércico para além da amiga terra , 11mplexidade da corte-, até a seção de 971-975 da história de Isa al-Razi
tradicionalmente ligada aos emires, incluindo, agora, também as marcas. (,11. 989), preservada, um século mais carde, na Muqtabis de lbn Hayyan
Bobastro caiu, em 928, Badajoz, em 930, Toledo, em 932. Abd al-Rahman, (111 1076), que nos fornece vários relatos detalhados de alguns momentos
na maior parte das vezes, incorporava ao seu exércico, ou, então, à classe es- , ,·11moniais que envolviam o ano religioso muçulmano. Na principal sala
tatal civil de Córdoba, os senhores que derrubava, porém com um detalhe .t, rccepção do califa, em Medina al-Zahra, codos os grandes funcionários
crucial: eles eram separados de suas bases de poder local e incorporados 1111ham seus lugares marcados, em duas linhas, com o califa no final; a rna-
em um sistema político baseado em impostos, que era menos superficial lnt,tde do poder califa! pretendia ser, e era, muico clara.
em suas semelhanças com o Oriente do que no século anterior. Isso ficou O século X também foi um período de atividade econômica em
ainda mais evidente pelo grande aumento no efetivo de soldados escravos e l.1r11a escala. Veremos, no próximo capítulo, que al-Andalus participou no
ex-escravos, que eram em sua maioriasaqãliba, "eslavos" {apesar de a palavra 1111crcâmbio mediterrânico, por meio do porto de A lmería, fundado (ou,
incluir também outros europeus setentrionais). Desde 916, esse exército 1111 lhor, ampliado e amuralhado) por Abd al-Rahman III, em 955. Inter-
O lc.•Hiultt ,k l{ont.1 llu1111n.inJo 11 1d1ult> J 11, lu·\rn,! 100 • 1 nuo I>,, ll•i-J 11/\h,l'Shl.1 ,1l"rn.toh,101111.,íl•. '•li 1000

narnence, também, podemos ver, na arqueologia recence, o descnvolvimcn 1,I, , .1111pl.imcntc abandonado à sua própria sorte após os fadmidas chc-
to da produção artesanal centralizada e profissional de cerâmicas e vidro, :41, 111 110 Egito. Na ocasião de sua morre, entretanto, seu filho al-Hisham

incluindo cerâmicas vitrificadas, cm estilos orientais e mediterrânico,, !I l\' '(, 1009, 1010-1013) tinha apenas 15 anos; o poder foi exercido por
como as importantes peças decorativas em "verde-manganês" que apare 11111 ,lm (hcfcs militares de al-H akam, no Marrocos, Muhammad ibn Abi
cem exaustivamente nos sítios hispânicos desse período e que parecem tn 1\11111 , q11c cinha um destacamento leal de berberes para ajudá-lo a debelar
11111 11olpc contra seus rivais eslavos. Ibn Abi Amir, gradualmente, elimi-
sido produzidas principalmente em Córdoba e outros grandes centros. 11'
1,1,111ud,1s as outras figuras poderosas da corte e, cm 981, assumiu o poder
Essas últimas peças manifestavam associações califais explícitas, como po
demos ver na frequente inscrição al-mulk ("poder"), ao longo das bordas ,11p1 , 1110 como hãjib governante em nome de um califa testa de ferm, che-
111,lo ,Hé mesmo a se dar o rítulo de governo de al-Mansur (Almançor,
dos pratos e vasilhas, especialmente, mas não exclusivamente, em Medi na
111 purtuguês, 981-1002). Al-Mansur rapidamente engrandeceu o com-
al-Zahra. Todavia, esse tipo de atividade artesanal não pode ser atribuído,
i" ,11r 11tc berbere de seu exército para contrabalancear com os eslavos. Ele
por si só, a Abd al-Rahman ou a seu sucesso político. O trabalho artesanal
t 1111hfo1 lurou no Marrocos; porém, enviou seus exércitos, principalmente,
do século X dependeu daquele do século IX, que era notadamence mais
1· 11 .1 11norce, contra os reinos e principados cristãos, que foram derrotados
profissional do que o do VII I; isso é um indicador do continuo desenvolvi-
11111 .1 um, notadamcnte no devastador saque de Barcelona, em 984, e de
mento das hierarquias de riqueza e das demandas das elices na maioria das
1,11111;1~0 de Compostela, no extremo noroeste, cm 997; seu fi lho al-Mu-
partes muçulmanas da península. (Não nas áreas cristãs; mas os produtos
' ti 111 ( 1002-1008) continuou essa prática. Em sua predominância milicar,
artesanais de produção árabe, especialmente os carpetes, tecidos e couro,
1" 111.1da a uma substancial estabilidade interna e a uma continuação do
eram, todavia, apreciados nessas zonas como artigos de luxo.) Urna coisa
p ,p, 1 o.:crimonial central de Córdoba - onde al-Mansur construiu mais
que essa complexidade econômica em crescimento mostra é que os ricos
11111 ,entro de administração suburbano, Medina al-Zahira - , o califado
aristocratas do século IX não haviam de forma algwna desaparecido; eles
11111í.1da aparentava atingir seu ápice.
tinham apenas sido absorvidos pela hierarquia política califa], ou então
Assim como no caso do ponto alto abássida, sob al-Murasim e
pelas hierarqtúas locais de ulemás das cidades de al-Andalus - ou então
,d W,uhiq, entretanto, essa hegemonia não duraria muito. De fato, quase
nas duas, pois a Hispânia não era assim tão grande, e os desenraizados
1111n liatamente após a morte de al-Muzaffar, al-Andalus se desintegrou cm
exércitos eslavos (e, posteriormente, berberes) eram apenas parte da "classe
11111.1 ~uerra civil que dmou 22 anos (1009-1031). As razões detalhadas para
estatal". Sua identidade e seus pressuposros são bem expressos pelo histo- t ,o 1:~tão fora de nosso período; no essencial, elas têm a ver com o desprepa-
riador e gramático Ibn al-Qutiya (m. 977), filho de um juiz de Sevilha, 111 pu!rtico dos sucessores de al-Muzaffar e com as disputas de poder entre
que escreveu uma história, em tons coloquiais, cheia de episódios sobre hrli:s berberes e eslavos. Porém, essafitna era muito mais séria do que sua
a vasta riqueza das terras de seus ancestrais, que supostamente incluíam 111n lcccssora da centúria anterior; ela incluiu um violento saque da própria
Sara, "a Goda" (aL-Qüfiyya), 47 bisneta do rei Viciza; fbn al-Qutiya estava, , ,mloba, em 1013, e o abandono toca] da prática de nomear califas, em
todavia, atento aos feitos dos omíadas, corno faziam outros h_istoriadores, 8
Ili\ 1. que por essa época não passavam de meros fantoches.1 Nessa data,
e claramente aderiu aos valores da corte. Tudo que Abd al-Rahrnan fez .d Andalus escava dividida cm cerca de 30 reinos, conhecidos como Taifas
aqui - de roda forma um grande feito - foi cria.r a fundação política pa.ra (d~ tá'ifa, "facção"), e nunca voltou a recuperar a unidade política de Abd
a ligação das economias e sociedades locais do século IX em uma única .11 lb hman ou o protagonismo militar de al-Mansur. Esse colapso foi tão
rede, cobrindo a totalidade do califado ibérico. 1,1p1do e tão complero - muito mais rápido que o dos abássidas, resultando
Al-Hakam continuou as práticas políticas de seu pai; ele era fa- r 111 ~iscemas de governo i"ndependentcs que, em muitos casos, abrangiam
moso como um patrono da literatura também. Sua expansão militar, espe- ,,p1:nas o território de uma cidade, sendo menores do que os estados suces-
cialmente entre 972 e 975, foi em direção ao sul, no Marrocos, que tinha ,rn cs 110 Oriente - que demanda algum comentário.

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Alguns dos reinos caifas eram governados por comandamc, rr · Notas


gionais dos exércitos, eslavos ou berberes, que simplesmente cransforrn,1
~..i,,~ ., hi~tória ~bá~~ida e pós-abássida. o melhor guia, cm i11glês, é H. Kennedy,
rarn seus comandos em unidades autónomas, e, portanto, indepcndcnc~,.
//., l'rnphet alld thc Age o/the Calipbates (London, 1986), que devora suas mais
quando a autoridade central entrou em colapso, na década de 1010, assim 1111111m.1nrcs seções a esse período. Sobre o século X, essa é, efetivamenre, a única
como ocorreu no Oriente.4? Outros reinos, especialmente no noroc.:~tc, 1 1,pc, tiva geral, para além de M. A. Shaban, Islamic History: A New lnterpretation,
eram governados por antigas famílias, cujo poder local tinha sido reco ui 2. (C~mbridgc, 1976), que considero mais problemárico (para estudos mais lo-
' 1111.,dos cf. as noras 31 a 35). Sobre o período anterior a 908, merecem ser citados
nhecido até mesmo por Abd aJ-Rahman UI, os tujibis, em Saragoça, ou
11,, uucros livros de Kennedy: TIJe Ear/y Abbasid Caliphatt (London, 1981), 11,e
os Dhi'I-Numidas, na montanhosa área de Santaver, que, em 1018, ocu /,mm efrhe Caliphs (London, 2001) e '11,e Court ofthe Caliphs (London, 2004),
param Toledo. Mas algumas taifas, incluindo talvez a mais rica, Sevilha, 11111.1 .nrativa hisr6ria popular forremenrc baseada em narrativas abássidas, que calvez
foram tomadas por terracenences que tinham cargos cívicos e náo esta ,, J,1tn o melhor ponco para começar. A slnrese mais ampla sobre o inrciw período
1hh\1da é D. Sourdel, L'État impérial des califas abbassides (Paris, 1999). Sobre a
tais: não necessariamente das mesmas famílias que haviam dominado
, 11lwra do perlodo, o clássico lcvanramento é G. E. von Grunebaum, Medieval
por volta de 900, mas ao menos do mesmo estrato social. Temos de con- f,/.1111, 2. ed. (Chicago, 1953); M. J. L. Young et ai. (ed.), Religion, Ltarning a11d
cluir que Abd al-Rahman III não tinha definitivamente posto fim ao ,, 1mu in the 'A.bbasid Period (Cambridge, 1990), e J. Ashriany et 11l. (ed.). 'Abbasid
pressuposto, que sempre havia sido mais forte em al-Andalus do que em l1t/les-lmres (Cambridge, 1990), juncos cobrem rodos os gêncros literários decalha-
cl.11ncnce. P. Crone, Medieval lslamic Political Tbought (Edinburgh, 2004), e C. F.
qualquer outro lugar do mundo muçulmano, de que a posse de terras
l{obmson, Jslamic Historiography (Cambridge, 2003), possuem, ambos, uma grande
trazia potenciais direitos à autoridade política. E, ainda mais importan- .,lmngência. A fonte primária básica, 1he History efal-Tabm-i, esrá traduzida em 39
te: apesar da grande reorganização territorial do período do califado - volumes, ed. E. Yar-Sharcr (Albany, N Y, 1985-2000); do vol. 27 em diante, cobrem
com grandes e pequenas governanças firmemente controladas pelo go- "paíodo 750-915. A tendência a accirar quase rudo que al-Tabari e ourros autores
,111cm. cendência esta presente cm quase todos os aurores do período, incluindo
verno central, com mu iras das fortificações locais da primeira fitna
~l.:uns citados acima, éderivamence criricada no imporranceRcinterpreting Islamic
simplesmente tomadas pelo estado -, Abd a!-Rahman e seus sucessores l listoriography (Cambridge, 1999), de T. El-Hibri.
não haviam obtido sucesso em destruir tocai mente um outro pressupos- lhn Hawqal, Configuration de la ten-e, vol.l, trad. J. H. Kramers e G. Wier (Beiruc
to ibérico central: o de que as práticas políticas eram políticas locais. e Paris, 1964), pp. 117-130; para as citações, cf. pp. 123; 127.
Nesses dois aspeccos, o legado visigótico de al-Andalus emerge no perío- <'tmjiguration, vol. 1, pp. 97-98; li l; 144; 178.
do das taifas. Os cmires e califas conseguiram estabelecer um estado de Para um leque de estimativas, todas baseadas em informações deficienrcs, cf. F. Mi-
base fiscal, algo que não existira na Ibéria desde o Império Romano, e .:hcau, in: J.-C. Garcin (ed.). Grandes villesméditerranéennes du momk musulman
mldiéval (Roma, 2000), pp. 92-93; cf. rambém P. Guichard, ibid., p. 269; cu fico
isso, de faro, continuou comas raifas; porém, eles não conseguiram con• com uma estimativa mais alta do que muitos. ccndo em mence o meio milhão de
vencer a população andaluza do pressuposto que prevalecia no Egito e hnbirances de Roma e Constantinopla e os 250 mil, bem posslveis, esrimados para
no Iraque, mesmo no fragmencado século X: o de que o controle does- u Cairo/Fusrac do século Xll [A. Raymond, Cairo (Cambridge, Mass., 2000), p.
tado devia ser mais importante do que as políticas locais baseadas nas 62; cf. as caurclosas observações de Garcin, Grandes villes, p. 207].
terras, que tinham de passar para um lugar secundário. Quando o esta- Cf. D. Sourdd,Le Vizirat 'abbside de 749 a936, vol. 1 (Damasco, 1959); sobre Abu
Ayyub, cf. pp. 78-90.
do fraquejou, na década de 1010, assim como na de 880 e, anteriormen-
Sourdcl, Le Vizirnt, pp. 127-181; H. Kennedy. in: C. Mclvillc (cd.), Pmian a11d
te, na de 710, as localidades hispânicas imediatamente assumiram o Islamic Studies in Honour ofP. W: Avery, vol. l (Cambridge, 1990), PP· 89-98.
centro das atenções. Quando, mais adiante, ocorreu um cerco nível de El-Hibri, Reinterpreting Islamic Historiography, PP· 31-53.
reunificação, com os almorávidas, no fim do século XI, os cristãos, des-
Kennedy, Early Abbasid Calipbate, pp. 125-127.
sa vez, já tinham retomado Toledo e todo o equilíbrio do poder havia ' Al-Tabari. History, vol. 32, pp. 60-62; cf. Crone, Medieval Jslamic Politic11l
mudado. Thought, pp. 89-94.

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