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FILOSOFIA ANTIGA

• Prof. Natanael
• Φιλοσοφία

• Desejo de saber que implica na decisão de não


aceitar como naturais, óbvias e evidentes as
FILOSOFIA coisas, ideias, fatos, situações, valores,
comportamentos, sem antes investigar e
compreender.
Duas características:
ATITUDE a) Dizer “NÃO” a “pré-conceitos” e/ou “pré-
FILOSÓFICA julgamentos”;

b) Interrogações sobre as coisas:


* “O que é?”
* “Por que é?”
* “Como é?”
ERAS HISTÓRICAS

Idade Idade
Idade Antiga Idade Contempo
Moderna
Paleolítico – Média rânea
1453 - 1789 -
476dC 476 - 1453
1789 Hoje
FILOSOFIA ANTIGA (VII aC – VI dC)

FILOSOFIA PATRÍSTICA (I – VII)

FILOSOFIA MEDIEVAL (VII – XIV)

FILOSOFIA DA RENASCENÇA (XIV e XV)

FILOSOFIA MODERNA (XVII - meados XVIII)

FILOSOFIA DO ILUMINISMO (XVIII – início XIX)

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Profº Natanael Souza


FILOSOFIA ANTIGA (VII aC – VIdC)

PRÉ-SOCRÁTICO SOCRÁTICO SISTEMÁTICO HELENÍSTICO


(VIIaC – VaC) (VaC – IVaC) (IVaC - IIIaC) (IIIaC – VIdC)
PRÉ-SOCRÁTICO
ou
COSMOLÓGICO
(VIIaC – VaC)
TALES DE MILETO
(624aC – 545aC)
ANAXIMANDRO (610aC – 547aC)

• Geógrafo, matemático, astrônomo, político e


filósofo, discípulo de Tales de Mileto.

• Afirmava que o princípio de tudo era o ápeiron


(ἄπειρον / sem limite) isto é, uma matéria infinita
da qual todas as outras se cindem. Esse ápeiron é
algo insurgido (não surgiu nunca, embora exista) e
imortal.
TALES (de Mileto)
• Existe um princípio primordial (arché / ἀρχή) do
qual tudo se origina.
• O princípio está na água (Tales).
• “La cosa más difícil es conocernos a nosotros
mismos; la más fácil es hablar mal de los demás”.
(Tales)
PITÁGORAS
(570aC –
495aC)
Pensamento de Pitágoras

• O Ser capaz mora perto da necessidade.


• Educai as crianças para que não seja necessário punir os
adultos.
• Com organização e tempo acha-se o segredo de se fazer
tudo e bem feito.
A Cosmologia dos pré-socráticos

• Cosmologia é explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem


e transformação da natureza, da qual fazemos parte.

• Há um princípio eterno e imperecível: a physis ( Φύσις ) ou natura


para os romanos.
A PHYSIS

• É a causa natural, contínua e imperecível de todos os seres e de suas


transformações.
• Não pode ser conhecida pelos sentidos, mas apenas pelo pensamento.
• É a natureza em sua totalidade.
PHYSIS, SEGUNDO OS PRÉ-SOCRÁTICOS

• Tales => água


• Anaximandro => o ilimitado
• Anaxímenes => o ar ou frio
• Pitágoras => o número
• Heráclito => o fogo
• Demócrito => os átomos
SOBRE O LOGOS (Heráclito)

• Há uma lei que governa o mundo, inclusive o homem: é o logos


(λόγος ).
• Logos: pensamento, razão, inteligência, discurso, tratado, cálculo,
etc.
• O logos é comum a todos.
• Os homens não entendem o logos, mesmo com todas as coisas
acontecendo em razão do logos.
• O logos permanece oculto aos homens mesmo quando agem
despertos, do mesmo modo que não são conscientes do que
fazem dormindo.
PERÍODO SOCRÁTICO
ou
ANTROPOLÓGICO
(VaC – IVaC)
CONTEXTO NA GRÉCIA (Período Clássico)

GRÉCIA ATENAS ESPARTA


ECONOMIA Mercantil Agrária
EDUCAÇÃO Cidadão Militar
CIDADE Cosmopolitana Xenófoba
POLÍTICA Democracia Oligarquia
PRÉ-REQUISITOS PARA
• Homem, maior de 21,
CIDADANIA proprietário de terras, gado
e escravos.
• Homem perfeito (Belo e
bom).
• Belo: corpo condicionado
pelos exercícios físicos.
• Bom: virtuoso ( aretê /
ἀρετή ).
• Bom orador (principal):
opina, discute, delibera,
vota nas assembleias, tem
boa retórica.
SOFISMAS são raciocínios que partem de premissas verdadeiras, mas que têm
conclusões absurdas ou descabidas.

a) Aníbal é homem. Os homens não prestam. Logo, Aníbal não presta.


b) Em minha escola há meninos e meninas; existem meninos que não gostam de
estudar; portanto, existem meninos da minha escola que não gostam de estudar.
c) Quando bebemos álcool em excesso, ficamos bêbados. Quando estamos
bêbados, dormimos. Enquanto dormimos, não cometemos pecados. Se não
cometemos pecados, vamos para o céu. Portanto, para ir para o céu devemos
estar bêbados.
SOFISMAS/FALÁCIAS CONTEMPORÂNEOS

• "Nosso governo dá todo apoio a quem apoia o Brasil e ao mesmo tempo


pede a vocês que apoiem o governo, porque estarão apoiando o Brasil.“
(Michel Temer)
• Com 16 anos, jovens podem votar. Então, com 16 anos também podem
ser punidos como adultos.
• Não se ouvia muitas histórias de violência na época da ditadura. Logo, a
vida era mais segura naquela época.
• Para enriquecer, é só trabalhar duro. Quem é pobre, é que não trabalha
o suficiente.
SÓCRATES (470aC - 399aC)
• Antes de conheceres a natureza ou de conheceres a outrem,
conhece-te a ti mesmo (crítica aos sofistas).

• A alma conhece-se espelhando-se no virtuoso.

• Importa o conceito, não a opinião. (Não importa quem ou o que é o


belo; importa saber o que é beleza).

• Maiêutica (μαιευτικη ): filósofo é “parteiro de almas”, dando à luz


novas ideias.

• Ironia socrática (perguntar fingindo ignorar); visava a destruição das


“certezas”.
• A ironia socrática é amorosa, pois trata de fazer com que o
outro perceba seu erro desmoronando suas “convicções” e
construindo um raciocínio consequente.
• Exemplo:
- Sou independente!
- Por quê?
- Fiz 18 anos!
- Ora, quando eu tinha cinco anos meu pai deixou-me ir à
padaria sozinho! Já era independente, de certa forma.
- Bem, meus pais não permitem que eu viaje sozinho!
- Você é mesmo independente?
Vós tendes conhecimento de
que" os jovens que dispõem de
mais tempo que os outros, os
filhos das famílias mais ricas,
seguem-me de livre e
espontânea vontade, e se
regozijam em assistir a esta
minha análise dos homens;
inúmeras vezes procuram
imitar-me e tentam, por sua
própria conta, analisar alguma
pessoa. Logicamente, depara-se
com numerosos homens que
julgam saber alguma coisa e
sabem pouco ou nada, e então,
aqueles que são analisados por
eles voltam-se contra mim e não
contra quem os analisou.
(Platão. Apologia de Sócrates)

• A morte de Sócrates (Jacques-Louis David – 1787)


PLATÃO (428aC – 347aC)
A alma (ψυκή em grego, ou psiqué), parte imaterial e
imortal do homem, conhece todas as ideias. Mas
esqueceu-as devido ao nascimento em um corpo.
Conhecer/aprender, portanto, é recuperar o que já
nos pertencia (reevocação de ideias inatas).
Vivemos em um mundo no qual reinam as opiniões
que nos aprisionam com grilhões (paixão e
ignorância).
O corpo é obstáculo ao conhecimento (luta pela
sobrevivência); daí a necessidade de transcendê-lo
(ultrapassar, sobrepor, elevar-se), voltando ao mundo
das ideias.
MITO/ALEGORIA DA CAVERNA
• "Ora, a alma pensa melhor quando não tem nada disso a perturbá-la;
nem a vista, nem o ouvido, nem a dor, nem prazer de espécie alguma,
e concentrada em si mesma, dispensa a companhia do corpo,
evitando qualquer comércio com ele, e esforça-se por apreender a
verdade." (Platão. Fédon)

• O amor é filho da pobreza e da riqueza: da pobreza, porque


constantemente pede, e da riqueza porque constantemente se dá. O
amor é uma força, uma energia, que se manifesta na alma como um
sentimento de lembrança de algo que a alma já teve, mas perdeu.
(Platão. O banquete)
PERÍODO
SISTEMÁTICO
ou
ARISTOTÉLICO
(384aC – 324aC)
TRAJETÓRIA DE ARISTÓTELES

• Nasceu em Estagira, Grécia setentrional. Órfão aos 18


anos, mudou-se para Atenas, onde ingressou na
Academia de Sócrates.
• Após a morte de Platão (347aC), percorreu várias ilhas
gregas com seus ensinos.
• Em 342aC assumiu o cargo de preceptor de Alexandre (13
anos), filho de Filipe II da Macedônia.
• Quando Alexandre assumiu o trono (21 anos), Aristóteles
regressou a Atenas e fundou o Liceu.
• Aristóteles foi discípulo de Platão.
ACADEMIA DE SÓCRATES e LICEU DE ARISTÓTELES
• Lógica;
• Física;
• Ótica;
SISTEMATIZAÇÃO • As aulas no Liceu se
• Química; dividiam em dois
DO • Astronomia; turnos:
CONHECIMENTO • Biologia;
• a) de manhã, ensino
esotérico (física,
POR ARISTÓTELES • Metafísica; metafísica, lógica) para
discípulos; (esotérico =
• Psicologia; voltado “para dentro”).
• Ética; • b) tarde, ensino
exotérico (política,
• Retórica; retórica, literatura)
• Artes; para o público externo;
(exotérico = voltado
• Música; para fora).
• Poética;
• Política.
METAFÍSICA

• Estudo da essência das coisas e dos seres; existência e essência. Ex: cadeira e lápis existem e têm
uma essência: a madeira.

• Assim, temos as ciências práticas (medicina, política, etc.) e as ciências teóricas (física, matemática,
metafísica).

• As práticas estudam o particular, o eventual, o que é possível.

• As teóricas estudam o universal, o que é necessário.

• Exemplo: o médico estuda bioquímica (teoria) para aliviar dor, febre e inflamações, prescrevendo
ácido acetilsalicílico ( C9H8O4 ) para provocar inibição da ciclo-oxigenase. Se não domina o universal,
o médico não tem autonomia no eventual.
As questões da vida (existência) devem ser abordadas em sua essência.
Mais exemplos:
• Essência da fidelidade: memória, constância, ausência de
renegamento, de frivolidade, de leviandade.
• Essência da prudência: responsabilidade que decide com coragem
para prover.
• Essência da coragem: força da alma que enfrenta e suporta perigos e
labores por decisão e dignidade.
• Essência da temperança: prazer maior no usufruto, sem ser escravo
dos desejos.
• Essência do perdão: não ser mais afetado pela ofensa.
PERÍODO
HELENÍSTICO
ou
GRECO-ROMANO
(IIIaC – VIdC)
ESCOLAS DE PENSAMENTO DO
PERÍODO HELENÍSTICO

CETICISMO
ou EPICURISMO ESTOICISMO NEOPLATONISMO
CINISMO
CINISMO e CETICISMO
• Diógenes (O Cão) (413aC – 323aC).

• Deve-se viver independente das necessidades, dos


vínculos com bens e/ou pessoas.

• Cada indivíduo deve cuidar de si mesmo (autarquia).

• Há uma riqueza em nada possuir.

• Deve-se viver com o mínimo possível (quando viu um


menino bebendo com a concha das mãos, jogou fora a
caneca).
Diógenes

• Quando viu um rato correndo sem


metas/objetivos, encontrou o remédio para
suas necessidades (rato não procura lugar
para dormir, não teme as trevas, nem deseja
nada que se considera desejável).
• Usava um duplo manto (vestia e dormia).
• Raciocínio: tudo pertence aos deuses; os
sábios são amigos dos deuses; amigos têm
tudo em comum; os sábios possuem tudo.
• Alexandre o visitou: “Pede-me tudo que
quiseres!” Ao que respondeu: “Devolva-me o
sol!”, por causa da sombra do imperador.
Pensamento de
Diógenes aplicado
O pensamento de Diógenes pode ser
considerado em alguns aspectos:
• Desprezo e indiferença diante dos valores,
padrões da sua sociedade;
• Necessidade de se aprender a viver com o
mínimo indispensável;
• Inversão da relação entre homens e
deuses: Diógenes afirmava a divinização
do ser humano em vez da humanização
dos deuses.
PIRRO de ÉLIS (360aC – 270aC)

• Nada pode ser conhecido (acatalepsia).


• Como nada pode ser conhecido, a única atitude
recomendável é a despreocupação (ataraxia).
• Diante da impossibilidade do conhecimento das coisas, a
atitude coerente é a suspensão do julgamento, a
quietude mental e a indiferença diante do mundo
exterior.
• Certa vez seu mestre Anaxarco caiu em um poço.
Mantendo-se imperturbável, não o socorreu.
• Viveu até 90 anos.
• A imagem de Epicuro é
EPICURISMO encontrada em várias casas
pelos arqueólogos.
• A felicidade é o problema
fundamental dos indivíduos.
• A felicidade consiste no
prazer.
• O prazer deve ser
maximizado mesmo em suas
pequenas manifestações.
• Limitação dos desejos e das
necessidades favorecem o
verdadeiro prazer.
• Portanto, o verdadeiro
prazer consiste na
tranquilidade do espírito.
“Que nem o jovem se demore a filosofar, nem o velho
de filosofar se canse. (...) Quem diz que a idade de
filosofar ainda não chegou ou já passou, diz que a
idade de ser feliz ainda não chegou ou já passou”.
(Epicuro)

“A morte não deve ser fonte de temor; quando ela


está presente, nós não estamos; quando estamos
presentes, ela não está”. (Epicuro)

“Temer ou desejar a morte limita nossa liberdade”.


(Epicuro)
“O prazer efêmero (felicidade) é inferior ao prazer
estável (ausência de dor e ansiedade) do sábio.
ESTOICISMO
(Zenão, Sêneca, Marco Aurélio)
• Premissa do estoicismo: viver conforme
a natureza de sua existência.
• Deve-se buscar a impassibilidade
(espírito sereno).
• A mais comum patologia do espírito é a
insatisfação.
• Inquietude e ativismo inútil são
produtos da insatisfação.
Zenão de Cítio
• O inquieto não se realiza nem na vida (333aC – 263aC)
pública nem na privada.
• Quando está só, o inquieto odeia a solidão, pois odeia
a si mesmo.
• Para esconder o vazio da existência, busca sempre
novas experiências, chegando até às dolorosas.
• O inquieto persegue todas novidades.
• O objetivo do frenético é esquecer a si mesmo.
• Deve-se conciliar socialização e busca interior.
• A saúde do corpo e da mente requer alternância entre
trabalho e descanso. Marco Aurélio
(121 – 180)
• Lazer, dança e jogos são necessários tanto quanto as
obrigações.
NEOPLATONISMO
(IIIdC – VIdC)
• O Neoplatonismo implicou em
uma retomada do pensamento
espiritual e cosmológico de
Platão, às vezes associando-o
com a teologia judaica e/ou
cristã.

• Não retoma Platão. Apenas lança


mão de seus aspectos espirituais
e cosmológicos.
PLOTINO (204 – 270)
• Há um princípio unitário (o Uno) do qual tudo se origina.
• O Uno não é a soma dos seres; precede todos os seres e
não coincide com nenhum deles.
• O Uno é transcendência absoluta e incomparável com as
categorias humanas.
• O Uno não pode ser investigado ou pesquisado por meio
da razão.
• O mundo provém do Uno por emanação. Escolhendo o
caminho de retorno ao Uno, a alma faz o sentido inverso
da emanação.
AGOSTINHO de HIPONA (354 – 430)
• Nascido na atual Tunísia, professor de retórica,
converteu-se ao Cristianismo quando visitava
Milão ouvindo Ambrósio. Sua mãe, Mônica,
exerceu papel determinante nesse processo.
• É importante elo entre o mundo antigo e a
civilização cristã.
• Foi o mais importante dentre os Pais da Igreja
(Patrística).
O problema do mal (Teodiceia)
• Deus vive em uma dimensão diferente: a eternidade.
• Deus é bom e criou coisas boas que ele envolve e
preenche.
• Então, onde está o mal? Qual sua origem?
• O mal não existe como substância (não existe nem
subsiste por si).
• O pecado implica na ausência de Deus, o Supremo Bem.
• A ausência do bem produz fenômenos ruins como dor,
violência, sofrimento, morte.
• A maldade humana é o mal expresso resultante do
pecado.

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