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TRABALHO
I
Respostas
ao
CASO
PRÁTICO
1
–
TURMA
NOITE
Aluna:
Graça
Rosendo
Subturma
1,
nº
21122
GRUPO
I
Dispõe
o
artigo
112.º,
n.º
1,
alínea
c),
do
Código
do
Trabalho,
que
o
período
experimental
tem
a
duração
de
240
dias
para
trabalhador
que
exerça
cargo
de
direção
ou
quadro
superior.
Em
1/9/2016,
António,
jurista
e
filiado
no
STTP
(Sindicato
dos
Trabalhadores
dos
Transportes
de
Portugal),
celebra
contrato
de
trabalho
com
a
empresa
de
táxis
TÁXUBER,
para
o
exercício
da
função
de
diretor
jurídico,
fixando-‐se
um
período
experimental
de
200
dias.
O
período
experimental
(11º
a
114º
do
CT)
é
uma
figura
especifica
do
vinculo
laboral
e
foi
estabelecida
na
lei
tanto
a
favor
do
empregador
(permitindo-‐lhe
avaliar
a
qualidade
e
as
aptidões
do
trabalhador
para
a
função),
como
do
trabalhador
(pois
só
com
a
sua
integração
na
organização
do
empregador
é
que
o
trabalhador
pode
ter
avaliar
as
suas
expectativas
quanto
a
essa
organização
e,
assim,
confirmar
o
seu
interesse
na
manutenção
do
vinculo.
É
portanto
uma
figura
que
corresponde
ao
interesse
das
duas
partes,
devendo
ambas
agir
de
modo
a
que
a
outra
parte
possa
apreciar
o
interesse
na
manutenção
do
vinculo.
É
claro,
de
qualquer
modo,
que
tem
um
interesse
maior
para
o
empregador
do
que
para
o
trabalhador,
pois,
findo
o
período
experimental,
torna-‐se
mais
difícil
cessar
o
contrato
de
trabalho.
Diz
a
alínea
c)
do
nº
1
do
112º
que,
nos
contratos
por
tempo
indeterminado,
o
período
experimental
tem
a
duração
de
240
dias
para
o
pessoal
de
direção
e
quadros
superiores
–
um
período
superior
ao
das
outras
categorias
de
trabalhadores
elencadas
na
mesma
norma,
dada
a
dificuldade
acrescida
“de
aferir
a
aptidão
do
trabalhador
nas
funções
de
maior
complexidade
ou
de
confiança”,
diz
a
prof.
Maria
do
Rosário
Palma
Carvalho.
É
o
caso
de
António,
o
jurista
que
celebra
contrato
de
trabalho
com
a
empresa
T
para
o
cargo
de
diretor
jurídico,
se
considerarmos
efetivamente
este
como
um
cargo
de
direção
ou
superior.
É
claro
que
sempre
se
poderia
entender
que
a
função
de
diretor
jurídico
poderia
não
corresponder
exatamente
a
um
“cargo
de
direção”,
apesar
do
elemento
literal
‘diretor’
o
pressupor,
mas
antes
a
cargo
de
“complexidade
técnica
(...)
ou
que
pressupõe
uma
especial
especial
qualificação’,
por
via
da
expressão
‘jurídica’.
E
isto
significaria
a
aplicação
da
alínea
b)
do
nº
1
do
112º
do
CT
(180
dias
de
período
experimental),
em
vez
da
alínea
c)
e,
por
consequência,
uma
outra
avaliação
do
caso
concreto.
Afinal,
como
chama
a
atenção
M.R.Palma
Carvalho,
“a
dificuldade
desta
disposição
é
precisamente
a
integração
do
conteúdo
dos
conceitos
de
(...)
complexidade
técnica
ou
que
pressuponham
uma
qualificação
especial.
Esta
integração
terá
de
ser
feita
no
caso
concreto
e
a
mesma
função,
considerada
em
abstrato,
pode
justificar
uma
qualificação
diferente
num
determinado
contexto
(assim,
a
função
de
cozinheiro
corresponderá
a
uma
função
de
elevada
complexidade
técnica
se
estiver
em
causa
o
lugar
de
maitre
de
um
restaurante,
por
exemplo)”.
O
caso
indica
associa
o
cargo
de
diretor
técnico
aos
240
dias
de
período
experimental,
pelo
que
vamos
entender
que
se
pretendeu,
efetivamente,
aplicar-‐lhe
a
alínea
c)
do
nº1
do
112º.
O
problema
é
que
o
contrato
de
trabalho
assinado
entre
as
partes
fixou
um
período
experimental
de
200
dias.
E
aqui
devemos
considerar
o
seguinte:
1) Por
um
lado,
o
nº
5
do
112º
do
CT
determina
que
a
duração
do
período
experimental
pode
ser
reduzida
(...)
por
acordo
escrito
entre
as
partes;
ora,
não
havendo
qualquer
referência
no
caso,
presume-‐se
cumprida
a
lei:
o
contrato
de
trabalho,
pelo
menos
na
parte
relativa
à
redução
do
período
experimental
para
200
dias,
em
vez
dos
240
dias
previstos
na
norma,
foi
celebrado
na
forma
escrita.
2) Por
outro
lado,
tratando-‐se
de
conflito
entre
lei
e
contrato
de
trabalho,
o
art.
3º,
nº4
estabelece
uma
presunção
de
imperatividade
mínima
das
normas
legais
perante
o
contrato,
podendo
aquelas
ser
afastadas
pelo
contrato
para
dispor
em
sentido
mais
favorável
ao
trabalhador.
É,
afinal,
o
alcance
tradicional
do
principio
do
favor
laboratoris.
O
artigo
112º
é
precisamente
uma
norma
imperativa
mínima,
significando
que
o
período
experimental
dos
contratos
por
tempo
indeterminado
pode
ser
reduzido
ou
até
extinto,
mas
não
alargado.
É
a
redução
ou
a
extinção
desse
período
experimental
que
constitui
efetivamente
o
tratamento
mais
favorável
ao
trabalhador,
uma
vez
que,
após
esse
período
o
empregador
está
muito
mais
limitado
quanto
à
possibilidade
de
fazer
cessar
o
contrato
de
trabalho.
3) Por
acordo,
que
se
presume
escrito,
entre
A
e
a
empresa
T,
o
período
experimental
foi
então
reduzido
em
40
dias,
cumprindo-‐se
o
regime
laboral
legal.
Em
1/10/2016,
é
publicada
uma
convenção
colectiva
de
trabalho,
outorgada
por
via
de
decisão
arbitral
em
processo
de
arbitragem
voluntária,
entre
um
conjunto
de
empresas
de
transportes
terrestres
(na
qual
se
incluía
a
TÁXUBER)
e
a
FSTT
(Federação
de
Sindicatos
dos
Transportes
Terrestres,
de
que
era
membro
o
STTP),
prevendo-‐se,
entre
outras,
as
seguintes
regras:
a) “A
aplicação
desta
convenção
obriga
ao
pagamento
de
metade
do
valor
mensal
das
quotas
sindicais
médias,
em
caso
de
opção
por
trabalhador
não
sindicalizado”.
b) “O
período
experimental
dos
diretores
é
de
220
dias
e
não
pode
ser
diminuído
por
contrato
de
trabalho”.
Entretanto,
é
publicado
um
acordo
coletivo
de
trabalho
(ACT)
entre
um
conjunto
de
empresas
nas
quais
se
integrava
a
empresa
T,
e
uma
federação
sindical,
na
qual
estava
filiado
o
sindicato
a
que
pertencia
A
(art.
2º,
nº3,
b)
e
485º
ss
do
CT)
–
em
resultado
de
uma
decisão
arbitral
voluntária.
A
decisão
arbitral
voluntária,
prevista
nos
2º,
nº2
e
506º
ss
do
CT)
é
uma
deliberação
tomada
por
um
colégio
arbitral
(505º,
nº2
e
507º,
nº2),
que
tem
por
objeto
um
qualquer
diferendo
sobre
a
interpretação
ou
a
aplicação
de
uma
convenção
coletiva
entre
os
respetivos
outorgantes.
Submetendo
essa
convenção
coletiva
a
um
processo
de
arbitragem
voluntária,
as
partes
outorgantes
comprometem-‐se
a
aceitar
a
deliberação
final
que
o
colégio
arbitral
venha
a
tomar,
produzindo
a
deliberação
os
mesmos
efeitos
e
seguindo
as
mesmas
regras
de
conteúdo
obrigatório
e
de
depósito
(506º
e
507º
do
CT)
e,
por
isso,
sendo
equiparadas
a
IRCT.
Ainda
assim,
deliberação
arbitral
voluntária
não
é
um
IRCT
convencional
em
sentido
próprio
(por
não
ser
autorregulação
laboral
direta),
mas
assenta
numa
base
negocial,
pelo
que
é
IRCT
convencional.
É,
finalmente,
um
mecanismo
de
regulação
pacifica
de
um
conflito
laboral.
É
fonte
de
direito
de
trabalho
em
sentido
próprio,
por
motivo
formal
(uma
vez
que
é
qualificada
como
tal
pela
lei)
e
em
sentido
material
(porque
cria
regras
dotadas
de
generalidade
e
abstração).
Quanto
ao
ACT
entretanto
publicado,
é
instrumento
de
regulação
coletiva
de
trabalho
(IRCT)
convencional
e
vertical,
uma
fonte
interna
especifica
autónoma
de
direito
laboral
em
sentido
próprio,
por
revelar
regras
jurídicas
aplicáveis
às
situações
juslaborais
individuais
e
coletivas.
Apesar
de
autorregular
interesses,
não
se
confunde
com
os
contratos
de
trabalho,
nem
a
autonomia
coletiva
que
nela
se
exerce
corresponde
a
uma
forma
simples
de
autonomia
privada
ou
à
soma
das
autonomias
negociais
manifestadas
nos
contratos
de
trabalho.
Do
lado
dos
trabalhadores,
a
lei
impõe
que
estes
sejam
sempre
representados
por
associações
sindicais
(detêm
o
monopólio
desta
posição
nas
convenções
coletivas,
ou
seja,
o
trabalhador
não
pode
ser
parte
num
instrumento
de
regulação
coletiva
de
trabalho
deste
tipo).
No
caso,
foi
uma
federação
sindical
(arts
442º/nº1,
b)
do
CT)
a
outorgante.
É
pois
do
lado
do
empregador
que
se
faz
a
distinção
entre
os
diferentes
tipos
gerais
de
convenções:
no
caso,
identifica-‐se
imediatamente
a
convenção
como
sendo
um
ACT
uma
vez
que
é
outorgada
por
‘um
conjunto
de
empresas
de
transportes
terrestres’.
Não
havendo
previsão
em
contrário,
o
âmbito
temporal
deste
ACT
é
de
12
meses
(499º,
nº2
do
CT).
O
seu
âmbito
geográfico,
ou
seja,
o
espaço
em
relação
ao
qual
a
convenção
coletiva
é
aplicada,
pressupõe-‐se
que
seja
nacional,
uma
vez
que
não
há
referência
a
qualquer
indicador
de
representação
meramente
regional.
Quanto
ao
âmbito
pessoal,
esta
convenção
obriga
os
trabalhadores
filiados
nos
sindicatos
representados
pela
federação
sindical
outorgante
(496º,
nº2)
e
os
empregadores
outorgantes.
Está
aqui
em
causa
o
principio
da
filiação
para
trabalhadores
e
empregadores:
no
caso,
A
é
filiado
num
sindicato
membro
da
federação
outorgante;
quanto
à
empresa
T,
não
há
filiação
porque
a
outorgante
não
é
associação
de
empregadores;
T
faz
antes
parte
do
conjunto
de
empresas
que
outorgou
este
ACT.
Vejamos
agora
a
validade
das
cláusulas
incluídas
no
referido
ACT
e
o
seu
confronto
com
a
lei
e
com
o
contrato
de
trabalho
de
A.
1) quanto
ao
período
experimental:
• no
conflito
hierárquico
entre
fontes
de
direito
do
trabalho,
no
caso
a
lei
(artigo
112º)
–
fonte
interna
comum
-‐
e
um
IRCT
(o
ACT
outorgado
por
via
de
decisão
arbitral
voluntária)
–
fonte
interna
especifica
autónoma
-‐,
já
verificámos
a
imperatividade
mínima
da
norma
sobre
período
experimental,
que
diz
expressamente
(nº5)
que
pode
ser
afastada
por
IRCT
num
sentido
mais
favorável
ao
trabalhador.
Ora,
no
caso,
parece
ser
o
que
acontece:
a
lei
determina
um
período
experimental
de
240
dias
e
o
ACT
fixa-‐o
em
220
dias,
sendo
este
mais
favorável.
A
cláusula
é,
nesta
parte,
válida.
• na
segunda
parte
desta
cláusula,
diz-‐se
que
o
período
experimental
não
pode
ser
diminuído
por
contrato
de
trabalho;
ora,
temos
de
novo
um
conflito
hierárquico
entre
lei
e
IRCT,
uma
vez
que
a
lei
determina
a
possibilidade
do
seu
afastamento
por
contrato
de
trabalho
em
caso
de
tratamento
mais
favorável
ao
trabalhador
e
este
IRCT
pretende
determinar
o
contrário;
se
aplicássemos
a
regra
da
supletividade
da
norma
legal
perante
o
IRCT
(3º,
nº1
do
CT,
que
diz
que
as
cláusulas
das
convenções
podem
alterar
as
normas
legais
laborais
seja
em
que
sentido
for,
quando
da
própria
norma
não
resultar
o
contrário),
dir-‐se-‐ia
que
a
cláusula
era
válida
nesta
parte.
No
entanto,
o
112º
é
uma
norma
legal
laboral
imperativa
mínima,
e
nesse
sentido,
só
pode
ser
afastada
por
IRCT
se
este
for
mais
favorável
ao
trabalhador.
Aliás,
à
luz
do
476º,
nem
sequer
pode
um
IRCT
impor
normas
imperativas
absolutas
ao
contrato
de
trabalho,
quando
estas
são
mais
desfavoráveis
ao
trabalhador.
Não
há
pois
alteração
superveniente
do
contrato
de
A.
• Já
quanto
ao
conflito
entre
IRCT
e
contrato
de
trabalho,
e
em
termos
de
conteúdo
da
cláusula
(220
dias
vs
200
dias
de
período
experimental),
determina
o
476º
que
as
cláusulas
do
ACT
só
podem
ser
afastadas
pelo
contrato
de
trabalho
num
sentido
mais
favorável
ao
trabalhador.
Não
é
o
caso:
o
contrato
de
A
prevê
um
período
experimental
de
200
dias
e
o
ACT
determina
um
período
de
220
dias,
pelo
que
a
cláusula
do
ACT
não
afasta
a
do
contrato
de
trabalho.
O
período
experimental
de
A
mantém-‐se
nos
200
dias.
2) Quanto
à
imposição
do
pagamento
de
quotas
sindicais
por
trabalhador
não
sindicalizado
que
adira
ao
ACT:
• o
artigo
492º,
nº4
prevê
que
a
convenção
coletiva
possa
determinar,
para
efeitos
de
escolha
da
convenção
aplicável
pelo
trabalhador
não
filiado,
o
pagamento
de
um
montante
nela
estabelecido
à
associação
sindical
outorgante,
a
titulo
de
comparticipação
nos
encargos
da
negociação.
Trata-‐se
de
uma
quantia
que
não
corresponde
a
uma
quotização
sindical
mas
a
uma
espécie
de
taxa,
surgindo
como
uma
compensação
por
um
serviço
prestado
pela
associação
sindical
àquele
trabalhador.
A
fixação
quer
do
valor
desta
‘taxa’
quer
da
sua
própria
aplicabilidade
é
facultativo,
pelo
que,
segundo
a
Prof
M.R.
Palma
Carvalho,
o
montante
deve
ser
fixado
segundo
critérios
de
razoabilidade,
que
efetivamente
viabilizem
a
opção
do
trabalhador.
• por
outro
lado,
o
art.
457º,
nº1
diz
que
o
trabalhador
não
pode
ser
obrigado
a
pagar
quotas
para
a
associação
sindical
em
que
não
esteja
inscrito,
numa
projeção
do
principio
da
liberdade
sindical
individual
na
vertente
negativa.
• Ora,
a
norma
introduzida
na
ultima
revisão
de
2009
do
Código
do
Trabalho
prevista
no
492º,
nº
4
parece
indiciar,
por
um
lado,
uma
contradição
nos
termos,
e,
por
outro,
como
refere
a
Prof,
uma
forte
limitação
ao
alcance
desse
principio
da
liberdade
sindical,
consagrado
constitucionalmente.
Esta
norma,
em
conjugação
com
o
497º,
nº
1
(que
prevê
a
escolha
da
convenção
aplicável
pelo
trabalhador
não
filiado),
levanta
as
maiores
dúvidas:
é
que,
sendo
possível
a
um
trabalhador
não
sindicalizado
na
associação
outorgante
optar
por
determinada
convenção
coletiva,
ele
deixa
de
ter
incentivos
à
filiação
sindical;
por
outro
lado,
a
verdade
é
que
o
não
filiado
pode
escolher,
enquanto
o
filiado
está
obrigado
à
convenção
outorgada
pela
sua
associação
sindical.
Finalmente,
diz
a
Prof,
essa
possibilidade
de
escolher,
pagando
ou
não
a
taxa
prevista
no
492º,
nº4,
contraria
a
opção
anteriormente
feita
livremente
pelo
mesmo
trabalhador
de
não
se
associar
ao
sindicato.
No
final,
a
conclusão
pode
ser
de
que
este
é
um
regime
mais
desfavorável
ao
trabalhador
sindicalizado
e
um
contributo
para
limitar
o
vigor
do
principio
da
liberdade
sindical,
na
sua
vertente
individual.
• Seja
como
for,
a
cláusula
prevista
neste
ACT
é
válida,
nos
termos
do
492º,
nº4,
podendo
a
associação
sindical
estabelecer
o
montante
que
entende
para
este
efeito.
• A
é
sindicalizado
no
STTP,
que
integra
a
ferederação
sindical
outorgante
deste
ACT,
pelo
que
esta
cláusula
não
se
se
lhe
aplica.
A
pode
pagar
as
quotas
ao
seu
sindicato
através
da
empresa
T,
desde
que
tenha
dado
expressa
autorização
para
essa
cobrança
indireta
(arts.
457º
a
459º
do
CT).
A
lei
permite
ao
empregador
o
acesso
às
informações
sobre
a
filiação
dos
seus
trabalhadores,
através
das
associações
sindicais
a
que
estes
estejam
ligados,
desde
que
as
use
exclusivamente
para
esse
fim.
Consideram-‐se
esta
informação
um
dado
pessoal
genericamente
tutelado
pela
Constituição
(art.
18º,
entre
outros),
pelo
Código
do
Trabalho
e
pela
legislação
geral
de
proteção
dos
dados
pessoais.
Entretanto,
a
TÁXUBER
dá
a
conhecer
a
António
um
Regulamento
interno,
nos
termos
do
qual
o
período
experimental
dos
diretores
tem
a
duração
de
150
dias,
regra
que
António
aceita
de
imediato.
Entretanto,
a
empresa
T
apresenta
um
regulamento
interno
(RI)
a
A,
que
refere
a
aplicação
de
um
período
experimental
para
diretores
de
150
dias,
que
A
aceita
de
imediato.
Impõe-‐se
a
analisar
o
papel
deste
RI
no
caso.
Os
regulamentos
internos
de
empresa
(previstos
nos
arts.
99º
e
104º
do
CT)
são
uma
fonte
interna
específica
de
direito
do
trabalho,
na
perspetiva
da
Prof.
M.
R.
Palma
Carvalho.
São
muito
utilizados
na
prática,
sobretudo
em
grandes
empresas,
que
usam
este
instrumento
para
elaborar
regras
em
matéria
gerais,
de
comportamento
na
empresa,
por
exemplo,
em
matérias
especificas,
relacionadas
com
a
segurança,
saúde
e
higiene
nos
locais
de
trabalho,
e
ainda
em
matérias
com
ligação
específica
ao
sector
profissional
ou
de
atividade
a
que
se
aplica.
Adquirem,
muitas
vezes,
a
designação
interna
de
‘códigos
de
conduta’.
A
posição
da
Prof
sobre
a
natureza
de
fonte
autónoma
de
direito
de
trabalhado
destes
RI
não
é
consensual
na
doutrina.
Defende-‐se,
por
um
lado,
que
a
empresa,
no
seio
da
qual
se
aplica
o
RI,
não
produz
normas
gerais
e
abstratas,
pelo
que
o
seu
RI
nunca
poderá
ser
fonte
de
direito.
Para
esta
doutrina,
o
RI
tem
ligação
direta
ao
contrato
de
trabalho,
acentuando-‐se,
por
isso,
a
sua
faceta
negocial,
e
recusa-‐se,
assim,
a
ideia
de
que
este
instrumento
possa
de
alguma
forma
ser
fonte
de
direito.
M.R.Palma
Carvalho
não
concorda,
defendendo
nesta
matéria
uma
posição
singular:
o
regulamento
interno
é
fonte
direito
do
trabalho
em
sentido
técnico
e
material,
por
força
do
carácter
geral
e
abstrato
de
algumas
das
suas
disposições
(apenas
as
que
possam
enquadrar-‐se
no
art.
99º
do
CT),
mas
não
em
sentido
formal,
por
não
constar
como
tal
do
elenco
previsto
na
lei
(art.
1º).
É
uma
fonte
específica
de
direito
do
trabalho
porque
evidencia
um
modo
de
produção
de
normas
laborais
e
é
autónoma
porque
corresponde
a
uma
autorregulação
de
interesses
laborais.
Estas
normas
do
RI
com
força
geral
e
abstrata
dizem
respeito,
regra
geral,
à
organização
e
disciplina
no
trabalho,
sendo
por
isso
uma
emanação
dos
poderes
diretivo
e
disciplinar
do
empregador.
Adquirem
a
característica
de
generalidade
e
abstração
porque
se
aplicam
ao
universo
de
todos
os
trabalhadores
da
empresa
de
onde
o
RI
emana
(claro
que
se
aplica
a
todos
os
trabalhadores
com
contrato
de
trabalho
com
a
empresa
e
àqueles
que
venham
a
tê-‐lo,
mas
essa
condição
prévia
não
altera
a
essência
normativa
destas
disposições
do
RI).
Revela-‐se
assim,
pois,
a
faceta
normativa
deste
instrumento.
De
acordo
com
o
art.
99º,
o
empregador,
sempre
que
pretende
regular
sobre
estas
matérias
através
do
RI,
deve
ouvir
a
comissão
de
trabalhadores
e
publicitar
previamente
os
termos
do
regulamento
interno
na
empresa.
A
mesma
norma
prevê,
aliás,
que,
se
o
IRCT
convencional
o
determinar,
estes
RI
podem
ser
tornados
obrigatórios
para
certas
matérias
(e
por
aqui
podemos
dizer
que
é
fonte
mediata
de
direito,
retirando
a
sua
força
normativa
de
outras
fontes
jurídicas).
Nestes
passos,
o
próprio
regulamento
interno
torna-‐se
um
veículo
de
controlo
dos
poderes
do
empregador
naquelas
matérias,
porque
também
ele
fica
vinculado
ao
que
aí
está
determinado.
Mas
o
RI
tem
também
uma
faceta
negocial,
que
revela
a
sua
ligação
ao
contrato
de
trabalho,
podendo
na
verdade
até
integrá-‐lo.
Aqui,
o
RI
deixa
de
ser
fonte
de
normas
laborais.
E
isto
porque,
de
facto,
o
art.
104º
do
CT
permite
que
a
vontade
negocial
do
empregador
no
contrato
de
trabalho
possa
manifestar-‐se
através
do
RI.
Como
declaração
da
vontade
do
empregador,
reveste
as
características
das
cláusulas
contratuais
gerais
(CCC),
sendo-‐lhe
aplicável,
nesta
parte,
o
regime
destas
CCC.
Para
que
esta
declaração
de
vontade
negocial
seja
válida
no
contrato,
o
trabalhador
tem
de
aderir
a
ela,
tacita
ou
expressamente
(104º,
nº1).
Presume-‐se
aliás
a
sua
adesão
se,
no
prazo
de
21
dias,
ele
não
se
opuser
por
escrito.
Para
o
trabalhador,
isto
representa
uma
espécie
de
contrato
de
adesão,
uma
vez
que
ele
não
tem
liberdade
de
estipulação,
apenas
de
celebração
(contrato
sem
forma
especial
e
principio
do
consensualismo).
Na
prática,
integram-‐se
aqui
as
disposições
do
RI
sobre
retribuição
e
outras
prestações
remuneratórios,
deveres
do
trabalhador
em
relação
à
prestação
do
trabalho,
carreira,
etc.
Todas
matérias
do
âmbito
do
contrato
de
trabalho,
que
dependem
da
autonomia
das
partes,
da
liberdade
individual
de
contratar
e
que
estão
no
âmbito
da
negociação
individual.
Vejamos
agora
a
sua
aplicação
ao
caso
concreto.
A
matéria
relativa
ao
período
experimental
deve
ser
analisada
à
luz
do
99º
ou
do
104º
do
CT?
Se
a
norma
legal
que
fixa
o
regime
do
período
experimental
é,
como
vimos,
imperativa
mínima,
determinando
o
seu
afastamento
por
IRCT
ou
contrato
de
trabalho
em
caso
de
tratamento
mais
favorável
ao
trabalhador,
a
matéria
em
causa
pode
ser
objeto
de
negociação
e
então
podemos
analisar
este
RI
à
luz
do
104º.
Nessa
medida,
não
é
fonte
de
direito
laboral,
revelando
antes
a
faceta
negocial
do
RI
e
a
sua
ligação
direta
ao
contrato
de
trabalho
e
indica
a
declaração
de
vontade
negocial
de
uma
das
partes
no
contrato
de
trabalho,
no
caso,
o
empregador.
Isto
significa,
então,
que
a
empresa
T,
na
verdade,
está
a
fazer
uma
proposta
de
alteração
ao
contrato
de
trabalho
que
celebrou
com
A
a
1/9,
na
parte
relativa
ao
período
experimental
–
propondo-‐lhe,
aliás,
um
tratamento
mais
favorável.
A
aceitou
de
imediato.
Bastaria,
porém,
que
nada
dissesse
durante
o
período
de
21
previsto
na
lei
para
que
aderisse
ao
determinado
pelo
RI.
Presume-‐se,
nada
dizendo
o
caso,
que
o
processo
de
formação
deste
RI
cumpriu
os
preceitos
legais.
O
período
experimental
de
A
passa
assim
a
ser
de
150
dias
–
é
que,
apesar
do
RI
estar
“no
sopé
das
fontes
de
direito
de
trabalho”,
a
norma
que
ele
prevê
passa
a
integrar
supervenientemente
o
contrato
de
trabalho
de
A
e,
pelo
476º,
o
IRCT
não
pode
afastá-‐la.
Em
1/11/2016,
são
publicadas
duas
portarias:
a)
Uma,
definindo
um
período
experimental
mínimo
de
50
dias
para
todos
os
trabalhadores
nacionais;
b)
Outra,
alargando
o
âmbito
de
aplicação
de
uma
convenção
em
vigor
em
Faro
para
os
transportes
ferroviários,
aos
trabalhadores
não
sindicalizados
de
todo
o
território
nacional,
prevendo
um
período
experimental
de
230
dias
para
os
quadros
superiores.
No
quadro
das
fontes
heterónomas
de
direito
de
trabalho,
têm
particular
relevância
as
portarias
de
extensão
(PE),
com
regime
previsto
nos
arts.
514º
a
516º
do
CT.
Têm
a
natureza
de
regulamento
administrativo
e
são
o
instrumento
de
regulação
coletiva
de
trabalho
através
do
qual
o
Governo
determina
o
alargamento
do
âmbito
de
aplicação
de
uma
convenção
coletiva
original
ou
de
uma
deliberação
arbitral
a
empregadores
que
não
a
subscreveram
inicialmente
e
a
trabalhadores
não
filiados
nas
associações
sindicais
outorgantes.
São,
nessa
medida,
um
produto
de
decisão
administrativa,
representando
por
isso
uma
heterorregulação
de
interesses
laborais.
Na
prática,
vêm
preencher
um
vazio
de
regulamentação
coletiva
para
obrigar
quem
não
foi
abrangido
(por
não
filiação)
e
quem
não
outorgou
a
convenção
em
vigor
no
sector
ou
na
área
de
atividade
a
que
a
portaria
de
extensão
se
vai
aplicar
–
porque
o
principio
da
filiação,
496º,
implica
que
as
convenções
coletivas
só
se
aplicam
aos
outorgantes
e
respetivos
membros.
Resultam,
pois,
numa
uniformização
do
regime
aplicado
aos
trabalhadores
daquele
sector
ou
área
profissional,
são,
afinal,
um
modo
de
dar
eficácia
geral
às
convenções
coletivas.
A
PE
é
um
ato
normativo
em
sentido
formal,
emanado
de
um
órgão
com
competência
e
autoridade
para
tal
e
cujas
regras
são
dotadas
de
generalidade
e
abstração.
Do
ponto
de
vista
formal,
a
PE
é
o
que
o
próprio
nome
indica:
uma
portaria
de
membro
do
Governo.
Do
ponto
de
vista
substancial,
tem
a
particularidade
de
aproveitar
um
regime
convencional
privado
para
o
dotar
de
força
normativa
geral,
de
modo
a
que
possa
ser
aplicado
a
outros
sujeitos:
a
autoridade
administrativa
utiliza
a
sua
competência
normativa
não
da
forma
tradicional,
regulando
diretamente
as
situações
jurídicas,
mas
alterando
a
fisionomia
de
uma
regulamentação
autónoma,
para
cumprir
os
seus
desígnios.
A
legislação
em
vigor,
porém,
impõe
requisitos
à
emissão
destas
PE
(Resolução
do
Conselho
de
Ministros
90/2012,
alterada
pela
Res.
CM
43/20149
–
um
meio,
no
entender
da
Prof
M.R.
Palma
Carvalho,
de
evitar
o
risco
de
se
generalizarem
e,
nesse
passo,
porem
em
causa
o
associativismo
sindical
e
patronal
e
a
própria
regulamentação
coletiva
convencional.
Assim,
para
poderem
ser
validamente
emitidas
e
aplicadas,
os
empregadores
e
os
trabalhadores
têm
de
estar
integrados
no
mesmo
sector
de
atividade
profissional
ao
qual
é
aplicável
a
convenção
que
subjaz
à
PE;
a
sua
emissão
está
dependente
da
verificação
de
circunstâncias
económicas
e
sociais
que
a
justifiquem;
a
extensão
tem
de
ser
requerida
por,
pelo
menos,
uma
associação
sindical
e
uma
associação
de
empregadores
outorgantes
da
convenção
a
estender;
e,
finalmente,
a
convenção
a
estender
deve
preencher,
ab
initio,
requisitos
de
representatividade
que
são
aferidos
pela
percentagem
de
trabalhadores
inicialmente
abrangidos
no
seio
do
sector
de
atividade,
geográfico
ou
empresarial
em
que
se
pretende
a
extensão
(regra
geral,
pelo
menos
50%
desses
trabalhadores;
já
se
forem
micro
empresas
ou
PME,
no
mínimo
30%).
Qualquer
pessoa
singular
ou
coletiva
que
seja
direta
ou
indiretamente
afetada
pela
PE
pode
opor-‐
se,
por
escrito,
nos
15
dias
seguintes
à
sua
publicação.
Já
as
portarias
das
condições
de
trabalho
(PCT)
são
o
IRCT
administrativo
por
excelência.
São
emitidas
pelo
Governo
e
estabelecem
a
regulamentação
coletiva
para
um
determinado
sector
de
atividade
ou
profissional
no
qual
não
haja
regulamentação
coletiva
convencional
–
isto
apenas
quando
não
seja
viável
o
recurso
à
portaria
de
extensão
e
não
exista
associação
sindical
de
trabalhadores
ou
de
empregadores
(arts
2º,
nº
4
e
517º
e
518º)
na
área
de
atividade
ou
no
sector
profissional
a
que
se
pretende
aplicar
a
PCT.
Também
implica
requisitos
rígidos
para
a
sua
emissão,
previstos
no
nº1
e
2
do
art.
517º:
quando
as
circunstâncias
económicas
e
sociais
o
justifiquem,
quando
não
exista
associação
sindical
ou
de
empregadores,
quando
não
seja
possível
a
portaria
de
extensão
e
quando
não
exista
IRCT
negocial.
Ambos
os
instrumentos
são
fontes
heterónomas
de
direito
do
trabalho,
ou
seja,
são
um
modo
de
produção
de
normas
laborais
que
têm
origem
em
atos
administrativos,
de
heterorregulamentação,
sendo
por
isso
não
convencionais.
A
lei
exige
a
respetiva
publicação
no
Diário
da
República,
para
que
possam
produzir
efeitos
(519º).
Voltando
ao
caso
concreto,
há
a
dizer
que:
1) Quanto
à
primeira
portaria,
estamos
perante
uma
portaria
de
condições
de
trabalho
–
por
exclusão
de
partes.
Uma
vez
que
a
portaria
de
extensão
manda
aplicar
uma
convenção
coletiva
de
trabalho
e
nesta
não
se
faz
qualquer
referência
a
IRCT
negocial,
temos
de
considerar
estar
perante
uma
PCT,
regulada
pelos
artigos
517º
e
518º
do
CT.
Na
relação
entre
fontes
de
direito
laboral,
determina
o
art.
3º,
nº2
que
as
normas
legais
laborais
não
podem
nunca
ser
afastadas
por
PCT.
Por
outro
lado,
no
confronto
com
IRCT
negociais,
e
em
função
da
regra
da
subsidiariedade
nas
relações
entre
IRCT,
prevalecem
os
instrumentos
de
autorregulação
sobre
os
de
heterorregulação.
Faz
sentido,
no
quadro
da
relação
entre
fontes
de
direito,
que
a
PCT,
sendo
mero
regulamento
administrativo,
não
possa
afastar
a
lei
(112º
CRP).
Mesmo
considerando
o
principio
do
tratamento
mais
favorável
para
o
trabalhador
da
norma
imperativa
mínima
revelada
pelo
art.
112º,
nº5
do
Código
do
Trabalho,
a
possibilidade
de
se
afastar
a
lei
é
permitida
apenas
na
medida
em
que
prevaleça
o
tratamento
mais
favorável
em
IRCT
ou
contrato
de
trabalho
–
ou
seja,
instrumentos
de
negociação
coletiva
e
individual,
expressão
da
autonomia
coletiva
e
individual,
sendo
a
primeira
um
dos
princípios
gerais
do
sistema
jurídico
laboral.
A
questão,
aqui,
porém,
é
que
esta
PCT
determina
um
período
experimental
mínimo
de
50
dias
para
todos
os
trabalhadores.
Pelo
que
a
sua
abrangência
é
ampla
e,
na
verdade,
não
interfere
com
qualquer
outro
instrumento
de
regulamentação
coletiva
que
regule
a
matéria
de
outro
modo.
Se
fixasse
os
50
dias,
sem
mais,
seria
inconstitucional
e
ilegal,
por
violação
do
art.
112º
da
CRP
e
dos
arts.
3º,
nº2
e
112º,
nº5
do
CT.
A.
continua
com
o
período
experimental
de
150
dias.
2) Quanto
à
segunda
Portaria
referida
no
caso,
estamos
perante
uma
Portaria
de
Extensão
que
manda
aplicar
uma
convenção
coletiva
vertical,
por
se
referir
a
um
sector
de
atividade
(todos
os
trabalhadores
dos
transportes
ferroviários),
de
âmbito
regional
(em
vigor
em
Faro).
Pretende
o
Governo,
com
a
PE,
estender
a
aplicação
desta
convenção
a
todos
os
trabalhadores
não
filiados
a
nível
nacional
–
supondo-‐se
que
se
refere
a
todos
os
trabalhadores
dos
transportes
ferroviários
não
filiados
a
nível
nacional.
Não
pertencendo
a
empresa
T.
ao
sector
de
atividade
referido
e
já
existindo
convenção
coletiva
outorgada
pela
empresa
T
e
o
sindicato
em
que
está
filiado
A.,
não
haveria
lugar
a
aplicação
da
Portaria
de
Extensão
ao
nosso
caso.
Ainda
assim,
poderíamos
dizer
que,
no
confronto
entre
IRCT
negocial
(o
ACT
em
vigor
na
empresa
T)
e
IRCT
não
negocial
(a
PE
emitida
pelo
Governo,
mandando
estender
convenção
coletiva),
e
de
acordo
com
o
art.
484º,
prevaleceria
sempre
o
instrumento
negocial
–
manter-‐se-‐ia
por
isso
em
vigor,
se
fosso
o
caso,
o
ACT
outorgado
pelo
sindicato
em
que
está
filiado
A.
e
a
empresa
T.
Considerando
ainda
que,
por
regulamento
interno
que
integrou
o
contrato
de
trabalhado
de
A,
o
período
experimental
de
150
dias
continua
a
ser
o
mais
favorável,
não
há
alterações
a
registar
nesta
matéria,
com
a
emissão
da
referida
portaria.
António
continua
com
o
período
experimental
de
150
dias.
Em
10/11/2016,
a
Associação
das
Empresas
de
Transportes
de
Portugal
(na
qual
era
filiada
a
TÁXUBER),
celebra
acordo
com
a
FSTT,
tendo
sido
previsto
um
período
experimental
de
180
dias
para
os
diretores
em
áreas
jurídicas.
Trata-‐se,
agora,
de
um
contrato
coletivo
de
trabalho
(2º,
nº3,
alínea
a)),
enquanto
convenção
celebrada
por
associação
sindical
e
associação
de
empregadores.
É
uma
fonte
interna
específica
autónoma
e
geral
de
normas
laborais,
é
um
IRCT
negocial
e
vertical,
que
regula
sobre
matéria
já
prevista
no
ACT
em
vigor
para
a
empresa
T
e
para
os
trabalhadores
que,
nela,
são
filiados
no
sindicato
STTP,
o
qual
pertence
à
FSTT.
O
critério
geral
de
aplicação
de
um
IRCT
é
a
filiação
do
trabalhador
e
o
facto
de
cada
trabalhador
apenas
poder
estar
filiado
numa
das
associações
sindicais
que
represente
a
sua
área
de
atividades
(444º,
nº5).
E
este
critério
resolve,
quase
sempre,
o
problema
de
qual
o
IRCT
a
aplicar
quando
vários
instrumentos
lhe
sejam
potencialmente
aplicáveis.
Além
disso,
a
maioria
das
situações
habitualmente
identificadas
como
concorrência
de
IRCT
corresponde
a
situações
de
concurso
aparente
–
afinal,
a
lei
fornece
os
critérios
de
articulação
entre
instrumentos
de
regulamentação
coletiva,
prevenindo
assim
os
conflitos
quanto
ao
regime
laboral
a
aplicar
(art.
482º,
nº1).
Neste
caso,
e
seguindo
o
critério
da
lei
que
dá
prevalência
ao
IRCT
negocial
mais
especifico
sobre
o
mais
geral,
teremos
sempre
de
concluir
que
prevalece
o
ACT
sobre
o
CCT
(art.
482º,
nº1,
b)).
Por
outro
lado,
já
concluíramos
antes,
que,
havendo
conflito
entre
convenção
coletiva
e
contrato
de
trabalho,
o
476º
manda
afastar
as
disposições
dos
instrumentos
de
regulamentação
coletiva
se
o
contrato
de
trabalho
for
mais
favorável.
É
o
caso.
Nem
o
CCT
agora
outorgado,
nem
o
ACT
já
em
vigor
se
aplicam,
na
matéria
do
período
experimental,
a
A.
O
seu
período
experimental
mantém-‐se
nos
150
dias,
devendo
terminar
a
1
de
fevereiro
de
2017,
caso
A.
tenha
efetivamente
começado
a
trabalhado
a
1
de
setembro
de
2016.
Isto
porque
a
contagem
do
período
experimental,
segundo
o
art.
113º,
nº1
do
CT,
inicia-‐se
a
partir
da
execução
da
prestação
do
trabalhador.
GRUPO
II
1.
Constança
obrigou-‐se,
perante
o
restaurante
ZZ,
a
entregar,
todos
os
dias,
excepto
segunda-‐feira,
duas
vezes
por
dia,
entre
as
10h
e
as
11h
e
entre
as
18h
e
as
19h,
2
bolos
de
bolacha,
2
pudins
de
ovos,
2
salames
de
chocolate,
20
doses
de
mousse
de
chocolate,
20
doses
de
baba
de
camelo
e
20
doses
de
leite-‐creme.
2.
As
sobremesas
eram
feitas
em
casa
de
Constança,
segundo
a
receita
fornecida
pelo
cozinheiro
chefe
do
restaurante
e
com
os
alimentos
por
este
adquiridos
e
ali
recolhidos
por
Constança
todos
os
dias
pelas
19h.
3.
Constança
comprometeu-‐se
a
adquirir
instrumentos
e
equipamentos
de
cozinha
de
elevada
qualidade,
junto
do
Restaurante,
pagando
em
prestações
mensais.
4.
Sempre
que
existiam
mais
do
que
três
reclamações
diárias
sobre
a
qualidade
de
alguma
sobremesa,
o
Restaurante
descontava
o
valor
de
todas
essas
sobremesas
entregues
por
Constança
nesse
dia.
5.
Como
era
fixo
o
número
das
sobremesas,
o
Restaurante
pagava
a
Constança
1300
Euros
por
mês.
6.
Ao
fim
de
10
meses,
Constança
pede
para
gozar
15
dias
de
férias,
mas
o
Restaurante
avisa-‐a
de
que
não
pode
passar
sem
as
sobremesas,
pelo
que
durante
esse
período
Constança
não
receberá
qualquer
valor,
arriscando-‐se
a
ficar
sem
contrato
após
o
regresso.
Constança
pretende
saber
se
celebrou
um
contrato
de
trabalho
e
quais
são
as
suas
hipóteses
de
ganhar
uma
ação
intentada
contra
o
Restaurante
para
esse
efeito.
Quid
iuris
Temos,
então,
de
começar
por
analisar
a
qualificação
do
negócio
feito
entre
C
e
ZZ,
de
modo
a
conseguirmos
aplicar-‐lhe
o
regime
adequado.
Determina
o
art.
11º
do
CT
que
contrato
de
trabalho
“é
aquele
pelo
qual
uma
pessoa
singular
se
obriga,
mediante
retribuição,
a
prestar
a
sua
atividade
a
outra
ou
outras
pessoas
no
âmbito
de
organização
ou
sob
a
autoridade
desta”.
São
características
essenciais
do
contrato
de
trabalho
o
seu
carácter
negocial
–
é
um
tipo
especifico,
implica
liberdade
contratual
e
quase
sempre
liberdade
de
estipulação
(95º),
é
sinalagmático
e
oneroso.
E,
como
diz
a
Prof.
Maria
do
Rosário
Palma
de
Carvalho,
o
seu
conteúdo
é
complexo,
envolvendo
elementos
objetivos
e
subjetivos,
pessoais
e
patrimoniais
e
ainda
uma
dimensão
organizacional.
Das
noções
legais,
previstas
no
11º
do
CT
e
no
1152º
do
CC,
decorre
que
são
elementos
essenciais
do
contrato
de
trabalho
a
atividade
laboral,
a
retribuição
e
a
subordinação
jurídica
(isto
é,
a
colocação
do
trabalhador,
pessoa
singular,
sob
a
autoridade
e
no
âmbito
da
organização
do
empregador).
Os
dois
primeiros
elementos
correspondem,
segundo
a
construção
dogmática
da
Prof.
Maria
do
Rosário
Palma
Carvalho,
ao
binómio
objetivo
do
contrato
de
trabalho
(porque
relativo
as
prestações
das
partes),
reportando-‐se
por
isso
aos
deveres
de
cada
uma
das
partes
e
confirmando
a
componente
patrimonial
do
contrato,
mas
também
as
suas
componentes
de
pessoalidade
e
organizacional.
O
terceiro
elemento
essencial
corresponde,
ainda
segundo
Maria
do
Rosário
Palma
Carvalho,
ao
binómio
subjetivo
do
contrato
de
trabalho
(subjetivo
porque
relativo
às
posições
jurídicas
dos
sujeitos),
o
qual
põe
em
evidência
a
desigualdade
dessas
posições
no
contrato
–
sendo
a
do
trabalhador
de
dependência
e
subordinação,
além
da
inserção
na
organização
do
empregador;
e
a
do
empregador
de
domínio,
pela
titularidade
dos
poderes
laborais
de
direção
e
de
disciplina
(prescritiva
e
sancionatória).
A
atividade
laboral
(art.
11º
e
128º
do
CT)
corresponde
ao
dever
principal
do
trabalhador,
sendo
uma
prestação
de
facto
positiva,
uma
atividade
continuada
(na
verdade,
uma
obrigação
de
meios)
e
que
se
caracteriza
pela
heterodeterminação
(o
empregador
é
que
define
o
conteúdo
concreto
da
prestação
do
trabalhador).
É
uma
atividade
patrimonial
(deve
ser
retribuída)
que
tem
uma
componente
de
pessoalidade
(o
contrato
de
trabalho
obriga
a
pessoa
singular
a
prestar
a
atividade,
11º),
ou
seja,
é
um
contrato
intuitu
personae;
e
é
uma
atividade
lícita,
determinável
e
não
contrário
à
boa
fé
ou
aos
bons
costumes
(280º
e
281º
CC
e
124º
do
CT).
Implica,
para
o
trabalhador,
um
conjunto
complexo
de
deveres
acessórios
(128º
do
CT),
tanto
integrantes
da
atividade
principal
(por
exemplo,
a
assiduidade
ou
a
pontualidade)
como
autónomos
da
prestação
principal
(lealdade,
sigilo,
não
concorrência,
etc).
O
que
releva,
como
elemento
identificador
da
figura,
é
que
é
a
atividade
em
si,
não
os
resultados
que
ela
produz,
que
mais
interessam
ao
empregador
(não
que
esses
resultados
não
tenham
importância,
naturalmente,
e
não
sejam
cada
vez
mais
relevantes
nos
modelos
de
trabalho
modernos;
que
o
próprio
no
regime
laboral
em
vigor
já
integra
nos
institutos
dos
prémios
de
produtividade,
de
retribuição
associada
aos
resultados,
etc).
É
também
elemento
identificador
do
conceito
a
regra
geral
de
que
o
risco
da
não
obtenção
de
resultados
corre
por
conta
do
empregador,
não
do
trabalhador
Já
a
retribuição
(num
sentido
estrito,
envolvendo
a
remuneração
como
contrapartida
pela
atividade
prestada
e,
em
sentido
amplo,
envolvendo
também
os
restantes
deveres
patrimoniais
do
empregador
a
ela
associados,
como
contribuições
para
a
segurança
social,
férias,
subsídios
de
natal
e
férias,
trabalho
suplementar,
etc)
corresponde
ao
dever
principal
do
empregador.
É
uma
prestação
de
dare,
de
conteúdo
patrimonial
(pelo
menos
em
parte,
pecuniário)
e
periódica,
que
corresponde
a
um
direito
do
trabalhador
(258º
e
259º
do
CT).
Ao
dever
principal
do
empregador
estão
associados
também
um
conjunto
complexo
de
deveres
acessórios
gerais
relativos
à
pessoa
do
trabalhador
(respeito
pelos
direitos
fundamentais
e
de
personalidade,
não
tratamento
desigual,
etc),
relativos
à
pessoa
do
trabalhador
mas
com
conteúdo
funcional
ou
profissional
(proporcionar
formação
profissional,
por
exemplo)
e
deveres
especificos
em
matéria
de
higiene,
segurança
e
saúde.
A
subordinação
jurídica
é
o
terceiro
elemento
essencial
do
contrato
de
trabalho
e
evidencia
as
posições
(desiguais)
que
as
duas
partes
ocupam
no
contrato
de
trabalho.
Pelo
lado
do
trabalhador,
este
elemento
identifica
o
caráter
de
pessoalidade
do
contrato
de
trabalho
e
corresponde
a
um
estado
de
dependência
pessoal
do
trabalhador
perante
o
empregador
(dever
de
obediência
às
instruções
resultantes
do
poder
diretivo
deste
e
sujeição
às
regras
disciplinares
e
organizacionais
definidas
pelo
empregador
e
respetivas
sanções
em
caso
de
incumprimento,
resultantes
do
poder
disciplinar
prescritivo
e
sancionatório
de
que
este
é
titular).
Nesta
medida,
a
subordinação
do
trabalhador
envolve
uma
componente
organizacional,
uma
vez
que,
com
a
celebração
do
contrato
de
trabalho,
ele
insere-‐se
numa
organização
alheia,
que
tem
regras
próprias
de
funcionamento
e
condiciona
o
desenvolvimento
do
seu
vínculo
laboral).
Pelo
lado
do
empregador,
este
terceiro
elemento
essencial
do
contrato
de
trabalho
corresponde,
então,
aos
poderes
de
direção
e
disciplina
(97º,
98º
e
11º
do
CT)
–
sendo
o
primeiro
aquele
que
lhe
permite
definir
e
atribuir
uma
função
concreta
ao
trabalhador
contratado
e
adequar
a
prestação
deste
aos
seus
interesses;
e
o
segundo,
na
sua
componente
sancionatória
e
sempre
exercido
diretamente
pelo
empregador,
é
aquele
que
lhe
garante,
verdadeiramente,
a
posição
de
domínio,
na
medida
em
que
lhe
permite
reagir
eficaz
e
rapidamente
ao
incumprimento
do
trabalhador,
assegurando
assim
a
garantia
de
imposição
das
regras
de
comportamento
e
disciplina
no
seio
da
organização,
que
o
empregador
define
enquanto
titular
deste
poder
na
sua
componente
prescritiva.
Refira-‐se
ainda
a
este
propósito
que,
conforme
enuncia
a
Prof.
Maria
do
Rosário
Palma
Carvalho,
a
subordinação
é
jurídica
e
não
económica
(o
trabalhador
pode
não
precisar
do
salário
para
sobreviver
e
ser
subordinado
na
mesma)
e
também
não
é
técnica
(existe
subordinação
mesmo
que
a
atividade
do
trabalhador
seja
altamente
especializada,
como
é
a
do
médico),
pode
ser
meramente
potencial
(o
trabalhador
a
quem
o
empregador
não
dá
ordens
porque
tem
absoluta
confiança
nele,
não
deixa
de
ser
subordinado)
e
pode
ser
mais
ou
menos
intensa
de
acordo
com
as
aptidões
do
trabalhador,
o
cargo
que
ocupa
na
organização
ou
a
confiança
que
o
empregador
deposita
nele.
Tanto
a
doutrina
como
a
jurisprudência
têm
considerado
a
subordinação
jurídica
como
o
elemento
específico
e
típico
do
contrato
de
trabalho,
sendo
por
isso
aquele
que
verdadeiramente
o
distingue
e
o
identifica
no
confronto
com
figuras
afins.
Mas
a
sua
operacionalização,
nesse
contexto,
não
é
fácil,
reconhece
a
Professora.
Para
qualificar
devidamente
os
negócios
jurídicos
laborais,
a
doutrina
e
a
jurisprudência
desenvolveram
um
método
tipológico
que
passa
pela
identificação
de
elementos
susceptíveis
de
pôr
à
vista
este
elemento
essencial
do
contrato
de
trabalho,
ou
seja,
pela
revelação
dos
indícios
da
subordinação
jurídica.
Retomemos,
agora
então,
o
caso
de
C.
Estamos
ou
não
perante
um
contrato
de
trabalho,
nos
termos
do
regime
geral
do
11º?
Diz-‐nos
o
110º,
primeira
parte,
que
o
contrato
de
trabalho
não
obedece
a
forma
especial.
Nessa
parte,
pelo
menos,
poderíamos
dizer
que
o
contrato
de
trabalho
entre
C
e
ZZ
seria
válido.
Mas
apenas
nessa!
A
atividade
prestada
por
C
está
definida:
a
confecção
diária
de
uma
determinada
quantidade
de
doces
a
ZZ
(respeitando
genericamente
os
termos
do
115º/1).
Mas
a
compensação
económica,
1300
euros,
está
longe
de
ter
as
característica
do
conceito
de
retribuição
previsto
nos
258º
a
280º
do
CT.
Faltando
um
elemento
essencial,
poderíamos
desde
já
considerar
o
negócio
entre
C
e
ZZ
um
contrato
de
prestação
de
serviços,
previsto
nos
1152º
a
1156º
do
CC.
Mas
impõe-‐se
avaliar
a
existência
do
terceiro
elemento,
da
subordinação
jurídica,
para,
ainda
assim,
considerarmos,
por
exemplo,
a
possibilidade
de
estarmos
perante
uma
situação
presuntiva
de
contrato
de
trabalho
(art.
12º
do
CT).
Nessa
medida,
teremos
de
recorrer
ao
método
tipológico
dos
indícios
da
subordinação
para
apurar
da
correta
qualificação
do
contrato
entre
C
e
ZZ
–
sendo
certo
que,
para
isso
acontecer,
bastará,
no
caso
concreto,
identificar
alguns
dos
indícios
a
que
mais
frequentemente
a
jurisprudência
recorre
e
identificar,
sobretudo,
aqueles
que
sejam
efetivamente
mais
relevantes
para
afirmar
a
existência
de
uma
eventual
subordinação
no
contrato
entre
a
trabalhadora
C
e
o
empregador
ZZ.
Assim,
e
de
acordo
com
os
dados
fornecidos
pelo
caso,
podemos
dizer
que
são
mais
os
indícios
reveladores
da
existência
de
uma
situação
de
trabalho
autónomo
do
que
o
contrário:
1) o
local
de
trabalho
de
C
é
o
seu
domicilio;
não
há
inserção
na
organização
do
empregador;
2) a
remuneração
de
C
foi
calculada
em
função
do
resultado
(é
relativa
a
um
número
fixo
de
sobremesas);
3) a
titularidade
dos
meios
de
produção
e
dos
instrumentos
de
trabalho
é
de
C,
pois
esta
comprou
equipamentos
a
ZZ
para
executar
a
sua
prestação
(ainda
que
pagos
em
prestações);
4) o
risco
da
não
produção
dos
resultados
corre
por
conta
de
C,
uma
vez
que
ZZ
desconta
da
retribuição
que
lhe
paga
o
valor
diário
das
sobremesas
entregues,
sempre
que
haja
três
reclamações
sobre
os
seus
doces
no
mesmo
dia.
No
entanto:
1) o
facto
de
C
fazer
as
sobremesas
seguindo
obrigatoriamente
a
receita
do
chef
do
restaurante
ZZ
e
com
a
matéria-‐prima
que
ali
vai
buscar
regularmente,
e
a
horas
certas,
são
indiciadores
de
algo
mais
do
que
simples
instruções
genéricas.
2) Já
o
volume
de
trabalho
diário
que
C
presta
a
ZZ
é
indiciador
de
dependência
económica
do
trabalhador,
ou
seja,
de
que
presta
a
sua
atividade
em
exclusivo
para
um
credor,
sendo
essa
situação
indiciadora
da
sujeição
aos
poderes
laborais
deste.
Vamos
por
partes.
Antes
de
mais,
excluímos
a
existência
de
situação
presuntiva
de
subordinação
jurídica,
tal
como
previsto
no
art.
12
do
CT.
De
facto,
uma
vez
que
se
presume
a
existência
de
um
contrato
de
trabalho
sempre
que
ocorram
pelo
menos
dois
dos
requisitos
previstos
neste
preceito
e
no
caso
apenas
identificamos
um
(o
previsto
na
alínea
c)
do
nº1
do
12º,
ou
seja,
o
pagamento,
com
determinada
periodicidade,
de
uma
quantia
certa
ao
prestador
de
atividade
como
contrapartida
da
mesma),
então
não
podemos
presumir
que
exista
um
contrato
de
trabalho,
de
facto,
entre
C
e
ZZ.
Nesta
parte,
a
pretensão
de
C
não
tem
acolhimento:
C
não
celebrou
um
contrato
de
trabalho
comum
com
ZZ.
Mas,
em
contrapartida,
podemos
dizer,
claramente,
que
se
está
perante
trabalho
autónomo,
enquadrado
juridicamente
pela
modalidade
de
contrato
de
prestação
de
serviço
(1152º
a
1156º
do
CC)?
Tudo
indica
também
que
não,
sendo
antes
esta
uma
situação
de
parasubordinação
-‐
aquilo
a
que
M.
R.
Palma
Carvalho
chama
de
‘categoria
intermédia
entre
o
trabalho
subordinado
e
o
trabalho
autónomo’.
Fala-‐se
aqui
de
prestação
de
trabalho
formalmente
autónomo
(portanto,
sem
subordinação
jurídica)
mas
em
que
à
autonomia
formal
do
prestador
corresponde
uma
situação
de
dependência
económica
ou
material
do
credor,
justificando,
por
isso,
a
tutela
do
prestador
do
trabalho
em
termos
aproximados
à
tutela
que
o
regime
legal
laboral
atribui
ao
trabalhador
subordinado.
Na
verdade,
o
trabalho
em
parasubordinação
já
não
coloca
o
problema
da
qualificação
do
respetivo
contrato
–
e
nessa
medida,
o
negócio
entre
C
e
ZZ
reconduz-‐se
afinal
a
uma
prestação
de
serviços,
por
falta
de
subordinação
jurídica
–
mas
a
verificação
da
dependência
económica
pode
determinar
que
o
vínculo
negocial
seja
equiparado,
para
efeito
de
tutela
do
trabalhador
e
em
parte,
a
contrato
de
trabalho.
A
lei
fala
por
isso
em
situações
equiparadas,
no
art.
10º
do
CT,
sendo
uma
delas
o
trabalho
no
domicilio,
regulado
em
regime
especial
previsto
na
Lei
nº
101/2009
–
a
que
parece
enquadrar
a
situação
jurídica
laboral
de
C
perante
ZZ.
Senão
vejamos.
Para
começar,
e
conforme
indica
Maria
do
Rosário
Palma
Carvalho,
o
conceito
de
dependência
económica
deve
ser
entendida,
não
no
sentido
da
pura
necessidade
de
sobrevivência
do
trabalhador,
mas
no
sentido
em
que
o
trabalhador,
apesar
de
autónomo,
está
integrado
num
processo
produtivo
alheio,
que
o
envolve
de
modo
exclusivo:
é
o
caso
de
C,
que
trabalha
no
domicilio
com
as
matérias-‐primas
do
credor,
a
quem
vende
em
exclusivo
o
produto
do
trabalho
realizado
com
essas
matérias-‐primas,
e
em
tal
quantidade
diária
que,
ao
que
tudo
indica,
não
lhe
sobrará
tempo
para
outros
trabalhos
(ou
seja,
para
outras
fontes
de
rendimento
por
via
de
outros
contratos
de
prestação
de
serviço).
Já
o
regime
da
lei
101/2009
prevê
os
seguintes
requisitos
para
que
se
esteja
perante
a
figura
ali
definida:
ausência
de
subordinação
jurídica
do
trabalhador,
a
prestação
decorrer
no
domicilio
do
trabalhador,
a
prestação
ser
pessoal
(ou
seja,
não
ser
apoiada
em
organização
própria
do
trabalhador)
e,
naturalmente,
a
existência
de
dependência
económica
do
trabalhador
em
relaçao
ao
credor
da
atividade.
Tudo
requisitos
em
que
podemos
enquadrar
a
prestação
de
C
e
que
lhe
permitem
requerer,
em
ação
intentada
contra
o
restaurante,
o
direito
à
aplicação
do
regime
laboral
em
matéria
de
segurança,
higiene
e
saúde
no
trabalho,
bem
como
o
regime
relativo
a
acidentes
de
trabalho
e
doenças
profissionais
(art.
5º)
ou
do
regime
de
segurança
social
dos
trabalhadores
outrem
(art.
15º),
entre
outros
direitos
previstos
nos
artigos
4º
a
9º
da
referida
Lei.
E
o
direito
a
férias?
É
que,
enquanto
trabalhadora
no
domicilio
enquadrada
pela
lei
101/2009,
C
terá
direito
a
uma
‘equiparação
limitada
ao
regime
laboral’,
como
defende
a
Professora
Palma
Carvalho.
E,
nesta
equiparação
limitada,
não
cabem
precisamente
as
regras
laborais
que
mais
evidenciam
a
subordinação
jurídica,
sendo
algumas
delas
as
que
dizem
respeito
à
inserção
na
empresa,
como
é
o
caso
das
regras
sobre
férias.
Nessa
medida,
a
pretensão
de
C
de
entrar
de
férias
poderia
configurar
incumprimento
do
contrato,
logo
direito
a
resolução
por
parte
de
ZZ,
fundada
precisamente
nesse
incumprimento
(arts.
9º
e
10º
da
referida
Lei).
GRUPO
III
1.
Maria
celebra
contrato
de
trabalho
verbal
com
4
psicólogos
que
partilham
o
espaço
de
um
escritório
com
4
gabinetes
e
dividem
as
despesas,
obrigando-‐se
a
exercer
as
funções
de
secretária
e
recepcionista,
em
troca
de
um
salário
mensal
de
1000
euros,
pago
por
todos.
2.
Quando,
após
1
ano,
um
dos
psicólogos
desiste
do
seu
gabinete,
os
outros
3
resolvem
pagar
menos
250€
a
Maria,
que
reclama
dizendo
que,
então,
decide
ser
apenas
trabalhadora
do
psicólogo
com
mais
sucesso,
mantendo
o
salário
de
1000€.
Quid
iuris
Quanto
à
qualificação
do
contrato
de
M,
podemos
dizer
que
se
trata
de
contrato
de
trabalho
(artº
11º
do
CT),
estando
presentes
os
elementos
essenciais
deste
tipo
de
contrato:
atividade
laboral
(‘funções
de
secretária
e
recepcionista’),
retribuição
(‘salário
mensal
de
1000
euros,
pago
por
todos’)
e
a
subordinação
jurídica
(ou
seja,
uma
posição
de
domínio
dos
vários
credores
da
prestação
de
trabalho
e
a
correlativa
posição
de
sujeição
da
trabalhadora,
na
execução
do
contrato,
dependente
das
ordens,
regras
de
disciplina,
organizacionais
e
de
comportamento
e
orientações
ditadas
pelos
vários
empregadores,
dentro
dos
limites
do
contrato,
das
normas
que
o
regem
e
do
principio
da
boa
fé).
O
contrato
de
trabalho,
em
sentido
estrito,
não
exige
forma
especial
(art.
110,
primeira
parte),
pelo
que
poderia
ser
validamente
celebrado
verbalmente.
M
tem,
então,
um
contrato
de
trabalho
com
quatro
psicólogos
que
partilham
o
mesmo
escritório
e
dividem
as
despesas;
os
princípios
da
boa
fé
(art.
102º
do
CT,
por
exemplo)
e
do
pacta
sunt
servanda
(artº
406º
do
CC)
dizem-‐nos
que
este
é
um
contrato
para
ser
cumprido.
A
questão
que
aqui
se
coloca
é,
porém,
a
de
saber
se
M
se
‘obrigou
a
prestar
trabalho
a
vários
empregadores’
no
quadro
do
art.
101º
do
CT,
ou
seja,
se
estamos
perante
a
figura
especial
do
contrato
de
trabalho
com
uma
pluralidade
de
empregadores,
ou
se,
em
contrapartida,
estamos
perante
uma
mera
cumulação
de
contratos
(artº
405
do
CC),
situação
em
que
a
trabalhadora
estabeleceu
com
cada
um
dos
psicólogos
um
contrato
de
trabalho.
Um
primeiro
elemento
levar-‐nos-‐ia
desde
logo
a
responder
negativamente
ao
primeiro:
o
nº2
do
art.
101º
indica
que
o
contrato
de
trabalho
feito
com
pluralidade
de
empregadores
está
sujeito
a
forma
escrita
e
o
contrato
feito
com
M
foi
verbal.
Por
outro
lado,
o
art.
101º,
no
seu
nº1,
primeira
parte,
parece
enquadrar
apenas
vínculos
laborais
que
se
desenvolvam
no
contexto
de
grupos
empresariais,
com
empregadores
em
relação
societária,
o
que
também
não
seria
o
caso,
uma
vez
que
os
4
psicólogos
apenas
‘partilham
o
espaço
de
um
escritório
com
4
gabinetes
e
dividem
as
despesas’;
esta
relação
não
integra,
formalmente,
nenhuma
das
formas
típicas
previstas
no
art.
482º
do
Código
das
Sociedades
Comerciais.
Ora,
a
prof.
Maria
do
Rosário
Palma
Carvalho
considera
que
“a
área
de
incidência
desta
figura
é
ampla”
pois
podem
estar
aqui
incluídas
“relações
de
colaboração
material,
de
âmbito
societário
ou
não,
desde
que
estas
relações
deem
lugar
a
‘estruturas
organizativas
comuns’”;
ou
seja,
e
ainda
que
para
a
Professora
a
amplitude
deste
preceito
seja
excessiva,
a
verdade
é
que
cabem
nele
situações
que
podem
limitar-‐se
a
ser,
pelo
lado
do
empregador,
um
somatório
de
entidades
que
partilhem
a
posição
jurídica
de
credor
da
prestação
laboral,
o
mesmo
espaço,
o
mesmo
equipamento
ou
os
mesmos
recursos;
aliás,
e
segundo
Maria
do
Rosário
Palma
Carvalho,
o
nº2
do
art.
101º
do
CT,
assim
como
a
própria
definição
de
contrato
de
trabalho
do
art.
11º,
depõem
“a
favor
da
possibilidade
da
extensão
deste
regime
fora
do
âmbito
empresarial”.
Ainda
assim,
acrescenta
a
Professora,
“a
ratio
iminentemente
empresarial
da
figura
poderá
justificar
uma
interpretação
restritiva
do
preceito”;
além
de
que
os
diferentes
problemas
que
o
caráter
indefinido
da
figura
levanta
-‐
qual
o
IRCT
aplicável,
havendo
vários
em
vigor,
ou
qual
o
regime
de
segurança
social,
havendo
vários
também;
quanto
aos
poderes
laborais,
representando
um
dos
empregadores
os
outros
(alínea
c),
do
nº2
do
art.
101
do
CT),
isso
significa
que
o
trabalhador
só
deve
obediência
a
esse
ou
estende-‐se
às
ordens
emanadas
dos
outros?
E
o
trabalhador
pode
ser
sancionado
disciplinarmente
se
não
acatar
ordem
de
uma
dessas
outras?...
-‐,
dificultam,
na
verdade,
a
sua
aplicação
prática.
No
caso,
não
há,
porém,
como
fugir
dela.
Todos
os
elementos
indicam
que
M
celebrou
efetivamente
um
contrato
de
trabalho
com
uma
pluralidade
de
empregadores
previsto
no
art.
101º
do
CT
–
ou
melhor,
com
empregadores
em
‘estrutura
organizativa
comum’
que
partilha
a
posição
jurídica
de
credor
da
prestação
laboral
(os
4
psicólogos
pagam
uma
retribuição
regular
a
M
para
ela
servir
a
todos
como
secretaria
e
recepcionista),
o
mesmo
espaço
(o
escritório
onde
estão
os
4
gabinetes),
o
mesmo
equipamento
(telefone
do
escritório,
por
exemplo)
e
a
mesma
secretária/recepcionista
–,
ainda
que
em
violação
dos
requisitos
essenciais
desta
modalidade
contratual
laboral
–
como
a
falta
de
forma
escrita
e
dos
elementos
que
devem
constar
deste
contrato
escrito
(art.
101,
nº2)
–,
o
que
constitui
contraordenação
grave
punível
com
coima
e
confere
ao
trabalhador
o
direito
de
optar
pelo
empregador
ao
qual
fica
vinculado
(art.
101º
nºs
5
e
6).
A
responsabilidade
dos
empregadores
é
solidária,
no
cumprimento
das
obrigações
decorrentes
do
contrato
de
trabalho,
pelo
que
cada
empregador
responde
pela
prestação
integral
em
dívida,
embora
tenha
direito
de
regresso
contra
cada
um
dos
restantes
empregadores
na
parte
que
a
estes
compete.
Assim,
e
agora
voltando
às
pretensões
de
M
indicadas
no
ponto
2
do
caso,
pode
dizer-‐se
que,
tendo
direito
à
retribuição
estipulada
ab
initio
de
1000
euros,
a
trabalhadora
pode
demandar
qualquer
dos
três
psicólogos
que
se
mantiveram
como
empregadores
e
exigir-‐lhes
a
totalidade
do
crédito
–
por
força,
necessariamente,
do
principio
da
irredutibilidade
da
remuneração
(art.
129º,
nº1,
e)
do
CT);
e
optar
pelo
empregador
ao
qual
ficará
vinculada
(art.
101º,
nº5
do
CT).
São
pois
legitimas
quaisquer
das
pretensões
de
M,
enunciadas
no
ponto
2.
De
referir,
finalmente,
que,
de
acordo
com
alguma
jurisprudência,
não
tendo
o
contrato
de
trabalho
com
pluralidade
de
empregadores
sido
celebrado
por
escrito,
competiria
a
M,
caso
o
litígio
chegasse
a
tribunal,
provar
a
existência
de
uma
relação
de
subordinação
jurídica
com
os
diferentes
empregadores
(acórdão
STJ
nº
163/09.0
de
29/2/2012
e
acórdão
TRL
nº
314/11.4
de
19.6.2013).
GRUPO
IV
Comente,
com
referência
à
posição
da
Regência:
A.
Os
acordos
outorgados
entre
uma
empresa
e
uma
comissão
de
trabalhadores
não
são
convenções
coletivas,
mas
também
não
são
simples
contratos
válidos.
Antes
de
mais,
deve
dizer-‐se
que
as
comissões
de
trabalhadores
são
o
ente
representativo
dos
trabalhadores
com
vocação
especifica
para
atuar
ao
nível
da
empresa,
aí
prosseguindo
os
interesses
dos
trabalhadores,
nomeadamente
através
do
controlo
da
gestão
(415º
ss).
Têm
tutela
constitucional,
considerando-‐se
como
direito
fundamental
de
todos
os
trabalhadores
a
sua
representatividade
a
este
nível
(incluindo
o
universo
dos
trabalhadores
públicos,
art.
269º,
nº1
CRP).
Apesar
de
tanto
a
CRP
como
a
lei
estabelecerem
este
direito
dos
trabalhadores
a
constituírem
comissões
de
trabalhadores,
nem
uma
nem
a
outra
as
definem.
Do
seu
regime
jurídico,
porém,
podemos
retirar
as
seguintes
características:
são
pessoas
coletivas
em
sentido
próprio,
uma
vez
que
a
lei
lhes
atribui
personalidade
jurídica
a
partir
do
registo
dos
seus
estatutos
no
Ministério
responsável
pela
área
laboral
em
que
estão
inseridas
(art.
416º,
nº1);
enquanto
pessoas
coletivas,
as
comissões
de
trabalhadores
são
um
ente
de
direito
privado
porque
são
constituídas
por
sujeitos
privados
(os
trabalhadores)
para
prossecução
dos
seus
próprios
interesses
e
correspondem
a
uma
associação
em
sentido
estrito,
porque
os
seus
fins
não
são
lucrativos;
são
uma
entidade
de
representação
unitária
dos
trabalhadores
da
empresa,
uma
vez
que
a
lei
prevê
a
constituição
apenas
de
uma
comissão
por
empresa
(art.
415º,
nº1);
têm
como
fim
a
defesa
dos
interesses
dos
trabalhadores,
designadamente,
o
exercício
dos
direitos
conferidos
pela
CRP
(art.
415º,
nº1,
parte
final),
mas
têm
uma
vocação
específica
para
atuar
no
seio
da
empresa,
aí
exercendo
os
seus
direitos
e
representando
o
conjunto
dos
trabalhadores.
Com
exceção
do
direito
de
participação
na
elaboração
da
legislação
do
trabalho
(art.
54º,
nº5,
alínea
d)
da
CRP
e
art.
470º
do
CT),
os
direitos
das
comissões
de
trabalhadores
pressupõem
a
empresa
como
palco
normal
para
o
seu
exercício:
têm
portanto
direito
de
informação
e
consulta,
direito
ao
controlo
de
gestão,
direito
de
participação
nos
processos
de
reestruturação
da
empresa,
direito
de
participação
na
gestão
de
obras
sociais
da
empresa
(art.
54º,
nº
5
da
CRP
e
arts
423º
ss,
426º
ss,
429º
ss).
A
lei
confere-‐lhes
ainda
direitos
de
intervenção
em
matérias
relacionadas
com
as
situações
juslaborais
individuais
(por
exemplo,
intervêm
nos
processos
de
despedimento).
A
capacidade
jurídica
destas
comissões
abrange
todos
os
direitos
e
obrigações
necessárias
ou
convenientes
à
prossecução
dos
seus
fins
(art.
416º,
nº2
do
CT).
As
comissões
de
trabalhadores
têm
personalidade
jurídica.
Finalmente,
embora
as
comissões
de
trabalhadores
correspondam
a
uma
entidade
coletiva
de
representação
unitária
dos
trabalhadores
no
seio
da
empresa,
o
Código
do
Trabalho
prevê
a
possibilidade
de
serem
constituídas
sob
diversas
modalidades
de
acordo
com
a
tipologia
das
empresas
em
que
se
inserem:
comissões
de
trabalhadores
(art.
415º,
nº1),
subcomissões
de
trabalhadores
(art.
415º,
nº2
–
no
estabelecimento
de
empresa
com
vários
estabelecimentos)
e
comissões
coordenadores
de
trabalhadores
(articulação
de
comissões
de
trabalhadores
no
âmbito
de
empresas
em
grupo,
art.
415º,
nº4).
As
tendências
mais
recentes
na
evolução
das
comissões
de
trabalhadores
manifestam-‐se
no
modo
como
se
relacionam
com
os
órgãos
de
gestão
das
empresas
e
na
sua
articulação
com
outros
entes
representativos
dos
trabalhadores.
Por
um
lado,
tende-‐se
a
limitar
o
papel
das
comissões
de
trabalhadores
no
que
toca
às
formas
de
controlo
da
gestão,
em
nome
dos
princípios
da
autonomia
provada
e
da
livre
iniciativa.
No
entanto,
nota-‐se
também,
e
cada
vez
mais,
uma
certa
sobreposição
entre
as
associações
sindicais
e
comissões
de
trabalhadores,
no
sentido
em
que
ambas
as
entidades
representam
os
interesses
dos
trabalhadores
e
ambas
atuam
(porque
as
associações
sindicais
também
o
podem
fazer)
no
âmbito
da
empresa,
com
a
verificação
de
uma
importância
crescente
a
ser
dada
às
comissões
de
trabalhadores.
É
claro
que
a
diferença
essencial
está
na
vocação
típica
de
cada
uma
delas,
relativamente
ao
nexo
de
representação
que
estabelecem
com
os
trabalhadores
e
nas
atribuições
especificas
de
cada
uma:
a
comissão
de
trabalhadores
é
interna
à
empresa,
a
associação
sindical
tem
vocação
profissional
ou
é
relativa
a
determinado
sector
de
atividade;
a
comissão
de
trabalhadores
representa
todos
os
trabalhadores
da
empresa,
a
associação
sindical
representa
apenas
os
trabalhadores
filiados.
E
ambas
têm
direitos
exclusivos:
o
direito
de
negociação
coletiva
e
de
contratação
coletiva
é
exclusivo
das
associações
sindicais
por
imperativo
constitucional
(art.
56º,
nº2
da
CRP),
enquanto
os
direitos
de
controlo
da
gestão
da
empresa
são
exclusivo
das
comissões
de
trabalhadores,
também
por
força
da
CRP
(art.
54º,
nº5,
alínea
b)).
No
entanto,
sobretudo
em
resultado
de
alguma
atenuação
da
tradicional
cultura
conflitual
dos
entes
laborais
coletivos,
têm-‐se
desenvolvido
novas
formas
de
colaboração
das
comissões
de
trabalhadores
com
os
órgãos
de
gestão,
não
apenas
nas
suas
áreas
tradicionais
de
intervenção
mas
também
em
domínios
típicos
de
intervenção
das
associações
sindicais.
A
Prof
Maria
do
Rosário
Palma
Carvalho
chama
a
este
novo
fenómeno
“negociação
coletiva
atípica
dos
acordos
coletivos
atípicos,
fenómeno
com
uma
dimensão
crescente
e
que
é,
quase
sempre,
protagonizado
pelas
comissões
de
trabalhadores”.
O
estudo
do
caso
da
AutoEuropa
-‐
que
tem
celebrado
acordos
coletivos
atípicos
com
a
comissão
de
trabalhadores
desde
há
anos
e
com
grande
sucesso
–
serviu
de
exemplo
à
Professora
para
analisar
este
fenómeno
e
consolidar
a
ideia
de
que,
apesar
das
comissões
de
trabalhadores
não
poderem
celebrar
convenções
coletivas,
a
verdade
é
que
a
realidade
tem
vindo
a
demonstrar
que
o
seu
papel,
no
contexto
da
negociação
coletiva
no
seio
da
empresa,
deve
ser
dignificado
e
alargado.
Os
acordos
atípicos
firmados
na
Autoeuropa
configuram,
na
verdade,
verdadeiras
convenções
coletivas
–
denominam-‐se,
aliás,
acordos
de
empresa
–,
constituindo-‐se
materialmente
como
IRCT
convencionais
e,
nessa
medida,
quase
poderíamos
dizer,
fontes
específicas
autónomas
de
normas
laborais.
A
lei,
porém,
não
permite
que
se
vá
tão
longe,
uma
vez
que
ela
não
confere
às
comissões
de
trabalhadores
o
direito
a
outorgar
acordos
de
empresa
(previstos
no
art.
2º,
nº3,
alínea
c)).
Por
outro
lado,
não
se
pode
dizer
também
estes
acordos
atípicos
são
meros
contratos,
uma
vez
que
aqui,
tal
como
acontece
quando
são
outorgantes
as
associações
sindicais,
a
autonomia
coletiva
que
nelas
se
exerce
não
corresponde
a
uma
forma
simples
de
autonomia
privada
-‐
ou
à
mera
soma
das
autonomias
negociais
manifestadas
nos
contratos
de
trabalho.
A
sua
qualificação
jurídica
é,
por
isso,
difícil.
Daí,
defende
a
Prof.
M.R.
Palma
Carvalho,
embora
o
Código
do
Trabalho
tenha
volta
a
dignificar
esta
figura,
mantendo-‐a
ainda
assim
com
um
papel
bastante
secundário,
“a
matéria
mereceria
uma
nova
e
descomplexada
reflexão”.
B.
O
poder
disciplinar
não
visa
apenas
complementar
o
poder
de
direção.
O
empregador
é
um
sujeito
juslaboral
individual,
constituindo-‐se
como
o
credor
da
prestação
de
trabalho
e
o
devedor
da
retribuição
que
lhe
corresponda.
É
o
ente
laboral
que,
nos
termos
do
art.
11º
do
CT,
detém
a
organização
no
seio
da
qual
o
trabalhador
se
insere
e
sobre
ele
exerce
poder
de
autoridade,
o
qual
integra
os
poderes
de
direção
e
de
disciplina.
É
pois
titular
dos
poderes
laborais
de
direção
e
disciplina.
Distingue-‐se
de
outros
credores
de
prestações
laborativas,
precisamente
por
ser
detentor
destes
poderes.
O
poder
de
direção
(art.
97º
do
CT)
é
o
poder
através
do
qual
o
empregador
atribui
uma
função
concreta
ao
trabalhador
no
âmbito
da
atividade
para
a
qual
este
foi
contratado
e
adequa
a
prestação
deste
aos
seus
próprios
interesses,
ao
longo
da
execução
do
contrato.
Este
poder
de
direção
diz
respeita
ao
modo
de
prestação
de
trabalho
e
reconduz-‐se
a
um
poder
de
escolha
ou
de
especificação.
Na
generalidade
dos
casos
pertence
ao
empregador.
Mas
há
exceções,
como
acontece
nos
contratos
de
trabalho
temporário
(em
que
o
poder
de
direção
não
está
no
empregador
mas
na
empresa
onde
a
prestação
é
executada)
ou
nos
casos
de
cedência
ocasional
do
trabalhador,
entre
outros.
Pode
ainda
ser
delegado
nos
superiores
hierárquicos
do
trabalhador
(art.
128º,
nº2)
ou
nem
sequer
ser
exercido,
se
se
trata
de
trabalhador
em
quem
o
empregador
confie
plenamente
ou
que
exerça
atividade
de
elevada
especialidade
técnica.
Concretiza-‐se
através
de
ordens
ou
instruções
concretas
para
cada
trabalhador
(art.
128º,
nº2)
ou,
genericamente,
através
da
emissão
de
diretrizes
genéricas
para
todos
os
trabalhadores
ou
de
Regulamentos
Internos
(art
99º).
Trata-‐se
de
um
poder
bastante
amplo,
que
se
encontra
limitado
pela
própria
prestação
de
trabalho
e
pelos
direitos
e
garantias
do
trabalhador.
Já
o
poder
disciplinar
(art.
98º
do
CT)
tem
um
duplo
conteúdo:
um
conteúdo
ordenatório
ou
prescritivo
(estabelecimento
de
regras
de
comportamento
e
disciplina
no
seio
da
organização
que
não
possam
ser
imputadas
ao
poder
diretivo)
e
um
conteúdo
sancionatório
ou
punitivo
(as
sanções
disciplinares
ao
trabalhador
em
caso
de
incumprimento
do
seu
dever
principal
ou
dos
seus
deveres
acessórios,
legais
ou
convencionais).
Trata-‐se
de
um
poder
que
pertence
sempre
ao
empregador,
mesmo
quando
haja
desdobramento
dos
poderes
laborais
por
diversas
entidades,
sendo
pois
exercido
diretamente
por
ele
ou
pelos
superiores
hierárquicos
do
trabalhador,
por
delegação
(art.
329º,
nº4).
E
tem
como
limite
os
direitos
e
garantias
do
trabalhador
(art.
129º
e
331º,
nº1,
alínea
d)).
Tradicionalmente,
a
tendência
da
doutrina
e
da
jurisprudência
era
para
salientar
o
indício
da
sujeição
a
ordens
diretas
do
empregador,
quanto
ao
modo
de
desenvolvimento
da
atividade
laboral,
e
da
sujeição
a
um
controlo
efetivo
da
prestação.
E
nessa
medida,
o
poder
de
direção
era
o
verdadeiro
contraponto
da
subordinação
do
trabalhador,
no
âmbito
do
contrato
de
trabalho.
No
entanto,
diz
a
Prof.
Maria
do
Rosário
Palma
Carvalho,
essa
saliência
correspondia,
na
verdade,
a
uma
visão
excessivamente
estreita
da
própria
subordinação
jurídica.
Sabendo
que
um
dos
elementos
essenciais
do
contrato
de
trabalhado
é
precisamente
este
da
subordinação
jurídica
–
o
elemento
que
revela
o
binómio
subjetivo
subordinação
do
trabalhador/domínio
do
empregador
e
as
posições
desiguais
das
partes
no
contrato
de
trabalho
-‐,
defende
a
Prof.
que,
contribuindo
os
dois
poderes
para
essa
posição
de
domínio
do
empregador,
é
o
poder
disciplinar
que
é
essencial
para
a
garantir.
Ou
seja,
só
o
facto
de
o
poder
diretivo
do
empregador
ser
assistido
pelo
poder
disciplinar
(e
a
Prof.
realça
aqui,
em
especial,
o
poder
disciplinar
sancionatório
como
meio
célere
eficaz
de
reação
ao
incumprimento
do
trabalhador)
é
que
torna
verdadeiramente
distintivo
e
singular
o
contrato
de
trabalho.
A
função
deste
poder
disciplinar
não
é,
então,
apenas
a
de
conformar
a
posição
de
domínio
do
empregador.
É,
afinal,
dar-‐lhe
corpo,
dando,
por
essa
via,
ao
contrato
de
trabalho
a
sua
característica
singular,
aquilo
que
faz
dele
um
contrato
único,
que
não
tem
paralelo
no
direito
privado.
Aliás,
o
poder
disciplinar
laboral
tem
uma
aptidão
qualificativa
do
contrato
por
si
próprio
(até
desligado
do
poder
diretivo),
relativamente
a
duas
situações:
quanto
o
poder
diretivo
é
atribuído
a
terceiro
e
nas
situações
em
que
o
empregador
está
ausente,
porque
confia
no
trabalhador
ou
por
via
da
autonomia
técnica
deste,
por
exemplo.
Em
ambas
as
situações,
o
elemento
decisivo
para
qualificar
o
negócio
com
contrato
de
trabalho
será
o
grau
de
sujeição
do
trabalhador
no
seio
da
organização
empresarial
e
a
sua
sujeição
a
regras
de
disciplina
da
organização
que
não
se
reportem
à
prestação
(componente
prescritiva)
e
ao
poder
disciplinar
sancionatório.