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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO

DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
CURSO DE FILOSOFIA

Juliana Yoshie Fujii ra 120196

A indústria cultural
Horkheimer e Adorno

Maringá
2022
Juliana Yoshie Fujii
A indústria cultural
Horkheimer e Adorno

Trabalho apresentado como condição parcial


para avaliação da aprendizagem na disciplina
de Ensino de Filosofia III Sociologia e Política.
Prof. Dr.
Robespierre de Oliveira.
A Indústria cultural e a civilização

Segundo sociólogos, devido a certos aspectos ocorre o fenômeno do caos


cultural, proveniente de uma diferenciação técnica, social, e uma extrema
especialização que estão entre algumas das causas deste caos social. Porém a
cultura vigente apresenta os aspectos da semelhança e o da não divergência. Até
mesmo na oposição encontramos uniformidade, há sinergia e unificação nos setores
da sociedade. Notamos até mesmo uma uniformização arquitetônica nos projetos de
urbanização, onde o indivíduo tem a impressão de ser independente.
O indivíduo que pensa ser independente, se encontra submetido a seu
grande adversário, o poder absoluto do capital. Da unidade do macrocosmo e
microcosmo emerge o modelo de cultura dos homens, a falsa identidade do universal
para o particular. A cultura de massas possui o espectro da identidade, e logo
aqueles que a delineiam deixam de se ocultar, como por exemplo temos no cinema e
no rádio que já incorporam identidade de indústria.
Os padrões formados são originários das necessidades dos consumidores,
por isso aceitos sem resistência, fatores como a necessidade retroativa e o círculo de
manipulações implicam na coesão da unidade do sistema. A racionalidade técnica é
o caráter da dominação, e também o caráter compulsivo da sociedade alienada de si
mesma.
Já que a racionalidade técnica é o fundamento da dominação, mencionando o
termo técnica, podemos nos situar em que a técnica da indústria cultural mediante a
padronização e a produção em série, se despojou do significante da lógica da obra
que era o diferencial em relação ao sistema social. O alheio ao controle social já é
recalcado pela consciência individual e evidenciando tal cenário, temos a transição
do telefone ao rádio, onde através do primeiro meio opera o sujeito enquanto do
segundo o ouvinte é passivo, apenas um receptor.
A partir da ideia da qual os poderosos executivos fazem dos consumidores e
suas tabelas, essas ideias e princípios são os que regem as produções, podendo se
equiparar a obscuras intenções subjetivas de diretores gerais, e em um mesmo grau
de interesse participam outros setores, como a indústria petroquímica, elétrica,
siderúrgica. Porém os monopólios culturais se encontram num menor grau de força,
possuindo extrema dependência dos demais setores.
Toda esta estrutura pode ser pensada como uma trama, onde tudo se
encontra estranhamente emaranhado. As distinções categóricas dos filmes, possuem
fins de classificação e conjuntamente organização estatística para consumidores,
onde tudo está previsto de modo a abarcar o que se distingue diluindo-o. O
qualitativo na cadeia de fornecimento ao público visa apenas o quantitativo.
Através de material estatístico, consumidores são distribuídos nos mapas de
institutos de pesquisa que não mais se diferem dos de propaganda em grupos de
rendimentos e suas respectivas zonas. As demandas da indústria cultural nada tem a
ver com com valores objetivos e com o sentido dos produtos, as diferenças na
indústria automobilística e na cinematográfica, são aparentes diferenças nas
gradações, que em realidade nada mais são que ilusões.
Se busca um sincronismo nos meios como o rádio; televisão, cinema e
também na palavra, imagem e música. Os elementos sensíveis já foram produzidos
e uniformizados pela unicidade da técnica. Nota-se que os indivíduos sofrem um
sequestro, uma usurpação na qual o esquematismo de produção tem se
aperfeiçoado.
Tem-se a impressão que o idealismo sonhador projetivo, foi substituído pelo
idealismo crítico, todos provenientes da consciência. Todo o cenário, a alternância de
personagens, os conteúdos dos espetáculos, tudo possui uma orquestração rítmica.
Tudo está demarcado e os ouvidos estão treinados a associar a cadência aos fatos.
O ideal de natural desse mercado alcança sua excelência e imperiosidade, quando
do aperfeiçoamento da técnica a tensão entre obra produzida e vida cotidiana
tornam-se muito sutis.
A indústria cultural se encontra alicerçada na junção das esferas como: efeito,
performance tangível e detalhe técnico. Esta Indústria pôs fim a nuances distintas
como: o efeito harmônico isolado, a cor particular na pintura, a composição pictórica,
a afetação pelo romance, a arquitetura. Ela vence qualquer insubordinação através
da fórmula que substitui a obra. A Ideia abrangente como um mecanismo para
estabelecer a ordem, é um processo ilusório que visa estabelecer a ordem, mas não
traz a conexão dos fragmentos com o todo.
A norma da produção visa que a realidade seja um prolongamento da ficção,
quanto maior for a técnica de reprodução de objetos empíricos maior é a sensação
de que o mundo real é um desdobramento do filme. Propositadamente objetiva-se
que consumidor entre em um estágio de atrofia da imaginação e perda da
espontaneidade, pois assim o quer a indústria que promove seu adestramento. A
presteza exigida para acompanhar um filme sonoro tem como consequência a
parálise de atividades intelectuais do espectador.

Os filmes já não se distanciam da realidade, fazem o espectador a


identificação com o real, causando atrofia da imaginação e espontaneidade do
consumidor, não necessitando mais do recurso de mecanismos psicológicos. Então
os filmes sonoros são pensados nessa medida, forma que possui estrutura e tem
como exigência a presteza e a observação do espectador, em contrapartida
interferindo nas nas atividades intelectuais do espectador, pois ele necessita manter
o sincronismo com a reprodução de modo a não perder os dados.
A interação no filme onde o espectador está absorto em sua exibição, não
precisa analisar a maquinaria pois está imerso nos efeitos e detalhes, sua atenção
está totalmente captada. O homem foi treinado para estar imerso e captar os
mínimos detalhes, estando apto a tão somente absorver. A sociedade cultural já se
instalou no inconsciente dos homens, essa simbiose permite que a indústria absorva
até os mais distraídos. A moldagem do todo pela indústria para a manifestação do
particular através deste todo já é pré estabelecida.
Tudo o que se busca é a não manifestação da individualidade. Quando da
menção da “cultura” é algo contrário à cultura, o denominador comum da “cultura”
contém o levantamento estatístico e a catalogação. A classificação introduz a cultura
no domínio da administração. Na subordinação de setores de “produção espiritual”
possui o fim único de ocupar os sentidos dos homens, o conceito de cultura unitária
que os filósofos da personalidade opunham, a massificação se dá ironicamente da
subsunção anterior. A indústria cultural com o mais inflexível dos estilos revela-se
como meta do liberalismo, seus conceitos e categorias são provenientes da esfera
liberal.
O mercado é extensamente regulado, mas de acordo com a tendência do
liberalismo ainda concede abertura a seus homens mais competentes e capazes. O
sistema da indústria cultural é oriundo dos países industriais liberais, onde triunfam
seus meios mais característicos como: o cinema, o rádio, o jazz e as revistas. A
crença de que a barbárie da indústria cultural provém do atraso da consciência
norte-americana, do desenvolvimento da técnica, é falsa.
No referido contexto a Europa pré-fascista atrasada da tendência do
monopólio cultural, permitia ao espírito, um resquício de autonomia. A Alemanha
distanciada de um controle democrático preservou importantes esferas do artístico.
Porém num cenário de monopólio privado da cultura, a tirania incide na alma do
sujeito, na pressuposição de liberdade a não conformidade resulta em impotência
econômica e consequentemente espiritual do individualista.
A superestrutura da produção capitalista mantém os consumidores
otimizadamente presos no corpo e na alma, assim não oferecendo resistência ao que
lhes é oferecido. Embora haja divisões de elementos culturais e muitos deles sob
aura de irreconciliáveis, todos se reduzem a uma falsa fórmula: a totalidade da
indústria cultural. Suas inovações características são ilusórias, não passam de
aperfeiçoamento de técnica e a isso se prende o consumidor. Não mais pelas
ideologias, pois a indústria cultural é a indústria do entretenimento.
No período anterior à Primeira Guerra Mundial, se pensava em atender as
demandas dos indivíduos sendo o fundamento para a reorganização do cinema e
consequente expansão. A realidade em voga sobre o poderio da indústria cultural, é
que ela fabrica uma necessidade para obter a identificação do consumidor. O
consumidor é capturado por sua busca de diversão decorrente da fuga do processo
do trabalho mecanizado, buscando fôlego para a retomada do trabalho. Este
processo tão somente revela a sequência automatizada de oposições padronizadas.
Eis o princípio da doença incurável de toda a diversão. Não é de interesse da
indústria o pensamento próprio do espectador, os roteiristas se empenham para que
o consumidor não se desprenda da trama, que não se distraia. Notória é a violência
insidiosa nos filmes que transforma-se em violência ao espectador. Porém o
espectador está condicionado a acompanhar com presteza capturando todos os
estímulos. A obscuridade do cinema integra o indivíduo a um refúgio ao qual pode
frequentar por algumas horas sem controle.
A promessa da indústria cultural não cessa, ela incita ao prazer com seus
sedutores artifícios, e assim entrega a promessa de satisfação incumprida levando à
sublimação estética. O apelo permanece na subjetividade, seguido da supressão e
sublimação. O belo se impregna no inconsciente do indivíduo sendo reproduzido
mecanicamente pela indústria. Então o humor busca seu triunfo, dele provém o riso
como uma potência podendo ser temeroso ou aterrorizante.
Notoriamente os espetáculos culturais trazem o elemento da renúncia, algo
permanente imposto pela civilização num mecanismo de oferta e privação
simultâneas que é a proposta do erotismo. A indústria mantém cativo o consumidor
gerando as necessidades e se apresentando como a solução. Não lhe permite a
menor resistência. Ela lhe oferece um escape fugaz do cotidiano e em contrapartida
favorece a resignação que se quer esquecer.
Sobre a diversão para a indústria, em seu próprio sentido se trata da apologia
à sociedade, a diversão significa estar de acordo, sendo a impotência sua própria
base. O que se busca é desacostumar as pessoas de sua subjetividade, mesmo
quando elas se rebelam da indústria, essa rebelião é fruto de um desamparo
produzido pela mesma.
A estultificação deve possuir sincronia com o progresso da inteligência. No
cenário atual as massas não mais se identificam com um milionário na tela. Hoje as
personagens descobertas por caça talentos e lançados ao estrelato são os ideais da
nova classe média dependente. A indústria flerta com a identificação de seu
consumidor, mesmo que numa identificação ingênua prontamente desmentida, nunca
o indivíduo pode perder-se tanto de si mesmo.
Na análise de alguns elementos que permeiam a sociedade, estarrecedores
são o acaso e o planejamento tidos como idênticos, considerando essa via temos a
felicidade e a infelicidade da base ao topo, com perda de significação econômica. Há
o planejamento do acaso presumido nas muitas relações e esferas possui utilidade e
propósito. De acordo com o texto a semelhança perfeita é a diferença absoluta, tal
sentença revela a relação da identidade do gênero e a supressão de casos. Em
suma, o homem foi tomado como ser genérico; um mero exemplar, algo a ser
substituído. Assim percebe-se a si mesmo quando perde a semelhança.
Cada aspecto na indústria é pensado com minúcia para integrar a trama social
de identificação e semelhança, de acaso e sucesso, todos construtos da roda da
economia. Quanto ao acaso ao se apresentar como algo displicente permeando
diversas esferas, ele é planejado com o intuito de parecer imperar, dando-nos a
impressão de espaço para as relações espontâneas e diretas entre os homens. Essa
noção de liberdade, arbitrariamente seleciona casos representando a média.
O controle social é inerente a coisas pensadas como não pensadas, aliado a
ele está a ilusão ideológica onde a situação do indivíduo é precária e as amarras do
controle social buscam o domínio do último impulso privado. Até a bondade é
sagazmente equacionada por chefes de nações precavendo-se da compaixão,
prevenindo seu contágio. A vida retratada como dura e ao mesmo tempo
maravilhosa, nos dá substrato e fundamento ao sofrimento e ao trágico.
O sofrimento não é suprimido na sociedade, mas bem é registrado e
planejado. O trágico produz vivacidade possuindo uma gama de possibilidades a
serem exploradas diversificadamente. O trágico é um expediente que regula certa
insipidez da felicidade e justifica uma inescrupulosidade em relação à verdade, pois
sabe-se que a enfatização da bondade e felicidade neste sistema revela um grande
sofrimento que aflige os indivíduos.

Através da narrativa do autor, a partir dos muitos aspectos constitutivos de


abrangência como indústria, podemos refletir a princípio sobre o indivíduo na
organização social imerso em um paradigma, envolto e entranhado pela semelhança.
Muitas tantas esferas direcionam ao aspecto da similitude. Encontramos uma
paridade nos meios como: o cinema, rádio, revista e até os domínios arquitetônicos
remetem à uma certa unidade, levando a falsa identidade do universal e particular.
A necessidade se antecipa ao homem e este não lhe é permitida a
apropriação destas legítimas necessidades, sendo assim a atuação e antecipação
da indústria frente a esses aspectos parece algo estarrecedor. Ela já previu, se
antecipou aos desavisados e dispersos de modo a que ninguém escape, catalogados
tudo e todos estão, elevados a um domínio meramente estatístico. A exterioridade do
homem está permeada pela racionalidade técnica, pelo esquematismo de produção
e tudo quase resumindo-se a fórmulas milimetricamente pensadas e previstas.
A partir de uma declaração do texto pela seguinte sentença: “ A produção
capitalista os mantém tão bem presos em corpo e alma que eles sucumbem ao que
lhes é oferecido”. Nos exorta a algum tipo de reflexão, tal afirmação denota a
condição que podemos nos encontrar frente a tantos outros aspectos de nossa
existência e ao meio o qual estamos integrados, bem como toda a exterioridade
constitutiva que nos é inerente desde o emergir de nossa consciência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As considerações dos autores acerca da Indústria Cultural, nos revelam


aspectos da Cultura sistematizada, esquemática de domínio industrial. O texto
evidencia o caráter dos meios da referida indústria, explicitando relevantes aspectos
do construto social, da esquematização de produção e dos mecanismos empregados
para a naturalização de propósitos ocultos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

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