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O

SILENCIAMENTO
HISTÓRICO DAS
MULHERES DA
AMAZÔNIA
BRASILEIRA

[ ARTIGO ]

Fabiana Nogueira Chaves


Universidade Federal do Acre.
Maria Rita de Assis César
Universidade Federal do Paraná.
Fabiana Nogueira Chaves
Maria Rita de Assis César
O silenciamento histórico das mulheres da Amazônia Brasileira
139


[   R ES U MO AB STR AC T RESUME N ]

Este trabalho analisa aspectos históricos da Amazônia Brasileira, relatando caracte-


rísticas colonizadoras que levaram a uma maior desigualdade de gênero na região e a
altos índices de violência contra a mulher. Busca-se expor especificidades do sistema
de ocupação predatória da região e destacar o silenciamento da mulher amazônica
como política de Estado. Assim, este trabalho procura produzir um texto crítico sobre
o processo de saque da Amazônia, apontando a perpetuação de estereótipos que até
hoje sustentam o silenciamento e a violência contra a mulher.
Palavras-chave: História da Amazônia. Mulheres da Amazônia. Desigualdade de gênero.
Violência contra a mulher.

This study analyzes some historical aspects of the Brazilian Amazon, reporting
colonizing characteristics that led to greater gender inequality in the region and
high rates of violence against women. It seeks to expose peculiarities of the process of
predatory occupation of the region and to highlight the silencing of amazon women
as a State policy. Thus, this paper seeks to produce a critical text on the process of
sacking the Amazon, emphasizing the perpetuation of stereotypes that until now
support the silencing and violence against women.
Keywords: History of the Amazon. Women of the Amazon. Gender inequality. Violence
against women.

El presente trabajo analiza algunos aspectos históricos de la Amazonía brasileña,


planteando características colonizadoras que llevaron a una mayor desigualdad de
género en la región y a altos índices de violencia contra la mujer. Se busca exponer
particularidades del sistema de ocupación predatoria de la región y destacar el si-
lenciamiento de la mujer amazónica como política de Estado. Así este trabajo busca
aportar con un texto crítico sobre el proceso de saqueo de la Amazonía, apuntando
a la perpetuación de estereotipos que hasta hoy sostienen el silenciamiento y la vio-
lencia contra la mujer.
Palabras clave: Historia de la Amazonía. Mujeres de la Amazonía. Desigualdad de género.
Violencia contra la mujer.

DOI: https://doi.org/10.11606/extraprensa2019.157418

Extraprensa, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 138 – 156, jan./jun. 2019 [ EXTRAPRENSA ]


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Introdução de 4,2 milhões de quilômetros quadrados


(BRASIL, 2008b).

No Brasil, 13 mulheres são assassina- Segundo o último censo do Instituto


das por dia. O país tem uma taxa de 4,8 homi- Brasileiro de Geografia e Estatística
cídios para cada 100 mil mulheres, a quinta (IBGE, 2012), são 24 milhões de habitantes na
maior do mundo (WAISELFISZ, 2015, p. 27). Amazônia Brasileira. O crescimento popu-
Nota-se que apesar da criação de leis como lacional entre 1950 e 2007 totalizou 516%,
a Maria da Penha, de 2006, as violências, contra uma média nacional de 254% no
em seus mais diversos níveis, seguem mesmo período. Aproximadamente 12%
alarmantes. Quando o assunto é violência da população brasileira vive na região. Sete
sexual, a situação é ainda mais assustadora, milhões de pessoas permanecem na zona
segundo a pesquisa “Estupro no Brasil: uma rural, minoria que realmente habita a flo-
radiografia segundo os dados da saúde” resta e suas proximidades; enquanto 70%
(CERQUEIRA; COELHO, 2014), produ- da população amazônica vive em vilas e
zida pelo Instituto de Pesquisa Econômica cidades tão globalizadas quanto qualquer
Aplicada (Ipea), a cada 11 minutos acontece outra cidade do país (BRASIL, 2008b, p. 22).
um estupro no Brasil. A pesquisa ressalta a Ao contrário do que indica o senso comum
subnotificação dos casos, falando em ape- e a simplificação midiática, a chamada flo-
nas 10% de casos notificados, estimando resta amazônica e sua população está longe
que, no mínimo, 527 mil pessoas sejam estu- de ser homogênea
pradas por ano no país. As vítimas, em sua
maioria, mulheres e meninas. A situação Desde o século XVI, os interesses das
é crítica no que se refere aos direitos das classes hegemônicas dos principais países
mulheres, porém, dentro do próprio Brasil, capitalistas influenciam diretamente sua
existe uma região em situação de vulne- história. Em regra, a partir daquela época,
rabilidade ainda maior: a Amazônia. Essa a maioria da população amazônica tornou-
região do país está em desvantagem em -se classe subalterna e os rumos da região
vários indicadores sociais, o que faz com passaram a ser definidos exogenamente.
que a situação das mulheres seja ainda pior Dessa maneira criou-se o mito de um vazio
que no restante da federação. demográfico e uma falsa unidade cultural
num território muito vasto.
A Amazônia Legal engloba hoje a
totalidade dos seguintes estados brasilei- Desde o princípio, o mito do vazio demo-
ros: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, gráfico soa como um enorme desres-
Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e, peito a milhões de pessoas que viviam na
parcialmente, Maranhão. Soma aproxi- Amazônia brasileira e, apurando-se mais
madamente cinco milhões de quilômetros a crítica, percebe-se a sutileza de tratar-se,
quadrados, cerca de 60% do território nacio- na verdade, de um vazio de pessoas consi-
nal, dominada por dois biomas: cerrado deradas importantes para a sociedade bra-
(20%) e floresta (80%). Portanto, o bioma sileira, ignorando o mérito dos índios e suas
Amazônia de floresta representa cerca culturas. Inúmeras evidências fazem crer
de 80% da região, ou seja, uma superfície que tal procedimento com o índio ainda

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existe […] evidencia-se a ação excludente É interessante notar que os estados


promovida pelos países centrais do capi- amazônicos estão longe de liderar o ranking
talismo, em qualquer período histórico. de feminicídios e de violência sexual em
Ontem, o índio, hoje, o amazônida em geral números, porém estima-se que a região é
(BITTENCOURT, 2013, p. 12). a com maior número de subnotificações
do país (WAISELFISZ, 2015). Em algumas
A Amazônia sempre foi vista como cidades interioranas sequer existem dele-
mera provedora de matérias primas e gacias, a população não tem acesso à infor-
de riquezas. Historicamente saqueada, a mação e o machismo impera impune. Além
diversidade étnica, social e cultural não disso podemos destacar o uso corriqueiro
vem acompanhada de qualidade de vida. O de armas de fogo e armas brancas no dia a
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), dia, sem nenhuma fiscalização ou controle.
que considera indicadores como educa-
ção, longevidade e Produto Interno Bruto De acordo com o Atlas da violências 2018
(PIB) per capita, apresenta números abaixo (CERQUEIRA et al., 2018), comparando as
da média nacional de 0,757 em todos os taxas de homicídios de mulheres entre os
estados amazônicos, exceto Mato Grosso anos de 2006 e 2016, nota-se que em quase
(BITTENCOURT, 2013, p. 43). todos os estados que integram a Amazônia
Legal houve aumento do número e taxa de
A Amazônia brasileira é como um país feminicídios: no Acre a taxa subiu de 4,5
de segunda classe dentro do próprio Brasil. para 5,7; no Amazonas de 3,2 para 5,9; no
Em 2006, os estados amazônicos apresen- Maranhão de 2,1 para 4,5; no Pará subiu
taram graus muito inferiores aos nacionais de 3,9 para 7,2; em Roraima de 6,4 para 10;
em termos de trabalhadores com carteira no Mato Grosso de 4,9 para 6,4; no Tocantins
de trabalho assinada (Brasil: 31,73%, con- de 3,3 para 6. O único estado que apresen-
tra Amazônia: 18,35%). Ressalta-se ainda a tou taxas decrescentes foi Rondônia, que
existência do sistema de aviamento e escra- em 2006 apresentava uma taxa de 6,6;
vidão. Nos primeiros sete anos do século caindo para 6,2 em 2016.
XXI o Ministério do Trabalho e Emprego
libertou 17.507 trabalhadores em condições As aproximadamente 12 milhões
de escravidão, quase todos em estados da de mulheres que habitam a Amazônia
região. É importante ressaltar que muitos Brasileira são a classe mais subalterna, den-
dos trabalhadores resgatados eram mulheres tro de uma região subalterna, dentro de um
em situação de escravidão sexual e vítimas país subalterno da América Latina. Essas
de tráfico humano (BRASIL, 2008a, p. 54). mulheres são mulheres mestiças, negras,
indígenas e ribeirinhas em sua maioria, o
As condições de trabalho das mulhe- que aumenta seu grau de vulnerabilidade
res na Amazônia mantêm-se inferiores social. Mulheres triplamente silenciadas,
aos demais estados do Brasil. A mulher da espoliadas pela lógica capitalista, tendo seus
Amazônia ganha o equivalente a 80% do corpos confundidos com mercadorias ou
rendimento médio das mulheres brasileiras propriedade. Silenciadas pela história que
e cerca de 70% do rendimento masculino há muito as trata como selvagens ou desim-
na região (BRASIL, 2008b, p. 27-28). portantes. Silenciadas como seres humanos.

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É importante salientar que no Brasil 1. Aspectos históricos de uma


as mulheres são maioria, compondo 51,4% Amazônia subalternizada
da população. Os poucos estados que estão
na contramão dessa estatística estão na
Amazônia: Rondônia, Roraima, Amazonas Do ponto de vista da história oficial
e Pará. Já Acre, Amapá e Mato Grosso pos- ocidental, que tratou a invasão europeia
suem porcentagem equivalente de homens como “descoberta”, vê-se a história da
e mulheres. Dessa maneira, a Amazônia Amazônia intimamente ligada à expan-
acaba por ter uma população masculina são do sistema capitalista. Foram mui-
superior à feminina. tas as expedições espanholas em busca
de riquezas, matérias-primas e produtos
Esse número de homens superior ao para o comércio. Essas expedições eram
de mulheres pode ser explicado pelos fluxos guiadas por relatos difusos sobre a exis-
migratórios para a região amazônica no tência de outros continentes e por mitos
final do século XIX e início do século XX. como El Dorado, rio do ouro e cidade do
Ao mesmo tempo, segundo Cristina Scheibe ouro. Estima-se que mais de 60 empresas e
Wolff (2011) em muitos relatos históricos viagens espanholas foram realizadas para
sobre a formação amazônica, as mulheres vasculhar a região do Rio das Amazonas
da terra, ou seja, as indígenas, ribeirinhas e (GONDIM, 1994).
pobres, não eram consideradas como popu-
lação, ou seja, não eram contabilizadas por Os motivos que levaram os primeiros
não serem consideradas humanas. europeus à Amazônia foram geopolíticos.
Tiveram como contexto a disputa diplomá-
Dentro dessa perspectiva e para tica das duas potências marítimas, Portugal
entender as especificidades da Amazônia e Espanha, pelo domínio de terras descober-
brasileira, é necessário conhecer um pouco tas a oeste e sul, do outro lado do Atlântico.
mais sobre esse território de que tanto se
fala e do qual tão pouco se conhece, prin- A ansiedade era tanta e as informações tão
cipalmente quando falamos em termos de desencontradas que em 1494 se celebrou
desenvolvimento humano. Quando se pro- o Tratado de Tordesilhas, que dispunha
põe um tópico sobre a formação histórica da sobre os limites de terras desconhecidas
Amazônia é justamente por acreditar que a pelas partes signatárias do acordo. Os ibé-
situação precária e de vulnerabilidade em ricos, então, lançaram-se cada vez mais ao
que vivem as mulheres amazônicas está mar. Junto com a descoberta do Brasil e
intimamente ligada aos processos históri- da América, as implicações geopolíticas da
cos e formativos da região. Se a Amazônia chegada à Amazônia foram consideráveis.
foi uma região recentemente massacrada A Europa mudava sua visão de mundo,
e violada pelo capitalismo mais primitivo tendo acesso a territórios, a espécies, a
e selvagem, pode-se afirmar também que, biomas e a povos diferentes. No entanto,
dentro desse processo, as primeiras víti- a planície amazônica permaneceu des-
mas foram as mulheres, violadas tanto conhecida por mais de 40 anos, até que
pelo forasteiro quanto pelo homem local em 1541 o governador da província de
explorado. Quito (atual Equador), Gonzalo Pizarro,

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deu início a uma expedição para reconhe- cabelos enrolados na cabeça, andando nuas.
cer e para tomar posse das terras entre os Segundo seus relatos, um índio da região
Andes e o Oceano Atlântico, pertencentes que fora aprisionado e indagado sobre essas
à Espanha, segundo Tordesilhas. Como mulheres disse que eram as amazonas. Elas
fator econômico, havia a perspectiva de não teriam maridos e sacrificariam os bebês
descoberta do “País da Canela” e do reino do sexo masculino. As meninas seriam
do El Dorado (BITTENCOURT, 2018, p. 21). treinadas, desde pequenas, para a guerra.
Não se sabe, até hoje, o que era realidade
Os expedicionários, comandados por e o que era fantasia sobre essas mulheres
Francisco de Orellana, homem de confiança guerreiras. Mas, de qualquer maneira, é
de Pizarro, teriam de enfrentar diversos interessante notar que um dos primeiros
percalços, como atravessar os Andes e eventos “históricos” que descrevem ofi-
enfrentar uma série de barreiras naturais. cialmente a Amazônia começa por falar
das mulheres, a história de uma possível
A expedição de Orellana prosseguiu pelo sociedade matriarcal: o primeiro relato
Napo, até chegar ao eixo do “Grande Rio” específico sobre as mulheres amazônicas1.
ou “Paranauaçu”, como era chamado pelos
povos indígenas aquele que seria depois Os relatos fantasiosos, exagerados
denominado por Orellana como “Rio das e repletos de alegorias criam a Amazônia
Amazonas”. Continuou navegando com da maneira como seria representada pelo
o apoio das populações indígenas, tendo colonizador. O etnocentrismo do europeu
chegado a 3 de junho de 1542 ao rio Negro, buscava associações com sua própria cul-
nome dado pelo próprio Orellana, quando tura, mesmo havendo uma dessemelhança
deparou com o encontro de suas águas extrema. Essa óptica permanece ainda nos
com as do Amazonas. […] Finalmente, em dias atuais, gerando variadas distorções na
23 de junho, os aventureiros chegaram à representação e no imaginário sobre a região.
foz do rio Nhamundá, onde se depararam
com uma tribo indígena que lhes pareceu Contudo, algumas questões históri-
ser constituída de mulheres guerreiras cas traçaram novos rumos importantes à
(RIBEIRO, 2005, p. 30). região: no evento conhecido como União
Ibérica (1580-1640), um monarca espanhol
Orellana lembrou-se das lendárias assume a Coroa portuguesa. Assim, tanto o
amazonas da Ásia Menor, batizando o Rio Brasil descoberto por portugueses (leste da
como Rio das Amazonas, que posterior- linha imaginária de Tordesilhas) quanto a
mente daria nome também ao bioma e a Amazônia (oeste) ficaram sob o domínio da
toda a região. Segundo Gondim (1994), o Espanha. Dessa forma, em 1612, a coloni-
responsável pelo relato da expedição era zação da Amazônia foi iniciada pelos dois
Frei Gaspar de Carvajal, que descreveu com países unidos. O fato configura-se como
riqueza de detalhes e também muito fan-
tasiou sobre as amazonas sul-americanas.
Carvajal narra batalhas ferozes com essas 1 As informações históricas do período, bem como
os aspectos geopolíticos advindos de tais aconteci-
mulheres, que tentavam matar os intrusos mentos, nesta e nas próximas páginas, baseiam-se em
a pauladas. Elas seriam altas e brancas, com Ribeiro (2005).

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importante nos desdobramentos históricos ocupando a região, desafiando abertamente


do território amazônico que viria a se tor- o Tratado de Tordesilhas. Portugal conso-
nar português e, posteriormente, brasileiro. lidou assim sua presença na Amazônia,
desconsiderando a presença indígena e
A princípio, a Espanha saiu do Tratado culturas locais. Acreditavam que aqueles
de Tordesilhas dona dos impérios mais ricos povos não poderiam ter soberania sobre
do mundo: Maia, Asteca e Inca. Nestes suas terras porque seriam selvagens. Nesse
investiu toda sua potência de exploração, sentido, justificaram um dos maiores geno-
saqueando-os avidamente e deixando a cídios da humanidade, ocorridos nos sécu-
Amazônia esquecida por um tempo, pois los XVII e XVIII. É importante destacar
suas riquezas ainda precisavam ser desco- esse aspecto para iniciarmos o pensamento
bertas para poderem ser exploradas. Como sobre os povos da Amazônia e a formação
a base do Império Espanhol encontrava-se histórica da região. Os homens indígenas
em terras andinas, para conseguir-se che- sofreram os mais diversos tipos de violên-
gar até a Amazônia havia grande dificul- cia, sendo mortos e escravizados, enquanto
dade em transpor a Cordilheira dos Andes. as mulheres indígenas estavam sujeitas
Então, a melhor maneira de explorá-la seria a essas agressões e, também, a estupros,
pela foz do Rio Amazonas, decisão tomada que eram corriqueiros. A miscigenação na
em 1615, após a expulsão dos franceses da Amazônia ocorreu mediante violência. O
Ilha do Maranhão. povo amazônico, miscigenado, nasceu do
estupro, como em todo território nacional.
A União Ibérica favoreceu que os por-
tugueses pudessem adentrar na Amazônia Superiores na arte da guerra, os europeus
sem que houvesse objeção ou resistência não titubearam em destruir culturas em
espanhola. Além disso, as circunstâncias nome do comércio e do lucro, iniciando o
obrigavam os espanhóis a indicarem portu- processo predatório da floresta e de seus
gueses para colonizar a área, devido tanto povos. O objetivo era mostrar ao mundo o
à proximidade das terras portuguesas das domínio sobre a Amazônia, criando uma
terras amazônicas espanholas quanto ao situação irreversível de posse. Em 1654,
conhecimento geográfico assimilado por criou-se o Estado do Maranhão e Grão-
eles ao longo da colonização do Brasil2. Pará, em uma condição excepcional de
autonomia. Desvinculado do Brasil, tinha
Estabelecida a cidade de Belém na relação direta com a capital metropolitana,
entrada da bacia amazônica (1616), a con- Lisboa (BITTENCOURT, 2018, p. 25).
quista da planície parecia cada vez mais
tangível aos portugueses. Mesmo com o fim A autonomia do Estado facilitou
da União Ibérica em 1640, eles seguiram a implantação de cidades e vilas, que se
transformaram em locais estratégicos para
concentrar e exportar as drogas do sertão
2 É crucial entender que Amazônia e Brasil tive- e produtos florestais, como cacau, cravo,
ram processos de colonização diferentes, em períodos sementes, raízes e madeira. Nesse contexto,
diferentes e de maneiras diferentes, isso é demasiado
importante para compreender a exploração desen-
os missionários tiveram papel de extrema
volvimentista tardia nesse território. importância, sendo os maiores agentes de

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ocupação efetiva da Amazônia pelos por- cada nação tomaria posse do que efetiva-
tugueses (RIBEIRO, 2005, p. 61). mente possuía: Portugal ficaria com 70%
da Amazônia. Neste momento, Brasil e
Diversas ordens religiosas católi- Amazônia ainda eram colônias separadas,
cas, como franciscanos, carmelitas, mer- com seus rumos seguindo paralelamente.
cedários, jesuítas e capuchos, receberam
Cartas Régias outorgando a elas poderes Com o Tratado de Madri (1750), D.
para ocupar e “civilizar” as margens do Rio José subiu ao trono português, nomeando
das Amazonas, perfazendo um total de 39 em seguida Marquês de Pombal como
concessões. Foram enviados muitos missio- secretário de negócios estrangeiros e da
nários para realizar a ocupação portuguesa guerra. Pombal permaneceu no Governo
da região, considerando que a população Português por quase trinta anos, promo-
indígena seria numericamente muito supe- vendo na Amazônia uma vasta mudança.
rior à população portuguesa da época. O marquês começou por defender a sobe-
rania direta de Portugal sobre a colônia,
Projeções feitas a partir de documentos sem precisar do intermédio do governo
e de pesquisas arqueológicas estimam instalado na capital brasileira. Em 1751, o
a população indígena, por ocasião da Estado do Maranhão e Grão-Pará passou
conquista, entre três e cinco milhões de a chamar-se Grão-Pará e Maranhão, com
pessoas, na Amazônia brasileira. A pers- sede na cidade de Belém.
pectiva histórica desses povos foi inter-
rompida de forma brusca e violenta pelo As mudanças promovidas foram sig-
projeto colonial que, valendo-se da guerra, nificativas e modificaram definitivamente a
da escravidão, da ideologia religiosa e das Amazônia com: demarcação de terras; cria-
doenças, provocou na Amazônia uma das ção da Capitania de São José do Rio Negro;
maiores catástrofes demográficas da histó- grande mudança na relação entre Estado
ria da humanidade, além de um etnocídio e igreja; incentivo à migração de colonos
sem precedentes (CARVALHO; HECK; e incentivo à miscigenação destes com as
LOEBENS, 2005, p. 238-239). indígenas (estupro sistemático); implantação
do trabalho escravo em 1756 para reforçar o
A Amazônia era considerada uma cultivo de cacau, café, algodão, cana-de-açú-
terra sem dono, mesmo sabendo que o ter- car e fumo; e estímulo à pecuária.
ritório era há muito ocupado por diversos
povos indígenas. Esses eram vistos como Em 1772, o estado do Grão-Pará e
desimportantes. Inúmeras evidências Maranhão foi dividido em dois: Maranhão
fazem crer que tal imaginário sobre os e Piauí; e Grão-Pará e Rio Negro (atual
povos amazônicos ainda existe. Amazônia brasileira, exceto Acre), com
capital em Belém. Iniciava-se a conjuntura
No século XVII Portugal e Espanha que tornaria a Amazônia parte do Brasil
resolveram negociar a revisão do Tratado algum tempo depois. Esses estados não
de Tordesilhas. Os dois países declararam foram imediatamente afetados pela inde-
violação ao tratado na Ásia e na América. pendência do Brasil em 1822, tendo em vista
A partir disso, ficou estabelecido que que estavam subordinados diretamente

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a Portugal. Somente em 15 de agosto de Essa revolta torna-se importante na


1823 a província do Grão-Pará aderiu ao história amazônica pois, entre 1835 e 1840, os
Império do Brasil, após movimentos favorá- cabanos conseguiram representar uma iden-
veis à independência, conduzidos pela elite tidade coletiva amazônica, que chegou a assu-
paraense. Já a capitania de São José do Rio mir caráter separatista, “o Paiz do Amazonas”.
Negro incorporou-se ao Brasil somente em Era a luta entre a classe subalterna explorada
9 de novembro do mesmo ano. e o colonizador que seguia comandando todo
o sistema produtivo e a política.
Ao mesmo tempo em que um imperador
português governava o Brasil (D. Pedro I), A revolução social dos cabanos que explo-
na prática, os antigos colonizadores con- diu em Belém do Pará, em 1835, deixou
tinuavam no poder, mas agora livres do mais de 30 mil mortos e uma população
controle de Portugal e, devido à imensa local que só voltou a crescer significativa-
distância da capital do novo país (Rio de mente em 1860. Este movimento matou
Janeiro), também se encontravam distan- mestiços, índios e africanos pobres ou
tes de qualquer controle do Estado brasi- escravos, mas também dizimou boa parte
leiro. Essa elite, formada por portugueses da elite da Amazônia. O principal alvo dos
e seus descendentes, viu-se à vontade cabanos era os brancos, especialmente os
para desencadear uma brutal exploração portugueses mais abastados. A grandiosi-
sobre a região e sobre sua população, for- dade desta revolução extrapola o número
mada em sua maioria por descendentes e a diversidade das pessoas envolvidas.
de negros, índios aculturados e mestiços Ela também abarcou um território muito
em geral. Quando a Amazônia brasileira amplo. Nascida em Belém do Pará, a revo-
já somava uma população de 80 mil habi- lução cabana avançou pelos rios ama-
tantes, eclodiu a Revolução dos Cabanos zônicos e pelo mar Atlântico, atingindo
(BITTENCOURT, 2018, p. 29). os quatro cantos de uma ampla região.
Chegou até as fronteiras do Brasil central
1.1 A Cabanagem e ainda se aproximou do litoral norte e
nordeste. Gerou distúrbios internacionais
Segundo Ribeiro (2005, p. 123), os na América caribenha, intensificando um
cabanos eram caboclos que viviam sem importante tráfico de ideias e de pessoas
qualquer possibilidade de ascensão social, (RICCI, 2007, p. 6).
econômica ou política que vinham cobrar
das elites brancas a situação de miséria em Ricci (2007) traz ainda diversas aná-
que viviam, responsabilizando essas elites lises sobre esse movimento, que foi um dos
por seu sofrimento. Pessoas em situação de mais importantes da história da região,
exploração que se organizaram em torno de ressaltando seu caráter revolucionário e
uma consciência de classe. Recusavam-se o caráter de luta de classes que assumiu,
continuar a ser explorados e subalterni- conseguindo manter um governo popular
zados, buscavam uma visão autêntica de amazônico no poder por um curto período.
seu povo e poder decidir os rumos de suas Nenhuma outra revolta ou movimento teve
próprias vidas, com um governo represen- tanto impacto por tanto tempo quanto esta.
tativo livre do cabresto dos colonizadores. Por 17 anos a Amazônia viveu uma guerra

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civil, estima-se que 40% de sua população comprovam a prisão, em um evento, de


tenha sido dizimada. “O massacre desse 30 mulheres que compunham a frente de
movimento […] fez com que se silenciasse batalha; em outra circunstância aponta para a
a visão desses amazônidas a respeito de prisão de mulheres e homens atuando juntos,
si próprios, de sua região e dos outros” havendo 11 mulheres armadas. Outra ocasião
(GONÇALVES, 2008, p. 19). Mais de 40 mil relatada por meio de cartas enviadas é a de
pessoas morreram na Cabanagem, sendo mulheres espiãs, tanto pelo lado dos cabanos
30 mil entre os cabanos. quanto pelo lado dos portugueses. Porém, com
o fracasso do movimento, os pobres e explora-
1.2 Onde estavam as mulheres? dos voltaram ao lugar de origem, silenciados
pelo capitalismo colonialista que voltava ao
Até aqui, nesta pequena parte resu- controle na Amazônia brasileira.
mida história da Amazônia, nota-se que
não há personagens mulheres. Os primeiros 1.3 Os homens e o seu ciclo da
colonizadores a chegarem em seus barcos borracha
e os portugueses que adentraram pela pri-
meira vez a região do Rio das Amazonas O século XIX trouxe a atividade extra-
eram exclusivamente homens. Na descrição tivista da borracha, o maior acontecimento
histórica de Ribeiro (2005), Gondim (1994) e da história política, social e econômica da
Bittencourt (2018), principais referências uti- Amazônia brasileira, desenvolvida para for-
lizadas até aqui, não se encontram persona- necer matéria-prima à indústria automo-
gens do sexo feminino. O ato de colonizar era bilística (RIBEIRO, 2005, p. 163-166). Com
masculino e as mulheres caboclas e índias, a invenção do pneumático em 1888, com o
nativas da região, não eram consideradas surgimento do automóvel em 1895 e com o
cidadãs. A história oficial não traz retratos aumento do uso da bicicleta como meio de
da vida das mulheres nesse período, pouco transporte, cresceu também a demanda por
se sabe sobre elas e como viviam. borracha para fabricação desses materiais
no mercado mundial, o que trouxe impactos
Porém, na Cabanagem, nota-se a exis- diretos sobre a Amazônia. “No período de
tência mais contundente de mulheres. Apesar quarenta anos, de 1870 a 1910, a população da
de seus nomes não constarem em dados da região Norte passou de 323 mil para 1.217.000
historiografia oficial, podemos encontrar habitantes. Esse crescimento teve reflexos na
diversos indícios de que participaram ati- participação amazônica na população total
vamente da revolta. Eliana Ramos Ferreira do país, que se elevou [sic] de 3,3% para 5,1%”
(2003) escreveu um dos raros artigos sobre (ALEGRETTI, 2002, p. 47). De acordo com a
a presença das mulheres na Cabanagem. autora, de 300 a 500 mil nordestinos vieram
Segundo a autora, o movimento foi uma para a Amazônia fugidos da seca e em busca
revolta familiar, em que todos participaram. de melhores condições de vida nesse período.
As mulheres participavam tanto na reta- É importante ressaltar que essas grandes
guarda, produzindo alimentos e criando con- levas de nordestinos, que vieram para ocupar
dições para que os maridos e filhos pudessem e demarcar a região, eram quase que exclu-
estar na guerra, como integrando a frente sivamente compostas por homens, trans-
de batalha. A autora traz documentos que formando a população amazônica em uma

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população predominantemente masculina. supérfluos. Para controlar os meios de


“Em 1869 o movimento da imigração para a comercialização, era proibida a presença
Amazônia mostra a seguinte composição por de regatões [comerciantes autônomos dos
sexo: do total de 1.676 imigrantes, 1.348, ou rios amazônicos] e exigida exclusividade
seja, 80% eram homens e 96% deles vieram dos seringueiros em relação ao patrão que
sem família” (Ibidem, p. 50). Há poucos relatos os aviava, tanto na compra de bens de
da vinda de mulheres durante o primeiro consumo quanto na venda da borracha. O
ciclo da borracha. descumprimento destas regras implicava
em punições severas aos seringueiros
Com a crescente demanda por [inclusive violência física] […].
látex, as décadas de 1890 e 1910 foram de
plena expansão da economia da borracha. Foi com base neste modelo que a imagem
Contudo, o desenvolvimento econômico do seringal ficou associada a atrocidades
não refletia em desenvolvimento local, a e violências cometidas por seringalistas
Amazônia continuava sendo uma simples contra seringueiros e à caracterização do
provedora de matérias-primas. seringal como uma modalidade de orga-
nização da produção na qual predomi-
Os seringueiros que chegavam à nava uma espécie de trabalho escravo. As
Amazônia já chegavam devendo a sua afirmações de Euclides da Cunha (1976)
viagem de vinda ao dono do seringal, de que os seringueiros trabalhavam para
estando submetidos ao conhecido sistema reproduzir a própria escravidão, ou de
de aviamento. Viviam em situação análoga Castelo Branco (1922) de que o seringueiro
à escravidão, pois eram obrigados a vender era um verdadeiro escravo sujeito a puni-
a borracha que produziam pelo valor que o ções, inclusive o açoite, são reafirmadas
seringalista (patrão) estipulasse. Os produ- por Chico Mendes na entrevista epígrafe
tos de subsistência e higiene também deve- deste capítulo (ALLEGRETTI, 2002, p. 135).
riam ser comprados nas vendas do seringal
por valores extorsivos. Soma-se a isso que Ao mesmo tempo em que a Amazônia
a maioria dos seringueiros era analfabeta, integrava a uma nova etapa da Revolução
o que facilitava as distorções nas contas. Industrial, hordas de seres humanos viviam
Assim, eram raros os que conseguiam sair em situação de escravidão, em condições
da condição de endividamento. de vida degradantes, em pleno século XX.

O modelo de seringal tido como clássico


pela literatura é aquele que surgiu no
período do auge da produção de borracha
na Amazônia. Em função dos altos pre- 2. Os seringais e a violência
ços, predominavam regras voltadas para como linguagem
viabilizar o aumento constante da pro-
dução a custos sempre mais baixos, como
o endividamento prévio, a preferência Segundo Wolff (1997) a sociedade
por trabalhadores solteiros, a proibição dos seringais era atravessada pela violên-
de roçados, o incentivo ao consumo de cia em todos os níveis de relação social.

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A violência era uma linguagem. Nesse sen- Na cultura do seringal as mulheres


tido, as relações sociais de gênero sempre não passavam de uma mercadoria de luxo,
possuem aspectos específicos e peculiares, podiam ser traficadas, vendidas, enco-
ainda mais quando se cria uma sociedade mendadas, pegas nas matas se fossem
dominada exclusivamente por homens, indígenas, ou roubadas. No seringal, ser
como aconteceu na Amazônia. A autora mulher era pertencer a um homem. Era
fala que nos últimos anos do primeiro ciclo obedecer. Era não poder traçar os rumos
da borracha apenas 25% da população seria de sua própria história.
composta por mulheres. A sociedade da
violência era a sociedade do patriarcado A pesquisa de Wolf relata ainda como
mais cruel e primitivo. era comum mulheres indígenas serem pegas
nas matas para servirem como escravas
Os homens vinham sozinhos ou solteiros sexuais dos seringueiros e demais homens
na maior parte dos casos. Com o tempo, que participavam dessa dinâmica de violên-
esta diferença numérica tendeu a dimi- cias do seringal. As “correrias” eram organi-
nuir, porém as levas contínuas de novos zadas pelos seringalistas e seringueiros para
migrantes até a década de 1950 faziam tomar as terras dos povos indígenas, matar
com que sempre se mantivesse alguma os índios e aprisionar algumas mulheres e
diferença. Para um seringal nos moldes crianças. Esse termo “correrias” nada mais
tradicionais, em que a agricultura era é do que um eufemismo para nomear a
proibida no intento de que o seringueiro organização de genocídios com fins fun-
se dedicasse integralmente à borracha e diários e sistematizar a cultura do estupro
dependesse do patrão para seu abasteci- das mulheres indígenas. Neste momento
mento, as mulheres não tinham, por prin- não havia diferenciação de classe, todos se
cípio, nenhuma função produtiva. Com a uniam enquanto homens para matar indí-
crise do preço da borracha a partir de 1912, genas e estuprar mulheres. “Se a ‘cabocla’
porém, a subsistência nos seringais passou não queria aquele homem estranho que
a depender de uma série de atividades se apossava dela, amarravam suas mãos,
agrícolas e extrativistas complementares, colocavam um pau em sua boca para que
o que deu maior visibilidade ao trabalho não atingisse o homem com suas mordidas.
feminino e infantil (WOLFF, 1997, p. 96). Amansavam-na” (WOLFF, 1997, p. 104).

A autora fala ainda sobre diver- Se a situação geral de vida nos serin-
sos documentos aos quais teve acesso na gais era difícil e o seringueiro sofria diver-
região do Alto Juruá, no Acre, que citavam sas formas de violência de seus patrões, a
diversos casos de estupros e de violência situação da mulher (tanto das que viviam
doméstica, caracterizando como normais os no seringal quanto das indígenas) era ainda
crimes de honra. Em seu trabalho, a autora muito pior, pois estava sujeita às mais diver-
mostra inclusive como documentos oficiais sas atrocidades. Sofriam violências físicas,
justificavam os abusos, espancamentos e psicológicas e sexuais tanto dos seringalis-
mortes quando considerado que era para tas quanto dos seringueiros. Frisemos que
defender a honra do homem. A violência nesse período os indígenas não eram sequer
contra a mulher era aceita pelo Estado. considerados humanos.

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Em meados de 1912, o cultivo de demonstrando que nem sempre o desen-


borracha na Ásia começou a ultrapas- volvimento econômico acompanha o desen-
sar a borracha nativa da Amazônia nos volvimento humano, muitas vezes, como
principais mercados mundiais. Assim, os nesse caso, ocorre o contrário. Com o início
preços caíram repentinamente, ocasio- das atividades de agricultura e criação de
nando a falência das mais importantes pequenos animais, as mulheres passaram
casas aviadoras de Manaus e Belém. Todo a ter algum valor na vida produtiva, pois
complexo seringalista começou a ruir. Para o trabalho doméstico e o cuidado com os
Bittencourt (2018), existem outros fato- filhos não eram vistos como trabalho. Surge
res que influenciaram no fim do sistema a dupla jornada de trabalho nos seringais.
seringalista, como a incapacidade da elite
amazônica em conseguir o controle do setor Durante a Segunda Guerra Mundial,
de exportação e o governo brasileiro ter volta-se a buscar a borracha da Amazônia,
priorizado os investimentos na economia pois os aliados haviam perdido acesso à borra-
cafeeira, pois a aristocracia amazônica pos- cha asiática devido ao bloqueio dos japoneses.
suía um papel secundário no novo cenário Dessa maneira, o Brasil fechou acordos com
nacional republicano que surgia. os Estados Unidos para o fornecimento de
matéria-prima para a guerra. Novas levas de
Foi-se o surto econômico da borracha, mas seringueiros chegaram a Amazônia na década
nem toda a empresa extrativista se desfez. de 1940 e os seringais foram reativados. Nesse
O migrante nordestino passou a ser mora- novo momento os bancos norte-americanos
dor da Amazônia, e buscou reorganizar financiaram diretamente a reativação dos
sua vida a partir da disponibilidade de seringais e a viagem dos nordestinos para
terras, da riqueza da floresta e dos rios. o Acre, principal produtor de borracha na
Os seringais sobreviveram com caracte- Amazônia. Os nordestinos foram forçados
rísticas transfiguradas, administrados das a escolher entre integrar as trincheiras da
maneiras mais díspares, dependendo da guerra ou vir para o Acre e, dessa maneira,
dinâmica e história de cada um. Muitos mais 50 mil nordestinos (maioria cearense)
seringueiros permaneceram nos serin- chegaram à Amazônia, juntando sua mão de
gais abandonados pelos patrões originais, obra aos descendentes dos seringueiros que
ora administrados diretamente por casas ali estavam desde o primeiro ciclo da borra-
aviadoras como pagamento de dívidas. cha. Uma grande seca em 1942 contribuiu
A prática da agricultura (antes proibida para essa migração. Nesse segundo ciclo o
pelos seringalistas como forma de garan- governo brasileiro se prontificou a ofertar o
tir lucros com a venda de alimentos aos material logístico básico para sobrevivência
seringueiros) passou a ser permitida, bem no seringal e exigiu que os seringalistas assi-
como o extrativismo. Como consequência, nassem contrato de trabalho a fim de garantir
houve queda nos índices de mortalidade os direitos humanos básicos aos seringueiros,
e doença (BITTENCOURT, 2018, p. 34-35). que tinham sido tão explorados no Primeiro
Ciclo da Borracha (RIBEIRO, 2005).
Desse modo, pode-se dizer que a vida
dos amazônidas tornou-se melhor com É interessante notar que nesse momento
a decadência da economia da borracha, a população amazônica é composta em sua

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grande maioria por homens, trazidos para da Amazônia (RIBEIRO, 2005). Assim, os
trabalhar nos dois ciclos da borracha; todavia, seringueiros tornaram-se um grande grupo
durante o segundo ciclo algumas mulheres representativo do povo amazônico.
vieram juntamente com seus maridos e filhos.
A elas era imputado o trabalho doméstico, além Com o Golpe Militar em 1964 as elites
de cuidar da agricultura. Muitas, inclusive, regionais amazônicas perderam seus privilé-
passaram a cortar seringa para aumentar a gios, surgindo novos grupos de exploradores:
produção da família. Além disso, a vinda das gestores territoriais civis e militares a serviço
famílias dos seringueiros fez com que estes se do grande capital nacional e internacional.
fixassem à terra, transformando um acampa-
mento de homens em uma nova organização Iniciou-se, assim, o tempo dos grandes
social familiar fixa (WOLFF, 1998, p. 84). projetos amazônicos, resumido no lema
“Integrar para não entregar”. O desenvol-
A miscigenação forçada entre serin- vimento previsto pelos militares, com forte
gueiros e indígenas, desde o Primeiro Ciclo teor geopolítico, estruturou-se por meio
da Borracha, fez com que a disparidade entre da criação de algumas leis e instituições:
os sexos fosse diminuindo ao longo do tempo. Banco da Amazônia S/A (Basa), em 1966;
Porém, ainda hoje se reflete na parcela maior Superintendência do Desenvolvimento
de homens do que de mulheres na Amazônia. da Amazônia (Sudam), em 1966; Lei de
Não há como negar que um sistema que foi Incentivos Fiscais, em 1966; Lei sobre a
constituído sob a violência contra as mulheres nova política da borracha, em 1967; criação
em pleno século XIX não tenha gerado uma da Zona Franca de Manaus, em 1967. Em
sociedade patriarcal, falocêntrica e violenta resumo, todas essas iniciativas sinalizaram
que se perpetua até hoje. O processo de mis- a manutenção da Amazônia sob a tutela
cigenação forçada por meio da cultura do federal. Seguiu-se a construção das grandes
estupro que se iniciou no Brasil como um estradas, conformando o novo padrão de
todo no século XVI, na Amazônia iniciou-se “ocupação” da Amazônia, visando a inte-
no século XIX, e portanto demonstra marcas grá-la com as demais regiões do país por
muito mais recentes e profundas. vias terrestres (BIITENCOURT, 2018, p. 37).

Desencadeou-se um processo de
globalização da Amazônia. Se a população
era predominantemente rural, buscou-se
3. A exploração moderna desenvolver o meio urbano e aumentar seu
do território e do povo contingente populacional. Todavia, com
a crise mundial instituída pelo aumento
repentino dos preços do petróleo, esses
Com o fim da guerra, em 1945, a produ- projetos foram afetados, pois os recur-
ção da borracha entrou novamente em crise sos públicos passariam a priorizar outros
devido à queda do preço do látex no mercado setores. Assim, a lógica capitalista passa a
internacional. No entanto a borracha conti- imperar de forma explícita na Amazônia,
nuou sendo o principal produto de exporta- que continua sendo uma fornecedora de
ção do Acre e de diversas outras localidades matérias-primas para os maiores centros.

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Nesse período a pecuária e uma variedade torna muito menos evidente quando se finge
de atividades extrativistas, como a mine- não haver seres humanos sendo explorados
ração e a retirada de madeira das matas em meio às grandes obras, com a mineração
nativas, instauraram-se definitivamente. A e com a retirada sistemática da floresta. Essa
chegada de um sistema baseado em relações ideia impregnou-se de tal maneira no senso
estritamente financeiras chocou-se fron- comum (ratificado pela mídia) que várias
talmente com o modo de vida comunitário pesquisas acadêmicas relacionam instan-
local. Seringueiros, indígenas e ribeirinhos taneamente a Amazônia a meio ambiente,
nunca haviam experimentado um processo encobrindo e muitas vezes ignorando a exis-
tão acelerado e tão violento de mudança nos tência de populações nesses locais.
hábitos e costumes (GONÇALVES, 2008).
Essa visão de que Amazônia é apenas
Em 1974, o Governo Federal lança uma área de florestas e rios tem contribuído
o Programa de Polos Agropecuários e para que a região seja excluída politicamente
Agrominerais da Amazônia (Polamazônia), das decisões sobre seus próprios rumos.
incentivando a exploração mineral na Pode-se dizer que essa postura acadêmica e a
região: exploração de manganês na Serra visão do senso comum são complementares
do Navio; implantação da primeira empresa na criação de lugares autônomos. Lugares
de extração da Caulim da Amazônia (Cadam) inabitados, que existiriam para além dos
e extração de bauxita no Rio Trombetas, moradores locais e estariam a serviço do
em Oriximiná – Pará. As explorações eram forasteiro, seja nas atividades turísticas ou
realizadas por empresas estrangeiras, algu- na exploração capitalista mais direta. Na
mas em parceria com empresas nacionais Amazônia “a população foi relegada a uma
como a Vale do Rio Doce (MONTEIRO, 2005). situação subalterna de provedora de maté-
Eram os parceiros poderosos da ditadura ria-prima a preços irrisórios, em um sistema
garantindo seus grandes lucros por meio da que vai fixar a riqueza resultante em outros
exploração da terra e sociedade amazônica. É territórios” (BITTENCOURT, 2018, p. 39).
necessário citar ainda a grande exploração de
minérios na Serra dos Carajás; a construção Em pleno século XXI a lógica explora-
da Hidrelétrica de Tucuruí; a Ferrovia Serra tória e a ideia de um local que é fronteira de
do Carajás; diversos novos portos e estradas; desenvolvimento persiste. Atividades mine-
dentre outras obras desenvolvimentistas. radoras, legalizadas e clandestinas, estão
espalhadas pelo território. Quem mora em
A busca por modernização e por obras uma cidade amazônica pode comprovar a
em nenhum momento se preocupou com as quantidade de caminhões carregados de
populações tradicionais locais, muito antes madeira que passam pelas rodovias todos os
pelo contrário, seringueiros e indígenas dias. Enormes áreas de florestas são queima-
foram vistos como entrave ao desenvolvi- das todos os anos para dar lugar à pecuária
mento da região, massacrados e explorados. extensiva, que predomina em estados como
Mato Grosso, Rondônia e Acre. Este traba-
A ideia de uma Amazônia restrita ao lho nomeia essas atividades como coloni-
recurso natural foi e é muito conveniente zadoras, atividades que, além de degradar
aos interesses hegemônicos. A exploração se o meio ambiente local, não geram riquezas

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localmente, com uma produção de lucro dire- distantes de informações que possam vir
tamente atrelada à produção de miseráveis. a ajudar em um processo de empodera-
Como afirma Becker (2009), a Amazônia mento, e ao mesmo tempo são estereo-
ainda vive uma fase de capitalismo anterior tipadas pelo forasteiro, pela mídia e até
à fase pela qual passa o restante do Brasil. pelas produções acadêmicas, o que eleva
seu grau de insegurança.

São mulheres esquecidas pelas polí-


ticas públicas e também pela ciência, e
Considerações finais esse é um ponto bastante significativo
da conclusão deste trabalho, para que
possamos tecer críticas construtivas às
Pode-se afirmar que o processo de pesquisas acadêmicas realizadas sobre as
colonização violento aconteceu em todo mulheres da Amazônia. Durante o levan-
o território nacional, mas a peculiaridade tamento bibliográfico para a construção
amazônica está justamente no “desenvol- desse artigo, foram encontrados muito
vimento tardio”. O capitalismo violento e poucos trabalhos que versavam sobre a
devastador permaneceu por muito mais questão da mulher amazônica, inserida
tempo que em outras regiões do país. Desde nesse desenvolvimentismo tardio. Os
o princípio da colonização de portugueses resultados trouxeram artigos, teses e dis-
e espanhóis na América Latina, o processo sertações muito específicos, mais voltados
de colonização da Amazônia brasileira dife- a trabalhos etnográficos com populações
riu do processo no Brasil, tendo em vista ribeirinhas, seringueiras e mulheres indí-
que a Amazônia não integrava o território genas, ou ainda relacionando essas popu-
nacional. Peculiaridades históricas pouco lações a áreas florestais de conservação. A
conhecidas e que fizeram muita diferença procura por fontes nos principais portais
nos processos de desenvolvimento impostos acadêmicos nacionais e do mundo mos-
a essas regiões. Na Amazônia a escravidão trou que a imensa maioria das pesquisas
foi praticamente reinventada para gerar disponíveis on-line sobre Amazônia trata
uma produção sem precedentes de látex de questões ambientais, associando fauna,
em pleno século XIX. flora, topografia, hidrografia, ao mesmo
tempo em que a maioria delas não inclui
Dentro da lógica falocêntrica que o fator humano como essencial.
norteia toda a sociedade capitalista, as
atividades colonizadoras, em sua imensa O mito do vazio demográfico e a este-
maioria, têm como agentes concretos reotipação da população dessa região não
homens. Mulheres, em um capitalismo estão presentes apenas na mídia e no senso
que exalta a realização do trabalho braçal comum, mas também na pesquisa cientí-
predatório, são ainda mais desvalorizadas fica realizada no Brasil e no exterior, que
e vulneráveis. São apagadas da história. É acaba por desconsiderar a maioria da popu-
o que acontece na Amazônia. As mulheres lação local. Este trabalho não questiona
estão expostas a todos os tipos de violência a importância das pesquisas sobre meio
dentro de suas localidades, muitas vezes ambiente na Amazônia, mas sim acredita

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ser um problema que estas não venham Essa mulher amazônica precisa do espaço
acompanhadas de averiguações sobre as para dissertar sobre si e encontrar solu-
populações que a habitam. Em uma região ções endógenas para a questão dos silen-
que tem mais de 70% das pessoas vivendo ciamento histórico e violento. Precisamos
na zona urbana (BRASIL, 2008, p. 22), a ouvir e procurar soluções por meio das
maioria das pesquisas ater-se apenas às mulheres na e da Amazônia. Precisamos
zonas rurais e seus habitantes demonstra de uma perspectiva decolonial.
que temos uma lacuna científica muito
grande. O problema é que a maior parte
das pesquisas realizada na Amazônia ainda
acontece sob a ótica do colonizador.

A imensa maioria das bibliografias


encontradas sobre a mulher amazônica usa
os termos “mulheres da floresta”, “mulheres
das águas”, abordando apenas realidades
específicas das populações ribeirinhas,
seringueiras ou indígenas, conforme des-
crito anteriormente. O estudo das realida-
des dessas mulheres se faz profundamente
importante em uma região extremamente
periférica do país, porém estando as pesqui-
sas voltadas apenas a essas mulheres, 70%
das mulheres amazônicas ficam fora desses
estudos. Mulheres da floresta não é sinô-
nimo de mulher amazônica, por exemplo.
Essas características definidoras acabam
por reiterar a lógica hegemônica, que, por
meio de uma visão etnocêntrica, avalia o [ FA BIA N A N O GUEIR A CHAV ES ]
exótico, o pobre, o periférico. Doutoranda em Educação pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Produtora cultural e
As mulheres amazônicas são as pesquisadora da Universidade Federal do Acre (Ufac).
mulheres indígenas, são as seringueiras, Coordenadora do NEGA – Núcleo de Estudos de
mas são, também, em sua maioria, mulheres Gênero e Raça da Amazônia (CNPq/Ufac).
que hoje vivem nas cidades globalizadas E-mail: fabiananchaves@gmail.com
e acabam sendo silenciadas pela mesma
historiografia tão criticada pela academia. [ M A RIA RITA DE A SSIS CÉSA R ]
Portanto, a solução para o silenciamento das Professora do quadro permanente do Programa
mulheres amazônicas, sejam elas, ribeiri- de Pós-Graduação em Educação da Universidade
nhas, seringueiras, indígenas ou urbanas, Federal do Paraná (UFPR). Coordenadora do LABIN –
é que elas possam inserir-se na academia, Laboratório de Investigação em Corpo, Gênero e
ter voz, ocupar os espaços de produção Subjetividade na Educação (CNPq/UFPR).
de conhecimento e de políticas públicas. E-mail: mrassiscesar@gmail.com

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Extraprensa, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 138 – 156, jan./jun. 2019 [ EXTRAPRENSA ]

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