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Aula nº 1/2

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSO CIVIL

O Direito Civil abanca todo um conjunto de normas reguladoras das relações


jurídicas estabelecidas entre particulares ou entre Particulares e entes públicos desde
que estes incluindo o Estado, não estejam revestidos com a sua função de soberania
(Jus Impérium).

Aula nº 3/4

1.2. 0 Direito civil é um Direito Substantivo, e privado.

A regulamentação das relações substantivas, traduz-se em regra, na atribuição de


um (ou vários) direito subjectivos a uma das partes e na consequente imposição do dever
jurídico correlativo a outra.

Quando, porventura, o devedor, tarde a cumprir ou impossibilite o cumprimento


da prestação (lesão de direitos) - 0 que há a fazer?

Uma solução seria a de facultar ao lesado o recurso a própria força, a fim de por
si próprio, fazer cumprir a solução que decorre do direito substantivo.

Este sistema da justiça privada, foi largamente praticado nas sociedades


primitivas. Hoje, só em situações excepcionais é admitido como a acção directa, legítima
defesa, direito de retenção e a faculdade de compensação (artigos 336º, 337º, 339º, 754º,
847º todos do código civil e 381º ss do CPC).

Trata-se de um sistema imperfeito e inadequado as exigências de uma comunidade


civilizada. Por duas razões:

É que a força nem sempre está no lado de quem tem razão; e se estivesse, quem a
usasse acabaria sempre por razões psicológicas ou emocionais por se exceder, acabando
por repor a ordem jurídica violada, cometer agravamento dos conflitos entre particulares.
O excesso gera excessos.
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Por isso, o artº. 1º do código P. Civil (CPC) a semelhança do que fazem os


diplomas congéneres dos outros países, condena expressamente o sistema de justiça
Privada, determinando que a ninguém é lícito o recurso á força com o fim de realizar ou
assegurar o próprio direito, salvo nos casos dentro dos limites declarados na Lei.
Exemplos: art. 336º do C.C, 337º e 339º do C.C.

Concomitantemente dispõe o art. 29º, 73º e 174º da Constituição de República de


Angola (CRA) reporta que:

1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos Tribunais para defesa dos seus interesses
legítimos. Não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meio económicos.

2. Todos termos direito, nos termos da lei, à informação e consulta jurídica e ao patrocínio
judiciário.

É precisamente porque as normas jurídicas, que são emanadas de ordem jurídica


naturalmente imperfeita (porque feita por homens), são susceptíveis de ser violadas e de
gerarem dúvidas que existe a necessidade do direito processual enquanto parte adjetiva
ou instrumental do direito substantivo.

Aula nº 5/6

2. Noção de Direito Processual Civil

Podemos definir o Direito processual civil como o ramo de direito objectivo,


ou conjunto de normas jurídicas, que regulam o processo civil. Mas esta noção
exige a elucidação do que é o processo civil.

A palavra Processo deriva etimologicamente das termos latino pro+cedere, que


significa “caminhar para a frente, avançar para um objectivo”.

Se falarmos em processo de fabrico de um produto de processo de cura de uma


doença, trata-se sempre de uma sequência de actos articulados entre si, com vista a certo
fim ou determinado resultado.
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No sentido especial que nos interessa, PROCESSO (judicial) será “ a sequência


de actos devidamente coordenado e sistematizado, destinados a justa composição de um
litígio mediante a intervenção de um órgão imparcial de autoridade (Tribunal) ”.

E Processo Civil caracterizada especificamente pelo adjectivo, seria “a sequência


de actos destinados à justa composição de um litigio de interesses privados comuns,
mediante a intervenção de um órgão imparcial da autoridade (o Tribunal)1”.

2.1. Os elementos destas definições são:

-Como estrutura -uma sequência de actos

-Como Objecto -um litígio de interesses privados comuns (civis/não laborais);

-Como finalidade - A justa composição do litígio

-Como meio - a intervenção do Tribunal.

Analisem-se sucintamente cada um dos elementos referidos.

a)- Estrutura – Estruturalmente o processo é um conjunto ou uma sequência de


actos devidamente coordenado. Somente os actos podem ter por objectivo dum
determinado resultado;
b)- Objecto – Será uma relação jurídica e um litígio;

- Objecto - Será a matéria ou o assunto de que o Processo trata, aquilo a que se


chama no fundo ou mérito da causa, que é a relação jurídica material, que constitui
o objecto do processo.

O Processo tem sempre por objecto uma relação jurídica (Subjacente)


controvertida, material.

Ex. - O senhorio pretende o despejo de um prédio onde habita o seu inquilino, por
entender que o arrendamento se extinguiu. Move um processo de despejo, o qual tem por
objecto uma relação jurídica e obrigação de restituir a coisa locada findo o contrato.

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Prof. Castro Mendes -Dto Proc. Civil
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O objecto – será também um litígio ou lide.

O litígio é um conflito de interesses.

Interessa, pois saber qual o conceito de interesse.

b1) Interesse é a posição de uma pessoa perante um bem apto à satisfação de


uma necessidade dessa pessoa.

Ex. Kijila deve entregar a Viatura a Zufe. O que para Zufe é uma vantagem para
Kijila é uma privação.

Pode haver solidariedade de interesses, mas a situação que mais exige a


intervenção da ordem jurídica é a de conflito de interesses.

c) O Fim do Processo Civil

O processo caracteriza-se pelo seu fim.

O fim vem a ser a justa composição do litígio (fim imediato).

O fim do processo constitui um problema clássico de teoria processual.

Para teoria tida como tradicional – o fim do Processo é a tutela do direito;

c1)- Tutela do Direito

Para a corrente que defende esta teoria (tutela do direito) há a distinguir entre
o direito Objectivo e o direito Subjectivo.

A entender-se que se trata da tutela do direito objectivo, o processo, então,


será o prolongamento natural da legislação visando impor a observância das normas,
reprimindo a sua violação - Neste caso o fim do processo seria sempre o interesse Público.

Ora, esta concepção não pode ser acolhida no nosso sistema processual civil, uma
vez que é dominado pelo próprio dispositivo; O lesado age se quiser contra o lesante e
na medida que bem entender (art. 264°).

Ao aceitar-se a corrente objectiva, em que o processo servia para a tutela da Lei,


uma vez violada esta, devia ser posta em marcha, oficiosamente a respectiva repressão
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por um órgão pública como acontece com o processo penal, e não ficar dependente do
arbítrio dos particulares.

Para a corrente que defende que, o fim do processo é a tutela de direitos


subjectivos dos particulares, já se compreende melhor que a tutela dependa da
vontade dos particulares. Mas esta concepção levanta grandes dificuldades
designadamente, relativas ao Ónus da Prova (342º CC).

Para resolver a questão suscitada pela pretensão dos defensores das referidas
corrente, através do processo civil, é necessário reconstituir os factos que estão na origem
da tal pretensão.

Se houve venda ou não: se houve o acidente ou não, e se sim de quem foi a culpa.

- Ora pode muitas vezes acontecer que pela investigação judicial se não chegue a
resultado nenhum ficando o julgador numa dúvida insanável e irredutível acerca dos
factos em que se baseia a pretensão do Autor (demandante).

Neste caso:

a) Ou o tribunal declara a impossibilidade de resolver o conflito é o sistema denominado


“NON LIQUET”;

b) Ou o tribunal profere uma decisão salomônica, cfr. O previsto no art. 1354 nº2 do C.
Civil, (demarcação de prédios).

C) Ou se opta pelo sistema do Ónus da Prova – art. 342º e segs. do Cód. Civil.

Ex. Se Mbombo pedir a condenação da Ngueve, a pagar AKZS. 3.000.000,00 que


lhe deve de uma venda, se não fizer prova, nem de que vendeu nem do contrário,
considera-se que não vendeu, por lhe caber o Ónus da Prova e o Ngueve. é absolvido nos
termos do art. 342º nº1 e artº 346º ambas do Cód. Civil.

Ora o sistema NON LIQUET é desde logo afastado pelo art. 8º nº 1 do Cód.
Civil.
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E o sistema do Ónus da prova não é compatível com a teoria que defende que o
processo se destina a Tutela dos direitos subjectivos. Porquanto se põe em dúvida
se existe ou não o direito do autor, tal concepção impunha um NON LIQUET.

Todavia a nossa lei impõe ao juiz que julgue, mesmo que julgando, frustre algum
direito subjectivo.

Assim, o fim ultimo do processo civil é a persecução da paz social. Ao que o fim imediato
é a justa composição do litígio.

Essa justa composição há-de efectuar-se pela tutela do interesse protegido pela
norma Subjectiva (direito subjectivo) mas onde essa tutela não seja determinados critérios
(art. 265º, e art. 266º CPC)

- A justa composição será a resolução do litígio em conformidade com o direito


substantivo (civil ou comercial) mediante a aplicação do Direito Processual Civil (DPC).

Como se opera a composição de um litígio?

Através da hierarquização dos interesses contrapostos: Tutela um, sacrificando a


outra. Esta hierarquização é feita através das normas substantivas.

Ao processo civil cabe a asseguramento prático dessa hierarquização, feita através


de um processo declarativo, onde se profere uma declaração dotada de autoridade a
sentença – art. 156º nº 2 do CPC.

Obtida essa declaração dotada de autoridade (a sentença), se existir contra ela uma
resistência material ou física de um processo executivo ou execução, como se prevê no
art. 4º nº 3 do CPC.

Concluindo: a justa composição de um litígio efectua-se através do procedimento ou


acolhimento da pretensão do autor, ou de recusa dessa pretensão absolvendo a Ngueve
do pedido.

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