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1.

PARECER JURÍDICO

2. ENDEREÇAMENTO: Professora Barbara e Professora Marcia

3. EMENTA: DIREITO PENAL; SOLUÇÃO DE CONFLITOS; MEDIAÇÃO;


DIFAMAÇÃO; INJURIA; CONFIDENCIALIDADE; INIMPUTABILIDADE PENAL;
ACORDO ENTRE AS PARTES; ARTIGOS 139 E 140 CP;

4. RELATÓRIO

São Paulo, 23 de junho de 2019 às 23:00, a vítima João da Silva, de 50


anos de idade recebeu ofensas à sua honra por Valdir das Couves, de 17 anos
de idade, seu vizinho, o chamando de ladrão e burro, fatos esses que foram
presenciados por agentes locais: Ana, Euclides e Orlando da Silva.
Prorrogaram-se novas ofensas de Valdir nas redes sociais contra João, ambos
não dispostos a se mudarem. As partes, não satisfeitas com a situação,
resolveram ir à procura da justiça para pôr fim ao caso. Diante de tal situação,
foram encaminhados para soluções autocompositiva de conflitos, realizadas
assim quatro sessões, compostas por João e Valdir, este acompanhado de seu
genitor Marcos. De acordo com os profissionais que estão à par do caso, o
relacionamento de Marcos para com João era muito salutar, até o referido
Valdir atingir seus 10 anos de vida, tendo o desentendimento iniciado a partir
do momento em que foram realizadas obras na residência de João alterando,
assim, o muro divisório das famílias. Contudo, nos dias antecedentes a terceira
sessão, João comentou fatos relatados por Marcos, que por fim estabeleceram
acordos na última sessão:
1) a partir daquela data não manteriam nenhum contato pessoal, nem por
telefone ou rede social, e zelariam para que seus familiares assim
procedessem;
2) caso houvesse necessidade de eventual contato, isto será realizado através
dos respectivos advogados, ou por meio da vizinha Zélia, moradora na mesma
rua;
3) João assumiu o compromisso de não ingressar com ação cível de reparação
de danos morais pelas ofensas irrogadas contra sua pessoa, enquanto Marco
se comprometeu a fazer Valdir publicar nas redes sociais uma retratação
acerca das referidas ofensas;
4) João, não obstante o acordado na cláusula anterior, manifestou seu desejo
de processar criminalmente Valdir pelos atos praticados na frente dos vizinhos;
5) João e Marcos decidiram resolver a questão relativa ao muro de forma
amigável, sem a utilização do Poder Judiciário, contudo, desejam a intervenção
de um profissional qualificado para examinar e decidir tal conflito.

5. FUNDAMENTAÇÃO

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:


Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:


Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza
ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor,
etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa.

João, que no dia 23 de junho sentiu-se ofendido por Valdir, que teria lhe
insultado com palavras impróprias, alegando-o como “burro” e “ladrão”, bem
como fazendo falsas acusações contra João. Referido ato foi presenciado por
vizinhos que estavam ali próximos, como se não bastasse tamanha injuria, o
réu continuou com suas ações caluniosas e hediondas por meio das redes
sociais, assim desferindo novos insultos contra a vítima. “Injúria é a palavra ou
gesto ultrajante com que o agente ofende o sentimento de dignidade da vítima.”
- Aníbal Bruno de Oliveira Firmo.

Art. 2º A mediação será orientada pelos seguintes princípios:


I - imparcialidade do mediador;
II - isonomia entre as partes;
III - oralidade;
IV - informalidade;
V - autonomia da vontade das partes;
VI - busca do consenso;
VII - confidencialidade;
VIII - boa-fé.

Art. 4º O mediador será designado pelo tribunal ou escolhido pelas partes.

§ 1º O mediador conduzirá o procedimento de comunicação entre as


partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do
conflito.
§ 2º Aos necessitados será assegurada a gratuidade da mediação.

Mediante tal situação, a orientação que melhor resolveria o ocorrido seriam


sessões para resoluções de conflitos: “A mediação visa por meio do diálogo
buscar a pacificação social. Além disso, busca “valorizar as partes do conflito
dando a elas autonomia e responsabilizando-as pela solução do litigio para que
se sintam respeitadas a aprendam a lidar com os conflitos do dia a dia .” -
Fabiana Marion Splenger. Com a concordância das partes, foram realizadas
as sessões, tendo João abstraído parte do ocorrido, pois Valdir o agrediu
moralmente perante seus vizinhos, ferindo sua imagem com acusações que
não lhe cabem.
Colocamos em pauta que o adolescente Valdir é menor de idade, o crime
cometido por ele será considerado um ato infracional, Valdir ficaria isento de
pena por causa da inimputabilidade de acordo com os artigos 27 do código
penal; 104 do ECA e o artigo 228 da Constituição Federal, ambos os três
determinam que os menores de 18 anos ficarão sujeitos as normas
estabelecidas na legislação especial (Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990).
ECA
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos
às medidas previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do
adolescente à data do fato.
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas
previstas no art. 101.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I – encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III – matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV – inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança
e ao adolescente;
V – requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

Sobre a inimputabilidade o doutrinador Capez apresenta a seguinte definição:


" é o desenvolvimento que ainda não se concluiu, devido à recente idade
cronológica do agente ou à sua falta de convivência em sociedade,
ocasionando imaturidade mental e emocional."(CAPEZ,2005)
Conforme preceitua o art. 112 do respectivo dispositivo, quando verificada a
pratica de Ato Infracional por adolescente, a autoridade poderá aplicar o que o
ECA chama de medidas socioeducativas:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente


poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I – advertência;
II – obrigação de reparar o dano;
III – prestação de serviços à comunidade;
IV – liberdade assistida;
V – inserção em regime de semi-liberdade;
VI – internação em estabelecimento educacional;
VII – qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

1. ESTABELECE DECISÕES JURISPRUDENCIAIS

AGRAVO DE INSTRUMENTO - NULIDADE - CERCEAMENTO DO


DIREITO DE DEFESA - ADICIONAL DE PERICULOSIDADE -
CARACTERIZAÇÃO - TEMPO DE EXPOSIÇÃO - CONCLUSÃO
PERICIAL No processo do trabalho, bem como no processo civil, vige
o chamado princípio do livre convencimento motivado do juiz (artigo
131 do CPC). Resulta daí que o magistrado está obrigado a
fundamentar seu posicionamento nos elementos dos autos, não
estando sequer adstrito à conclusão do laudo pericial, consoante
preceitua o artigo 436 do CPC. Na hipótese, o Juízo sentenciante
amparou-se no conjunto das provas produzidas nos autos, em
especial as provas pericial e testemunhal. Por outro lado, conforme
apontado pelo Tribunal Regional, não há indícios de vícios no laudo
pericial a justificarem sua anulação, sua desconsideração probatória,
ou o seu retorno ao perito, a fim de prestar esclarecimentos. AVISO
PRÉVIO - PROJEÇÃO - ANOTAÇÃO NA CTPS O período
correspondente ao aviso prévio, ainda que indenizado, integra o
tempo de serviço do empregado, de forma que a data de saída a ser
anotada na CTPS deve ser a do término do referido período.
Orientação Jurisprudencial nº 82 da SBDI-1 do TST. DANO MORAL
CARACTERIZADO - OFENSAS VERBAIS - INDENIZAÇÃO DEVIDA
A instância a quo concluiu que o Reclamante sofreu ofensas por
preposto da Reclamada, que, conforme as provas dos autos, a ele se
referiu publicamente como -burro-, e utilizando linguagem vulgar,
causando-lhe constrangimento e dor moral. Incidência da Súmula nº
126 do TST. Agravo de Instrumento a que se nega provimento.
(TST - AIRR: 15382220105150002 1538-22.2010.5.15.0002, Relator:
João Pedro Silvestrin, Data de Julgamento: 20/11/2013, 8ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 22/11/2013)

RECURSO INOMINADO. OFENSAS VERBAIS NA PRESENÇA DE


TERCEIROS. ABALO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO
AUTOR. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. Da análise do caderno
processual, conclui-se que o autor foi efetivamente ofendido, de forma
verbal, pela ré, que o chamou de ladrão na presença de outras
pessoas. Com efeito, a versão do autor restou corroborada pelo
depoimento das informantes ouvidas em juízo, fl. 37, que disseram ter
presenciado a ré chamar o autor, seu vizinho, de "ladrão", ao notar
que parte da lenha tinha armazenada em sua casa tinha sumido. A ré,
em contrapartida, afirma que ninguém ouviu a conversa mantida com
o réu, em versão divorciada da prova oral colhida em audiência.
Assim, havendo a comprovação das ofensas suportadas pelo autor,
na presença de terceiros, caracterizada está a ocorrência dos danos
imateriais, razão pela qual fica mantida a sentença, também em
prestígio ao princípio da imediatidade. O valor indenizatório, arbitrado
em R$ 1.000,00, bem observa os propósitos compensatório, punitivo
e pedagógico, não merecendo redução. RECURSO DESPROVIDO.
(Recurso Cível Nº 71006993646, Segunda Turma Recursal Cível,
Turmas Recursais, Relator: Roberto Behrensdorf Gomes da Silva,
Julgado em 23/08/2017).
(TJ-RS - Recurso Cível: 71006993646 RS, Relator: Roberto
Behrensdorf Gomes da Silva, Data de Julgamento: 23/08/2017,
Segunda Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça
do dia 28/08/2017)

APELAÇÃO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.


ATOS INFRACIONAIS ANÁLOGOS AOS CRIMES DE INJURIA E
AMEAÇA (ARTIGOS 140 E 147, AMBOS DO CÓDIGO PENAL).
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO. RECURSO
DA DEFESA. ABSOLVIÇÃO. A) INJÚRIA. PLEITO DE
IMPROCEDÊNCIA. ALEGADA INSUFICIÊNCIA DE PROVAS PARA
IMPUTAR-LHE A AUTORIA DO ATO INFRACIONAL. NÃO
OCORRÊNCIA. ADOLESCENTE QUE DERRUI A HONRA
SUBJETIVA DA OFENDIDA (DIGNIDADE E DECORO) AO CHAMÁ-
LA DE "VAGABUNDA, CADELA E VADIA". MATERIALIDADE E
AUTORIA DEVIDAMENTE DEMONSTRADAS. CONFISSÃO DO
ADOLESCENTE CORROBORADO COM AS PALAVRAS DA RÉ.
FARTO ARCABOUÇO PROBATÓRIO. ANIMUS INJURIANDI
CONFIGURADO. PERDÃO JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE.
INEXISTÊNCIA DE COMPROVADA PROVOCAÇÃO DIRETA À
INJÚRIA (ARTIGO 140, § 1º, DO CÓDIGO PENAL) OU CASO
ASSEMELHADO À VIOLENTA EMOÇÃO. ÔNUS PROBATÓRIO DA
DEFESA. EXEGESE DO ARTIGO 156 DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL. SENTENÇA MANTIDA. B) AMEAÇA. PLEITO DE
IMPROCEDÊNCIA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. POSSIBILIDADE.
ALEGAÇÃO DA OFENDIDA DE QUE AS PALAVRAS
AMEAÇADORAS DO ADOLESCENTE NÃO FORAM BASTANTES
PARA LHE CAUSAR IDÔNEO E SÉRIO TEMOR. PREJUÍZO
GRAVE, SÉRIO, VEROSSÍMIL E INJUSTO NÃO CONFIGURADO.
SENTENÇA REFORMADA NO PONTO. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJ-SC - APR: 00020658320178240080 Xanxerê 0002065-
83.2017.8.24.0080, Relator: Luiz Neri Oliveira de Souza, Data de
Julgamento: 13/06/2019, Quinta Câmara Criminal)

6. CONCLUSÃO

Ante o exposto, faço a presença de argumentação válida e afirmo que o


ato cometido por Valdir está revestido de ilegalidade, porém a inimputabilidade
penal, prevê que o jovem seja encaminhado para medidas socioeducativas que
visam melhorar o seu comportamento e prevenir que a lei seja infringida
novamente. Insultos contra pessoa humana mediante a presença de terceiros
configura ato ilícito, nos termos da lei vigente. João, de forma consciente e
auxiliado por profissionais firmou acordo, não levando o caso ao tribunal, João
manifesta o desejo de processar criminalmente Valdir, este por sua vez poderá
ser encaminhado para medidas socioeducativas para reparar os seus erros. É
o parecer.

São Paulo, 03/11/2019.


___________________________
David Igor Rodrigues da Silva
OAB/XXX Nº XXXXX

___________________________
Everton Castro Queiroz
OAB/XXX Nº XXXXX

___________________________
Otávio Henrique Jardim
OAB/XXX Nº XXXXX

7. Referências:

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. São Paulo: saraiva,
2005, p.306.

(TST - AIRR: 15382220105150002 1538-22.2010.5.15.0002, Relator: João


Pedro Silvestrin, Data de Julgamento: 20/11/2013, 8ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 22/11/2013)

(TJ-RS - Recurso Cível: 71006993646 RS, Relator: Roberto Behrensdorf


Gomes da Silva, Data de Julgamento: 23/08/2017, Segunda Turma Recursal
Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 28/08/2017)

(TJ-RS - Recurso Cível: 71006993646 RS, Relator: Roberto Behrensdorf


Gomes da Silva, Data de Julgamento: 23/08/2017, Segunda Turma Recursal
Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 28/08/2017)

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