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PROF.

LIZE BORGES
CONTRATOS EM ESPÉCIE: TROCA OU PERMUTA (OU ESCAMBO)

CONCEITO: O contrato de troca, permuta ou escambo é aquele pelo qual as partes se obrigam a dar uma
coisa por outra que não seja dinheiro. Segundo Flávio Tartuce, operam-se ao mesmo tempo duas vendas,
servindo as coisas trocadas para uma compensação recíproca.
O objeto da permute deve ser necessariamente dois bens, pois se um dos contraentes prestar serviço ou der
dinheiro não haverá troca, mas sim compra e enda.
Se assemelha à compra e venda, inclusive em sua estrutura, mas ao invés do preço o pagamento é realizado
com a transferência de domínio de outra coisa.

ATENÇÃO: Todos os dispositivos referentes à compra e venda são aplicáveis à troca e permuta, contudo,
pertinente observar as seguintes modificações:
a) salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o
instrumento da troca;
b) é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros
descendentes e do cônjuge do alienante.

CONTRATOS EM ESPÉCIE: CONTRATO ESTIMATÓRIO

CONCEITO: É conhecido como o contrato de venda em consignação e é aplicável apenas e tão somente às
COISAS MÓVEIS. NÃO SE APLICA AOS IMÓVEIS!
Atenção, pois na venda por consignação é necessário estabelecer PRAZO!

Art. 534 do CC/02: Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens


móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê-los, pagando àquele o
preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa
consignada.

ANOTE O EXEMPLO: João Joanino (CONSIGNANTE) pretende vender sua Ferrari e resolve deixar o
carro em consignação em uma loja de veículos de luxo, estabelecendo um preço mínimo para a venda. Caso
a loja venda por preço superior ao preço mínimo, o lucro é da loja (CONSIGNATÁRIO). Se a Ferrari não
for vendida no prazo fixado, a loja pode comprá-la pelo preço estimado ou então devolver à João Joanino.

ATENÇÃO! Se a Ferrari por destruída em um incêndio ou vier a ser roubada, o prejuízo será da loja, que terá
que pagar o preço fixado. João Joanino permanece como dono da Ferrari até um terceiro ou a loja
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(consignatário) comprar a coisa. Ou seja, a loja é POSSUIDORA e não PROPRIETÁRIA da coisa durante
a venda em consignação.

CONTRATOS EM ESPÉCIE: DOAÇÃO

DOADOR X DONATÁRIO
(quem doa) (quem aceita a doação)

CARACTERÍSTICAS DA DOAÇÃO:
a) Via de regra, é GRATUITA e UNILATERAL. Há doutrinadores que defendem que a doação com
encargo é BILATERAL ou UNILATERAL IMPERFEITA, em razão da onerosidade do encargo.
b) Será FORMAL e SOLENE se a doação tiver por objeto um imóvel em valor superior à 30x o
salário mínimo vigente.
c) Via de regra, precisa da ACEITAÇÃO do donatário, podendo o doador fixar um prazo para o
donatário dizer se aceita ou não a doação. No silencia do donatário, entende-se que este aceitou
(aceitação tácita), exceto se for uma doação com encargo (ou chamada de doação modal) em que não
há presunção de aceitação, pois há ônus ao donatário.
Atenção: se o donatário for absolutamente incapaz (menor de 16 anos) a aceitação é dispensada na
doação pura/simples.
A doação for feita em benefício de nascituro (aquele ou aquela que ainda não nasceu) precisa da
aceitação de seu representante legal (geralmente os pais ou tutores).
d) Sua forma geralmente é ESCRITA (seja por instrumento particular ou público). A doação VERBAL
só será válida se versar sobre coisas móveis de pequeno valor, ocorrendo imediatamente ou em ato
contínuo a tradição (entrega da coisa).

ESPÉCIES DE DOAÇÃO:
a) DOAÇÃO PURA (ou simples): é aquela que não é condicional, a termo ou modal. É SIMPLES, de
total liberalidade e benevolência, sem nenhuma exigência, condição, motivação, limitação. É a
doação mais comumente utilizada/conhecida.
b) DOAÇÃO MODAL (com encargo): está sujeita à um encargo, um ônus imposto ao donatário, trata-
se de uma pequena contraprestação. Ex: doarei um carro para meu sobrinho para que ele leve minha
filha na escola.
Atenção: Se o donatário não executa o encargo, perderá a doação ser revogada (art. 553, 555 e 562
do CC/02). E ainda, se o encargo for de interesse geral, o Ministério Público poderá exigir sua
execução depois da morte do doador (art. 553, parágrafo único do CC/02).
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c) DOAÇÃO CONDICIONAL: está vinculada a um evento futuro e incerto. Ex: doarei uma casa para
minha filha quando esta se casar.
d) DOAÇÃO A PRAZO OU A TERMO: está vinculada a um evento futuro e certo. Ex: doarei uma
casa para minha filha quando esta completar 30 anos.
e) DOAÇÃO EM CONTEMPLAÇÃO DE CASAMENTO FUTURO: trata-se de uma doação que é
condicionada (condição suspensiva) a casamento com certa e determinada pessoa e se aperfeiçoa
com o matrimônio.
f) DOAÇÃO A INCAPAZ (art. 542 e 543 do CC/02): aquela realizada em benefício de nascituro ou
menores de 16 anos (absolutamente incapazes). Só é cabível a doação pura/simples!
g) DOAÇÃO ILEGÍTIMA (art. 550 e 1749, II do CC/02): é aquela que é feita quando o doador ou
donatário não tem legitimidade para doar ou receber a doação. Ex. a doação para a amante (anulável
em até 02 anos), a doação realizada por tutor de bens do tutelado (nula).
h) DOAÇÃO EM FRAUDE CONTRA CREDORES: aquela realizada quando o devedor (insolvente)
resolve doar seus bens. É ANULÁVEL, com fulcro no art. 158 do Código Civil.
i) DOAÇÃO REMUNETARÓRIA: é aquela realizada como ato de gratidão, visando retribuir um favor
ou por serviços prestados. Ex. advoguei gratuitamente para João Joanino. Ele resolve me doar um
quadro de sua autoria em gratidão.
Atenção: a doação remuneatória não está sujeita à revogação por ingratidão.
O cônjuge poderá doar BENS COMUNS MÓVEIS sem outorga uxória se a doação for remuneratória.
Se for BENS IMÓVEIS, precisa da outorga uxória (art. 1.647, I e IV do CC/02)
j) DOAÇÃO CONTEMPATIVA OU MERITÓRIA: é aquela feita em contemplação a um
merecimento do donatário, onde o doador geralmente determina expressamente os motivos que o
fizeram decidir pela celebração do contrato de doação. Ex: João Joanino aprecia o seu trabalho como
advogado e resolve doar os livros de direito de sua biblioteca.
k) DOAÇÃO INOFICIOSA: é aquela que viola a legítima dos herdeiros necessários (descendentes,
ascendentes e cônjuge – art. 1.845 do CC/02), os quais se reconhece o direito à metade dos bens da
herança, ao que se denomina a “legítima” (art. 1.46 do CC/02). Trata-se de doação NULA em relação
ao que exceder a legítima – 50% dos herdeiros necessários.
l) DOAÇÃO UNIVERSAL: É nula a doação de todo o patrimônio do doador sem a reserva de parte ou
renda para sua subsistência. (art. 548 do CC/02) Essa vedação corrobora com a teoria do patrimônio
mínimo.
m) DOAÇÃO COM CLÁUSULA DE REVERSÃO: trata-se de cláusula expressa onde o doador
determina que caso o donatário morra primeiro do que ele, os bens retornarão ao seu patrimônio, ao
invés de seguirem para os filhos do donatário. Nesta espécie de doação, a propriedade do donatário é

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resolúvel, ou seja, não é plena, podendo ser resolvida (extinta) caso o donatário morra antes do doador.
Atenção: Morrendo o doador primeiro, a propriedade torna-se plena para o donatário.
n) DOAÇÃO EM ADIANTAMENTO DE LEGÍTIMA: ocorre quando o pai/mãe doa um bem ao filho
como antecipação de herança.
Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro,
importa adiantamento do que lhes cabe por herança.
o) DOAÇÃO SOB SUBVENÇÃO PERIÓDICA: ocorre quando o doador constitui uma renda (ex:
mesada) em favor do donatário (art. 545 do CC/02). Essa renda é personalíssima, e nem a obrigação
se transmite aos filhos do doador, e nem o benefício aos filhos do donatário.
p) DOAÇÃO CONJUNTIVA: é feita a mais de uma pessoa, distribuindo-se em geral por igual (art. 551
do CC/02) Ex. João Joanino decide doar sua Ferrari a Maria Mariana e Josa Josefina, presume-se que
trata-se de 50% para cada, podendo o doador estipular o percentual diverso.

REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO

A doação decorre de um ato de generosidade, benevolência, uma liberalidade e por isso – via de regra – a lei
não permite que o donatário seja ingrato com o doador.
Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:
I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de
homicídio doloso contra ele;
II - se cometeu contra ele ofensa física;
III - se o injuriou gravemente ou o caluniou;
IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este
necessitava.
Art. 558. Pode ocorrer também a revogação quando o ofendido, nos casos do
artigo anterior, for o cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou
irmão do doador.

Tomando o doador conhecimento destas condutas, deve processar o donatário no prazo de um ano para
recuperar a coisa doada (art. 559 do Código Civil).

O direito de revogar é irrenunciável, pode, porém não ser exercido.


Art. 560. O direito de revogar a doação não se transmite aos herdeiros do
doador, nem prejudica os do donatário. Mas aqueles podem prosseguir na ação

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iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatário, se este
falecer depois de ajuizada a lide.

A revogação não atinge terceiros, logo se o doador tiver alienado a coisa doada, o terceiro adquirente não será
prejudicado. Deverá sim o donatário indenizar o doador pelo equivalente, ou seja, poderá o doador mover
ação contra o donatário. Igualmente, em se tratando, por exemplo, de uma fazenda doada, a revogação da
doação não obrigará o donatário a devolver os frutos (ex: colheitas, crias dos animais, etc), apenas a fazenda
em si.
Art. 563. A revogação por ingratidão não prejudica os direitos adquiridos por
terceiros, nem obriga o donatário a restituir os frutos percebidos antes da
citação válida; mas sujeita-o a pagar os posteriores, e, quando não possa
restituir em espécie as coisas doadas, a indenizá-la pelo meio termo do seu
valor.

O direito de revogação da doação é personalíssimo, só o doador pode exercê-lo, salvo se ele tiver sido morto
pelo donatário, hipótese em que seus herdeiros poderão processar o donatário.

Atenção às doações que não se revogam por ingratidão:


Art. 564. Não se revogam por ingratidão:
I - as doações puramente remuneratórias;
II - as oneradas com encargo já cumprido;
III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural;
IV - as feitas para determinado casamento.

CONTRATOS EM ESPÉCIE: MANDATO

MANDANTE X MANDATÁRIO

ATENÇÃO: Diferença entre MANDATO e MANDADO.

ESPÉCIES E MANDATO:
a) LEGAL OU JUDICIAL: deriva da lei ou da ordem do juiz (ex: o pai representa o filho menor, o tutor
o órfão e o curador o mentalmente doente; o inventariante representa o espólio, etc.);

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b) CONSENSUAL OU VOLUNTÁRIA: decorre do contrato de mandato, é a representação que nos
interessa este semestre. Na representação legal não há mandato, não há contrato.

CONCEITO: contrato pelo qual o procurador/ou mandatário/ou representante se obriga a praticar atos
jurídicos em nome do mandante/ou representado. O mandato se prova através da procuração.
Mandato não se confunde com prestação de serviço, pois quando preciso de um
médico/engenheiro/psicólogo/arquiteto, o profissional vai agir em meu benefício, mas não em meu lugar.
Já o procurador representa o mandante, como o advogado substitui a parte perante o juiz. Assim, para o
trabalho do advogado, além do contrato de mandato, celebra-se também o contrato de prestação de serviço.
Mas os demais profissionais liberais prestadores de serviço não são nossos representantes, não tendo mandato.

ATOS JURÍDICOS: o mandatário fala em nome do mandante, prestando-se o mandato para atos jurídicos,
mas não para atos materiais ou fatos.

PROCURAÇÃO: é o instrumento do mandato, é o elemento exterior do mandato. É com a procuração que o


mandatário prova a terceiros que é o representante do mandante. Procuração não tem prazo, mas por cautela
pode o terceiro exigir procuração recente do mandatário.
O contrato de mandato pode ser verbal, mas a procuração precisa ser escrita e com a firma reconhecida. A
procuração para advogado atuar em Juízo dispensa a firma reconhecida pela responsabilidade do advogado.
Já analfabeto não pode passar procuração particular, exigindo-se procuração pública feita em qualquer
Cartório de Notas.

CARACTERÍSTICAS DO MANDATO: pode ser oneroso quando se paga uma remuneração ao procurador,
mas pode ser gratuito quando feito entre amigos. É sempre personalíssimo, pois se confia nas qualidades do
procurador.

OBRIGAÇÕES DO PROCURADOR: São obrigações do procurador:


a) aplicar toda sua diligência/capacidade em favor do mandante no cumprimento do mandato, observando
as instruções recebidas;
b) prestar contas de sua gestão.

Responde o procurador por perdas e danos caso exerça mal seus poderes, ou substabeleça a terceiros
incompetentes. Substabelecer é o mandatário se fazer substituir na execução do mandato; em geral o
procurador pode substabelecer, afinal se o mandante confia no procurador, confia também nas pessoas em

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quem o procurador confia, mas o substabelecimento pode ser expressamente vedado. No silêncio do
mandato, admite-se substabelecimento.

OBRIGAÇÕES DO MANDANTE: São obrigações do mandante:


a) passar a procuração;
b) adiantar o dinheiro para a execução do mandato (ex: o valor da inscrição no concurso);
c) pagar a remuneração ao mandatário se o contrato for oneroso;
d) cumprir as obrigações assumidas pelo mandatário

O mandatário pode exercer direito de retenção sobre bens do mandante, para forçar o mandante a cumprir suas
obrigações, nos casos do 664 e 681.

EXTINÇÃO DO MANDATO

Art. 682. Cessa o mandato:


I - pela revogação ou pela renúncia;
II - pela morte ou interdição de uma das partes;
III - pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer;
IV - pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio.

Art. 683. Quando o mandato contiver a cláusula de irrevogabilidade e o mandante o revogar, pagará perdas
e danos.

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