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12- REVISÃO CONSTITUCIONAL

REVISÃO CONSTITUCIONAL
• Artigo 284º (Competência e tempo de revisão)
1. A Assembleia da República pode rever a Constituição decorridos cinco anos sobre
a data da publicação da última lei de revisão ordinária.
2. A Assembleia da República pode, contudo, assumir em qualquer momento
poderes de revisão extraordinária por maioria de quatro quintos dos Deputados em
efectividade de funções.
• .A revisão constitucional é o modo específico de alterar a Constituição.
• Diferentemente da generalidade das leis ordinárias, a lei fundamental que é a
Constituição não pode ser livremente modificada a todo o tempo, nem por uma
maioria simples, nem pelo processo legislativo comum.
• Há prazos de revisão constitucional; requere-se uma maioria qualificada; segue-se
um processo legislativo especial. A Constituição é uma lei dotada de uma certa
rigidez, que a distingue da liberdade de modificação das leis ordinárias.
• Como lei necessária que é, a Constituição não pode ser revogada, só pode ser
modificada, e com limites materiais (art. 288°), pelo que está excluída também a
substituição global da Constituição por outra.
• A revisão é substancialmente diferente do caso de substituição de uma Constituição
por outra.
• Nesta verifica-se uma descontinuidade constitucional.
• Na revisão não se dá uma sucessão de ordens constitucionais, mas sim, apenas,
alterações parciais dentro da mesma ordem constitucional.
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• .Como decorre da epígrafe, este preceito define a competência e o tempo de


revisão.
• Quanto à competência, ela pertence exclusivamente à AR (v. art. 161°/a), estando
mesmo reservada aos deputados a iniciativa da revisão (art. 285°).
• A reserva do poder de revisão constitucional para a AR é congruente, por um lado,
com o princípio democrático-representativo e, por outro lado, com a formação
originária da própria CRP, aprovada que foi por uma assembleia constituinte (cfr.
Preâmbulo, in fine, e art. 296°).
• Daí que esteja afastado também o referendo, já como meio de revisão
constitucional, já como ratificação das leis de revisão constitucional (art. 115°-4/a).
• A Constituição pode ser submetida a revisão ordinária desde que tenham decorrido
cinco anos sobre a última revisão (n° 1), tendo poderes de revisão a AR em funções,
quando se perfaça o quinquénio, e as seguintes enquanto não se consumar a
revisão.
• Não pode iniciar-se processo de revisão antes de completado o quinquénio mas
também não tem de ser precedido de nenhuma resolução prévia da AR a deliberar
proceder à revisão, sendo o processo desencadeado automaticamente com a
apresentação de um projecto de revisão.
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• A revisão ordinária irá recair sempre sobre uma nova assembleia. Com efeito, se a
legislatura tem a duração de quatro anos (art. 171°-1) a revisão só pode fazer-se
decorridos cinco anos sobre a anterior revisão ordinária; nenhuma AR poderá
efectuar mais do que uma revisão ordinária.
• .A Constituição pode também ser submetida a revisão extraordinária, antes de
decorrido o quinquénio sobre a última revisão, desde que a AR assuma prévia e
expressamente poderes de revisão constitucional mediante deliberação aprovada
por uma maioria particularmente exigente — 4/5 dos deputados em efectividade de
funções (n° 2) —, abrindo-se então o processo normal de revisão.
• Trata-se de uma válvula de segurança para permitir antecipar a revisão, desde que
esta se torne imprescindível e inadiável; daí a exigência de maioria especialmente
qualificada.
• A Constituição não estabelece a exigência de que a assunção de poderes de revisão
deva indicar as matérias sobre que há-de incidir a revisão; mas a razão de ser da
revisão extraordinária assim o parece exigir, pois não é lógico considerar inadiável e
imprescindível uma revisão constitucional sem uma definição das matérias carecidas
dela.
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• .A assunção extraordinária de poderes de revisão constitucional (n° 2) só aproveita à


AR que a efectuou, caducando se esta não vier a proceder à revisão constitucional.
• Todavia, não existe prazo constitucionalmente marcado para se iniciar o processo
de revisão após a deliberação de assunção de poderes, podendo talvez considerar-
se aplicável por analogia o disposto no art. 285°-2 (trinta dias).
• A revisão constitucional extraordinária não interrompe a contagem do quinquénio
iniciado com a revisão ordinária precedente, pelo que não começa a contar-se novo
prazo para efeitos de nova revisão ordinária.
• Esta poderá iniciar-se na data em que poderia sê-lo se não se tivesse interposto a
revisão extraordinária.
• Assim, a revisão extraordinária é totalmente independente das revisões ordinárias.
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• Não pode iniciar-se processo de revisão antes de completado o quinquénio mas


também não tem de ser precedido de nenhuma resolução prévia da AR a deliberar
proceder à revisão, sendo o processo desencadeado automaticamente com a
apresentação de um projecto de revisão.
• A revisão ordinária irá recair sempre sobre uma nova assembleia. Com efeito, se a
legislatura tem a duração de quatro anos (art. 171°-1) a revisão só pode fazer-se
decorridos cinco anos sobre a anterior revisão ordinária; nenhuma AR poderá
efectuar mais do que uma revisão ordinária.
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• Artigo 285.º (Iniciativa da revisão)


. A iniciativa da revisão compete aos Deputados.
2. Apresentado um projecto de revisão constitucional, quaisquer outros terão de ser
apresentados no prazo de trinta dias.
• Uma das peculiaridades do procedimento de revisão constitucional consiste na
reserva de iniciativa dos deputados, — a iniciativa de revisão pertence aos
deputados — pelo que os restantes titulares do poder de iniciativa legislativa
ordinária — ou seja, os grupos parlamentares, enquanto tais, o Governo e as
Assembleias Legislativas das RAs e os grupos de cidadãos eleitores— não podem
apresentar projectos ou propostas de revisão (nem propostas de alteração aos
projectos de revisão apresentados pelos deputados).
• É este um dos traços da especificidade da formação das leis de revisão
constitucional (ou leis constitucionais, na terminologia da própria lei fundamental),
face às demais leis (leis ordinárias, hoc sensu).
• Trata-se de sublinhar a competência exclusiva da AR quanto à revisão constitucional,
não permitindo a iniciativa senão aos seus próprios membros (os deputados), que
através dela representam todos os cidadãos portugueses (art. 147°).
• A lógica desta solução impõe, por maioria de razão, que seja inconcebível a
possibilidade de o PR convocar extraordinariamente a AR para se ocupar da revisão
constitucional.
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• .A determinação de um prazo para a apresentação de outros eventuais projectos de


revisão (n° 2) — não sendo admitidos os que forem apresentados após o termo do
prazo — visa permitir a discussão conjunta dos diferentes projectos e impedir uma
grande dilação temporal, com o consequente arrastamento do processo de revisão.
• Trata-se de evitar o prolongamento desnecessário da situação de insegurança
constitucional inerente a todo o processo de revisão.
• Esta regra de concentração temporal dos projectos de revisão constitucional vale
tanto para as revisões ordinárias como para as extraordinárias.
• .Certas regras do processo legislativo comum são aplicáveis ao processo de
revisão constitucional, por não contrariarem a sua natureza. É o caso das que
respeitam à caducidade e irrepetibilidade dos projectos de revisão.
• Assim, se os projectos de revisão não forem votados na legislatura em que foram
apresentados, caducam (art. 167°-5).
• Se forem votados e não forem aprovados, não podem ser repetidos na mesma
sessão legislativa (art. 167°-4).
• Se se tratar de revisão ordinária, o processo pode ser retomado na sessão legislativa
seguinte, mediante apresentação de novo projecto de revisão constitucional.
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• Porém, se se tratar de processo extraordinário de revisão (art. 284°-2), a caducidade


dos projectos de revisão ou a rejeição das alterações propostas acarretam preclusão
dos poderes de revisão os quais só podem ser reassumidos mediante nova
resolução aprovada nos termos do art. 284°-2.
• .Os projectos de revisão delimitam o objecto da eventual revisão constitucional, não
podendo vir a ser aprovadas alterações que não tenham sido propostas ou de
preceitos cuja alteração não tenha sido proposta.
• Exceptuam-se naturalmente as alterações reflexas ou consequenciais, tornadas
necessárias por efeito da alteração de outros preceitos, a fim de harmonizar
globalmente o texto constitucional.
• No caso de revisão extraordinária, os projectos de revisão só podem incidir sobre as
matérias constantes da resolução de assunção de poderes de revisão
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• Artigo 286.º(Aprovação e promulgação)


1. As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de dois terços dos
Deputados em efectividade de funções.
2. As alterações da Constituição que forem aprovadas serão reunidas numa única lei
de revisão.
3. O Presidente da República não pode recusar a promulgação da lei de revisão.
• A regra da maioria de 2/3 dos deputados efectivos (n° 1) é um dos princípios
fundamentais do sistema de revisão (independentemente da natureza ordinária ou
extraordinária desta), marcando uma diferença de regime em relação às leis
ordinárias, para cuja aprovação basta, em geral, a maioria simples — ou seja, mais
votos a favor do que contra (v. art. 116°-3), salvo alguns casos particulares, em que a
Constituição exige a maioria absoluta (caso das leis orgânicas) ou de 2/3 dos
deputados presentes para a aprovação de certas leis ou para a sua confirmação em
caso de veto (v. arts. 168°-5, 136°-3 e 233°-3).
• A maioria de 2/3 é necessária para a aprovação de cada alteração, o que significa
que a votação da revisão constitucional é sempre feita na especialidade — i. é, em
relação a cada alteração em concreto — e pelo plenário da AR, não podendo ser
delegada numa comissão (cfr. art. 168°-3).
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• Na revisão constitucional existe apenas uma discussão votação na especialidade,


relativa a cada uma das alterações propostas;
• pois que os projectos de revisão não passam de conjuntos de propostas de alteração
constitucional avulsas (note-se que a Constituição fala em projectos de revisão
constitucional e não em projectos de lei de revisão constitucional), e também não
existe votação final global, pela mesma razão, sendo a lei de revisão constituída pelo
conjunto das alterações que tenham sido aprovadas (n° 2) e cuja aprovação não
pode ficar condicionada a uma ulterior votação global.
• Sendo a revisão constitucional uma questão exclusiva da AR dos deputados, na sua
discussão só podem intervir os deputados, estando excluída a participação do
Governo dos respectivos debates (cfr. art. 177°-1).
• De igual modo, parece não existir aqui o dever de audição dos órgãos regionais (art.
229°-2), mesmo quando haja propostas de alteração dos preceitos constitucionais
relativos às regiões autónomas, sem prejuízo de aqueles se poderem pronunciar por
sua própria iniciativa (art. 227°-1/u).
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• . .As leis de revisão (n° 2) não são mais do que o produto da reunião das alterações
da Constituição que tiverem sido aprovadas num determinado processo de revisão.
• O princípio da unicidade das leis de revisão é uma consequência directa da não
repetibilidade do uso dos poderes de revisão, isto é, do esgotamento dos poderes de
revisão com o seu uso por uma vez (cfr. art. 284°).
• Publicada uma lei de revisão, ficam esgotados os poderes de revisão, que só
poderão ser de novo utilizados após cinco anos (ressalvados os poderes de revisão
extraordinária).
• No caso de serem publicadas várias leis de revisão em resultado de um único
processo de revisão, só a primeira poderá considerar-se como constitucionalmente
válida, tendo de considerar-se inválidas (melhor: inexistentes) as seguintes.
• .As leis de revisão constitucional estão sujeitas a promulgação do PR — que não
pode ser recusada (n° 3).
• Não podendo haver recusa de promulgação, não pode o PR vetá-las, desde logo
por razões de mérito (cfr. art. 136°), o que é mais do que compreensível, já que a
revisão constitucional é uma questão exclusiva da AR, não podendo depender da
concordância do PR.
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• Artigo 287.º (Novo texto da Constituição)


1. As alterações da Constituição serão inseridas no lugar próprio, mediante as
substituições, as supressões e os aditamentos necessários.
2. A Constituição, no seu novo texto, será publicada conjuntamente com a lei de
revisão.
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• Limites materiais de revisão


• A existência de limites materiais de revisão assenta na ideia de que a revisão
constitucional, por mais extensa e profunda que possa ser, conserva um valor
integrativo da Constituição, no sentido de que deve deixar substancialmente idêntico
o sistema constitucional. A revisão serve para alterar a Constituição, mas não para
mudar de Constituição.
• Os limites materiais à revisão pretendem justamente impedir as revisões
aniquiladoras da identidade constitucional. Através deles garantem-se contra a
revisão constitucional os princípios fundamentais da Constituição, que precisamente
por isso formam o seu núcleo essencial, ou seja, aquele conjunto de princípios cuja
permanência se toma necessária para a própria continuidade daquela e cuja violação
afectaria a própria identidade da constituição material (mesmo não havendo ruptura
da identidade da constituição formal).
• Os limites materiais expressos têm carácter essencialmente declarativo, limitando-se
a revelar ou a explicitar o conteúdo nuclear da lei fundamental, que se haveria de
considerar garantido contra a revisão constitucional, mesmo na falta da sua
explicitação formal.
• Por outras palavras, os limites materiais expressos, na medida em que cumprem a
função de explicitação e certificação dos princípios essenciais da Constituição, isto é,
dos traços caracterizadores da sua identidade, são limites imanentes da revisão.
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• Artigo 288.º(Limites materiais da revisão)


As leis de revisão constitucional terão de respeitar:
a) A independência nacional e a unidade do Estado;
b) A forma republicana de governo;
c) A separação das Igrejas do Estado;
d) Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;
e) Os direitos dos trabalhadores, das comissões de trabalhadores e das associações
sindicais;
f) A coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social
de propriedade dos meios de produção;
g) A existência de planos económicos no âmbito de uma economia mista;
h) O sufrágio universal, directo, secreto e periódico na designação dos titulares
electivos dos órgãos de soberania, das regiões autónomas e do poder local, bem
como o sistema de representação proporcional;
i) O pluralismo de expressão e organização política, incluindo partidos políticos, e o
direito de oposição democrática;
j) A separação e a interdependência dos órgãos de soberania;
l) A fiscalização da constitucionalidade por acção ou por omissão de normas
jurídicas;
m) A independência dos tribunais;
n) A autonomia das autarquias locais;
o) A autonomia político-administrativa dos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
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• .O respeito da independência nacional e da unidade do Estado (al. a) impede, por


um lado, a integração de Portugal em qualquer outro Estado ou federação de
Estados e, por outro lado, a cisão ou federalização do Estado Português.
• Questão duvidosa é a de saber se, e em que medida, é que a garantia da
independência nacional limita a revisão constitucional no sentido de admitir a
integração de Portugal em organizações supranacionais .
• E também discutível se a garantia da unidade do Estado abrange a integridade
territorial (cfr. art. 5°), em termos de impedir o reconhecimento de qualquer cessão
ou separação territorial.
• A forma republicana de governo (al. b) não está expressamente garantida em
nenhuma singular disposição constitucional, salvo em certa sentido no art. 1°; mas
resulta genericamente da própria configuração do sistema político
• Este limite de revisão impede, desde logo, a restauração de qualquer forma
monárquica de governo, a alteração do modo de designação do PR (e a própria
denominação do cargo) no sentido vitalício ou hereditário, o estabelecimento de
quaisquer privilégios de nascimento, a atribuição ou reconhecimento de títulos
nobiliárquicos, etc.
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• Artigo 289.º
• Não pode ser praticado nenhum acto de revisão constitucional na vigência de estado
de sítio ou de estado de emergência.

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