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AS AUTONOMIAS REGIONAIS DOS AÇORES E DA MADEIRA

AS AUTONOMIAS REGIONAIS DOS AÇORES E DA MADEIRA

• Artigo 6.º (Estado unitário)


• 1. O Estado é unitário e respeita na sua organização e funcionamento o regime
autonómico insular e os princípios da subsidiariedade, da autonomia das autarquias
locais e da descentralização democrática da administração pública.
2. Os arquipélagos dos Açores e da Madeira constituem regiões autónomas dotadas
de estatutos político-administrativos e de órgãos de governo próprio
AS AUTONOMIAS REGIONAIS DOS AÇORES E DA MADEIRA

• Já vimos que Portugal é um Estado Unitário regional.


• Estado regional é aquele em que, uma única Constituição, estabelece a repartição
de competências políticas, legislativas e administrativas por dois escalões políticos
diferenciados: o poder central e os poderes regionais.
• O traço distintivo dos Estados regionais consiste, pois, no cometimento às regiões
(autónomas) de competências de carácter político, legislativo e tributário, sem que,
no entanto, lhes seja reconhecida qualquer autonomia constituinte. Quando muito,
mas não necessariamente, terão maior ou menor «margem de liberdade» na
conformação do seu estatuto autonómico.
• A generalidade dos autores consideram a autonomia como uma forma intermédia
entre o Estado federal e o unitário um tertius genus.
• O Estado regional surge com a Constituição espanhola de 1931 e a italiana de 1947.
• A criação de regiões autónomas foi a forma encontrada de obstar a pretensões
independentistas como aconteceu em Itália, entre nós com a Constituição de 1976
onde com a criação das regiões autónomas dos Açores e da Madeira se pretendeu
contrarias os movimentos independentistas dos Açores (FLA) e da Madeira
(FLAMA).
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• O mesmo com a Constituição espanhola de 1978 que dividiu a Espanha em regiões


autónomas. Todo o território espanhol foi dividido em regiões autónomas.
• Note-se que o preâmbulo da CE refere os “Povos de Espanha” e o artº 2º refere as
“nacionalidades” . Estatui:
• “A Constituição fundamenta-se na indissolúvel unidade da Nação espanhola, pátria
comum e indivisível de todos os espanhóis, e reconhece e garante o direito à
autonomia das nacionalidades e regiões que a integram e a solidariedade entre
todas elas”
• Em Espanha existem várias tensões nacionalistas e independentistas de que as
mais conhecidas são o País Basco e a Catalunha mas também, p. ex. a Galiza, a
Andaluzia, as Baleares, as Canarias.
• A autonomia foi a forma jurídico-constitucional de contrariar pretensões
independentistas
• Daí que se entenda que a autonomia está entre o Estado integrado e a
independência e que aquela termina onde começa esta.
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• Portugal constitui um Estado unitário regional.


• Unitário porque tem uma única Constituição
• Regional porque foram atribuídos aos Açores e à Madeira um Estatuto de autonomia
detendo poderes legislativos e um Executivo, as Assembleias legislativas regionais e
os Governos Regionais.
• Esses Estatutos não são Constituições. Embora a iniciativa de revisão do Estatuto
compita às Assembleias regionais a sua aprovação depende da Assembleia da
República.
• As RRAA têm competência de natureza política, legislativa e administrativa. Não têm
qualquer competência jurisdicional nem de revisão constitucional.
• Existe um único ordenamento jurídico português, uma única soberania, um único
poder constituinte e os poderes constituídos de que usufruem as regiões autónomas,
as autarquias locais e as demais entidades públicas são-no por força da Constituição
ou de lei, derivadamente.
• As regiões autónomas são entidades públicas territoriais tendo no seu território o
limite dos seus poderes. De igual modo a comunidade que lhe serve de substracto
pessoal é o conjunto de cidadãos aí residentes.
• A autonomia politico-administrativa dos arquipelagos dos Açores e da Madeira
constitui um limite material da revisão constitucional (artº 288º, al) o) CRP)
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• .
Artigo 226.º (Estatutos e leis eleitorais)
• 1. Os projectos de estatutos político-administrativos e de leis relativas à eleição dos
deputados às Assembleias Legislativas das regiões autónomas são elaborados por estas
e enviados para discussão e aprovação à Assembleia da República.
• 2. Se a Assembleia da República rejeitar o projecto ou lhe introduzir alterações, remetê-
lo-á à respectiva Assembleia Legislativa para apreciação e emissão de parecer.
• 3. Elaborado o parecer, a Assembleia da República procede à discussão e deliberação
final.
• 4. O regime previsto nos números anteriores é aplicável às alterações dos estatutos
políticoadministrativos e das leis relativas à eleição dos deputados às Assembleias
Legislativas das regiões autónomas.
• I — As regiões não possuem poder constituinte — porque não são Estados federados.
Intervêm, todavia, de modo qualificado no procedimento estatutário, através da reserva de
iniciativa originária sobre os estatutos e sobre alterações aos estatutos.
• Cada projecto de estatuto (ou de alteração ao estatuto existente) elaborado pela
respectiva assembleia legislativa regional é enviado para discussão e aprovação à
Assembleia da República.
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• Se o Parlamento rejeitar o projecto ou lhe introduzir alterações, remetê-lo-á à


assembleia legislativa regional para apreciação e emissão de parecer. Elaborado o
parecer, a Assembleia da República procederá à discussão e deliberação final (art.
226.° da Constituição).
• No demais, o processo é idêntico ao das restantes leis, havendo nomeadamente,
possibilidade de sujeição a veto político pelo Presidente da República (art. 136.°) e a
apreciação preventiva da constitucionalidade pelo Tribunal Constitucional, se o
Presidente a solicitar (arts. 278.° e 279.°).
• A tramitação legislativa dos estatutos regionais é diferente da das leis comuns.
• A iniciativa legislativa originária compete em exclusivo às Assembleias Legislativas
(n° 1) e a AR não pode alterar ou rejeitar definitivamente o projecto sem que a
Assembleia Legislativa se possa pronunciar sobre a rejeição ou sobre as alterações
introduzidas pela AR (nºs 2 e 3).
• A AR não está limitada a aprovar ou rejeitar o projecto; pode introduzir-lhe
alterações, propostas pelos deputados, mesmo contra a vontade da Assembleia
Legislativa. É portanto a AR que define o estatuto regional.
• As regiões autónomas não gozam do poder de auto-constituição ou de auto-
organização, isto é, não possuem autonomia estatutária.
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• Como outras categorias de leis presentes na ordem jurídica portuguesa — desde o


orçamento e a respectiva lei de enquadramento às leis de autorizações legislativas
— os estatutos devem considerar-se leis ordinárias reforçadas.
• Enquanto vigorarem, não podem ser contrariados por outras leis: a Assembleia da
República poderá, decerto. modificá-los a todo o tempo, mas com essa intenção
específica (e precedendo iniciativa regional, insista-se), não por disposição avulsa.
• Tão importante se revela este princípio — conexo com uma ideia de salvaguarda da
autonomia das regiões — que a Constituição coloca a ilegalidade decorrente da
violação das normas estatutárias (por normas emanadas dos órgãos regionais ou
por normas emanadas dos órgãos de soberania do Estado), a par da
inconstitucionalidade, no tocante ao regime de fiscalização (arts. 280.° e segs.).
• O regime de fiscalização da constitucionalidade — seja de fiscalização sucessiva
abstracta, seja de fiscalização concreta — estende-se à ilegalidade por infracção de
normas dos estatutos regionais (tal como, inversamente, se estende à ilegalidade
por infracção de princípios fundamentais de leis gerais da República por leis
regionais). Os tribunais em geral e o Tribunal Constitucional em particular são os
órgãos competentes (arts. 204.° e 280.° e segs.).
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• A função de cada estatuto (note-se político-administrativo) consiste em definir as


atribuições regionais (art. 227.° da Constituição) e o sistema de órgãos de governo
próprio da região, incluindo os estatutos dos respectivos titulares (art. 231.°); ou, em
geral, em desenvolver, explicitar ou concretizar as normas do título VI da parte III da
Lei Fundamental, adequando-as às especificidades e às circunstâncias mutáveis
dessa região; não consiste em estabelecer os princípios de toda a vida política,
económica, social e cultural que aí se desenrola, porque isso cabe à Constituição —
que é a Constituição da República, e não só do continente.
• Há uma reserva de estatuto, com a necessária densificação (quer dizer, com
adequado, útil e preciso preenchimento de conteúdo).
• Cabe-lhe assegurar um sistema político regional, mas não substituir-se-lhe ou
substituir-se aos órgãos de soberania.
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• . O conteúdo da autonomia regional


• I — A Constituição confere às regiões autónomas uma larga soma de poderes ou
atribuições de natureza política, legislativa e administrativa, sem paralelo em
qualquer outra experiência de descentralização do Direito português e que, em
alguns pontos, vai muito além do que se encontra em Direito comparado.
• As regiões autónomas portuguesas são chamadas a interferir em todas as funções
do Estado, excepto na função jurisdicional — reservada aos tribunais, que são
órgãos de soberania da República (arts. 110.° e 202.°) — e na revisão constitucional
— reservada ao Parlamento (arts. 161.° e 284.° e segs.), em consequência directa
do princípio do Estado unitário.
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• Artigo 227.º (Poderes das regiões autónomas)


• 1. As regiões autónomas são pessoas colectivas territoriais e têm os seguintes
poderes, a definir nos respectivos estatutos:
• a) Legislar no âmbito regional em matérias enunciadas no respectivo estatuto
políticoadministrativo e que não estejam reservadas aos órgãos de soberania;
• b) Legislar em matérias de reserva relativa da Assembleia da República, mediante
autorização desta, com excepção das previstas nas alíneas a) a c), na primeira parte
da alínea d), nas alíneas f) e i), na segunda parte da alínea m) e nas alíneas o), p),
q), s), t), v), x) e aa) do n.º 1 do artigo 165.º;
• c) Desenvolver para o âmbito regional os princípios ou as bases gerais dos regimes
jurídicos contidos em lei que a eles se circunscrevam;
• d) Regulamentar a legislação regional e as leis emanadas dos órgãos de soberania
que não reservem para estes o respectivo poder regulamentar;
• e) Exercer a iniciativa estatutária, bem como a iniciativa legislativa em matéria
relativa à eleição dos deputados às respectivas Assembleias Legislativas, nos
termos do artigo 226.º;
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• f) Exercer a iniciativa legislativa, nos termos do n.º 1 do artigo 167.º, mediante a


apresentação à Assembleia da República de propostas de lei e respectivas
propostas de alteração;
• g) Exercer poder executivo próprio;
• h) Administrar e dispor do seu património e celebrar os actos e contratos em que
tenham interesse;
• i) Exercer poder tributário próprio, nos termos da lei, bem como adaptar o sistema
fiscal nacional às especificidades regionais, nos termos de lei-quadro da Assembleia
da República;
• j) Dispor, nos termos dos estatutos e da lei de finanças das regiões autónomas, das
receitas fiscais nelas cobradas ou geradas, bem como de uma participação nas
receitas tributárias do Estado, estabelecida de acordo com um princípio que
assegure a efectiva solidariedade nacional, e de outras receitas que lhes sejam
atribuídas e afectálas às suas despesas;
• l) Criar e extinguir autarquias locais, bem como modificar a respectiva área, nos
termos da lei;
• m) Exercer poder de tutela sobre as autarquias locais; n) Elevar povoações à
categoria de vilas ou cidades
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• o) Superintender nos serviços, institutos públicos e empresas públicas e


nacionalizadas que exerçam a sua actividade exclusiva ou predominantemente na
região, e noutros casos em que o interesse regional o justifique;
• p) Aprovar o plano de desenvolvimento económico e social, o orçamento regional e
as contas da região e participar na elaboração dos planos nacionais;
• q) Definir actos ilícitos de mera ordenação social e respectivas sanções, sem
prejuízo do disposto na alínea d) do n.º 1 do artigo 165.º;
• r) Participar na definição e execução das políticas fiscal, monetária, financeira e
cambial, de modo a assegurar o controlo regional dos meios de pagamento em
circulação e o financiamento dos investimentos necessários ao seu desenvolvimento
económico-social;
• s) Participar na definição das políticas respeitantes às águas territoriais, à zona
económica exclusiva e aos fundos marinhos contíguos;
• t) Participar nas negociações de tratados e acordos internacionais que directamente
lhes digam respeito, bem como nos benefícios deles decorrentes;
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• u) Estabelecer cooperação com outras entidades regionais estrangeiras e participar


em organizações que tenham por objecto fomentar o diálogo e a cooperação inter-
regional, de acordo com as orientações definidas pelos órgãos de soberania com
competência em matéria de política externa;
• v) Pronunciar-se por sua iniciativa ou sob consulta dos órgãos de soberania, sobre
as questões da competência destes que lhes digam respeito, bem como, em
matérias do seu interesse específico, na definição das posições do Estado Português
no âmbito do processo de construção europeia;
• x) Participar no processo de construção europeia, mediante representação nas
respectivas instituições regionais e nas delegações envolvidas em processos de
decisão da União Europeia, quando estejam em causa matérias que lhes digam
respeito, bem como transpor actos jurídicos da União, nos termos do artigo 112.º
• 2. As propostas de lei de autorização devem ser acompanhadas do anteprojecto do
decreto legislativo regional a autorizar, aplicando-se às correspondentes leis de
autorização o disposto nos n.os 2 e 3 do artigo 165.º.
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• 3. As autorizações referidas no número anterior caducam com o termo da legislatura


ou a dissolução, quer da Assembleia da República, quer da Assembleia Legislativa a
que tiverem sido concedidas.
• 4. Os decretos legislativos regionais previstos nas alíneas b) e c) do n.º 1 devem
invocar expressamente as respectivas leis de autorização ou leis de bases, sendo
aplicável aos primeiros o disposto no artigo 169.º, com as necessárias adaptações.
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• Artigo 228.º (Autonomia legislativa)


• 1. A autonomia legislativa das regiões autónomas incide sobre as matérias
enunciadas no respectivo estatuto político-administrativo que não estejam
reservadas aos órgãos de soberania.
• 2. Na falta de legislação regional própria sobre matéria não reservada à
competência dos órgãos de soberania, aplicam-se nas regiões autónomas as
normas legais em vigor.
• Em princípio, aos órgãos legislativos centrais (ao Parlamento e, de certo modo, ao
Governo) compete legislar para todo o território nacional e aos órgãos legislativos
regionais legislar para as respectivas regiões autónomas.
• Contudo, nem sempre são os órgãos das regiões autónomas a legislar para as
regiões; podem ser também (ou têm mesmo de ser) órgãos centrais, órgãos de
soberania.
• Tal como nem sempre as leis os decretos-leis são para todo o território; podem ser
apenas para uma parte. Sucede isto, por um lado, porque Portugal não é um Estado
federal; continua sendo um Estado unitário, conquanto descentralizado; e, por outro
lado, porque não é um Estado regional integral, é um Estado regional parcial.
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• Assim, a distribuição do poder legislativo entre os órgãos de soberania e os órgãos


de autonomia assenta nas seguintes notas básicas:
• 1.°) Reserva absoluta (horizontal) de certas matérias ao Parlamento, à Assembleia
da República (arts. 161.°, 164.° e 165);
• 2.°) Reserva (vertical) de certas matérias às assembleias legislativas regionais [art.
227.°, n.° 1, alíneas c), 2.a parte, i), 1), n), p) e q)];
• 3.°) Poder das regiões de legislarem sobre quaisquer outras matérias, quando se
verifique interesse específico [arts. 112.°, n.° 4, 227.°, n.° 1, alíneas a), b) e c)],
recortado este a partir de três vectores — exclusividade, especialidade da matéria,
intensidade da relevância;
• 4.°) Consideração como sendo de interesse específico qualquer matéria que se
subsuma na lista constitucional (art. 228.°) ou estatutária ou que, em caso contrário,
satisfaça em concreto qualquer daqueles requisitos.
• 5.°) Fora da dupla reserva (da Assembleia da República e das assembleias
legislativas regionais), concorrência de competências legislativas, em moldes de leis
gerais — as leis gerais da República — e de leis especiais — os decretos legislativos
regionais;
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• 6.°) Prevalência material, por conseguinte, das leis gerais da República através dos
seus princípios fundamentais [arts. 112.°, n.° 4, 227.°, n.° 1, alínea a)], sendo ilegais
os decretos legislativos regionais que os contrariem [arts. 280.°, n.° 2, alíneas b) e
d), e 281.°, n.° 1, alínea c)] (1).
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• Artigo 231.º (Órgãos de governo próprio das regiões autónomas)


• 1. São órgãos de governo próprio de cada região autónoma a Assembleia
Legislativa e o Governo Regional.
• 2. A Assembleia Legislativa é eleita por sufrágio universal, directo e secreto, de
harmonia com o princípio da representação proporcional.
• 3. O Governo Regional é politicamente responsável perante a Assembleia Legislativa
da região autónoma e o seu presidente é nomeado pelo Representante da
República, tendo em conta os resultados eleitorais.
• 4. O Representante da República nomeia e exonera os restantes membros do
Governo Regional, sob proposta do respectivo presidente.
• 5. O Governo Regional toma posse perante a Assembleia Legislativa da região
autónoma.
• 6. É da exclusiva competência do Governo Regional a matéria respeitante à sua
própria organização e funcionamento.
• 7. O estatuto dos titulares dos órgãos de governo próprio das regiões autónomas é
definido nos respectivos estatutos político-administrativos.
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• Por órgãos de governo próprio entendem-se órgãos que reúnem duas


características: competência política, e não somente administrativa; e órgãos cujos
titulares são eleitos ou baseados em eleição regional, e não nomeados nem
dependentes do poder central.
• O Representante da República (artigo 230.°) é, em cada região autónoma, um dos
seus órgãos, por praticar actos que lhe são imputáveis e que se inserem em
procedimentos regionais; não é órgão de governo próprio.
• Só o são a Assembleia Legislativa e o Governo Regional.
• A autonomia política-administrativa em sistema democrático não consiste só na
concessão formal de um conjunto maior ou menor de poderes ou direitos.
• Consiste também, ou sobretudo, no exercício destes poderes e direitos por órgãos
democraticamente legitimados nas regiões: a assembleia legislativa regional e o
governo regional, que são os órgãos de governo próprio de cada região (arts. 6.°, n.°
2, e 231.°, n.° 1, da Constituição).
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• A assembleia legislativa regional é uma assembleia política representativa formada


nos termos gerais (arts. 10.° e 113.°).
• O governo regional é politicamente responsável perante ela e o seu presidente é
nomeado tendo em conta os resultados eleitorais (art. 231.°, n.° 3).
• A legislatura dura quatro anos (art. 17.°, n.° 1, do estatuto dos Açores e art. 14.°, n.°
1, do estatuto da Madeira).
• II — A assembleia legislativa regional é eleita por sufrágio universal, directo e
secreto, de harmonia com o princípio da representação proporcional (art. 231.°, n.°
2).
• Seguindo o sistema eleitoral consagrado na Constituição para o Parlamento, o
legislador ordinário estabeleceu, por seu lado, a divisão do território regional em
círculos eleitorais (correspondentes nos Açores a cada uma das nove ilhas e na
Madeira a cada um dos onze municípios); a reserva das candidaturas aos partidos,
embora com a possibilidade de candidatos não inscritos; e o método de Hondt como
método proporcional.
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• Artigo 230.º (Representante da República)


• 1. Para cada uma das regiões autónomas há um Representante da República,
nomeado e exonerado pelo Presidente da República ouvido o Governo.
• 2. Salvo o caso de exoneração, o mandato do Representante da República tem a
duração do mandato do Presidente da República e termina com a posse do novo
Representante da República.
• 3. Em caso de vagatura do cargo, bem como nas suas ausências e impedimentos, o
Representante da República é substituído pelo presidente da Assembleia Legislativa.
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• Artigo 232.º (Competência da Assembleia Legislativa da região autónoma)


• 1. É da exclusiva competência da Assembleia Legislativa da região autónoma o
exercício das atribuições referidas nas alíneas a), b) e c), na segunda parte da alínea
d), na alínea f), na primeira parte da alínea i) e nas alíneas l), n) e q) do n.º 1 do
artigo 227.º, bem como a aprovação do orçamento regional, do plano de
desenvolvimento económico e social e das contas da região e ainda a adaptação do
sistema fiscal nacional às especificidades da região.
• 2. Compete à Assembleia Legislativa da região autónoma apresentar propostas de
referendo regional, através do qual os cidadãos eleitores recenseados no respectivo
território possam, por decisão do Presidente da República, ser chamados a
pronunciar-se directamente, a título vinculativo, acerca de questões de relevante
interesse específico regional, aplicando-se, com as necessárias adaptações, o
disposto no artigo 115.º.
• 3. Compete à Assembleia Legislativa da região autónoma elaborar e aprovar o seu
regimento, nos termos da Constituição e do respectivo estatuto político-
administrativo.
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• 4. Aplica-se à Assembleia Legislativa da região autónoma e respectivos grupos


parlamentares, com as necessárias adaptações, o disposto na alínea c) do artigo
175.º, nos n.os 1 a 6 do artigo 178.º e no artigo 179.º, com excepção do disposto nas
alíneas e) e f) do n.º 3 e no n.º 4, bem como no artigo 180.º

• A assembleia legislativa regional tem competência exclusiva: na feitura das leis


regionais, sem possibilidade de delegação no governo regional: na iniciativa
legislativa perante o Parlamento; no exercício do poder tributário; na criação e na
extinção de autarquias locais; na definição de actos ilícitos de mera ordenação
social; na aprovação do orçamento regional, do plano económico e das contas da
região (art. 232.°).
• Além de órgão legislativo, a assembleia possui competência regulamentária (o que
não se verifica com a Assembleia da República).
• Cabe-lhe regulamentar as leis gerais emanadas dos órgãos de soberania que não
reservem para estes a sua regulamentação (art. 232 °, n.° 1) e regulamentar
decretos legislativos regionais, quando os respectivos decretos regulamentares
tenham sido objecto de veto do Ministério da República e o governo os converta em
propostas a ela submetidas (art. 233.°, n.° 4, in fine).
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• Artigo 233.º (Assinatura e veto do Representante da República)


• 1. Compete ao Representante da República assinar e mandar publicar os decretos
legislativos regionais e os decretos regulamentares regionais.
• 2. No prazo de quinze dias, contados da recepção de qualquer decreto da
Assembleia Legislativa da região autónoma que lhe haja sido enviado para
assinatura, ou da publicação da decisão do Tribunal Constitucional que não se
pronuncie pela inconstitucionalidade de norma dele constante, deve o Representante
da República assiná-lo ou exercer o direito de veto, solicitando nova apreciação do
diploma em mensagem fundamentada.
• 3. Se a Assembleia Legislativa da região autónoma confirmar o voto por maioria
absoluta dos seus membros em efectividade de funções, o Representante da
República deverá assinar o diploma no prazo de oito dias a contar da sua recepção.
4. No prazo de vinte dias, contados da recepção de qualquer decreto do Governo
Regional que lhe tenha sido enviado para assinatura, deve o Representante da
República assiná-lo ou recusar a assinatura, comunicando por escrito o sentido
dessa recusa ao Governo Regional, o qual poderá converter o decreto em proposta
a apresentar à Assembleia Legislativa da região autónoma.
• 5. O Representante da República exerce ainda o direito de veto, nos termos dos
artigos 278.º e 279.º.
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• Tal como as leis da AR e os decretos-leis, decretos regulamentares e restantes
decretos do Governo carecem também de promulgação ou assinatura do PR (art.
134°/b), os diplomas regionais necessitam de assinatura do Representante da
República (n° 1).
• Concretamente, precisam da assinatura do RR: os decretos legislativos regionais
(das Assembleias Legislativas), os decretos-regulamentares regionais de leis gerais
da República (das Assembleias Legislativas), os decretos-regulamentares dos
decretos legislativos regionais (dos governos regionais) e ainda os demais decretos
dos governos regionais («qualquer decreto», nos termos do n° 4).
• Embora a Constituição não o diga, a falta de assinatura do RR há-de equivaler à falta
de promulgação ou de assinatura do PR, determinando a inexistência jurídica do
acto (art. 137°).
• Cabe igualmente ao RR mandar publicar os referidos diplomas, desde logo no DR
(art. 119°-1/c e h, in fine).
• O RR pode, nos termos do art. 278°-2, requerer a fiscalização preventiva da
constitucionalidade (não da legalidade) dos diplomas provenientes da Assembleia
Legislativa (não dos do governo regional), tendo de vetá-los no caso de o TC se
pronunciar pela inconstitucionalidade, e podendo recorrer ainda ao veto «político»,
no caso de o TC não se pronunciar pela inconstitucionalidade (n° 2). No caso de o
governo ter convertido um decreto vetado em proposta de decreto regulamentar da
Assembleia (n° 4), o RR pode então submeter o novo decreto a fiscalização de
constitucionalidade, pois que já se está perante um decreto da Assembleia.
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• Artigo 234.º (Dissolução e demissão dos órgãos de governo próprio)


• 1. As Assembleias Legislativas das regiões autónomas podem ser dissolvidas pelo
Presidente da República, ouvidos o Conselho de Estado e os partidos nelas
representados.
• 2. A dissolução da Assembleia Legislativa da região autónoma acarreta a demissão
do Governo Regional, que fica limitado à prática dos actos estritamente necessários
para assegurar a gestão dos negócios públicos, até à tomada de posse do novo
governo após a realização de eleições.
• 3. A dissolução da Assembleia Legislativa da região autónoma não prejudica a
subsistência do mandato dos deputados, nem da competência da Comissão
Permanente, até à primeira reunião da Assembleia após as subsequentes eleições.
• A assembleia legislativa regional — e, consequentemente, o governo regional que
dela depende — pode ser dissolvida pelo Presidente da República, ouvidos o
Conselho de Estado e a Assembleia da República, mas somente por prática de actos
graves contrários à Constituição (art. 234.°, n.° 1).
• A fundamentação estrita desta medida na defesa da Constituição e os seus limites
processuais impedem qualquer decisão por critérios de conveniência ou discordância
política, e ainda qualquer analogia com a tutela sobre as autarquias locais (art.
242.°).

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