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clássico é a hiperinsulinemia, que leva à diminuição de hormônios, é endocitada pelas células do revestimento

receptores para insulina, o que pode ocorrer por diversos folicular e os hormônios são clivados por proteases
mecanismos distintos. lisossômicas.

Por outro lado, pode ocorrer supra-regulação, no afã São necessárias duas moléculas de tireoglobulina e
de aumentar a responsividade das células-alvo, aumentando o iodo para que o hormônio tireoidiano seja formado.
número de receptores após exposição prolongada a baixas Entretanto, algumas moléculas de tireoglobulina têm sítio de
concentrações de determinado hormônio. ligação para apenas um iodo (MIT = monoiodotirosina),
enquanto outras apresentam dois sítios de ligação para iodo
(DIT = di-iodotirosina). Assim, a união da primeira com a
HORMÔNIOS TIREOIDEANOS
segunda forma a triiodotironina (MIT + DIT = T3). De outro
A tireoide, localizada na região mediana do pescoço, modo, se duas moléculas com sítio de ligação para dois iodos
inferior à laringe e ântero-lateral à traqueia em nível de C5 a se unirem, haverá a formação de tiroxina (DIT + DIT = T4).
T1, é uma das maiores gls. endócrinas e secreta os hormônios
tireoideanos (HT): tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3), BIOSSÍNTESE DOS HORMÔNIOS TIREOIDEANOS
hormônios amínicos derivados da tirosina que aumentam
intensamente o metabolismo basal. Com efeito, a ausência 1. Captação ativa de iodeto: como cediço, os HT contêm
completa da secreção tireoidiana, em geral, faz com que o iodo, acreditando-se ser o único uso conhecido deste
metabolismo basal caia para 40% a 50% do normal, enquanto mineral no organismo humano. Contudo, advêm da
o excesso extremo de secreção pode aumentá-lo em 60% a alimentação na forma de iodeto (I-), que ganha a
100%. A tireoide também secreta calcitonina, importante no circulação sanguínea e é captado pelas células
metabolismo do cálcio e do fosfato. foliculares via transporte ativo, por meio de uma
proteína cotransportadora chamada NIS (sodium-
Trata-se de uma glândula endócrina atípica, pois além
iodide symporter), localizada na superfície basolateral
de iniciar suas funções na vida intrauterina (por volta da 7ª
da célula folicular. Neste sentido, a NIS promove a
semana gestacional), é capaz de armazenar suas secreções em
entrada de iodeto extracelular contra um gradiente
quantidade apreciável, aproximadamente equivalente ao
eletroquímico negativo, devido à maior concentração
quanto necessário para suprir o organismo por até três meses,
de iodo no interior da célula folicular, valendo-se de
o que é extremamente relevante do ponto de vista clínico, uma
energia oriunda da bomba de sódio potássio. É
vez que a sintomatologia decorrente de alterações na glândula
importante observar, ainda, que a bomba de iodeto é
somente se manifestará após a depleção dos estoques.
estimulada sobretudo pelo TSH, e que o transporte de
iodeto em direção ao coloide é feito por um
HISTOLOGIA transportador de ânions chamado pendrina (PDS).

A tireoide é caracterizada pela presença de folículos 2. Oxidação do iodeto: uma vez no interior da célula
tireoideanos, que são a unidade estrutural e funcional da folicular, o iodeto é oxidado pela enzima tireoide
tireoide, compostos de um epitélio simples envolvendo um peroxidase (TPO), localizada na membrana apical e
lúmen, preenchido por um colóide central. Cada folículo pode com a face catalítica voltada para o lúmen folicular.
armazenar o suprimento hormonal de várias semanas dentro Com efeito, a TPO, que também é estimulada pelo
do colóide. TSH, retira um elétron do iodeto, formando iodo, que
é o único capaz de se ligar diretamente com a
Entre os folículos tireoidianos, verifica-se uma extensa tireoglobulina.
rede capilar sanguínea e linfática, em um tecido conjuntivo
interfolicular frouxo, onde se localiza, também, a chamada 3. Iodação: a iodação ou organificação da tireoglobulina
célula C ou célula parafolicular, produtora de calcitonina, que ocorre no coloide e traduz a incorporação, por
regula o metabolismo do cálcio e do fosfato. iodação, de iodo oxidado aos resíduos de tirosina da
molécula de tireoglobulina. Com efeito, quando uma
Os hormônios T4 e T3 são armazenados no colóide, que molécula de iodo é incorporada à tirosina, forma-se
é constituído por uma grande glicoproteína de secreção monoiodotirosina (MIT) e, diversamente, quando dois
chamada tireoglobulina. Em verdade, os HT se formam no iodos são incorporados, forma-se a di-iodotirosina
interior da molécula de tireoglobulina, esta que é formada nas (DIT). Vale observar que a ligação do iodo oxidado à
células foliculares a partir de aminoácidos de tirosina captados tirosina é extremamente lenta, contudo, na tireoide,
da circulação. Quando os hormônios estão prestes a serem ocorre em segundos ou minutos por ação da TPO.
liberados, a tireoglobulina, que representa o precursor dos

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4. Acoplamento: ocorre no colóide, separadamente da MECANISMO DE AÇÃO DOS HT
iodação, sendo também catalisada pela TPO. Ainda
ligadas à tireoglobulina, algumas tirosinas (MIT ou DIT) Como cediço, os HT são hormônios derivados de
se acoplam e geram tironinas iodadas. Com efeito, aminoácidos de tirosina, ou seja, não são nem propriamente
MIT + DIT = T3 (ou, em 1% dos casos, T3 reversa, que esteroidais nem proteicos. Dada sua constituição química,
tem efeito biológico distinto), enquanto DIT + DIT = T4. afiguram-se aptos a penetrar a membrana das células-alvo,
onde se comportarão de maneira distinta.
5. Proteólise da tireoglobulina: quando a síntese
hormonal está completa, o complexo tireoglobulina- Por anos pensou-se que o T4 era o hormônio ativo,
T3/T4 é recapturado pelas células foliculares em porém, hoje é certo que o T3 é 3 a 5 vezes biologicamente mais
vesículas endocíticas. Com efeito, em resposta ao ativo, sendo o verdadeiramente atuante nas células-alvo.
estímulo do TSH, formam-se pseudópodes na Ademais, sabe-se que as células-alvo produzem cerca de 85%
membrana apical da célula folicular, que capturam do T3 ativo por meio de enzimas presentes em quase todas as
vesículas de coloide, cuja presença no citoplasma das células humanas, chamadas deiodinases, que removem um
células foliculares atrai lisossomos com função iodo do T4. Com efeito, a ativação do hormônio no tecido-alvo
proteolítica, que digerem as moléculas de acrescenta um nível de controle, pois os tecidos-alvo
tireoglobulina e, assim, forma-se um pool de individualmente podem controlar sua exposição ao hormônio
hormônios livres que, eventualmente, ganharão a ativo, regulando sua síntese enzimática tecidual.
circulação por difusão.
Contudo, em que pese ambos possam penetrar a
Vale observar que cerca de 93% dos hormônios membrana celular, certo é que os receptores dos HT
secretados pela tireoide são formados por T4 (pró-hormônio) e encontram-se no núcleo e são altamente específicos apenas
apenas 7% por T3 (hormônio ativo). Entretanto, após poucos para T3, de cujo acoplamento resultam, sobretudo, uma série
dias, cerca da metade da tiroxina é lentamente desiodada, de efeitos genômicos. Sendo assim, o mecanismo de ação de T3
formando mais T3. Sendo assim, o hormônio finalmente e T4 são distintos:
transportado e utilizado pelos tecidos consiste, em sua maior
parte, em T3.

TRANSPORTE DOS HT PARA OS TECIDOS

Apenas uma pequena fração de HT (0,02%) se


encontra na forma de hormônios livres, que são os únicos que
efetivamente atuam nas células-alvo. Isto pois, no plasma, os
HT se ligam com grande afinidade, porém reversivelmente, a
várias proteínas transportadoras. Com isso, prolonga-se a vida
do hormônio na circulação, garantindo o aporte necessário
quando a fração livre restar inteiramente consumida. o Após a entrada na célula-alvo, T3 se liga aos receptores
nucleares de HT (TR, thyroid hormone receptor), com
As proteínas transportadoras são sintetizadas no
função de fator transcricional, intermediando a ação
fígado e as principais delas são: (i) TBG (thyroid binding protein);
nuclear do HT na regulação da expressão gênica. Ou
(ii) TTR (transthyretin), conhecida anteriormente como pré-
seja, os receptores ativados iniciam o processo de
albumina ligadora de tiroxina (TBPA); e (iii) albumina.
transcrição e formam um grande número de RNAm
Neste particular, observa-se que T4 tem maior diferentes que, após minutos ou horas, são traduzidos
afinidade, sendo liberado muito lentamente para as células nos ribossomos citoplasmáticos e formam centenas de
teciduais: metade da tiroxina sanguínea é liberada, novas proteínas intracelulares.
aproximadamente, a cada seis dias, enquanto metade do T3,
devido a sua menor afinidade com as proteínas o Após a entrada na célula-alvo, T4 poderá ter dois
transportadoras, é liberado para as células em cerca de um dia. desfechos: (i) transformar-se em T3, perdendo um iodo,
pela ação da desiodase, para então gerar os mesmos
Ao penetrar as células, ambos se ligam, novamente, a efeitos nucleares supra descritos, cabendo observar
proteínas intracelulares, sendo a ligação de T4 também mais que no fígado e no rim, por abundância de desiodase,
forte neste contexto. há produção de T3 para consumo interno e, ainda, para
liberação de excedentes de T3 na corrente sanguínea;
ou (ii) a presença de T4 no citosol, por si só, já é
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suficiente para estimular a atividade das mitocôndrias, Além do apetite maior e da ingestão alimentar, o HT
aumentando a produção de ATP. aumenta a produção de secreções digestivas e a motilidade do
TGI. O hipertireoidismo, portanto, frequentemente resulta em
diarreia, enquanto a falta de HT pode causar constipação.
EFEITOS DOS HT
• SOBRE O METABOLISMO BASAL
• SOBRE O CRESCIMENTO
Em linhas gerais, o metabolismo basal é a quantidade
Os HT provocam efeitos gerais e específicos sobre o de energia necessária para o metabolismo em um indivíduo em
crescimento, sobretudo em crianças. Com efeito, crianças que repouso, sem estresse, mantido a temperaturas constantes
apresentam hipotireoidismo podem apresentar crescimento após 12 ou 14h sem alimentação. Com efeito, os HT aumentam
retardado, enquanto crianças com hipertireoidismo podem a atividade metabólica de quase todos os tecidos corporais, de
apresentar crescimento esquelético excessivo. Assim, há uma modo que o metabolismo basal aumenta de 60% a 100%.
ação sinérgica entre o GH e as somatomedinas na formação
óssea. Neste sentido, sabe-se que os HT aumentam o
transporte ativo de íons através das membranas celulares pela
Ademais, um importante efeito dos HT é a promoção bomba de sódio e potássio, aumenta o número e a quantidade
do crescimento e desenvolvimento do cérebro durante a vida das mitocôndrias, aumenta o consumo de oxigênio e, também,
fetal e nos primeiros anos da vida pós-natal. Vale observar que aumenta a produção de calor (efeito termogênico).
disfunções tireoidianas podem ser detectadas no teste do
pezinho. • SOBRE O METABOLISMO DE MACROMOLÉCULAS

• SOBRE O SNC EFEITOS METABÓLICOS


↑ Anabolismo proteico
Proteínas
Em geral, o HT aumenta a velocidade da atividade ↑ Catabolismo proteico
cerebral, estimula a produção de mielina, bem como a ↑ Lipogênese no fígado e tecido adiposo
liberação de neurotransmissores, além de participar na Lipídeos ↑ Lipólise nos mesmos tecidos
↑ Degradação do colesterol
formação de sinapses.
↑ Absorção intestinal de glicose
↑ Gliconeogênese
Por ser assim, indivíduos com hipertireoidismo podem Carboidratos
↑ Captação de glicose (sinergismo com insulina)
apresentar nervosismo e tendências psiconeuróticas, tais como ↑ Glicólise
complexos de ansiedade, preocupação excessiva e paranoia.
Diversamente, o hipotireoidismo pode causar, no
desenvolvimento intra-uterino e infantil, retardamento mental Como se observa, é um hormônio que vai do
conhecido como cretinismo, bem como, na vida adulta, apatia, anabolismo ao catabolismo (ciclo de substrato): ao mesmo
lentidão dos movimentos, sonolência, comprometimento da tempo que, por exemplo, realiza lipogênese, também faz
memória e capacidade mental reduzida. lipólise, ou, ao mesmo tempo que faz gliconeogênese, realiza
glicólise.
• SOBRE O SISTEMA CARDIOVASCULAR
Os HT estimulam em quase todos os aspectos o
O HT apresenta acentuado efeito cronotrópico e metabolismo de carboidratos, incluindo a captação rápida de
inotrópico no coração, produzindo efeitos similares aos glicose, gliconeogênese, absorção pelo TGI e, até mesmo, da
induzidos pelas catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e secreção de insulina.
dopamina), estimulando a função cardíaca. Ademais, promove
vasodilatação em face do aumento do metabolismo tecidual No metabolismo lipídico, observa-se principalmente a
que, por óbvio, aumenta o consumo de oxigênio. rápida mobilização a partir do tecido adiposo, o que reduz o
acúmulo de gordura e acelera a concentração de AGL no
• SOBRE O SISTEMA RESPIRATÓRIO plasma, os quais são mais acentuadamente oxidados pelas
células. Sobre as gorduras plasmáticas e hepáticas, observa-se
Um maior metabolismo aumenta a utilização de
a redução das concentrações de colesterol, fosfolipídios e TAG,
oxigênio e a formação de CO2, sendo certo que estes efeitos
em que pese o aumento de AGL.
elevam a frequência e a profundidade da respiração. Ademais,
o HT estimula a produção de surfactante. Tanto a síntese quanto a degradação proteicas são
estimuladas pelo HT. O estímulo da síntese pode ser
• SOBRE O SISTEMA DIGESTÓRIO
responsável por parte do efeito termogênico do HT, sendo
certo, ainda, que o crescimento normal está diretamente
relacionado com a promoção dessa síntese proteica.
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CLÍNICA intolerantes ao frio pela baixa produção de calor interno. Com
a baixa produção de proteínas, as unhas se tornam
Hipertireoidismo: aumenta o consumo de oxigênio e a quebradiças, ocorre perda de cabelo e a pele se torna fina e
produção metabólica de calor. Devido ao calor interno gerado, seca, podendo ocorrer mixedemas (bolsas abaixo dos olhos). A
os pacientes têm pele quente e suada, podendo se queixar de alteração cardiovascular primária e a bradicardia.
intolerância ao calor. Ademais, o excesso de hormônios da
tireoide aumenta o catabolismo das proteínas e pode causar Assim como no hipertireoidismo, o hipotireoidismo
fraqueza muscular, bem como perda de peso. Sobre o sistema pode ser decorrente de doenças na própria tireoide
nervoso, verifica-se reflexos hiperexcitáveis e transtornos (hipotireoidismo primário) ou de doenças na hipófise
psicológicos. Há, ainda, influência nos receptores beta (hipotireoidismo secundário). Uma forma de determinar o tipo
adrenérgicos do coração, levando a batimentos rápidos e de hipotireoidismo é através da dosagem de TSH: no caso da
aumento da força de contração. A causa mais comum de doença primária, a produção de T3 e T4 fica comprometida por
hipertireoidismo é a doença de Graves, em sede da qual o problemas na tireoide, independentemente dos níveis de TSH.
corpo produz anticorpos (imunoglobulinas estimuladoras da Por isso, a baixa quantidade de hormônios tireoidianos
tireoide) que mimetizam a ação do TSH, ligam-se aos circulantes estimula a hipófise de forma contínua, o que
receptores de TRH na tireoide e causam hipertrofia da glândula acarreta altas taxas de TSH no organismo. Já no caso da doença
(bócio), bem como os sintomas clássicos do excesso de HT. secundária, há deficiência na produção de TSH em quantidades
normais mesmo com baixo feedback negativo (baixos níveis de
O hipertireoidismo pode ser decorrente de doenças TSH), o que faz com que a tireoide não seja estimulada o
na própria tireoide (hipertireoidismo primário) ou de doenças suficiente para produzir e secretar os níveis fisiológicos de
na hipófise, como tumores nas células produtoras de TSH hormônios tireoidianos.
(hipertireoidismo secundário). Uma forma de determinar o tipo
de hipertireoidismo é através da dosagem de TSH: no caso da
doença primária, a produção de T3 e T4 passa a ser REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DOS HT
independente da regulação do hormônio tireotrófico, e as taxas
O controle da secreção dos HT segue o padrão
elevadas de hormônios tireoidianos realizam feedback negativo
hipotalâmico-hipofisário-glândula endócrina periférica. O
intenso na hipófise (altos níveis de T3 e T4 e baixos níveis de
hormônio liberador de tireotrofinas (TRH) do hipotálamo
TSH). Já no caso da doença secundária, o tumor na hipófise faz
controla a secreção do hormônio adenohipofisário, a
com que as células produtoras de TSH fiquem irresponsivas ao
tireotrofina, também conhecida como hormônio estimulador
feedback negativo dos hormônios tireoidianos,
da tireoide (TSH). O TSH, por sua vez, atua na glândula tireoide
hiperestimulando a tireoide de forma contínua (altos níveis de
para promover a síntese de HT, que geralmente atuam como
TSH).
sinal de retroalimentação negativa para evitar a hipersecreção.
Hipotireoidismo: diminui o consumo de oxigênio e a
taxa metabólica, de modo que os pacientes se tornam mais

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