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ELEMENTOS DE

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

1. A análise estratégica da escola


9. A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO

Évora José Manuel L. Saragoça


Dezembro de 2014 [Deptº. de Sociologia da Universidade de Évora - Portugal]

Análise Estratégica da Escola Vocabulário Prático da Análise Estratégica


[1/2]

“O estudo do funcionamento do sistema das pessoas nas organizações ACTOR


tem que procurar compreender como os homens gerem a sua
AUTORIDADE
interdependência e estruturam a sua cooperação” - Friedberg, 1994
APOSTA
FUNÇÃO
“Qualquer organização pode ser vista como uma solução concreta entre a INFLUÊNCIA
liberdade dos actores e a cooperação com vista à prossecução de acções PODER
comuns ” - Crozier e Friedberg
RACIONALIDADE
RESPONSABILIDADE
“A escola pode ser considerada como uma organização concreta que pode e SISTEMA
deve ser vista como um conjunto de mecanismos redutores que restringem
SISTEMA CONCRETO DE ACÇÃO
consideravelmente as possibilidades de negociação dos actores e permitem
assim resolver problemas de cooperação” - Alves-Pinto, 1995 ZONA DE INCERTEZA

- Philippe Bernoux, A Sociologia das Organizações, p. 162-163


Postulados da Análise Estratégica

1. Os homens nunca aceitam ser tratados como meios ao serviço de fins que as
organizações fixam para a organização cada um tem os seus objectivos,
os seus fins próprios, não necessariamente opostos…;

2. A liberdade relativa dos actores numa organização, qualquer actor guarda


uma possibilidade de actuação autónoma, que utiliza sempre mais ou A ESTRATÉGIA DOS ACTORES
menos (a autonomia está no centro da análise estratégica).

3. Nestes jogos de poder, as estratégias são sempre racionais, mas duma


racionalidade limitada devendo ter em conta as estratégias dos outros e
os constrangimentos do meio, nenhum actor tem tempo e meios para
encontrar a solução mais racional em absoluto para atingir os seus fins.

- Philippe Bernoux, A Sociologia das Organizações, p.126-131

As Estratégias dos Actores [1/2] As Estratégias dos Actores [2/2]

Partindo da ideia e objectivo do projecto: os actores raramente tem objectivos O comportamento tem um significado em si mesmo. Ainda que não haja um
claros e projectos coerentes; os projectos são múltiplos, ambíguos e não objectivo claro e racional, existe um sentido: o actor atribui sempre um sentido
necessariamente declarados, por vezes contraditórias (duma racionalidade à sua acção;
técnica e simplista);

O significado depende do contexto (a acção de outros actores) e das


A ambiguidade não significa acaso ou incerteza, significa que um elemento oportunidades;
pode ser interpretado de várias formas, sem que se conheça a versão correcta:
o actor irá descobrir outros projectos, outros objectivos que não os
originalmente estabelecidos ao longo do processo; O comportamento estratégico tem dois aspectos: ofensivo e defensivo;

Todo o comportamento é acção: mesmo a não acção é uma acção (inacção é O conceito de estratégia está ligado ao conceito de poder através do conceito
uma escolha, portanto, uma acção); de "zona de incerteza": os jogadores podem fazer ou não fazer nada, agir no
curto prazo, evitar, encontrar soluções para melhorar lentamente ou não.
Conceitos-chave da Análise Estratégica A Grelha da Análise Estratégica

Descrição global dos dados gerais da empresa e


1. SISTEMA CONCRETO DE ACÇÃO dos seus produtos/serviços.

ESTRUTURA FORMAL ESTRUTURA INFORMAL

2. ZONA DE INCERTEZA Descrição da organização das Descrição dos procedimentos e


regras formais. interacções informais.
Identificar essas regras, o papel Descrição dos acontecimentos
da hierarquia organizacional e o imprevistos e/ou conflituosos,
circuito oficial dos as zonas de incerteza.
3. PODER procedimentos analíticos. Observação das relações de
afectividade entre os indivíduos
e grupos.

O indivíduo e as suas determinações


Determinantes Determinantes
Individuais Colectivas

Motivações O meio

Lógicas de Sistema sociopolítico


Actor
Novas formas de
educação

Novas formas sociais


2. (Algumas) Dimensões organizacionais da escola
Organização Relação de poder
Suas estruturas, no trabalho Novas tecnologias
oportunidades quotidiano
Pressão económica
Normas de
comportamento
A organização

A LÓGICA DO ACTOR NA ORGANIZAÇÃO


- Philippe Bernoux, A Sociologia das Organizações, p.26
Conceito de Poder

TIPOS IDEIAIS, SEGUNDO MAX WEBER:

1. Poder Racional-Legal

O PODER NA ESCOLA 2. Poder Tradicional

3. Poder Carismático

As Fontes do Poder As Fontes do Poder


Tipos de Poder nas Organizações (Friedberg):
1. Posse duma competência ou duma especialização funcional dificilmente
substituível;
1. Domínio de uma competência particular;

2. Domínio das relações habituais da empresa com o meio; 2. Capacidade de relacionamento com os meios envolventes;

3. Domínio das informações pertinentes (conhecer os “gatekeepers”) e capacidade da


3. Domínio duma eficaz rede de comunicações;
sua descodificação;

4. Conhecimento e boa utilização das regras organizacionais. 4. Definição de regras gerais.

O domínio de zonas de incerteza pertinentes para a organização é fonte


O domínio de zonas de incerteza pertinentes para a organização é fonte de poder. O poder é tanto maior quanto mais vital for a zona de incerteza
de poder. O poder é tanto maior quanto mais vital for a zona de incerteza que é controlada pela pessoa.
que é controlada pela pessoa.
- Michel Crozier e Erhard Friedberg, L’Acteur et le Systéme in Conceição Alves-Pinto, 1995
Diagnóstico do Poder numa Organização

Os actores;
As expressões (comportamentos);
As componentes: formal versus informal;
As principais fontes; A PARTICIPAÇÃO NA ESCOLA
Os locais sensíveis;
As estratégias e os jogos políticos.

A Participação A Participação na Escola

PARTICIPAÇÃO NA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA DA ACÇÃO: FORMAS DE ESTAR NA ESCOLA – TIPOS DE PARTICIPAÇÃO:

• Qualquer comportamento implica acção;


1. Convergente aceitação e respeito pelas regras (ainda que associadas a
insatisfação e/ou crítica);
• Toda a pessoa que pertence a uma organização a todo o momento está a participar na vida da
organização.
2. Divergente desrespeito/subversão das regras de interdependência social;
• As pessoas na organização assumem a condição de actores uma vez que elaboram estratégias para
concretizar objectivos. 3. Participação apática não se questionam as regras nem se investe na cooperação;

• A sua participação pode revestir diversas modalidades em função dos ganhos / perdas que a pessoa /
4. Abandono resultante da degradação da cooperação e subversão do controlo.
actor anteveja como resultado da sua participação.

• Participar na organização não deixa de ser uma estratégia racional dos actores, e, por isso, a não
participação é, também, uma modalidade de participação.

• Participação ou não participação são orientações opostas que caracterizam a forma como os actores se
situam na organização. in Conceição Alves-Pinto, 1995
A Participação na Escola

TIPOS DE POSTURAS DOS PROFESSORES:


(Alonso Hinojal, 1991):

a) ADAPTADO – aceita fins e meios disponíveis;


O CLIMA DA ESCOLA
b) RITUALISTA – rejeita fins mas usa os meios como se os aceitasse; (e a sua eficácia)
c) INOVADOR – aceita fins; procura novos meios com que alcançá-los;

d) DESERTOR – abandona o projecto, rejeitando objectivos e meios.

in JALDÓN e GÓMEZ, 2002

O Clima na Escola O Clima na Escola

O clima organizacional diz respeito às percepções dos actores escolares GRANDES VARIÁVEIS DETERMINANTES DO CLIMA...
em relação às práticas existentes numa dada organização.

O êxito de novas políticas ou de novas estratégias de desenvolvimento a) Estrutura -> características físicas de uma organização (por exemplo,
organizacional está estreitamente dependente da natureza dimensão, níveis hierárquicos, descrição das tarefas).
do clima da escola.

b) processo organizacional -> forma como são geridos os recursos humanos


IMPLICAÇÕES DO CLIMA DA ESCOLA: (por exemplo, estilo de gestão, modos de comunicação, modelos de gestão de
conflitos).
Determina a qualidade de vida e a produtividade dos docentes e dos alunos. O
clima é um factor crítico para a saúde e para a eficácia de uma escola" (Fox.
1973: 5-6). c) variáveis comportamentais -> funcionamentos individuais e de grupo
(respectivamente atitudes, personalidade, capacidades e estrutura, coesão,
Actua como catalisador dos comportamentos observados nos actores de uma normas, papéis).
organização.
BIBLIOGRAFIA

BERNOUX, Philippe (1995). A Sociologia das Organizações. Porto: Rés.

BRUNET, Luc (1992). “Clima de Trabalho e Eficácia da Escola”. In: NÓVOA,


António. As organizações escolares em análise. Lisboa: Publicações
Dom Quixote, 1992, p. 125-140.

COSTA, Jorge Adelino (1996). Imagens Organizacionais da Escola. Porto:


Edições ASA

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