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Disciplina

Língua Portuguesa Vocábulo

Coordenador da Disciplina

Professora Maria Claudete Lima


11ª Edição
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores.

Créditos desta disciplina

Realização

Autor

Prof. Paulo Mosânio Teixeira Duarte / Profª. Maria Claudete Lima


Sumário
Aula 01: Noções Básicas: Vocábulo, Morfema, Classe e Categoria ..................................................... 01
Tópico 01: A Noção de Vocábulo .......................................................................................................... 01
Tópico 02: A Noção de Morfema .......................................................................................................... 04
Tópico 03: As Noções de Classe e Categoria ........................................................................................ 06

Aula 02: O Vocábulo e seus constituintes ............................................................................................... 08


Tópico 01: A estrutura do vocábulo: noções de raiz e afixo .................................................................. 08
Tópico 02: Processos morfológicos ....................................................................................................... 10

Aula 03: Os Vocábulos em português ..................................................................................................... 13


Tópico 01: Introdução ............................................................................................................................ 13
Tópico 02: O Nome e o Verbo ............................................................................................................... 15
Tópico 03: O verbo e suas categorias..................................................................................................... 19

Aula 04: Tipos de vocábulos..................................................................................................................... 25


Tópico 01: Os pronomes e artigos.......................................................................................................... 25
Tópico 02: Os numerais ......................................................................................................................... 30
Tópico 03: Os advérbios ........................................................................................................................ 32
Tópico 04: Os conectivos ....................................................................................................................... 34
Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 01: Noções Básicas: Vocábulo, Morfema, Classe e Categoria

Tópico 01: A Noção de Vocábulo

Toda área do conhecimento usa termos técnicos. A Linguística, por exemplo, tem
seu vocabulário próprio, embora algumas vezes se aproprie de palavras de uso comum
atribuindo a estas um sentido específico.

Na Morfologia, área relativa à disciplina abordada aqui, quatro termos são básicos:
vocábulo ou palavra, morfema, classe e categoria. Vamos tratar de cada um deles em
tópicos separados.

Antes de discutirmos a noção de vocábulo, cabe esclarecer que há autores que usam apenas o termo
palavra, em suas múltiplas acepções. Outros preferem usar o termo vocábulo por ser mais técnico. Já
outros usam um e outro indiscriminadamente. Aqui adotamos esta terceira posição.

OBSERVAÇÃO
Todos nós temos uma intuição do que é palavra, o que se evidencia em várias circunstâncias de
nossa vida. Ao escrevermos um resumo, por exemplo, fazemos isto com um número limitado de
palavras. Quando não entendemos algo, às vezes, o problema resulta de não conhecermos
determinada palavra. Quando não sabemos o que dizer, dizemos que ficamos sem palavras. E assim
por diante.

Para definirmos palavra, pelo menos, numa de suas acepções, apoiamo-nos no linguista americano
Bloomfield [8] que distingue as formas em livres e presas. As primeiras podem sozinhas constituir um
enunciado, enquanto as segundas sempre aparecem ligadas a outras. As primeiras correspondem a
palavras, as segundas aos morfemas, unidades menores constituintes das palavras, sobre os quais
falaremos no próximo tópico.

Assim, numa frase como amor com amor se paga, temos duas formas livres amor e paga, porque
sozinhas podem constituir enunciado.

DICA
Como provam as respostas às perguntas:

- De que uma criança precisa?


- amor.

1
- Criança paga?
- paga.

Já as formas com e se seriam presas, porque, num discurso normal, elas não podem aparecer como
respostas.

EXEMPLOS
Veja os exemplos:

Você saiu com alguém?


- *com.
- Ele feriu a quem?
- *se.

Esta classificação em dois tipos de formas, contudo, se mostrou insuficiente para dar conta de
formas como as recém citadas, preposições e pronomes clíticos, e também os artigos. Se tais formas não
podem figurar sozinhas num enunciado, por outro lado, gozam de certa liberdade, como a mudança de
posição e a intercalação.

Mattoso Camara Jr. [9], linguista brasileiro, dando-se conta desse problema, propôs um terceiro tipo
de forma: a forma dependente. Esta abrange, em português, conectivos (preposições e conjunções),
pronomes oblíquos e artigos.

Vamos aos exemplos:

Exemplo 1
1a. Pedro se feriu na briga. O pronome clítico se é forma dependente porque
embora não forme enunciado sozinho, pode ir para depois do verbo, tem, portanto,
a característica da mobilidade:
1b. Pedro feriu-se na briga.

Exemplo 2
2a. O rapaz chorava.

O artigo o é forma dependente porque, embora não forme enunciado sozinho, é


separável da forma livre rapaz com que se relaciona, ou seja, possui a característica
da separabilidade. Provamos isto intercalando uma forma entre o artigo e o
substantivo:

2b. O belo rapaz chorava.

Exemplo 3
Se as formas dependentes admitem uma das duas características, as presas
não admitem nenhuma, conforme vemos nos exemplos a seguir. No exemplo (3b),
vemos que as formas presas –s e –m não possuem mobilidade. No exemplo (3c),
vemos que as mesmas formas não admitem inserção. Essas formas presas são um
tipo de morfema, sobre que falaremos no próximo tópico.

2
3a. Os bons meninos se feriram.
3b. Os bons *smenino se *mferira.
c. Os *meninobonss *ferirasem

Agora estamos em condições de falar sobre o termo vocábulo/palavra. Para nós, vocábulos ou
palavras são tanto as formas livres como as formas dependentes.

Para evitar um grande número de palavras no dicionário, os estudiosos convencionam uma forma
abstrata para enunciar as palavras no dicionário. Em português, estas palavras abstratas se apresentam
no masculino singular, quando se trata de nomes.

FÓRUM
Pesquise em Mattoso Camara a diferença entre vocábulo e palavra. Depois, comente o resultado
de sua pesquisa com seus colegas. Agora responda: a diferença se sustenta? DICA: cedinho, mas
*hojinho, *ontenzinho.

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 01: Noções Básicas: Vocábulo, Morfema, Classe e Categoria

Tópico 02: A Noção de Morfema

Além do vocábulo, outra unidade central na Morfologia é o morfema que se manifesta por morfes,
pois o morfe, como você sabe, é uma classe de morfes. A forma –vel em lavável, por exemplo, é um
morfema. –Vel é uma unidade significativa: significa “que se pode”. –Vel é uma unidade mínima que tem
como alomorfes ve- de laváveis, e bil-, do adjetivo lavabilíssimo não pode mais ser dividida sem que se
destrua seu significado: –ve e –l, nesse contexto, seriam formas desprovidas de sentido.

MORFEMA

Que é definido, em geral, como “unidade mínima significativa” (Gleason, s/d).

A preposição de também é uma unidade mínima significativa. Todavia, só podemos entender o


significado deste morfema de forma indireta, suprimindo a preposição ou substituindo-a por outra, como
nos exemplos:

4b. *Pedro gosta chocolate.


4c. *Pedro gosta por chocolate.

PARADA OBRIGATÓRIA
Reflita: O que aconteceu com a frase original? Podemos dizer que as frases 4b e 4c são frases
legítimas do português? Por quê?

Uma forma de compreender a noção de morfema é recorrer à relação entre Plano da Expressão (mais
ou menos equivalente ao significante) e Plano do Conteúdo (mais ou menos equivalente ao significado).
Estes planos são solidários, isto é, PE pressupõe PC e PC pressupõe PE. Resumindo:

PRINCÍPIO BÁSICO DE IDENTIFICAÇÃO DE MORFEMAS

Cada diferença no Plano da Expressão deve corresponder a uma diferença


no Plano do Conteúdo. Cada identidade no Plano da Expressão deve
corresponder a uma identidade no Plano do Conteúdo.

Veja os exemplos

DESAFIO

4
Com base no que você viu a respeito da preposição de, discuta por que a preposição a é uma
unidade significativa em Pedro começou a falar aos dois anos.

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 01: Noções Básicas: Vocábulo, Morfema, Classe e Categoria

Tópico 03: As Noções de Classe e Categoria

Outros termos relevantes para o estudo do vocábulo, além de morfema, são classe e categoria:

Classe
Divisão dos vocábulos de uma língua na base dos seguintes princípios diretores:
1) a natureza da significação (critério semântico); 2) a forma do vocábulos quanto à
possibilidade de flexão e ao tipo dela (critério mórfico); 3) a função na frase (critério
funcional) (Camara Jr., 1968:s.v).

Categoria
Aspectos do mundo biossocial que são levados em conta na organização
gramatical de uma língua e aí se simbolizam por meio de morfemas, que
multiplicaram as aplicações de uma palavra. (...) Em sentido estrito [abrangem] as
categorias gramaticais, que se expressam pela flexão externa e interna como as
categorias de gênero, número, casos, tempo, aspecto, modo, voz etc. (Camara Jr.,
1968:s.v).

Como vimos, são três os critérios de classificação vocabular. Cabe agora comentá-los em pormenor.

Critérios de Classificação Vocabular

Critérios Definições

Baseia-se no significado extralinguístico do vocábulo. Estamos


usando o critério semântico, quando definimos, por exemplo,
1. Critério Semântico “substantivo é a palavra que designa os seres em geral”.
Apelamos para o sentido extralinguístico “designa os seres”, que
seria uma propriedade comum a todos os substantivos.

Baseia-se na flexão e derivação. Assim, uma classificação que


divide os vocábulos em variáveis e invariáveis, por exemplo, está
usando um critério formal, porque se fundamenta na
2. Critério Mórfico ou
possibilidade ou não de flexão. Do mesmo modo, quando
formal
dizemos que “os adjetivos aceitam sufixo – íssimo” também
estamos usando o critério formal, uma vez que fazemos
referências à derivação.2

3. Critério funcional ou Toma como base a função ou posição da palavra. Se os outros


sintático dois critérios podem ser aplicados ao vocábulo isolado, este toma
o vocábulo em sua relação com os outros. É o critério sintático
que Cunha (1983) emprega, quando diz “os pronomes

6
Critérios de Classificação Vocabular

desempenham na oração as funções equivalentes às exercidas


pelos elementos nominais (...)”.

Uma outra noção relacionada com a de classe é a de categoria, que nasce das relações no interior da
frase, como o gênero e o número do adjetivo e do artigo, o tempo e o modo do verbo nas orações
subordinadas, como nos exemplos:

Estes meninos preguiçosos querem que os pais façam tudo por eles.
Estes meninos preguiçosos queriam que os pais fizessem tudo por eles.

Como vemos, a forma plural do pronome e do adjetivo, nos exemplos, é determinada pelo substantivo.
Também as formas verbais do verbo fazer são determinadas pelas formas do verbo querer da oração
principal.

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Identifique o(s) critério(s) de classificação vocabular (Visite a aula online para realizar download
deste arquivo.) usado(s) nas definições das classes.

FÓRUM
Pesquise sobre os vários sentidos da palavra lexema. Apresente os resultados obtidos na net ou
em dicionários de linguística e comente cada um dos sentidos

Fontes das Imagens

1 - https://www.youtube.com/embed/Q1jI8RsGfOA
2 - https://www.youtube.com/embed/x_aBBHAYoCM?start=122
3 - https://www.youtube.com/embed/x_aBBHAYoCM?start=202
4 - https://www.youtube.com/embed/E14j1eByZbU?start=75
5 - https://www.youtube.com/embed/ACQQVr3xNm8
6 - https://www.youtube.com/embed/E14j1eByZbU
7 - https://www.youtube.com/embed/iOoONZGtu3g
8 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonard_Bloomfield
9 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Mattoso_C%C3%A2mara_J%C3%BAnior

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 02: O Vocábulo e seus Constituintes

Tópico 01: A estrutura do vocábulo - noções de raiz e afixo

Vimos que o termo vocábulo/palavra compreende as formas que admitem mobilidade ou


separabilidade. Para fins de análise, estas características separam o vocábulo dos morfemas de que são
constituídos. Os vocábulos também são formas mínimas, mas na frase, pois se deixam dividir em
morfemas.

Assim, numa palavra como menina, uma de suas partes, que conserva o significado básico, é
chamada de raiz. A outra é chamada de sufixo, tipo de afixo.

Raiz é um constituinte vocabular central, enquanto o afixo é periférico. Ambos são morfemas
segmentais, porque são constituídos de fones. Conforme a posição,os afixos podem ser.

Prefixos
Afixos colocados antes da raiz ou radical.
Ex: pré-romântico, pós-moderno, ante-sala.

Sufixos
Afixos pospostos à raiz.
Ex.: cinzeiro, livraria, tristeza, amar.

Estes últimos, em português, podem ser classificados ainda em classificatórios, flexionais ou


desinenciais e derivacionais ou lexicais.

Os classificatórios nada acrescentam ao significado do vocábulo, servem para definir a conjugação


verbal, são as vogais temáticas, expandem a raiz em tema (raiz + vogal temática):

1ª conjugação: vogal temática A, como em AMA-R

2ª conjugação: vogal temática E, como em VENDE-R

3ª conjugação: vogal temática I, como em PARTI-R

Os dois outros se diferenciam do seguinte modo.

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Sufixos flexionais
1. não criam novas palavras: criamos e criávamos são apenas variações do verbo
criar, impostas pela concordância verbal.
2. são sistemáticos, aplicam-se a praticamente todas as palavras: os verbos, por
exemplo, recebem sufixos de tempo e modo, as desinências modo-temporais.
3. são obrigatórios: não há recurso para evitar a flexão, imposta por relações
sintáticas: o verbo, por exemplo, concorda flexionalmente com o sujeito.
4. são relações fechadas: não há possibilidade de se criar uma nova desinência
diversa da que já existe, a exemplo dos sufixos verbais.
5. sujeitam-se a vínculos de concordância: o sufixo –mos, por exemplo, de nós
amávamos, estabelece vínculo com o sujeito.

Sufixos derivacionais
1. produzem novas palavras: criação e criatura são novas palavras, substantivos
formados a partir do verbo criar.
2. não se aplicam a todas as palavras primitivas existentes na língua: por exemplo,
o sufixo –udo de barrigudo não se aplica a umbigo e boca: *umbigudo, *bocudo.
3. são relações abertas: podem-se criar neologismos. Por exemplo, a partir de dólar
criou-se doleiro.
4. são facultativos: há recursos para evitá-los. Por exemplo, posso usar muralha
ou muro alto para expressar conteúdo semelhante.

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 02: O Vocábulo e seus Constituintes

Tópico 02: Processos morfológicos

VERSÃO TEXTUAL
No tópico anterior, vimos que os dois constituintes básicos do vocábulo são a raiz e os
afixos. Desta tipologia, já podemos inferir o processo morfológico mais comum em português: a
adição de segmentos fônicos, que se subdivide em prefixação e sufixação.

Além deste processo básico de adição, existem outros, conforme descritos a seguir.

PROCESSO CONCEITUAÇÃO

1. Zero
CONCEITUANDO ZERO

Trata-se de uma ausência significativa. Na verdade, é um artifício para tornar


a descrição morfológica mais coerente e sistemática. Pode-se recorrer ao zero
quando não há marca para um significado linguístico.

EXEMPLIFICANDO ZERO

Quando comparamos menino-s e menino, por exemplo, percebemos que há,


no primeiro, uma marca para a noção de plural - -s - mas nenhuma marca para a
noção de singular no segundo. Nesse caso, podemos marcar o singular por zero,
e representarmos essa ausência de qualquer marca por :

/me’ninu-/ “ideia de menino” + /-S/ “noção de plural” = meninos /me’ninu-/


“ideia de menino” + “noção de singular” = menino

2. Cumulação
CONCEITUANDO CUMULAÇÃO

Trata-se do fato de um mesmo segmento fônico, indivisível, manifestar mais


de uma noção, mais de um morfema. Todas as desinências verbais do português
são cumulativas, porque todas expressam sempre dois significados. As
desinências número-pessoais, como o próprio nome diz, expressam número e
pessoa, e as modo-temporais expressam modo e tempo. Assim, em cantamos, a
desinência –mos expressa cumulativamente os significados “1ª pessoa” e
“plural”. Não podemos precisar que parte significa pessoa e que parte indica
número, porque a forma é indivisível.

3. Alomorfia
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CONCEITUANDO ALOMORFIA

Trata-se de um fenômeno em que:


• há dois segmentos fônicos diferentes, isto é, dois PE;
• cada segmento fônico corresponde a um mesmo significado, isto é, um PC.

EXEMPLIFICANDO ALOMORFIA

Observe os exemplos.

PE
2a. infeliz /ĩ-fe’liz/
2b. ilegal /i-le’gaw/

PC
“não” + “feliz”
“não” + “legal”

Nos exemplos (2), dizemos que a relação entre os dois planos não é
biunívoca, pois há mais de uma forma de expressão que corresponde a uma só
unidade no plano de conteúdo. Vejamos mais exemplos com as mesmas formas
acima:

Ilícito /i-‘licitu/, irreal /i-re’aw/, irrecusável /i-rεcu’zavew/ Imberbe / ĩ-‘bexbi/,


impotente / ĩ-po’tẽti/ , insensato / ĩ-sẽ’satu/ , incrédutlo /ĩ-’crεdulu/, infiel /ĩ-fi’ew/

Cada uma dessas formas é alomorfe de um mesmo morfema. Deste modo, /


ĩ-/ e /i/ são alomorfes de {IN} (forma escolhida por ser a mais frequente).

DESAFIO
Observe as ocorrências do morfema de negação nas formas acima e tente identificar que fator
contribui para que ora se empregue / ĩ/, ora se empregue /i/.

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
1. Identifique os elementos mórficos das seguintes palavras:

a) sentimental.
b) desfazer.
c) anormal.
d) cantávamos.
e) meninas.
f) marinheiro.
g) amavelmente.
h) amasse.
i) gatinha.
j) belíssima

2. Retire os elementos mórficos das palavras acima como no exemplo:

lindíssima: lindíssim-a ➡ lind➡íssim

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3. Identifique os sufixos flexionais e os derivacionais na questão 1. Justifique.

4. Use as expressões PE e PC para cada tipo de elemento mórfico na questão 1.

Uma vez feita a análise vocabular, mostre que ela pode ser feita por etapas, como: Sentimental ➡
sentimento ➡ senti ➡ sent.

FÓRUM
Mesmo os sufixos derivacionais não constituem uma classe homogênea. Debata com seus
colegas e com seu tutor as diferenças entre os sufixos derivacionais.

Fontes das Imagens

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 03: Os Vocábulos em Português

Tópico 01: Introdução

VERSÃO TEXTUAL
Na Linguística, a classificação das unidades visa facilitar a descrição e o estudo da língua,
pois reduz consideravelmente o número de unidades com que se deve lidar. Imagine, por
exemplo, descrever isoladamente todos os verbos de uma determinada língua. Como podemos
criar novos verbos todos os dias, a descrição se tornaria impossível. Classificar, portanto,
representa uma forma prática de lidar com um número considerável de dados.

Vimos, no início do curso, que os vocábulos de uma língua podem ser divididos em classes, na base
de determinados critérios (você lembra quais são? Se não, reveja o tópico 3 da aula 1). Assim, conforme o
critério ou os critérios que tomemos  em consideração, podemos chegar a um variado número e tipos de
classes. Podemos, por exemplo, classificar os vocábulos em português tomando como base apenas a
função destes na frase, ou então, o sentido e a função, ou ainda, a forma, o sentido e a função.

A classificação vocabular que hoje vigora nas gramáticas escolares se pauta nos três critérios.
Alguns tipos de vocábulos são definidos pela função, outros pelo sentido e outros pela forma. Há também
algumas classes definidas por uma conjugação de critérios, binariamente ou ternariamente.

Tais classes foram definidas, oficialmente, a partir de 1959, através da Portaria Ministerial nº 36 de
28/01/1959, que decretou uma uniformização da nomenclatura gramatical, a chamada NGB [1]
(Nomenclatura Gramatical Brasileira).

São elas divididas em:

Classes Variáveis
• Substantivo;
• Artigo;
• Adjetivo;
• Verbo;
• Pronome;
• Numeral.

Classes Invariáveis
• Advérbio;
• Preposição;
• Conjunção;
• Interjeição;

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Desde sua instituição, a NGB vem sofrendo críticas, seja pela validade de certas classes, que deviam
ser banidas; seja pela validade da separação de determinadas classes, que deviam ser unidas; seja pela
ausência de uniformidade no uso dos critérios de classificação.

Considerando:

1. que não há nenhuma classificação vocabular ideal;

2. que as classes propostas pela NGB, por ter força de lei, são as classes ensinadas na
escola, e

3. que este curso destina-se a formar professores de língua portuguesa, apresentaremos,


nos próximos tópicos, uma proposta, na medida do possível, conciliadora com a NGB.

Reconhecemos as seguintes classes:


• Nome;
• Verbo;
• Pronome;
• Artigo;
• Numeral;
• Advérbio;
• Conectivos.

DESAFIO
Observe as duas propostas de classificação: a da NGB e a que apresentamos aqui. Compare e
veja semelhanças e diferenças.

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 03: Os Vocábulos em Português

Tópico 02: O Nome e o Verbo

Estudamos aqui estas duas classes, em conjunto, porque seus elementos


atuam como núcleos dos dois polos oracionais: o sujeito e o predicado. Os
pronomes não são contemplados aqui por razões que apresentaremos quando
estudarmos a classe pronominal.

O Nome
Agrupamos, aqui, sob o rótulo geral de nomes, substantivos e adjetivos, porque compartilham o traço
morfológico da flexão em gênero e número. Sintaticamente, possuem em comum a possibilidade de
serem predicativos, e diferem pelo fato de o substantivo poder representar o núcleo de sujeito e objeto
direto, enquanto o adjetivo é adjunto adnominal.

EXEMPLOS
O bom pastor conhece suas ovelhas .

Os termos em destaque são nomes. Flexionam-se em gênero e/ou número:

Pastor é um substantivo, pois é núcleo do sujeito da frase: o bom pastor.

Ovelhas também é substantivo, pois é núcleo do objeto direto.

Bom, por outro lado, é um adjetivo, pois é adjunto adnominal.

Substantivos e adjetivos também se distinguem derivacionalmente. Isso é especialmente útil


quando nos deparamos com funções sintáticas que podem ser exercidas pelos dois, como ocorre
com a função predicativo.

Em português, o predicativo tanto por ser preenchido por um substantivo como por um adjetivo:

Pedro é bom ➡ o predicativo é um adjetivo (bom)

Ele é Pedro ➡ o predicativo é um substantivo (Pedro)

Como distingui-los nesse caso? Uma boa distinção é apelar para o mecanismo derivacional.
Tanto substantivos como adjetivos admitem grau: menininho bonzinho. Mas há um sufixo de grau que
é próprio do adjetivo e é rejeitado pelo substantivo: -íssimo:

Boníssimo / *meniníssimo

DESAFIO
A gramática tradicional fala de pronome substantivo e pronome adjetivo. Qual traço dos
apresentados acima foi usado para essa separação dos pronomes? Pense. Discuta com seus colegas
e seu tutor através da ferramenta mensagens.

Lembre-se de que você não está sendo avaliado pelas tarefas dos desafios. Aceite-os como
incentivo à sua aprendizagem. Vale a pena.

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Categorias Nominais
Sabendo que o nome varia em gênero e número, cabe agora aprofundar um pouco mais essas
categorias.

Embora não haja correlação necessária entre forma e sentido, há, na maioria das línguas, uma base
natural semântica para a classificação dos nomes em gênero, que pode ser o sexo, a dimensão, a cor, etc.
Em português, o critério predominante é o sexual, que divide os nomes em masculinos e femininos.

Esse critério não é sistemático, pelas seguintes razões:


● aplica-se a seres inanimados, como mesa, livro que têm gênero, mas
não têm sexo.
● aplica-se a seres animados, como jacaré, testemunha, criança entre
outros, que são de gênero único.

Neste último caso, dizemos que o gênero gramatical pode conflitar com o chamado “gênero natural”,
uma vez que não há coincidência entre a categoria gramatical e a categoria semântica. O termo (a)
testemunha, por exemplo, de gênero gramatical feminino, tanto pode se referir a um homem como a uma
mulher.

As gramáticas normativas tratam dessa questão dividindo as palavras em sobrecomuns, comum de


dois e epicenos, o que leva os alunos a mais uma terminologia inútil. Interessa é saber como tal categoria
se expressa em português.

Partindo de Macambira (1978), podemos considerar as seguintes formas de expressão da categoria


de gênero:

Categoria de gênero

Categorias Conceituação

Gênero desinencial
Conceituando gênero desinencial: a palavra sofre variação na sua parte final
correspondente à variação de gênero:

menino/menina

Gênero derivacional
Conceituando gênero derivacional: a variação de gênero ocorre
concomitantemente com a adição de um sufixo derivacional próprio de cada
gênero:

Gênero sintático
Conceituando gênero sintático: o gênero é expresso não na palavra em si, que
não varia formalmente, mas nos determinantes:

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o estudante/a estudante

Gênero lexical
Conceituando gênero lexical: como no caso anterior, a palavra também não
varia, mas, diferentemente daquele, a palavra tem gênero único, marcado pelos
determinantes. É o caso de todos os nomes que designam seres inanimados e
alguns que designam seres animados. Neste último caso, as formas são
chamadas de supletivas ou heteronímicas. Há uma relação semântica entre os
dois termos do par, mas nenhuma relação formal, conforme ilustram os exemplos
em (c).

a) (a) mesa, (o) livro.

b) (o) boi/ (a) vaca, (o)homem / (a) mulher.

Feitas essas considerações, resta apresentar as marcas morfológicas do gênero em português. A


descrição mais comum, inclusive nas gramáticas tradicionais, é a que propõe Macambira (1978), segundo
o qual o masculino é marcado por zero em oposição a uma marca –a para o feminino.

EXEMPLO
menino + ø (DG) > menino

menino + a (DG) > meninoa > menina.

Outra categoria nominal é o número que indica a quantificação. A oposição em português é entre
singular, indicando a unidade, e plural, que indica “mais de um”. O singular é morfologicamente marcado
por ø. E nisto, há certa unanimidade entre linguistas portugueses e brasileiros. Quanto ao plural,
tipicamente, se expressa através da forma –s:

Gato / gatos, menino / meninos

No entanto, esta não é a única forma de marcá-lo, vez que há recurso ao fenômeno da alomorfia por
intermédio do –es e -is:

País / países, pilar / pilares, lençol / lençóis, pincel / pincéis

DESAFIO
Pense e responda:

1. que regras de formação do plural existem para as palavras terminadas em –l?

2. que regras definem a ocorrência de cada um desses alomorfes acima?

3. pesquise, numa gramática, exceções para as palavras terminadas em –l.

A regularidade do plural se dá de maneira praticamente cabal. Os casos de substantivos invariáveis


são tão poucos, que se podem considerar como desprezíveis para a análise linguística (ônibus / ônibus,
tórax / tórax, atlas / atlas etc.).

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Acrescente-se também que o singular e o plural constituem uma lista exaustiva e não está na vontade
do falante introduzir um novo termo no quadro existente.

Para terminarmos, convém destacar aqui que nem sempre se dá um paralelismo entre forma e
sentido no que diz respeito ao número. É o que ocorre, por exemplo, com os coletivos, como dúzia, bando,
que formalmente são singular, mas semanticamente expressam plural. Por isto, o povo na fala descuidada
flexiona o verbo no plural, estabelecendo a chamada concordância ideológica:

O pessoal saíram.

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 03: Os Vocábulos em Português

Tópico 03: O verbo e suas categorias

Verbo
Sintaticamente, o verbo se caracteriza por ser o núcleo do predicado. Porém, devido à extrema
riqueza flexional, a classe é muito bem definida no plano mórfico, como palavra que varia em tempo e em
modo.

Além das desinências modo-temporais, o verbo é também marcado por desinências número-pessoais
referentes ao sujeito. Estas marcas igualmente contribuem para a identificação do verbo, podendo,
inclusive, indicar o tempo e o modo cumulativamente, às vezes. É o que ocorre no pretérito perfeito do
indicativo. Não há desinência modo-temporal específica desse tempo, mas a série de desinências número-
pessoais que aí aparecem são quase todas exclusivas desse tempo: -i, -ste, -u -, mos, stes, -m.

Categorias Verbais
Dissemos que o verbo se caracteriza, primordialmente, pela variação temporal. Vamos agora
aprofundar um pouco mais essa noção e tratar das demais categorias verbais: modo, aspecto e voz. Há
uma íntima relação entre elas, em especial, entre tempo, aspecto e modo o que nos levará, em alguns
momentos, tratar de mais de uma simultaneamente.

TEMPO, ASPECTO E MODO

Chamado na literatura linguística de TAM.

A categoria de tempo relaciona o tempo da ação, do acontecimento, do estado referidos na frase ao


momento do enunciado, que é o agora. Jespersen (apud Lyons, 1979) apresenta as seguintes divisões do
tempo:

Mas o tempo gramatical admite diversas categorizações. Por exemplo, há línguas que opõem apenas
passado X não-passado e outras que opõem presente X não-presente. Em português, a oposição é entre
passado X presente X futuro.

Não há uma relação necessária entre o tempo gramatical ou formal, marcado pelas desinências, e o
tempo semântico, que depende do contexto, conforme veremos a seguir.

O presente do indicativo pode expressar:

1. fatos contemporâneos, como nas narrações de partidas de futebol: Cacá passa para Romário.

2. fatos atemporais ou eternos, como no exemplo: A Terra gira em torno do Sol.

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3. fatos futuros, como em: Amanhã vou à praia

4. fatos passados, como no chamado presente histórico, em frases como: E naquele momento,
Jesus é crucificado.

A categoria de modo expressa a atitude do falante em relação ao status factual do seu enunciado
(certeza, dúvida, ordem etc.), ou seja, exprime a forma como o falante encara aquilo que diz. Realiza-se
pela flexão do verbo ou por sua modificação através de auxiliares.

As gramáticas descrevem três modos gramaticais: indicativo, subjuntivo e imperativo.


Tradicionalmente atribui-se ao indicativo a modalidade da certeza, ao subjuntivo, a modalidade do desejo
ou da dúvida, e ao imperativo, a modalidade da ordem.

No entanto, tal como na categoria de tempo, não há sempre relação entre forma e sentido. Neste
caso, a forma não-marcada é o modo indicativo, que assume valores modais diversos.

Valores modais do indicativo:

1. Não sei se ele virá (dúvida marcada pela frase)

2. Exijo sua vinda (ordem marcada pelo radical do verbo)

3. Haverá quem faça isso. (possibilidade expressa pelo tempo verbal)

4. Honrarás pai e mãe (ordem expressa pelo tempo verbal)

Note que, nos dois últimos exemplos, a forma verbal é o futuro do indicativo, forma em que as
categorias de tempo e modo se encontram misturadas.

A propósito, a futuridade, por expressar estados de coisas ainda por vir, favorece a marcação do
enunciado com noções modais, como a probabilidade, a impossibilidade, a obrigação, a necessidade:

Uso modal do futuro:

1. probabilidade: conheci-a menina. Agora ela será uma bela mulher.

2. dúvida: de quem será aquela bolsa?

3. intenção: não trabalharei no fim de semana.

4. desejo: gostaria de saber notícias suas.

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Dentre os modos, o subjuntivo é aquele cujo uso é mais discutível. A gramática normativa apresenta o
subjuntivo como o modo da dúvida e do desejo, ou da irrealidade. Há alguns contextos, no entanto, em que
o emprego do subjuntivo não se apresenta como uma escolha livre do falante, é, ao contrário, determinado
sintaticamente, como em:

Embora ele seja funcionário exemplar, nunca ganhou um prêmio.

DESAFIO
Pesquise, em textos, exemplos de outros tempos verbais empregados com valores semânticos
não correspondentes à forma. Selecione 3 frases, observe-as quanto ao tempo gramatical (a forma
verbal, por exemplo, perfeito do indicativo, imperfeito do subjuntivo, futuro do presente etc.) e à noção
temporal (passado, presente, futuro) que apresentam.

Uma outra categoria verbal, a de aspecto, diz respeito à duração e às fases do processo.

A distinção aspectual mais comum é entre o chamado aspecto perfectivo e o imperfectivo. Em


português, tal distinção manifesta-se no uso do perfeito X imperfeito. Contudo, esta oposição nem
sempre é clara no uso da língua.

PERFECTIVO

Noção de acabamento, completude.

IMPERFECTIVO

Noção de incompletude.

Tomemos a frase:

Li um livro

Embora a forma verbal esteja no perfeito, seu significado tanto pode ser perfectivo quanto
imperfectivo.

PERFECTIVO

Ação completa: “li o livro todo.

IMPERFECTIVO

Ação incompleta: “levei algum tempo lendo, mas não terminei de ler o livro todo.

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Outras noções aspectuais são, dentre outras:

Permansividade
o processo começa no passado e se estende no presente.

Inceptividade
o processo ainda está no início.

Iteratividade
o processo é apresentado como repetitivo.

Pontualidade
o processo é apresentado como momentâneo.

Resta falar da categoria de voz, que diz respeito à relação entre o sujeito e o processo verbal. A
proposta que vamos apresentar aqui é baseada em Macambira (1986).

Este autor propõe cinco vozes para o português. ativa, passiva, reflexiva, recíproca e média. Na busca
de descrever cada uma formalmente, apresenta esquemas estruturais. A ativa é descrita como
apresentando a estrutura:

A+C

O elemento A representa tudo que possa exercer a função de sujeito, C representa o verbo conjugado
nos tempos simples ou compostos com TER/HAVER, e o sinal + indica que o traço é necessário, ou seja,
podemos ter orações na voz ativa sem o elemento A, mas não sem o elemento C.

EXEMPLO
Como exemplos de voz ativa, temos:

(a) Eu corro.
(b) Convém lutar.
(c) Basta que te respeites.

Veja que, para identificar uma frase como sendo ativa, não se irá observar se o sujeito “pratica a
ação”, como, em geral, definem as gramáticas. Importa é saber se a frase em questão se encaixa no
esquema proposto.

DESAFIO
Como você classifica a frase o ladrão apanhou da polícia? Por quê?

A passiva é descrita em suas duas formas: participial e pronominal.

A participial apresenta o seguinte esquema:

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+ A + B1 + C . D

B1 representa o verbo ser em qualquer forma de sua conjugação, C o particípio do verbo principal e A
o sujeito. Todos os elementos são obrigatórios, como indica o sinal + antes das letras, exceto o elemento
D, que representa o agente da passiva.

DESAFIO
A frase Pedro era nascido pode ser classificada como passiva? Por quê?

A passiva sintética apresenta o seguinte esquema:

+ C + B2 + A

O verbo, elemento C, é conjugado na forma ativa com o clítico se, elemento B2. O sujeito, elemento A,
é posposto ao verbo e só figura na terceira pessoa do singular ou plural.

Trata-se de exemplos como vendem-se casas, fazem-se unhas. A classificação destas frases como
passivas sintéticas se deve apenas à necessidade de seguir a nomenclatura tradicional, vez que, como já
falamos, este curso destina-se à formação de professores. Ressaltamos, todavia, que vários autores, do
presente e do passado, já negaram o caráter passivo a estas frases, conforme você verá ao ler o texto
complementar Helena Feres Hawad (clique aqui para abrir) [2]

As três vozes restantes, reflexiva, recíproca e média, são descritas com um esquema estrutural
semelhante em que temos, como elementos obrigatórios, um sujeito (A), um verbo conjugado na forma
ativa (C) e um clítico (B):

     + C + B2 + A      - Reflexiva.

   + A + B + C (E)    - Reciproca.

+ A + B + C(-D)(-E) - Média

A diferença entre elas dá-se pela admissão ou não de elementos opcionais:

● admissão de D, na reflexiva, que significa uma expressão como a mim mesmo, a si mesmo
etc., ou de E, na recíproca, que significa um ao outro ou uns aos outros.

● inadmissão de D ou E, na média. Daí o sinal (-) no esquema.

EXEMPLOS
Vejamos alguns exemplos para ficar mais claro:

1. reflexiva: O prisioneiro se matou / O prisioneiro (se) matou a si mesmo.


2. recíproca: Os homens se odeiam / Os homens (se) odeiam uns aos outros.
3. média: Pedro aborreceu-se / * Pedro aborreceu a si mesmo.

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Apresentamos, por fim, as categorias verbais em português. Como vimos, nem sempre há relação
entre forma e sentido no emprego dessas categorias. Assim, em relação ao tempo, que pode ser um
presente para expressar um futuro ou um passado; assim, em relação ao modo, que pode ser subjuntivo e
indicar certeza; assim, em relação à voz, que pode ser ativa e indicar passividade, como em O menino
apanhou da madrasta.

Disso decorre a importância do contexto. Acreditamos que as formas isoladas de significado


contextual não permitem uma adequada interpretação dessas categorias. Só o contexto pode dizer se
uma forma presente é presente, passado ou futuro, se um indicativo é certeza ou dúvida, se uma situação
X está sendo apresentada como completa ou incompleta; enfim, se uma frase é reflexiva ou média.

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Resolva as questões a seguir.

Exercícios (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.).

Fontes das Imagens

1 - http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=ngbras
2 - http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno04-15.html

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 04: Tipos de vocábulos

Tópico 01: Os pronomes e artigos

O Pronome
O pronome constitui uma classe que comporta membros muito variados,
daí a classificação tradicional dos subtipos dos pronomes: pessoais,
possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos. Diante dessa
variedade de subtipos, é muito difícil eleger um traço comum a todos os
elementos abrigados na gramática tradicional sob o rótulo de pronome. Devido
a nosso objetivo ser essencialmente didático, vamos nos limitar a comentar
características de cada subtipo tradicional.

DICA
Pesquise na internet, usando o Google Acadêmico, artigos científicos sobre o pronome. Você verá
como o assunto é complexo. Se achar algum texto mais interessante, compartilhe com seus colegas e
tutor, enviando mensagem com o link ou o texto.

Pronomes pessoais
Tradicionalmente, os pessoais se subdividem em retos ou oblíquos.

Os retos
São formas livres que funcionam como sujeito ou predicativo:

Eu (sujeito) cuido do meu filho. Afinal, a mãe sou eu (predicativo).

Os oblíquos
São formas dependentes e se dividem em átonos e tônicos. Os átonos estão
sempre ligados ao verbo, posicionados antes (próclise) ou depois (ênclise) deste e
funcionam como objeto direto ou indireto.

Exemplos de objeto direto e indireto:

Objeto direto: Pedro me ama.


Objeto indireto: Pedro me deu o livro.

Os tônicos são sempre regidos por uma preposição, acidental ou essencial, e


funcionam como objeto indireto, agente da passiva ou adjunto adverbial:

O professor deu o livro a mim. (objeto indireto).


O professor saiu sem mim. (adjunto adverbial).
O livro foi lido por mim. (agente da passiva)

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Quanto às categorias, os pronomes pessoais apresentam gênero, número, pessoa e caso. A primeira
categoria é muito restrita, pois se manifesta apenas nos de 3ª pessoa: ele/ela/o/a.

Já a categoria de número merece comentários porque nem sempre se apresenta tal como nos nomes,
marcando oposição: um versus mais de um.  Isto ocorre apenas com a 3ª pessoa: ele (uma 3ª pessoa) /
eles (mais de uma 3ª pessoa). Na 2ª pessoa, o plural pode indicar “mais de uma 2ª pessoa”, como em:

Vocês devem entregar o trabalho (um professor


falando a uma turma de alunos),

Nesse caso, se assemelha aos nomes, como ocorre na 3ª. Mas a 2ª pessoa do plural pode indicar
apenas que a 2ª pessoa se associa a uma 3ª: Você e ele faltaram à prova. Vocês precisam trazer
atestado.

Por fim, na 1ª pessoa do plural, nunca temos a noção de “mais de um eu”. Sempre indica que o falante
associa a si uma ou mais pessoas:

Eu (1ª do singular) e você (2ª do singular) nos (1ª do


plural) encontramos.
Eu (1ª do singular) e ele (3ª do singular) nos (1ª do plural)
encontramos.

Feitas estas observações sobre o número, podemos agora falar da categoria de pessoa, que, nos
pessoais, se encontra ligada à categoria de número:

Sobre a categoria de pessoa:

1ª pessoa do singular ➝ Quem fala                                                                          

2ª pessoa do singular ➝ Com quem se fala                                                            

3ª pessoa do singular ➝ De quem ou de que se fala                                             

1ª pessoa do plural     ➝ 1ª e 2ª ou 1ª e 3ª pessoas (ou 1ª + 2ª + 3ª pessoas)

2ª pessoa do plural     ➝ Mais de uma 2ª pessoa ou 2ª + 3ª pessoas                

DESAFIO
Observe a relação eu / meu; tu/teu; nós/nosso e reflita: os pronomes possessivos merecem ser
tratados como subclasse à parte na gramática tradicional?

A última categoria pronominal é a de caso.

Por essa categoria, as palavras mudam de forma conforme a função sintática. Nos pessoais, únicos
pronomes que possuem caso em português, essa mudança não ocorre por meio de desinências, nem de
maneira sistemática. A manifestação do caso se dá por heteronímia ou supleção, ou seja, os pronomes

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não se flexionam, não apresentam sufixos de caso, é o vocábulo inteiro que manifesta um determinado
caso.

EXEMPLO
1a. O professor louva a aluna
1b. Ele louva a aluna.
2a. A aluna louva o professor
2b.A aluna o louva.

Na frase (1b), a forma destacada é sujeito, por isso assume a forma ele. Já em (2b), a forma
destacada é objeto direto, por isso, assume a forma o. Veja que o nome aluna não muda de forma em
nenhuma das frases, porque o nome, em português, não tem categoria de caso. Já o pronome muda.
Todavia, essa mudança é total: é o pronome todo que varia, não apenas uma parte dele. Por isso,
falamos em heteronímia (hetero = outro, onímia = nome).

O caso, porém, não é um fenômeno sistemático. Em primeiro lugar, devido ao desequilíbrio das
formas átonas, na perspectiva da gramática normativa. Por exemplo, a 3ª pessoa possui uma variedade
de formas átonas: uma para o objeto direto (o/a(s)),  outra para o indireto (lhe). Por outro lado, a 1ª e a 2ª
do singular possuem uma única forma que funciona tanto como objeto direto como indireto (me/te).

Em segundo lugar, devido a uma relativa desestruturação da categoria de caso no uso da língua, em
situações informais. Isto inclui: o uso de formas retas em função de complemento e o de formas não
contempladas na gramática tradicional, como a gente (que concorre ou se alterna com nós), você
(concorre ou se alterna com tu) e vocês (que substitui o arcaico vós, ainda contemplado nas gramáticas
tradicionais).

FÓRUM
A gramática tradicional condena o uso do lhe e do ele como objeto direto, porque o primeiro vem
do dativo que é, em latim, a forma do objeto indireto, e o segundo do nominativo, que é a forma do
sujeito. Comente sobre a validade desta norma, atentando para os seguintes aspectos: (a) a
correlação entre forma e função; (b) questões relativas à necessidade de clareza na comunicação; (c)
a natureza do argumento.

Os pronomes demonstrativos
Os demonstrativos são pronomes que podem indicar posição em relação às pessoas do discurso.
Alguns podem ser substantivos ou adjetivos:

Este é meu filho. (substantivo)


Este menino é meu filho. (adjetivo)

Outros são exclusivamente substantivos:

Isto é um péssimo sinal. (substantivo)

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As formas exclusivamente substantivas apresentam gênero neutro, referem-se a coisas ou a eventos
globais:

O avião da TAM caiu no ano passado. Isto trouxe prejuízo à


empresa.

Um fato a se destacar é que a oposição este/esse, isto/isso, tradicionalmente descrita como próximo
do falante/próxima do ouvinte, não mais ocorre no uso da língua.

Outro fato a destacar é o uso desses pronomes relativamente ao que já fora dito no enunciado,
indicando proximidade ou distância.

EXEMPLO: João e Paulo são meus amigos, mas aquele (João)


é mais amigo do que este (Paulo).

A este fenômeno de referência, chamamos anáfora.

Os pronomes indefinidos
Os indefinidos se diferenciam dos outros acima por não se encontrarem tão ligados às pessoas do
discurso, justamente pela indefinitude que os marca sempre.

Caracterizam-se por apresentar uma variedade de formas. Algumas delas se opõem por heteronímia
quanto aos traços:

● Personativo x não-personativo: alguém / algo.


● Afirmativo x não-afirmativo: alguém / ninguém.
● Substantivo x adjetivo: algo / algum; tudo/todo; outrem/outro.

Outras formas se opõem ao adjetivo pela simples posição em relação ao núcleo:

● diversos homens / homens diversos;


● certo homem/homem certo;

Por fim, resta falar que alguns indefinidos se assemelham aos numerais quanto à noção de quantidade.
Isto pode ser demonstrado nas respostas possíveis à pergunta quanto deste bolo você quer?
● Nenhum (pedaço);
● Alguns (pedaços);
● Dois (pedaços);
● Diversos (pedaços);
● Um terço (do bolo);
● Nada;
● O dobro (do bolo).

Por estas características, os pronomes indefinidos poderiam ser dispersos em outras classes: alguns
deles poderiam pertencer à classe dos numerais, como os exemplos citados, e outros, à classe dos
substantivos, como alguém e ninguém.

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Além dos indefinidos, outra subclasse à margem é a dos interrogativos, que apresentam oposições
similares às dos indefinidos, a exemplo de quem/o que. Isto sem falar em outros que não apresentam
oposição alguma, como qual e quantos.

Uma última subclasse de pronomes, ainda mais complexa, é a dos relativos, que ficam na fronteira
entre pronomes e conjunções. Preferimos falar deles quando nos referirmos aos conectivos.

O Artigo
O artigo, em português, é uma forma dependente que funciona exclusivamente como adjunto
adnominal em primeira posição no sintagma nominal (SN). Há outros vocábulos que podem exercer essa
função, mas nenhum a tem como exclusiva. Essa propriedade leva alguns estudiosos a considerá-lo um
marcador por excelência do substantivo, de tal maneira que qualquer palavra pode se substantivar através
do artigo.

Na prática, a identificação do artigo não é tão difícil, uma vez que comporta apenas uma forma com
suas variações de gênero e número: o, com as variações a, os, as. Veja que estamos excluindo o chamado
artigo indefinido, que consideramos pronome indefinido.

Morficamente, o artigo se flexiona em gênero e número, concordando com o substantivo com que se
relaciona e nisso se assemelha a outras formas que podem funcionar como determinantes, como os
pronomes e nomes adjetivos. Contudo, não admite nenhum tipo de derivação.  

Semanticamente, o artigo possui o traço [+definido] que é considerado um dos traços


caracterizadores da d êixis.

D ÊIXIS

Faculdade que tem a linguagem de designar mostrando, em vez de conceituar. A designação


dêitica, ou mostrativa, figura assim ao lado da designação simbólica ou conceptual em qualquer
sistema linguístico. Podemos dizer que o signo linguístico apresenta-se em dois tipos - o símbolo, em
que um conjunto sônico representa ou simboliza, e o sinal, em que o conjunto sônico indica ou mostra
(v. símbolo). O pronome (v.) é justamente o vocábulo que se refere aos seres por dêixis em vez de o
fazer por simbolização como os nomes (v.). Essa dêixis se baseia no esquema linguístico das 3
pessoas gramaticais que norteia o discurso: a que fala, a que ouve e todos os mais seres situados
fora do eixo falante-ouvinte.

CAMARA JR., J. Mattoso. Dicionário de Filolologia e Gramática. São Paulo: Iozon, Vozes, 1968. s,v. dêixis.

EXEMPLO
Para entender melhor, vamos tomar um exemplo bem simples:

1. Olha, o professor acaba de chegar.


2. Olha, um professor acaba de chegar.

No primeiro exemplo, trata-se de um professor já conhecido pelos interlocutores, o que difere do


segundo exemplo, em que se refere a um professor desconhecido de um e outro participante do
discurso. Este comportamento aproxima o artigo do pronome demonstrativo, mas aquele é forma
dependente e este último é sempre forma livre.

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 04: Tipos de vocábulos

Tópico 02: Os numerais

Os Numerais
O numeral é uma classe eminentemente semântica: é nome de número. Mas não há relação biunívoca
entre numeral e número. Os números são infinitos, os numerais, não o são. Por mais extensa que seja a
lista de numerais em português, eles não cobrem a infinidade dos números em Matemática.  Além disto,
em Matemática, há números não correspondentes na linguagem quotidiana a numerais, a exemplo dos
irracionais, que você certamente estudou no Ensino Médio. Não se diz numeral irracional, pois a classe
cobre, na gramática tradicional, os cardinais, os ordinais, os multiplicativos e os fracionários.
Semanticamente, o numeral é uma classe bem heterogênea como você poderá depreender da tipologia
abaixo.

Cardinais

Estes são os típicos representantes da classe. São os nomes de número por excelência: um, dois,
três, etc. A flexão de número, em termos genéricos, é semântica: um é a forma singular de todo o
restante dos cardinais. Há formas esporádicas de feminino: duas, duzentas, trezentas etc.

Alguns podem formar derivados como os substantivos. O interessante é que significativa parte
dos derivados listados conservam o sentido numeral.

quinze > quinzena;


vinte > vintena;
quarenta > quarentena;
cento > centena;
mil > milênio;
milhão > milionário.

DESAFIO
Pense em outros derivados dos cardinais.

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Ordinais
Os ordinais podem ser vistos semanticamente como número sob a perspectiva da ordem, a
exemplo de primeiro, segundo, terceiro. A flexão é semelhante à dos nomes: há gênero e número.
Esporadicamente, aparece o grau em uma forma como primeiro: primeiríssimo. Todavia, isto não
constitui motivo para colocar esta subclasse entre os adjetivos.

Fracionários
Os fracionários correspondem aos números sob a perspectiva linguística da fração: um terço, dois
quartos, três sextos. Semanticamente constituem um todo, embora formalmente nada impeça que
reconheçamos dois elementos: um cardinal propriamente dito seguido do fracionário. Possuem uma
relação com a quantidade, embora menos visível que os cardinais. 

Multiplicativos
São o número sob o ângulo do múltiplo: desta forma, duplo é duas vezes. A maior parte deles é do
registro culto da língua e de pouca circulação: dobro/duplo, triplo, quádruplo, quíntuplo, sêxtuplo etc.
Têm gênero e número. Sua relação com a noção de quantidade é a menos observável provavelmente
por serem uma subclasse limitada e de circulação bem restrita.

Como estudiosos, poderíamos estudar a possibilidade de fragmentar as subclasses dos numerais em


classes autônomas com bases nos traços morfológicos, sintáticos e semânticos que apresentam. Resta
ver se isto traria vantagens na teoria e na prática em sala de aula.

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 04: Tipos de vocábulos

Tópico 03: Os advérbios

A classe adverbial é uma classe basicamente funcional, segundo a gramática tradicional, que a define
como palavra invariável, modificadora do verbo, do adjetivo e mesmo de outro advérbio:

O garoto correu muito durante as olimpíadas.

O garoto comia só carnes desde muito jovem.

O garoto acordou muito cedo para estudar.

Como você pode perceber pelos exemplos acima, a mesma forma muito pode modificar um verbo,
correu, um adjetivo, jovem, ou outro advérbio, cedo.

Existem autores como Macambira (1987), que vão, em parte, além da proposta oficial e  reconhecem
que os advérbios podem modificar outras classes: o substantivo, a preposição, a conjunção e até uma
oração inteira:

O então rei de Portugal fugiu das tropas de Napoleão.

A ave voava exatamente sobre o ninho.

O rei nada temia mesmo porque o povo o apoiava.

Felizmente os problemas acabam por se resolver.

O que há de comum é que todas as formas são identificáveis sintaticamente e são invariáveis. Porém,
os contextos de ocorrência são bem diferentes.
Se alguns advérbios não se submetem à flexão, podemos recorrer, em parte à derivação para caracterizá-
lo, no caso, através do sufixo –mente: claramente, estupidamente, sabiamente etc., mas não é o critério
formal mais marcante.

Outra marca citada pelas gramáticas é o grau, mas se deve ter cuidado com ela.

Vamos começar com o superlativo.

Advérbios em –mente só têm a forma sintática deste grau: morfologicamente ele pertence ao
adjetivo. Num advérbio como clarissimamente, a marca  –issim é de claro. Assim, o advérbio claramente
só tem o grau sintático: muito claramente. O superlativo é, portanto, esporádico em advérbios, como cedo
e perto: cedíssimo, pertíssimo. O comparativo, quando existe, é basicamente sintático:

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João acordou mais cedo que Maria.
Vejo hoje as coisas mais claramente que ontem.

As definições semânticas do advérbio são falhas. Uma delas o define como palavra que indica
circunstância. Resta saber o que é circunstância. Outra, mais precisa, acrescenta que a circunstância pode
ser de lugar, tempo, modo, companhia, finalidade etc. A definição teria que trazer uma lista exaustiva.
Mesmo com o elenco das noções semânticas, perguntamos se palavras, como Londres, hora, amável, são
advérbios.

O que denominamos advérbio, como você pôde perceber, é uma classe bem heterogênea.
Semanticamente, parte deles guarda semelhança com os pronomes e outra, com os nomes substantivos.
A parte que se assemelha com os pronomes depende altamente do contexto extralinguístico, a exemplo
dos de tempo e dos de lugar: hoje, amanhã; aqui, ali, lá. Estes advérbios podem exercer sintaticamente
função de pronomes substantivos.

Lá é um bom lugar para se viver (sujeito).


Eu me referia a hoje (objeto indireto)

A parte que se relaciona semanticamente a nomes substantivos admite, em geral, expandir-se em


preposição + substantivo: claramente = com clareza. Observe a identidade das raízes. Noutros exemplos,
a relação é só semântica, pois não há identidade de raízes: sempre = com frequência.

Poderíamos, para cada contexto de ocorrência do advérbio, criar uma classe diferente. Mas isto seria
objeto de muita discussão. Além disto, o custo seria muito alto tanto para uma descrição quanto para
finalidades pedagógicas.

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Língua Portuguesa Vocábulo
Aula 04: Tipos de vocábulos

Tópico 04: Os conectivos

Os conectivos são vocábulos gramaticais invariáveis que marcam as


relações de sentido e de função na frase. Como essas relações podem ser de
subordinação ou coordenação, dividem-se em subordinativos e coordenativos.

Os conectivos subordinativos expressam uma relação de dependência entre dois termos ou duas
orações. Subdividem-se em preposições e conjunções subordinativas. As primeiras caracterizam-se por
poderem figurar no contexto ____ mim:

PARADA OBRIGATÓRIA
Há poucas exceções a essa propriedade. Exceto e com, por exemplo, não figuram neste contexto.
A primeira é usada com a forma reta do pronome exceto eu e a segunda é usada com o alomorfe
pronominal: comigo.

Outra propriedade das preposições, em geral, a única citada pelas gramáticas, é o fato de ligar termos
oracionais, não orações. Para sermos mais exatos, acrescentaremos que as preposições também podem
ligar orações, desde que com verbo no infinitivo, o que se justifica por estas orações funcionarem como
verdadeiros termos: João gosta de Maria, por considerá-la leal.

As conjunções subordinativas caracterizam-se por figurarem em orações desenvolvidas que


funcionam como termos de um verbo. Podem ser:

Integrantes
São vazias semanticamente e servem apenas para permitir que uma oração
inteira funcione como um termo exigido pelo verbo, ou seja, como sujeito, predicativo
ou complemento verbal.

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Por exemplo, o verbo desejar exige sujeito e objeto direto. O objeto direto pode
ser representado por uma oração. Nesse caso, o que permitirá isso será uma
conjunção integrante:

Maria deseja delicadeza.


Maria deseja que a tratem com delicadeza.

Adverbiais
Além de permitirem que uma oração inteira funcione como termo, no caso, um
termo circunstancial, possuem significado. Explicitam assim relações semânticas
entre orações, como, por exemplo:

Tempo: Anoiteceu. Ela saiu. / Quando anoiteceu, ela saiu.


Causa: Ele ficou cansado. Ele correu muito./ Ele ficou cansado porque correu
muito.

Os conectivos coordenativos não estabelecem funções sintáticas na frase, nem relações de


hierarquia. Os constituintes coordenados, quer sejam termos quer sejam orações, são sintaticamente
independentes, o que não quer dizer que sejam semanticamente independentes. Desta forma, em: Maria
foi à praia, mas não tomou banho.

As duas orações Maria foi à praia e mas não tomou banho são sintaticamente independentes, porém,
semanticamente, a segunda pressupõe a primeira.

Os conectivos coordenativos, quer liguem termos ou orações, são chamados sempre de conjunções
coordenativas e se classificam em aditivas, adversativas, explicativas, conclusivas, alternativas.

EXEMPLO
João e Pedro foram à praia e tomaram banho (aditiva).
A princesa é bela, mas é triste (adversativa).
João ou Pedro irá ao mercado (alternativa).

Por último, resta falar de uma forma que atua como conectivo e ao mesmo tempo como pronome.
Trata-se de uma forma mista: o pronome relativo. Como os pronomes, ele tem referência anafórica na
oração e exerce funções que são próprias dos nomes: sujeito, objeto etc. Como conectivo, ele relaciona
uma oração, chamada subordinada adjetiva, a um nome. Atua, assim, à semelhança das demais
conjunções subordinativas: permite que uma oração funcione como termo, nesse caso, um termo que
exerce função de determinante de um nome: Vi a estrela que o menino apontou.

O pronome relativo que, como pronome, se refere à estrela e funciona como objeto direto do verbo
apontar; como conectivo subordinativo, permite que uma oração o menino apontou uma estrela funcione
como termo adjunto de estrela: não vi qualquer estrela, mas aquela que o menino apontou: Vi a estrela / o
menino apontou a estrela (=que).

EXERCITANDO
Recapitulação:

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Estude os tipos de conjunção, adverbiais e substantivas. Verifique que há conectivos duplos
como pronome relativo e pronome interrogativo (pronome e conectivo).

ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
1. Mostre que na frase "Fiado só amanhã", usada em bares, o advérbio tem valor ligado à situação.
2. Por que o advérbio na frase acima se comporta como pronome?
3. Na frase: "O homem que passou é meu conhecido" a forma que é pronome e conectivo. Comente.
4. Mostre que há semelhanças entre as formas ALGUM/ALGUNS e os numerais cardinais.
5. Que diferença você percebe entre as mesmas formas acima e a flexão de número dos cardinais?Por
exemplo: dois, três, quatro, cinco/um.
6. O pronome ELE se refere só a seres humanos? Faça frases e veja o comportamento dele e compare
com as formas EU/TU.
7. Faça frases com o advérbio HOJE e mostre que ele pode se comportar como substantivo, adjetivo e
modificador de verbo.
8. Comente: o advérbio modifica substantivos, adjetivos, verbos, advérbios ou até uma frase inteira.
Exemplifique.
9. Comente: conjunções aditivas não ligam só orações.
10. Comente com seu orientador: as conjunções subordinativas diferem das coordenadas porque
geram funções.

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