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SCOL

DA MESMA Re

Uma Ésco LA
para 0 Povo
mais de 100 000
exemplares vendidos
Depois das propostas inovadoras de Uma
Escola para o Povo e À Escola e a
Compreensão da Realidade, a educadora
argentina conhecida internacionalmente Maria
Teresa Nidelcoff desenvolve agora
metodologias ativas para o ensino das
Ciências Sociais.
Dirigido aos professores de 1º e 2º graus, aqui
ela propõe a introdução de atividades
didáticas como o estudo de História
através da
realidade imediata, da poesia como forma
de
aprendizado, e da procura do
autoconhecimento e da auto-expressão.
Sem q pretensão de eriar modelos, Maria
Teresa Nidelcoff abre espaços à imaginaç
ão e
à criatividade dos professores,

Áreas de interesse: Educação, Pedagogia.

TLIVABRIA
brasiliense

ISBN: 85-11-11032-1
CIÊNCIAS SOCIAIS
NA ESCOLA

Suse 1908
“Des
MARÍA TERESA NIDELCOFF

CIÊNCIAS SOCIAIS
NA ESCOLA
PARA ALUNOS
DE 12 A 16 ANOS

Tradução
Déborah Jimenez

editora brasiliense
Copyright O by María Teresa Nidelcoff, 1987
Título original: Actividades para el aprendizage de las
Ciencias Sociales. Para alumnos de 12 a 16 afios.
Copyright & da tradução : Editora Brasiliense S.A.
Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada,
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reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer
sem autorização prévia da editora.

5º reimpressão

Revisão: Mário R. Q. Moraes e Antonio C. M. Genz


Capa: Isabel Carballo

Índice

cone neio z - 7
Introdução ....c.ccrresscenee seno desnalo
O que ocorre com os professores? es aa emas
-scus. ==> 16
Uma didática que surja de nós mesmos
(crr)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
À PE TiEIao des BAND. SE na pia 25
35
Uma didática
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Maria Teresa
Que atividades selecionar? ..........-
: para alunos de 12 a 16 anos
Ciências sociais na escola unhos ........ 47
/ Maria Teresa Nidelcoff ; tradução Déborah Jimenez — Atividades: interpretação de testem
indo da reali-
1. ed, — São Paulo : Brasiliense, 1987.
Atividades: o estudo da História part eseeo e
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ISBN 85-11-11032-1 dade mais imediata ......ccuresese
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—— Atividades: escrevendo “livros” coletivos ........
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Fa a Atividades: a poesia nas aulas de Ciências Soci
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Ed Atividades para promover à participação ....
s ... ... .ce eeee 159
Atividades finais para os mais novo
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Atividade: monografias .....ceceeee

EDITORA BRASILIENSE S.A.


Av. Marquês de São Vicente, 1771
01139-903 — São Paulo — SP
Fone (01!) 861-3366 — Fax 861-3024
Filiada à ABDR.
Introdução

Este livro foi escrito como uma contribuição à di-


fusão do uso de metodologias ativas no ensino das Ciên-
cias Sociais. Propõe uma série de experiências realizadas
nesse sentido, não com a pretensão de que sejam mo-
delos, porém como uma forma de estimular a imagi-
nação e a criatividade dos companheiros professores que
as lerem.
Está centralizado no período dos 12 aos 16 anos,
etapa que marca o início do estudo formal das Ciências
Sociais, a cargo de um docente especializado, e se dirige
àqueles que trabalham nas classes populares e se inte-
ressam pela proposta de construir “uma escola para o
povo”.
O que ocorre
com os professores?

Não é habitual, em uma proposta didática, tomar


como base a situação dos professores encarregados de
desenvolvê-la e efetivá-la. Porém, neste caso se faz neces-
sário partir deste ponto, porque se considera, como um
dos fundamentos deste trabalho, que a busca de um en-
sino criativo e participativo dos alunos envolve a criati-
vidade e participação do professor. Não podemos manter
o entusiasmo e a imaginação em cada curso se nos sen-
timos confusos a respeito de nosso papel e nossas possi-
bilidades reais dentro do sistema educacional, constante-
mente ameaçados pela crítica de nossa situação. Efetiva-
mente, poucas instituições são e têm sido tão criticadas
em nossa época como a escola, do ponto de vista de seus
métodos e, ultimamente, frente à realidade do fracasso
escolar. Do mesmo modo, poucos profissionais têm rece-
bido tantas críticas como os nossos — professores de en-
sino primário e médio.* Deixamos de ser considerados
“apóstolos” e figuras paternais ou maternais para nos
convertermos em pessoas que parecem fazer tudo errado,

(*) Na tradução mantivemos a nomenclatura espanhola. Ensino pri-


mário (enserianza primaria) corresponde no Brasil ao 1º grau, 12 a 4º sê-
ries, e ensino médio (enserianza media) corresponde ao 1º grau, 5º a Be
séries. (N. T.)
10 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA nú

haja vista os artigos de imprensa, comentários dos pais e se queixava da forma de ser de uma professora; tendo
estudos que são realizados. Por isso cabe formular-se a sido dito a ele que essa professora geralmente tratava
pergunta que dá nome a este capítulo: O que ocorre, bem seus alunos, ele respondeu: “Claro, nos trata bem
realmente, com os professores? porque é muito fina. Mas quando você está lendo e ela
Refletindo sobre a situação dos que trabalham em diz: “Não é assim...”, você percebe bem 15%que o que ela
meios populares e com adolescentes e pré-adolescentes, está pensando é: “Como você é estúpido...'"”;
Es Err
2) a sociedade e às vezes até mesmo o próprio pro- PAES
constatamos situações que podem esclarecer na procura
de respostas à pergunta formulada: fessor não compreendem a natureza das profundas modi- .. 0 o.
ficações operadas no sistema educacional, que de elitista »=-»o"
1) frequentemente
não conhecemos, ou pelo menos ç pus A
não a fundo, o ambiente em que trabalhamos, sua cul- passou a ser de massas. É comum ouvirmos comentários
- tura, sua linguagem, seus valores, os recursos do meio. de que os alunos antes chegavam ao 2º grau muito me-
t Acorremos a nossas aulas, mas como não convivemos no lhor preparados, sem ponderar que antes chegava a esse
mesmo bairro, somente conhecemos os alunos enquanto nível uma minória escolhida, e que agora uma grande
alunos, e os pais enquanto pais que vêm para entrevistar- massa atinge o 2º grau. Isto é colocado de tal maneira
se conosco. O tempo restante, tratamos com pessoas que que nós, professores, interpretamos que agora ensinamos
falam de forma diferente, que têm outros problemas e pior que antes, quando em verdade o que ocorre é que
outros interesses. antes nos concentrávamos em um pequeno número, e
Como consegiiência disso, muitas vezes sentimos agora estamos dispersos em mais atividades e exigências;
que esse meio nos é estranho e, pior ainda, que não nos além disso, estamos trabalhando com alunos que o velho
agrada. Isto é mais fregiiente quando nossos alunos não sistema descartava. Com essas críticas estamos respon-
são mais meninos, uma vez que estes despertam em nós, dendo pelas consegiências da ampliação das escolas às
mais facilmente, ternura e encanto. Porém, com relação classes populares, ampliação que foi feita sem dotá-las
aos adolescentes, quantas vezes ouvimos, na sala dos pro- dos recursos necessários para enirentar a nova situação.
fessores, críticas a sua linguagem, seus modos grosseiros, Isto é particularmente evidente no ensino médio,
sua maneira de ponderar, chocante para nós; e os acha- onde se vive a desorientação de um sistema que tinha a
mos muito mais autoritários do que gostariamos que fos- missão de formar para a universidade e que agora não se
sem e até mesmo nos decepcionamos com seu machismo sabe bem para onde caminha. O sistema foi ampliado
ou apatia. com o mesmo modelo, considerando que o que era bom
Quanto a seu nível, tendemos a compará-los com para poucos seria bom para muitos. Hoje o fracasso ê
falsos modelos, com os quais nenhuma comparação é vá- grande e as soluções não são tão fáceis, visto que não as
lida do ponto de vista social, cultural e histórico: nossos encontramos. Nós, dos setores progressistas da docência,
filhos, outros jovens de nosso meio, nós mesmos quando temos criticado o sistema atual, porque classifica os alu-
nos em idade precoce fazendo-os escolher em um mo-
tínhamos sua idade.
mento em que não estão suficientemente maduros para
Pior de tudo é que os garotos captam as diferenças e
também não gostam de nós. Sentem a distância e a indi- isso. Defendemos soluções abertas, que não estreitem
ferença. Isto foi claramente expresso por um rapaz que cedo demais os caminhos nem congelem as opções. Con-
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 13
12 MARIA TEREZA NIDELCOFF

tudo, isto, que pressuporia um ciclo comum amplo, é . Efetivamente, nós, professores, enquanto adultos de . EN 1
uma solução cara. À idéia de uma escola comum pata nossa sociedade, participamos do desconcerto da crise de 1”,
'
todos é bela, porém, cara, porque se não se dispõe de valores, e nos pedem ainda que sejamos lúcidos orienta-
dores. Numa sociedade que massifica e vulgariza, nos
funções de apoio e de um pessoal auxiliar que permita
aos alunos menos favorecidos recuperar seus atrasos, pedem que sejamos criativos; que ensinemos a viver em
principalmente a nível de conhecimento instrumental, a liberdade, quando nossa própria liberdade é devorada e
de
escola continuará ajustada aos que já tinham tradicio- esmagada pela servidão e pelas pressões que nascem
e na me-
nalmente acesso a ela, reforçando o fracasso dos setores estruturas que não foram concebidas a serviço
aos quais se pretende abrir. Fazendo um trocadilho, po- dida das necessidades do homem.
demos dizer que muito desorienta aos professores a deso- Por outro lado, enquanto nos dizem para sermos
de
rientação geral. Nós, professores de institutos profissio- criativos e educadores livres, o que realmente esperam
nós, frente a esses milhares de jovens com os quais à So-
“nalizantes ou escolas de bairro, vivemos isto com mais
em-
intensidade, uma vez que trabalhamos diretamente com ciedade não sabe o que fazer, para os quais não há
os alunos que enfrentam tais dificuldades; prego nem recursos para se formarem?... Enquanto nos
dizem belas palavras, às vezes sentimos e entendemos 7
3) deixando de lado essas colocações mais gerais e
voltando o olhar para nós mesmos, tão criticados e auto- que o que realmente esperam de nós é que sejamos uma
criticados, vemos que somos, simplesmente, como os de- creche de adolescentes, uma espécie de polícia mais mei-
quê.
mais homens e mulheres de nossa época, submetidos às ga, que os controle enquanto esperam não se sabe o
a-
mesmas pressões e ao mesmo stress. Porém somos espe- Também esperam que sejamos bons técnicos, prepar
dores de trabalhadores eficientes e módernos. - Neste
cialmente criticados não só pelo fato de que nossa missão
é considerada mais delicada, mas porque estamos mais ponto tomamos consciência de que uma verdadeira edu-
e
expostos, como num cenário, observados por oitenta cação liberadora tem que ser encarada por nossa conta
contra a correnteza. Contudo, para sermos educadores
olhos de um público que não escolheu o espetáculo que
vai ver; em circunstâncias adversas, contra a correnteza da sub-
4) além disso, nosso trabalho põe em evidência uma missão e da apatia, deveríamos ter a força que nasce da
série de contradições da sociedade. Elena Soriano diz em utopia, quando na verdade também nós estamos sendo
o.
seu belo e intenso livro Testimonio materno: “O que é; engolidos pela vida cotidiana e seu duro pragmatism
Por isso, é comum que acabemos optando por ser trans-
então, “bom” para os jovens de hoje e mesmo para os de
amanhã? Não sabemos, não sabemos o que fazer, a deso- missores, mais ou menos capazes, de informação e aban-
rientação e a incerteza é o maior peso que nós, adultos, donemos (por o sentirmos acima de nossas possibili-
carregamos hoje. Pouco ou quase nada está dando certo dades) o título de educadores.
mesma linha de contradições, podemos acres-
com nossos filhos. Por quê? Porque nem eles nem nós Na
centar que é uma profissão que demanda de nós uma
mesmos temos uma filosofia de vida”.!
a uma
grande solidariedade como valor pessoal, em meio
quem puder” . Uma
sociedade individualista do “salve-se
(1) Soriano, Elena, Testimonio materno, Madri, Plaza y Janês Edi-
profissão centralizada na comunicação, de pessoa para
tores, 1985, p. 78.
14 MARÍA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 15

pessoa, numa sociedade que nos isola em pequenos cir- tendemos a reivindicar que nossa atualização seja função
culos de amigos e nos bombardeia com estereótipos que do Estado. Sem abandonar essa posição, creio que de-
em nada favorecem a expressão autêntica do nosso “eu”. vemos ter maior participação a fim de que caminhemos
Como, em contrapartida, não somos capazes de nos para onde realmente queiramos ir, para que nos orga-
organizar nem de nos apoiar entre nós mesmos para nizemos a partir de nossa verdadeira realidade. Esta é a
avançar e criar coisas novas, essa solidão nos leva ao aba- importância de nossas próprias associações e sindicatos,
timento e ao sentimento de impotência; a importância de nos agruparmos e intercambiarmos ex-
5) em nossa profissão, nota-se muito o peso dos periências.
anos... Passamos pelas mesmas etapas e pelos mesmos
avatares que as demais pessoas, mas a passagem do tem-
po e da vida se nota mais em nosso trabalho. Ainda
assim, se fomenta o estereótipo da professora jovem e
meiga com os pequenos ou o professor dinâmico e “pra
frente” do colegial. Outra contradição: é uma profissão
terrivelmente desgastante mas que exige mais disposição
e alegria que qualquer outra.
Frente a isso, constatamos que recebemos muita in-
formação sobre como se supõe que são nossos alunos em
"cada etapa evolutiva e sobre o que devemos fazer ou
* como atuar, mas escassa formação que espelhe a nós
mesmos. Trabalhamos com o mais profundo de nossa
personalidade e deveriamos nos conhecer, saber como
somos, como isso interfere ou fecunda nossa atuação,
como nos desgastamos e como repomos energia, de que
devemos nos cuidar e o que podemos potencializar;
Sm 6) outro aspecto a ser considerado é que poucos
profissionais têm uma linha divisória tão clara entre o
trabalhador de base e a crítica que opina do lado de fora,
- decima e de longe (técnicos, pedagogos de universidade,
“spolíticos). Isso nos torna céticos quanto a suas soluções,
mas também nos leva à frustração de sentir que fazemos
tudo errado e que “não damos uma dentro”.
Vinculado a isto está o assunto de nossa atualização.
Seja por falta de entusiasmo, por nossa insegurança com
respeito ao que somos capazes de fazer e ao que valemos,
ou pela insuficiência de nossos recursos, o caso é que
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 17

Para esta didática, proponho algumas linhas gerais


que configuram um marco de referência para a organi-
zação de nossas aulas de Ciências Sociais, para melhor
selecionar as atividades e valorizar os conteúdos.
Nossa praxe leva implícita uma concepção de socie-
dade e das relações humanas que se faz notar por ação
Uma didática que ou por omissão. Explicitar essas idéias, que de qualquer
maneira darão o colorido a nossa ação, é um ato de cla-
surja de nós mesmos reza para conosco, que deve ser acompanhado de uma
atitude honrosa de respeito ao aluno e da criação de um
ambiente que torne possível a pluralidade. Estas são as
linhas gerais propostas:
1) antes de mais nada, nós, professores, somos pes-) y
Frente à situação descrita na questão anterior, po- soas, temos que nos resgatar como tal, alimentar nosso
dem nos ocorrer diversas formas de saída. A que me vem fogo, viver plenamente, explorar nossas possibilidades,
à mente é que nós, professores, comecemos a atuar ser plenamente seres vivos. Somente um ser vivo pode ser-
com maior participação no processo educativo e ini- um professor desperto. Portanto, não nos deixemos en-
ciemos a criação de uma didática que surja de nós mes- golir pela burocracia ou ritos da profissão, nem pela apa-
mos, que nos tire do processo de despersonalização em tia dos companheiros nem pelos manuais que nos pré-
que nos encontramos e, acima de tudo, possa começar a fabricam as respostas. Devemos nos abrir a múltiplos in-
ser aplicada agora, sem esperar que as coisas mudem
teresses: uma didática amena e viva se baseia numa per-
para que possamos mudar. Assim como as velhas vir- sonalidade rica, com variados interesses humanos e inte-
tudes se opunham aos velhos pecados capitais, pode- lectuais;
ríamos formular alguns pares de opostos, como: contra a 2) valorizar a comunicação e seus componentes afe-
rotina, sermos criativos; contra os anos e a tentação do
cansaço, nos mantermos vivos, novos e curiosos; contra o Não nos temos deparado com inúmeros casos de alunos
predomínio da tecnologia como única proposta de mu- que fracassavam com todos os professores e que, de re-
dança, uma didática fundada na comunicação e no en-
pente, nos assombraram tendo bons resultados com um,
contro entre duas pessoas ou um grupo delas; contra as com quem haviam estabelecido uma relação calorosa e
receitas, inventarmos nós mesmos, de acordo com o que Isso não implica negar a importância
comunicativa?...
somos, já que não podemos criar interesses com o que dos meios e instrumentos de trabalho, mas significa va-
não nos interessa, nem nos alegrarmos com o que não lorizar também, pelo menos tanto quanto a estes, uma
nos alegra; criarmos nós mesmos e valorizarmos muito o atitude franca, tolerante e calorosa. Se alguma coisa —
intercâmbio de experiências, ou seja, contra o individua-
um método, uma forma de avaliação — está sendo obs-
lismo franco-atirador solitário, a solidariedade e o inter-
táculo em nossa relação com os alunos, deve ser deixada
câmbio dos maquis.
de lado. Aprender a ver e a escutar os garotos. Buscar a
18 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 19

comunicação individual quando for possível, não orga- vido em outro trabalho.” Está claro que não será de den-
nizar tudo partindo da relação com o grupo, corrigir seus tro das escolas que sairão as reformas sociais necessárias
trabalhos individualmente, ensiná-los a trabalhar. Quan- para resolver as situações de injustiça. Aqui somente se '
do as autoridades educacionais nos enchem a sala com trata de saber qual é o nosso papel e junto a quem que-
uma multidão de meninos, é porque continuam confun- remos estar. O fato é que o pequeno papel que exercemos
dindo o professor com o conferencista (que, além do nos processos de tomada de consciência dos povos tem
mais, deve cuidar do comportamento de seu “público”); sido bem compreendido pelas ditaduras que vêm to-
3) gostar dos alunos, querer vê-los felizes. Isto é mando o cuidado de suprimir qualquer experiência que
uma utopia? É terrível pensar na resistência que essa fra- possa parecer perigosa;
se despertaria em muitos membros de muitas congre- 5) nossa didática em Ciências Sociais também não 90";
gações. Mas se não somos capazes de gostar deles... o tem por que1 ficar à margem da luta pela paz, pela defesa
que estamos fazendo entre eles? Método algum pode ser do meio ambiente epela justiça social. Creio que não se “|
eficaz quando existe aversão do “professor em relação ao pode pretender ser neutro nesses temas. Às vezes to-
aluno, que acaba sendo necessariamente mútuo. mamos partido por omissão, por exemplo: quando to-
mamos por princípio que as coisas estão como devem es-
Esta carência de afetoé particularmente manifesta
tar e calamos sobre o fato de haver milhares de pessoas
no ensino secundário, uma vez que a relação com os ado-
que não estão conformes com elas e que estão lutando
lescentes exige mais desgaste e é menos gratificante que a
relação com as crianças;
para mudá-las.
Temos que abrir nossa aula para a discussão do
4) ser plenamente conscientes de que vivemosnuma tema sobre a paz: o que é, o que atenta contra ela, como
sociedade com “profundos conflitos de classes, com si- se constrói. Aqui não é válida somente uma colocação
tuações “cotidianas de injustiça social, de impotência espiritualista da paz “na sala de aula”. Isto sô é válido se
frente aos privilégios de alguns. Nós, trabalitadoas do os alunos são também conscientes das causas das guer-
ensino de escolas cujos alunos pertencem precisamente a ras, das injustiças de ordem internacional, da problemá-
esses setores mais desfavorecidos, para os quais não se tica do armamentismo.
estende ainda a tão célebre “igualdade de oportuni- O mesmo ocorre com respeito à preservação do meio
dades”, não somos nem podemos ser neutros, e devemos ambiente. Trata-se de qué aprendam a cuidar do que é
começar por esclarecer para nós mesmos de que lado es- pequeno, seu próprio ambiente, mas que também co-
tamos. Devemos perceber como nossas atitudes, as ati- nheçam as reivindicações dos ecologistas, os grandes pro-
tudes que ajudamos a desenvolver, a forma de organizar blemas de destruição do meio ambiente e suas causas.
nosso trabalho e os conhecimentos que selecionamos Aqui deveríamos ressaltar que não podemos formar uma
ajudam a manter a ignorância, o acatamento e a derrota consciência ecológica se não procurarmos criar condições
ou ajudam a formar indivíduos despertos, informados, para deixá-los à vontade em um ambiente em que pos-
críticos e com a sã rebeldia que pode alimentar a vontade
de mudar as coisas. Não é este o momento para nos de-
(2) Nidelcoff, Maria Tereza, Uma escola para o povo, São Paulo,
termos neste assunto que, a propósito, já foi desenvol- Brasiliense.
CIENCIAS SOCIAIS NA ESCOLA u
20 MARIA TEREZA NIDELCOFF
nsa-
qualguer regime. Isto se ajusta plenamente às respo
sam se desenvolver, se expressar e trabalhar de forma s. E impor-
bilidades de nossa área, as Ciências Sociai
relaxada. Isto nada tem em comum com uma sala de declarações
tante que os alunos conheçam as principais
aula de nível secundário, superlotada, com as paredes
de direitos (humanos, da criança, etc.); que façam suas
nuas, como se não houvesse o que nelas expressar, que os m a inter-
próprias declarações; que vejam e pratique
alunos vivenciam como uma prisão da qual querem es- camen te na im-
relação dever-direito; que procurem criti
capar, com um ritmo de trabalho neurotizante. vida cotidiana
prensa, em seu bairro, em seu colégio, na
» No tocante à justiça, ajudá-los a tomar consciência que na
os casos de não cumprimento desses direitos e
1 do justo e do injusto, na vida cotidiana da escola, mas, o e discu ti-lo ; que se co-
sala de aula possam expressá-l
Ar além disso, não lhes escamotear a discussão dos temas
mece a criar na classe um clima de “direito”;
| importantes: a divisão dos bens e das oportunidades, as o em fo-
| relações internacionais, a política nacional. 8) ter uma constante atitude de inquietaçã
dispostos, quan-
Para formar esse senso de justiça no que se refere ao mentar a criatividade. Às vezes estamos
que os alunos nos fa-
cotidiano, temos que começar por admitir amplamente a do muito, a tolerâ-la, e esperamos
em com faci-
crítica ao nosso trabalho por parte dos alunos, dar-lhes cam propostas criativas, mas estas não surg
is acostu-
explicações sobre nossa maneira de proceder e retificá- lidade, seja porque os alunos estão por dema
seja por-
| las, quando necessário, admitindo ante eles que o esta- mados ao hábito da dependência e da repetição,
numa sala de aula
|| mos fazendo. Procurar uma maneira para que sejam ex- que não imaginam que, na realidade,
armos. É nos-
|| pressas queixas. Por exemplo: dá bom resultado reservar há espaço para quase tudo, se assim o desej
propostas,
|| um canto da sala para que eles exponham publicamente so papel, portanto, dar-lhes pistas, fazer-lhes
am come çar à caminhar.
| suas críticas e que, em assembléias periódicas de classe, abrir-lhes trilhas para que poss
veis de expre ssão.
||| possam discuti-las, analisá-las e solucioná-las na medida Introduzi-los nos diversos meios possí
dário, circuns-
do possível; É lamentável ver, como no ensino secun
oral, deixando de
| || 6) devemos ser sensíveis à problemática da mulher e crever-se tudo à expressão escrita e
ches, a música,
| | | estar atentos para introduzi-la em classe: descobrir a si- lado a cor, a imagem, a mímica, os fanto
| | "1 tuação da mulher nas diferentes épocas que estudamos; etc.
sprezar as
| Por impulsionar o debate sobre a questão; não repetir em Falar em criatividade não implica meno
aquisição de téc-
| “ classe os estereótipos de condutas consideradas “prô- atividades de reforço, indispensáveis à
| || ag prias da mulher”, como arrumar a sala de aula, varrer, r um equilíbrio en-
nicas e procedimentos. Como consegui
||| costurar; ajudá-los a descobrir em seus próprios livros, o desta questão de-
tre criatividade e disciplina? Em torn
| nas revistas que lêem e na publicidade, a imagem da veríamos organizar nosso trabalho;
| mulher que se transmite e se reitera; estimular nas me- suficiente o aspecto lúdico:

a
| ninas a ocupação de espaços a elas vedados e a que não 9) valorizar de forma
alunos descubram e
se deixem subestimar; parece que, em nosso afã de que os
exclusivamente o que
| Jem 7) proponho que outro tema orientador de nossa analisem a realidade, enfatizamos UA
eis, € não
ID Re, “didática seja o dos direitos humanos, com um compro- é sério, os aspectos duros e criticáv
l, o divertido,
wu misso solidário pela defesa da dignidade do homem em suficientemente o prazeroso, O agradáve
2 MARIA TEREZA NIDELCOFF 23
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA

lúdico, como parte dos temas ou parte da relação em mentos desta busca dentro de nossa área. Um exemplo é
classe e dos mil e um incidentes que nela ocorrem
o tema da sexualidade, no qual tão difícil seria separar o
; Neste sentido, deveriamos ter o cuidado de que a psicológico do ético-cultural, quando ela passa a ser um
História das estruturas não seja encarada por nós mes- possível tema para nossa matéria. Por outro lado, me
mos como algo frio e desafeiçoado, sem vida, um prêt-a-
parece imprescindível reivindicar em nosso tempo es-
porter que não é de ninguém. Também devemos nos res-
paços livres para serem preenchidos com interesses dos
guardar do afã de explicar o porquê de tudo, dando-lhes
alunos, espaços para a comunicação e expressão de si
por ansiedade ou falta de tempo as résbostas pronta
s mesmos, lembrando sempre que se trata de pessoas, não
respostas estas que eles aceitam mas que seriam
incar de cérebros; a cd!
pazes de descobrir por si mesmos. Talvez explicando-
11) criar um ambiente sereno e de respeito no qual
LE

lhes menos, porém possibilitando-lhes a descoberta da


de possa aflorar e desenvolver-se a pluralidade dentro
que a História é algo vivo e interessante, eles cheguem
a classe. Para isto, teremos que nos precaver contra nossa LA
querer averiguar os porquês por conta própria. Intro- tendência (por formação, por rotina) às diversas formas 1”
duzir relatos históricos, aspectos interessantes das
bio- de autoritarismo duro, moderado ou “progressista”.
grafias dos protagonistas, quadras e “fofocas” po u- Como integrantes da classe, temos o direito de expressar
lares, dados sobre a vida familiar e cotidiana pe da nossas idéias dentro dela, mas de maneira tal que os alu-
tudo aquilo que os faça ter sempre presente que estão nos entendam que elas não são mais do que isso: as idéias
estudando vidas humanas, como as suas, em outras é do professor, que não pretende que eles as assumam, mas,
cas, outras paisagens ou culturas. ar sim, que saibam trilhar com autonomia seu próprio ca-
Aqui, tal como fiz anteriormente, cabe recordar que
minho e que façam suas próprias descobertas. Um clima
tornar o trabalho agradável não implica o menosprezo do
autoritário e contrário à pluralidade pode ser criado de
au devemos empenhar nele, assim como em todo
diversas formas, por exemplo: castigando ou premiando,
a Fr especialmente nas idades a que nos vimos através da nota, a ortodoxia das idéias expressadas (é o
caso, por exemplo, de um professor que reprovava os tra-
Na 10) ter sempre em mente que a escola não pode
se balhos que admitiam a legalização do aborto, numa oca-
| limitar ao descobrimento do que está fora de nós — o
Ú ( sião em que se elaboraram monografias sobre o tema).
país, o meio, a classe, etc. —, mas que também
deve Outra forma é explicar os fenômenos ou os fatos como se
assumir o descobrimento de si mesmo, do próprio corpo
fosse a única maneira de abordá-los, escamoteando-lhes
das próprias sensações, dos próprios pensamentos ate
a informação de que além dessa maneira de responder às
tos e questionamentos. Apesar de a área de Ciências consideradas válidas por
So- questões colocadas há outras,
ciais se enquadrar principalmente dentro do primeiro (“o
outras correntes ou pessoas;
que estáÉ fora”)ER , não
ans
devemos nos esquecer de que somos 12) partir do que é imediato ao aluno, de sua expe- ""..
seres históricos e que o modo de ver e valorizar o corpo,
o riência conhecida. Cumpriremos.o velho princípio didá-“ 4,
nu, O prazer, o lícito, tem se alterado através do tempo
tico de “ir do conhecido ao desconhecido”, mas, além
de forma que ambos os aspectos não se separam incl:
disso, descobriremos e os faremos descobrir que nossa
vamente e sempre temos oportunidade de incluir mo- realidade cotidiana é muito rica e que nos sugere muitas
24 MARIA TEREZA NIDELCOFF

dúvidas. Quando, em vez disso, precisarmos partir de


alguma realidade afastada dos alunos, no tempo ou no
espaço, deveremos fazer com eles a viagem de retorno
à vida cotidiana e às experiências vividas, conectando as
realidades de diferentes maneiras: através da relação
causa-efeito ou através da comparação, procurando se-
melhanças ou contrastes, sobrevivências ou grandes mu-
danças de certas formas sociais;
cuve tt!” 13) aprender com eles a ser livres, a amar a liber-
peido |»'dade e a descobrir o que a anula. Porém aqui també
O

a
m
+” viveremos com eles a contradição entre as liberdades in- Uma didática ativa
; gu dividuais e a disciplina que a vida em grupo e a apren-
dizagem mais ou menos ordenada de uma ciência su-
põem lembrando que a ordem é um meio e não um fim
em si mesmo. Ampliaremos o campo daquilo que podem Nos cursos, artigos e livros dedicados a temas peda-
escolher, abriremos a possibilidade de que elaborem suas gógicos e até mesmo em circulares das autoridades do
próprias normas mas também lhes exigiremos responsa- sistema educacional nos falam sempre em métodos ativos
bilidades no cumprimento do que for democraticament como algo generalizado quanto a sua aceitação e utili-
e
estabelecido. zação do termo. Não obstante, não é assim que as coisas
Chegamos então ao tema da responsabilidade, que ocorrem, pois o ensino ativo não é, hoje, a realidade de
deveria ser outra norma orientadora de nossa didática. A nossas escolas. No encalço de uma explicação para esta
verdadeira responsabilidade é exercida quando se pode situação dual remontaremos aos antecedentes do ensino
“7, escolher e discutir as decisões para então acostumar-se a ativo como proposta metodológica, para nos interro-
cumprir suas obrigações, não cedendo sem necessidade. garmos então acerca do porquê de algo tão aceito e apa-
Dadas estas lihhas gerais, trata-se de elaborar uma rentemente simples não ter conseguido ainda tornar-se
didática ativa no duplo sentido do termo: ativa por estar real.
*" baseada no princípio de que os alunos aprendem através
de sua atividade e ativa no sentido de que nasça de nossa
vi-“criatividade, que não nos limitemos a copiar propos Qual é a origem da pedagogia ativa
tas
dos manuais ou outras experiências realizadas. como proposta metodológica?

Podemos começar com uma observação da vida co-


fidiana e do senso comum: qualquer ensino que se leve a
sério é ativoe temo aluno como protagonista de sua prôó-
pria aprendizagem. Basta ver um artesão ensinando seu
plício, um agricultor iniciando seu filho nos trabalhos do
Ep
26 ] MARIA TEREZA NIDELCOFE CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA (x)

campo, um treinador esportivo formando uma equipe. alcance e deixai-o resolvê-las. Que nada saiba por-
Se olharmos para trás no tempo, recolheremos o mesmo que o tenhais dito, senão porque o tenha aprendido
dado. Exemplo: os espartanos organizavam uma série de por si mesmo; que não aprenda a ciência, que a in-
experiências pelas quais deveria passar o futuro guer- vente. Se fazeis com que em seu espírito a autori-
reiro, não se limitando a explicar-lhe o que deveria fazer. dade substitua a razão, ele não raciocinará jamais,
As dificuldades se colocam, como vemos, não en- somente será o joguete da opinião dos demais”.
So*?*4

quanto aprendizagens práticas, mas enquanto aprendi-


zagens intelectuais. A esse respeito recolhemos também O conceito de “atividade” foi chave no movimento
textos que já apontavam a necessidade de uma pedagogia da chamada “escola nova”, que se desenvolveu especial-
ativa muito tempo antes. Vejamos John Locke no século mente nos últimos anos do século passado. Esta corrente
XVII: derivou de uma nova compreensão das necessidades da
infância, inspirando-se nas colaborações que ciências em
“Os meninos são mais ativos e empreendedores desenvolvimento como a Biologia e a Psicologia reali-
que em nenhuma outra idade da vida, e lhes é indife- zavam. A função geral do processo educativo foi, para
rente fazer uma coisa ou outra, contanto que a fa- esses pedagogos, o desenvolvimento individual das capa-
çam, e lhes dá na mesma dançar ou brincar de amare- cidades dos indivíduos. A partir disto realizaram uma
linha, quando encontram um mesmo estímulo ou os ampla crítica dos métodos tradicionais de ensino, crian-
mesmos inconvenientes. do-se a oposição “ensino tradicional” X “escola nova”.
Porém, em se tratando de seus estudos, a razão Nesta oposição o caráter mais distintivo era precisamente
única e suficiente para desanimá-los é que os obri- v conceito de ensino ativo. Frente a um ensino no qual
guem, que se faça deles uma obrigação, um objeto de tudo se reduzia (ou em muitos casos, no ensino secun-
tormentos e repreensões, e assim o farão tremendo e dário, poderíamos dizer “se reduz”) a explicar a lição e
com temor, ou quando se aplicam neles voluntaria- tomar a lição ou dar um exame, propuseram que os alu-
mente, se são retidos por tempo excessivo até que es- nos aprendessem “observando, investigando, pergun-
tejam cansados e aborrecidos; tudo isto restringe por fundo, trabalhando, construindo, pensando e resolvendo
demais essa liberdade natural que amam apaixona- slluações problemáticas”... Frente à dicotomia “razão-
damente”.* ção” do ensino tradicional, a nova escola procurou inte-
grar esses conceitos, concebendo a aprendizagem como
E como não citar nesta linha Rousseau, que tanta
um processo ativo no qual se fundem “'sensibilidade,
influência teria na nova pedagogia do século XX:
Ação e pensamento”.é
“Fazendo com que vosso aluno esteja atento aos fe- Cito Ferriére como um dos representantes desse
nômenos da natureza, em breve o fareis curioso; movimento, que escrevia em 1920:
mas para nutrir sua curiosidade, não vos apresseis
nunca em satisfazê-la. (4) 1.-], Rousseau, Emilio o de la educación, Livro terceiro, Madri,
Colocai as questões ao seu Wlblioteca Edaf, 1969, p. 179.
(5) Lourenço Filho, Introdução ao estudo da Escola Nova (Intro-
(3) John Locke, Pensamentos sobre a educação, Seção VIII. veión al estudio de la Escuela Nueva, Buenos Aires, Kapelusz, 1964).
MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 29

“A atividade espontânea, pessoal e fecunda é a meta mento das demais matérias. Também não parece muito
da escola ativa. Tal ideal não é novo. Foi a aspiração conciliável com as exigências de um sistema educacional
de Montaigne, de Locke, de J.-J. Rousseau, o centro em escala estatal (não numa “escola nova” experimental)
vital do sistema educativo sonhado por Pestalozzi, nem com a disciplina que implica a aquisição do método
Fichte, Froebel. Em síntese: o modelo de perfeição próprio a toda formação científica. Feitas estas ressalvas,
sobre o qual se assentaram todos os pedagogos intui- cabe perguntar se, ainda que descartemos todo o valor
tivos e geniais do passado, os grandes precursores. da palavra “espontânea”, fazemos o possível para re-
Mas examinando a difusão de sua obra e o progresso duzir os limites da coerção.
da ciência, se chega à conclusão de que a força sobre Primeiramente, a atividade foi considerada como
a qual se apoiaram — a intuição — foi também sua um fim em si mesma, mas, com a prática, passou a ser
debilidade. Fizeram conjecturas sobre os problemas uma “condição necessária” para o alcance de seus fins
da infância; mas não os conheceram de maneira educativos. ;
exata, científica. Antes do advento da Psicologia Nos Estados Unidos as correntes educacionais forte-
experimental, o educador não pressentia mais um mente influenciadas pela figura de John Dewey insis-
caminho, hoje já sabe algo, amanhã, muito mais. E tiram muito nesse conceito de “aprendizagem ativa”,
o que aprendemos? Que a criança cresce como uma aprender a atuar atuando.
pequena planta, de acordo com leis que lhe são pró-
prias; e que não possui certamente mais do que assi- “A escola atual... se propõe a dotar a criança de há-
milou por um trabalho pessoal de digestão. O me- bitos práticos e intelectuais dos quais terá necessi-
lhor dos adubos químicos, se espalhado a pinceladas dade mais tarde, numa sociedade em que tudo se
sobre o tronco de uma árvore, não aportaria ne- faz para mantê-la afastada, privando-a durante seus
nhum benefício. Se o córtex não conseguisse romper anos de estudo de todo contato vital com ela. A úni-
esse verniz, o vegetal pereceria. Assim ocorre com ca maneira de prepará-la para uma tarefa social é
frequência na escola tradicional. É necessário que se comprometê-la com a vida social.””
aprenda a colocar o alimento ao pé da planta para
que a chuva o arraste em direção às raízes, para en- Pode-se observar que esta concepção de escola como
tão presenciarmos o trabalho de assimilação, lento “ensaio para a vida” se torna real, nos proponhamos ou
mas efetivo, que fará a árvore produzir as mais belas não a que o seja. Com uma escola passiva, à margem da
flores e as mais lindas frutas” $ realidade social, também os preparamos para a vida; os
habituamos a ser massa, a admitir as coisas para não
a E evidente que esse conceito de atividade “espon- sofrer represália, a não desejar o que está reservado para
tânea” é difícil de ser assumido por um professor que outros, a não pensar por si mesmos e a seguir um diri-
está encerrado numa gama muito limitada de possibili- gente que pensa e “sabe”.
dades: normas, avaliações, tempo escasso, desenvolvi-
(7) Dewey, John, L'école et V'enfant, cit. em Palmero, J., Histoire des
(6) Ferriêre, La escuela activa, Studium, 1971, p. 11. institutions et des doctrines pédagogiques, Paris, Sudel, 1958, p. 422.
30 MARÍA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 31

Essa fase da “escola nova” centrada no desenvolvi- fazendas vizinhas, se informa, pergunta os preços, lê li-
mento das capacidades individuais do sujeito, vros, ouve conversas. Atua, então, conforme suas neces-
num sen-
tido “rousseauniano” de algo que está no interi sidades e possibilidades. Dizem: “Tentemos uma destas
or e que
apenas carece das condições para que se desenvolva, ferramentas. Se tiver êxito avançarei um pouco mais no
du-
rou até a Primeira Guerra Mundial. As perturbaçõ próximo ano”. O pedagogo que queira mudar suas téc-
es da
vida social, assim como a difusão das idéias socialistas, nicas educativas deverá proceder como o agricultor: com
colocaram em evidência a importância de outros fatore prudência e de forma gradual..."* e ele mesmo estabe-
s
que atuavam no desenvolvimento dos indivíduos: os leceu quais os passos gradativos e experimentais que po-
fa-
tores sociais, culturais, históricos e econômicos. A deriam levar a converter uma aula tradicional numa aula
se-
guinte citação resume bem a crítica à escola nova do de escola moderna do método Freinet.
pon-
to de vista marxista: Passaram-se muitos anos desde que foram formu-
ladas essas idéias e desde que se efetivaram as mais fa-
“As idéias de educação livre não são outra coisa que mosas experiências. Não obstante, as coisas nas escolas
uma típica utopia reacionária. Seu ponto de vista não mudaram tão depressa.
é
uma “natureza” de criança ideal e imutável que não Que dificuldades a pedagogia ativa encontrou para
existe senão na imaginação destes pedagogos idea- introduzir-se nas escolas? :
listas e que seria o determinante do caráter e desen- Para encontrar a resposta a esta questão poderiamos
volvimento da criança, ignorando toda a impor- refletir partindo de diferentes pontos: E
tância da história e do meio ambiente”. 1) do ponto de vista da sociedade. Há uma evidente
contradição entre as correntes que pretendem formar um
Nesta etapa é imprescindível mencionar à figura indivíduo protagonista de seus próprios processos e uma
de
Celestin Freinet e seu movimento de escola moderna sociedade onde se tende à massificação, entre a formação
e as
correntes que dele derivaram. Descobriram novas quali- de um participante ativo e a tendência atual de con-
dades necessárias a esta aprendizagem através da ativi- dução, por poucas mãos, da economia e da política do
dade: que ela seja liberadora, isto é, que conduza mundo. Outra contradição é que a pedagogia ativa visa
o in-
divíduo a tomar consciência de sua realidade, analis potencializar o indivíduo criador, e a sociedade o neces-
á-la,
criticá-la e expressá-la. Freinet se preocupou intens sita como consumidor e trabalhador bem treinado. Nos-
a-
mente com que suas experiências não fossem uma avis sa sociedade procura e estimula “os criativos”: aqueles
rara dentro do sistema educacional, nem uma experiên- indivíduos capazes de dar de si mesmos e descobrir novos
cia isolada, criando um movimento de professores e po- rumos para a produção ou para a eficácia das instituições
tencializando todas as formas de intercâmbio. vigentes, mas não suportaria facilmente que todo homem
“O agricultor não modifica subitamente toda a sua pudesse ser um indivíduo criativo e rebelde. ;
técnica de cultivo. Compara seu rendimento com Por outra parte, o Estado continua dedicando re-
o das
cursos insuficientes para a educação das classes popu-
(8) Lunatcharsky er alii, La Internacional Comuni
sta y la escuela,
Barcelona, Icaria, 1978, p. 186. (9) Freinet, C., L 'école moderne française.
32 MARÍA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 33

lares; assim, enquanto os colégios particulares de elite criança, seus interesses, seu prazer. Porém não está claro
reduzem ao máximo o número de alunos por classe, nos o que ocorre com o adolescente, no qual se apresentam
bairros de periferia as classes continuam superlotadas. algumas diferenças evidentes com respeito ao ensino pri-
Aqui devemos recordar duas condições básicas para pas- mário: o adolescente estabelece uma relação afetiva com
| sar a uma pedagogia ativa: reduzir o número de alunos
|
o professor diferente da criança, precisa desapegar-se,
por sala de aula e reduzir o conteúdo dos programas, já confia menos, precisa se confrontar com o adulto para
/ que dissertar sobre um processo ou fenômeno não é a ser-ele-mesmo. É, portanto, mais difícil sintonizar com
| mesma coisa que tentar que eles o descubram ou ana- ele e motivá-lo a partir do professor e da escola. Esse
| lisem por si mesmos. Neste caso se empregará mais tem- desapego também se dá com relação aos conhecimentos
* po mas haverá verdadeiro aprendizado; que os ministérios decidem que os alunos de nível secun-
2) do ponto de vista dos professores. As rotinas do dário devem adquirir na escola. Seus novos corpos re-
sistema educacional de que somos um produto especial clamam urgentemente outros interesses muito vivos, a
pesam muito: muitos de nós não têm experiências de tra- sociedade os bombardeia, nem sempre para seu bem,
balho fora dele, concluímos o ciclo de formação como com inúmeras solicitações. A aprendizagem escolar fica,
estudantes e voltamos a nos inserir no sistema como do- assim, facilmente fora de competição, principalmente
centes. Pesa muito, então, nossa própria formação, e para os moços mais rebeldes e abertos à vida. A nível de
tendemos facilmente a aplicar o modelo que temos tão ensino secundário, se faz mais evidente a necessidade de
interiorizado desde nossa infância. uma preparação séria e específica para um futuro que se
Pela nossa própria formação na escola tradicional, coloca muito imediato: a universidade, o mercado de
nos sentimos inseguros ao abrir novos caminhos e ao trabalho. Então, logicamente cresce a resistência dos
projetar novas experiências, e tendemos a nos agarrar no alunos, seus pais e professores contra arriscar-se em mu-
que outros fizeram, Por isso a escola ativa está danças e novos caminhos, e se prefere ir pelas desbara-
entrando, tadas vias conhecidas, circunstancialmente seguras, pois
timidamente, no compasso das editoras: estas elaboram
textos “ativos” e os professores os aplicam. D novo sempre necessita de certa rodagem para ser eficaz;
Por outro 4) do ponto de vista dos criadores de novas cor-
lado, deveríamos ser nós mesmos protagonistas ativos da
mudança nas escolas para que pudéssemos rentes. Eles elaboram um sistema sobre uma série de su-
dar aos alu-
nos a possibilidade de sê-lo também. posições, mas poucas vezes se esforçaram em conectar
esse novo sistema com a realidade da escola pública
Assusta, da mesma forma, ao professorado, a mul- tomo instituição e para ver através de que passos a expe-
tiplicidade de experiências críticas, umas em oposição a fiência seria parcial e gradualmente aplicável a esta. Va-
- Outras. Ficamos, assim, esperando a experiência, aquela lem para tanto dois exemplos: so
definitiva. na qual possamos confiar. Mas esta não exis- * como organizar escolas com experiências novas,
te: é caminhando que se abre caminho na multiplicidade que supõem professores comprometidos com elas e inte-
enriquecedora de respostas; grados em equipes estáveis, e conciliar isto com um sis-
3) do ponto de vista dos professores de ensino mé- tema escolar de promoções, ao qual como trabalhadores
dio. A maior parte das experiências está centrada na temos direito?
MARIA TEREZA NIDELCOFF

* como conseguir a mudança de todo um sistema


sem, entretanto, contradizer-se com seus próprios princí-
pios, o que nos levaria a descartar a imposição, criadora
da passividade?
5) do ponto de vista dos pais. A responsabilidade e
o temor destes frente a uma sociedade competitiva e fe-
rozmente seletiva os leva a suspeitar mais e a temer a in-
trodução de mudanças, quanto mais radicais estas fo-
rem. Eles pensam, com razão, no “depois”, em como se
enlaça o que se está fazendo com o grau seguinte ou com
o que a sociedade exige. Por exemplo: numa escola pri-
mária onde havia um verdadeiro ambiente de liberdade e
Que atividades selecionar?
participação, os pais disseram que os alunos recebiam
um choque muito forte ao passar para o ensino médio em
institutos nos quais as coisas eram muito diferentes, pe-
Este é o problema que se coloca ao professor deci-
dindo que a escola que havia sofrido a mudança se adap-
dido a mudar de metodologia, uma vez que esteja con-
tasse à realidade global, que continuava como antes.
vencido de que os alunos aprendem através de sua pró-
pria atividade.
Para responder a essa questão, antes de mais nada,
se faz necessário definir o conceito de “atividade educa-—"cã
tiva”. Podemos dizer que é tudo aquilo que os alunos fa-
zem-para alcançar uma meta ou um objetivo previamente
proposto, seja ele um conhecimento, uma atitude ou um
hábito: Não implica necessariamente movimento ou ati-
vidade física, mas também não o exclui, como fazia a es-
tola tradicional.
Nesta definição podem ser destacados três pontos:
1) quem atua para aprender é o protagonista do
processo, ou-seja, o aluno, de modo contrário ao tradi-
do -
tlonal, no qual o aluno é o espectador da atividade
“professor;
ma 2) osalunos não são cérebros, são pessoas. Por isso
Éinseparável a aprendizagem de conteúdos da aquisição
de atitudes e hábitos. Mesmo quando um professor acre-
dita estar se circunscrevendo à transmissão de conheci-
entos, está formando hábitos e atitudes. Exemplo: o
37
36 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA

s;
método “explicação-exame” desenvolve uma atitude pas- saber utilizar os diferentes índices dos livro
siva e repetitiva e o hábito de conceber a aprendizagem ler com atenção;
como sinônimo de ouvir uma explicação. Os alunos for- extrair as principais idéias de um texto;
,
mados desta maneira rechaçam, frequentemente, os mé- elaborar diferentes tipos de resumos e esquemas
s, gráfi cos
todos diferentes que outro professor pretenda introduzir * concentrar-se na interpretação de mapa
Ea nt
e preferem o mecanismo habitual, que é o único que co- E estatísticas;
ão míni ma básic a, que
nhecem. e memorizar uma informaç
será o alicerce de uma informação poste rior;
clara e or-
* seguir certas normas que tornem mais
Que atividades são válidas denada sua expressão oral e escrita;
de tra-
na aprendizagem das Ciências Sociais? d) que permitam desenvolver a capacidade
balhar cooperativamente, com o conjunto da classe e em
1) A princípio, as atividades são um caminho para aos
upos;
exig ências,
alcançar uma meta, portanto serão válidas na medida
E E que estabeleçam níveis adequados de
em que sejam aptas para produzir os hábitos e atitudes r abaixo das possi-
Já que é igualmente negativo trabalha
que queremos que nossos alunos adotem e para que assi- sá-las;
bilidades dos alunos, tanto quanto ultrapas
l de tra-
) que permitam manter um ritmo agradáve
milem a informação selecionada para eles.
Se quisermos, então, formar pessoas livres, equili- ando ser um fator
balho, nem opressivo nem forçado, evit
bradas, autônomas e responsáveis por seus deveres de de métodos
neurotizante. Isto, como já vimos ao falar
solidariedade para com o povo a que pertencem, as ati- :
ativos, repercute na seleção de conteúdos.
2) Em. nossa área são básicas as atividades que le-
vidades devem ter certas qualidades, a saber:
a) que favoreçam o trabalho independente, o que a, em parte, as il
vam.asaber informar-se. Isto se ajust
não significa mandá-los sozinhos ao encontro de dificul- cas de estu o.
dades, mas sim dar-lhes métodos de trabalho que lhes tas de estudo dirigido ou aquisição de técni
aspecto impor-
permitam avançar cada vez mais autonomamente em suas Mas vai além disso: é a formação de um
rmar-se”, que pres-
tarefas; tantíssimo no cidadão, o “saber info
supõe:
b) que fomentem a expressão, e também a mani-
festação da dúvida ou da crítica; saber procurar a informação;
c) que levem os alunos a adquirir uma disciplina saber compará-la;
pessoal de trabalho. Por mais que respeitemos sua liber- analisar sua tendenciosidade;
das fontes de
dade, é imprescindível recuperar o termo “disciplina de compreender o valor e a incidência
o a
trabalho”, dando-lhe em nossas matérias as seguintes informação;
e visual em
condições: o esforço, as repetições e as exigências neces- e interpretar mapas e material gráfico
sárias para adquirir certos hábitos úteis, tais como: geral;
º saber organizar seu tempo e seus materiais de es- e analisar a propaganda;
tudo; e interpretar estatísticas;
38 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 39

* saber escutar (uma conversa, informe de rádio, | E o que ocorrerá com a tradicional explicação do
um discurso, etc.): — professor, será necessário descartá-la? Sim, ue
* saber ver e ouvir um noticiário de televisão; Eai
método habitual ou exclusivo, Não como Fequrano
* interpretar uma foto ou uma segiiência de filme. uma atividade a mais com um objetivo específico: a
Isto é adquirido como parte de nossas matérias, mas que os alunos aprendam a ouvir uma exposição oral,
tem um valor muito amplo na formação da consciência a tomar notas, para de uma
para que aprendam
crítica do cidadão. visão global de uma unidade que se inicia, para O sig
3) Dentro da área de Ciências Sociais existem ativi- uma informação de difícil acesso para os alunos. onse-
dades específicas, por reproduzirem o método de tra- ilentemente, supõe uma preparação pelo professor, não
balho destas ciências, o trabalho do historiador e do geó- somente da informação que a exposição contém, mas
grafo, tais como: também da forma de organizá-la e compô-la e dos apoios
º a interpretação de testemunhos históricos de di- visuais que a complementam.
ferentes tipos;
* o estudo do meio, parcial ou integral;
* a cartografia; Atividades comuns e atividades especiais
* a atitude de tomar como base para a formação de
idéias e opiniões a análise de fatos e situações concretos; Organizando o trabalho escolar a partir de um mé-
* a capacidade de observar a realidade social e fí- todo ativo, distingo dois tipos de atividades ao programar
sica que nos rodeia. uma unidade. Umas são cotidianas, de curto alcance, e
4) Como também se inclui dentro de nossa área a constituem o corpo habitual das unidades de tal maneira -
contribuiçãoà formação do cidadão, serão importantes que, em função da repetição de cada uma delas ou de um.
todas as atividades q e fomentem a participação: grupo de atividad es tipo, o es
do mesmo o.
* participação nas tomadas de decisões da classe; domínio desse estilo de trabalho e aprenda a apren es
* participação na organização do trabalho, dentro nossas matérias: roteiros de estudo, resumos, ara e
do possível; mapas, interpretação de testemunhos, análise de tex os,
* participação em debates, discussões, mesas-re- trabalho com estatística, trabalho em escala, “eleção
dondas, etc; vom a atualidade. Porém também é necessário incluir
* conhecimento das técnicas de grupo que podem putras atividades de maior alcance que sejam como um
ser usadas em cada caso, para dinamizar a participação lempero da rotina, mais motivadoras e voltadas para
de seus companheiros. uma realização prática, como, por exemplo, peaenço
À participação criará contradições com nossa auto- projetos que se incluam no desenvolvimento normal, a
ridade, contradições que deveremos assumir, pois nosso rém ativo, das unidades. Seus objetivos devem estar rela-
papel é o de autoridade — democrática, mas autoridade. clonados com a unidade e podem motivar o estudo desta,
Não deveremos eludir nosso papel de adultos, mas sim
rever temas estudados ou reforçar certas aprendizagens.
nos dispor a cumpri-lo em suas contradições: autoridade- Entretanto, sua finalidade mais importante se expressa
participação e ordem-liberdade, fa mencionada frase de ser ele “'tempero e sabor”, um
40 MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 41
pouco de alegria e cor no habitual e repet
itivo. Essas ati- * permitem-nos romper com a monotonia, o tédio e
vidades nos permitem uma solução quando
atuamos so- | pessimismo, respirar um pouco de ar fresco e nos moti-
zinhos ou com algum companheiro, mas
dentro de uma yarmos, condição indispensável para motivar os alunos;
estrutura que se mantém nas vias tradiciona
is. Nestes ca- * permitem-nos ser criadores de nossa didática; ;
sos, torna-se difícil introduzir mudanças
radicais de en- * permitem-nos contar aos nossos companheiros
foque e de metodologia. Encaramos então
pequenos pro- pequenas coisas possíveis, levanta mais o ânimo e dá
jetos possíveis.
O maior inimigo desses pequenos projetos fais esperança que ingerir muitas páginas de irreali-
é o tem- ghveis teorias em nossas atuais condições de trabalho.
Po, que não deixa outra solução que “tirá-lo”
de outros
conteúdos, com a convicção de que é mais valioso
parti-
cipar de uma experiência de construção do próprio
co- Proposta de atividades, segundo Freinet
nhecimento, que engolir mais temas numa
posição recep-
tiva.
Na linha de educação popular, Celestin Freinet é
provavelmente a figura mais valiosa e conhecida. Numa
O valor das pequenas experiências de suas obras ele nos propõe uma relação de atividades
fue, ao serem incorporadas, nos vão permitindo ir pas-
O objetivo deste trabalho é recuperar o valor das dundo, paulatinamente, de uma aula tradicional a uma
pequenas experiências que muitos de nós reali nula de outro tipo, passo que às vezes quisemos dar sem
zamos nas
aulas e que, habitualmente, permanecem oculta anber como.' y
s, conhe-
cidas talvez só por nós mesmos é por isso incom Algumas dessas sugestões de Freinet podem ser in-
pletas,
não avaliadas nem contrastadas com outras opiniõ porporadas pelo professor de Ciências Sociais como ati-
es e
pareceres. Vidades. Exemplos:
Para nós que, ano após ano, vivemos a ilusão 1) passeios no meio ambiente (bairro, cidade, mu-
e o
temor de uma mudança, junto com a desil us, fábricas, etc.);
usão e o desa-
lento, pela reiteração de velhos males, peque 2) caderno de perguntas “para anotar as perguntas
nas expe-
riências, que não pretendem uma mudança total, “dos alunos”, que serão respondidas numa hora determi-
têm
valores, tais como: mada. Essas perguntas poderão ser, também, ponto de
* a multiplicação de criação e pesquisa, ainda partida para investigações de grupos ou pessoais;
que
não estejam coordenadas entre si nem sistematizadas, ; 3) texto livre. É difícil introduzi-lo se formos apenas
irão esfacelando, desde sua base, a estrutura
impessoal fessores de Ciências Sociais, mas podemos introduzir
do ensino tradicional;
Weu método para corrigir trabalhos de alunos; exemplo:
* permitem que nós, professores e alunos, Wnúlise de textos ou redações. Os passos para esse mé-
nos trei-
nemos em outra forma de trabalho, encaminhan
do-nos lodo de correção seriam os seguintes:
para uma pedagogia ativa, que admitimos na teoria
, mas
que geralmente não sabemos como praticar;
(10) Freinet, €., L'école moderne française.
42 MARÍA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 43

a) tirar cópias do trabalho de um dos alunos, de 9) elaboração de audiovisuais, vídeos e programas


de
maneira que cada um deles tenha um exemplar: Fúdio. Isto dependerá, naturalmente, dos materiais de
b) com a participação de toda a classe, corrigir esse que se disponha. Os programas de rádio devem ser pro-
trabalho, ordená-lo adequadamente, acrescentar-lhe su- iluzidos, gravados e ouvidos na classe ou se possível na
gestões, eliminar repetições, corrigir a sua forma de ex- escola. Os audiovisuais podem ser montados com diapo-
pressão, enfim, enriquecê-lo e transformá-lo numa obra | ditivos comprados, fotografados pelos alunos ou dese-
coletiva; fhados por eles.
c) passá-lo a limpo, incorporando todas as contri- Outra atividade possível nessa linha são as oficinas,
buições do grupo. fas estas requerem a colaboração de outros professores.
4) jornal mural. Com matéria informativa, nacional [im nosso caso, poderiam ser: jornalismo, construção de
e internacional, trabalhos que valham a pena expor, no- material didático, elaboração de audiovisuais, cons-
tícias da classe, queixas dos alunos, etc.; irução de maquetes, etc.
5) fichário escolar cooperativo. Isto é indispensável
se quisermos dispor de um material mais vivo e atuali-
zado que o livro didático. Recortando artigos da im-
prensa, recolhendo comunicados de partidos políticos ou Às atividades na unidade didática
grupos de pressão, “quadrinhas”, etc., e classificando
esse material de acordo com diferentes assuntos, te- “Programar” é uma atividade que chegou às escolas
remos, aos poucos, dossiês bastante completos. Ao mes- por meio de circulares e resoluções das autoridades edu-
mo tempo, poderemos intercambiar material com outros Pacionais, isto é, como atividade imposta. Isto a trans-
companheiros que trabalhem numa linha semelhante; forma fregúentemente em algo que se faz apenas como
6) dicionário. Elaboração de um vocabulário espe- Bbrigação, sem reconhecer sua importância, importância
cífico de nossas matérias, com explicações acessíveis que, por outro lado, é exaltada pela bibliografia utili-
para nossos alunos das últimas séries da escola primária da. Contudo é necessário programar, como se procede
e início do ensino médio, já que nestes casos não nos são om qualquer trabalho sério que se queira realizar meto-
úteis os dicionários existentes de Ciências Sociais, prin- ilicamente. Para uma pedagogia ativa é condição que o
cipalmente quando os alunos têm dificuldade de expres- Programa não seja uma sucessão de assuntos, tal como
são. Com nossa ajuda, cada aluno irá elaborar seu pró- vegar no mar sem avistar a orla, mas que seus con-
prio dicionário; púdos sejam organizados em torno de questões centrais,
7) seminários de alunos. Não se trata de “declamar”' ue constituam unidades, que abrem e fecham um ciclo,
a lição, mas de assumir nosso lugar na classe, expondo, Pomo quando se navega de uma ilha para outra.
individualmente ou em grupos, um assunto que tenha Cada professor ou grupo de professores que se reúna
sido preparado com material visual de apoio; pura programar deverá escolher um modelo que lhe pa-
8) diário escolar, narrando os incidentes da vida eça adequado (projetos, núcleos de interesse, unidades
cotidiana da classe. Pode ser acrescentado ao jornal mu- de trabalho, unidades didáticas) e escolherá também a
ral; prma de programar de acordo com esse modelo.
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 45
44 MARIA TEREZA NIDELCOFF

No caso das unidades didáticas são úteis as seguin- q a) Atividades de apresentação: são as que intro-
tes etapas: uzem e motivam os alunos para o assunto. É conve-
1) considerando os conteúdos da programação ofi- lente que cada unidade parta da apresentação global do
cial que devemos desenvolver, identificar os grandes problema, abordagem do problema como um todo, apre-
assuntos que constituirão as “unidades”; * gentando-o, fazendo com que os alunos se aproximem
2) formular uma questão principal que centralize os dele, constituindo-o como objetivo da/ das atividades de
apresentação. Têm, além disso, como missão ganhar o
assuntos da unidade. Por exemplo: “qual é a origem da
nossa civilização?”, “por que consideramos a Grécia a “Iiteresse dos alunos. Podem ser uma narração oral, uma
base de nossa civilização?”, “em que se assemelham e loltura, uma conversação, ouvir uma canção adequada
em que diferem as duas superpotências?”... A pergunta,
Ho assunto, diapositivos, uma observação da vida coti-
que pode ser o título da unidade, nos ajuda a precisar a.
diana, etc.
Na apresentação da unidade os alunos também to-
informação que queremos que os alunos adquiram, nos
ajuda também a selecionar os conteúdos, dependendo de: marão nota de seus conteúdos, do tempo que se traba-
= I|hará nela, de quais serão os trabalhos que serão reali-
sua funcionalidade, para resolver o problema no qual
centralizamos a unidade, e ajuda os alunos também a gados, de que materiais de estudo necessitarão; poderão
perceberem o que se espera que conheçam findo o estudo razer idéias ou sugerir atividades e, finalmente, saberão,
da unidade. — nproximadamente, quando serão dados os exercícios de
“avaliação (parciais ou finais) e a data de entrega dos tra-
A resposta à pergunta constitui o objetivo principal | balhos.
de conhecimento da unidade; b) Atividades de desenvolvimento ou de estudo da
3) selecionar os conteúdos adequados à resolução do " unidade: são aquelas escolhidas para abordar o estudo
problema formulado, tendo em conta o tempo que lhe fe cada um dos assuntos da unidade — exposições orais,
podemos dedicar. Contudo, não é realista programar as * patudo dirigido, trabalho em grupos, elaboração de re-
atitudes e as aptidões unidade por unidade. É mais con- sumos, interpretação de testemunhos, vinculação com o
veniente fazê-lo para o curso inteiro. A programação de presente, trabalho em escala, diapositivos, etc. Em cada
aptidões a serem adquiridas ou reforçadas será conside- " jema parcial será feita referência à pergunta central em
rada ao selecionar-se as atividades da unidade. As ati- forno da qual se está fixado.
tudes cuja aquisição ou prática se tenham em vista são c) Atividades finais de reforço: parte-se do enfoque
um ponto a ser considerado ao longo do curso; global da unidade, em seguida se faz o estudo desta,
Te-
4) formulada a pergunta que centraliza a unidade e: lema por tema, e finalmente torna-se necessário
selecionados os conteúdos adequados para respondê-la, tompor novamente a unidade. E o momento de verificar
passamos às atividades com as quais esperamos que os | resposta global ao problema central da unidade em
alunos aprendam, já que partimos do conceito de que o questão. São atividades de reforço que não devem ser
sujeito aprende através de sua própria confundidas com a avaliação final da unidade. Elas po-
ação. As ativi-
dades podem ser de apresentação, de desenvolvimento e dem ser: um comentário oral, um debate, Jogos de per-
finais. guntas e respostas, um mural coletivo, uma redação cole-
46 MARIA TEREZA NIDELCOFF

tiva, uma exposição de trabalhos realizados no decorre


da unidade, etc. As atividades finais podem coloca
questões que constituam a apresentação da unidade se-
guinte;
5) As formas de avaliação são escolhidas tendo em
conta o objetivo central de conhecimento e as atividades
realizadas, isto é: tudo o que foi realizado deve ser
to- Atividades: interpretação
mado em conta ao fazer-se a avaliação, e os exercícios de
avaliação não podem iritroduzir formas de trabalho dife-
de testemunhos
rentes das utilizadas no decorrer da unidade.
nas dife-
rentes atividades.

A interpretação de testemunhos é uma atividade que


" não pode faltar numa didática ativa de História, enten-
endo-se por testemunho tudo o que restou do passado do
"Homem, tanto objetos, documentos escritos, bem como
“fudo aquilo que nos chega gravado, pintado, desenhado,
“llmado, fotografado, etc. Quanto menores forem os alu-
os mais conveniente será que os testemunhos utilizados
dejam visuais ou os próprios objetos, já que os textos ofe-
fecem às crianças dificuldades e são para elas menos
rativos. Os documentos de tipo legal e político (leis,
pntados, decretos, etc.) praticamente devem ser descar-
dos do 1º grau, pelas dificuldades que apresentam em
“eu vocabulário e conteúdo, assim como pela pouca mo-
livação que geram. Em compensação podem ser utili-
dos textos narrativos ou descritivos, que permitam co-
nhecer costumes, modos de vida, acontecimentos pito-
pescos, etc.
" Ospassos para a análise de um testemunho escrito
“lou texto histórico) nos últimos anos do ensino primário
primeiros do secundário, podem ser os seguintes:
| e determinar de que tipo de texto se trata (relato de
Wm viajante, depoimento de uma testemunha ocular, um
rtigo de imprensa, uma canção popular antiga, etc.);
a4B MARÍA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 49
º situá-lo temporalmente — enunciar os dados que
surjam do documento que permitam datá-lo exata ou * formular todas as hipóteses que lhes venham à
aproximadamente. Quando estes dados são escasso mente sobre a época do objeto, a partir da observação
s ou.
difíceis de deduzir, o professor deve situar o documento:
Ep: enunciar os passos que devem ser dados para a
em seu lugar e tempo;
* observar quem é o autor e determinar se estava verificação das hipóteses. E z
. O processo de formulação de hipóteses, a noção de
em condições de conhecer a realidade sobre a qual es-
creveu e que motivos teria para ser parcial de uma que seu valor depende da possibilidade de sua verificação
ou. E que para tanto seria necessário todo um trabalho pos-
outra maneira;
* explicação do significado de todos os termos lerior, são fatores importantes para gue os alunos com-
ou ndam através da vivência a fragilidade e a força da
expressões que ofereçam dificuldades;
* após uma releitura, resumir oralmente o conteúdo stória como ciência. Fragilidade, porque eles compre-
global do texto; derão que do testemunho se obtém uma informação
* fazer um esquema com as idéias principais; [iagmentada, com sombras, e que pode ser permeada
º realizar uma última leitura minuciosa, “pela mesma tendenciosidade que pode estar presente no
esclare- j Homento de interpretar a fonte e formular as hipóteses.
cendo todas as expressões obscuras, colocando todas
as | tretanto captarão a força do conhecimento da ciência
questões e os aspectos confusos, explicando todas as
alu- h tórica, quando encontrarem as formas para verificar
sões históricas, estabelecendo relações com outra infor-
mação conhecida vinculada a esta e situando num mapa “uasas hipóteses e observar os contrastes entre as fontes; a
os lugares mencionados; Informação é então ampliada e discutida e descartam-se
* formular todas as hipóteses possíveis, a partir do “as informações insuficientemente fundamentadas.
texto, sobre a época ou realidade que estamos estudando,
e enunciar os passos que deveriam ser dados para veri-
ficá-las; Análise de alguns testemunhos
* sintetizar toda a informação que se tenha sobre o
assunto e a época em que se situa. Pestemunhos orais
Um testemunho visual ou um objeto pode ser anali-
sado seguindo um esquema similar ao anterior: — Purante o levantamento de dados sobre a história de
* descrever detalhadametne o objeto ou imagem; auas famílias, numa série do secundário, com alunos de
* situá-lo temporal e espacialmente; | sroximadamente 15 anos, estes trouxeram alguns teste-
º* observar quem é o autor. No caso de pinturas ou munhos que podiam ser trabalhados conjuntamente:
fotografias, ver como e em que sentido o testemunho
pode “retocar” a realidade; N Meu avôõ disse
di que
ue q quando era
r pequeno,
planearem sua.
casa não utilizavam garfo, comiam só co >
* colocar todas as dúvidas que surjam sobre o uso
do objeto e sua técnica de fabricação, ou sobre a reali- “Meu avô se lembra de um canto, da época da Re-
dade refletida pela imagem: pública, em seu povoado (província de Jaén):
50 MARÍA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 51

“Arriba la cuchara Contrastar e ampliar a informação oral com novos


abajo el tenedor dados: Au
Y, como soy comunista, 1) informar-se se há outras famílias que alegam o
viva el martillo y la hoz'."* uso habitual da colher na época em que estamos estu-
dundo; É
Vários alunos concordam, imediatamente, pelo fato 2) informar-se se outros avós conhecem esse canto e
de seu avós também dizerem que quando eram crianças do lembram que sentido as pessoas lhe davam ao cantá-
raramente comiam carne e que abundavam os pratos “de
colher”. Esta última informação não deixava margem à 3) procurar informação em livros de História, sobre
lo; . “ . .

dúvida mas o canto e o primeiro testemunho oferecia à extensão do Partido Comunista na Espanha, na época
uma possibilidade de diálogo, reflexão e busca de novos la Segunda República, comprovando se é verossímil que
dados: que talheres utilizavam as classes populares cam- E puvesse circulado tal canto.
ponesas para comer na época em que nossos avós eram É
crianças?; a que se refere o canto quando diz “acima al
colher”?; e quando diz “abaixo o garfo”?; em que co- Pestemunhos visuais
midas utilizamos principalmente o garfo?: ea colher?
Hipóteses que podem ser formuladas: 1) Pintura egípcia da XVIII dinastia (reprodução
* “as famílias de classe popular camponesa da épo- Tirada de Luis Suárez Fernández, “Las primeras civiliza-
ca da infância de nossos avós não utilizavam ou utilizavam Plones”, Historia Universal, EUNSA, tomo 1, p. 181).
pouco o garfo”: Idade dos alunos: últimas séries do primário.
* “isto ocorria porque comiam pouca carne”; Atividades
* “quando o canto diz “acima a colher' se refere aos a) A época da pintura pode ser aproximadamente o
que comiam com colher, ou seja, os pobres”: ulo XVI a. €C. Numa linha que represente o tempo,
* “quando diz “abaixo o garfo", se refere aos que ar esse século e o nosso século XX. Calcular o tempo
transcorrido.
podiam comer carne, ou seja, os mais abastados”;
b) Descrever a pintura, observando:
* “nessa época, nos povoados da província de Jaén, * a embarcação, suas características;
havia gente que se declarava comunista”; * as atividades dos personagens: alguns carregam
* “nessa época, havia gente que aspirava uma mu- prcadorias; o que está no ângulo inferior direito parece
dança revolucionária que desse o poder aos mais po- ro capataz;
bres”. * observar o vestuário;
Os passos seguintes para a verificação de hipóteses * descrever o estereótipo da representação da figura
deveriam ser: “Humana observada;
| e observar os signos que podem ser vistos na parte
(*) “Acima a colher/ Abaixo o garfo / e como sou comunista / viva iperior, acrescentando o dado de que se trata de escri-
omartelo e a foice." (N. T.) N hieroglífica.
s2 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 53

c) Observando o mapa, localizar por onde poderia b) Descrever a imagem e o que fazem os perso-
navegar essa pequena embarcação. fiagens: como obtêm água, quem e como a transportam,
d) Formular hipóteses, tais como: vom quem conversam as mulheres, o que fazem as que
“Os egípcios navegavam pelo rio Nilo em pequenos esperam, descrever as vestimentas.
barcos de três remos”: c) Hipóteses que poderiam formular:
“Em seus barcos transportavam recipientes com vi- “Nesse bairro de Madri não havia água corrente nas
nho, cerveja ou...”; CASAS ;
“Transportavam cereal”: “As mulheres e as crianças se juntavam para buscar
“Um capataz com um açoite dirigia o trabalho”; Âgua nas fontes”; !
“Vestiam sungas”: “Utilizavam cântaros e moringas”;
“Pintavam o torso e os olhos de frente e o rosto eas “Não tinham pressa”;
extremidades de perfil”. “As vizinhas conversavam nas fontes”;
e) Introduzir perguntas que não possam ser respon- “Havia um serviço policial de vigilância”;
didas através da observação direta da imagem: “As mulheres vestiam saia comprida, lenço e aven-
1]
Todos os barcos eram como esse?
A que se destinava a carga: à venda, a pagar tributo, p d) Perguntas que podem ser formuladas a partir do
à tropa? texto:
f) Estabelecer os passos que devem ser dados para Por que vieram os guardas? Estão fazendo sua ron-
verificação das hipóteses ou responder às perguntas:
a da habitual ou acudiram a algum chamado e, neste
paso, por quê? ;
* comparar essa pintura com outras pinturas egíp-
cias nas quais se vejam barcos;
Bi
De que falam as mulheres: é uma conversa amis-
'
* comparar essa figura com outras representações , estão intervindo porque houve alguma contenda,
egípcias e comprovar se era habitual essa maneira dem informação sobre alguém?
de re- Para quem é a água que o menino carrega: para sua
presentar a figura humana;
º fazer a observação de que se alguém nos deci-
, ou trabalha levando água para alguma família?
frasse o texto, provavelmente teríamos resposta A água seria potável? Trata-se de uma fonte ou de
para to- E Ê ima torneira pública de água corrente?
das as perguntas.
2) Costumes de Madri.
Desde quando existe o sistema de água corrente em
Uma fonte de bairro. 1870 Madri?
(tirado de Pierre Leon, Historia económica
mundo, tomo 4, Madri, 1980, p. 382).
e social del Existem ainda cidades e povoados em que as pes-
5 se abasteçam de água dessa maneira? Onde? |
Idade dos alunos: escola primária.
e) Passos que poderiam ser dados para a verificação
Atividades hipóteses ou para responder às perguntas :
a) Calcular o tempo transcorrido. Calcular quem, e Coligir dados (fotografias, informação oral, re-
em sua família, poderia viver nessa época; por exemp ptes de jornais) em que se veja a sobrevivência desta
lo:
o trisavô. a de abastecimento de água e comparar.
54 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 55

* Coligir dados sobre o comportamento das “Nessa época, ao representar as cenas, não se levava
pessoas
nas fontes dos povoados, por exemplo, comp A
arando co pm conta a perspectiva”.
agravura. g) Perguntas a serem formuladas, que o texto não
º* Buscar informação em livros de História, tesponde, mas sugere: gbr
sobre o
trabalho das crianças no século XIX e sobre e Em todas as regiões da Europa as videiras eram
o sistema de:
água corrente em Madri, desde a sua insta desse tipo?
lação.
3) Camponeses medievais (“Apocalipsis
del siglo: e Emtoda a Europa Ocidental se trabalhava de ma-
XII”, Monasterio de Larvão, Portugal, 9
em Luís Adão da feira similar?
Fonseca, “La cristiandad medieval”, Historia e Para quem será o vinho que preparar: para eles
Universal,
tomo 5, EUNSA, p. 233). jnesmos, para seu senhor, para um mosteiro? ;
e Esses camponeses são homens livres ou servos?
Alunos de primário e início do ensino médio h) Passos que poderiam ser dados para responder
.
Atividades Às perguntas ou verificar as hipóteses: olRi
a) Numa linha que represente o tempo histó * comparar com outras imagens medievais;
rico, si- * comparar com a informação obtida em algum
tuar o século XII e o século XX. Situar geog
raficamente | “texto sobre a vida do camponês medieval;
acena.
* proporcionar dados sobre a ceifa, a vindima e a
b) Descrever: os trabalhos que se realizam,
os ins- Eliboração do vinho pelos mesmos métodos, atualmente,
trumentos e ferramentas.
' Te .
c) Comentar se essas tarefas podem ser
realizadas Ê cura; informação sobre os tipos de videiras, al-
na mesma época do ano, tal como estão represen
tadas na tas ou baixas, de acordo com os climas; o
imagem.
* pesquisar quando se iniciou a utilização da pers-
d) Observar a distribuição das figuras no plano tiva.
e
comparar o tamanho delas entre si e em |) Atividades criativas. Neste caso, como no ante-
relação ao ca-
való e ao farnel de cereal.
br, no primário, pode-se complementar 0 trabalho de
e) Comparar esses trabalhos com formas atuai nálise de um testemunho visual com atividades de in-
s de
trabalho, observando que em certas
regiões as coisas ção, como a de inventar diálogos entre camponeses
mudaram muito, mas que em povoados
e aldeias sobre- V iquanto trabalham, canções que pudessem cantar, etc.
vivem algumas dessas formas.
j 4) Pesadelo do rei Henrique T da Inglaterra quando
f) Formulação de hipóteses, por exemplo: tava na Normandia (manuscrito do século XII da crô-
“Os camponeses medievais de Portugal cultivavam | n de Juan Worcester, extraído de Luís. Adão da Fon-
videiras altas, de tipo emparrada”:; medieval”, Historia Universal,
4 pa, “La cristiandad
“Utilizavam foices para ceifar o cereal”: Homo 5, EUNSA, p. 222).
“Para fazer o vinho, espremiam a uva
com os pés
descalços”:
Para primeiras séries do ensino médio.
“Dispunham de prensas manuais para a
uva”; Atividades
MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 7

a), Descrever as três cenas, ver o que


têm em co- e procurar informação sobre revoltas camponesas e
mum, interpretar as imagens, discutir
que elementos de- seus motivos, nessa época.
terminam que os personagens apareçam em
sonhos e não i) Atividades criativas: teatralizar em classe, repre-
na realidade.
sentando as cenas da crônica, inventando os diálogos,
b) Comparar com uma história em quad
rinhos acrescentando-lhe balões de quadrinhos, com diálogos.
atual: em que se assemelham e em quê se
diferenciam; 5) Cartazes da Segunda República e da Guerra Civil
por meio de que recursos atualmente
são representados Espanhola (extraído de História de Esparia, de Historia,
os sonhos.
16, nº 12, p. 51).
c) Descrever as ferramentas dos camp
oneses, suas
atitudes, imaginar que coisas poderiam
dizer ou pedir ao Para o ensino médio.
rei.
d) Descrever as armas e vestes dos caval Atividades
eiros, ima-
ginar seu diálogo com o rei. 1º cartaz
e) Repetir o trabalho com a cena em que a) Procurar indicações que permitam estabelecer se
aparecem
os representantes do clero, observar o signi o cartaz pertence à época da guerra ou se é anterior a ela
ficado dos
bordões. (por exemplo, ver de que lado ficaram as províncias men-
D Refletir no porquê de o rei sonhar, de acor cionadas de Palencia e Leôn, no começo da guerra).
do com
a crônica, com esses três estratos. b) Procurar o significado de todas as siglas que
8) Hipóteses e perguntas aparecem.
nam Na sociedade medieval, em torno c) Observar quem patrocinou ou “assinou” o car-
do século XII, taz. Observar que se trata de um cartaz destinado a fazer
avia três grupos sociais bem definido
s: os cavaleiros, o
clero e os camponeses”; propaganda de uma política determinada, patrocinada
Cada um desses grupos sociais tinha seus pelos que assinam o cartaz.
próprios d) Descrever o cartaz e explicar seu significado.
interesses e lutava por eles”:
e) Hipóteses e perguntas que os alunos podem for-
ne As tensões entre os grupos sociais chegavam
até o mular:
rei”;
“Antes da guerra propiciou-se uma colaboração en-
“Que grupos sociais preoc Upariam
i um governante trea CNT ea UGT (Confederação Nacional dos Traba-
atualmente? Por quê?”.
lhadores e União Geral dos Trabalhadores) para conse-
h) Atividades para verificar as hipóteses e escla- guir determinados objetivos”;
recer as perguntas:
“Os anarquistas estavam interessados nessa colabo-
* procurar informação bibliográfica sobre
os três ração e faziam propaganda da idéia”;
estratos da sociedade medieval, sua situação
social, seus “O lema era que os campos e as fábricas passassem
problemas e poderes.
. procurar informação sobre o poder
para as mãos dos sindicatos”; ,
real no século “Era um objetivo revolucionário”;
XII, compará-lo com os anteriores.
“Por que os socialistas não assinaram o cartaz?”;
58 MARIA TEREZA NIDELCOEF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 59
“Havia contato e colaboração entre os trabalha-
dores do campo e os da cidade?”: “Tentavam capturar soldados adversários”;
“Quanto durou a coligação entre a CNT ea BIS ER”. “Pereceram muitos milicianos da cultura”;
f) Passos a serem dados para verificar as hipóteses “O sindicato FETE estava muito comprometido na
e
responder às perguntas: frente republicana com essa tarefa cultural”.
* Procurar informação bibliográfica e confrontar e) Ampliar a informação, tratando de confrontar a
os
dados. aqui obtida com as respostas a questões que surjam, tais
* Observar mapas de províncias fiéis à República como:
e
rebeldes a ela, no início da Guerra Civil. Quem compunha as missões culturais?
jaiê Procurar informação sobre “socialismo” Quem as sustentava economicamente?
e “anar-
quismo”: idéias, métodos de luta, relações Que funções tinham os “lares de soldado”? E os in-
entre si.
* Procurar testemunhos orais, pesquisar infor ternatos militares?
ma-
ções dos avós ou pessoas de sua idade.
Testemunhos escritos
2º cartaz
f a) Neste caso a tarefa de datar o cartaz 1) China no século XVIII
está feita:
situar a “frente de centro”. Ler os nomes (Extraído de Fernand Braudel, Las civilizaciones ac-
geográficos
(Madri, Escorial, Alcalá de Henares, tuales, Madri, Editorial Tecnos, 1969, p. 196, citando P.
Aranjuez) e loca-
lizar num mapa a zona representada de Halde, Description géographique, historique, chrono-
no cartaz.
b) Explicar, de acordo com o cartaz, as logigue, politique et physique de Empire de Chine,
atividades
desenvolvidas pelas “milícias da cultura”, tomo 2, 1735.)
] c) Analisar e discutir se a fonte pode “Não obstante a sobriedade e diligência do povo chi-
influir na
orientação do cartaz e como. Refletir sobre nês, a grande quantidade de habitantes provoca uma ex-
o sentido pro-
pagandístico do cartaz e o porquê trema miséria. Pode-se ver chineses tão pobres que, ca-
da necessidade desta
propaganda. recendo dos elementos necessários para alimentar seus
d) Formular, como nos casos filhos, os abandonam nas ruas, principalmente quando
anteriores, as hipó-
teses possíveis a partir dos dados oferecidos as mães se encontram doentes ou não têm leite suficiente
pelo cartaz
tais como: para amamentá-los. Estes pequenos seres inocentes vêem-
“Duran te a guerra, a frente republicana se assim condenados de certa maneira à morte, na au-
desenvolveu
muitas atividades culturais”: rora de suas vidas: isto chama a atenção nas grandes ca-
“Havia muitos soldados analfabetos nessa pitais como Pequim e Cantão, pois nas outras cidades as
época”;
“Isto permite considerar que a porcentagem pessoas mal tomam conhecimento.
de anal-
fabetos na Espanha era muito alta”; Este fato levou os missionários a instituir nesses lu-
“Para difundir suas idéias usavam rádio, cinema,
gares muito povoados um certo número de catequistas,
Jornais murais e alto-falantes”; que se dividem pelos bairros e os recolhem pela manhã
“Era uma guerra de trincheiras": para levar a bênção do batismo a uma multidão de crian-
cas moribundas.
MARÍA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 61

Com a mesma pretensão, convenciam, às vezes, par- e) Analisar criticamente a forma de enfrentar a su-
teiras infiéis a se deixarem acompanhar por jovens cris-
perpopulação e a atitude dos catequistas do ponto de vis-
tãs às diversas casas a que eram chamadas, porque é cos-
ta da época e do atual. Levantar situações similares no
tume entre os chineses, quando não têm condições de
manter uma família numerosa,
mundo de hoje.
contratar essas parteiras f) Formular hipóteses sobre a China do século
para afogar as meninas recém-nascidas em tinas cheias
d'água. Estas jovens cristãs encarregam-se de batizá-las, XVI: a
encontrando assim, estas pobres vítimas da indigência de “No século XVIII, a China já tinha um problema
seus pais, a vida eterna nas mesmas águas que lhes ti- de superpopulação”; o
rariam uma vida curta e infeliz.” Este texto, como todos “A pobreza extrema levava as famílias a abandonar
os testemunhos, é trabalhado de forma relacionada com os recém-nascidos”: E
um assunto determinado da programação que, neste “Muitas meninas eram afogadas ao nascer”;
caso, poderia ser: “A expansão da civilização européia” “A vida da mulher era menos valorizada que a do
ou “A China atual”. homem”; dogs
a) Observar de que tipo de texto se trata: uma des- “O cristianismo já tinha penetrado na China r
crição geográfica do século XVIII. “Os missionários atuavam com a colaboração de
b) Observar que o autor é europeu é cristão e ana- catequistas”;
lisar como isto pode influir no texto. Verificar se, efeti- “Os catequisadores se encarregavam de batizar as
vamente, sua religião e origem influenciam (“as pobres crianças antes de morrerem”,
vítimas da indigência de seus pais encontram a vida eter-
g) Formular perguntas e levantar dados que am-
na nas mesmas águas que lhe tirariam uma vida curta
e pliem a informação:
infeliz”, “parteiras infiéis”).
Por que matavam as meninas? :
c) Explicar o significado dos termos que despertem
Por que os catequisadores não tentavam salvá-las?
dúvidas.
Que política adota a China atualmente para enfren-
d) Resumir o texto e esquematizar suas idéias prin-
tar o problema da superpopulação? Ê E
cipais.
Que comparação pode ser estabelecida entre a “po-
breza extrema” do século XVIII e a situação atual da
a superpopulação é a causa de miséria China?
Como pode influir esse passado na mentalidade chi-
a miséria os leva a nesa atual? ;
De que meios dispomos atualmente para evitar
matar as meninas abandonar os filhos uma gravidez indesejada? Rasa
ao nascer que não podem manter Que situações de “pobreza extrema” existem no
[ Í mundo atual? Poeta
os cristãos se encarregam de batizá-los Como atua hoje o homem europeu frente à miséria e
à morte de crianças em outros lugares do mundo?
MARÍA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 63

2) Os pobres na Europa do século XVI mandaram assar pão em quantidade para distribuí-lo
(Extraído de Fernand Braudel, Las civilizaciones ac- entre os pobres, os quais seriam reunidos numa das por-
tuales, Madri, Editorial Tecnos, 1969, pp. 359-360, ci- tas da cidade sem que soubessem o que se tramava e,
tando Documents inédits de | Histoire de France.) distribuindo a cada um a parte correspondente de pão e
“.. A causa da intensa carestia do custo de vida e uma moeda de prata, os fariam sair da cidade por aquela
das dificuldades encontradas na aquisição de trigo e pão porta, que seria imediatamente fechada após passar o
na cidade e jurisdição de Provins era a grande quanti- último dos pobres, e, por cima das muralhas, lhes diriam
dade de pessoas que havia nela, das cidades e dos po- que fossem viver com Deus em outro lugar e que não
voados de Bray, de Sens, de Auxerre..., de Borgonha, da mais voltassem à cidade de Troyes antes da colheita se-
Champagne, do Bourbonnais..., pessoas que se lan- guinte. E assim foi. Os pobres expulsos depois da distri-
çaram em multidão através de toda a região de Provins, buição se mostraram horrorizados e alguns deles, cho-
alguns para comprar trigo e pão, outros para encontrar rando, procuraram um caminho a tomar para chegar a
trabalho, sem pedir outra remuneração que o pão e a algum lugar onde pudessem ganhar a vida, enquanto ou-
sopa que lhes garantiam o sustento... tros amaldiçoavam a cidade e seus habitantes que assim
«.. É impossível descrever o infortúnio e a pobreza os expulsaram, olhavam o último naco de pão que lhes
dessa época miserável, e creio que todo aquele que ler havia sido distribuído e desejavam sua própria morte,
esta ou qualquer outra história escrita sobre essa ca- muitos ter-se-iam alegrado se a terra se abrisse sob seus.
restia e esse período de fome não conseguirá crer. Dentro pés e os tragasse.
das muralhas da cidade de Troyes, na Champagne, apa- Poucos dias depois que os habitantes de Troyes se
receu um grande número de estrangeiros pobres que não fizeram valer dessa artimanha para se desfazer dos po-
pertenciam à cidade nem à referida região, e os habi- bres da cidade, a doença e a morte caíram sobre eles tão
tantes da cidade não sabiam que medida tomar. Para se violentamente que não houve maneira de escapar, e... há
desfazer deles fizeram proclamar pelas ruas que tais es- quem diga que esta morte lhes foi enviada por Deus como
trangeiros não poderiam permanecer na cidade mais do castigo por haverem expulsado os pobres.”
que vinte e quatro horas, medida acatada pelos estran-
geiros pobres. Para as primeiras séries do ensino médio.
Porém, além deles, havia na cidade uma quantidade Deve-se seguir a orientação anteriormente enun-
ainda maior de pobres que pertenciam à própria cidade e ciada, conveniente na análise de um texto histórico. Ao
aos povoados que a circundavam, até o ponto em que os analisar o documento devem ser destacados os seguintes
ricos começaram a temer que se produzisse uma revolta aspectos:
ou uma sublevação dos pobres contra eles e, visando con- O trigo e o cereal constituíam a base da alimentação.
seguir expulsá-los da cidade, os homens ricos e os gover- Sua escassez ou carestia provocava grandes fomes. À
nadores da cidade de Troyes se reuniram em assembléia, fome provocava o deslocamento de habitantes dos po-
dispostos a encontrar uma solução para o problema. A voados para as cidades e o deslocamento entre cidades.
resolução deste conselho foi de que se tinha de expulsar O pão e a sopa bastavam como alimento nesses mo-
os pobres da cidade e não admiti-los mais. Para tanto, mentos. As cidades procuravam formas de se verem livres
MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA as
64

dessas massas esfomeadas, por temer uma revolta contra vidências em razão dos domicílios e vizinhanças dos que
os ricos. se denominam ciganos; e não tendo sido suficiente para
Observar que as cidades eram cercadas de muralhas. refrear suas maldades, sendo conveniente aplicar o de-
Captar o desespero dos expulsos. vido remédio, à consulta de meu Conselho de 17 de se-
Observar a idéia de “castigo divino” e de como as tembro passado, tomei a resolução de que todos os Co-
cidades estavam indefesas ante a doença e a morte. mandantes Gerais, Intendentes e Corregedores de ca-
Podem-se estabelecer comparações entre a narração beças de província façam publicar pregões e editais, para
do texto e o que ocorre atualmente na África ou outros que todos os ciganos, que fazem vizinhança nas cidades e
lugares do Terceiro Mundo, Pode-se também comparar vilas de suas jurisdições, sejam restituídos no término de
a atitude da cidade com relação aos imigrantes indi- quinze dias aos lugares de seus domicílios; sob a pena de
gentes, com a situação atual dos imigrantes dos países serem declarados, passado este prazo, bandidos públi-
mais pobres rumo aos países mais industrializados ea cos, e de que, pelo fato de serem encontrados com ou
atitude destes frente a tal imigração. Podem ser feitas per- sem armas fora dos limites de sua vizinhança, seja lícito,
guntas a serem respondidas em trabalhos posteriores de usar armas contra eles e tirar-lhes a vida: passado o refe-
investigação bibliográfica ou imaginando asrespostas, de- rido prazo, se encarreguem estritamente os referidos Co-
pendendo dos casos, Por exemplo: mandantes Gerais, Intendentes e Corregedores, por si
O que fariam os famintos expulsos? Como conse- mesmos ou por pessoas de integridade e de sua maior
guiriam alimento? confiança que saiam com tropa armada, e se não as hou-
Quantos anos poderiam viver essas pessoas com esse ver, com as milícias e seus Oficiais, acompanhados das
tipo de alimentação? rondas a cavalo destinadas ao resguardo das Rendas, a
Os ricos temiam a insurreição dos pobres. Houve percorrer todo o distrito de suas jurisdições, fazendo as di-
nessa época alguma sublevação desse tipo? ligências necessárias para aprender os ciganos e ciganas
Como viviam os ricos nessa época? que se encontrarem pelas vias públicas ou outros lugares
Como era a arte nesse século? fora de suas vizinhanças, e pelo fato da contravenção lhes
Há pinturas que reflitam a vida social européia nes- seja imposta a pena de morte: em caso de se refugiarem
sa época? em lugares sagrados, poderão ser extraídos e conduzidos
aos cárceres mais imediatos e fortes, nos quais serão
3) Aexpulsão dos ciganos no reinado de Filipe V mantidos e se os Juízes eclesiásticos procederem contra
(Historia de Esparia, dirigida por Manuel Tufion de as Justiças seculares, a fim de que sejam restituídos à
Lara, tomo 12 (“Textos y documentos”), Barcelona, Edi- Igreja, se valham dos recursos da força estabelecidos pelo
torial Labor, 1985, p. 49.) Direito: declarando, como declaro, que todos os ciganos,
D. Filipe V, em San Lorenzo, por resolução de 30 de que saírem de seus domicílios permanentes, sejam tidos
outubro, em Conselho de 17 de setembro de 1745: por rebeldes, incorrigíveis e inimigos da paz pública:
“Por quanto pela pragmática publicada em 14 de sendo como é minha vontade, todas as milícias que se
maio de 1717 e provisão de 8 de outubro de 1738 e outras empenharem em reconhecer, perseguir e castigar os ci-
ordens anteriores estão prevenidas e tomadas várias pro- ganos de suas províncias, e os Oficiais que as mandarem,
56 MARÍA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 67

enquanto estiverem empregados, serão socorridos por Existia a pena de morte.


minha Real Fazenda com o salário correspondente a sua Admitiam que as autoridades e milícias matassem
manutenção. Encarrego ao Governador e aos de meu os pretensos bandidos.
Conselho, que zelando pelo exato cumprimento dos Cor- Onde não havia tropa armada participavam milícias.
regedores e Justiças nos explicados assuntos, sempre que A Fazenda Real sustentava economicamente essa
reconhecerem ou justificarem extrajudicialmente sua ne- atividade repressiva.
egligência e omissão culpável, os mandem suspender de
Os ciganos eram considerados rebeldes, incorri-
imediato de seu exercício, consultando-me no que for
giveis e inimigos da paz pública.
conveniente para separar de meu Real serviço seme-
f) Formular perguntas, como por exemplo:
lhantes Ministros e dando por vago seu emprego, não
possam ser consultados nem propostos”. Quem eram os ciganos? Quando haviam chegado?
Já se haviam tomado medidas repressivas contra seu
Para o ensino médio. modo de vida?
Atividades Por que persistia seu nomadismo?
a) Situar temporalmente o texto, caracterizar o rei- Por que esse nomadismo perturbava as autoridades?
nado de Filipe V. Que sentimentos despertavam nos ciganos essas
b) Depois da primeira leitura, esclarecer o vocabu- medidas?
lário (pragmática, providências, Conselho, Intendentes, Qual é sua situação atual?
Corregedores, editais, milícias, contravenção, lugares Existem preconceitos contra eles?
sagrados, Juízes eclesiásticos, Justiças seculares, Real Como pode ter influenciado a mentalidade cigana
Fazenda). um passado como o que evidenciam esses documentos?
c) Após uma segunda leitura, resumi-lo oralmente. g) Realizar atividades posteriores para confrontar e
d) Esquema das idéias principais: ampliar a informação procurando as respostas em livros,
Os ciganos têm 15 dias para fixar domicílio recortes de jornais, relatos orais sobre a atual situação do
povo cigano, estatísticas sobre o tema, observação de ce-
Os que forem surpreendidos fora de seu domicílio nas de rua (mendicância, venda ambulante), ouvir discos,
serão realizar debates, etc.

condenados à morte declarados bandidos públicos 4) Programa do PSOE em 1879


(Extraído de História de Esparia, dirigida por Ma-
e) O caráter oficial do decreto permite deduzir afir- nuel Tufion de Lara, tomo 12 (“Textos y Documentos”),
mações tais como: Barcelona, Editorial Labor, 1985, p. 246-247.)
Os ciganos ainda persistiam em seu nomadismo. “Considerando que a sociedade atual tem por fun-
As autoridades não toleravam tal nomadismo e os damento o antagonismo de classes;
castigavam considerando-os bandidos públicos e ma- Que este alcançou em nossos dias seu maior grau de
tarmida-os desenvolvimento, como revela claramente o número cada
68 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 69
vez mais reduzido dos imensamente ricos e o sempre cres- E como meios imediatos para nos aproximarmos da
cente dos imensamente pobres; realização deste ideal, os seguintes:
Que a exploração que exercem aqueles sobre estes se Liberdade política. Direito de coalizão ou legalidade
deve unicamente à posse da terra pelos primeiros, tal das greves. Redução de horas de trabalho. Proibição do
como das máquinas e demais instrumentos de trabalho; trabalho de crianças menores de nove anos, e de todo
Que tal posse está garantida pelo poder político, trabalho pouco higiênico ou contrário aos bons costumes
hoje em mãos da classe exploradora, ou seja, da classe para as mulheres. Leis protetoras da vida e da saúde dos
média. trabalhadores. Criação de comissões de vigilância, elei-
Por outro lado: tas pelos operários, as quais visitarão as moradias que
Considerando que a necessidade, estes habitem, as minas, as fábricas e as oficinas. Pro-
a razão e a jus-
tiça exigem que o antagonismo entre as classes desapa-
teção às Caixas de auxílio mútuo e pensões aos inválidos
reça, reformando ou destruindo um estado social que pelo trabalho. Regulamento de trabalho das prisões.
mantém na mais espantosa miséria os que empregam sua Criação de escolas gratuitas para o ensino primário e
vida toda
médio e de escolas profissionais em cujos estabeleci-
em produzir a riqueza que possuem os que
pouco, ou nada, são úteis à sociedade; mentos a instrução e educação sejam laicas. Justiça gra-
tuita e júri para todos os delitos. Serviço militar obriga-
Que isto não pode ser conseguido senão de um sô
tório e universal e milícia popular. Reformas das leis de
modo: abolindo as classes e com elas os privilégios e as
inquilinato e despejo e de todas aquelas que tendam di-
injustiças que atualmente reinam e criando em seu lugar
retamente a lesar os interesses da classe trabalhadora.
coletividades operárias unidas entre si pela reciproci-
Aquisição pelo Estado de todos os meios de transporte e
dade e interesse comum;
de circulação, bem como das minas, bosques, etc..., e
Que as transformações da propriedade individual
concessão de serviços destas propriedades às associações
em propriedade social ou da sociedade inteira é a base
operárias constituídas ou que se constituam para esse
firme e segura em que há de repousar a emancipação dos
eleito. E a todos aqueles meios que o Partido Socialista
trabalhadores;
Operário Espanhol determine de acordo com as necessi-
Que a poderosa alavanca com que estes haverão de dades dos tempos.”
remover e destruir os obstáculos que se oponham a essa Madri, 9 de julho de 1879 — Alejandro Ocina, Gonzalo
transformação da propriedade há de ser o Poder político, H. Zubiaurre, Victoriano Calderón, Pablo Iglesias.
do qual se vale a classe média para impedir a reivíndi-
cação de nossos direitos. Para o ensino médio.
Por todas estas razões, o Partido Socialista Ope- E conveniente que este texto seja analisado poste-
rário Espanhol declara que sua aspiração é: riormente ao estudo, em termos gerais, das correntes de
Abolição de classes, ou seja, emancipação completa pensamento e ação revolucionária que surgiram, no sé-
dos trabalhadores. Transformação da propriedade indi- culo XIX, como resposta às condições de vida impostas
vidual em propriedade social ou da sociedade inteira. pelo capitalismo, especialmente o marxismo, para poder
Posse do Poder político pela classe trabalhadora. relacioná-lo com o conteúdo deste documento. Como não
7 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA mn

oferece dificuldades de vocabulário e é bastante simples, d) o texto propõe certas aspirações a longo prazo e
os alunos podem analisá-lo de forma autônoma, indivi- algumas medidas imediatas para aproximar-se desse
dualmente ou em grupos. Poderiam utilizar um roteiro ideal. Enuncie-as:
de trabalho, do seguinte tipo:
A) leia o texto sublinhando as palavras cujo signifi- Aspirações Medidas imediatas
cado não esteja claro. Procure-as no dicionário. Consulte
o professor se tiver dificuldade;
B) volte a ler o texto. Procure expressar oralmente o
que lembrar dele; sf sd pai SO ga AT TP

C) tendo lido mais detalhadamente, responda a es-


tas perguntas: e) que teoria influencia este texto e em quê?
a) de acordo com o texto, em que se fundamenta a f) como avalia a classe média?
sociedade capitalista? g) de acordo com as medidas propostas, pode-se
b) a que se devem a exploração e a miséria sofridas entender a realidade da Espanha no século XIX. Por
pelos pobres? exemplo: se pediam “legalidade das greves” é porque es-
c) complete o quadro abaixo de acordo com o pro- tas não eram legais nesse momento. Enuncie outras si-
posto pelo texto: tuações que possam ser deduzidas dessa maneira;
h) analise o programa, medida por medida, e res-
A sociedade em|Propostas a longo ponda em cada caso:
1879 tinha estas|prazo para solu- qual é a realidade espanhola atual a esse respeito?
características |cionar a explora- O que falta hoje conseguir?
ção e a miséria i) você está de acordo com esse programa? Em
(PSOE) quê? Em que não está? Por quê?
Depois de concluído este trabalho dirigido pode-se
Quanto às realizar outras atividades, como debates sobre o pro-
classes sociais grama exposto, sobre o PSÕE atualmente ou a realidade
espanhola atual com relação a este programa, compa-
Propriedade dos ração de programas de partidos políticos de esquerda e
meios de de direita, elaboração de cartazes com os quais eles fa-
produção riam propaganda a favor ou combateriam estas idéias,
leituras de ampliação, um mural coletivo sobre “A classe
Poder político operária no século XIX”.
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA ta

não nos esforçarmos em avivá-la e dar-lhe cor. Mesmo


neste caso os alunos não farão a relação com o presente
se o professor não utilizar recursos que propiciem o es-
tabelecimento dessa relação.
Atividades: o estudo Alguns desses recursos são, por exemplo:
1) levar em conta, ao selecionar os conteúdos de
da História partindo nossa programação, este objetivo da História de ser a
memória do passado do homem para compreender o pre-
da realidade mais imediata sente e priorizar, então, os conteúdos que confiram aos
alunos essas ferramentas intelectuais;
2) trabalhar visando a aquisição dessa transfe-
rência, mostrando ou ajudando a descobrir a possível
vinculação com a atualidade, que se pode dar de diversas
Muitas vezes ouvimos que o objetivo da História, formas:
dentro do programa escolar, é a compreensão do * descobrindo uma relação direta de causa-efeito;
pre-
sente, ou seja: conhecer o passado do homem mas * descobrindo raízes distantes que, através de um
com
um objetivo: que esses conhecimentos possam ser apli- processo de mudança, se tenham derivado na realidade
cados na compreensão das circunstâncias atuais. Porém, atual;
na verdade, essa transferência do passado para o pre- * comparando permanentemente o passado com o
sente não ocorre facilmente e a História acaba se detendo presente, percebendo o que mudou e o que permanece
apenas no estudo de fatos passados, cuja conexão com o igual;
presente não fica clara para os alunos. Este é princi 3) que possam conhecer como o povo vivia, traba-
pal-
mente o caso da tradicional história factual, uma His- lhava e se divertia, vendo que ele também é protagonista
tória de fatos políticos e militares cuja relação com da História;
a
atualidade é difícil de ser vista pelos alunos, uma His- 4) relacionar, sempre que possível, a História com a
tória de heróis e reis, que não se coaduna com experiência vivida por eles. Isto pode ser feito através de
a expe-
riência política e social de garotos da classe popular, ex- diversos meios, como:
periência que, não obstante, é imprescindível considerar * iniciaro programa com um panorama da atuali-
como alicerce sobre os quais eles poderão construir seu dade, colocando a partir dele uma série de perguntas
próprio conhecimento histórico. l que, para não serem esquecidas, podem estar escritas em
Para remediar esses males, há anos vimos propi- cartazes pela sala. Por exemplo:
ciando o ensino da História das estruturas sócio-econô- Qual a origem dos nossos costumes e do nosso idio-
micas para permitir aos alunos ver como e por que as ma? Por que temos uma cultura diferente da de outros
formas de produzir, viver é pensar têm se transformado países? Por que há países muito industrializados e outros
através do tempo. Mas ainda neste caso, comprovamo praticamente nada industrializados? Por que há países
s
que a História pode ser uma matéria fria e distante se ricos e países pobres? Por que há greves? Qual a dife-
74 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 75

rença entre os partidos de esquerda e os de direita? Como * Na análise de uma situação histórica, tratar de
se configurou o atual mapa da Europa? Como se for- partir daquela situação mais imediata, que os alunos
maram as duas grandes potências?... possam conhecer por si mesmos e sentir como sua, tor-
Há experiências interessantes de História retrospec- nando-se a História mais vivencial.
tiva, que visam um objetivo similar a este. Porém, uma * Acostumá-los a observar a realidade que os rodeia
programação de História dificulta muito, talvez, a com- earefletir a partir dela.
preensão dos processos paulatinos de mudança que vão * Dar-lhes a oportunidade de escrever a História
sendo operados e que serão melhor percebidos se as eta- por si mesmos. ;
pas forem estudadas na ordem em que transcorreram. * Ajudá-los a observar como a História de suas fa-
Devemos lembrar que, em qualquer enfoque ou método mílias e a sua própria se inserem num contexto mais ge-
que optemos, deve-se ter em vista que o aluno adquira ral: na História de seu próprio país e em processos supra-
um esquema do passado, um esqueleto das sucessivas nacionais, e, ao contrário, tornar-lhes mais próxima e
etapas fundamentais, que é o que lhe permite a aquisição acessível a História dos grandes processos.
da noção de “tempo histórico”.
* partir da experiência mais imediata ao aluno, por
exemplo: da história local e, no caso que veremos, da his- Desenvolvimento
tória da própria família. Estas duas formas têm a van-
tagem de permitir que os alunos possam realizar a expe- Esta experiência se desenvolveu de duas formas, em
riência de investigar e escrever por si mesmos a História, diferentes momentos e cursos.
com toda a riqueza que isso supõe. As experiências ex-
postas a seguir são ensaios que visam o encontro da for- Variante A
ma como os alunos devam escrever História, partindo da
realidade que melhor conhecem. a) A “História de nossas famílias” foi o assunto ini-
cial de um curso de História Contemporânea. Partiu-se
1) História de nossas famílias da tentativa de motivá-los a escrever individualmente um
Idade: curso de História Contemporânea, ensino folheto com a História de sua própria família, ampliando-
médio, 15-16 anos. a retrospectivamente até onde tivessem dados. Apesar de
Objetivos este trabalho ter sido individual e de ter sido realizado
(É importante esclarecer que os objetivos apontados fora do horário de aula, lhe foi dedicado um tempo para
para as diferentes experiências expostas são os objetivos observar que fontes poderiam utilizar: testemunhos
que levaram o professor a idealizar e realizar essa ativi- orais: conversas com os pais e avós; testemunhos visuais:
dade com os alunos.) fotografias, postais, álbuns de recordações; testemunhos
* Compreender que a História é a ciência do ho- escritos: cartas, documentos familiares (passaportes,
mem no tempo, mesmo daqueles homens mais próximos contratos, escrituras, etc.), utensílios, móveis, roupas,
de nós cuja vida não aparece registrada nos manuais de etc. Também é conveniente, enquanto se realiza o tra-
História. balho enunciado nos pontos seguintes, intercalar mo-
76 MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 7
mentos dedicados a estes folhetos, para resolver dúvidas,
* com base na estatística analisada em aula, cujos
apreciar o curso dos trabalhos e, principalmente, comu-
dados eram anotados na lousa e nos cadernos, tiraram-
nicar aos demais companheiros certos achados ou aspec-
se conclusões através de um diálogo coletivo. Assim foi
tos originais que possam ser estimulantes para o resto do
possível elaborar um resumo, no qual se notou que a qua-
grupo.
se totalidade da classe provinha de famílias que haviam
b) Simultaneamente, enquanto cada um investi- emigrado de povoados para Madri: da Andaluzia, Cas-
gava e escrevia a História da própria família, realizou-se tilla-la-Mancha, Castilla-Leôn e Extremadura; que mui-
outra tarefa: uma pesquisa sobre as famílias dos alunos, tos tinham familiares que emigraram para a América (na
em três gerações. Nesta pesquisa se sondavam dados so- geração dos avós) e para a Alemanha, França, Suíça e
bre os seguintes aspectos, comparando sempre as três ge- Bélgica na geração dos pais; comprovou-se a diminuição
rações — os avós, seus pais, eles e seus irmãos: no número de analfabetos de geração para geração, o
º lugar de residência e migrações; crescimento no nível de escolarização, mudança profis-
* emigração: quantos e para onde (neste caso am- sional de tarefas rurais para urbanas: na geração dos
pliaram-se os dados também aos irmãos dos avós, aos pais, o decréscimo da natalidade e da mortalidade in-
tios e primos); fantil, etc.
analfabetismo; c) Sobre os dados levantados, formulou-se uma lista
grau de escolarização; de questões tendentes a colocar o porquê de se terem pro-
situação da mulher (nível escolar, ocupações): duzido tais mudanças e acontecimentos. Por exemplo:
natalidade; por que os habitantes dos povoados da Andaluzia, Cas-
mortalidade infantil; tilla-la-Mancha, Castilla-León e Extremadura vieram
trabalhar em Madri? Por que diminuiu a natalidade?
ocupações e ofícios;
Por que havia tantos analfabetos na geração de nossos
* nível de vida (moradia, carro, eletrodomésticos,
avós? Por que emigrou tanta gente? Por que na geração
férias);
de nossos pais se emigrou para a Europa (Alemanha e
* mudanças experimentadas pelas três gerações em França, principalmente) e não para a América? Por que
alimentação, vestuário, transportes e diversões;
houve uma guerra civil? Em cada variação e caracteris-
* greves;
tica observada foi colocado o porquê de ter ocorrido de
* situação da família na guerra civil e no pós-guerra. talmaneira.
Essa pesquisa se efetuou da seguinte maneira: d) Dividindo a classe em pequenos grupos e repar-
* cada aluno sondava os dados de sua família; tindo entre eles os assuntos da estatística analisada, cada
* em aula, se realizou a recontagem, ponto por pon- grupo transferiu os dados, as conclusões da análise e os
to, dos dados de cada aspecto, por exemplo: entre tantas porquês finais para cartolinas grandes, em que regis-
avós, tantas tiveram um filho, dois, três, quatro, cinco traram tudo o que lhes interessou: desenhos, recortes,
filhos ou mais. Trabalhou-se principalmente com per- mapas, etc. Com todas as cartolinas juntas se elaborou
centuais, gráficos cartesianos e mapas para mostrar os uma espécie de livro ao qual voltariam repetidas vezes ao
deslocamentos; longo do curso.
MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 79

e) A partir daí desenvolveu-se a programação dos te- Observações


mas de História, em sua ordem cronológica normal, co-
meçando, neste caso, do século XVII, de acordo com a es A parte mais difícil desta atividade foi a de res-
programação determinada pelo instituto no qual ocorreu ponder às questões, mais durante o desenvolvimento das
a experiência. Ao concluir o estudo global de cada etapa diferentes etapas do processo histórico do que na investi-
histórica ou temas centrais, voltava-se ao “livro” elabo- gação bibliográfica final, pois a falta de uma formação
rado e reliam-se os porquês formulados. Se os alunos no- histórica mais ampla dificultava a compreensão das in-
tavam que haviam obtido dados. que servissem para res- fluências de realidades distantes no tempo sobre a reali-
ponder alguma pergunta tomavam nota embaixo. Por dade atual. Isto foi resolvido com uma maior partici-
exemplo: ao estudar a Revolução Industrial, viram que pação do professor, explicando as conexões que os alu-
os países e regiões que primeiro se industrializaram fo- nos não percebiam sozinhos.
ram os centros para os quais emigraram os habitantes * Como é normal quando se propõe a realização de
das regiões menos ou nada industrializadas; isto serviu uma experiência deste tipo, surge o problema da progra-
para anotar um dado nas questões: por que nossos pais mação e do tempo. Como já foi dito, uma metodologia
emigraram para Madri? Por que tantos familiares nossos ativa pressupõe a seleção de menos conteúdos para a
emigraram para a Alemanha e a França? aprendizagem (não para uma mera transmissão). Neste
f) Ao finalizar o curso, organizou-se novamente a caso a falta de tempo foi suprida através de um desen-
classe em grupos, e cada um deles retomou sua página volvimento mais global e sintético do resto do programa.
ou suas páginas do “livro” e, trabalhando em grupos,
procuraram dar, finalmente, as respostas aos porquês, Variante B
através do que haviam anotado ao longo do curso e de
um trabalho de investigação bibliográfica (dentro dos li- Pontos a e b: similares à variante A, desenvolvendo-
mites do material disponível) que realizaram sobre a evo- se de diferente maneira, de acordo com as conclusões
lução histórica nos séculos XIX e XX. Com as respostas, sobre as estatísticas das famílias dos alunos.
passando novamente os dados para as cartolinas, com- A partir daí trabalhou-se do seguinte modo:
pletaram o “livro” iniciado no começo do curso. c) a classe foi dividida em pequenos grupos, e a
cada grupo foi entregue um dossiê com material estatís-
tico sobre:
Tempo empregado e Espanha no século XX;
* países industrializados;
duas aulas dedicadas aos livros individuais sobre as e países do Terceiro Mundo.
famílias; Também lhes foi entregue um roteiro de trabalho.
oito aulas em pesquisa sobre a família, estatísticas e Antes de começar o trabalho em grupos, foi dada uma
conclusões; aula explicativa sobre como manejar o material do dossiê
oito aulas em investigação bibliográfica e resumos e interpretar as diferentes maneiras de expressão dos da-
finais sobre as questões colocadas. dos. Partiu-se então para o trabalho em grupos, com a
80 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 81

ajuda constante do professor, pois estavam diante de um troduziu-se o estudo do programa de História Contem-
trabalho no qual não tinham experiência; porânea a partir, precisamente, da Revolução Industrial.
d) a primeira etapa deste trabalho em grupos com Ao longo do resto do curso, tratou-se, em cada tema, de
roteiro consistiu em analisar as características da reali- que os alunos captassem as conexões entre a realidade que
dade espanhola no século XX e sua evolução, com os haviam constatado na História Contemporânea da Es-
mesmos itens que haviam trabalhado na estatística da panha e a História de suas famílias.
família: migrações, emigrações, relação entre população
urbana e rural, distribuição ocupacional da população,
analfabetismo, escolarização, natalidade, mortalidade
infantil, participação da mulher no mercado de trabalho, Tempo empregado
consumo, etc.;
e) posteriormente, compararam estes dados com os — oito aulas em pesquisa, análise dos dados e con-
resumos de suas famílias (pontos a e b), constatando as clusões;
coincidências das tendências. As conclusões das histórias
— uma aula em introdução do trabalho a ser realizado
familiares podiam agora estender-se e começar a ser con-
posteriormente em grupos, comparando os dados da His-
sideradas como características da História social da Es-
tória familiar com os da Espanha, países industrializados
panha no século XX;
e Terceiro Mundo;
f) em seguida compararam, sempre nos mesmos as-
pectos, os dados da Espanha com os países mais prema- — seis aulas realizando o trabalho de comparação an-
turamente industrializados e com o Terceiro Mundo, o tes indicado, em grupos;
que lhes permitiu tirar uma série de conclusões, como o — três aulas, acordo de grupos, conclusões, correções e
decréscimo da natalidade ter ocorrido antes nos países comentários.
que se industrializaram primeiro, como o comporta-
mento espanhol atual a este respeito é similar ao dos paí- 2) Escrever a biografia dos pais
ses industrializados e como, em compensação, as taxas Idade: cursos de EGB* (ensino primário).
de natalidade se mantêm altas no Terceiro Mundo. E Objetivos
assim, aspecto por aspecto; * Realizar uma experiência simples de investigação
g) os grupos chegaram a um acordo, realizaram histórica, partindo de sua realidade mais imediata.
correções, comentários e extraíram conclusões;
* Iniciá-los num conceito de História que valorize a
h) nessas conclusões destacou-se o processo de in-
vida e as lutas de todos os homens, em contraposição a
dustrialização como processo central que modificou uma
uma História tradicional de heróis, guerreiros e mo-
série de variáveis: alterou a distribuição de empregos da
narcas.
população, produziu um processo de urbanização, movi-
mentos migratórios e emigratórios e uma variação geral
do comportamento da população. Para começar a ex- (*) EGB (Enserianza General Básica): corresponde ao primário
plicar, então, as causas do que havia sido observado, in- completo, equivalente no Brasil ao 1º grau, 13 a 4º séries. (N. T.)

+
MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 83
82

dos homens e
e Valorizar o trabalho e o esforço * o encontro com sua mãe: como se conheceram, o
lar.
mulheres da classe popular para manter um noivado, formação do casal...
Tempo: aproximadamente dez aulas. * onovo lar: casas ou apartamentos onde moraram,
ção e
Pode ser coordenado com o curso de comunica os filhos, alegrias e problemas da nova família...
expressão. * atualmente: sua vida, seu trabalho, seus hobbies,
as coisas que lhe agradam, seus costumes, seus pro-
Desenvolvimento blemas, suas ilusões...
— em cada capítulo, você deve seguir as seguintes
explicar etapas:
a) Apresentação da tarefa a ser realizada: * reunir todo o material que encontrar;
s livros , se a exper iência
em que consiste, mostrar algun ordená-lo;
anter ior, coloc ar
já tiver sido realizada em algum curso
s testemunhos redigi-lo no rascunho;
exemplos práticos de como utilizar algun
realizar seu tra- corrigi-lo com o professor;
do tipo dos que podem empregar para
a proposta de
balho, procurar despertar £entusiasmo ante passá-lo a limpo.
será empr egado.
investigação, explicar o método que — para obter dados, você deve interrogar principal-
com ro-
b) A partir daí, trabalhar individualmente mente as pessoas que podem lhe contar coisas sobre a
teiros do seguinte tipo: infância e juventude de seu pai, tais como seus avós, seus
, en-
— para investigar a história do seu pai e poder
tios, sua mãe, amigos de seu pai, seu próprio pai.
claro de que par- — a estas notas recolhidas, você pode acrescentar
tão, escrever um livrinho, você deve ter
pode m dados obtidos em fotografias. Em cada fotografia:
tes ou capítulos este se constituirá. Por exemplo,
e trate de determinar a data aproximada;
ser:
de seu e descreva-a: quem figura nela, em que atitude, em
* a família do seu pai, o lar de seus avós (pais que lugar;
pai), o nascimento... * anote tudo o que puder apreender sobre a época
s, fatos
e sua infância: seus jogos, estudos, piada da foto, por exemplo: a roupa, o calçado, o que se vê ao
ocorridos; ú -
e fundo (um quadro, a sala de aula de um colégio, uma
ou não
e sua juventude: o que fazia, se estudou casa popular, etc.), as pessoas que acompanham seu pai,
por que, os amigos e diversões, O serviço militar... quem são, que relação tinham com ele, etc.
foi...
e seu primeiro trabalho: onde, quando, como Incorpore os dados que tiver obtido ao resumo do
qual era
e diferentes trabalhos que teve até agora: capítulo correspondente.
e desem-
seu ofício, por que mudou de emprego, se estev No momento de passá-lo a limpo, poderá colar as
pregado... fotografias no livro e redigir abaixo de cada uma delas
que
e o trabalho atual: o que faz, o que produz ou uma frase explicativa.
se sente nessa fábrica, escritório,
serviço presta, como — em sua casa ou na casa de seus avós você poderá
recinto comercial... encontrar mais coisas que poderão servir de testemunhos:
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA Bs
MARIA TEREZA NIDELCOFF
moradia, lugar, etc. Para isso pode pedir ajuda às mes-
mas pessoas com as quais conversou para obter os dados;
Testemunhos Servirão para saber — monte olivro com índiceecapa. .
se c) Exposição de trabalhos para a classe, leituras e
Convite de casamento . . . quando foi, onde, como intercâmbios.
festejou
quan-
Relação dos empregos . . que empregos teve,
to ganhava
Observações
Escrituras de compra de
casas/apartamentos ....em que condições foi com-
e Com o mesmo esquema, adaptando o roteiro,
prado o apartamento/casa
ou pode-se escrever a biografia da mãe e outros familiares.
Contratos de aluguel .... em que apartamentos
e Dentro do programa de curso, pode set o primeiro
casas habitaram e em que
tema de história, para ver de uma forma vivencial o obje-
condições
to e métodos desta disciplina.
Faturas diversas que importantes compras
fizeram, a que preços, em
3) Biografia de um pai: montagem audiovisual
que condições
Idade: 14-15 anos.
datas de nascimento dos
Livro de família Objetivos
filhos
Os mesmos do caso anterior e, especificamente, a
Certificado de reservista . onde e quando cumpriu o
compreensão e a expressão dos problemas trabalhistas e
serviço militar
sociais dos adultos do meio em que se desenvolveu esta
Certificados de estudos . . estudos realizados, onde, atividade.
quando
Tempo: 9 ou 10 horas de aula, mais o tempo empre-
Discos velhos a música de que ele gos-
gado pelas equipes que trabalharam com fotografias e de-
, tava em sua juventude
senhos de diapositivos e na gravação do texto.
Recordações de todo tipo. coisas que foram impor-
tantes para seu pai
Desenvolvimento

— redija um capítulo explicando todas as dife-


e a) Em primeiro lugar, os alunos recolheram dados,
renças que observa entre a época da infância de seu pai numa pesquisa sobre seus pais:
a sua; º idade;
você pode ilustrar os capítulos com seus de-
— local de nascimento;
senhos, representando como imagina as cenas ou fatos locais onde viveu antes de chegar ao bairro atual;
que lhe foram narrados. Procure ser fiel nos detalhes da estudos realizados;
os,
época em que transcorre a cena, na roupa, calçad trabalhos que desempenhou;
MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 87

e trabalho que desempenha atualmente; * as dificuldades econômicas dos lares que de-
* causas das mudanças de emprego; pendem da renda de uma só pessoa;
* se esteve em greve, com que recursos contou neste * a falta de infra-estrutura dos bairros;
caso; * os problemas de desarraigamento derivados da
e idade aproximada em que se casou (legal ou in- migração campo-cidade, etc.
formalmente); d) Junto a essa caracterização do protagonista, fo-
º quando e por que se mudou para o bairro atual; ram recolhendo anedotas e acontecimentos da vida de
* condições de sua moradia;
alguns pais, para dar mais vida ao personagem: engodos
provocados pela imobiliária na compra da moradia, o
e principais problemas que enfrenta atualmente.
devaneio do primeiro filho, seu gosto pelo futebol, con-
b) Elaboração do resumo dos dados obtidos, atra- flitos com seu pai autoritário na juventude, uma inun-
vés dos quais se pôde caracterizar um adulto do tipo que dação sofrida pelo bairro com consequente prejuízo eco-
correspondesse às características da maioria dos pais. nômico, etc. Assim, o personagem ficou muito mais vivo
Tratou-se então de descrever esse adulto que seria O que 0 primeiramente caracterizado.
protagonista da montagem e que poderia representar a e) Redação do roteiro: a classe foi dividida em gru-
realidade do conjunto de pais: pos, responsabilizando-se cada um deles por uma parte
* um trabalhador manual de 40 a 45 anos; do roteiro e da sugestão das fotografias adequadas, pro-
* nascido em áreas rurais e emigrado para a cidade; pondo lugares e cenas.
e com estudos primários, geralmente incompletos; f) Uma equipe, formada por um grupo de alunos,
* que conheceu períodos de greve nos quais passou um pai que era fotógrafo e o professor, decidiu os temas a
por sérias dificuldades; serem fotografados para ilustrar o roteiro e realizou a ta-
e que contraiu matrimônio com uma mulher de refa. Alguns diapositivos foram extraídos de revistas e
condições similares, que não trabalhou fora do lar ou jornais. Outra equipe desenhou alguns em papel vegetal,
que deixou de fazê-lo ao casar-se e ter filhos; , com títulos, cifras, dados e frases.
* que não teve militância política ou sindical, cen- g) Diante dos diapositivos, as equipes retocaram o
trando seus esforços em manter a família, especialmente roteiro para adaptá-lo às imagens.
em fazer a moradia mais habitável; — h) Gravação do texto e música.
e os problemas atuais são: manter a família com
sua única renda, a moradia que é insuficiente, as dificul-
dades para dar estudo aos filhos e o fantasma do desem- Observações
prego. s i
c) Reflexão e diálogo sobre o que essa biografia su- * Essa montagem foi apresentada numa reunião de
gere e os problemas sociais levantados: pais e seu conteúdo foi tema de um debate entre eles.
* o problema do acesso à moradia; Assim, pôde ser o ponto de partida para o estudo de
* o desemprego como realidade e ameaça; problemas sociais contemporâneos, para o estudo com-
e o baixo nível de capacitação; parativo de duas gerações ou das condições de vida dos
es MARIA TEREZA NIDELCOFF

lução Industrial e na
trabalhadores no começo da Revo H
atualidade.
que, em experi-
e Também é importante ressaltar
urar obter a maior qua-
ências deste tipo, é didático proc
, O valor da experiên-
lidade possível, mas por outro lado ati-
obtido mas nas
cia não está na qualidade do produto
vidades realizadas, na aprendizagem
alcançada e acima Atividades
e nas inquietações des-
de tudo, nas questões colocadas
pertadas. É importante esclarecer
isto porque realizar relacionadas com o meio
correto
riais cujo uso
as primeiras experiências com mate
gem mais longo, incide,
supõe um processo de aprendiza
uto obtido.
necessariamente, na qualidade do prod
ar os recu rsos disponíveis no
e É muito útil aproveit O estudo do meio como ponto de partida no ensino
ecia muito de foto-
meio; neste caso, um pai que conh da geografia é uma proposta antiga e ao mesmo tempo
grafia colaborou com a experiência. mal integrada à experiência cotidiana de nossos colégios
e institutos. Rousseau, em Emilio, já aconselhava a não
partir do atlas, mas da observação direta dos fenômenos,
e sugeria inúmeros exemplos, entre os quais passeios e
excursões, que o mestre realizava com seu discípulo. No
mesmo sentido insistiu o movimento da “escola nova”.
Também na pedagogia de Celestin Freinet a observação
da realidade imediata e a expressão das crianças através
desta teve um papel relevante.
De outro ângulo, ainda no terreno da geografia
como ciência, são abundantes as recomendações no sen-
tido de partir do estudo do meio, como forma de utilizar
a observação direta como método básico no estudo da
Geografia. Mariano Zamorano: “A geografia é uma ciên-
cia concreta e o ideal seria submeter constantemente os
fatos à observação direta. É óbvio, não obstante, que esta
ambição é irrealizável, dada a vastidão do mundo em
que habitamos, além de dificuldades de outro tipo. Isto.
faz ver claramente a enorme importância que temo es-
tudo do local para satisfazer a essa exigência metodoló-
gica. Deve-se dar-lhe uma atenção fundamental... como
90 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA
MN

fator de aproximação mental na aquisição de outros co- voado. Ao nível do ensino médio deve-se levar em conta
nhecimentos não diretamente observáveis”. Em termos também que o ambiente do colégio não corresponde, em
similares expressam-se os autores do Método para o en- muitos casos, ao meio dos alunos, que vêm de outros
sino de Geografia, da UNESCO.” bairros, que podem ter características muito diferentes.
Com relação às diretrizes pedagógicas que tentamos Está claro que não se trata de uma atividade fechada
expor neste livro, o estudo do meio tem valores similares em si mesma, mas que o estudo do meio é o ponto de
aos expressos no capítulo anterior, sobre o ensino da His- partida para chegar a conhecimentos mais amplos:
tória, vinculando-a à realidade imediata do aluno. Tra- 1) a possibilidade de comparar seu meio a outros
ta-se, também neste caso, de acostumar os alunos a diferentes, o que permitirá que os alunos captem a re-
observar a realidade e a pensar a partir do que eles mes- lação do homem com a paisagem:
mos observam, em contraposição ao princípio da alie- 2) a aquisição de métodos de observação e de re-
nação que supõe uma instrução repetitiva e puramente gistro dos fatos e situações;
livresca, que nunca lhes proverá meios para compreender 3) a aquisição de um vocabulário geográfico;
suas circunstâncias sociais e históricas, nem a eles mes- 4) o domínio do trabalho cartográfico, partindo do
mos dentro desse contexto. planoe doesboço para acartae o mapa;
Se tantas vozes apóiam esta metodologia e há tanto 5) na etapa da qual estamos nos ocupando (12-16
tempo, é oportuno indagar-se sobre o porquê de sua anos), os alunos devem incorporar à simples descrição
não introdução em nossas escolas como método habitual uma tentativa de explicar o como € o porquê das coisas.
de trabalho. Creio que a principal dificuldade se en- No manual da UNESCO antes citado, mencionam-
contra em nós, professores, que, devido a nossa for- se três etapas necessárias no trabalho sobre o terreno:
mação num ensino tradicional e retórico, carecemos mui- 1) a observação do que está à vista;
tas vezes das experiências previamente necessárias para 2) a descrição dessa observação num mapa ou ca-
nos lançarmos na projeção de um estudo integral do meio, derno;
o qual, por outro lado, deveríamos conhecer muito bem, o 3) a interpretação do que foi anotado.”
que não é frequente nas grandes cidades, onde nós, pro- As limitações do meio como unidade de estudo se
fessores, realizamos grandes deslocamentos de nossos ampliam mais e mais à medida que o aluno vai reali-
domicílios a nossos locais de trabalho. Isto sem falar da zando deslocamentos mais longos e se inter-relacionando
dificuldade daqueles que precisam mudar fregiiente- com realidades mais afastadas do reduzido círculo de sua
mente de escola. No ensino médio se acrescenta a difi- primeira infância, em sua vida cotidiana. Esta idade,
12-
culdade do parcelamento do horário, o que diminui as 16 anos, é exatamente a que marca de forma clara a rup-
possibilidades de passeios pelo bairro, cidade ou po- tura com esse meio reduzido e familiar, quando por ra-
zões de estudo ou diversão (cinemas, discotecas, piscin
as,
(11) Zamorano, M., La enserianza de la geografia en la escuela se- etc.) começa a frequentar, independentemente de
seus
cundaria, Buenos Aires, Eudeba, 1965, p. 12.
(12) UNESCO, Método para la enserianza de la Geografia, Colécion
“Programas y métodos de ensenanza”, Barcelona, UNESCO/TEIDE, 1966,
pp. 56-57. (13) Método pára o ensino de Geografia, UNESCO/TEIDE, p. 60.
92 MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA
93
pais, lugares afastados de sua casa e que, por sua relação
habitual com eles, passam a integrar seu novo meio. cala, símbolos), representação de dados em gráficos,
re-
Um estudo sobre o meio pode ser projetado de uma dação de informes e resumos,
maneira integral ou parcial:
* estudo integral: abarca a descrição e explicação
Desenvolvimento
de todos os aspectos da área delimitada para tal efeito:
solo, clima, construções, serviços, cultivos, fábricas, co-
a) Colocar no mapa da cidade pequenos círculos
mércios, moradias, ruas, transportes, centros de diver- co-
loridos nos locais de onde provêm os alunos da class
são, instituições culturais e educativas. Há bibliografia e.
b) Observar a distribuição e tirar conclusões.
abundante descrevendo estudos deste tipo.
c) Realizar uma pesquisa rápida para averiguar
* estudo parcial: encara-se o estudo somente sob as
razões pelas quais os alunos escolheram a escola
um aspecto, por exemplo: “O clima”, “O abasteci- .
d) Redigir um resumo do trabalho realizado e
mento”, “A distribuição ocupacional dos habitantes”... das
conclusões. Caso decidam realizar um estudo mais
No primeiro caso pode-se fazer uma experiência de pro-
fundo, pode-se prosseguir com algumas destas varia
integração com Ciências Sociais como eixo da progra- ções:
* se a escola está localizada no centro da cidad
mação, mas integrando as demais áreas: Ciências Natu- e,
para onde os alunos afluem de diferentes ponto
rais, Matemática e Comunicação e Expressão. As dificul- s, convém
delimitar uma área convencional de estudos
dades colocadas, farão com que fique fora do alcance de ao redor
dela e centrar-se nesta tarefa com o conjunto da
muitos professores, que deverão se conformar com expe- classe;
* se a escola está localizada num baitro ao
riências menos ambiciosas, como: qual a
maioria dos alunos acorre vinda de uma mesm
a zona,
* estudos parciais do meio: pode-se delimitar uma área de estudos comu
m que cor- |
* conciliar algumas saídas em grupo com obser- responda ao lugar de onde provêm mais aluno
s;
vações dirigidas que os alunos podem fazer por conta * se o grupo está treinado para o trabalho
própria, fora do horário de aula. autô-
nomo e os alunos provêm, de forma dispersa, de uma
área muito ampla, pode-se organizá-los de
maneira que
1) Estudo das zonas urbanas das quais provêm os trabalhem em grupos, com questionários-guia,
cada gru-
alunos po em sua zona de origem, realizando-se, poste
rior-
Idade: ensino médio. mente, conclusões e um trabalho de resumo.
Objetivos Na zona selecionada, as atividades a serem
reali-
a) Conhecer as diversas zonas urbanas das quais os zadas dependem bastante das características
e extensão
alunos afluem para a escola. da zona, podendo ser as seguintes:
b) Adquirir o hábito de observar e ponderar a partir a) primeiramente dispor de um mapa da área
a ser
do que vê. estudada, de tamanho suficientemente amplo
para que
c) Exercitar-se em algumas técnicas de trabalho e se possa trabalhar nele com certa comodidade
;
de registro como: trabalho com b) percorrer as principais avenidas e ruas, anota
mapas (orientação, es- ndo
O itinerário no mapa (ensinando a se orientarem
com ele
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 95
94 MARIA TEREZA NIDELCOEFF

caso seja a primeira experiência desse tipo). Anotar de edificação recente, de edificação baixa ou de grandes
alguma forma: setas ascendentes para subidas e zonas prédios, etc.);
mais altas (se não for uma área densamente povoada po- º lugar onde as lojas se concentram e por quê;
derá ser utilizado um mapa topográfico. Neste caso, na e se a zona de estabelecimentos industriais está
aula seguinte traçar as curvas de nível no mapa, vendo concentrada ou não, e por quê;
como coincidem com sua experiência). Se os alunos não º se há locais dedicados ao lazer dos habitantes;
conhecem o conceito de curvas de nível, é o momento de º se a zona está bem equipada e em que aspectos:
aproveitar para ensiná-los a realizar vários exercícios prá- centros de assistência médica, correio, creches, jardins
ticos; de infância, centros educacionais, parques, etc.
c) numa paisagem urbana pouco ou nada resta que Estabelecer comparações entre os diversos dados
nos lembre a paisagem primitivamente natural. De qual- que permitam tirar conclusões úteis para melhor enten-
quer forma, se na região houver um rio, riacho, vale, co- der as características do bairro em questão;
lina, situá-lo no mapa e descrever seu estado atual; f) realizar exercícios de interpretação de escala dos
d) trabalhando em duplas, cada uma se encarre- documentos cartográficos com os quais se está traba-
gando de um setor reduzido, anotar sobre o mapa os ti-
lhando, calculando as distâncias das moradias até o cor-
pos de edifício dispostos nas ruas, utilizando diferentes reio, o cinema, o parque, etc.;
cores ou sinais convencionais. Para as alturas dos edifi-
g) observar o transporte público: linhas de ônibus,
cios é preferível utilizar cores que permitam combinar
pontos, estações de metrô. Observar no mapa da cidade
com letras ou outros sinais que indiquem os tipos de ins-
com quais zonas o bairro se comunica. Relacionar esses
talações térreas, como bares ou lojas. dados com os anteriores (tipo de bairro, distribuição dos
Pode-se apontar:
estabelecimentos comerciais, edifícios públicos);
h) determinar, com relação ao ponto anterior, quais
casas familiares térreas ou sobrados | bares
clínicas são as vias de acesso ao bairro, as ruas mais transitadas e
prédios de até cinco andares
escolas por quê. Pode ser incluída (se previrmos a possibilidade
prédios de seis a dez andares
ginásios de fazer observações interessantes) a descrição e con-
prédios de mais de dez andares
poliespor tivos tagem dos tipos de veículos que transitam por algumas
parques
cinemas dessas vias;
intalações comerciais
oficinas ou indústrias correios i) informar-se a respeito da existência de algum edi-
igrejas, etc. fício de valor histórico, relacionado com o passado da ci-
dade ou do bairro. Os aspectos históricos, por sua ex-
tensão, podem ser separados do estudo do meio e cons-
e) reunir esses dados e passá-los a limpo; resumir e tituir um projeto independente. Se, em vez disso, trata-se
interpretar a informação, descrevendo: de um bairro de urbanização recente, com uma história
e o tipo de bairro (industrial, residencial, comer- breve, pode-se incluir dados históricos no final. Uma
cial, bairro de cidade-dormitório, bairro antigo ou de equipe pode ser destinada para esse aspecto da investi-
+
96 MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 97

gação, realizando entrevistas com os antigos moradores ou dia, baixa, alta ou pluriclassista. Esta informação pode
em instituições que possam oferecer dados; ser complementada interrogando-se de igual maneira os
j) procurar informações a respeito das instituições membros das associações já mencionadas ou outras pes-
representativas da população existente no bairro, como: soas cuja opinião seja confiável, como professores das es-
associação de bairro, de pais, de comerciantes, clubes, colas ou comerciantes. O mesmo se pode dizer sobre a
movimentos juvenis, centros culturais. incidência de desemprego.
Entrevistar em grupos essas associações, averi- * Não foram incluídas atividades de estudo do cli-
guando: ma porque na maioria das vezes não temos meios de efe-
* que ação realizam no bairro; tivá-las. Os livros didáticos de Geografia costumam dar
* que propostas pretendem realizar no futuro; exemplos de como fazer esses estudos, trazendo, inclu-
* quais os problemas e carências do bairro, segundo sive, roteiros de observações que não requerem instru-
seu ponto de vista; mentos (sendo mais adequados para os alunos menores).
* que soluções reivindicam para solucioná-los, Também neste caso podemos fazer uma estimativa, ela-
Organizar um debate na classe sobre tais reivindi- borando, por exemplo, um acompanhamento da tempe-
cações e programas; ratura. Se a escola se encontra na capital, podemos tra-
k) resumir e organizar toda a informação recolhida. balhar com os dados publicados na seção meteorológica.
Expor os dados da maneira mais clara e compreensível,
completando-os com gráficos de diferentes tipos e, se 2) Relações econômicas de nosso meio que nos che-
possível, com fotografias. Apresentar o trabalho da for- gam através do estudo dos produtos que consumimos
ma que considerar adequada: apostilas, murais, audio- Idade: 11-12 anos, primário
visuais, exposições orais, etc. Objetivos
a) Conhecer a procedêncidos a produtos que consu-
mimos, comprovando que nosso meio está economica-
Observações mente ligado a diversos centros de produção.
b) Introduzir o estudo de outras regiões, partindo
* O estudo de um bairro fica bastante incompleto de nossa relação com elas.
se não incluir dados sobre as ocupações de seus habi- c) Realizar um exercício de observação da realidade
tantes e seu nível econômico. Não é fácil obter estes da- cotidiana.
dos com um método aceitável, se não contarmos com a Tempo: três ou quatro aulas.
possibilidade de determinar uma amostragem confiável.
Investigar as famílias dos alunos não nos dará cifras ver-
dadeiramente representativas, porque os alunos da es- Desenvolvimento
cola podem significar uma parcela acima ou abaixo da
média social, dependendo do caso. Pode-se fazer uma a) Durante um período de tempo não inferior a um
estimativa, por meio da opinião dos próprios alunos a mês, juntar todas as embalagens possíveis de produtos,
respeito de seu bairro: se é de classe trabalhadora, mêé- etiquetas, ou partes de embalagens, caso elas estejam
CO

ou MARIA TEREZA NIDELCOFF


CIÊNCIAS SOCIAIS NA
ESCOLA
deterioradas, que sejam consumidas nas casas dos alu- 99
nos. À medida que os alunos trouxerem esse material, À única dificuldade desta ati
ele tomada conjuntamente vidade
(que pode ser
vai sendo classificado de acordo com seu local de elabo- com Comunicação e Exp
ração, em caixas preparadas para esse fim. reside em que o professor deve ter con ressão)
colegas com os quais tato prévio com os
b) Mediante entrevistas realizadas fora do horário os alunos intercambi
arão as cartas,
de aula, averiguar em peixarias, quitandas e açoug
ues a
procedência dos produtos que revendem:
e) Findo o prazo combinado para juntar as emba-
lagens, realizar sua contagem e transferir os
dados para para que o material
um mapa, fazendo um sinal com lápis de cor nas regiõe a ser intercambiado
s ; Seria conveniente seja útil.
onde foram elaborados; um sinal para cada embalagem. escolher escolas que
estejam em
meios bastante difere
d) Completar o mapa com setas, indicando de onde ntes, Por exemplo:
uma escola de
provêm a carne, a verdura, a fruta e o peixe.
e) Tirar conclusões através do mapa, observ
ando,
por exemplo, como se concentram os sinais
em algumas
zonas, determinando assim os centros industriais
mais
fortes e a dependência da cidade com respeito ao Material intercambi
campo, ado Junto com as car
no que se refere aos produtos frescos. tas
f) Realizar uma nova classificação de embal * estudos do próprio
agens, meio, parciais ou int
por especialidade: indústria farmacêutica, º mapase plantas; egrais;
perfumaria e
drogaria, conservas de peixes, produtos alimentícios * fotografiase postai
de s, com suas explicaçõ
origem vegetal, conservas, queijos, têxteis. e “desenhos de cen es;
as, paisagens, mora
£g) Elaborar gráficos comparando a procedência animais, etc.; dias, plantas
dos
produtos de cada especialidade; por exemplo: . narrações de fatos
os pro- ocorridos, descrições
dutos de perfumaria e drogaria provêm: tantos de habi ais no próprio bairro de cenas
Barce- ou Povoado, relatos do
lona, tantos de Madri, etc. Tire conclusões dia-a-
a esse res-
peito. festas, a vindima, o inv
erno. aaa
h) Redigir um resumo com as conclusões. º “quadras”, canções
e contos populares;
la explicação das dif
iculdades ou conflitos
3) Correspondência escolar prio meio; do prô-
Idade: primário . questionários indaga
ndo o que queremos sab
À correspondência escolar é um bom Povoado ou da região er do
complemento de nossos Corresponden
; Isto, do ponto de vis tes.
para o estudo do meio, uma vez que permite, ta de Ciências Sociai
de uma sê O trabalho for execut s. Porém,
maneira agradável para os alunos, comparar ado conjuntamente com
os dados de cação e Expressão, o mat Comuni-
seu próprio ambiente com outras realidades erial é muito mais amp
diferentes. cluindo também redaçõ lo, in-
es, contos, poesias.
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 101

100 MARIA TEREZA NIDELCOFF


aos pais que, por seus ofícios ou inclinações, tenham in-
4) Aproveitar Os recursos do meio formação especial a respeito de determinado assunto.
de recursos, se nos
O meio é uma interessante fonte c) Compilar expressões da cultura popular
no sentido de facilitar a
propusermos a lançar mão dele, O propósito desta atividade, além da coleção em si,
no mais vivo e de pos-
aprendizagem através de um ensi é conduzir os alunos à valorização do caudal cultural
de fontes diversificadas e
sibilitar a informação por meio herdado por sua família. A compilação pode ser de can-
.
não somente através do livro didático tigas de ninar, receitas de comida, “quadrinhas”, con-
casos desta possi-
A título de exemplo citam-se três tos, ditos populares, etc.
vel utilização de recursos:
a) Trazer paraa aula visitantes
ado com os alu-
Além dos passeios ao bairro ou povo
dade de trazer para à
nos, pode-se aproveitar a oportuni
interessantes para con-
aula pessoas que tenham coisas
hobby, viagens que te-
tar, com relação a sua profissão,
sua participação em
nham realizado, seu modo de vida,
l ou em alguma insti-
algum movimento cultural ou socia
tuição do bairro ou cidade.
Os objetivos desta atividade são:
ndizagem direta-
e Abrir para a classe uma apre
mente vinculada à realidade social.
nder ouvindo ou
e Oferecer a possibilidade de apre
interrogando pessoas.
a uma informação
e Possibilitar um acesso atrativo
interessante.
sociais, pro-
e Promover o debate de situações
o cuidado, sempre,
blemas ou reivindicações, tomando
seja adequada à idade
de que a problemática selecionada
dos alunos.
ser proporcio-
b) Aproveitar ainformação que pode
nada pelas famílias dos alunos os podem
os alun
Com relação aos temas de estudo,
informações recolhidas
se organizar para expor em classe
os dados com fotogra-
em casa, acompanhândo às vezes caso, por
fias, ferramentas, objetos artesanais, etc. É o
de diferentes regiões e
exemplo, das famílias que provêm
costumes, festas, fol-
nos podem contar coisas sobre seus
bém pode-se recorrer
clore, alimentação, produtos. Tam
CO

CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA


103
nicação e expressão através
de temas e atividades que o
propiciem.
Muitos professores refutam essa
possibilidade, con-
siderando-se exclusivamente
educadores de sua especia-
lidade. O enfoque deste trabalho
Atividades: à procura
é, em lugar disso, con-
siderar que:
* nossa tarefa é mais ampla, que
temos algo a fazer
do autoconhecimento no sentido
classes;
de orientar os jovens que estão em nossas

e da auto-expressão * quanto mais imaturos forem


dizagem, mais difícil é reduzir a
os sujeitos da apren-
área específica que pre-
tendemos ensinar e mais devemos contar com a totali-
dade de sua personalidade;
* nosso trabalho se baseia na
Nas primeiras séries do primário (EGB) e de ensino Comunicação, por-
tanto, todas as possibilidades
pré-escolar, os programas reservam amplos espaços para de comunicação devem ser
bem acolhidas e inclusive propicia
a expressão, seja ela plástica, corporal, escrita ou oral. das.
Essas atividades têm o mesmo sent
Mas à medida que avançamos rumo à conclusão da edu- ido: poder comu-
nicar-se para melhor se conhecer.
cação primária esses espaços vão se reduzindo, e quando Foram
realizadas
aproveitando tempo de aulas de
alcançamos o ensino médio são quase inexistentes ou, Etica, Didática* e His-
tória.
como no caso da formação profissionalizante, absoluta-
mente, não existem.
1) A adolescência
Por conseguinte, num momento em que os garotos Idade: ensino médio, 14-15
estão passando por uma intensa etapa de mudanças, anos.
Objetivos
como é a adolescência, a escola não lhes brinda situações
* Facilitar aos alunos o conhecimento
nas quais possam expressar o que lhes está ocorrendo, suas vivências e sentimentos e poss e análise de
suas dúvidas, suas confusões, seus sonhos. Deveria ser ibilitar-lhes a auto-
expressão.
função de todos os professores abrir esses espaços, dan-
* Que os adolescentes conheçam
do-lhes a possibilidade de se expressar para terem uma a informação de
gue os adultos dispõem sobre
melhor compreensão e aceitação de si mesmos. as características de sua
faixa etária.
De um modo geral, teoricamente estamos dispostos
Tempo: seis aulas com o total dos
a fazê-lo, se a situação se der espontaneamente. Entre- alunos e trabalhos
com um grupo para pintar o fund
tanto a experiência nos mostra que em meio às exigências o do mural.
e ao ritmo da programação diária não há tempo nem
oportunidades para que os alunos falem de si mesmos. O
que se propõe aqui é provocar esses momentos de comu-
(*) Tutorta, no original. (N. T.)
104 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 105

Desenvolvimento um menino ou uma menina que representava a si próprio


(a), na postura e vestuário que preferiram. Depois, re-
a) O primeiro passo foi uma exposição por parte do cortaram sua figura e cada um a colou onde quis dentro
professor, colocando as características dos adolescentes, do mural, sem limitações: os personagens podiam
cir-
de acordo com a bibliografia usada sobre o tema. cular pelas calçadas, formar turmas nas esquinas,
per-
Isso pode ser substituído por um estudo, em grupos, manecer solitários, escrever nas paredes, assomar às
ja-
de bibliografia selecionada sobre a adolescência, com os nelas ou voar, evadindo-se da realidade. Além disso,
próprios alunos elaborando uma síntese sobre as carac- cada personagem tinha um balão, como nas histórias em
terísticas dessa idade. O trabalho é muito mais lento, e quadrinhos, expressando o que diziam ou pensavam.
para executá-lo o tempo calculado deve ser muito maior e) Uma vez terminada essa etapa, o mural foi ana-
que o mencionado anteriormente. o lisado e comentado, expressando-se o que a obra repre-
b) Cada ponto exposto, cada característica expli- sentava para cada um, e também para o professor,
ava-
cada foi seguida de um diálogo no qual os alunos deram liando os aspectos da experiência, em seus resultados
é
seu parecer a respeito do que os livros diziam sobre as em seu processo de realização.
pessoas de sua idade, se o consideravam certo ou não, se Se o mural permanecer exposto na classe pode ir
eles pensavam ou sentiam da maneira descrita, se as con- sendo modificado com o tempo, trocando-se os balões
dutas que a bibliografia indicava como típicas se davam por outros com novos conteúdos.
realmente entre eles ou com as pessoas conhecidas. Tra-
tava-se de ver se eles se identificavam com a imagem que 2) Os meninos de 11-12 anos
nós, adultos, temos dos adolescentes, e de ajudá-los a se Idade: curso de EGB com a idade indicada.
compreender, expressando-se, tomando a palavra. Objetivos
Esse diálogo deve se estender o quanto for neces- a) Facilitar o autoconhecimento e a auto-expressão.
sário, pois esta atividade tem como objetivo precisamente b) Facilitar a auto-afirmação através da expressão
a possibilidade de expressão. de seus traços característicos, dos meninos mais novos
é
c) Ao longo do diálogo, os alunos incorporaram da- mais velhos da escola.
dos que não eram mencionados na exposição do profes-- c) Possibilitar o diálogo com os pais.
sor e que eles consideraram uma característica de sua Tempo: cinco ou seis aulas.
idade, de acordo com sua própria experiência ou a de
garotos conhecidos.
d) Logo trataram de expressar seus pensamentos ou Desenvolvimento
vivências num grande mural coletivo sobre a adolescên- a) Diante de uma reunião de pais que estava pen-
cia, ou mais concretamente, sobre eles, adolescentes, dente, para a qual estes haviam solicitado como tema as
Decidiu-se qual seria o fundo do mural (de preferência mudanças experimentadas por seus filhos, foi proposta
escolher sua paisagem habitual): as ruas de seu bairro, a no curso a realização de um trabalho coletivo sob o ti-
fachada da escola, edifícios. Uma equipe se dedicou a tulo: “Os meninos e meninas de 11-12 anos”, que logo
pintar o fundo. Então, cada aluno pintou em cartolina seria exposto aos pais pelos próprios alunos. O primeiro
106 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA
107

passo foi responder individualmente o seguinte questio- cessário, a folha em duas com uma linha vertic
al e dese-
nhando duas cenas, comparando “quando
éramos pe-
et em que você se sente diferente nestes últimos quenos” e “agora”.
tempos? k d) Na reunião de pais, um grupo de alunos eleito
s
— comparando-se com os meninos mais novos, €x- especialmente apresentou “o livro" e explicou
seu con-
plique se você se vê ou se sente diferente e em quê: teúdo, resultando muitos dados em revelações
para os
em seu corpo; pais, e inclusive, surpreendentes. Outra possibilid
ade de
em seus jogos; apresentação do trabalho poderia ser diretamente atra-
com seus amigos; : vés do professor ou da classe inteira, cada um expli
cando
e em seu relacionamento com crianças do sexo sua página.

LEE relacionamento com seus pais, na forma como


3) O futuro, a utopia
os vê; Idade: 2º série do ensino médio
* naroupa que gosta de usar;
Objetivos
e no relacionamento com os professores, na forma a) Possibilitar a expressão de idéias, temores e espe-
como os vê; ranças frente às realidade do mundo contemporâ
º no que gostaria de ganhar de presente - neo e
frente ao futuro.
— Como você se relaciona com seus irmãos mais
b) Tomar consciência de que no presente, de al-
velhos e com os meninos mais velhos da escola? Em que guma maneira, se está traçando o futuro.
os admira? O que você não gosta neles? c) Realizar a experiência de pensar em
b) Procura do consenso: as respostas foram lidas, termos de
utopia.
comentadas, conectadas com anedotas. Aquilo que era Tempo: quatro ou cinco aulas.
uma conclusão clara, apoiada pela maioria, ia sendo
anotado na lousa e em seus cadernos. !
Em cada tópico, o diálogo estava presente para veri-
ficar se as características observadas valiam tanto para Desenvolvimento
os meninos quanto para as meninas ou se podiam carac-
terizar respostas válidas para um ou outro sexo. - a) Este trabalho está relacionado com temas de His-
- Ao término desta etapa de comentários, ficou regis- tória Contemporânea. O primeiro passo é ver como se
trada uma descrição dos meninos de 11-12 anos tal como está gestando hoje um modelo de futuro. O procedimen
to
pode ser o de responder por grupos às seguintespergun
tas:
ry tg é toda a informação recolhida e anotada, or- * Tendo em conta as características do presente da
ganizou-se um “livro coletivo”. Cada aluno, ou às vezes humanidade, como lhes parece que será o futuro que
em alguma das características se
uma dupla, detinha-se está construindo hoje?
anotadas e elaborava uma página do livro numa folha de * Que fatores da sociedade atual lhes parece que
cartolina grande, com desenhos e texto, dividindo, se ne- influirá positivamente na sociedade do futuro?
P
108 , MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 109

De igual maneira, ler parte


b) Procura do consenso entre os grupos e debate, do discurso pronun-
ciado por Martin Luther King em Washington, a 28 de
analisando o que gostam desse futuro previsto, o que não
agosto de 1963, na grande manifestação da qual partici-
gostam, o que temem, o que esperam, o que salvariam, o
param negros de todos os estados do país:
que não.
c) Diálogo sobre o termo “utopia”, chegar a uma
definição comum após haver pesquisado seu significado “Eu acolho o sonho de que, um dia, nas rubras
em diversos dicionários e observado que a palavra tem montanhas da Geórgia, os filhos dos antigos es-
um uso valorizador e um sentido depreciativo. Debater a cravos e os filhos dos antigos donos de escravos po-
resposta a estas perguntas: . derão sentar-se juntos à mesa da fraternidade. Eu
e É positivo ou negativo ter em mente uma utopia acolho o sonho de que, um dia, até mesmo o estado
para o futuro da humanidade? de Mississipi, um estado consumido por injustiças,
e Vocês acham que nós, “mais velhos”, pensamos consumido pelo calor da opressão, se transformará
nessas utopias? Por quê? em oásis de liberdade e de justiça.
d) Leitura e comentário de “Imagine”, de John Eu acolho o sonho de que meus quatro filhos viverão
Lennon: um dia em uma nação que não os julgará pela cor de
sua pele, mas pelo conteúdo de sua personalidade.
“Imagine não haver posses
me pergunto se poderás Sonho agora...
que não haja necessidade, inveja ou fome, Sonho que um dia o estado de Alabama... se trans-
formará em uma terra na qual os meninos e as me-:
mas uma irmandade de homens;
ninas negras poderão unir suas mãos às dos me-
ninos e meninas brancas, para que possam ca-
Imagine todo mundo
minhar juntos como irmãos eirmãs”.
vivendo a vida em paz.
Você dirá que sou um sonhador,
(Extraído de Molina, Juan, Martin Luther King, Madri,
mas não sou o único. Doncel, 1971, p. 85.)
Espero que um dia você se junte a nós,
e o mundo será um só. e) Diálogo sobre o tema “uma utopia para o fu-
turo”: anotar na lousa as contribuições de idéias para
Imagine todo o mundo esse futuro desejado, fazer notar as contradições entre
compartilhando a Terra inteira. diferentes idéias e enfoques nas propostas, agrupar aque-
Você dirá que sou um sonhador, las que forem coerentes entre si, dar “dicas” para que
mas não sou o único. possam aprofundar as idéias com novos aspectos que
Espero que um dia você se junte a nós no princípio não haviam sido observados.
E o mundo será um só”. f) Trabalhando em grupos, tratar de expressar de
diferentes maneiras o tema em debate, extraindo do re-
sumo elaborado na lousa o grupo de idéias com que
(Citado em Domínguez Reboiras et alii, Materiales para
una ética, Madri, AKAL, 1983.) cada grupo se identificar. Expressar-se através de uma
110 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA ni

redação, um poema, uma colagem, um mural, uma his- — conflitos com os vizinhos por:
tória em quadrinhos. Tratar de que cada grupo escolha * reunir-se no portão, escada, calçada;
uma modalidade de expressão diferente. * fazer muito barulho;
Finalmente, expor os trabalhos e explicá-los. * como os adultos pensam sobre eles (adolescentes).
O trabalho pode ser encaminhado de diversas ma-
4) Dramatização sobre situações familiares, esco- neiras, dependendo das circunstâncias. As situações po-
lares e sociais dem ser espontâneas ou semipreparadas. No primeiro
Objetivos À caso, os passos devem ser os seguintes:
a) Possibilitar a expressão de seus conflitos e pontos a) coloca-se o conflito ou situação a ser dramati-
de vista em diferentes situações da vida cotidiana. zado, definindo suas circunstâncias;
b) Ajudar a que entendam problemas de uma ma-
b) o professor anota na lousa os personagens que
neira mais objetiva.
convém intervir, e os alunos podem corrigir e modificar
e) Dinamizar a participação do grupo na discussão.
ou acrescentar algum outro;
de determinadas situações ou conflitos.
Tempo: uma aula. c) para decidir quem intervirá,-recorre-se a volun-
tários e aos alunos propostos pelo grupo, ou o próprio
professor pode designá-los, se não houver resistência
Desenvolvimento manifesta e séria. Se há mais voluntários do que o neces-
sário, a cena pode ser dramatizada por mais de uma vez,
oferecendo variações;
São várias as ocasiões em que se pode fazer uma
dramatização e também as formas de prepará-las e de d) as mesas e cadeiras são dispostas em círculo e,
chegar até elas. no centro, o grupo designado improvisa a cena, o diálogo
Os temas sobre o adolescente e seus conflitos com os e as ações, atuando cada um de acordo com o perso-
adultos em diversos âmbitos prestam-se amiúde para ser nagem que representa e as circunstâncias combinadas.
representados e posteriormente discutidos. Exemplo: Antes de começar, podem completar com explicações
— discussões com os pais por: sua interpretação da situação;
horário de retorno à casa; e) para evitar o prolongamento de uma dramati-
problemas de estudo; zação para a qual não se encontra uma maneira de ter-
relacionamento com os irmãos; minar, é conveniente fixar previamente um tempo de
grupo de amigos; duração (cinco a dez minutos), pois não se trata de ver o
ordem e limpeza do quarto; desenlace das histórias, senão sua trama, seu conflito e
música; as diversas atitudes frente a ele. O limite de tempo tam-
— conflitos com os professores por: bém é conveniente para evitar o jogo histriônico de al-
º* notas; gum cômico nato;
º forma de tratá-los; f) analisar as atitudes representadas, discuti-las,
e forma de encarar as aulas; tentar comprendê-las, oferecendo variações mais acer-
112 MARÍA TEREZA NIDELCOFF

tadas. Esta é a parte mais importante à qual se queria


chegar ao propor a dramatização.
As cenas semipreparadas são menos ricas em espon-
taneidade, mas igualmente válidas para introduzir um
tema em discussão. Supõe um tempo para sua prepa-
os temas
ração; por exemplo: trabalhando em grupos,
para serem repres en-
podem ser dados no começo da aula
tados na segunda meia hora.
Os grupos chegam a um acordo sobre a caracteri-
Atividades: escrevendo
zação do personagem e as ações que este realizará dentro
o livros” coletivos
da dramatização. Comentam o diálogo, ainda que não
para dar
escrevam, pois este surgirá espontaneamente
vida ao personagem em sua relação com os outros.
Se for necessário, a dramatização pode ser prepa-
be ea
rada de uma aula para outra, mas neste caso deve-se to- um trabalho neste estilo. Retomamos
mar nota de pelo menos parte do diálogo. Uma dramati- 1tivid e para que os próprios al unos viven
i ciem
i
zação deste tipo, com o diálogo semi-escrito, pode intro-
experiência da concepção d e um dos produ
tos i:
pais
duzir um tema para ser debatido numa reunião de
mais sacramentados: o livro.
io
PR roi rms de classe popular coexistem
ou numa reunião de didática.* a
Há grupos que oferecem resistência a esse tipo de to di e leitura e até de interesse i
ela leitur
atividade, no caso de nunca a terem realizado, mas podem com
e a valorização excessi iva do livro,
i que co
E o
o verdade” tudo o que ele diz
entrar indiretamente numa espécie de dramatização se iz (“está
(“está noné livro” RO j
minad o papel. Por tério de verdade)
professor começar a brincar com deter À , € aos autores de livros
omcianem pesso
anaas de
o
exemplo, numa discussão sobre conflitos de geração, am categoria que a encontrada em sua vida
cotidiana
e
professor anuncia: “agora, vou atuar como um pai”,
Ê a — de fazer o caminho inverso: em vez
de receber o
ado- a de
começa à provocar situações, jogando expressões e “cima”, do distante mundo da chamada “gente
certos casos. Então , u E ; a eles mesmos, com suas próprias idéias
tando atitudes habituais dos pais em
Para a o
frente a este estímulo, o grupo reage e responde. e amente com esse valor desmitificador da cultu
ra
coleta de material para posterior comentário e análise,
ç a . a produzir “livros” tem um importante valor
esta semi-representação tem o mesmo valor expressivo e auto-afirmação, a ao poder 1 er e mostrar sua
própri
obra, : na qual se funde
de tomada de consciência que uma dramatização. dem m t todas as partiici
cipaçõdes, mesmst
o a
e alunos com mais dificuldades, numa obra
comum
E a importância de que sejam coletivos, ainda
que em
outros casos produzam obras individuais
Outro aspecto positi
itivo vo éé aprender a colab or -
balhar para uma obra comum.
(*) Tutorta, no original. (N. T.) ia
114 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA us

Como nos casos anteriores, devo insistir que o mais Desenvolvimento


importante é o processo de criação, onde são realizados
valiosos aprendizados e intercâmbios. Os temas mais a) Frente à decisão de escreverem eles mesmos um
adequados são aqueles em que os alunos devem criar ver- livro sobre “A liberdade”, o primeiro passo consistiu
em
dadeiramente os conteúdos, seja por falta de bibliografia definir o termo. Procuraram a palavra “liberdade” em
apropriada, seja porque o curso está determinado a fazer vários dicionários e optaram pela seguinte definição:
“é a
algo original, sem recorrer à famosa cópia que costuma atuação guiada pela consciência própria de cada ser, sem
abundar nas monografias escritas em nossas escolas e ins- importunar os demais, sem causar dano ao próximo”.
titutos. b) Como no debate associaram a definição de “li-
Diversos procedimentos podem ser empregados, mas berdade” à possibilidade de escolha, analisaram,
refle-
em todos os casos a condição é que finalmente cada pá- tindo em grupo e fazendo anotações, que há coisas muito
gina seja submetida à aceitação ou correção por parte do importantes que não são escolhidas e que recebemos
prontas, fora do alcance de nossa vontade: os traços
fi-
cade é interessante que esses livros sejam li- sicos, o nome, a educação que recebemos, o sexo,
a fa-
dos como meio de informação, por outros alunos que mília e a classe social e as oportunidades ou falta de opor-
abordarem esses temas em anos sucessivos. tunidades que isso implica. Assim, tomaram consci
ência
das primeiras limitações de nossa liberdade. Dialogaram
1) Um livro coletivo: “A liberdade” sobre cada um desses pontos. Tomaram nota sobre o que
Idade: 12 série do ensino médio, 14-15 anos. -foi expressado no diálogo a esse respeito.
Tempo: oito aulas. c) Em seguida, escrevemos na lousa uma lista da-
Objetivos By w quilo que de fato escolhemos: somos livres para pensar,
a) Refletir em grupo, expressar idéias e experiên- para ter idéias políticas e religiosas, para expressar as
cias sobre um tema proposto pelos próprios alunos e que, opiniões, escolher os amigos, escolher os estudos, amar
portanto, é de seu interesse. 1 uma menina ou um menino, circular ou viajar, ter um
b) Analisar criticamente os limites, simultanea- hobby, vir ou não à aula, chorar ou rir, fazer o que que-
mente amplos e estreitos, de nossa liberdade. remos com nosso corpo.
c) Realizar o esforço de criticar, corrigir e refazer os d) Refletindo, dialogando e sempre fazendo ano-
capítulos, procurando alcançar os melhores níveis de tações, fomos analisando e discutindo o alcance real
das
i forem capazes. limitações dessas liberdades, em moços de sua idade. Em
nas um na de leitura e reflexão que cada caso foram enumerando tudo aquilo que restringe
possa ser útil para outras turmas que abordem o mesmo essa liberdade. Por exemplo: a liberdade de ter um hobby
tema nos anos posteriores. está limitada pelas condições econômicas dos pais, a fal-
ta de espaço na casa e a autoridade paterna, que às vezes
não admite por considerar perda de tempo ou algo im-
portuno na casa. A liberdade de chorar está limita
da
pela vergonha e o sentido do ridículo, principalmente
nos
CE

116 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 117

rapazes, nos quais é inculcada a idéia de que os homens Tempo: 10 a 12 aulas, trabalhando também: fora de
não choram. E assim se procedeu em cada caso. aula (fazendo pesquisas, passando a limpo os informes).
e) Baseando-se nas anotações recolhidas durante a Objetivos
reflexão e o diálogo, cada aluno se responsabilizou pela Além dos indicados especificamente para esta ativi-
redação de uma página do livro, página esta que foi lida
dade de produzir “livros” coletivos, este tema tem os se-
e aceita em classe e corrigida pelo professor, em sua parte guintes propósitos:
ortográfica. Após isso, cada aluno datilografou sua pá- * Promover o debate sobre a mulher e sua partici-
gina e, em alguns casos, agregaram-lhe desenhos ou re-
pação em diferentes aspectos da vida social;
cortes adequados. Outros intercambiaram tarefas: uns * Informar-se sobre o movimento feminista, suas
datilografaram em troca de que lhes fizessem seus de- principais correntes e suas reivindicações;
senhos. * Habituar-se a trabalhar em grupos.
f) Terminada a primeira parte do livro, iniciou-se a
segunda: notaram que apesar das limitações impostas,
Desenvolvimento
que foram vistas na primeira parte, nossas possibilidades
de liberdade ainda são amplas, podem crescer, mas po-
Este tema levanta muita polêmica e questiona mui-
dem também ser reduzidas e até mesmo perdidas. Os
tos costumes adquiridos, profundamente arraigados em
alunos responderam individualmente, por escrito, a estas
nossa educação mais precoce. A experiência nos mostra
duas perguntas:
que, muitas vezes, ao tratar-se de assuntos relacionados
* “De que forma um rapaz pode ir conquistando com a mulher e suas reivindicações, muitos rapazes de-
sua própria liberdade?”; monstram uma atitude verdadeiramente fechada e defen-
* “Que limites você põe em sua própria liberdade siva. Dessa maneira traduzem a atitude de seu meio e
por um sentido de responsabilidade?”. talvez a exacerbem, pois sua insegurança frente ao sexo
g) O professor resumiu as respostas a essas duas oposto, própria de sua idade, cresce diante da atitude
perguntas, organizando-as de maneira tal que pudesse combativa já adotada por algumas meninas nesse tipo de
priorizar na exposição as idéias mais expressadas pelos polêmica. Além disso, o questionamento do conceito
alunos. Esses resumos foram lidos, criticados e amplia- tradicional de mulher implica para eles em mudanças
dos em classe, com novas idéias. que aumentam sua insegurança e significam a perda de
h) Um grupo de voluntários datilografou e ilustrou certos privilégios de que ainda desfrutam em muitas fa-
as páginas. Foram acrescentadas também algumas char- mílias com relação a suas irmãs, como no caso dos horá-
ges sobre o tema, desenhadas por um aluno que tinha rios e divisão das tarefas do lar.
especial habilidade e prazer em fazê-lo. O “livro” foi fo- Ainda que seja boa a polêmica, considero que nosso
tocopiado e montado. papel seja o de conduzi-los à reflexão, questioná-los,
dando-lhes tempo para que possam amadurecer suas
2) “Amulher na atualidade” próprias idéias a esse respeito. Para tanto é importante
Idade: 22 série do ensino médio, 15-16 anos. que ampliem sua informação com leituras que lhes pro-
n8 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 119

piciem novas perspectivas e dados sobre o tema. Mesmo * Elaborar uma pesquisa e passá-la a todos os alu-
assim, é necessário que o “livro” que produzem reflita nos da classe, onde se determinem quais as tarefas rea-
realmente a opinião da classe, que acolha as diferentes lizadas por cada membro da família “habitualmente”,
idéias expressadas ao longo do tempo em que se trabalha “com frequência”, “algumas vezes” ou “nunca”.
no projeto. e Fazer a tabulação e redigir as conclusões, compa-
a) Trabalhando em grupos, preparar resumos de rando as tarefas realizadas pela ''mãe”, pelo “pai”, “fi-
diversos capítulos, de acordo com os grupos, do livro Las lhos”, “filhas”, “outros habitantes de casa do sexo mas-
mujeres en busca de um nuevo humanismo, de Mont- culino” e “outros habitantes de casa do sexo feminino”.
serrat Roig, Temas Clave, nº 60, da Editorial Salvat, que e Analisar separadamente os lares em que a mãe
pode funcionar como base do trabalho na primeira etapa trabalha fora e os lares em que não trabalha.
de informação. Logo eles poderão trazer para o grupo e Comissão B: “A mulher no ensino secundário”.
utilizar a bibliografia que quiserem sobre o aspecto que Atividades: verificar nas escolas de ensino secun-
lhes haja correspondido investigar. dário do bairro ou localidade a participação da mulher,
b) Cada grupo irá expor para a classe o resumo que observando que.proporção destas há entre:
houver elaborado, * os cargos diretivos;
c) As experiências serão seguidas de um debate e o corpo docente;
serão tiradas as conclusões. Um grupo escolhido fará o pessoal administrativo;
anotações sobre estes comentários e conclusões. o pessoal de limpeza;
d) O mesmo grupo que tiver feito as anotações redi- zeladores;
girá um rascunho do primeiro capítulo de nosso livro: os alunos de colegial;
“Comentários e perguntas que nos suscitou a leitura do * os alunos de diferentes áreas de cursos de forma-
livro Las mujeres en busca de un nuevo humanismo, de ção profissional.
Montserrat Roig'. Esse rascunho será apresentado em Tirar as conclusões correspondentes.
classe e por ela corrigido, dando-lhe a forma definitiva. Comissão C: “A mulhere o trabalho”.
Dessa forma termina a primeira parte do trabalho, cujo Atividades: verificar entre as famílias de seu próprio
objetivo é proporcionar informação e levantar questões meio (a sua e as dos cinco vizinhos mais próximos) que
sobre o têma. proporção de mulheres tem um trabalho remunerado,
e) Organizar grupos que atuarão como comissões, em que consiste esse trabalho e se o salário é superior,
cada um deles encarregado de procurar informações so- igual ou inferior ao que recebe o homem ou os homens da
bre um aspecto de A situação atual da mulher em nosso mesma família. Revendo sua vida cotidiana, fazê-los ob-
meio. Ainda que os temas variem em cada caso, uma vez servar as mulheres que encontram exercendo um ofício ou
que dependem de como tenha sido encaminhada a dis- profissão: quem dirige o ônibus ou metrô que os leva à es-
cussão na primeira parte, podem ser propostos os se- cola, se têm professores ou professoras, quem atende nas
guintes: lojas que frequentam, os quiosques ou bares, quem cha-
Comissão A: “A mulher e o trabalho nolar”.. “mam (homem ou mulher) quando ocorre algum defeito
Atividades: nas instalações de água, luz, gás ou telefone, se vão a um
120 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 121

médico ou médica quando estão doentes, quem dirige o * Em sua casa exigem as mesmas coisas de uma fi-
culto no templo ou igreja, etc. lha que de um filho, em matéria de horário, amigos, se-
Ordenar os dados, tirar conclusões e elaborar um xualidade, trabalhos domésticos, ou não? Por quê?
informe. Restam outros assuntos que poderiam ser incluídos
Comissão D: “Mulher e publicidade”. se fosse possível formar mais comissões, como a partici-
Atividades: pação da mulher em cargos de responsabilidade ou sobre
e Acompanhar a programação de televisão durante sexualidade.
alguns dias, em horário de grande audiência, e observar f) Cada comissão irá expor um informe que será
a presença da mulher nas propagandas, descrevê-las e
debatido. O professor anotará as conclusões por maioria
analisá-las com a ajuda do professor. e por minoria.
e Descrever os out-doors de seu bairro, em quantos g) Cada comissão fará a redação final de seu capí-
tulo, incorporando as conclusões finais do debate e abar-
deles a mulher é protagonista, e junto a que conteúdos.
De igual maneira, reunir anúncios de revistas e ana-
cando tudo o que sua imaginação lhes sugerir para tor-
nar a leitura o mais agradável possível. Com todo o ma-
lisá-los.
terial produzido, se montará o livro.
Esta comissão necessitará de mais auxílio do pro-
fessor que outras.
Comissão E: “O que pensam as mulheres de si mes-

mas

Atividades: gravar entrevistas nas quais um grupo


de mulheres adultas e um grupo de companheiras de ou-
tros cursos (por exemplo, cinco e cinco) expressem suas
opiniões e sentimentos com respeito à situação da mulher
e ao fato de serem elas próprias mulheres. As perguntas
podem ser deste tipo:
e Você acredita que é vantajoso ser homem em
nossa sociedade? Em que sentido?
e Você acha que há tarefas que correspondem à
mulher? Em caso afirmativo, quais?
e Suponha que está viajando num trem e descobre
que o maquinista é uma mulher. Qual seria sua reação?
e Se nascesse novamente e pudesse escolher o sexo,
qual escolheria? Por quê?
* O que você acha dos movimentos feministas?
* Você acha que há coisas que devem mudar na si-
tuação da mulher? Quais?
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 123

Meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos,


com relação ao tema da América Latina;
* porque se trata de uma obra contemporânea
à
época que estamos estudando, e o texto em si é teste-

Atividades: a poesia munho da mentalidade daquela época ou


gumas pessoas viviam determinados problemas ou situa-
de como al-
ções. Este poderia ser o caso de A cabana do Pai Tomás
nas aulas de de Harriet B. Stowe, para o tema da escravidão,
,
ou ar-
tigos de Mariano José de Larra para a Espanha na
Ciências Sociais meira metade do século XIX;
pri-
* porque o poema ou texto oferece elementos para
uma posterior reflexão e aprofundamento de um tema,
como é o caso dos poemas “Negritude”, de Aimé
Cé-
Introduzir a poesia nas aulas de Ciências Sociais saire, e “Ser e estar”, de Mario Benedetti, que serão
ana-
pode ser uma tarefa coordenada com o professor de Co- lisados mais adiante.
municação e Expressão ou (se não for este o caso) algo Na aula de Ciências Sociais não nos proporemos a
que o professor de Ciências Sociais pode realizar por sua um estudo integral dos textos, mas fundamentalmente
conta. À vinculação de textos literários (neste caso poe- do conteúdo de sua mensagem.
mas, mas pode tratar-se também de novelas, capítulos de
novelas, fragmentos de ensaios, contos ou peças de tea- 1) Andaluzia e a poesia
tro) com as aulás de História e Geografia é um trabalho Experiência realizada conjuntamente com a área de
rico e interessante. Permite dar vida e cor aos temas des- Comunicação e Expressão.
tas matérias, pode oferecer novos dados ou novas ma- Idade: 11-12 anos, escola primária.
neiras de ver as coisas que a proporcionada pelos livros Tempo: de 12 a 14 aulas.
didáticos ou pela explicação do professor, ajuda os alu- Objetivos
"* nosa ver a realidade de uma maneira ampla, integral e a) Propor uma aproximação mais calorosa e afetiva
não parcelada em matérias de estudo brindando a possi- à religião, que foi estudada em Ciências Sociais.
bilidade, sempre bem-vinda, de abrir a aula para a apre- b) Facilitar uma recapitulação geral da informação
ciação da comunicação e do sentimento vivos num texto adquirida sobre religião.
literário. A forma de nos conectarmos com estes textos c) Desfrutar lendo e comentando poemas.
pode se dar através de diversos enfoques: À d) Alcançar a realização de uma ação expressiva
* porque o tema da obra está relacionado com o coletiva. :
tema que estamos explicando, seja uma época, uma re-
ligião, um país ou uma determinada problemática social.
Por exemplo: Las bicicletas son para el verano, de Fer-
nando Fernán Gômez para a Guerra Civil Espanhola, ou
MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCO
LA 125
Desenvolvimento
ÁLAMO BRANCO
a) Esta foi a atividade final do tema “Andaluzia”
em Ciências Sociais. Foram escolhidos poemas de três Em cima canta o pássaro
poetas nascidos na região e um de Miguel e embaixo canta a água.
Hernândez
pelo conteúdo social de seu tema “Aceituneros"*. No caso (Em cima e embaixo,
dos primeiros, escolheram-se obras simples e descritivas, minha alma se abre,)
em sua maioria; foram lidos e comentados os seguintes
poemas: Entre duas melodias
a coluna de prata!
Omar. Omar. Folha, pássaro, estrela,
Omar. Sóomar.* flor baixa, raíz, água.
Por que me trouxeste, pai, Entre duas comoções
à cidade? a coluna de prata!
Por que me desenterraste (E tu, tronco ideal,
do mar? entre minh'alma e minh'alma.)
Nos sonhos, o marulho
arrasta-me o coração A estrela, o trinado embala,
quisera levá-lo. a onda a flor baixa.
Pai, por que me trouxeste para cá? (Em cima e embaixo,
Gemendo por ver o mar, estremece minh'alma.)
um marujinho em terra
é) uán Ramón Jiménez, Antologia
iça ao ar este lamento: gisterio Espariol,
poética, Editorial Ma-
1974, p. 137.)
Ai, minha blusa marinheira!
Sempre inflada pelo vento De Federico Garcia Lorca, for
am escolhidos quatro
ao divisar o cais. poemas de Poema del cante
jondo (Colección Austral,
Madri, Espasa Calpe, 1977),
(Extraído de “Marinero en tierra”, de Rafael Alberti,
em
Antologia Poética, Madri, Alianza Editorial, 1983,
p.
165.) VILAREJO

Sobre o monte escalvado


um calvário
Água clara
(*) No original: “El mar. La mar./El mar.
utiliza como recurso poético a alternância de
Solo la mar”.
O autor e oliveiras centenárias.
gênero, que provoca a sen- Pelas ruelas
sação do balanceio do mar. (N. TJ
Homens encapuçados
A
126 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 127

e nas torres A água da acéquia


veletas girando. estava cheia de sol,
Eternamente girando. no olivalzinho
Oh! vilarejo perdido, cantava um rouxinol
na Andaluzia do pranto!
Ai, amor,
BALCÃO debaixo da laranjeira em flor!

A Lola Assim que a Lola


canta saetas.* gastar todo
Os toureirinhos virão os toureirinhos.
a rodeiam,
eo barbeirinho Ai, amor,
de sua porta Debaixo da laranjeira em flor!
marca os ritmos
com a cabeça.
Entre a alfavaca
AMPARO
ea hortelã Amparo,
a Lola canta estás tão só em tua casa
saetas. vestida de branco!
À Lola, aquela, (Eguador entre o jasmim
que tanto se olhava eonardo.)
na alverca.
Ouves os maravilhosos
A LOLA provedores de teu pátio
e o débil trinado amarelo
Debaixo da laranjeira lava do canário.
fraldas de algodão.
Tem verdes os olhos Pela tarde vês tremular
e violeta a voz. os ciprestes com os pássaros,
enquanto bordas lentamente
Ai, amor, letras sobre o cânhamo.
debaixo da laranjeira em flor!
Amparo,
(*) Saeta: quadra breve utilizada para despertar a devoção em certas estás: tão só em tua casa
solenidades religiosas realizadas em igrejas ou ruas. (N. T.) vestida de branco!
MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA
129
Amparo,
e que difícil dizer-te: escrever e foram anotando no quadro negro os
temas so-
bre Andaluzia que lhes poderiam sugerir inspiração
te amo! para
um poema:
E finalmente, trabalhou-se sobre um fragmento de
“Aceituneros”, de Miguel Hernández. as oliveiras;
orio Guadalquivir;
Andaluzes de Jaén,
as hortas de Granada:
azeitoneiros altivos,
o Generalife e Alhambra;*
dizei-me do fundo d'alma: quem,
os pátios;
quem ergueu as oliveiras?
os trabalhadores;
Não as ergueu o nada, * osemigrantes que, de longe, pensam em sua terra
nem o dinheiro, nem o senhor, natal;
mas sim a terra calada, * osol;
o trabalho e o suor. * omar, acosta;
* Federico García Lorca;
Unidos à água pura
e aos planetas unidos, d) Num diálogo com a classe, trabalhamos sobre
os três deram a formosura cada tema, apontando idéias, realizando exercícios de
dos troncos retorcidos. adjetivação, anotando no quadro-negro e em
seus ca-
dernos as idéias, imagens e sentimentos que iam sendo
Andaluzes de Jaén, expressados, a partir da vivência figurada de estar
mos
azeitoneiros altivos, lá. Por exemplo: “Estamos num pátio andaluz: o
que
indaga minh'alma: de quem, vemos, o que ouvimos, o que cheiramos, o que tocam
os,
de quem são as oliveiras? como nos sentimos”, ou “Somos um emigrante andal
uz
que está na Alemanha: o que recordamos, o que
pensa-
(Obra poética completa, Madri, Editorial Zero, 1976, p. mos, do que sentimos falta, o que desejamos, o
que es-
315.) peramos”.
b) Ilustração dos poemas: e) Após isso, cada grupo escolheu temas sobre os
a classe organizou-se em
grupos e cada um deles encarregou-se de ilustrar um poe- quais escrever “poemas”. Deve ser esclarecido que a pa-
ma, o que levou a uma nova leitura e aprofundamento. lavra “poemas” foi empregada de forma muito ampla
e
Os poemas de Garcia Lorca, Alberti e Juán Ramôn que, como fizemos ao falar de montagens, o mais impor
Ji- -
ménez foram escolhidos pela facilidade com que podem tante não é, neste caso, a qualidade do resultado final
ser traduzidos em imagens.
c) Após isso, lhes foi proposto que fizessem poemas (*) Generalife e Alhambra: Fortaleza e palácios
contendo maravi-
sobre Andaluzia. Pensaram sobre que assuntos poderiam lhosos pátios e jardins, construídos pelos árabes para
os reis mouros de
Granada, durante os séculos XII e XIV. (N. 1)
130 MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 131
mas sim toda riqueza e aprendizagens do processo cria-
disciplinas é somente um recurso para ter acesso mais sis-
tivo. Cada grupo dispunha de todas as informações con-
seguidas pela classe ao tratar dos temas, podendo fazer tematizado ao estudo da realidade.
uso delas ou não, conforme preferissem. Podiam propor
* Facilitar o contato com a poesia.
um ou vários poemas, criados pelo grupo em conjunto ou
por algum de seus membros individualmente.
A) NEGRITUDE
f) Consenso: cada poema proposto foi lido em classe, (Aimé Cesaire)
alguns descartados e os melhores ou que mais agradaram
Aqueles que não inventaram a pólvora nema bússola.
foram escolhidos. Todas as decisões foram tomadas por
Aqueles que nunca souberam domar o vapor nem a'
maioria.
8) Cada poema escolhido eletricidade.
foi corrigido coletiva- Aqueles que não exploraram nem os mares nem o
mente, anotado na lousa e trabalhado, substituindo pa-
lavras, ampliando-as, acrescentando-se imagens, supri-
céu.
Porém aqueles sem os quais a terra não seria terra.
mindo-se outras, trocando-se a ordem, etc. Ao finalizar-
mos, as obras haviam mudado muito com relação ao ori- Minha negritude não é uma pedra, sua surdez se
ginal, haviam se transformado em obras coletivas. Em-
arremete como o clamor do dia.
bora as decisões tenham sido tomadas por maioria, pro- Minha negritude não é uma mancha d'água estan-
curamos chegar a um acordo e só recorrer à votação
cada sobre o olho morto da terra.
quando a situação não podia ser resolvida sem ela. Celeiro onde se conserva e amadurece o que a terra
h) Os poemas foram datilografados, acrescentaram-
se desenhos e foram
mais tem de terra.
confeccionados livrinhos: “Anda-
luzia — Criações coletivas”, que foram levados para casa Minha negritude não é nem uma torre nem uma
e distribuídos para algumas pessoas no centro da cidade.
catedral.
Ela se crava na carne rubra do solo.
2) Comentário de poemas Ela se crava na carne ardente do céu.
relacionados com temas
da programação Ela perfura a prostração opaca de sua paciência
Idade: ensino médio. tensa.
Objetivos
* Complementar o enfoque Posto que para encerrar-me nesta única raça,
dos temas com a con-
tribuição humana e pessoal da poesia. sabes, contudo, meu amor tirânico,
* Compreender que o poeta pode ser uma teste- sabes que não é por ódio às outras raças
munha que nos ajude a captar melhor e sentir mais in- gue me faço lutador desta raça única,
tensamente uma problemática. pois o que quero
* Compreender que as realidades humanas não po- é pela fome universal
dem ser divididas em setores estanques e que a divisão em pela sede universal.
Obrigá-la, livre afinal,
132 MARÍA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 133

a produzir do interior de sua intimidade imagem de si mesmos condicionada pelo domínio dos
a suculência dos frutos. brancos. Situar o poema neste contexto, observando que
se coloca a questão: quem somos nós, os negros?
(Extraído de La poesia negra africana, Santiago, Edi- d) Ler mais atentamente o poema, analisando verso
ciones Nueva Universidad, 1971, pp. 12-15; Braudel
Fernand, Las civilizaciones
bor verso, captando a contraposição que o autor faz do
actuales, Madri, Editorial
Tecnos, 1969, p. 142.) papel histórico dos negros no passado com o dinamismo
e a força das imagens com que ele se refere à negritude,
a) A leitura deste poema é apropriada para a con- ressaltando a declaração da ruptura de uma prostração
clusão do tema da descolonização da África, mas tam- secular (“perfura”, “prostração”, “paciência tensa”).
bém possibilita a introdução ao debate da situação atual Relacionar o terceiro fragmento com a definição que
dos negros com relação à sociedade branca nos Estados o autor dá de “negritude”,
Unidos ou Africa do Sul, por exemplo, ou ao tema do e) O poema pode dar margem a outras atividades
racismo em geral. O primeiro passo é, naturalmente, a relacionadas com o tema, como redações, colagens de
Jeitura do poema, do qual foram selecionados três frag- recortes de jornais, etc,
mentos.
b) A partir da compreensão global de seu conteúdo, B) Poemas de Miguel Hernández: “Sentado sobre
introduzir a explicação do conceito “negritude”, que o mortos”, “Rosário, dinamiteira” e “Canção do esposo
próprio Aimé Cesaire definiu nestes termos: soldado”.
Esta atividade está incluída no tema da guerra civil
“Partindo da consciência de ser negro, o que im- espanhola, porém também pode ser relacionada com ou-
plica em assumir seu destino, sua história, sua cul-
tros temas, como o da paz.
tura, a negritude é um mero reconhecimento desse
O trabalho sobre os poemas tem, neste caso, como
fato e não comporta nem racismo nem renegar a objetivo, aproximar-nos de uma testemunha partici-
Europa, ou outra exclusão, mas, pelo contrário, pante da guerra civil, um homem comprometido que ex-
uma fraternidade entre todos os homens. Existe, pressa passionalmente suas convicções, sua imensa dor.
não obstante, uma solidariedade maior entre os ho- Captar, precisamente, os sentimentos que vão brotando
mens de raça negra; não em função de sua cor mas de acordo com diferentes avatares da guerra, é o que se
sim por uma comunhão de cultura, história e tem-
procura com a análise a seguir.
peramento”.
(Extraído da introdução de Luis López Alvares ao livro
de Aimé Césaire, Poemas, Barcelona, Plaza y Janes, Desenvolvimento
1979, p. 11.)

a) Supõe-se que os alunos já estudaram ou estão es-


c) Aportar dados sobre os diferentes caminhos esco- tudando a Guerra Civil Espanhola e conhecem a biogra-
lhidos pelos negros em seu processo reivindicatório, mos- fia de Miguel Hernández; caso contrário, é necessário
trando como todos eles se esforçaram para se livrar da levantar dados sobre ele.
MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 135
b) Ler e trabalhar individualmente sobre o poema
“Sentado sobre mortos”, com o auxílio do guia que
o Ontem o povoado acordou
segue:
despido e sem o que vestir,
SENTADO SOBRE MORTOS faminto e sem o que comer,
eo dia, hoje, amanheceu
Sentado sobre mortos justamente borrascoso
gue se calaram em dois meses, e sangrento justamente.
beijo sapatos vazios Em tua mão os fuzis,
e empunho raivoso leões querem ser
a mão do coração para acabar com as feras
ea alma que o sustenta. que tantas vezes foram.
Que minha voz suba os montes
e desça à terra, trovejando, Mesmo que te faltem as armas,
pede minha garganta, povo de cem mil poderes,
agora e sempre. que não esmoreçam teus ossos,
castiga a quem te fere
Ajunta-te a meu clamor, enquanto restarem teus punhos,
povo de minha estirpe, unhas, saliva e te restem
árvore com cujas raízes coração, entranhas, tripas,
me aprisiona, partes de varão e dentes.
que aqui estou para amar-te Bravo como o vento bravo,
e defender-te leve como o ar leve,
com sangue e boca assassina quem assassina,
como duas armas fiéis. perturba a quem perturba
a paz de teu coração
Se saí de dentro da terra, eoventre de tuas mulheres.
se nasci de um ventre Que não te possam ferir pelas costas,
infeliz e pobre, vivecara a cara e morre
não foi senão para tornar-me com o peito frente às balas,
rouxinol das desgraças, amplo como os muros.
eco de mau agouro,
cantando e repetindo Aqui estou para viver
para quem me ouvir enquanto minha alma soar,
tudo quanto a penas, pobres, e aqui estou para morrer,
eàterra se referir. quando minha hora chegar,
136 MARIA TEREZA NIDELCOFE
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA
agora e sempre. 1397
Vários tragos, é avida, seus atributos de fera.
e um só trago, a morte. Ninguém ao vê-la iria crer
(De Vientos del Pueblo, que havia em seu coração
1937)
um desespero
* Sublinhe as palavras de cristais, de metralha
que expressam os fortes
timentos que o autor sen-
experimentou neste mo ansiosa por uma batalha
guerra. Explique que sen mento da
timentos eram aqueles. sedenta de uma explosão.
º* À que setor da sociedade Era tua mão direita,
sente inseparavelmente espanhola o autor se
unido? Explique-o e tra capaz de liquidar leões,
Os versos nos quais se per nscreva
ceba este sentimento. a flor das munições
* Segundo o Poeta, qua e o anelo da mecha,
l é sua missão neste
mento? Por quê? Até ond mo- Rosário, boa colheita,
e está disposto a chegar?
* Com que palavras des alta como um campanário,
creve a Situação em que
encontra o povo? se
semeavas no adversário
* Com que palavras se dinamite furiosa
refere ao inimigo?
* Muitos dos Poemas e tua mão era uma rosa
que compõem, juntament
com este, o livro Vientos e enfurecida, Rosário.
del Pueblo eram lidos nas
cheiras, em alto-falante trin-
s, ou circulavam pelo
folhas impressas e jornais front em
militares. Explique que Buitrago foi testemunha
9 poeta procurava pro reação
duzir nos soldados atr da condição de raio
mas como avés de poe-
este. Transcreva as fra das façanhas que calo
mensagem ses em que se note a
que Miguel Hernández e da mão de que falo.
queria transmitir ao
Bem conheceu o inimigo
c) Leitura do Poema em a mão desta donzela,
voz alta.
d) Consenso das respostas que já não é mão, porque dela
do questionário-guia. ,
e) Nova leitura, mais nem um só dedo resta,
detalhada, explicando
sões e versos que não expres-
tenham sido observado pois ardeu a dinamite
meiro trabalho. s no pri-
eaconverteu em estrela!
f) Repetir o Procedim
ento para analisar:
Rosário, dinamiteira,
ROSÁRIO, DINAMI TEIR podes ser varão e és
A
a nata das mulheres,
Rosário, dinamiteira, a espuma da trincheira.
sobre tua mão bonita Digna como uma bandeira
ocultava a dinamite de triunfos e resplendores,
dinamiteiros pastores,
138 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 139

vejam-na agitando seu alento * leitura em voz alta, detalhada, explicando verso
e soltem as bombas ao vento por verso o conteúdo do poema, trabalhando em con-
d'alma dos traidores. junto;
* contrapor os sentimentos que inspiram o filho
que espera e a mulher com os sentimentos que inspirava
Questionário-guia para a análise individual:
a guerra em poemas anteriores;
* explique quem era Rosário, onde lutava, que mis- * aprofundar o conteúdo de:
são cumpria.
“Deixarei em tua porta minha vida de soldado
º calcule quantos anos teria hoje, compare sua vida sem presas nem garras”,
com a de outras mulheres de sua idade que conhece. “E preciso matar para continuar vivendo”,
* reveja os textos consultados para o estudo da “Para o filho será a paz que estou forjando”.
guerra civil e localize em que etapa da luta Rosário par-
ticipou, de acordo com o texto.
CANÇÃO DO ESPOSO SOLDADO

|
* descreva como a imagina na batalha, de acordo
com o que diz Miguel Hernández sobre ela. Povoei teu ventre de amor e sementeira,
* quais são os sentimentos do autor com respeito a prolonguei o eco de sangue ao qual respondo
essa jovem? e espero sobre o sulco, como o arado espera:
* em que se assemelha com a poesia anterior? Há cheguei até o fundo.
alguma mensagem para os homens que lutam no front?
Qual?
Morena de altas torres, alta luz e altos olhos,
g) Comparando ambos os poemas e dialogando
esposa de minha pele, grande trago de minha vida,
com a classe em conjunto, procure situar Miguel Her-
teus seios loucos crescem em minha direção dando
nândez dentro destas possíveis atitudes na Guerra Civil:
* testemunha cética; saltos
de cerva concebida.
º participante forçado de uma facção;
* militante comprometido com a causa da Repú-
blica; Sinto que és um cristal delicado,
temo que te rompas ao mais leve tropeço,

o militante comprometido com o exército rebelde;


e ao reforçar tuas veias com minha pele de soldado
testemunha imparcial;
pacifista radical. sejas como a cerejeira.
Imaginar frases que poderiam ter sido escritas por
pessoas que mantivessem cada uma destas posições. Espelho de minha carne, sustento de minhas asas,
h) Analisar, finalmente, a “Canção do esposo sol- dou-te vida na morte que me dão e não tomo.
dado” (Vientos del Pueblo, 1937) com o seguinte proce- Mulher, mulher, de amo cercado por balas,
dimento: desejado pelo chumbo.
º leitura em silêncio;
MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 141

Por sobre os ataúdes ferozes à espreita i) Baseando-se no poema anterior, coloque em de-
por sobre os próprios mortos sem remédio e sem bate as questões:
fossa e Como era o verdadeiro Miguel Hernández? (re-
te quero e quisera beijar-te com a alma toda tomar o item g),
até o pó, esposa. e Como influíam nele as cireunstâncias que estava
vivendo?
Quando junto aos campos de batalha em ti pensa 3) Aprofundar o sentido dos versos:
minha fronte que não esfria nem aplaca tua imagem, “Nascerá nosso filho com o punho fechado,
te aproximas de mim como uma boca imensa envolto em um clamor de vitória e violões”.
com faminta dentadura. Comparar esta esperança de vitória com o desenlace
da vida do próprio poeta e o fim da guerra civil, Ler,
Escreve-me, vê-me na trincheira: para completar esta comparação, o seguinte [fragmento
aqui, com o fuzil teu nome evoco e contemplo, de Rafael Alberti (Entre o cravo e a espada, 1939-1940).
e defendo teu ventre de pobre que me espera,
e defendo teu filho.
O soldado sonhava, aquele soldado
de terras interiores, obscuro: —Se vencermos,
Nascerá nosso filho, com o punho fechado,
eu a levarei para ver as laranjeiras,
envolto em um clamor de vitória e violões,
e deixarei à tua porta minha vida de soldado
para tocar o mar, que nunca viu
para que seu coração se encha de barcos,
sem presas nem garras.
Mas veio a paz, E era uma oliveira
de interminável sangue sobre o campo.
É preciso matar para continuar vivendo.
Um dia andarei à sombra de tua cabeleira distante, (Antologia poética, Madri, Alianza Editorial, 1983,
e dormirei no lençol com goma e espanto p. 165.)
cosido por tuas mãos.
k) Dividindo-se em grupos, optar por alguma des-
Tuas pernas implacáveis diretas vão ao parto,
tas formas de expressão:
e tua implacável boca de lábios indomáveis,
* pintar ou desenhar murais inspirados nos poemas;
e frente a minha solidão de explosões e fendas * fazer redações: “Um poeta na Guerra Civil”;
percorres um caminho de beijos implacáveis.
e fazer reportagens imaginárias: “Um jornalista
estrangeiro entrevista Miguel Hernândez em 1937”;
Para o filho será a paz que estou forjando.
* viagem imaginária ao passado: “Eu em 1937”;
mar

E por fim num oceano de irremediáveis ossos


* gravar uma leitura dos poemas com música,
teu coração e o meu naufragarão, restando
Os poemas foram extraídos de Miguel Hernández,
uma mulher e um homem consumidos pelos beijos.
Obra poética completa, Madri, Editorial Zero, 1976.
C)Mario Benedetti: “Sere estar”
aa
142 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA
143
Este poema foi escolhido para o tema sobre o impe- em compensação
rialismo, em uma programação de História Contempo- um homem está “frito”'*
rânea. quando vocês
oh marine
SER E ESTAR oh boy
surgem no horizonte
Oh marine para lhe injetar democracia.
oh boy
(Extraído de Inventario, México, Nueva Image
uma de tuas dificuldades consiste em não saber p. 158.)
m, 1978,
distinguir o ser do estar
para ti tudo é to be. a) Explicar o que é um marine, relacioná-lo
com
tentemos assim esclarecer as coisas filmes que tenham visto.
b) Discorrer sobre o estilo de vida que o autor
des-
por exemplo creve na expressão homem “esperto/frito”; e
mulher
uma mulher é boa “boa”, considerando em que países e classes
sociais o si-
quando entoa desafinadamente os salmos tuariam. Relacionar, também neste caso, com filmes
ou
ea cada dois anos troca a geladeira seriados onde tenham visto personagens semel
hantes.
e manda mensalmente seu cão ao analista c) Centralizar o diálogo na explicação da última es-
e só enfrenta o sexo nos sábados à noite trofe, relacionar com fatos do passado e do prese
nte que
em compensação uma mulher está boa conheçam, sobre intervenção armada (ou ameaça)
dos
quando a olhas e teus olhos se esbugalham Estados Unidos em outros países.
e a imaginas e a imaginas e a imaginas d) Procurar recortes da atualidade ou de publici-
e até cres que tomando um martini criarás coragem dade que sirvam para ilustrar qualquer uma das estrof
es
mas nem assim do poema.

por exemplo
um homem é esperto*
quando consegue milhões por telefone
e sonega consciência e impostos
e adquire uma boa apólice de seguros
para receber quando alcance os setenta
e seja o momento de viajar em excursão a capriea
paris
e consiga violentar a gioconda em pleno louvre
com a vertiginosa polaroid (*) O autor usa a expressão “un hombre es/está
listo”, que em es-
panhol tem duplo sentido. (N. T.)
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 145

conversas, desordem ou outras formas de boicote, nós,


professores, nos damos conta, rapidamente, de que a
“coisa não está funcionando”. Porém se os alunos per-
manecem dócil e silenciosamente em seus lugares, ten-
demos a nos iludir com a suposição, que é falsa no caso
do ensino, de que quem cala está de acordo com o que foi
Atividades para dito, ou, pelo menos, “por dentro” do assunto.
Trata-se, então, de implicar os alunos no processo
promover a participação de aprendizagem para que assumam nele um papel ativo
de protagonistas, a fim de que nos possamos preocupar
mais em conduzir “seu” aprendizado do que de “ensi-
nar-lhes”.
Daí a necessidade de promover formas de trabalho
Um dos propósitos das atividades descritas neste ca-
que conduzam à participação de todos os alunos ou do
pítulo é dinamizar o grupo de classe para provocar uma
maior número possivel deles. Porém, também assinalei
participação mais intensa dos alunos no tratamento do
acima outras duas qualidades desejáveis nos alunos:
tema que estiver em questão. Outro propósito é pro-
mover a capacidade de trabalho autônomo e cooperativo a) A capacidade de trabalhar de maneira autô-
no grupo de classe (que é a classe entendida como grupo). noma: poderiamos supor que na idade à qual estamos
O primeiro objetivo nasce da convicção que funda- nos referindo, os alunos já são capazes de possuir auto-
menta este trabalho, que consiste em que se aprenda nomia no trabalho, mas para que isso seja possível é ne-
cessário que haja certas condições:
através da própria atividade e participação no processo
de aprendizagem, Esta participação pode ser aparente e º* que estejam motivados para encarar a tarefa em
enganosa na aula tradicional, baseada na explicação- questão;
dissertação do professor, * que tenham adquirido um certo método de como
E fregúente nosso desapontamento quando, depois realizar o tipo de trabalho que lhes foi solicitado ou ao
de aplicar alguma forma de avaliação, comprovamos que qual se propuseram;
a impressão que tinhamos de que o tema havia sido com- * que lhes seja exigido (de forma lógica e adequada)
preendido era errada. Em que se baseava essa impres- o melhor nível de que são capazes, conduzindo-os à auto-
são? No fato de que havíamos esclarecido as questões avaliação;
por eles colocadas e que ninguém havia respondido com º que o professor os habitue a que, terminado um
um redondo “não!” ao nosso tradicional “vocês com- trabalho, este seja analisado, criticado e que seja valori-
preenderam?”, Outro equívoco é que a participação zado não só pelo resultado obtido (uma monografia, um
assídua de um grupo de alunos que se põe a perguntar e resumo, um mural, etc.) como também o método apli-
opinar disfarça a “marginalização” do resto da classe. Se cado, o aproveitamento adequado dos materiais ou fon-
esse desinteresse é barulhento, isto é, se se expressa com tes de informação de que se dispunha, o interesse e o
146 MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 147
esforço empregados na tarefa, a originalidade e o nível sozinho será no grupo um sujeito passivo, que fará perder
alcançado com relação ao tempo concedido para fazê-lo. tempoe perderá oseu.
b) Porém, para conseguir uma certa capacidade de * em grupos pequenos: porque é a forma de que
trabalhar autonomamente em grupos ou de forma indi- todos possam participar no debate e expressar-se, sem
vidual, é necessário desenvolver uma atitude coopera- que a participação dos elementos mais ativos e inquietos
tiva, que os faça sentir responsáveis pelo processo de da classe façam minguar as possibilidades dos mais len-
aprendizagem de seu grupo de classe ou dos membros de tos, tímidos e inseguros.
seu pequeno grupo de estudo ou discussão. Isto se baseia
* com o grupo grande da classe em seu conjunto: é
não só numa concepção do homem que valoriza positi-
quando aparecem os resultados das buscas individuais ou
vamente essa atitude cooperativa, como também se fun-
os resultados e conclusões dos grupos pequenos.
damenta na enorme influência que o grupo tem na apren-
. dizagem dos membros que o compõem: a tônica geral do Com respeito aos grupos pequenos de trabalho,
grupo pode animar ou desanimar os alunos, concentrar creio que todos nós que os empregamos, tivemos certos
ou dispersá-los, pode mobilizar
fracassos mais ou menos estrepitosos. Nestes casos, o
ou inibir suas capaci-
dades, pode estimular a que participem ou não e, resu- erro talvez estivesse no fato de não terem experiência
mindo, os grupos podem prévia neste tipo de trabalho, passando, sem auxílio, de
ajudar a aprender ou difi-
cultâ-lo. executores das ordens dadas pelo professor, a terem que
realizá-las, devendo decidir como executá-las, como or-
Daí a importância, também deste ponto de vista, de ganizarem-se, como coordenarem-se com seus compa-
que o grupo de classe em conjunto seja ativo e positivo
nheiros sem a intervenção direta do professor. Surgem
em suas atitudes frente ao aprendizado. Isto nos leva à
assim condutas típicas destes casos: discutir por discutir,
cogitar diferentes formas de organizá-lo para que ocorra
não ceder, dificuldade para aceitar oposição, tendência à
tal mobilização. A este respeito podemos obter impor-
distração, inibição e fechamento em si mesmo de algum
tantes informações da bibliografia sobre técnicas de gru-
membro em desacordo. Porém tudo isto deve ser enfren-
po. Encontraremos várias possibilidades de organizar a
tado, já que se trata justamente de aprender a superar
participação dos alunos, dependendo dos propósitos que
estas dificuldades. Devemos considerar que tais dificul-
tivermos em vista, em cada caso. Não se trata de segui-
dades diminuirão, se nós, professores, nos propusermos
las mecanicamente, mas pode ser um ponto de partida
como meta ensinar-lhes a trabalhar em grupos, em eta-
principalmente no caso de não possuirmos experiência
pas sucessivas de dificuldade crescente. Neste caso, po-
no assunto.
derá ser útil levar em conta que:
Qualquer que seja a forma que escolhermos, consi-
* quanto menos experiência de trabalho em comum
dero conveniente combinar equilibradamente os três es- tiver o grupo, mais delimitada e dirigida (por exemplo,
tilos de trabalho: através de um roteiro) será a tarefa;
e individual: é importante incluir etapas de pes-
* quanto mais claro estiver o que se espera que o gru-
quisa e informação individual, para o próprio desenvol-
=, po produza e as condições que devem ter seus trabalhos,
vimento pessoal e porque o aluno que não sabe trabalhar
mais fáceis serão as relações humanas dentro dele;
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 149
148 MARIA TEREZA NIDELCOFF

impor, neste caso, uma prestação social substitu-


* se os elementos do grupo carecem de experiência,
o tempo destinado
tiva”.
ao trabalho, antes de chegarem a
acordos ou exporem o que foi realizado, deve ser relati-
vamente curto;
Foram escritas na lousa as opções que os alunos co-
* ajuda bastante incluir, no final da experiência, a nheciam sobre o serviço militar, eles foram informados
possibilidade de que o grupo reveja suas atitudes e as de outras e ficou o seguinte:
e serviço militar obrigatório para homens, com a
auto-avalie;
duração atual;
* os alunos devem estar esclarecidos sobre o papel
* serviço militar obrigatório para homens, com a du-
do coordenador, como convém que atue e que meca-
ração de três meses;
nismos empregar para dissolver os conflitos que detêm o
* serviço militar obrigatório para todos, incluindo as
curso das discussões.
moças;
* serviço militar voluntário;
1) Mesa-redonda: O serviço militar * objeção de consciência, realizando uma prestação
Idade: 2? série do ensino médio, 15-16 anos. social de duração igual ao período de serviço militar;
Tempo: duas aulas. * objeção de consciência, realizando uma prestação
Objetivos social de duração maior que a do serviço militar.
a) Informar-se sobre as diferentes posições defen- Foi lido também um artigo da imprensa sobre o ser-
didas atualmente com respeito a este tema. viço militar em diversos países.
b) Promover o intercâmbio de idéias. b) Através do que eles conheciam da recente cam-
c) Adquirir condutas apropriadas para desem- panha eleitoral, de cartazes no metrô e de seu próprio
penhar em debates, mesas-redondas e assembléias. ambiente, somados à informação que lhes foi proporcio-
nada, pôde-se identificar os que defendem, em nossa so-
ciedade, cada uma das posições, e os alunos definiram
Desenvolvimento uma série de personagens que poderiam representá-las.
Estes personagens foram repartidos entre os alunos
a) Esta mesa-redonda foi realizada com relação ao que queriam representar tais papéis. Escolheu-se um
estudo da Constituição espanhola de 1978, em cujo ar- coordenador.
tigo 30 fica estabelecido: c) Cada “personagem” se reuniu com um grupo de
“assessores” para se preparar, ficando a classe divi-
1 — “Os espanhóis têm o direito e o dever de de- dida em seis grupos. Cada grupo redigiu um documento,
fender a Espanha”; formulando os argumentos pertinentes para defender
2 — “A lei determinará as obrigações militares dos sua posição.
espanhóis e regulará,
d) Desenvolvimento da mesa-redonda: breve expo-
com as devidas garantias, a
objeção de consciência, assim como sição de cada um dos membros e, após isso, debate in-
outras causas
de isenções do serviço militar obrigatório, formal entre eles.
podendo
MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 151

e) Participação do resto da classe, através de per- b) Os mesmos que no caso anterior, com relação ao
guntas aos representantes das diferentes posições e de- desenvolvimento de atitudes apropriadas no diálogo e no
bate geral. debate.
f) Terminado o debate, diálogo intercambiando
pareceres a respeito do desenvolvimento da atividade em
seu conjunto, avaliando-a. Desenvolvimento
g) Redação individual: “Minhas idéias sobre o ser-
viço militar”. a) A atividade se desenvolveu relacionada com o
tema de História: “Situação do proletariado no século
Observações passado”. Organizaram-se em grupos para ler os se-
guintes textos:
As mesas-redondas em combinação com o debate * cópia de um recorte da imprensa a respeito da
são um recurso de utilização frequente, podendo ser
polêmica em torno da reivindicação, por parte de jovens
preparadas de várias maneiras, mas é conveniente levar do sexo feminino, do direito de serem contratadas nas
em conta os seguintes pontos: minas;
* garantir uma etapa prévia de informações sobre o e “Da mina sai seu mineral e do poço, seus servos
que vai ser discutido: (...) bandos de jovens, ai! de ambos os sexos, embora
* combinar a discussão em grupos pequenos (como nem sua roupa nem sua linguagem indiquem a diferença;
preparação) com o debate em conjunto, para promover todos levam vestimentas masculinas e promessas, que po-
a
participação de todos; deriam estremecer os homens, brotam de lábios nascidos
* incluir, no final, uma auto-avaliação das atitudes para pronunciar palavras doces. Contudo, elas serão —
e da participação: algumas já o são — as mães da Inglaterra.
* fazer com que ocorra um momento de reflexão (...) Despida até a cintura, uma moça inglesa, du-
individual, no início (alguns minutos para a anotação de rante doze e às vezes dezesseis horas diárias, puxa, com a
idéias sobre o assunto em questão); ou no final (expres- ajuda das mãos e dos pés, uma corrente de ferro que,
sando suas opiniões, resumindo os conceitos fundamen- presa a um cinturão de couro, corre entre suas pernas
tais, enumerando as questões esclarecidas, etc). forradas de calças de lona para transportar tinas de car-
vão...” (Disraeli, “Sybil”, 1845);
2) Debate: E correto que as mulheres sejam mi- º “Na Bélgica, em 1876, um decreto real proíbe o
neiras? trabalho, nas minas, dos meninos menores de 12 anos e
Idade: 22 série do ensino médio, 15-16 anos. das meninas menores de 14.” (Pierre Leon; Historia eco-
Tempo: uma ou duas aulas. nómica y social del mundo);
Objetivos e “Proibição do trabalho aos meninos menores de
a) comparar uma reivindicação atual da mulher nove anos e de todo trabalho pouco higiênico ou con-
com reivindicações do movimento operário no século trário aos bons costumes para as mulheres.” (Programa
XIX. do Partido Socialista Operário Espanhol, 1879);
152 MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA
153
* na Grã-Bretanha “o Mining Act de 1842
proibiu consciência das diferentes maneiras de vê-lo, e a ampli
o trabalho das mulheres e meninos menores ar
de 10 anos sua informação. Considero
nos trabalhos subterrâneos”. De acordo com que as votações têm os se-
um informe guintes inconvenientes:
de 1866: “desde 1842, as operárias trabalham,
ainda que * Propiciam o fechamento
não mais debaixo da terra, mas na superfície, em posições mais rí-
carregando gidas, ainda que não vejam as coisas muito claras
vagonetes, etc., levando e trazendo as ;
cubas aos canais, * Forçam a definição sobre temas com os quais
puxando os vagões, crivando o aca-
carvão, etc. São em sua bam de entrar em contato, sem tempo suficiente
maioria mulheres, filhas e viúvas de para
mineiros, que variam realizar um processo pessoal de amadurecimento.
entre os 12 e 50 ou 60 anos”. “Nós, Por
operários mineiros, isso creio que sempre devemos fazê-los sentir
sentimos respeito demais Pela mulher que não
para poder vê-la acontecerá nada se mudarem de opinião,
condenada ao trabalho das minas. Trata que pode ser
-se, em sua maior índice de maturidade. Isso não exclui à votaç
parte, de
trabalhos árduos. Muitas dessas moça ão de temas
s le- cujas problemáticas os atinjam
vantam até 10 toneladas por dia.” “É um trabalho diretamente e ante os
(o das quais devam assumir uma posição para resolv
minas) para homens fortes.” (Citado por Karl er um pro-
Marx em blema: temas relacionados com a escola, suas
O Capital). relações
b) O tema foi discutido pelos grupos. Escol com os professores, organização de atividades,
etc.
heu-se
então um porta-voz que expressou a opini
ão de seu grupo
sobre se é conveniente ou não admitir
o trabalho de mu-
3) Dramatização: “As classes sociais na Revolução
lheres nas minas. Francesa” :
c) Debate generalizado sobre o tema,
Idade: 22 série do ensino médio.
durante o
qual o professor ia tomando nota no quad Duração: uma aula.
ro-negro dos
argu mentos que iam surgindo, a favor ou Objetivos
contra.
d) Resumo oral dos argumentos. Avali a) Esclarecer a participação e os interesses das dife-
ação do de-
bate. rentes classes no processo revolucionário.
e) Individualmente fizeram uma redação b) Vivenciar uma experiência dos conflitos de classe
das pró-
prias conclusões sobre a pergunta em discu que se dão na História.
ssão.
Observação
Desenvolvimento
Dentro do possível, não me parece convenie
nte in-
cluir votações, nestes debates, que implique
m tomadas de
posição bastante comprometedoras, a) Quando foi posta em prática esta atividade, os
porque o objetivo
não é definir a classe em um ou outro senti alunos já haviam completado e corrigido um roteiro de
do, mas co- estudos
locar os alunos em situação de ter que sobre a Revolução Francesa, no qual uma das
buscar argu-
mentos para fundamentar suas opções, perguntas se referia à falta de conformidade, por razões
expressar pontos
de vista, ajudá-los a esclarecer o prob diversas, dos diferentes estratos sociais, no início do pro-
lema, tomando
cesso revolucionário francês. Haviam lido e anali
sado
154 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 155

também um “Livro de queixas” contendo reivindicações Num primeiro momento dividiu-se a classe em se-
de camponeses: tores, personificando cada setor em:
* aristocracia
e alto clero;
* Que todos os impostos sejam pagos pelas três or- º burguesia;
dens, sem exceção, cada uma segundo suas possibi- * classes populares urbanas;
lidades econômicas. * camponeses, alguns com terra, outros sem pro-
º Que haja uma única lei para todo o reino. priedade.
* Supressão total de todas as taxas e impostos. b) Cada setor caracterizou oralmente seu grupo,
e Isenção de impostos para todas as feiras e mer- expressando como eram seu modo de vida, suas ocu-
cados e abolição de todos os pedágios. pações, seus privilégios, seus deveres e obrigações.
º Supressão de toda ordem de décima" em vigência. c) Cada grupo redigiu um “Livro de queixas”, ou
* Extermínio dos pássaros, que provocam muito seja, sua própria lista de reivindicações, de acordo com
prejuízo, tanto durante a semeadura como em tem- seus interesses.
po de colheita. d) As reivindicações foram expostas, escritas na
* Que o direito de propriedade seja sagrado e invio- lousa, de forma que pudessem ser vistas por todos.
lável. e) Cada grupo simulava que a classe a qual estava
* Que a justiça seja aplicada com mais rapidez e representando tomava o poder e arrolava as medidas que
menos parcialidade. tomaria em função dessas reivindicações. As demais
* Abolição total das corvéias,” de qualquer classe. classes sociais reagiam com queixas ou oposições, na me-
* As paróquias necessitam de um vigário, tendo em dida em que lesavam seus interesses. Assim puderam ver
conta a distância de algumas fazendas; também como às vezes, dois estratos sociais se reuniam para opor-
precisam de um professor e uma professora para a se a determinadas medidas. Viram também como ha-
educação dos jovens. viam interesses irreconciliáveis.
* Que todos os padres sejam obrigados a realizar 9) Depois foi a vez da “burguesia” tomar o poder e
todas as funções de sua atribuição sem exigir ne- negociar com os representantes da nobreza e do povo, as
nhuma retribuição. reivindicações (da lista, elaboradas no início) que pode-
riam ser outorgadas e as que não poderiam ser aten-
(Citado em Materiales para la clase, Grup Germania-75,
Editorial Anaya.) didas por serem inconvenientes a seus próprios inte-
resses. Viram então, como os setores populares podiam
se unir à burguesia contra a aristocracia, mas logo se de-
Essa dramatização tinha o caráter de atividade final
paravam com interesses antagônicos a ela. Os membros
do tema.
da “burguesia” deliberavam e apagavam da lousa aquilo
gue não aceitavam, restando, finalmente, apenas o pro-
(13) Décima: imposto que abrangia a décima parte de um rendi-
mento.
grama que concediam.
(14) Corvéia: trabalho gratuito prestado pelo camponês ao seu se- g) Foi lida a “Declaração dos Direitos Humanos”
nhor ou ao Estado. chamando a atenção para os artigos aonde podiam ser
156. MARÍA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 157

vistos os interesses e aspirações da burguesia daquela Desenvolvimento


época.
a) Este conjunto de atividades desenvolveu-se com
relação à interpretação do artigo 15 da Constituição que
Observações estabelece “o direito à vida”; direito invocado como ar-
gumento pelos setores sociais contrários à descriminação
e Na lista de reivindicações apareciam algumas ba- doaborto.
seadas no que havia sido explicado ou lido em classe, Para mobilizar ao máximo a participação, repro-
mas também figuravam elementos feitos pelos próprios duziu-se o esquema de um programa de rádio, com a
alunos (“aumento de salário para os empregados”, “di- participação dos ouvintes. A primeira etapa foi informa-
visão de terras entre os camponeses”, “trabalhar menos tiva, destinando-se um tempo considerável à leitura e
horas”). Estas últimas foram admitidas porque tratava- anotações sobre o tema, trabalhando-se principalmente
se fundamentalmente de que compreendessem como com artigos de jornais e posturas da Igreja, partidos po-
cada setor social tinha seus interesses (ou tem), e estes se líticos e organizações de diversos tipos.
conciliavam num determinado momento apesar de man- b) Distribuição dos papéis a serem representados
ter-se a oposição num sentido mais profundo. durante o desenvolvimento do “programa”. Escolheram
e Este é um tipo de exercício adequado para escla- voluntariamente entre:
recer as idéias ou sentimentos das pessoas que tomaram º a direção do programa;
parte num determinado processo, colocar-se em suas pe- e uma deputada da Coalizão Popular, que defen-
les, por exemplo: “os habitantes de Roma e os primeiros deria uma posição contrária à descriminação do aborto;
cristãos”, “os índios e os colonizadores”, “os diferentes e uma deputada do Partido Socialista, que defen-
setores da sociedade colonial frente à independência das deria a descriminação do aborto com três condições:
colônias americanas”. tratar-se de estupro, malformação do feto e risco para a
saúde da mãe;
e uma feminista que defenderá o direito da mulher
4) Imitando o rádio: Programa sobre o aborto de decidir livremente se leva ou não adiante a gravidez;
Idade: 22 série do ensino médio, 15-16 anos. e uma repórter que, na “rua”, perguntaria a opi-
Tempo: quatro aulas. nião aos pedestres;
Objetivos e um grupo que representaria “pedestres” livres
a) Despertar o interesse sobre um tema de extrema para opinar em um ou outro sentido;
atualidade. .º os demais seriam “ouvintes” que poderiam ligar
b) Informar-se sobre as posições frente ao aborto para “a rádio”, para fazer perguntas aos convidados do
defendidas por diferentes movimentos, partidos ou ins- programa ou para expressar suas opiniões. Entre os ou-
tituições. vintes haveria duas que ligariam contando que haviam
c) Expressar dúvidas, inquietações ou comentários abortado clandestinamente, por que e como haviam se
levantados pelo tema. sentido.
158 MARIA TEREZA NIDELCOFF

c) Finalmente se desenvolveu e gravou o programa,


de aproximadamente uma hora de duração, com a se-
guinte mecânica de funcionamento:
º alocutora dialoga com as três convidadas (as duas
deputadas e a militante feminista), as quais expressam
suas opiniões e argumentos;
* o locutor conecta com a rua e intervém a repórter
que está fazendo sua pesquisa de opinião; Atividades finais
* participação dos ouvintes: perguntas,
experiências;
opiniões,
para os mais novos
* a locutora e suas convidadas encerram o debate,
tirando cada uma suas próprias conclusões.

Observação
À propósito destas atividades é conveniente recordar
que objetivos atribuímos às Ciências Sociais dentro do
O rádio é um meio de comunicação que ultima- currículo que os planos de estudos propõem para os ado-
mente está fazendo interessantes experiências de partici
-: lescentes.
pação dos ouvintes com suas opiniões, denúncias e con- Poderíamos sintetizá-los da seguinte maneira:
sultas. Há diversos esquemas de participação e as emis-
a) Adquirir uma informação mínima para:
soras concorrem na busca de programas mais dinâm
icos, * compreender as principais características da épo-
participativos e abertos à problemática social. Muitos
de ca atual e sua origem; :
seus esquemas podem ser levados à classe numa
espécie * compreender a relação do homem com o meio.
de “brincar de rádio”, que os faça afrontar a infor
mação b) Adquirir um senso de observação das atividades
sobre um assunto, de maneira divertida e ativa.
Outra humanas e dos fatos contemporâneos, que os introduza
possibilidade, é substituir a clássica monografia sobre na atitude de pensar criticamente a partir da observação
um tema pela criação e gravação em fita de um suposto da realidade.
programa de rádio, com o modelo de funcionamento
es- ec) Adquirir métodos e técnicas de trabalho intelec-
colhido pelos alunos.
tual que possam ser aplicados à capacidade de informar-
se a partir de diferentes fontes. Temos por hábito acre-
ditar de que é na escola, e mais especificamente dentro do
ciclo de ensino obrigatório, onde estes objetivos deveriam
ser cabalmente efetivados. Daí nossa angústia se, por fal-
ta de tempo, não conseguimos desenvolver este ou aquele
tema. Não obstante, é absurdo pensar que nesta idade
irão adquirir toda a informação que necessitam como ci-
dadãos para se instrumentarem de forma crítica e cons-
160 MARÍA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 161
ciente em nossa sociedade
, Por outro lado, é eviden
Os conteúdos informativos te que Com estas crianças também devemos evitar que o
são esquecidos, basta ver o
lembram do Programa que ritmo de trabalho seja sufocante, que se. a pois
de História da série ant
experiência nos leva à obs eri or. A rendo” por inúmeros temas, sempre pesa a se
ervar que, em compensação, relógio. É dmponente foi Ce
que permanece são: o
* as descobertas que ten icação do que foi estudado, r ti
ham feito por si mesmos, ga cep E um mau sintoma omitir o
altamente motivados;
atividades (insisto principalmente no caso dos mec E
* as grandes linhas de evo
lução e mudança (se hou vos, de 11-12 anos) e devido à ansiedade de a e
vermos trabalhado de man -
eira que as possam ter prazo e a programação, passar para novos mo a e
bido em lugar de intoxicá-los com perce-
datas, fatos e cif
ras): ter tomado o cuidado de assentar e aprofun E a E
* os conceitos muito riores. Também considero negativo apito a
investigados e repetidam
usados; ente
i ir um projeto que nos pare ;
* os hábitos e técnicas gras agir de novas aprendizagens, po
de trabalho que tenham
adquirido: se introduzido subtrairá tempo para o E
* o gosto pelo saber ou, inf neiro deste ou daquele tema da pres rosado oficial.
elizmente, a resistência a
ele. Assim, recaímos em um assunto já visto: um e
Tudo isto é ainda mais ativo, motivador, desenvolvido num ambiente asrad ea
importante para os men
que iniciam um aprendiza inos e não neurotizante implica esiago os cones a e
do sistemático e formal
disciplinas, nas últimas destas implificá-los. Ao invés disso,
séries da escola primária,
aproximada mente 11 anos. Neste caso, com sairia ds levar à extensão e profusão de dadas =
ver os objetivos enunciados não se trata de
como um fim a ser alcanç não tomarmos o cuidado de selecionar a me e
ado nos proporcionam. A necessidade de revisar ospe pdoe
e adaptá-los à realidade de nossa escola o pe a
lhar com a programação de maneira coordenada a
outros companheiros do mesmo nível. cor oca
também é imprescindível para elaborar “ma progr
mação de técnicas que devam ser adquiridas M
* interpretação de mapas (orientação, escalas, sim
informação social e Políti
ca, de muita transcendênc
seu processo de amadureci ia em
mento. E interpretação e elaboração de gráficos de diversos
No caso dos alunos mais nov tipos e de dados estatísticos simples; à ola
os do conjunto ao qual
se refere este livro, trata-
se fundamentalmente º a análise de testemunhos de diversos tipos;
Possibilitar experiências de lhe
cuja realização realmente * interpretação de informação escrita; 7.
sam desfrutar, o que abr pos-
irá boas Possibilidades * preparação ordenada e eficaz dos SERRA de es-
aprendizagens posteriores. par a
tudo (anotações, resumos, esquemas, sinopses);
MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 163
* experiência de trabalho em grupo e de partici-
pação em assembléias e debates. tulos e intercalar entre os desenhos outras folhas com
A programação em conjunto pressupõe o estabele- subtítulos e alguma frase conveniente. :
cimento de uma gradação de níveis de complexidade *) Confeccionar a “televisão”
em que será visto o
crescente em cada uma destas capacitações e atividades filme, com uma caixa revestida de papel escuro, no fun-
repetitivas de aplicação das mesmas. do da qual se instalarã um soquete com lâmpada. Na
parte dianteira, fazer lateralmente, em cima e em baixo,
1) Um filme com desenhos dois furos nos quais passarão cabos de vassoura onde se-
Idade: 11-12 anos.
rão colados os dois extremos do “filme” que será enro-
Tempo: cinco ou seis aulas. lado neles. Girando os cabos passará todo o filme pin-
tado pela “televisão”.
Objetivos
a) Revisar de uma maneira divertida e ativa a in- f) Cada aluno redigirá o roteiro de seu tema que
formação sobre uma região que tenha sido estudada. acompanhará cada cena.
b) Aprender a construir objetos que nos propor- g) Gravar o roteiro com música típica da região. Os
cionem satisfação, utilizando materiais muito simples ou alúnos deverão definir a forma de efetuar a gravação, se
descartáveis. com a participação de todos ou escolhendo um grupo
É para fazê-lo.
h) A “projeção” exige um certo ensaio, para ir pas-
Desenvolvimento
sando os desenhos de forma sincronizada com o texto
gravado.
a) Escrever na lousa todos os temas propostos pelos
alunos para que sejam incluídos no “filme”, sobre o re-
levo, clima, atividades humanas, folclore, etc., da região Observações

O e
em questão.
b) Repartir os temas de forma que façam uns vinte * Esse procedimento, que foi empregado também
desenhos. Os alunos, ou alguns deles, farão um rascunho para temas sobre o meio, países e biografias é, natural-

E
do projeto do tema designado para representar, por mente, uma atividade para alunos bem pequenos.
exemplo: um desenho que expresse ser uma região de * Estas atividades podem ser coordenadas com Ar-
chuvas abundantes. Discutir os projetos com o professor, tes Plásticas, o que também permite empregar mais tem-
incorporar sugestões deste ou dos demais companheiros. po nelas. O mesmo pode ser feito com os murais de que
c) Fazer o desenho definitivo em papel transparente falaremos a seguir.
e pintá-lo com canetas hidrográficas, tinta ou lápis de e Uma variação dessa atividade é fazer os desenhos
' em cartolinas e fotografá-los em diapositivos, fazendo
cera, com cores vivas.
i com eles uma montagem audio-visual.
d) Colar todos os desenhos, um em seguida do ou-
tro, na ordem estabelecida, numa longa tira que cons-
tituirá o “filme”. Colocar no início a apresentação 2) Murais coletivos
e tí- h Idade: 11-12 anos.
164 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 165

Tempo: quatro aulas. 3) Desenhar histórias em quadrinhos


Objetivos Idade; 11, 12e13anos.
Revisar a informação adquirida sobre uma região Tempo: varia muito, de acordo com a extensão do
ou período histórico. trabalho a que se propõe.
Objetivos
a) Os mesmos das atividades anteriores, como ati-
Desenvolvimento vidade de revisão e reforço de alguns temas estudados.
b) Empregar a linguagem das histórias em quadri-
a) Pintar sobre papel de embrulho o fundo do mu- nhos e toda sua riqueza de expressão, aprendendo a uti-
ral, com dimensões que permitam trabalhar comoda- lizar alguns de seus recursos.
mente; por exemplo, dois por três metros.
Previamente discutir o que convém pintar, de acor-
do com a paisagem da região que estamos revisando ou, Desenvolvimento
no caso de uma cena histórica, procurar documentação
nos livros disponíveis, para escolher um fundo adequado. a) Em primeiro lugar, definir o assunto sobre o qual
Por exemplo: se o mural representar a Europa feudal, se trabalhará. É um recurso válido para temas do tipo
deverão ser pintados um castelo, os casebres dos campo- dos mencionados anteriormente: para revisar e aplicar
neses, os lotes, o bosque, os pastos. É uma tarefa que os informação sobre países, regiões ou épocas que tenham
impulsiona à pesquisa que será realizada. sido estudados, através de aventuras ou viagens imagi-
b)Enquanto uma equipe escolhida para isso de- nárias nesses cenários.
senha e pinta o fundo do mural, o resto da classe de- b) Se é a primeira vez que desenham “histórias em
senha, pinta e recorta os personagens representando to- quadrinhos”, dedicar um tempo para a explicação dos
das as atividades humanas, sociais e econômicas abar- recursos que podem utilizar e para observação de seu
cadas pelo tema escolhido: os trabalhos, os transportes, emprego em histórias em quadrinhos editadas em revis-
as festas, cenas cotidianas ou fregientes. No exemplo ci- tas: o balão, a tira, os textos, a onomatopéia, expressões
tado da Europa feudal, representariam os diversos tra- faciais básicas e proporções do corpo.
balhos dos camponeses, as diversões do senhor (por c) Trabalhando em grupos, inventar histórias, via-
exemplo, a caça), os bufões, os camponeses cumprindo gens ou aventuras que transcorram na época ou país so-
suas obrigações dentro do feudo. Também essa tarefa bre o qual se estiver trabalhando.
exige investigação, observando gravuras para ver como d) Definir os personagens, desenhar rascunhos até
se vestiam, como eram suas ferramentas, seus meios de que se chegue a um acordo no grupo sobre eles. Conferir
transportes, etc. com o professor os dados de “ambientação” com respeito
c) Colar os personagens no lugar adequado e mon- à época ou país em questão, paisagem, trajes, meios de
tar definitivamente o mural. transporte, etc. E importante que se disponha, para a
aula, de material de consulta para estes aspectos.
— Dr

166 MARIA TEREZA NIDELCOFF CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 167

e) Definir a segiiência das tiras e começar a dese- As roupas podem ser fixas, unidas ao boneco defi-
nhá-las, repartindo os personagens, de modo que haja a nitivamente, ou este pode ter uma roupa básica, de qual-
maior continuidade possível nos traços. Escrever os tex- quer pano, sobre a qual seja possível pôr os trajes apro-
tos. priados ao tema em questão.
f) Montar as “revistas” e intercambiá-las com os O teatrinho pode ser improvisado com cadeiras e
demais grupos. um lençol. Neste caso, não é possível pensar em telões de
fundo de cena. Mas se a escola dispuser de um teatro de
marionetes, coisa acessível, pode-se trabalhar com telões
Observação de cartolina, representando um fundo adequado.

Essa tarefa pode ser coordenada com Artes Plás-


ticas, Comunicação e Expressão, assim como as ante- Utilização da marionete
riores.
Uma vez que se disponha do material, tenha ele sido
4) Marionetes elaborado ou herdado de cursos anteriores, é o momento
Idade: 11,12€e 13 anos. de representar cenas, preparando o diálogo em grupos.
Objetivos. Por exemplo: se vamos representar uma rua da antiga
Os mesmos que nos casos anteriores. Roma, as cenas irão se referir às conversas que poderiam
Esta é uma atividade de longo alcance e que so- ser ouvidas, sobre César, sobre os espetáculos, sobre os
mente nos convém se pudermos ter um certa continui- cristãos, sobre notícias do Império, sobre novas cons-
dade dentro do ciclo e do centro escolar, de forma tal que truções, cenas de comércio, ofícios, compra e venda de
em cursos sucessivos possamos ir montando um pequeno escravos, etc.
conjunto de bonecos e trajes. Também podem ser montadas cenas fixas, armando
O objetivo é que, através dos trajes, telões e cenas o cenário a partir de laterais, que serão pintadas como
inventadas pelos alunos, eles repassem um panorama da cenários adequados à época, onde serão colocados os
civilização anteriormente estudada e ao mesmo tempo se personagens (marionetes mantidas em pé com a ajuda de
sintam motivados para investigar, ampliando assim sua garrafas ou outro meio).
informação. É, de qualquer modo, quase imprescindível
coordenar a atividade com Artes Plásticas.

Preparação do material

Construir fantoches aproveitando cabeças que os


garotos possam já ter feito ou confeccionando-as na aula
de Artes Plásticas com papel maché ou outros materiais.
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 169

tão” e assimilação das informações, o que seria indispen-


sável para alcançarem um manejo pessoal dessas infor-
mações;
e falta de clareza, que está relacionada com pro-
blemas de redação ou, fregiientemente, com a falta de
compreensão da bibliografia utilizada;
* o ponto anterior está relacionado com a dificul-
dade de encontrar bibliografia adequada para esta idade
Atividade: monografias (11 a 13 anos): simples, compreensível mas suficiente-
mente ampla para realizar a investigação bibliográfica
que uma monografia pressupõe;
* má estruturação do trabalho: em primeiro lugar,
de seu índice ou guia, e em segundo lugar, dos conteúdos
A fregiiência com que se recorre a esta atividade jus- de suas notas;
tifica dedicar-lhe um espaço, interrogando-se sobre a º levando em conta a extensão dos trabalhos (por
conveniência de incluí-las em nossa programação e den- uma certa tendência a crer que quanto mais longos, me-
tro de que pressupostos, já que nem sempre nos satis- lhor) e o número de alunos por classe, torna-se muito
fazem seus resultados. difícil corrigir a ortografia, redação e conteúdo, dando-
As críticas não são, entretanto, dirigidas ao método lhes a possibilidade de refazer o que foi corrigido, supe-
em si, mas às aplicações concretas que costumamos fazer rando os erros assinalados, sendo esta última etapa ne-
dele em nossas matérias. Entre os aspectos negativos das cessária se a monografia for tomada como método para
monografias realizadas por nossos alunos, podemos dirigir o trabalho pessoal;
mencionar os seguintes: e falta de clareza por parte dos professores, a res-
º uso e abuso da cópia: há monografias que são peito do fim para o qual indicam uma monografia: se
uma sucessão de fragmentos copiados de diferentes li- como forma de avaliação, como meio para que apren-
vros, às vezes, inclusive, sem ter uma compreensão exata dam a consultar e manejar uma bibliografia, para que se
do texto selecionado; aprofundem em um tema, para que adquiram infor-
* durante sua leitura, percebemos um profundo- mação básica e elementar sobre o tema, para que apren-
desnível quanto aos conceitos e à forma, entre o trata- dam a trabalhar com autonomia...
mento que estão dando ao problema seguindo (com ex- Como qualidades desejáveis em uma monografia e
cessiva fidelidade) uma bibliografia e quando, por outro em seu processo de realização, podemos assinalar:
lado, se expressam por si mesmos, com suas próprias * que nós, professores, tenhamos claro com que
idéias e estilo. Como estes últimos demonstram seu ver- objetivos propomos esta atividade e que a organizemos
dadeiro nível, a diferença observada indica que os do pri- em função deles;
meiro caso estão se limitando a reproduzir uma biblio- * que os temas sejam adequados à idade dos alu-
grafia sem passá-la por um processo pessoal de “diges- nos;
170 MARIA TEREZA NIDELCOFF
CIÊNCIAS SOCIAIS NA ESCOLA 1

* que os trabalhos tenham uma redação pessoal e b) é também o momento, se não o sabem fazer, de
exprimam um verdadeiro manejo da bibliografia consul- que aprendam a citar e a confeccionar fichas resumindo
tada; a informação ou citando-a textualmente:
* que se reduza a extensão e profusão de dados em c) selecionar dados e organizá-los em fichas, orien-
função de uma maior clareza e uma verdadeira assimi- tando-se pelos pontos ou perguntas do roteiro, separando
lação da informação selecionada; as fichas em três tipos:
* que os alunos saibam explicar e expor o conteúdo * fichas com os temas do roteiro, como título, co-
do trabalho, caso lhes seja solicitado, demonstrando um piando ou resumindo informação, devidamente citada:
domínio do tema sobre o qual escreveram; * fichas com novos títulos, que não haviam sido
º* se o objetivo é que os alunos adquiram um mé- previstos ao redigir-se o roteiro, contendo informações
todo adequado para abordar um tema e/ou realizar o sobre aspectos do tema em questão;
aprendizado de uma informação determinada, é conve- e fichas com opiniões pessoais ou perguntas que
niente que sejam feitas somente as monografias que o vão surgindo à medida que se lê e se trabalha.
professor possa corrigir, comentar com os alunos as cor- 4) Organização do fichário: uma vez concluída à
reções efetuadas e voltar a corrigi-las, uma vez que te- consulta bibliográfica, ordenar o fichário confeccionado,
nham sido feitas as alterações sugeridas, refeito o que de acordo com os temas e subtemas iniciais e os que fo-
não estiver claro, retificados os erros e reapresentado o rem se acrescentando. Este é outro momento de consulta
trabalho, com melhor qualidade. Os passos sugeridos e trabalho conjunto com o professor, que pode ajudar a
para dirigir a realização de uma monografia são os se- ordenar as fichas, sugerir subtemas e distinguir o caráter
guintes: dos textos: colocações gerais ou questões particulares,
1) aproximação do tema e exploração de suas dificul- enfoques descritivos e compressivos ou enfoques polê-
dades e possibilidades, por meio de uma introdução oral micos, dados mais antigos e outros mais atualizados,
do professor (no caso de todos os alunos trabalharem so- afirmações ou colocações de problemas, conclusões, hi-
bre o mesmo tema) ou de uma leitura do material mais póteses...
simples e geral de que os alunos disponham, como por 5) Elaboração do roteiro definitivo.
exemplo, o material escolar; 6) Após adquirir bastante desenvoltura no manejo
dos dados recolhidos nas fichas, para cada tema, ela-
2) elaboração de um questionário ou roteiro sobre o
borar um esquema-base de cada ponto do roteiro. Trata-
qual se irá trabalhar. Comentá-lo com o professor, que”
se de outro momento em que se requer a consulta e orien-
sugerirá as modificações que considerar necessárias, de
tação do professor.
forma que as questões ou pontos fiquem claramente
7) Redação ponto por ponto, tomando em conta o
enunciados ou compreendidos;
esquema prévio.
3) pesquisa da informação; 8) Leitura e autocorreção do trabalho.
a) se os alunos não têm o hábito de frequentar bi- 9) Elaboração de um capítulo final que leve neces-
bliotecas, é o momento de aprender a manusear os fi- sariamente a dominar e ponderar a informação com a
chários e de procurar neles a bibliografia; qual se trabalhou; por exemplo: tirar conclusões pes-
172 MARÍA TEREZA NIDELCOFF

soais, elaborar um questionário de exame do tema, com


exercícios de vários estilos, e resolvê-los, redigir uma sé-
rie de perguntas para debate.
10) Passar a limpo e apresentar a monografia.
11) É importante incluir um momento final em que
o aluno deva mostrar o domínio que tem sobre o con-
teúdo de seu trabalho, por exemplo, em um colóquio
com o professor ou em uma exposição frente à classe.

Sobre a autora

Sou professora primária (do tempo em que existiam as escolas nor-


mais). Formei-me pela Faculdade de Filosofia de Rosário em história. Na
Argentina fui professora dos cursos primários, secundário e superior, espe-
cialmente no Instituto de Actualización Docente. Na Espanha trabalhei
também na escola primária (aqui chamada de Educación General Básica)
e agora sou professora de uma escola média (técnica) em um bairro popu-
lar a oeste de Madri.
Dito assim parece muito fácil e rápido, mas na vida real foi muito mais
complicado, azarado, triste e bonito.
Obras publicadas no Brasil: Uma Escola para o Povo e À Escola e a
Compreensão da Realidade, ambas pela Brasiliense.

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