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Universidade Federal Fluminense – CURO

Docente: Dra. Suzana Lima


Discente: Rebeca Lima Andrade
Data: 22/02/2021

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O texto “Trabalho Home-Office: Possíveis implicações à subjetividade do


trabalhador” (MULARI e DA SILVA, 2020) analisa, sob a perspectiva da psicossociologia,
os impactos do teletrabalho na vida do trabalhador, trazendo temas de discussão bastante
pertinentes e abrangentes. Dentre eles, uma maior exploração camuflada por termos um tanto
sedutores, tais quais “autonomia” e “flexibilização do tempo”. Contudo, não passam de
nomes bonitos para designar paradoxalmente “subordinação autômata” e “infindável
expediente”. Isto acaba por compor um discurso envolvente que leva à redução das
possibilidades de existência, comprometendo a saúde mental do trabalhador e até mesmo o
desenvolvimento empresarial.
Estes tópicos se relacionam com o artigo de Ricardo Antunes, que, ao escrever para a
Le Monde Diplomatique Brasil, fala a respeito dos motoristas que trabalham por aplicativos
(como Uber e 99Taxi, por exemplo) que vivem muitas vezes sob a ilusão de serem seus
próprios patrões - na medida em que partilham do privilégio de “fazerem o próprio tempo” -
quando, na realidade, se encontram em um estado de precarização do serviço, não possuindo
direitos trabalhistas, nem suporte e ainda, estando constantemente subordinados ao valor
gerado pelo sistema. De forma semelhante (MULARI e DA SILVA, 2020), vende-se um
falso ideal ao trabalhador home-office: autonomia, autogestão, flexibilidade e praticidade.
Contudo, a suposta independência se traduz na condição de que o trabalhador cumpra as
exigências sem suporte da empresa, tendo de arcar com o próprio material de trabalho e
sendo submetido a uma demanda muito maior do que seria possível executar no tempo
previsto. Como pode o indivíduo “fazer seu tempo” se tem de dar conta das exigências da
corporação, no ritmo da corporação, se não abdicando de seu próprio tempo livre?
Portanto, além de ser privado do contato social produzido no ambiente de trabalho, o
teletrabalhador também se encontra frequentemente privado do seu ócio. No texto em que se
baseia este texto, os autores (MULARI e DA SILVA, 2020) apontam uma inversão nos
parâmetros da sociedade: ao invés de trabalhar para viver, vive-se para trabalhar. O que era
para garantir a manutenção da existência, passa a ser o objetivo último dela, mesmo que a
precarize. Portanto, o desenvolvimento da empresa se dá frequentemente em detrimento do
desenvolvimento pessoal e da saúde mental de seus trabalhadores. Contraditoriamente, ao
sobrecarregar os empregados com uma demanda muito maior do que caberia aos seus
encargos e ao exercer um rígido controle sobre o padrão, abolindo o diálogo, as empresas
sufocam o potencial criativo de seus próprios funcionários.
Portanto (DE MASI, 2000), uma vez que a sociedade demonstra uma progressão cada
vez mais acelerada de inovações, o ócio e a criatividade são fundamentais não só para o
desenvolvimento do sujeito, mas também para a manutenção da empresa num mercado voraz
onde a mudança é condição de sobrevivência. Nesse sentido, De Masi (2000, p. 153) afirma:
“O coração desta sociedade é a informação, o tempo livre, e a criatividade, não só científica,
mas também estética.”. Isto reforça que o desenvolvimento da empresa e do indivíduo podem
e devem ser aliados na busca pela amplificação de suas potências. Se preocupação com a
melhora nas condições de vida do trabalhador não é suficiente para gerar mudança nos
parâmetros empresariais, que seja então pelo próprio bem da empresa. O contrário é, de toda
forma, nada mais, nada menos que contraproducente.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Ricardo; O laboratório e a experimentação do trabalho na pandemia do capital. Disponível


em: HTTPS://diplomatique,or.br/o-laboratorio-e-a-expeirmentação-do-trabalho-na-pandemia-do-capital

DE MASI, Domenico; PALIERI, Maria Serena. O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.

MULARI, Tamara Natácia; DA SILVA, Guilherme Elias. TRABALHO HOME-OFFICE: POSSÍVEIS


IMPLICAÇÕES À SUBJETIVIDADE DO TRABALHADOR. Psicologia: Desafios, Perspectivas e
Possibilidades - Volume 1. p. 263-270. 2020.

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