O texto “Trabalho, Subjetividade e Ação" (DEJOURS, 2004) traça uma análise
do trabalho focada na subjetividade e em seus processos de relação, tanto no que se refere às implicações da subjetividade com o corpo, quanto às relações sociais próprias da empresa. Isso através da abordagem psicodinâmica do trabalho, como também psicanalítica em alguns pontos. Procurarei me ater a estes aspectos e as transformações geradas pelo neoliberalismo. Segundo Dejours (2004), para a psicodinâmica, o trabalho deve ser compreendido antes de tudo, na sua dimensão subjetiva e como o próprio ato de trabalhar, em vez de uma relação salarial ou de vínculo empregatício apenas. E este ato de trabalhar é inerente ao corpo. Por corpo se entende a segunda dimensão deste: o corpo subjetivo, que sente e se apropria do mundo a partir do corpo orgânico, sendo, portanto, resultado da experiência. Assim, cada corpo é único e só é possível – para o autor – compensar a desorganização proveniente da singularidade pela coordenação e cooperação. Esta, por sua vez, geraria “regras do ofício” que só se manteriam através de um equilíbrio dinâmico. A cooperação implica na renúncia de parte da própria individualidade, mas a falta dela gera conflito e sofrimento, podendo gerar até mesmo patologias. Segundo o autor, o que levaria os indivíduos a respeitar e manter essa cooperação seria sobretudo o reconhecimento profissional. Contudo, dadas as novas tendências neoliberais que se fazem presentes no mundo trabalho, houve muitas mudanças. O autor (DEJOURS, 2004) aponta duas delas: a avaliação quantitativa e objetiva do trabalho, e a individualização. A primeira remonta a um processo de negligência à subjetividade, o trabalho passa a ser medido por resultados objetivos que não são capazes de apreender o trabalho em si. Esse fato está bastante relacionado ao fato das pessoas deixarem de ser consideradas em seu aspecto humano e plural, passando a ser tratadas como objetos. Negar a subjetividade, nesse sentido, é negar a própria humanidade dos indivíduos e não há condições dignas de trabalho que possam emergir nesses termos. A segunda grande mudança apontada por Dejours é a individualização, o oposto da cooperação. De toda forma, aqui, individualizar não significa a exaltação das diferenças subjetivas, mas o isolamento e acirramento da competitividade. Ao mesmo passo que isto é prejudicial para o desenvolvimento da empresa enquanto equipe, as altas exigências impostas ao trabalhador geram o aumento da produtividade e dos lucros em detrimento da saúde física e psicológica do indivíduo (MULARI e DA SILVA, 2020). Portanto, para lidar com o trabalho é imprescindível compreender as dinâmicas subjetivas e suas implicações. E ainda, compreender o indivíduo enquanto ser humano que não pode ser reduzido a uma máquina ou a um objeto. Cabe ao psicólogo, sobretudo os que atuam no ramo empresarial, a partir de uma análise das relações do trabalho, levar em consideração os sofrimentos gerados pelo ofício e procurar amenizá-los, incentivando a cooperação e o respeito pelos limites de cada indivíduo.
REFERÊNCIAS
DEJOURS, C.. Subjetividade, trabalho e ação. Revista Produção, v.14, n.3, p.27-34, Set./Dez. 2004.
MULARI, Tamara Natácia; DA SILVA, Guilherme Elias. TRABALHO HOME-OFFICE:
POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES À SUBJETIVIDADE DO TRABALHADOR. Psicologia: Desafios, Perspectivas e Possibilidades - Volume 1. p. 263-270. 2020.
Nação tarja preta: O que há por trás da conduta dos médicos, da dependência dos pacientes e da atuação da indústria farmacêutica (leia também Nação dopamina)