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DILEMAS DA VIDA CELÍACA

GUIA PRÁTICO DE COMO


COMPARTILHAR CASA COM
PESSOAS QUE CONSOMEM
GLÚTEN

Por Andrezza Conde


ÍNDICE

APRESENTAÇÃO..............................................................................................02

SER CELÍACX E VIVER EM CASA GLUTENADA, É POSSÍVEL?...........03

POR QUE É PRECISO COMBATER O GLÚTEN E A CONTAMINAÇÃO


CRUZADA POR GLÚTEN?.............................................................................04

ANTES DE COMEÇAR, INFORME-SE!........................................................05

ALIAR-SE AOS MORADORES DA CASA: UMA BOA ESTRATÉGIA.....06

DESCONTAMINAR SUPERFÍCIES GLUTENADAS...................................07

EVITAR CONTATOS INDESEJADOS: SEPARANDO E DIVIDINDO OS


ESPAÇOS...........................................................................................................08

COMPRAR NOVOS UTENSÍLIOS OU REUTILIZÁ-LOS? EIS A


QUESTÃO...........................................................................................................10

COMPRAR NOVOS ELETRODOMÉSTICOS OU O MESMO DILEMA


DOS UTENSÍLIOS?...........................................................................................11

EVITAR A CONTAMINAÇÃO CRUZADA EM ALIMENTOS DO DIA-A-


DIA........................................................................................................................13

FICHA TÉCNICA................................................................................................14

Belo Horizonte

maio . 2021
APRESENTAÇÃO

Prazer, sou Andrezza Conde, celíaca com o glúten, decidi elaborar este
de Belo Horizonte. Há mais de quatro guia com dicas práticas para orientar
anos publico no Instagram pessoas celíacas que estão na mesma
@recantodaceliaca, espaço em que situação. Minha intenção é ajudar
compartilho minhas experiências da quem vive em casa glutenada a
vida sem glúten. encontrar formas de organizar e
adaptar a cozinha para combater o
Desde meu diagnóstico, em 2016, glúten e ainda formas de se
nunca vivi numa casa 100% sem conversar com as pessoas do
glúten, isto é, sempre dividi cantos convívio do lar para que elas possam
com pessoas que consomem glúten e, colaborar neste processo.
por isso, aprendi a me adaptar. De lá
para cá, entre Brasil e Espanha, Cada pessoa celíaca representa um
morei em seis casas diferentes (todas universo e tem jeitos únicos de se
glutenadas) com pessoas diferentes, relacionar e de se organizar de
de países e culturas diferentes, acordo com suas experiências, seus
resultando em variadas experiências hábitos e o contexto o qual está
que me ensinaram a dividir meu inserida. Às vezes, o que serve para
espaço com o glúten e ainda driblá- mim nem sempre servirá ao outro, e
lo. Para cada um desses contextos, vice-versa. Cada pessoa deve avaliar
apresentei a Doença Celíaca às e ponderar as dicas e informações
pessoas com as quais convivi, expus deste guia, considerando-as de
minhas limitações, contei com a acordo com seu entendimento e
empatia e o respeito e adaptei a necessidades. Minha intenção é
cozinha para comer com segurança. mostrar alternativas e dar ideias de
como se adaptar da melhor forma
A partir das minhas vivências, que possível a uma casa glutenada para
me tornaram uma celíaca bastante se alimentar com segurança.
adaptável às circunstâncias impostas
no âmbito do lar quando se convive Boa leitura!

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SER CELÍACX E VIVER EM CASA

GLUTENADA, É POSSÍVEL?

Viver numa casa 100% sem glúten é o sonho de


toda pessoa celíaca, não é verdade? Uma casa
livre de contaminação cruzada, sem riscos de
traços, com tudo novo! Esta realidade é bem
possível para quem mora sozinhx, e também
para quem mora com quem se dispõe a cortar o
glúten, e ainda para quem tem condições de
renovar toda a cozinha. Mas, infelizmente, esta
não é a realidade da maioria.

Muitas pessoas celíacas não têm condições


econômicas de comprar tudo novo para eliminar
o glúten por completo, ou condições materiais
para adaptar toda a cozinha, principalmente
quando se tratam de famílias numerosas e/ou de
baixo poder aquisitivo. Também há casos de
familiares/amigxs que não se dispõem a abdicar
dos alimentos com glúten. Isso gera frustrações e
culpas na pessoa celíaca, porque se criou a ideia
de que viver numa casa onde também vive o
glúten é um grande problema.

Diante deste último cenário, faço-lhe esta


pergunta: é possível ser celíacx e viver em casa
glutenada, quero dizer, compartilhar cozinha
com quem consome glúten e, mesmo assim,
combatê-lo e controlar a contaminação cruzada?

Bom, eu mesma lhe responderei: sim, é possível!


Porém, para torná-lo uma realidade palpável, é
preciso ter em conta que a solução demanda
todo um processo, exigindo uma série de fatores
que vão desde a conscientização de quem
convive com a pessoa celíaca até a organização
dos espaços da cozinha. E é sobre esse tema que
este guia tratará nos próximos tópicos!

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POR QUE É PRECISO COMBATER O GLÚTEN E A

CONTAMINAÇÃO CRUZADA POR GLÚTEN?

Para uma pessoa celíaca, apenas manteiga num pão com glúten e em
cortar o glúten da dieta não é seguida usar a mesma faca e
suficiente, também é imprescindível manteiga para passá-la no pão sem
cuidar da contaminação cruzada por glúten; etc.
glúten. Esta é uma das grandes vilãs
da história, pois habita os confins Uma pessoa celíaca constantemente
das cozinhas, escondendo-se nos exposta ao glúten e à contaminação
rincões mais impensáveis. Viver em cruzada dificilmente consegue se
casa glutenada implica entender o recuperar e seguirá apresentando
que significa essa condição. sintomas adversos, pois o glúten
continuará bombardeando seu
De forma resumida, o glúten é uma organismo e gerando processos
proteína presente em certos cereais, inflamatórios no intestino,
como trigo, cevada, centeio e aveia, lesionando-o e debilitando-o cada
esta por contaminação. Já a vez mais.
contaminação cruzada significa o
contato direto ou indireto de um Por essa razão, como eu disse antes,
alimento sem glúten com outro com não basta apenas cortar o glúten, é
glúten, ou de uma superfície limpa imprescindível excluir ou minimizar
com um alimento com glúten, ou de os riscos de contaminação cruzada,
uma superfície glutenada com um criando-se alternativas práticas e
alimento sem glúten. Este contato adotando medidas para adaptar a
indesejado “contamina” o alimento cozinha. E já adianto que essa
sem glúten, tornando-o inapto ao realidade não se aplica apenas às
consumo da pessoa celíaca. casas que se dispõem a ser 100% sem
glúten. Também é possível criar um
Exemplos de contaminação cruzada ambiente seguro numa casa
são: migalhas de pão com glúten que glutenada, desde que se organizem
caem sobre um alimento sem glúten; os alimentos, os utensílios e os
colocar biscoitos com glúten na espaços e haja compreensão e
mesma lata de biscoitos sem glúten, respeito das pessoas envolvidas.
ambos expostos ao contato; cozinhar
alimentos com e sem glúten ao
mesmo tempo e no mesmo espaço;
assar um bolo sem glúten num forno
glutenado não higienizado; passar a

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ANTES DE COMEÇAR, INFORME-SE!

Informação nunca é demais, por isso, em meio ao processo de mudanças e


adaptações, é importante você usar e abusar de todas as ferramentas disponíveis
ao seu alcance.

Informe-se ao máximo sobre a Doença Celíaca, sobre o glúten e sobre a


contaminação cruzada por glúten. É importante conhecer o universo sem glúten e
suas implicações para poder atuar nele e sobre ele.

Converse com um médico/médica ou nutricionista especialista em temas


digestivos e restrições alimentares, especialmente Doença Celíaca, para ajudar nas
dúvidas. Procure a Associação de Celíacos do Brasil – ACELBRA mais próxima de
você para obter orientações. Leia materiais informativos sobre os vários temas
relacionados à Doença Celíaca e à vida sem glúten em fontes confiáveis, como o
site da Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil – FENACELBRA e
o site Rio sem Glúten, administrado pela celíaca Raquel Benatti

E também aproveite as dicas deste guia prático, sempre ponderando-as e


avaliando-as de acordo com seu entendimento e necessidades. As dicas serão
apresentadas a seguir e estão divididas em seis tópicos, todos relacionados ao
âmbito da cozinha.

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1) ALIAR-SE AOS MORADORES DA CASA:

UMA BOA ESTRATÉGIA

Viver em “harmonia” com o glúten implicações e o impacto negativo da


dentro de casa é possível, mas requer ingestão de glúten em sua saúde.
o apoio das pessoas que convivem Exponha essas necessidades de
com você. A cozinha é um espaço mudanças de forma clara e objetiva.
compartilhado pelos moradores, e A partir disso, estabeleça em
estes devem estar conscientes de que conjunto novas regras de
os hábitos de uma pessoa celíaca convivência na cozinha utilizando-
exigem certos cuidados no que se os recursos ao alcance de todxs. Se
concerne ao armazenamento, à possível, mostre manuais, artigos,
manipulação e ao preparo dos vídeos e notícias sobre Doença
alimentos. Cabe a você explicá-los. Celíaca, toda informação é útil e
pode ajudar nos esclarecimentos.
Ao expor suas novas necessidades às
pessoas de sua casa, sejam familiares Neste momento, você se torna
ou amigxs, tenha em conta que elas responsável por conscientizar essas
podem ser inclusivas ou excludentes, pessoas, e é importante que elas
mostrando-se empáticas ou não. contribuam não apenas nas etapas
Prepare-se para o caso de haver de mudança e adaptação, mas na
resistências, porque nem todas as manutenção do dia-a-dia. Nem
pessoas aceitam abdicar-se do sempre é fácil e exitosa essa missão,
glúten. Mas, antes de entrar em eu sei, podendo resultar num longo
pânico, analise a situação e busque processo, mas não desista. Insista
entendê-la, pois às vezes a negação sempre.
do outro reside no tipo de relação
que vocês possuem, ou no nível de O que se espera das relações
conhecimento dessa pessoa sobre as humanas é que sejam baseadas na
restrições alimentares, ou até mesmo empatia, no respeito e na
na forma como você se expressa em solidariedade de forma recíproca.
relação à sua condição. Portanto, você e as pessoas de seu
convívio precisam considerar esses
Entenda que nem todas as pessoas princípios. É imprescindível que elas
sabem o que Doença Celíaca, o que é se conscientizem e lhe apoiem,
glúten ou como evitar a participando dos processos e tendo
contaminação cruzada. Diante disso, paciência para se adaptarem à sua
dialogue aberta e didaticamente com nova realidade. Com carinho e
todos os moradores da casa sobre as respeito, tudo é possível!

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2) DESCONTAMINAR

SUPERFÍCIES GLUTENADAS

O compartilhamento de utensílios e utilizar bucha ou pano limpos.


de eletrodomésticos e o uso de
espaços comuns é um assunto que Na Espanha, onde há maior
gera debates e dúvidas, pois está investimento na produção científica
intrinsecamente ligado aos riscos de sobre Doença Celíaca, recomenda-se
contaminação cruzada por glúten e à lavar com água quente + detergente,
descontaminação. Esta é uma prática apenas, pois o princípio ativo deste é
usual entre celíacxs cujo objetivo é suficiente para remover o glúten.
eliminar o glúten de superfícies. A
descontaminação é fundamental Este guia não pretende entrar no
quando se vive em casa glutenada, mérito da estrutura química e da
pois a rotina de limpeza é mais solubilidade da proteína para
extensa e pontual. É importante afirmar qual método é mais eficaz,
manter toda e qualquer superfície até porque não tenho esse
limpa para uso, eliminando as fontes conhecimento em profundidade.
e os riscos de contaminação. Cabe a cada pessoa pesquisar e
decidir pelo método mais adequado
Não existem estudos científicos que às suas necessidades.
evidenciem os reais efeitos da
descontaminação, tampouco uma Apesar das opções de métodos de
fórmula ideal e específica. Tem-se descontaminação, existe um acordo
soluções e métodos caseiros comum sobre o que é e o que não é
elaborados por pessoas celíacas a conveniente descontaminar, e isso
partir de conhecimentos químicos, depende da natureza e qualidade dos
considerando-se a estrutura química materiais. Utensílios e
e a solubilidade do glúten. eletrodomésticos cujo material é
poroso ou apresenta ranhuras,
É interessante saber que cada país possibilitando a penetração de
entende a descontaminação à sua alimentos, devem ser substituídos,
maneira, logo, não existe uma receita pois o glúten pode penetrá-los e sua
universal. No Brasil, difundiu-se a remoção resulta difícil. Entretanto,
tripla lavagem, método criado pela aqueles de material não poroso,
celíaca Flávia Anastácio há alguns quando em bom estado, podem ser
anos. Está dividido em três etapas: 1) reutilizados se antes forem
água + detergente; 2) vinagre + sal; 3) devidamente descontaminados.
álcool 70%. Para cada etapa, deve-se

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3) EVITAR CONTATOS INDESEJADOS:

SEPARANDO E DIVIDINDO OS ESPAÇOS

Ao se descobrir celíaca, a pessoa enfrenta uma série de questionamentos sobre


como adaptar sua cozinha para poder armazenar, manipular e preparar os
alimentos sem glúten de forma a não haver contaminação cruzada. Celíacxs que
convivem com quem consome glúten precisam criar certos “mecanismos de
defesas” para combater seu maior vilão. Numa cozinha onde o glúten vive,
algumas adaptações podem surtir efeitos positivos e minimizar os riscos de
contaminação cruzada. Vamos por partes:

ARMÁRIOS: separe um espaço para guardar os produtos sem glúten, isolando-


os dos produtos com glúten. Em armários compartilhados, escolha,
preferentemente, as prateleiras superiores. Nas prateleiras inferiores o risco
de cair farelos glutenados das superiores é maior. Se possível, separe também
um espaço nos armários para guardar os utensílios e os eletrodomésticos caso
sejam de uso exclusivo de alimentos sem glúten, para não entrarem em contato
com o glúten. Para identificar esses espaços e evitar confusões, cole adesivos
com a inscrição “sem glúten” ou forre-os com material colorido, isto é, crie
formas de diferenciá-los. Porém, se for impossível reservar um espaço nos
armários, opte por guardar seus produtos e utensílios em caixas organizadoras,
com tampa. O importante é isolá-los do ambiente glutenado.

GELADEIRA: reserve ao menos uma prateleira para armazenamento dos


alimentos sem glúten, de preferência as superiores. Armazene-os em vasilhas
exclusivas e herméticas. Para evitar confusões, etiquete seus produtos,
especialmente manteiga, geleia, requeijão, molho de tomate, etc. Se a divisão de
prateleiras não for possível, guarde os alimentos sem glúten em vasilhas
específicas, separadas, e mantenha os potes sempre fechados. No freezer o
princípio é o mesmo: alimentos sem glúten devidamente embalados. O risco
está na exposição do alimento sem glúten ao contato do alimento com glúten.
Não há problema se a sua vasilha estiver ao lado de outra que armazena
alimento com glúten, desde que esteja fechada e os alimentos de ambas não
entrem em contato.

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PIA: recomenda-se separar uma bucha e um pano de prato (uso exclusivo) para
a limpeza dos utensílios e eletrodomésticos sem glúten - compre-os de cores ou
estampas diferentes para evitar confusões. As buchas, devido à porosidade de
seu material, são fontes de retenção e absorção de resíduos de alimentos,
podendo transportá-los às superfícies dos utensílios entre uma lavagem e
outra. Por isso, é importante tê-la exclusiva. Evite misturar e lavar ao mesmo
tempo utensílios utilizados em alimentos com glúten e aqueles utilizados em
alimentos sem glúten. Lave e seque primeiro todos os que foram utilizados nos
alimentos sem glúten, e antes certifique-se de que a pia esteja descontaminada.

MESA: não há problema sentar-se à mesa com quem está consumindo glúten
(desde que o cheiro dos alimentos não lhe afetem), porém é importante
estabelecer um espaço de forma que os alimentos com glúten não entrem em
contato com os alimentos sem glúten e nem com os utensílios que você estiver
usando. Peça às pessoas para evitarem passar pelo alto alimentos que
esfarelam e cujas migalhas “voam” de um lugar a outro, como pão, biscoito, bolo.
Cuide de sua manteiga, geleia, requeijão, patê, queijo para evitar que facas ou
espátulas glutenadas entrem em contato com seus produtos, contaminando-os.
Quando houver muita comida com glúten sobre a mesa, busque sentar-se em
uma das extremidades, assim você consegue controlar melhor o seu espaço.

Em todos esses casos, é imprescindível que os espaços/superfícies sejam


devidamente descontaminados antes de serem usados. Ao separar portas,
prateleiras, gavetas de um armário, estas partes devem ser higienizadas antes de
receberem os produtos ou utensílio e eletrodomésticos sem glúten. A limpeza se
aplica igualmente à geladeira, à pia e à mesa. Um ambiente limpo reduz os riscos
não apenas de contaminação cruzada por glúten, mas também de proliferação de
microrganismos e de insetos indesejados.

É fundamental as pessoas de seu convívio se atentarem a essas separações, divisões


e limpezas, ajudando-lhe a manter os espaços sempre limpos e respeitando a
organização estabelecida. Peça ajuda e ideias a elas. Busque transformar essas
tarefas e os novos hábitos e sua manutenção em ações conjuntas. Por essa razão, o
apoio e a participação de todxs neste processo é significativo.

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4) COMPRAR NOVOS UTENSÍLIOS OU

REUTILIZÁ-LOS? EIS A QUESTÃO

De modo ideal, recomenda-se à pessoa celíaca ter seus próprios utensílios para uso
exclusivo, pelo menos os básicos, como talheres, pratos, copos, escorredor de
macarrão, vasilhas, frigideira. Porém, nem sempre essa possibilidade é uma
realidade acessível, porque nem todxs têm condições econômicas de equipar sua
cozinha com novos utensílios. Para sobreviver a uma casa glutenada sem correr
grandes riscos, é possível, sim, compartilhar os utensílios, desde que se considerem
algumas condições, especialmente a natureza do material (propriedade e
resistência mecânicas), seu estado de conservação e sua limpeza. Vamos lá:

MATERIAIS NÃO RECOMENDADOS: neste grupo estão a madeira, alguns tipos


de pedras e de plásticos, o barro, a borracha. São materiais porosos, de baixa ou
média resistência mecânica quando expostos a atritos, por isso, suscetíveis a
abrasões, ranhuras. Isto quer dizer que compartilhar colher de pau, tábua de
corte, panela de pedra (dependendo da tipologia) ou de barro,
vasilhas/espátulas de plástico não é uma boa ideia, porque os resíduos de
alimentos glutenados podem impregnar-se ou penetrar-se nas fissuras ou
abrasões desses materiais. A não ser que esses utensílios nunca tenham visto
glúten na vida; se não, está tudo bem seguir utilizando-os, desde que limpos.

MATERIAIS RECOMENDADOS: neste grupo estão o vidro, a porcelana e os


metais, materiais não porosos e com maior resistência mecânica, logo, menos
suscetíveis à abrasão. Utensílios com esses materiais, como copos, pratos,
travessas, garfo, faca, colher, podem ser compartilhados e reutilizados caso
estejam em boas condições de uso e sejam descontaminados antes de serem
utilizados.

PANELAS: em muitas casas há aquela velha tradição de se usar uma panela


para o preparo de cada tipo de alimento, como a famosa panela de arroz ou de
feijão. Panela de pressão em muitas casas também quase nunca vê glúten. Isso
reduz o risco de contaminação cruzada, porém é preciso se atentar a alguns
detalhes. Caso você não possa comprar um novo conjunto de panelas, talvez
seja interessante ter separada a frigideira, pois é muito usada para preparar
massas (crepe, panqueca) ou esquentar pão. Outra opção é comprar uma
pequena caçarola para cozinhar seu macarrão sem glúten. Mas, caso você não
tenha condições de comprar novas panelas num primeiro momento,
descontamine-as antes de utilizá-las.
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5) COMPRAR NOVOS ELETRODOMÉSTICOS OU

O MESMO DILEMA DOS UTENSÍLIOS?

O princípio da reutilização de eletrodomésticos é similar ao dos utensílios, porém


com certas diferenças. O ideal, obviamente, é ter tudo separado, porque o
compartilhamento e a limpeza dos eletrodomésticos resultam mais complicados
dependendo da condição a qual se encontram, mas é possível buscar alternativas.

Recomenda-se compartilhar eletrodomésticos* quando estes estão devidamente


descontaminados e em boas condições de uso, sem depósito, acúmulo ou
impregnação de restos de alimentos com glúten, caso contrário, sua utilização não
é recomendada. Outra alternativa é pedir às pessoas de seu convívio para evitarem
a manipulação de farinha de trigo nos preparos de receitas, contribuindo na
redução da contaminação cruzada. Com o tempo, se você puder equipar sua
cozinha com novos eletrodomésticos exclusivos sem glúten, melhor! Se não,
sempre descontamine os de sua casa antes de usá-los. Atente-se:

BATEDEIRA: na prática, tem grande FORNO: de acordo com a Federación de


contato com o glúten, portanto, seu Asociaciones de Celíacos de España –
compartilhamento resulta complicado. FACE, o mesmo forno pode ser utilizado
Nas planetárias, existe a possibilidade, para preparos com e sem glúten,
ao longo dos usos, do motor se contanto que algumas condições sejam
impregnar do acúmulo de partículas de levadas em consideração. Não se
farinha de trigo, transportadas durante recomenda assar ao mesmo tempo
os processos. Neste caso, aconselha-se alimentos com e sem glúten, pois o risco
comprar uma batedeira exclusiva. Para de contaminação é altíssimo. Se tiver
as batedeiras portáteis de mão, uma que assar ambos no mesmo dia, opte por
alternativa é trocar os batedores. assar primeiro e separadamente o
alimento sem glúten. Uma alternativa
ao assar é cobrir o recipiente ou
travessa com papel alumínio. É
FOGÃO: desde que esteja limpo não imprescindível descontaminar o forno
confere nenhum risco. antes de usá-lo para eliminar quaisquer
resquícios de comidas impregnadas.

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MICRO-ONDAS: existem maneiras de LIQUIDIFICADOR E PROCESSADOR:
utilizá-lo de forma compartilhada, que quando o copo de ambos é de vidro o
também se aplicam aos refeitórios do compartilhamento é possível porque
local de trabalho ou à faculdade. Para este é um material não poroso, mas é
esquentar comida, dê preferência por importante estar descontaminado e em
vasilhas tipo marmita de vidro com boa condição de uso, especialmente as
tampa de trava, pois são herméticas. A lâminas. Nos copos de plástico,
trava impede o estufamento da tampa sobretudo quando estão bem
e sua consequente abertura durante o desgastados, o risco de contaminação é
aquecimento. Quando o micro-ondas grande, portanto seu compartilhamento
não está tão limpo e você não pode não é recomendado. O ideal é comprar
descontaminá-lo, uma alternativa é um copo novo. Se em ambos casos o
colocar a vasilha, sempre fechada, copo for removível a limpeza é mais
dentro de um saco de papel (tipo saco fácil. Mas, se o copo for acoplado ao
de pão) ou colocar um papel toalha motor, existe aqui o mesmo problema
entre o prato de vidro e a base da da batedeira. Ao compartilhar estes
vasilha e outro sobre a tampa, para eletrodomésticos, tenha em conta a
evitar contatos. Não se esqueça de forma como são utilizados. Há pessoas
descontaminar a vasilha utilizada no que não costumam processar ou
micro-ondas antes de guardá-la. liquidificar alimentos com glúten. É
importante avaliar e calcular os riscos
com os moradores da casa.

MISTEIRA E TORRADEIRA: ambas tendem a acumular e a impregnar


resíduos de pão, dificultando seu compartilhamento porque geralmente
estão contaminadas. Porém, em casos específicos, é possível
compartilhá-las usando-se sacos para torradeiras (toaster bags)
reutilizáveis com o fim de isolar o pão sem glúten. Na misteira, é
possível envolver o pão sem glúten em papel alumínio, desde que sua
superfície esteja limpa. Mesmo assim, ambos eletrodomésticos não
conferem muita segurança, portanto, o ideal é tê-los exclusivos.

* Ficarei devendo a você as formas de compartilhamento e de limpeza da AirFryer. Nunca a usei ,


então não sei como manipulá-la.

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6) EVITAR A CONTAMINAÇÃO CRUZADA

EM ALIMENTOS DO DIA-A-DIA

O armazenamento, o compartilhamento, a manipulação e o preparo dos alimentos


em cada casa dependem da dinâmica da convivência. De modo geral, pessoas que
vivem em família costumam realizar refeições juntas, logo, compartilham a mesma
comida. Quem vive com amigxs/colegas às vezes faz refeições separadas, às vezes
em conjunto. Mas isso não é uma regra, pois cada casa tem uma rotina. Para
solucionar a problemática da contaminação cruzada no que concerne a essas
quatro práticas, dialogue com os moradores da casa e estabeleça regras de
colaboração para que as mudanças sejam feitas e as novas condições mantidas e
respeitadas. Vejamos:

ARMAZENAMENTO: o básico da alimentação não tem glúten, como frutas, legumes,


verduras, proteínas, arroz, feijão, etc., mas é importante conferir sempre os rótulos
dos produtos industrializados para garantir a ausência de contaminação por traços
de glúten. Esses alimentos, quando compartilhados, podem ser guardados em espaços
comuns, seja na geladeira ou em armários, desde que não estejam misturados ou
expostos (contato direto) aos alimentos com glúten. Já produtos sem glúten
exclusivos de seu consumo (pão, biscoito, etc.) devem ser guardados separadamente.

COMPARTILHAMENTO: evite compartilhar manteiga, queijo, geleia, requeijão, patê


ou qualquer produto que necessite do auxílio de uma faca, colher, espátula para ser
retirado e passado sobre um alimento, como pão ou bolo. Esses utensílios atuam como
“transportadores de glúten”, pois levam este do pão à manteiga e vice-versa,
produzindo a contaminação cruzada. Para evitar confusões, identifique esses
produtos, seja escrevendo em sua embalagem ou etiquetando-os com a inscrição “sem
glúten”, de forma destacada. A mesma ideia também se aplica aos produtos
guardados nos armários e também às latas, vasilhas, caixas organizadoras.

MANIPULAÇÃO E PREPARO: na cozinha onde o glúten circula é imprescindível


descontaminar os espaços/superfícies antes de manipular alimentos. Antes de
cozinhar, higienize bem as mãos. Se você tocar algum alimento ou superfície com
glúten, também as higienize logo em seguida. Evite manipular e cozinhar alimentos
com e sem glúten ao mesmo tempo, porque os riscos de contaminação são altos. Caso
alguém esteja preparando comida glutenada e você não se sinta cômodx, evite
permanecer na cozinha durante esse tempo. Se alguém utilizar farinha de trigo, antes
guarde seus utensílios/produtos expostos e peça à pessoa para arejar bem o
ambiente e descontaminá-lo ao término do preparo. Se você faz refeições comuns
com as pessoas as quais convive, estabeleça a utilização de temperos que não levem
glúten e peça para evitarem espessar molhos e caldos com trigo (isso é muito
comum). Uma alternativa é usar o amido de milho.
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FICHA TÉCNICA

Dilemas das vida celíaca. Guia prático de como compartilhar casa com pessoas
que consomem glúten

Textos, edição e diagramação: Andrezza Conde


Layout: Canva
Imagens: Canva, Pexel
Publicação: Recanto da Celíaca
@recantodaceliaca
Blog: http://recantodaceliaca.blogspot.com

Este guia tem caráter informativo cujas dicas práticas têm o objetivo de servirem
de instrumento de auxílio às pessoas com Doença Celíaca que, assim como eu,
compartilham casa com quem consome glúten. Com relação à questão do
compartilhamento de utensílios, eletrodomésticos e espaços comuns, tem-se como
referência as orientações da FACE - Federación de Asociaciones de Celíacos de
España.

FIQUE LIGADX!

Para mais informações sobre viajar sem glúten de forma segura e econômica, baixe
o guia: Viagens de mochila: guia prático de como viajar sem glúten de maneira
econômica sendo celíaca(o)

Para mais informações sobre como se situar após o diagnóstico de Doença Celíaca,
baixe o guia: Socorro! Fui diagnosticadx com Doença Celíaca, e agora? Série em 12
temas (publicação em breve)

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