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Rio de Janeiro
1983
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APROVADO EM 14/02/1984
JOHN WILKINSON
Outubro, 1983.
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DEDICATÓRIA
A
Aninha
Joaquim
Mônica
Nilson e
Zélia,
AGRADECIMENTOS
BIOGRAFIA
RESUMO
SUMMARY
The Techmicality level and involvement with rural credit varies but the low
utilization of modern tecnology prevails. Rice, cotton, peamut, bean, cassava, castor
bean and corn were the products cultived in the rural lot, but only cotton, rice, corn
and castor bean have been commercialized. Often commercialization agent is the
Cooperative, also ooccuring intermediaries like truck drivers anda rarely any
productor. But only the agricultural production and commercialization does not
garantee these productors survival, other strategies are utilized. The rural credit
sistematic usage hás been made possible the appearing of economic diversities but
yet the social diferenciation hás not been materialized. In this process of capitalism
expanding is fundamental the State action that created this space implementing this
Project.
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
Comercialização ............................................................. 46
CONCLUSÃO ...................................................................................................... 66
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 69
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ÍNDICE DE ANEXOS
MAPA ......................................................................................................... 81
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INTRODUÇÃO
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mais alto. Então, eles não consentem que agente fale com o pessoal que vem
de fora, nem que fale com os colonos que já estão ali pra não contar o que
eles sofrem, porque na realidade alguns pontos é bom, serve, mas tem alguns
pontos que o pessoal sofre muito”.
A maioria dos colonos que compõe nossa amostra têm no máximo três
safras de experiência no Projeto e os mais antigos têm cinco safras. Este fato
relativiza as tendências que se possa detectar nas transformações por que
passa a Unidade de Produção Familiar, considerando-se que a realidade
objetiva ainda não se encontra completamente amadurecida e nem mesmo
sedimentada. O Projeto ainda está, devido aos constantes assentamentos, em
implantação, o que contribui para que se considere a pouca maturidade dessa
realidade.
CAPÍTULO I - O PROJETO
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Os pequenos produtores rurais que vivem no Projeto Especial de
Colonização Serra do Ramalho têm uma característica comum: deixaram, por
força de circunstâncias diversas, a terra onde trabalhavam. A existência
mesmo deste projeto decorre da desestruturação de milhares de unidades de
produção familiar como conseqüência da implementação da Política
Econômica Governamental idealizada no princípio da década de 40 quando
começaram as primeiras tentativas de planejamento regional.
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estudar. Na concepção do INCRA para os Projetos de Colonização este é
considerado como Especial por estar subordinado diretamente ao órgão
central em Brasília.
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Integrado de Colonização Alexandre Gusmão, localizado no Distrito
Federal, do PIC Sagarana em Minas Gerais e do PIC Bernardo Sayão em
Goiás.
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b) não conclusão do eixo par, ficando a população que habitava as agrovilas
pares totalmente ilhadas no período chuvoso;
Outra observação que fizemos a respeito da atuação dos órgãos é o fato de que
o Projeto se amplia com novos assentamentos, abertura de agrovilas, e a estrutura
de serviços não acompanha o mesmo ritmo de crescimento. Assim, fomos
informados pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bom Jesus da Lapa, pelo
Bispo do mesmo município e por colonos que, os mais recentes colonos (dezembro
81), destinados à agrovila 18, estavam desabrigados na área do Projeto,
aguardando a construção das casas pelo INCRA e a distribuição dos lotes. A
FSESP ( Fundação Serviço de Saúde Pública) responsável pela assistência médica
no Projeto, continua com apenas dois médicos e um dentista para atender a uma
população de 30.000 pessoas aproximadamente e, a EMATER/BA conta apenas
com 1 agrônomo, 2 assistentes sociais, 12 técnicos agrícolas, 11 escriturários e 2
serventes, quando o ideal seria: 8, 8, 32, 16 e 8, respectivamente. O setor
educacional não foge a esta situação de precariedade, sendo encontrado técnico
agrícola como diretor de escola. Esta é a situação administrativa do Projeto,
refletindo o desgaste crescente da ação governamental.
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para o cultivo desses produtos, utilizavam desde as ferramentas tradicionais até o
trator.
(1)
Modernização – utilização de máquinas, equipamentos, insumos químicos e
instrumentos de política agrícola no processo de produção.
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Com isto, destacam-se mais uma vez as agrovilas 08, 09 e 10, como delimitação
aproximada do espaço onde poderia ocorrer uma tendência mais imediata à
diferenciação. Em relação aos colonos das primeiras agrovilas essa diferenciação
não se constitue, no momento como uma tendência pelo menos a nível ideológico.
Discurso como: “... realmente tem pessoas de melhores condições, mas não tem
assim um destaque entre os colonos ... pelo menos lá onde eu moro ... tanto faz
estar conversando com um igual que vive na diária como um outro que tem o seu
meio de vida, não tem destaque não”, são recorrentes entre os colonos dessas
agrovilas.
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para garantir a sua reprodução em momentos de transição como este, que
significam uma total reorganização da Unidade.
Essas famílias compõem-se em média de seis filhos, sendo que nem todos
residem no Projeto, o que faz com que essa média caia para cinco filhos por núcleo
familiar. Não há diferença relevante entre o número de filhos e de filhas; nem
todos os filhos e filhas residentes na Unidade de Produção , entretanto, se
constituem em mão-de-obra ativa no trabalho da roça. Pudemos observar que a
participação dos filhos no trabalho produtivo ocorre basicamente a partir dos dez
anos de idade. Até este período as crianças desenvolvem apenas atividades
escolares.
A área desmatada que não foi plantada, foi utilizada para pastagem em apenas
13% dos casos, sendo que nos 87% restantes essa área está efetivamente sem
utilização, principalmente por falta de recursos financeiros para o plantio (52%).
Além desse, outros fatores contribuíram para o não aproveitamento de toda a área
desmatada como falta de insumos, crédito restrito, desmatamento precário,
condições edafoclimáticas ruins e problemas pessoais (por exemplo, doença).
O fato de o INCRA ter entregue todos os lotes com 2 ha desmatados não foi
suficiente para promover o crescimento eqüitativo do plantio de todos os colonos,
dificultando, portanto, o direcionamento da atividade produtiva.
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feijão x milho, milho x mandioca, milho x mamona, mandioca x feijão, milho x
algodão, milho x algodão x feijão e milho x feijão x mandioca.
Isto demonstra que da safra 76/77 à 80/81 a variação média da área plantada foi
bem maior entre os produtores com crédito do que os sem crédito, sendo de 1,6 ha,
- 0,5 ha, 3,3 ha, 3,5 ha e 0,2 ha – 0,3, 0,9 e 0,7 respectivamente, as alterações
ocorridas. Observando-se a relação entre a área cultivada com financiamento
bancário e a total foi possível notar o grande crescimento ocorrido na utilização
desse instrumento. Assim, para a safra de 76/77 a participação da área com crédito
era de 10%, passando a ser de 58% na safra de 79/80.
(2) Nos poucos casos em que o lote rural é maior de 20 ha, a qualidade do solo só
viabiliza uma produtividade igual à dos demais lotes.
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O trabalho no lote rural, onde são cultivados os produtos quer para consumo
próprio, quer para comercialização, se desenvolve em cinco fases: preparo do solo,
em que o produtor limpa e ara a terra após o desmatamento; plantio; tratos
culturais; momento de limpar o plantio ou, se for o caso, aplicar defensivos;
colheita e beneficiamento.
O preparo do solo deve ser feito nos meses de agosto e setembro para que o
plantio coincida com o inicio do período chuvoso outubro/novembro. Os tratos
culturais, ou “limpa”, como é chamado pelos agricultores ocupa os meses de
novembro e dezembro, quando as chuvas atingem o auge, ocorrendo a colheita
aproximadamente em abril.
Em dados estatísticos, 67% dos produtores com crédito declararam optar pela
contratação de mão-de-obra quando for preciso escolher entre a roça e a escola,
enquanto é de 41% o percentual desta opção entre os produtores sem crédito.Se
formos observar separadamente as agrovilas, verificaremos a mesma relação para
aqueles onde predomina o uso do crédito (08, 09 e 10) onde 56%, 71% e 71%
respectivamente optariam pela contratação de mão-de-obra enquanto naquelas
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Esse dado reflete o tipo de tecnologia que está sendo desenvolvida, isto é, uma
tecnologia sem sofisticação e consumidora de insumos químicos e, o ritmo em que
esse processo está ocorrendo. As Unidades que estão tecnificando o seu processo
de trabalho não o estão fazendo em todas as fases de cultivo ao mesmo tempo. Isto
cria uma descontinuidade no processo que acirra o problema da necessidade de
mão-de-obra em determinadas fases. Por outro lado, transforma a pequena
produção em mercado consumidor da produção industrial. Em outras palavras, no
que tange ao problema da disponibilidade de mão-de-obra, as transformações pelas
quais estão passando esses pequenos produtores apontam para uma nova situação,
ampliando das fases de plantio e colheita, consideradas como de pique, para outras
fases, como a de tratos culturais, a presença desse problema. Relativamos esse
enfoque quando consideramos a frustração da safra 80/81, em que foi feita a
pesquisa, o que levou a, na fase de colheita a posteriormente a de beneficiamento
do produto, uma utilização menos significativa de mão-de-obra assalariada. Isto
todavia não invalida a constatação de que o processo de trabalho desses produtores
está passando por transformações reorientadoras e, que o problema da
disponibilidade de mão-de-obra se faz presente em qualquer fase de cultivo na
Unidade de Produção Familiar.
“Se existisse uma maquinaria como eles apresentam, era uma boa para nós,
porque realmente se tivesse maquinaria, todo mundo tinha suas melhoras. Mas o
problema é que as máquinas não saem. Promete, promete quando muito sai se o
camarada tiver condições compra um arado e, se não tiver fica no braço toda a
vida; então, a experiência termina sendo a mesma”.
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expectativa enquanto que, nos estratos de 6-10 ha e 10-15 ha o fenômeno é
exatamente inverso. O processo simultâneo de expansão na área cultivada e início
de tecnificação viabilizados pela integração com o crédito, caracteriza os maiores
estratos como aqueles onde a lógica “modernizante” e portanto comercial esteja
mais interiorizada.
3.3 Comercialização
Para embalar a produção a ser vendida, a maioria dos colonos (72%) dispende
recursos para aquisição de embalagem, e os demais têm seu produto acondicionado
pelo comprador, no caso o intermediário. A principal dificuldade declarada pelos
produtores, foi entretanto, o deslocamento até o município de Bom Jesus da Lapa
onde se encontram os principais fornecedores, os armazéns, com freqüência de
60%. Os demais fornecedores de embalagens foram o comprador do produto,
comerciante particular e a cooperativa. Apesar de serem ainda mencionadas outras
dificuldades (falta de recursos, falta de embalagem e preço), na verdade, o que
predomina entre os colonos (61%) é a inexistência de dificuldade para comprar
embalagem. Mesmo tendo peso significativo na composição dos custos de
comercialização da maioria dos produtores do PEC’SR, o acondicionamento dos
produtos não é feito para estocagem, já que 85% dos produtores não estocam seu
produto, principalmente pela necessidade de vendê-lo imediatamente (59%). Há
ainda os casos em que a produção é pequena (36%) e o produto perecível (5%).
Deve-se considerar certa interação nesses problemas podendo ocorrer mais de uma
justificativa para a não estocagem. Os casos de produtores estocando produto
foram registrados nas agrovilas 04, 06, 08, 09 e 10, para os estratos de 3-6, 6-10 e
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10-15 ha cultivados. Conforme o quadro Destino da Produção, a produção é
praticamente dividida entre consumo, venda e reserva como semente, sendo pouco
significativo o volume de produção cujo destino não foi especificado e que se pode
esperar como tendo sido armazenado para esperar preço.
intermediário que já vende caro, cobrando o dele, ganhando o dele, né? Eu comprei
a Cr$ 700,00 o saco naquele dia, foi quando a cooperativa que está lá dentro, que
nós somos sócios dela nessas alturas já cobrava era Cr$ 2.940,00”... Então, no dia
que eu comprei quatro sacos de arroz pra plantar por Cr$ 2.800,00, no
intermediário, o meu vizinho comprou os mesmos quatro sacos naquele dia por
Cr$ 11.740,00. Então, ela vende pra gente pagar com a produção, mas compare, na
mínima coisa, quatro sacos de arroz somente. E quando a gente vai buscar quatro
sacos de arroz, dois, três de feijão, dois, três daquele outro, quando termina,
trabalha o ano todinho e não dá pra pagar a diferença.
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A decisão de se tornar sócio da cooperativa, a posição do produtor frente a
organização, no caso estudado, reflete não só a ausência de organização desses
produtores como a manipulação a que são submetidos de maneira a garantir para o
Estado um discurso de representatividade.
Esse trabalho, que no discurso oficial é tido como organização dos produtores,
aparece no mesmo momento em que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bom
Jesus da Lapa amplia suas atividades no Projeto, embora ainda bastante frágeis. Há
mesmo um número representativo de colonos que negam ou desconhecem a
existência de atividade sindical no PEC’SR (43%). Apesar disso é predominante a
noção do Sindicato como órgão de classe, com a finalidade de defender os
interesses do produtor além das atividades assistenciais que marcam o
Sindicalismo no Brasil. E foi exatamente esse caráter de classe que mobilizou a
maior parte dos colonos sindicalizados a se integrarem ao Sindicato. Contudo, não
é desconhecido por parte desses colonos as dificuldades e limitações da ação
Sindical tanto a nível particular por se tratar de um Projeto do Estado, como a nível
mais geral pelos problemas financeiros e judiciais.
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“Nós contamos com menos da metade dos colonos, porque, existe lá,
na hora que nós estamos sozinhos, eles, todo mundo está no mesmo
lado, compreende? Mas, na hora que eles vêem o executor do Projeto,
80% dos colonos têm medo.
Por outro lado, também a mobilização para uma ação econômica se depara com
limitações serias, “a gente já tentou fazer uma caixa, uma caixinha mas somos
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fracos; não dá pra chegar até lá ...”. Essa “caixinha” era para “comprar máquina,
comprar semente lá fora; também quando for pra vender a produção a gente se
reúne todos e lá numa companhia, que compra mais caro, vende pra todos”.
CONCLUSÃO
A exposição precedente revela uma das formas encontradas pelo Estado para
viabilizar a penetração do capitalismo no campo, acelerando com isto as
transformações das relações sociais de produção que não se caracterizam como
capitalistas.
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particularidades e às especificidades dessa mesma realidade. Refiro-me à questão
da migração como sinônimo de protelarização - questão já abordada por Moacyr
Palmeira(1) – exatamente quando se pretende demonstrar o aprofundamento das
relações de produção capitalista e daí à constituição de classes sociais opostas.
Embora este fenômeno ocorra em vastas proporções, concluímos que é necessário
que as condições transformadoras não se encontrem mais subordinadas à realidade
a ser transformada e, portanto, que esta já se encontre amadurecida para que se
configurem especificamente as relações de produção capitalistas. Os agentes
sociais desse processo estarão, então, diferenciados socialmente.
social. As relações de produção ainda não são capitalistas apesar de este particular
estar inserido numa formação capitalista que luta para absorvê-lo.
BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, José Braz de. Reflexões sobre a agricultura Brasileira. Paz e Terra,
1979.
OLIVEIRA, Francisco de. Elegia para uma Re(li)gião. Paz e Terra, 1a edição.
1978.