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Exmo. Sr.

Juiz de Direito da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Capital

Ref. Inquérito Civil 35/15

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio


da 1ª Promotoria de Justiça da Tutela Coletiva da Infância e da Juventude da Capital,
com endereço à Rua Rodrigo Silva, 26, 10º andar, Centro do Rio de Janeiro, tel. 2531-
8562, vem, com fincas no art. 127, CRFB, e nos arts. 194, 201, III, VIII e X e 247 da
Lei 8069/90, oferecer a presente

REPRESENTAÇÃO POR INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA

Em face da “FACEBOOK SERVIÇOS ON LINE DO BRASIL LTDA. REDE


SOCIAL”, CNPJ/MF 13.347.016/0001-17, situada à Rua Leopoldo Couto de
Magalhães Júnior, 700, 5º andar, Edifício “Infinity Power”, Itaim Bibi Norte, CEP
045242-000, Cidade de São Paulo, SP, em virtude dos fatos e fundamentos jurídicos
adiante explicitados:

Prefacialmente, deve-se destacar que o art. 148, VI, da Lei 8069/90


estatui que o Juizado da Infância e da Juventude tem competência para aplicar
penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança
ou adolescente.

A representação ministerial, neste caso, deve ser proposta no foro do


local do dano, nos termos do art. 209 da Lei 8069/90. Por outro lado, como o dano
adiante narrado é de caráter nacional, competente para apreciar a representação sob
exame é o Juizado da Infância e da Juventude da Capital do Estado, consoante o
art. 93, II, da Lei 8078/90, que é aplicável à sistemática infantojuvenil por força dos
arts. 224 da Lei 8069/90 e 21 da Lei 7347/85.

Pois bem.
Em data que não se pode precisar, a rede social “Facebook Serviços On
Line do Brasil Ltda” permitiu que fossem postadas duas fotos envolvendo crianças e
adolescentes portando ostensivamente armas de fogo, vale dizer, praticando ato
infracional análogo ao delito de porte de arma de fogo (fls. 07; 10).

Por esta razão, a 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Infância


e da Juventude da Capital instaurou o inquérito civil 35/15, visando retirar
administrativamente as preditas fotos.

Neste sentido, é imperioso acentuar que o art. 143 da Lei 8069/90 veda a
divulgação de fotos de crianças ou adolescentes aos quais se atribua a prática de ato
infracional.

A proibição visa proteger a imagem e a intimidade dos juvenis, ao tempo


em que evita a estigmatização dos menores, que são penalmente inimputáveis.

Por outro lado, a pessoa física ou jurídica que exibir as fotos em


desacordo com a regra do art. 143 incidirá na infração administrativa do art. 247 da
Lei 8069/90.

O art. 247, §1º da Lei 8069/90, pune a conduta de quem exibe, total ou
parcialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido em ato infracional.

A objetividade jurídica da infração administrativa tipificada no art. 247


da Lei 8069/90 consiste na preservação dos direitos à privacidade, imagem e
intimidade das crianças e adolescentes (art. 5º, X, CRFB/88), obtemperando-se que a
proteção da população infantojuvenil deve ser efetuada com prioridade absoluta, por
força de mandamento constitucional (art. 227 da CRFB/88).

A doutrinadora Patrícia Pimentel de Oliveira Chambers Ramos elucida a


questão:

“No dispositivo em exame (art. 247 da Lei 8069/90), o bem jurídico


tutelado é a proteção do sigilo que deve cercar a pessoa da criança ou adolescente a
que é atribuído ato infracional, considerando (...) o estigma que causaria às crianças
e adolescentes de sua exposição pública em razão da prática de ato infracional. (...)
Assim, não basta colocar uma tarja preta nos olhos da criança ou do adolescente,
pois seria facilmente identificada”. (g.n.). (RAMOS, Patrícia Pimentel de Oliveira
Chambers et alii. Curso de Direito da Criança e do Adolescente – Aspectos Teóricos e
Práticos. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010).
Ocorre, no entanto, que a representada, notificada pelo Ministério
Público, recusou-se a remover as páginas contendo as fotos de adolescentes
envolvidos em atos infracionais (fl. 15).

Não resta outro caminho ao Ministério Público, senão judicializar o


conflito, inclusive para responsabilização da empresa “Facebook”, se for o caso.

Nesta seara de argumentação, faz-se mister observar que a


responsabilidade da empresa “Facebook Serviços On Line do Brasil Ltda. Rede
Social” é de natureza subsidiária, apenas se configurando caso ela permaneça inerte
após notificação judicial para remoção de uma página com conteúdo ilícito.

Esta responsabilidade subsidiária decorre do art. 19 da Lei 12965/14


(“Marco Civil da Internet”), o qual dispõe o seguinte, in verbis:

“Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir


a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser
responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros
se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos
limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o
conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em
contrário.”

DOS PEDIDOS:

Ante todo o exposto, requer a V.Exa.:

a) O recebimento da petição inicial, com a juntada aos autos do inquérito civil 35/15
(em anexo);
b) A notificação da representada para que, em dez dias, remova o conteúdo das
páginas:https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10205355937593020&set=a
.3221194683854.2124990.1086057123&type=3&theater; (ii)
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1481054975511895&set=a.1403663
426584384.1073741828.100008222207206&type=3&theater, sob pena de
configuração da infração administrativa tipificada no art. 247 da Lei 8069/90;
c) A citação da empresa para que, em dez dias, responda à presente representação,
sob pena de revelia (art. 196, Lei 8069/90);
d) a procedência da presente representação, aplicando-se a multa prevista no art.
247 da Lei 8069/90, sopesando-se na decisão eventual reincidência e o poderio
econômico da entidade autuada, devendo o valor da condenação reverter ao
fundo municipal gerido pelo CMDCA/RJ (art. 214, ECA);
e) a condenação da entidade autuada ao pagamento das verbas sucumbenciais, a
serem revertidas ao fundo especial do Ministério Público, nos termos da Lei
Estadual 1183/87 (Banco Itaú, agência 6002, cc 02550-7).

Protesta-se pela produção da prova documental suplementar,


testemunhal e pericial.

Dá-se à causa o valor de R$ 32.000,00 (trinta e dois mil reais), na forma


do art. 258 do CPC.

Para fins de prequestionamento, indicam-se os seguintes dispositivos:


arts. 5º, X e 227, CRFB/88; arts. 143, 247, caput e §1º e 224, Lei 8069/90; art. 93, II,
Lei 8078/90; art. 21, Lei 7347/85; art. 19, Lei 12965/14.

Rio de Janeiro, 11 de novembro de 2015.

João Carlos Mendes de Abreu


Promotor de Justiça

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