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Richard Sennett traz em seu livro, Carne e Pedra, uma abordagem sobre a história da cidade

contada através da experiência corporal do povo, como homens e mulheres se moviam, o que
viam e ouviam, como se vestiam, seus hábitos e costumes. O autor se utiliza de diversas fontes
para compreender acerca da arquitetura através do corpo e suas manifestações na vida
cotidiana da civilização ocidental.

No início do texto, o autor narra a cidade de Atenas, onde a nudez e a exposição dos corpos
mostravam a autoconfiança do povo, mostrando também que a busca do corpo ideal é uma
fonte de desentendimento nas relações dentro da sociedade ateniense no espaço público.

As mulheres e escravos eram tratados como corpos frios, lentos de raciocínio e incapazes de se
expressar, pois o corpo frio não absorvia calor, tornando-se não capazes de dar respostas
rápidas e desprovidos da capacidade de pensamento. Por esses motivos, não tinham direito a
nudez e nem mesmo voz na sociedade. Por outro lado, os homens, considerados cidadãos
dignos devido ao seu calor corporal, que possibilitava a capacidade humana de ver, ouvir, agir e
reagir, falar etc. Partiam deles os debates, as decisões políticas, direito de frequentarem os
ginásios e de se relacionarem entre eles.

Para Trucídides, a nudez era uma conquista da civilização, distinguindo os fortes dos
vulneráveis, confirmando sua dignidade como cidadão, relacionado à liberdade de
pensamento. O ginásio ateniense ensinava que o corpo era parte da coletividade, treinando
não só o físico, como também a habilidade com a palavra.

Embora todos os homens pudessem exercem a política, de fato apenas poderiam se dedicar a
ela penas os que tinham riquezas o suficiente, pois estes viviam sem preocupações e
dedicavam seu tempo aos debates. As assembleias que aconteciam na Ágora asseguravam a
manutenção da democracia.

A história da democracia ateniense caminhou para a disciplinação da voz e não para seu
desenvolvimento. Os corpos masculinos ocupavam lugar especial no espaço, privilégio da fala,
da argumentação, da exposição de pensamentos, da ação e da tomada de decisões. Aos corpos
femininos, e daqueles considerados fracos, cabia o silêncio e a submissão. Portanto, pode-se
concluir que a obra Carne e Pedra analisa a relação estabelecida entre o espaço urbano e a
experiência corporal na sociedade ocidental, mostrando questões sociais e estéticas de forma
realista, mas ao mesmo tempo imaginativa.

Em seu livro, História da Pedagogia, Franco Cambi fala que pode-se reconhecer na Grécia o
nascimento de modelos cognitivos, éticos e de valores do ocidente, tais como a razão, o
domínio, o etnocentrismo e a universalização do masculino. Segundo o autor, também é de lá a
constituição das práticas sociais de longa duração, das quais muitas chegaram até nós, como o
desprezo pelo trabalho manual, a marginalização do feminino e o governo como exercício de
autoridade. Na contemporaneidade, surge a industrialização e o capitalismo, os direitos das
massas, e consequentemente, a democracia, oferecendo o direito da participação da vida
política social, a autonomia para fazer escolhas, dar opinião, participar ativamente do sistema
político. Entre outras palavras, a igualdade

Cambi (1999) sustenta que se pode reconhecer na Grécia clássica o nascimento de modelos
cognitivos, éticos e de valores do ocidente, tais como a razão, o domínio, o etnocentrismo e a
universalização do masculino. Ainda segundo esse autor, também é de lá a constituição das
práticas sociais de longa duração, das quais muitas chegaram até nós, como o desprezo pelo
trabalho manual, a marginalização do feminino e o governo como exercício de autoridade.
Tudo isso faz parte do mundo clássico, lugar de nascimento da nossa cultura ocidental.

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