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AVALIAÇÃO DE TÔNUS MUSCULAR

Tônus muscular pode ser definido como o grau de contração mínima do músculo ou ainda o
grau de resistência oferecida à mobilização passiva. Está relacionado à atividade do fuso
muscular (um proprioceptor intramuscular capaz de detectar o estiramento muscular –
comprimento do músculo – e a velocidade com a qual esse comprimento varia), controlada
pelo SNC, e às propriedades viscoelásticas do músculo.

Como avaliar?

O paciente deve estar despido e o mais relaxado possível. A posição ideal para começar a se
avaliar o tônus muscular é em DD, uma vez que favorece o maior relaxamento do paciente e
ainda por exigir menor tônus muscular. Isso possibilita ao terapeuta ter uma ideia do tônus de
base do paciente e, indiretamente, sobre como está o controle do sistema nervoso sobre ele.
No entanto, no caso de criança, se ela ficar muito agitada é possível realizar o teste com ela
sentada, apoiada no colo da mãe, favorecendo o maior relaxamento possível. O tônus pode
ser avaliado pela inspeção, palpação, mobilização passiva e, também, nas posturas e trocas
posturais.

Na inspeção, além do formato do músculo, a própria postura que o paciente mantém é um


indicador do grau de tônus que apresenta. Por exemplo, quando se observa a rotação externa
importante de quadril ou ombro (geralmente descrita como “posição de abandono”), pode-se
esperar um quadro de hipotonia (diminuição do tônus muscular). Por outro lado, quando o
paciente mantém o padrão flexor ou extensor de membros superiores e/ou inferiores, é
provável que esse quadro esteja relacionado à hipertonia (aumento do tônus muscular). A
palpação, apesar de ser utilizada na prática clínica, consiste mais na impressão subjetiva da
avaliação do tônus.

Em relação à mobilização passiva, deve ser feita uma mobilização partindo do máximo
encurtamento muscular até o máximo alongamento, de forma lenta e depois rápida, pois o
fuso muscular é sensível não apenas à variação do comprimento do músculo (alongamento
muscular) mas à velocidade com a qual varia. Essas informações são extremamente
importantes para que o SNC seja capaz de controlar os movimentos de forma adequada. Além
disso, a informação sobre como o tônus se comporta quando há variação da velocidade é
utilizada para diferenciar diferentes quadros de hipertonia.

Por fim, apesar de o teste de tônus ser feito com o paciente em repouso, é essencial, observá-
lo também em movimento (funcionalidade), uma vez que o tônus pode ser modificado de
acordo com o posicionamento do corpo e da cabeça ou mesmo nas trocas posturais quando,
em muitos casos, há aumento de tônus em membros para tentar compensar uma falta de
controle postural.

Possíveis alterações

- Hipotonia: durante a mobilização passiva, o terapeuta percebe diminuição da resistência,


independentemente da velocidade com que realiza o movimento. Geralmente, observa-se
também aumento da ADM e instabilidade articular e, no caso de ser generalizada, dificuldade
do paciente em assumir e manter posturas que exijam maior controle postural. Esse achado
clínico geralmente está relacionado a lesões de moto-neurônio inferior, miopatias, lesões
cerebelares, lesão de motoneurônio superior (fase aguda) e algumas síndromes (como
síndrome de Down). Apesar de clinicamente se observar diferentes grau de hipotonia, não
existe nenhum instrumento utilizado para mensurá-la. Alguns autores, também indicam a
presença de tônus denominado de flácido, ou seja, com nenhuma reação contra a gravidade.

- Hipertonia elástica: está associada à lesão do motoneurônio superior e tem como


características o aumento da resistência à mobilização passiva que cede à mobilização e varia
com a velocidade. Nesse tipo de hipertonia, há aumento da resistência mais acentuada no
início do movimento, cessando repentinamente, o que caracteriza clinicamente o chamado
“sinal do canivete”. Geralmente está associada à exacerbação dos reflexos tendíneos
profundos e ao clônus, sendo chamada então de espasticidade. É um dos distúrbios motores
mais frequentes e incapacitantes observados em pessoas com lesão do SNC, que compromete
o neurônio motor superior ao longo da via corticorreticular bulboespinhal, afetando
predominantemente a musculatura antigravitacional (flexores de cotovelos e extensores de
joelhos, por exemplo. A espasticidade pode ser graduada pela escala de Ashworth modificada,
pela qual se avalia o momento da amplitude articular no qual surge a resistência à mobilização
passiva.

- Hipertonia plástica ou rigidez: está associada à lesões do sistema extrapiramidal (núcleos da


base). Observa-se resistência ao longo de todo o movimento passiva, não é dependente de
velocidade e há a presença do “sinal de roda denteada”. É raríssima em crianças. Frequente
em pacientes com Doença de Parkinson.

Considerações importantes

É sempre importante lembrar que, diferentemente do adulto, a criança, sobretudo nos


primeiros meses de vida, passa por diversas transformações, e estas devem ser consideradas
na interpretação dos dados obtidos durante a avaliação neurológica. Uma dessas modificações
está relacionada ao tônus muscular. Segundo Diament e Cypel, nos primeiros meses de vida,
há predomínio do tono flexor, tanto em membros superiores quanto inferiores (sendo
observada maior resistência nos membros inferiores em comparação aos superiores), que
decai progressivamente e por volta do quinto/sexto mês parece estar em equilíbrio com o
tônus considerado normal. Após esse período (no segundo semestre de vida), evidencia-se
hipotonia fisiológica, que permanece até o final do segundo ano de vida.
Funcionalidade (posturas e trocas posturais)

A avaliação de funcionalidade possibilita uma riqueza de informações sobre o tônus muscular


de pacientes neurológicos. Além do tônus, através da avaliação de funcionalidade é possível
conhecer:
Além do tônus, as rotações
a) como o paciente se movimenta e o que se consegue fazer e as transferências são
elementos muito
b) reações de equilíbrio e endireitamento importantes para nossa
c) coordenação motora funcionalidade. Sem eles,
d) a velocidade do movimento nosso repertório de trocas
posturais fica muito
e) a simetria do movimento limitado.
f) a presença (ou não) de rotações de tronco (dissociação de cinturas)
g) as transferências ou descargas de peso
h) o gasto energético
i) controle de cabeça e tronco (lembrando que nosso movimento começa de proximal
para distal)
j) entre outros...

É importante considerar que a avaliação de funcionalidade, deve, preferencialmente,


contemplar toda a sequência neuroevolutiva de movimentos, partindo do DD até chegar na
marcha (sentido cefálico-caudal).
Prof. Simone de Paula Dillenburg

Adaptado de Lanza, Fernanda Cordoba, Gazzotti, Mariana Rodrigues, Palazzin, Alessandra.


Fisioterapia em pediatria e neonatologia: da uti ao ambulatório. 2a ed. SP: Manole, 2019.

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