O desfralde da criança típica, o desfralde da criança atípica, do autista, de alguma
criança que tem algum transtorno, ele me parece algo meio natural, deixa apenas acontecer, o modelo de exemplo, algo que não precisa de uma orientação. De fato, muitas crianças desenvolverão o desfralde de forma tão natural que não vai precisar muito manejo do adulto a sua volta. Mas é importante que a gente diga que precisa haver compreensão neste momento, porque um desfralde mal conduzido, pode gerar problemas. E esses problemas podem ser por exemplo a encoprese, que é aquela criança que agora quando tirou a fralda tem medo de fazer cocô, e aí aquele medo ela vai segurando o cocô, se contraindo, segurando cada vez mais, o cocô fica durinho, quando sai esse cocô ele machuca, gerando uma memória de dor e aí naturalmente ele vai querer evacuar menos ainda ali quando estiver sem fralda. Como ficou constipado, como ficou muito duro, por vezes e ainda por não compreender um pai, uma mãe, um profissional acaba fazendo uma lavagem, colocando alguma coisa, introduzindo logo no bumbum dele, aquele bumbum que já está com medo, que já está desconfortável. Segura essa criança, coloca alguma coisa no bumbum dele pra ele fazer o cocô porque é necessário, o cocô já está ali preso quatro, cinco, sete, oito, dez dias. E essa criança precisa evacuar, porque também não fazer cocô, o termo enfezada é justamente por isso. Deixa a criança irritada, estressada. Então a gente precisa falar sobre o desfralde. Como eu falei pode parecer algo muito pontual e muito simples, e é, pra boa parte das vezes. Crianças com um desenvolvimento típico, ou seja, sem nenhuma necessidade, precisam ter pelo menos a compreensão de o que é xixi, o que é cocô, entendendo muito bem quero, não quero. Estar ali fazendo realmente já um controle do seu esfíncter, crianças atípicas é uma outra conversa, eu vou explicar os dois pra vocês, porque as crianças atípicas realmente, eles têm menor compreensão, podem ter menor compreensão sobre coisas pontuais como o sim e o não. Então falar também que conduz o desfralde de todo mundo da mesma maneira pode ser um grande problema. A imensa maioria das crianças, todas elas, não estão aptas para um desfralde antes dos dois anos de idade, claro que tem sempre aquele que você fala ah, o vizinho fulano de tal, o filho de não sei quem desfraldou com um ano e nove meses, tudo bem, deu certo. Mas a pergunta é: e se tivesse dado errado? Porque eu conheço poucas crianças desfraldadas com um ano e meio, dois anos. Mas eu como médico, pediatra, conheço muitas e muitas crianças que desenvolveram dificuldades e processos traumáticos de um desfralde mal conduzido. E por incrível que pareça, a gente se depara com muitos profissionais que não sabem sobre o desfralde. Na puericultura, na consulta de pediatria parece que ah, eu quero desfraldar doutor, ah, tudo
bem, então pode desfraldar. Tudo bem? Pode desfraldar? Não. Mãe, vem cá, que hora seu filho ta acordando, que hora seu filho ta dormindo, ele ta mamando a noite? Thiago, o que isso tem a ver? Bom, crianças de três anos de idade mamando a noite, que já não deveria, está tomando mamadeira a noite, ele está tomando 250ml de leite antes de dormir, qual a chance dele fazer xixi durante a noite se a última coisa que ele faz antes de dormir é tomar 250, um quarto de litro de leite antes de dormir? A chance dele fazer xixi a noite é muito grande. E quando a gente faz um desfralde, e inicialmente a gente começa pensando no desfralde diurno, a gente tem que ter muita clareza sobre o desfralde noturno. Eu não vou começar o desfralde diurno e ai, quando der certo eu desfaço o noturno. Ou quando a gente começa a fazer o desfralde do xixi, tem que ter muito claro o desfralde do cocô. Por isso que eu falei, pode parecer algo simples, mas um bom desfralde conduzido com uma aula que vocês aprendem, vocês falam meu Deus, quando coisa havia num desfralde e eu não sabia. Algumas crianças inclusive têm medo do próprio vaso, aquele vaso ele causa uma sensação ali de falta de suporte, apoio, porque é um buraco grande, as criancinhas que ficam com as pernas soltas, convenhamos gente, eu teria medo de cair num buraco que é maior do que eu, onde eu tenho pouco apoio, pouco suporte, então a gente precisa entender sobre o desfralde. Então o primeiro passo é que a gente pode sim conduzir, a gente pode sim manejar, mas quem define o desfralde é a própria criança. Tem crianças que com 20 meses estão prontas e aptas para o desfralde, dando sinais claros. Tem crianças que com 20 meses não têm a mínima chance de fazer desfralde, talvez vai ser com dois anos e meio. Como um número de corte, de forma muito genérica pra população geral, que é diferente talvez o filho de um, dois ou três pessoas ali, que tem toda uma estrutura, todo o entendimento, toda uma compreensão, eu falo que dois anos e meio é um bom número. Um bom número pras crianças típicas, porque como eu falei eu to separando, eu to segregando crianças típicas de atípicas. Então com dois anos e meio é uma hora que você fala bom, eu acho que está bem, da pra gente conduzir esse desfralde. Aí eu vou fazer uma pergunta pra você, a alimentação dessa criança está bem estruturada? Por quê? Pra essa criança estar tendo por exemplo constipação, fazer um desfralde de uma criança que é constipada pode ser um problema, talvez seja o primeiro passo corrigir a constipação. Ou a criança que está com cocô sempre com diarreia, uma criança que consistentemente tem diarreia, fazer o desfralde pode ser um problema, por quê? Porque ela vai naturalmente fazer cocô nas calças. E mais, se uma criança está constantemente com diarreia, isso já deveria ser pesquisado por vocês, porque isso mostra uma sensibilidade intestinal, uma alergia alimentar ou qualquer coisa do gênero. Então a gente realmente tem que estar apto, preparado pra olha, está tudo alinhado, essa criança fala bem, ela se comunica bem, ela entende o que é fralda, ela entende o que é desfralde, e cuidados com as escolas que as vezes na matricula ou sob qualquer situação fala olha, vamos esperar ele desfraldar pra matricular. Ou pior, todos os coleguinhas da sala já desfraldaram, só ele que não desfraldou, isso é terrível, isso é desrespeitoso, até mesmo porque como eu falei, as vezes tem alguma criança ali que tem alguma transtorno e que vocês talvez ainda não saibam. Então ter muito respeito, não apenas o autismo pode atrasar o desfralde, crianças com algum déficit intelectual, déficit de aprendizado, crianças hiperativas mesmo, criança que têm transtorno do desenvolvimento podem demorar mais pra desfraldar. Mas uma vez que tudo compreendido, tudo organizado, essa criança preparada pro desfralde, a gente começa então os aparatos envolvidos no desfralde, por que, Thiago? A gente precisa, de forma muito natural, fazer cocô de cócoras, sabe aquela posição
sentadinha, fazendo um V quase entre a sua coxa e sua barriga né. Então ta seu joelhinho aqui, sua barriguinha aqui, e aí você fica de cócoras, que de fato é a posição que deixa o reto sigmoide mais alinhado, faz uma pressão positiva ali no abdômen, facilitando com que o cocô haja, e aí muitas vezes as crianças querem, os pais querem colocar a criança pra desfraldar em cima de um vaso grande, sem nenhum suporte. Então é importante que as crianças que voa desfraldar, tenham um suporte, sabe? Pra calçar bem os pés. Se possível, o acento redutor tenha um calçãozinho sabe, pra “ã”, parir esse cocozinho né. Que as mães quando elas estão no parto elas têm ali as vezes aquele suporte no banquinho, então é isso, as crianças precisam ter um suporte mínimo pra esse processo. Eu vou te ensinar de forma lúdica, mas eu vou colocar agora já no grupo das crianças atípicas, porque funciona da mesma coisa, o mesmo desfralde pra criança atípica funciona pra criança típica. Então a gente preparou esse ambiente, aí sim a gente vai levar essa criança pra o cocô. Entrando no mérito da criança atípica, agora eu vou te ensinar as duas crianças nesse grupo. Como eu falei, tentar fazer todas as crianças no mesmo grupo vai ser um problema, porque crianças atípicas são diferentes e muitas vezes por falta de compreensão eles não vão desfraldar com dois aninhos, com três aninhos. Eu tenho facilmente muitas crianças com transtorno do desenvolvimento, desfraldando perto de três anos e meio, o Noah desfraldou com três anos e dois meses, o Noah é uma criança autista, acho que vocês já sabem. Então pra vocês entenderem aí que criança atípica tem outro tempo. Thiago, mas e aí, o que que eu preciso para desfraldar uma criança, como todas as crianças, criança típica também. Que ele tenha o mínimo de compreensão do sim, do não, ta com vontade de fazer cocô, ta com vontade de fazer xixi. Sabe, essa criança consegue se comunicar, mesmo que ela não fale, mas ela tem intenção comunicativa e compreensão daquilo que você faz. Perfeito, então a partir do momento que essa criança tem isso, eu ajustei aqueles mesmos pilares, como está a barriguinha, esta constipada, não está constipada, está tomando meio litro de leite na hora de dormir, tomando cinco mamadeiras por dia, vai ser um desastre fazer o desfralde sim. E quando tudo está muito bem alinhado, o pai compreendendo, a mãe compreendendo, a gente vai a partir daí começar o processo de desfralde. Primeiro passo pra todas as crianças é tentar avaliar cada quanto tempo essa criança faz xixi, fica ali ó, cada uma hora vendo. Ah, ela faz xixi a cada uma hora, xixi a cada 50 minutos. Bom, se o tempo médio de controle de esfíncter dessa criança é a cada 50 minutos, então deixa eu oferecer o banheiro a cada 40. Então durante aquela semana que antecede o desfralde esteja preparado para de 40 em 40 minutos oferecer o banheiro para o seu filho. Ah, mas agora eu vou para o mercado, vou colocar fralda, não sei o que. Gente, quando for fazer o desfralde, faça o desfralde. Imagina a confusão pra essa criança, ah agora vou na casa da vó coloco fralda, agora vou ao mercado coloco fralda, agora vou visitar o fulano de tal, fralda. Não. Desfralde é desfralde. Por isso que eu falei, tem que estar preparado, ah, eu acho que não estou tão preparado, mas vou tentar. Volta, espera dois meses, qual que é a pressa? Vai fazer realmente diferença um mês, dois meses de pacote de fralda? Então essa criança demonstrando ali que está preparada, tudo mais, você vai lá e afere toda hora, vê de uma em uma hora né, ah, legal, de 50 em 50 minutos, e aí você de 50 em 50 minutos vai levar essa criança pro banheiro. E aqui mora o problema, porque muitas crianças atípicas, e também algumas típicas, têm medo do vaso, seja por falta de previsibilidade, seja por uma questão sensorial, seja por qualquer coisa, eles têm medo do vaso, ele não senta no vaso, eles têm pânico do vaso. E você fala ai é frescura, senta no vaso, para com isso, comprar um penico, eu não gosto particularmente no penico, ta gente, prefiro fazer direito no vaso e não fazer essa transição penico vaso.
Mas vamos imaginar que você tivesse medo de barata, não, não, mas ó, toca na barata, você tem medo de barata, não adianta eu ficar toca, toca, toca. Calma, tenha paciência, respeita a imaturidade daquela criança, o que a gente pode fazer? Você tem medo e pânico de cachorro, toca aqui no cachorro pra você ver que ele não morde; toca aqui no vaso pra você ver que o vaso não te engole. Calma. Mãe, olha, o cachorro está do meu lado, está vendo? Não morde, ta bom? Está tudo bem. Vou um metro mais perto de você, olha ele, agora deixa ele brincar aqui com outro cachorrinho, com outras pessoas, ó, cachorro tranquilo, cachorro calmo. Vamos fazer o seguinte, toca só no rabo do cachorro, aí, tocou no rabo, viu que não tem problema, vamos tocar aqui agora nas patas, vamos tocar agora na cauda, vamos fazer um carinho no rosto. Mesma coisa o vaso, vai dessensibilizando no decorrer daquela semana o vaso, você pode por exemplo chegar com tudo preparado, com seu filho de roupa, de roupa, senta no vaso e lê livro no banheiro. Opa! Banheiro é um local agradável, banheiro é um local legal, que não tem nada que acontece de errado aqui, minha mãe lê livro comigo no banheiro. Você vai ali naquele banheiro e você tira daqui a pouco uma peça de roupa, duas peças de roupa, deixa ele só de cuequinha em cima do vaso, ele já viu que agora com acento redutor e calço no pé, tudo certinho, aqui eu me sento certinho, aí você mostra você fazendo cocô, dá tchau pro cocô. Previsibilidade, entendendo o processo, olha que legal, olha que legal esse processo natural. E aí essa criança começa sentir segura. E o que acontece, você inclusive pode ter reforçadores, a partir do momento que você fez aquele, aquela avaliação durante uma semana, ou seja, vou levar ele a cada 50 minutos no banheiro, leva ele pra fazer xixi, fez xixi, parabéns, que legal, que bacana! Você pode por exemplo pegar e comprar uma cartela de adesivo, pegar um livro, um caderno em branco. Filho, olha, pra cada xixi que você fizer você ganha um adesivinho, ele tá lá preenchendo adesivos, se fizer cocô dois adesivos. Ah Thiago, mas estou com uma criança atípica que não fala e tudo mais. Ok, mas ele entende o reforço, parabéns! O cocô, muitas vezes a criança não vai avisar a mamãe, to fazendo cocô, mas se essa criança estiver com trânsito regular bem ajustadinho, você vai perceber que geralmente depois do café, depois do almoço, depois da janta, essa criança ela tem o reflexo gastroecólico, ou seja, o trânsito intestinal começa funcionar de forma mais intensa após a refeições. Nós deveríamos ter esse reflexo muito preservado, mas como nós vivemos em um tempo contemporâneo, que nós saímos cedo, tarde, aquela coisa toda, o intestino as vezes não funciona porque parassimpático, simpático, então nós, o corpo da criança é muito mais virgem. Então você vai perceber que depois do almoço, depois do café da manhã, depois da janta, no finalzinho do dia, ele já escolhe um cantinho, e aquele cantinho fica de pé, você fala é a hora do cocô. Aí você pega ele, sem falar nada, só coloca ele no vaso na hora do cocô, e aí começa aquele processo de parabéns e tudo mais, aí é aquela criança que faz o cocô e parabéns, não sei o que não sei da quantas. Sob nenhuma hipótese, nenhum argumento, façam punições para aquelas crianças que fez xixi, que fez cocô, sob nenhuma hipótese, nenhuma hipótese, penalize seu filho, passe a mão no cocô, coloque ele pra cheirar o coco, faça ele limpar o cocô. Seu filho tem dois anos e meio, três anos e meio, você é demente? Como que você vai fazer isso com a criança? Ó, o que que o cocô está fazendo aqui? Não. Provavelmente é algo que você está fazendo de errado pra essa criança não estar conseguindo. Então muito amor, muito amor com o desfralde, porque vocês vão entender, porque eu atendo pacientes regularmente com encoprese porque os pais não entendem o processo fisiológico, não querem se capacitar, sabe. Investem imensas e imensas horas sobre tudo quanto é porcaria, mas não param pra assistir duas horas de vídeo no youtube sobre desfralde, duas horas. Por um processo que vai resolver a vida deles.
Então estudem sobre desfralde, como eu falei aqui, pega livros, tem livros legais. Opa deixa eu pegar um livro, deixa eu ver isso daqui, será que tem um cursinho de 97 reais? Thiago, e qual que é o problema? Gente, uma consulta, apenas uma consulta, eu não to falando sobre impacto ambiental, a encoprese, sobre os processos psicológicos dessa criança, apenas uma consulta com o pediatra porque seu filho está constipado no mal manejo, já pagou tudo que vocês poderiam comprar de livros, de cursinho, de qualquer coisa, e é exatamente o que vocês estão fazendo aqui. Vocês estão pagando uma aula pra entender esse processo. Thiago, meu filho gosta muito do homem aranha, ótimo. Vamos de homem aranha até o banheiro. Ai, o homem aranha, “pa, pa”, os adesivos do homem aranha lá dentro, entendeu? Então você vai dessensibilizando essa criança, deixando essa criança muito segura, muito confortável, pra que quando chegue no processo do desfralde, ótimo, ali ela faz o cocô e fica bem. Thiago, mas eu tirei a fralda, foi um processo, eu tentei desfraldar deu errado, deu isso, deu aquilo, como começar do início? É, aqui é bem mais complexo, aqui é bem mais amplo, mas o passo básico é voltar do zero, voltar do início e começar revisando todos esses pilares importantíssimos que eu falei aqui pra vocês. Então, considerem o desfralde algo fundamental no desenvolvimento infantil, uma etapa que pode acontecer de forma natural, sem muita pressão, e que ta tudo bem, tudo ótimo. Um processo que talvez precise de sabedoria dos pais, porque se a gente fala que o processo é natural e fisiológico, as crianças de hoje em dia não vivem processos tão naturais e fisiológicos como em outrora, correndo em meio de monte de primo, um faz o cocozinho ali, já ta vendo o outro fazendo cocô, brincando, pulando. As crianças hoje vivem em puleiros de 60, 70, 100, 200 metros quadrados, que seja, um em cima do outro, sem relacionamentos, sem modelo de cópia, o modelo de cópia é o adulto, uma pressão ali da escola sobre o cocô, aquela coisa toda. Mas acima de tudo, quando seu filho precisar de você pro desfralde, tenha noção que é necessário pra que vocês possam ajudá-los neste que é tão importante, então um bom cocô a todos, que seus filhos possam aí realmente desfrutar desse momento agradável, porque é agradável fazer um cocô tranquilo, relaxante, que ajuda ali liberar aquela barriguinha que está distendida, está inchadinha, pra que possa vir mais alimentos, pra ele se sentir menos irritado, estressado. Então, mais uma vez, um bom cocô a todos.
Petição Inicial - TRF03 - Ação de Concessão de Benefício Assistencial Do Loas Ao Portador de Deficiência Com Pedido de Tutela Antecipada - Recurso Inominado Cível