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Aprendizagem da Linguagem Escrita

A escrita decorreu de um processo que Assim, não basta apenas saber ler e
levou aproximadamente três mil anos, escrever, é preciso também fazer uso do
até o aparecimento do alfabeto de 23 ler e do escrever, saber responder às
letras usado pelos romanos durante o exigências da leitura e escrita que a
primeiro século I a.C., e que fora sociedade faz continuamente.
inventado pelos gregos, que o adaptaram
• “Ter-se apropriado da escrita” é
do silabário fenício.
diferente de “ter aprendido a ler e a
 Qual seria, dessa forma, o objetivo da escrever”: aprender a ler e a escrever
escrita? significa adquirir uma tecnologia, a de
codificar em língua escrita e decodificar
O objetivo da escrita não é simplesmente
a língua escrita; apropriarse da escrita é
registrar a fala, e sim transmitir
tornar a escrita “própria”, ou seja, é
mensagens por meio de um sistema
assumí-la como sua “propriedade”.
convencional, que representa conteúdos
linguísticos e que pressupõe uma análise Soares (2004) destaca que um indivíduo
da linguagem. Portanto, a escrita é uma pode não saber ler e escrever, isto é, ser
forma de mediação linguística, criada de analfabeto, mas ser, de certa forma,
acordo com as necessidades de uma letrado (atribuindo a este adjetivo
sociedade que possui demandas cultural. sentido vinculado ao letramento). Assim,
a criança que ainda não se alfabetizou,
 Alfabetização
mas já folheia livros, finge lê-los, brinca
Ao considerarmos essa especificidade da de escrever, ouve histórias que lhe são
aprendizagem da escrita, Nascimento lidas, está rodeada de material escrito e
(1998) aborda o pressuposto de que no percebe seu uso e função, essa criança é
momento da alfabetização propriamente ainda “analfabeta”, porque não aprendeu
dito – o momento posterior àquele em a ler e a escrever, mas já penetrou no
que a criança já descobriu com que tipo mundo do letramento, já é, de certa
de escrita vai trabalhar ou o momento em forma, letrada.
que entra efetivamente na escola – os
alfabetizandos utilizam de maneira
crucial os seus conhecimentos da língua
na construção e organização das
sucessivas representações gráficas da
fala, que os conduzem ao domínio das
regras oficiais de escrita.
 Letramento
O termo letramento originou-se de
 Alfabetização x letramento
literacy, palavra da língua inglesa e,
atualmente, é visto como “o resultado da Sendo assim, um indivíduo alfabetizado não
ação de ensinar ou de aprender a ler e é necessariamente um indivíduo letrado;
escrever: o estado ou a condição que alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler
adquire um grupo social ou um indivíduo e escrever; já o indivíduo letrado, aquele
como consequência de ter-se apropriado que vive em estado de letramento, é não só
da escrita. aquele que sabe ler e escrever, mas aquele
que usa socialmente a leitura e a escrita,
pratica-as, responde adequadamente às
demandas sociais de leitura e de escrita. Em
outras palavras, a alfabetização é a ação de
ensinar/aprender a ler e a escrever e o
letramento é o estado ou condição de quem
não sabe apenas ler e escrever, mas cultiva
e exerce as práticas sociais que usam a
escrita.
 Linguagem escrita x linguagem
 Assim, teríamos de alfabetizar e letrar falada
como duas ações distintas, mas não
inseparáveis, ao contrário: o ideal seria Codificação:
alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a
• Produção da palavra (Input)
ler e a escrever no contexto das práticas
sociais da leitura e da escrita, de modo • Aquisição de informações das regras de
que o indivíduo se tornasse, ao mesmo significação da língua, memórias
tempo, alfabetizado e letrado. sintáticas, semânticas e fonológicas.
• Base para o aprendizado da Ortografia
correta das palavras, mesmo as
irregulares.
Decodificação:
•Conhecimento Ortográfico.
• Associa-se à aquisição de informações
dos fonemas da língua.
• Reconhecimento da palavra (Output)
 Para compreensão dos transtornos da  Ortografia rasa ou transparente:
linguagem escrita faz-se necessário: ortografia transparente é uma
1. Considerar a relação entre leitura e ortografia em que
escrita e suas diferenças quanto ao grau as correspondências entre fonemas e
de complexidade e processamento; grafemas são consistentes. Podemos
ver com maior clareza
2. Considerar a inter-relação existente uma relação entre aquilo que é dito e
entre as modalidades oral e escrita da o que acaba sendo escrito, sem
linguagem e os aspectos que podem diferenças e discrepâncias, são
torná-las fenômenos independentes. palavras regulares: batata, tinta,
lata....
Pode-se, assim, refletir sobre a
 Ortografia profunda ou opaca: trata-
construção do discurso escrito, que
se de palavras irregulares. A forma
pressupõe tanto a compreensão do
que falamos, varia na forma que
processamento de palavras isoladas,
escrevemos. Por exemplo, mecha,
quanto dos aspectos discursivos
exceção, excelente.
propriamente ditos.
 Leitura e escrita: ensino formal; função: a representação puramente
representação alfabética de caráter fonográfica.
abstrato.
 Caminho da construção da escrita
 Oralidade: ambiente sociocultural
infantil:
estimulante; fala composta de sons
isolados, interrelacionados. Observando as outras pessoas
desenharem, as crianças tendem a imitá-
Kleiman assume que nem toda escrita é
las, surgindo, então, a primeira
formal e nem toda oralidade é informal e
manifestação gráfica, as garatujas.
não planejada.
O desenvolvimento da escrita nas
Kato (1986) defende a ideia de que
crianças segue um caminho que pode ser
FALA e ESCRITA são parcialmente
descrito como a transformação de
isomórficas.
rabiscos não diferenciados em sinais
diferenciados. Linhas e rabiscos são
substituídos por figuras e imagens e estas
dão lugar aos signos. Nesta sequência de
acompanhamento está todo o
desenvolvimento da escrita, tanto na
história da civilização quanto no
desenvolvimento das crianças.
 Modelos de aquisição de leitura e
escrita:
(MARSH, FRIEDMAN, WELSH,
 Modelos de aquisição de leitura e
DESBERG, 1981)
escrita:
1. Adivinhação linguística: aquisição
Em seguida o homem utilizou o desenho, de um vocabulário visual; palavras
na sua expressão elementar do traço, são reconhecidas visualmente como
para construir e significar o seu mundo desenhos.
circundante, desenvolvendo formas de 2. Aproximação visual:
apreensão e transmissão do reconhecimento de certas
conhecimento; E logo estaria características gráficas das palavras
aperfeiçoando a comunicação escrita pelas pistas contextuais; similaridade
através da pictografia. Visual entre palavras (tamanho
palavra até letra inicial).
Pictografia: consiste em representar
3. Decodificação sequencial: início do
seres e ideias através do desenho.
processo de decodificação mediante
Escrita Ideográfica: se caracteriza pela aquisição de regras de
escrita ser realizada por meio de correspondência grafema-fonema.
desenhos especiais, chamados 4. Decodificação completa e uso de
ideogramas. regras contextuais para cada novo
estímulo.
Escrita Alfabética: caracteriza-se pelo
uso das letras. Estas tiveram sua origem SEYMOUR, MACGREGOR (1984),
nos ideogramas, mas perderam o valor FRITH (1985)
ideográfico. A escrita assumiu uma nova
1. Logográfica: Há o desenvolvimento 4. Fase alfabética consolidada: total
do léxico logográfico com acesso domínio da correspondência
direto da palavra escrita à memória grafema-fonema; leitura global por
semântica (leitura de logomarcas: memória das correspondências G_F;
coca-cola). reconhecimento automático de
2. Alfabética: a criança inicia o palavras.
processo de associação fonema-
(FERREIRO; TEBEROSKY, 1970)
grafema, podendo decodificar
palavras novas e escrever algumas 1. Pré-silábica: o aprendiz faria a
palavras simples; é preciso que a distinção entre escrever e desenhar.
criança tenha o insigth alfabético que Já seria possível observar a
subjaz às capacidades de decodificar organização linear de suas produções
foneticamente as palavras e dominar gráficas e o uso das letras. A
o princípio alfabético da escrita. produção escrita não seria regulada
por uma análise da linguagem oral.
Obstáculos: co-articulação dos fonemas;
2. Silábica: marco do início da
ortografia profunda com palavras
fonetização da escrita; evolução até à
irregulares.
representação de uma sílaba por letra
3. Ortográfica: O conhecimento sem a repetição de letras ou omissão
ortográfico se consolida, propiciando de sílabas.
uma leitura fluente e com menos 3. Silábico-alfabética: Descoberta de
esforço. há o uso de sequências de que a sílaba pode ser re-analisável
letras e padrões de ortografia para em elementos menores; diante da
reconhecer palavras visualmente. as constatação de que não basta uma
relações entre grafemas são letra por sílaba, não haveria nenhuma
estabelecidas. regularidade na duplicação da
quantidade de letras por sílaba.
(EHRI, 2014)
4. Alfabética: domínio da
1. Fase pré-alfabética: conhecimento de correspondência grafema-fonema;
letras limitado ou ausente; não dificuldades ortográficas.
decodificam e não fazem analogia;
palavras adivinhadas pelo contexto.
2. Fase alfabética parcial:
conhecimento de algumas letras do
alfabeto(nomes). Palavras
familiares; letras iniciais mais pista
do contexto; leve conhecimento
alfabético e consciência fonológica.
Domínio direção da leitura.
3. Fase alfabética completa:
conhecimento extenso da
correspondência grafema-fonema;
amplo conhecimento fonêmico –
palavras não familiares; expansão
léxico visual.

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