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CAPÍTULO 18

UNIDA
Regulação Nervosa da Circulação e o
Controle Rápido da Pressão Arterial

tribuídos para a vasculatura das áreas periféricas. As vias


Regulação Nervosa
precisas dessas fibras na medula espinhal e nas cadeias
da Circulação
simpáticas são discutidas no Capítulo 60.

Como discutido no Capítu- Inervação Simpática dos Vasos Sanguíneos. A


lo 17, o ajuste do fluxo san- Figura 18-2 mostra a distribuição das fibras nervosas
guíneo nos tecidos e órgãos simpáticas para os vasos sanguíneos, demonstrando que na
do corpo ocorre em sua maioria dos tecidos todos os vasos, exceto os capilares, são
maior parte por meio de mecanismos locais de controle. inervados. Os esfíncteres pré-capilares e metarterío- las são
Discutiremos neste capítulo que o controle nervoso da inervados em alguns tecidos como nos vasos sanguíneos
circulação tem funções mais globais, como a redistribui- mesentéricos, embora sua inervação simpática não seja em
ção do fluxo sanguíneo para diferentes áreas do corpo, geral tão densa como nas pequenas artérias, arteríolas e
aumentando ou diminuindo a atividade de bombeamento veias.
do coração, e realizando o controle muito rápido da pres- A inervação das pequenas artérias e das arteríolas permite
são arterial sistêmica. a estimulação simpática para aumentar a resistência ao fluxo
O controle nervoso da circulação é feito quase sanguíneo e, portanto, diminuir a velocidade do fluxo pelos
inteiramente por meio do sistema nervoso autônomo. O tecidos.
funcionamento total desse sistema é apresentado no A inervação dos vasos maiores, em particular das veias,
Capítulo 60, e esse tópico foi também introduzido no torna possível para a estimulação simpática diminuir seu
Capítulo 17. Para a presente discussão, consideraremos as volume. Isso pode impulsionar o sangue para o coração e
características anatômicas e funcionais específicas assim ter um papel importante na regulação do
adicionais, o que será feito a seguir. bombeamento cardíaco, como explicaremos adiante neste e
nos capítulos subsequentes.
Sistema Nervoso Autônomo Fibras Nervosas Simpáticas para o Coração. As
O componente mais importante de longe do sistema fibras simpáticas também se dirigem diretamente para o
nervoso autônomo na regulação da circulação é certamente coração, como mostrado na Figura 18-1 e discutido também
o sistema nervoso simpático. O sistema nervoso paras- simpático, no Capítulo 9. É importante lembrar que a estimulação
no entanto, contribui de modo importante para a regulação simpática aumenta acentuadamente a atividade cardíaca,
da função cardíaca, como descreveremos adiante, neste tanto pelo aumento da frequência cardíaca quanto pelo
capítulo. aumento da força e do volume de seu bombeamento.

Sistema Nervoso Simpático. A Figura 18-1 mostra a Controle Parassimpático da Função Cardíaca,
anatomia do controle circulatório pelo sistema nervoso Especialmente a Frequência Cardíaca. Embora o sistema
simpático. Fibras nervosas vasomotoras simpáticas saem nervoso parassimpático seja extremamente importante para
da medula espinhal pelos nervos espinhais torácicos e pelo muitas outras funções autônomas do corpo, como o
primeiro ou dois primeiros nervos lombares. A seguir, controle das múltiplas ações gastrintestinais, ele
passam imediatamente para as cadeias simpáticas, situadas desempenha apenas papel secundário na regulação da
nos dois lados da coluna vertebral. Daí, seguem para a função vascular na maioria dos tecidos. Seu efeito
circulação por meio de duas vias: (1) por nervos simpáticos circulatório mais importante é o controle da frequência
específicos que inervam principalmente a vasculatura das cardíaca pelas fibras nervosas parassimpáticas para o coração
vísceras intestinais e do coração, como mostrado no lado nos nervos vagos, representados na Figura 18-1 pela linha
direito da Figura 18-1, e (2) quase imediatamente para os vermelha tracejada que parte do bulbo diretamente para o
segmentos periféricos dos nervos espinhais, dis coração.

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Unidade IV A Circulação

Vasos
sanguíneos
Vago

Coração

Vasos
sanguíneos

Figura 18-1 Anatomia do controle nervoso simpático da circulação. A linha vermelha tracejada representa o nervo vago, que leva sinais
parassimpáticos para o coração.

Os efeitos da estimulação parassimpática sobre a função nas Figuras 18-1 e 18-3. Esse centro transmite impulsos
cardíaca foram discutidos de forma detalhada no Capítulo parassimpáticos por meio dos nervos vagos até o coração, e
9. Essa estimulação provoca principalmente acentuada impulsos simpáticos, pela medula espinhal e pelos nervos
diminuição da frequência cardíaca e redução ligeira da simpáticos periféricos, para praticamente todas as artérias,
contratilidade do músculo cardíaco. arteríolas e veias do corpo.
Embora a organização completa do centro vasomotor
Sistema Vasoconstritor Simpático e seu Controle pelo ainda seja incerta, foi possível demonstrar por
Sistema Nervoso Central experimentos algumas de suas áreas importantes:
Os nervos simpáticos contêm inúmeras fibras nervosas 1. Área vasoconstritor a bilateral, situada nas partes ante-
vasoconstritoras e apenas algumas fibras vasodilatadoras. rolaterais do bulbo superior. Os neurônios que se
As fibras vasoconstritoras estão distribuídas para todos os originam dessa área distribuem suas fibras por todos os
segmentos da circulação, embora mais para alguns tecidos níveis da medula espinhal, onde excitam os neurônios
que outros. O efeito vasoconstritor simpático é vasoconstritores pré-ganglionares do sistema nervoso
especialmente intenso nos rins, nos intestinos, no baço e na simpático.
pele, e muito menos potente no músculo esquelético e no 2. Área vasodilatadora bilateral, situada nas partes ante-
cérebro. rolaterais da metade inferior do bulbo. As fibras desses
Centro Vasomotor no Cérebro e seu Controle pelo neurônios se projetam para cima, até a área vasocons-
Sistema Vasoconstritor. A área bilateral referida como tritora descrita; elas inibem sua atividade vasoconstri-
centro vasomotor está situada no bulbo, em sua substância tora, causando assim vasodilatação.
reticular e no terço inferior da ponte, como mostrado
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Capítulo 18 Regulação Nervosa da Circulação e o Controle Rápido da Pressão Arterial

Artérias dois impulsos por segundo. Essa despolarização contínua é

UNIDA
referida como tônus vasoconstritor simpático. Esses impulsos
normalmente mantêm o estado parcial de contração dos
vasos sanguíneos, chamado tônus vasomotor.
A Figura 18-4 demonstra o significado do tônus
vasoconstritor. No experimento dessa figura, foi
administrada anestesia espinhal total do animal, que
bloqueou toda a transmissão dos impulsos nervosos
simpáticos da medula para a periferia. Como resultado, a
pressão arterial caiu de 100 para 50 mmHg, demonstrando
o efeito da perda do tônus vasoconstritor em todo o corpo.
Alguns minutos depois, uma pequena quantidade do
hormônio norepi- nefrina foi injetada no sangue (a
norepinefrina é a principal substância hormonal
vasoconstritora secretada pelas terminações das fibras
nervosas vasoconstritoras simpáticas em todo o corpo).
Quando o hormônio injetado foi transportado pelo sangue
Motora Substância
para os vasos sanguíneos, estes novamente se contraíram e
a pressão arterial aumentou até nível ainda maior que o
Mesencéfalo normal durante 1 a 3 minutos, até a degradação da
Orbital
norepinefrina.
Controle da Atividade Cardíaca pelo Centro
Vasomotor. O centro vasomotor ao mesmo tempo em que
controla a constrição vascular regula também a atividade
cardíaca. Suas porções laterais transmitem impulsos
excitatórios por meio das fibras nervosas simpáticas para o
coração, quando há necessidade de elevar a frequência
Temporal cardíaca e a contratilidade. Por sua vez, quando é
necessário reduzir o bombeamento cardíaco, a porção
mediai do centro vasomotor envia sinais para os núcleos
Ponte dorsais dos nervos vagos adjacentes, que então transmitem
Bulbo impulsos parassimpáticos pelos nervos vagos para o
CENTRO
VASODILATADORAS VASOMOTOR coração, diminuindo a frequência cardíaca e a
VASOCONSTRITORAS contratilidade. Dessa forma, o centro vasomotor pode
aumentar ou diminuir a atividade cardíaca. A frequência e
Figura 18-3 Áreas do cérebro com participação importante na a força da contração cardíaca aumentam quando ocorre
regulação nervosa da circulação. As linhas tracejadas vaso- constrição e diminuem quando esta é inibida.
representam vias inibitórias. Controle do Centro Vasomotor por Centros
Nervosos Superiores. Grande número de pequenos
neurônios situados ao longo da substância reticular da ponte,
3. Área sensorial bilateral situada no trato solitário, nas do mesencéfalo e do diencéfalo pode excitar ou inibir o centro
porções posterolaterais do bulbo e da ponte inferior. Os vasomotor. Essa substância reticular é representada, na
neurônios dessa área recebem sinais nervosos sen- Figura 18-3, pela região de coloração rosa. Em geral, os
soriais do sistema circulatório, principalmente por meio neurônios nas partes mais laterais e superiores da
dos nervos vago e glossofaríngeo, e seus sinais ajudam a substância reticular provocam excitação, enquanto as
controlar as atividades das áreas vasoconstri- tora e porções mais mediais e inferiores causam inibição.
vasodilatadora do centro vasomotor, realizando assim o O hipotálamo tem participação especial no controle do
controle “reflexo” de muitas funções circulatórias. sistema vasoconstritor, por poder exercer potentes efeitos
Exemplo é o reflexo barorreceptor para o controle da excitatórios ou inibitórios sobre o centro vasomotor. As
pressão arterial que descreveremos adiante, neste porções posterolaterais do hipotálamo causam
capítulo. principalmente excitação, enquanto a porção anterior pode
causar excitação ou inibição leves, de acordo com a parte
A Constrição Parcial Contínua dos Vasos Sanguíneos
precisa do hipotálamo anterior que é estimulada.
É Normalmente Causada pelo Tônus Vasoconstritor
Muitas partes do córtex cerebral também podem excitar
Simpático. Em condições normais, a área vasocons- tritora
ou inibir o centro vasomotor. A estimulação do córtex motor,
do centro vasomotor transmite continuamente sinais para
por exemplo, excita o centro vasomotor por meio de
as fibras nervosas vasoconstritoras simpáticas em todo o
impulsos descendentes transmitidos para o hipo-
corpo, provocando a despolarização repetitiva dessas
fibras, com frequência de cerca de meio a

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Unidade IV A Circulação

Figura 18-4 Efeito da anestesia espinhal total sobre a pressão arterial, mostrando a acentuada redução na pressão resultante da perda
do “tônus vasomotor”.

tálamo, e então para o centro vasomotor. Além disso, a


lina, e não norepinefrina, embora se acredite que nos pri- matas o
estimulação do lobo temporal anterior, das áreas orbitais do
efeito vasodilatador seja causado pela epinefrina, que excita os
córtex frontal, da parte anterior do giro cingulado, da amígdala, receptores beta-adrenérgicos na vasculatura muscular.
do septo e do hipocampo pode excitar ou inibir o centro A via de controle pelo sistema nervoso central do sistema
vasomotor, dependendo das regiões estimuladas precisas vasodilatador é demonstrada pelas linhas tracejadas na Figura 18-3.
dessas áreas e da intensidade do estímulo. Assim, diversas A principal área do cérebro que controla esse sistema é o
áreas basais dispersas pelo encéfalo podem afetar hipotálamo anterior.
profundamente a função cardiovascular. A Possível Insignificância do Sistema Vasodilatador
Norepinefrina — A Substância Transmissora da Simpático. Existem dúvidas sobre a importância da participação
Vasoconstrição Simpática. A substância secretada pelas do sistema vasodilatador simpático no controle da circulação nos
terminações dos nervos vasoconstritores consiste quase seres humanos porque o bloqueio completo dos nervos simpáticos
para os músculos praticamente não afeta a capacidade desses
inteiramente em norepinefrina, que age diretamente sobre
músculos de controlar o próprio fluxo sanguíneo em resposta às
os receptores alfa-adrenérgicos da musculatura vascular lisa,
suas necessidades. Ainda assim, alguns experimentos sugerem que
causando vasoconstrição, como discutido no Capítulo 60.
o sistema vasodilatador simpático provoca a vasodilatação inicial
Medulas Adrenais e sua Relação com o Sistema
nos músculos esqueléticos no início do exercício, para permitir o
Vaso- constritor Simpático. Ao mesmo tempo em que os aumento antecipatório do fluxo sanguíneo antes mesmo que os
impulsos simpáticos são transmitidos para os vasos músculos precisem de nutrientes adicionais.
sanguíneos, também o são para as medulas adrenais, Desmaio Emocional — Síncope Vasovagal. Reação vaso-
provocando a secreção tanto de epinefrina quanto de dilatadora particularmente interessante ocorre em pessoas que
norepinefrina no sangue circulante. Esses dois hormônios são apresentam intensos distúrbios emocionais que provocam desmaio.
transportados pela corrente sanguínea para todas as partes Nesse caso, o sistema vasodilatador muscular fica ativado, e ao
do corpo, onde agem de modo direto sobre todos os vasos mesmo tempo o centro vagai cardioini- bitório transmite fortes
sanguíneos, causando geralmente vasoconstrição. Em sinais para o coração, diminuindo de modo acentuado a frequência
alguns tecidos, a epinefrina provoca vasodilatação, já que cardíaca. A pressão arterial cai rapidamente, o que reduz o fluxo
sanguíneo para o cérebro, fazendo com que o indivíduo perca a
ela também tem um efeito estimulador “beta”-adrenér-
consciência. Esse efeito global é chamado de síncope vasovagal. O
gico que dilata os vasos em vez de contraí-los, como
desmaio emocional se inicia com pensamentos perturbadores no
discutido no Capítulo 60.
córtex cerebral. A via segue então provavelmente para o centro
vasodilatador do hipotálamo anterior, próximo aos centros vagais
Sistema Vasodilatador Simpático e seu Controle pelo do bulbo, para o coração, pelos nervos vagos e também pela
Sistema Nervoso Central. Os nervos simpáticos para os medula espinhal, para os nervos simpáticos vasodilatadores dos
músculos esqueléticos contêm fibras vasodilatadoras além das músculos.
constritoras. Em alguns animais, como o gato, essas fibras
dilatadoras liberam em suas terminações acetilco-

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Capítulo 18 Regulação Nervosa da Circulação e o Controle Rápido da Pressão Arterial

latação local, causada pela intensificação do metabolismo

UNIDA
O Papel do Sistema Nervoso no Controle Rápido
das células musculares, como explicado no Capítulo 17.
da Pressão Arterial
Aumento adicional resulta da elevação simultânea da
Uma das mais importantes funções do controle nervoso da pressão arterial em toda a circulação, causada pela
circulação é sua capacidade de causar aumentos rápidos da estimulação simpática durante o exercício. Quando o
pressão arterial. Para isso, todas as funções vaso- exercício é vigoroso, a pressão arterial quase sempre se
constritoras e cardioaceleradoras do sistema nervoso eleva por cerca de 30% a 40%, o que aumenta o fluxo
simpático são estimuladas simultaneamente. Ao mesmo sanguíneo para quase o dobro.
tempo, ocorre a inibição recíproca de sinais inibitórios O aumento da pressão arterial durante o exercício
parassimpáticos vagais para o coração. Assim, ocorrem a resulta, em sua maior parte, do seguinte efeito: ao mesmo
um só tempo três importantes alterações, cada uma tempo em que as áreas motoras do cérebro são ativadas
ajudando a elevar a pressão arterial. Essas alterações são as para produzir o exercício, a maior parte do sistema de
seguintes: ativação reticular do tronco cerebral é também ativada,
aumentando de forma acentuada a estimulação das áreas
1. A grande maioria das arteríolas da circulação sistêmica se
vasoconstritoras e cardioaceleradoras do centro vasomo-
contrai, o que aumenta muito a resistência periférica
tor. Esses efeitos aumentam instantaneamente a pressão
total, aumentando assim a pressão arterial.
arterial para se adequar à maior atividade muscular.
2. As veias em especial se contraem fortemente (embora os outros Em muitos outros tipos de estresse além do exercício
grandes vasos da circulação também o façam), o que desloca muscular pode ocorrer elevação na pressão. Por exemplo,
sangue para fora dos grandes vasos sanguíneos durante o medo extremo, a pressão arterial às vezes
periféricos, em direção ao coração, aumentando o aumenta até 75 a 100 mmHg, em poucos segundos. Essa é a
volume nas câmaras cardíacas. O esti- ramento do chamada reação de alarme, que gera um excesso de pressão
coração então aumenta intensamente a força dos arterial que pode suprir imediatamente o fluxo sanguíneo
batimentos, bombeando maior quantidade de sangue, o para os músculos do corpo que precisem responder de
que também eleva a pressão arterial. forma instantânea para fugir de algum perigo.
3. Por fim, o próprio coração é diretamente estimulado pelo
sistema nervoso autônomo, aumentando ainda mais o Mecanismos Reflexos para a Manutenção da
bombeamento cardíaco. Grande parte desse aumento é Pressão Arterial Normal
provocada pela elevação da frequência cardíaca que às Além das funções do exercício e do estresse do sistema
vezes atinge valor três vezes maior que o normal. Além nervoso autônomo, para elevar a pressão arterial existem
disso, sinais nervosos simpáticos exercem efeito direto muitos mecanismos subconscientes especiais de controle
importante, aumentando a força contrátil do músculo nervoso que operam simultaneamente para manter a
cardíaco, o que também aumenta a capacidade do pressão arterial em seus valores normais ou próximos
coração de bombear maiores volumes de sangue. deles. Quase todos são mecanismos reflexos de feedback
Durante estimulação simpática intensa, o coração pode negativo que explicaremos nas próximas seções.
bombear cerca de duas vezes mais sangue que nas
condições normais, o que contribui ainda mais para a O Sistema Barorreceptor de Controle da Pressão
elevação aguda da pressão arterial. Arterial — Reflexos Barorreceptores
O reflexo barorreceptor é o mais conhecido dos mecanismos
Rapidez do Controle Nervoso da Pressão nervosos de controle da pressão arterial. Basicamente, esse
Arterial.
reflexo é desencadeado por receptores de estira- mento,
Característica especialmente importante do controle
referidos como barorreceptores ou pressorecep- tores,
nervoso da pressão arterial é a rapidez de sua resposta, que
localizados em pontos específicos das paredes de diversas
se inicia em poucos segundos e com frequência duplica a
grandes artérias sistêmicas. O aumento da pressão arterial
pressão em 5 a 10 segundos. Ao contrário, a inibição súbita
estira os barorreceptores, fazendo com que transmitam
da estimulação cardiovascular nervosa pode reduzir a
sinais para o sistema nervoso central. Sinais de “feedback”
pressão arterial até a metade da normal em 10 a 40
são então enviados de volta pelo sistema nervoso
segundos. Portanto, o controle nervoso da pressão arterial é
autônomo para a circulação, reduzindo a pressão arterial
certamente o mais rápido de todos os mecanismos de
até seu nível normal.
controle pressórico.
Anatomia Fisiológica dos Barorreceptores e sua Iner-
Aumento da Pressão Arterial Durante o Exercício vação. Os barorreceptores são terminações nervosas do tipo
Muscular e Outras Formas de Estresse em buquê localizadas nas paredes das artérias; são
estimuladas pelo estiramento. Nas paredes de
Exemplo importante da capacidade do sistema nervoso de
praticamente todas as grandes artérias nas regiões torácica
aumentar a pressão arterial é o aumento da pressão que
e cervical existem poucos barorreceptores; contudo, como
ocorre durante o exercício muscular. Durante o exercício
mostrado na Figura 18-5, os barorreceptores são
intenso, os músculos requerem fluxo sanguíneo muito
extremamente abundantes (1) na parede de cada artéria
aumentado. Parte desse aumento resulta de vasodi-
caró-

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Unidade IV A Circulação

Nervo glossofaríngeo

Nervo de
Hering

Corpo carotídeo
Seio carotídeo

Nervo vago

Figura 18-6 Ativação dos barorreceptores em diferentes níveis


de pressão arterial. Al, variação dos impulsos dos seios
carotídeos por segundo; AP, variação da pressão arterial em
mmHg.
Barorreceptores aórticos

Os barorreceptores respondem rapidamente às


alterações da pressão arterial; de fato, a frequência dos
impulsos aumenta em fração de segundo durante cada
sístole e diminui novamente durante a diástole. Além
disso, os barorreceptores respondem com muito mais rapidez
às variações da pressão que à pressão estável, ou seja, se a
Figura 18-5 O sistema barorreceptor de controle da pressão
arterial. pressão arterial média é de 150 mmHg, mas em dado
momento aumentar rapidamente a frequência da
transmissão de impulsos pode ser até duas vezes maior que
quando a pressão está estacionária, em 150 mmHg.
tida interna, pouco acima da bifurcação carotídea, na área Reflexo Circulatório Desencadeado pelos
conhecida como seio carotídeo e (2) na parede do arco Barorreceptores. Depois que os sinais dos barorreceptores
aórtico. chegaram ao trato solitário do bulbo, sinais secundários
A Figura 18-5 mostra que os sinais dos “barorreceptores inibem o centro vasoconstritor bulbar e excitam o centro
carotídeos” são transmitidos pelos nervos de Hering para os parassimpático vagai. Os efeitos finais são (1) vaso- dilatação
nervos glossofaríngeos na região cervical superior, e daí para das veias e das arteríolas em todo o sistema circulatório
o trato solitário na região bulbar do tronco encefálico. Sinais periférico e (2) diminuição da frequência cardíaca e da força da
dos “barorreceptores aórticos” no arco da aorta são contração cardíaca. Desse modo, a excitação dos
transmitidos pelos nervos vagos para o mesmo trato solitário barorreceptores por altas pressões nas artérias provoca a
do bulbo. diminuição reflexa da pressão arterial, devido à redução da
Resposta dos Barorreceptores à Pressão Arterial. A resistência periférica e do débito cardíaco. Ao contrário, a
Figura 18-6 mostra o efeito de diferentes níveis de pressão baixa pressão tem efeitos opostos, provocando a elevação
arterial sobre a frequência dos impulsos pelo nervo de reflexa da pressão de volta ao normal.
Hering do seio carotídeo. Note que os barorreceptores do A Figura 18-7 demonstra uma típica alteração reflexa da
seio carotídeo não são estimulados pelas pressões entre 0 e pressão arterial, causada pela oclusão das duas artérias
50 a 60 mmHg, mas acima desses níveis respondem de carótidas comuns. Isso reduz a pressão nos seios
modo progressivamente mais rápido, atingindo o máximo carotídeos, resultando na diminuição dos sinais dos
em torno de 180 mmHg. As respostas dos barorreceptores barorreceptores e menor efeito inibitório sobre o centro
aórticos são semelhantes às dos receptores carotídeos, vasomotor, que passa a ser então muito mais ativo que o
exceto pelo fato de operarem em geral em níveis de pressão normal, fazendo com que a pressão arterial aumente e
arterial cerca de 30 mmHg mais elevados. permaneça elevada durante os 10 minutos em que as
Note especialmente que na faixa normal de pressão em carótidas permanecem obstruídas. A remoção da oclusão
que operam de cerca de 100 mmHg, mesmo ligeira permite que a pressão nos seios carotídeos se eleve, e o
alteração da pressão causa forte variação do sinal do baror- reflexo dos seios carotídeos provoca então a queda
reflexo, reajustando a pressão arterial de volta ao normal. imediata da pressão aórtica até nível ligeiramente abaixo
Assim, o mecanismo de feedback dos barorreceptores do normal, como supercompensação reflexa, seguida pelo
funciona com maior eficácia na faixa de pressão em que ele retorno ao normal 1 minuto depois.
é mais necessário.

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Capítulo 18 Regulação Nervosa da Circulação e o Controle Rápido da Pressão Arterial

NORMAL

UNIDA
200 -i , ..................................................................

Figura 18-7 Efeito reflexo típico do seio carotídeo sobre a


pressão arterial aórtica, causado pelo pinçamento das duas
artérias carótidas comuns (após vagotomia bilateral).

Função dos Barorreceptores durante Variações da


Postura Corporal. A capacidade dos barorreceptores de
manter a pressão arterial relativamente constante na parte
superior do corpo é importante quando a pessoa fica em pé,
após ter ficado deitada. Imediatamente após a mudança de
posição, a pressão arterial, na cabeça e na parte superior do Figura 18-8 Registro durante 2 horas da pressão arterial em
corpo, tende a diminuir, e a acentuada redução dessa cão normal (acima) e no mesmo cão (abaixo) várias semanas
pressão poderia provocar a perda da consciência. Contudo, após a desnervação dos barorreceptores. (Redesenhada de
Cowley, AW Jr, Liard JF, Guyton AC: Role of baroreceptor reflex
a queda da pressão nos barorreceptores provoca reflexo
in daily control of arterial blood pressure and other variables in
imediato, resultando em forte descarga simpática em todo dogs. Circ Res 32:564, 1973. Com a permissão da American
o corpo, o que minimiza a queda da pressão na cabeça e na Heart Association, Inc.)
parte superior do corpo.
Função de "Tamponamento" Pressórico do Sistema de caindo para 50 mmHg ou se elevando até 160 mmHg.
Controle dos Barorreceptores. Como o sistema dos Assim, é possível perceber a extrema variabilidade da
barorreceptores se opõe aos aumentos ou diminuições da pressão na ausência do sistema barorreceptor arterial.
pressão arterial, ele é chamado sistema de tamponamento Em resumo, a função primária do sistema barorreceptor
pressórico, e os nervos dos barorreceptores são chamados arterial consiste em reduzir a variação minuto a minuto da
nervos tampões. pressão arterial para um terço da que seria se esse sistema
A Figura 18-8 mostra a importância dessa função de não existisse.
tamponamento dos barorreceptores. A parte superior da Os Barorreceptores São Importantes para a Regulação a
figura mostra o registro da pressão arterial de cão normal Longo Prazo da Pressão Arterial? Embora os
durante 2 horas, e a parte inferior mostra o registro da barorreceptores arteriais executem controle rigoroso
pressão arterial de cão cujos nervos barorreceptores dos momento a momento da pressão arterial, sua importância
seios carotídeos e da aorta foram removidos. Note a na regulação a longo prazo é controversa. A razão pela
extrema variabilidade da pressão do cão desnervado, qual os barorreceptores foram considerados por alguns
causada por eventos simples durante o dia, tais como fisio- logistas relativamente pouco importantes na
deitar, ficar em pé, excitação, alimentação, defecação e regulação crônica da pressão arterial consiste no fato de
ruídos. que eles tendem a se reprogramar para o nível de pressão ao
A Figura 18-9 mostra as distribuições da frequência da qual estão expostos após 1 a 2 dias, isto é, se a pressão
pressão arterial média, registrada durante 24 horas no cão arterial se elevar do valor normal de 100 mmHg para 160
normal e no desnervado. Note que, quando os mmHg, de início ocorrerá descarga com frequência muito
barorreceptores estavam funcionando normalmente, a alta de impulsos. Dentro de alguns minutos, a frequência
pressão arterial média permaneceu restrita à estreita faixa dos impulsos diminui consideravelmente para, em
entre 85 e 115 mmHg, durante todo o dia — de fato, seguida, reduzir-se cada vez mais lentamente por 1 a 2
durante a maior parte do tempo ela se manteve exatamente dias, ao final dos quais retorna quase ao normal, apesar da
em 100 mmHg. Ao contrário, após a desnervação dos manutenção da pressão em 160 mmHg. Ao contrário,
barorreceptores, a curva de distribuição da frequência se quando a pressão arterial cai para um nível muito baixo, os
alargou como a curva inferior da figura, demonstrando que barorreceptores inicialmente não transmitem impulsos,
a variação pressórica aumentou 2,5 vezes, muitas vezes mas de
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Unidade IV A Circulação

milímetros (dois corpos carotídeos localizados na bifurcação


de cada artéria carótida comum e geralmente um a três
corpos aórticos adjacentes à aorta). Os quimiorreceptores
excitam fibras nervosas que, junto com as fibras
barorreceptoras, passam pelos nervos de Hering e pelos
nervos vagos, dirigindo-se para o centro vasomotor do
tronco encefálico.
Cada corpo carotídeo ou aórtico recebe abundante fluxo
sanguíneo por meio de pequena artéria nutriente; assim, os
quimiorreceptores estão sempre em íntimo contato com o
sangue arterial. Quando a pressão arterial cai abaixo do
nível crítico, os quimiorreceptores são estimulados porque
a redução do fluxo sanguíneo provoca a redução dos níveis
de oxigênio e o acúmulo de dióxido de carbono e de íons
hidrogênio que não são removidos pela circulação.
Os sinais transmitidos pelos quimiorreceptores excitam
o centro vasomotor, e este eleva a pressão arterial de volta
Figura 18-9 Curvas de distribuição da frequência da pressão ao normal. Entretanto, o reflexo quimiorrecep- tor não é
arterial, em período de 24 horas em cão normal e no mesmo cão controlador potente da pressão arterial, até que esta caia
várias semanas após desnervação dos barorreceptores.
abaixo de 80 mmHg. Portanto, apenas sob pressões mais
(Redesenhada de Cowley, AW Jr, Liard JF, Cuyton AC: Role of
baroreceptor reflex in daily control of arterial blood pressure and baixas é que esse reflexo passa a ser importante para ajudar
other variables in dogs. Circ Res 32:564,1973. Com a permissão a prevenir quedas ainda maiores da pressão arterial.
da American Heart Association, Inc.) Os quimiorreceptores são discutidos em muito mais
detalhes no Capítulo 41, em relação ao controle respiratório,
no qual têm participação muito mais importante do que no
modo gradual, ao longo de 1 a 2 dias, a frequência dos controle da pressão sanguínea.
impulsos barorreceptores retorna ao nível de controle. Reflexos Atriais e das Artérias Pulmonares Que
Essa “reprogramação” dos barorreceptores pode Regulam a Pressão Arterial. Os átrios e as artérias
atenuar sua potência como sistema de controle para a pulmonares têm em suas paredes receptores de
correção de distúrbios que tendam a alterar a pressão estiramento referidos como receptores de baixa pressão, que
arterial por períodos mais longos que poucos dias. Estudos são semelhantes aos receptores de estiramento das grandes
experimentais, entretanto, sugeriram que os artérias sistêmicas. Esses receptores de baixa pressão
barorreceptores não se reprogramam de forma total, desempenham papel importante, especialmente ao
podendo assim contribuir para a regulação a longo prazo minimizarem as variações da pressão arterial, em resposta
da pressão arterial, especialmente por influenciarem a às alterações do volume sanguíneo. Por exemplo, se 300
atividade nervosa simpática nos rins. Por exemplo, durante mililitros de sangue forem subitamente infundidos em cão
elevações prolongadas na pressão arterial, os reflexos com todos os receptores intactos, a pressão arterial se eleva
barorreceptores podem mediar diminuições da atividade por apenas cerca de 15 mmHg. Se os barorreceptores arteriais
nervosa simpática renal que promove a excreção forem desnervados, a pressão se eleva por cerca de 40
aumentada de sódio e água, o que por sua vez causa mmHg. Se os receptores de baixa pressão também forem
diminuição gradual do volume sanguíneo e ajuda a desnervados, a pressão arterial se eleva por cerca de 100
restaurar a pressão ao normal. Assim, a regulação a longo mmHg.
prazo da pressão arterial média pelos barorreceptores Assim, pode-se ver que apesar dos receptores de baixa
necessita de interação com sistemas adicionais, pressão na artéria pulmonar e nos átrios não serem capazes
principalmente com o sistema de controle rim-líquidos de detectar a pressão arterial sistêmica, eles detectam
corporais-pressão (juntamente com seus mecanismos elevações simultâneas nas áreas de baixa pressão da
nervosos e hormonais), discutidos nos Capítulos 19 e 29. circulação, causadas pelo aumento do volume sanguíneo,
Controle da Pressão Arterial pelos Quimiorreceptores desencadeando reflexos paralelos aos reflexos
Carotídeos e Aórticos — Efeito da Falta de Oxigênio sobre a barorreceptores, para tornar o sistema total dos reflexos
Pressão Arterial. Existe um reflexo quimiorrecep- tor, mais potente para o controle da pressão arterial.
intimamente associado ao sistema de controle pressó- rico Reflexos Atriais que Ativam os Rins — O "Reflexo de
barorreceptor, operando da mesma maneira que este, a não Volume". O estiramento dos átrios também provoca dila-
ser pelo fato da resposta ser desencadeada por tação reflexa significativa das arteríolas aferentes renais.
quimiorreceptores em vez de por receptores de estiramento. Sinais são também transmitidos simultaneamente dos
Os quimiorreceptores são células sensíveis à falta de átrios para o hipotálamo, para diminuir a secreção de
oxigênio e ao excesso de dióxido de carbono e de íons hormônio antidiurético (HAD). A resistência arteriolar
hidrogênio. Eles estão situados em diversos pequenos aferente diminuída nos rins provoca a elevação da pres
órgãos quimiorreceptores, com dimensões de cerca de 2

220
Capítulo 18 Regulação Nervosa da Circulação e o Controle Rápido da Pressão Arterial

são capilar glomerular, com o resultante aumento da fil- fálico: sob baixos níveis de fluxo sanguíneo, no centro

UNIDA
tração de líquido pelos túbulos renais. A diminuição do vasomotor, a concentração local de dióxido de carbono
HAD reduz a absorção de água dos túbulos. A combinação aumenta de modo acentuado, exercendo efeito
desses dois efeitos — aumento da filtração glomerular e extremamente potente na estimulação das áreas de controle
diminuição da reabsorção de líquido — aumenta a perda nervoso vasomotor simpático no bulbo.
de líquido pelos rins e reduz o volume sanguíneo É possível que outros fatores, como a formação de ácido
aumentado de volta aos valores normais. (Veremos lático e de outras substâncias ácidas no centro vasomotor,
também no Capítulo 19 que o estiramento atrial, causado também contribuam para a acentuada estimulação e para a
pelo aumento do volume sanguíneo, desencadeia efeito elevação da pressão arterial. Esse aumento em resposta à
hormonal nos rins — a liberação do peptídeo natriuré- tico isquemia cerebral é referido como resposta isquêmica do
atrial — que contribui ainda mais para a excreção de sistema nervoso central (SNC).
líquido na urina e a normalização do volume sanguíneo.) O efeito isquêmico sobre a atividade vasomotora pode
Todos esses mecanismos que tendem a normalizar o elevar a pressão arterial média de maneira espantosa por
volume sanguíneo, após sobrecarga, atuam indiretamente até 10 minutos a níveis muito elevados de até 250 mmHg. O
como controladores de pressão, bem como do volume, grau de vasoconstrição simpática, causado pela intensa isquemia
porque o excesso do volume aumenta o débito cardíaco e, cerebral, é com frequência tão elevado que alguns dos vasos
portanto, provoca elevação da pressão arterial. Esse periféricos ficam quase ou totalmente obstruídos. Os rins, por
mecanismo reflexo do volume é discutido de novo no exemplo, muitas vezes interrompem de forma total a
Capítulo 29, junto com outros mecanismos de controle do produção de urina, devido à constrição arteriolar renal em
volume sanguíneo. resposta à descarga simpática. Portanto, a resposta isquêmica
Reflexo Atrial de Controle da Frequência Cardíaca (o do SNC é um dos mais importantes ativadores do sistema vaso-
Reflexo de Bainbridge). O aumento da pressão atrial constritor simpático.
provoca também aumento da frequência cardíaca às vezes
por até 75%. Pequena parte desse aumento é causada pelo A Importância da Resposta Isquêmica do SNC
efeito direto do aumento do volume atrial que estira o como Regulador da Pressão Arterial. Apesar da
nódulo sinusal: foi ressaltado, no Capítulo 10, que esse intensidade da resposta isquêmica do SNC, ela não é
estiramento direto pode elevar a frequência cardíaca por significativa até que a pressão arterial caia bem abaixo da
até 15%. Aumento adicional por 40% a 60% da frequência é normal, até níveis de 60 mmHg ou menos, atingindo seu
causado por reflexo nervoso chamado reflexo de Bainbridge. maior grau de estimulação sob pressões de 15 a 20 mmHg.
Os receptores de estiramento dos átrios que desencadeiam Portanto, ela não é um dos mecanismos normais de
o reflexo de Bainbridge transmitem seus sinais aferentes regulação da pressão arterial. Ao contrário, ela atua na
por meio dos nervos vagos para o bulbo. Em seguida, os maioria das vezes como sistema de emergência de controle da
sinais eferentes são transmitidos de volta pelos nervos pressão que age muito rápida e intensamente para impedir maior
vagos e simpáticos, aumentando a frequência cardíaca e a diminuição da pressão arterial, quando o fluxo sanguíneo cerebral
força de contração. Assim, esse reflexo ajuda a impedir o diminui até valor muito próximo do nível letal. Esse mecanismo
acúmulo de sangue nas veias, nos átrios e na circulação pode ser considerado como a “última cartada” no controle
pulmonar. da pressão.

Reação de Cushing ao Aumento da Pressão no


Resposta Isquêmica do Sistema Nervoso Central —
Encéfalo. A reação de Cushing é tipo especial de resposta
Controle da Pressão Arterial pelo Centro
isquêmica do SNC, resultante do aumento da pressão do
Vasomotor do Cérebro em Resposta à Diminuição
líquido cefalorraquidiano (LCR) ao redor do cérebro na
do Fluxo Sanguíneo Cerebral
caixa craniana. Por exemplo, quando a pressão do LCR
A maior parte do controle nervoso da pressão sanguínea é aumenta até se igualar à pressão arterial, ocorre a
realizada por reflexos que se originam nos barorrecep- compressão de todo o cérebro, bem como de suas artérias,
tores, nos quimiorreceptores e nos receptores de baixa bloqueando o suprimento sanguíneo cerebral. Isso inicia a
pressão situados na circulação periférica, fora do cérebro. resposta isquêmica do SNC que provoca elevação da
Entretanto, quando o fluxo sanguíneo para o centro pressão arterial. Quando a pressão arterial aumenta até
vasomotor no tronco encefálico inferior diminui o ficar maior que a pressão do LCR, o sangue passa
suficiente para causar deficiência nutricional — ou seja, novamente a fluir pelos vasos cerebrais, aliviando a
provocando isquemia cerebral —, os neurônios isquemia. Usualmente, a pressão sanguínea atinge novo
vasoconstrito- res e cardioaceleradores no centro nível de equilíbrio ligeiramente maior que a pressão do
vasomotor respondem de modo direto à isquemia, ficando LCR, permitindo o restabelecimento do fluxo sanguíneo
fortemente excitados. Quando isso ocorre, a pressão pelo encéfalo. A reação de Cushing ajuda a proteger os
arterial sistêmica frequentemente se eleva até os níveis centros vitais do encéfalo da perda de nutrição, nos casos
máximos do bombeamento cardíaco. Acredita-se que esse em que a pressão do LCR se eleva o suficiente para
efeito seja causado pela incapacidade do fluxo lento de comprimir as artérias cerebrais.
sangue de eliminar o dióxido de carbono do centro
vasomotor do tronco ence

221
Unidade IV A Circulação

2. Cada vez que a pessoa inspira, a pressão na cavidade


Características Especiais do Controle
torácica fica mais negativa, fazendo com que os vasos
Nervoso da Pressão Arterial
sanguíneos no tórax se expandam. Isso reduz a
quantidade de sangue que retorna para o lado esquerdo
Papel dos Nervos e Músculos Esqueléticos no
do coração, e assim diminui momentaneamente o
Aumento do Débito Cardíaco e da Pressão
débito cardíaco e a pressão arterial.
Arterial
3. As variações da pressão causadas nos vasos torácicos
Embora a maior parte do controle nervoso rápido da
pela respiração podem excitar receptores de estira-
circulação seja realizada pelo sistema nervoso autônomo,
mento vasculares e atriais.
existem pelo menos duas condições nas quais os nervos e
Embora seja difícil analisar as relações exatas de todos
os músculos esqueléticos têm participações importantes
esses fatores causadores das ondas respiratórias da pressão
nas respostas circulatórias.
o resultado final durante a respiração normal é, em geral,
Reflexo da Compressão Abdominal. Quando é aumento da pressão arterial durante a parte inicial da
produzido o reflexo barorreceptor ou quimiorreceptor, expiração, e diminuição no restante do ciclo respiratório.
sinais nervosos são transmitidos ao mesmo tempo pelos Durante a respiração profunda, a pressão sanguínea pode
nervos esqueléticos para os músculos esqueléticos do aumentar e diminuir por até 20 mmHg em cada ciclo
corpo, em especial para os músculos abdominais. Isso respiratório.
provoca a compressão de todos os reservatórios venosos do
abdômen, ajudando a translocar seu sangue em direção ao
Ondas “Vasomotoras" da Pressão Arterial —
coração, que passa a dispor de maior volume para
Oscilação dos Sistemas de Controle Reflexo da
bombear. Essa resposta geral é chamada de reflexo da
Pressão
compressão abdominal. O efeito resultante sobre a circulação Frequentemente, durante o registro da pressão arterial de
é o mesmo causado pelos impulsos vasoconstritores animal, nota-se, além das pequenas ondas de pressão
simpáticos ao comprimirem as veias: aumento do débito causadas pela respiração, ondas muito maiores —
cardíaco e da pressão arterial. O reflexo da compressão ocasionalmente com até 10 a 40 mmHg — que aumentam e
abdominal é provavelmente muito mais importante do que diminuem mais lentamente que as ondas respiratórias. A
se acreditava no passado porque bem se sabe que pessoas duração de cada ciclo varia de 26 segundos no cão
cujos músculos esqueléticos foram paralisados têm anestesiado, a 7 a 10 segundos no ser humano não
tendência muito maior de apresentar episódios de anestesiado. Essas ondas são referidas como ondas
hipotensão que pessoas com músculos normais. vasomotoras ou “ondas de Mayer”. Tais registros são
mostrados na Figura
Aumento do Débito Cardíaco e da Pressão Arterial 18- 10, demonstrando a elevação e diminuição cíclica da
Causado pela Contração da Musculatura Esquelética pressão arterial.
durante o Exercício. Quando os músculos esqueléticos se A causa das ondas vasomotoras é a “oscilação reflexa”
contraem durante o exercício, comprimem os vasos de um ou mais mecanismos nervosos de controle da
sanguíneos em todo o corpo. Até mesmo a antecipação do pressão, entre os quais citamos a seguir.
exercício enrijece os músculos, comprimindo assim os
vasos nos músculos e no abdômen. O efeito resultante é a Oscilação dos Reflexos Barorreceptor e
translocação de sangue dos vasos periféricos para o coração Quimiorreceptor. As ondas vasomotoras da Figura 18-105
e os pulmões e, portanto, aumento do débito cardíaco. Esse são com frequência observadas nos registros experimentais
é efeito essencial que ajuda a aumentar por cinco a sete de pressão, embora sejam em geral muito menos intensas
vezes o débito cardíaco, como ocorre às vezes durante o que as mostradas na figura. Elas são causadas, em sua
exercício muito intenso. Esse aumento, por sua vez, é maior parte, por oscilação do reflexo barorreceptor, isto é, a
ingrediente essencial para o aumento da pressão arterial alta pressão excita os barorreceptores; isso então inibe o
durante o exercício que, em geral, se eleva da média normal sistema nervoso simpático e reduz a pressão alguns
de 100 mmHg para 130 a 160 mmHg. segundos depois. A diminuição da pressão, por sua vez,

Ondas Respiratórias na Pressão Arterial


Em cada ciclo respiratório, a pressão arterial usualmente O) 200 -
X 160 -
aumenta e diminui por 4 a 6 mmHg, de forma ondulante, E
E. 120 -
provocando as ondas respiratórias da pressão arterial. As o 80 -
ondas resultam de vários efeitos diferentes, alguns tendo 1(0
V) 40 -
natureza reflexa, como os seguintes: <n
Ü 0- llllllllllllllllll ............ HUI ......... ..

Q.
1. Muitos dos “sinais respiratórios”, produzidos pelo B
centro respiratório do bulbo, “extravasam” para o
Figura 18-10 A, Ondas vasomotoras causadas pela oscilação
centro da resposta isquêmica do SNC. B, Ondas vasomotoras causadas
vasomotor a cada ciclo respiratório.
pela oscilação do reflexo barorreceptor.

222
Capítulo 18 Regulação Nervosa da Circulação e o Controle Rápido da Pressão Arterial

reduz a estimulação de barorreceptores e permite que o muito intensa no mecanismo de direção do piloto

UNIDA
centro vasomotor fique de novo ativo, elevando a pressão. automático de um avião, e também houver retardo no
A resposta não é instantânea, sendo retardada por até tempo de resposta desse mecanismo, o avião oscilará para
alguns segundos. Essa pressão elevada inicia então outro lá e para cá, em vez de seguir um curso retilíneo.
ciclo, e a oscilação se mantém.
O reflexo quimiorreceptor também pode oscilar, gerando o Referências
mesmo tipo de ondas. Esse reflexo, em geral, oscila ao Cao WH, Fan W, Morrison SF: Medullary pathways mediating specific
mesmo tempo que o reflexo barorreceptor. Provavelmente, sympathetic responses to activation of dorsomedial hypothalamus.
Neuroscience 126:229, 2004.
ele desempenha o papel principal na geração das ondas
Cowley AW Jr: Long-term control of arterial blood pressure, Physiol Rev
vasomotoras, quando a pressão arterial está na faixa entre 72:231,1992.
40 e 80 mmHg porque nesses baixos valores o controle da DiBona GF: Physiology in perspective: the wisdom of the body. Neural
circulação pelos quimiorreceptores circulatórios torna-se control of the kidney, Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol
289:R633,2005. Esler M, Lambert G, Brunner-La Rocca HP, et al:
potente, enquanto o controle pelos barorreceptores está
Sympathetic nerve activity and neurotransmitter release in humans:
mais fraco. translation from pathophysi- ology into clinicai practice.Acta Physiol Scand
177:275, 2003.
Oscilação da Resposta Isquêmica do SNC. O registro Freeman R: Clinicai practice. Neurogenic orthostatic hypotension, N Engl
na Figura 18-lO.A resultou da oscilação do mecanismo de JMed 358:615, 2008.
controle isquêmico da pressão pelo SNC. Nesse Goldstein DS, Robertson D, Esler M, et al: Dysautonomias: clinicai disorders
of the autonomic nervous System. Ann InternMed 137:753,2002. Guyton
experimento, a pressão do LCR foi elevada para 160
AC: Arterial Pressure and Hypertension. Philadelphia:WB Saunders Co, 1980.
mmHg, o que comprimiu os vasos cerebrais e iniciou a Guyenet PG:The sympathetic control of blood pressure, Nat RevNeurosci
resposta da pressão isquêmica do SNC para 200 mmHg. 7:335, 2006.
Quando a pressão arterial atingiu esse valor elevado, a Joyner MJ: Baroreceptor function during exercise: resetting the record, Exp
isquemia cerebral foi aliviada, e o sistema nervoso Physiol 91:27, 2006.
LohmeierTE, DwyerTM, Irwin ED, et al: Prolonged activation of the barore-
simpático foi inativado. Como resultado, a pressão arterial
flex abolishes obesity-induced hypertension, Hypertension 49:1307,
caiu rapidamente para valor muito mais baixo, provocando 2007.
de novo isquemia cerebral. Esta, por sua vez, iniciou nova Lohmeier TE, Hildebrandt DA, Warren S, et al: Recent insights into the
elevação na pressão. A isquemia foi novamente aliviada, e interactions between the baroreflex and the kidneys in hypertension.
Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 288:R828,2005.
a pressão caiu mais uma vez. Esse processo se repetiu de
KetchT, Biaggioni I, Robertson R, Robertson D: Four faces of baroreflex fail-
forma cíclica enquanto a pressão do LCR permaneceu ure: hypertensive crisis, volatile hypertension, orthostatic tachycardia,
elevada. and malignant vagotonia. Circulation 105:2518, 2002.
Desse modo, qualquer mecanismo reflexo de controle Mifflin SW:What does the brain know about blood pressure? News Physiol
da pressão pode oscilar se a intensidade do “feedback” for Sei 16:266, 2001.
Olshansky B, Sabbah HN, Hauptman PJ, et al: Parasympathetic nervous
forte o suficiente e se houver retardo entre a excitação do
System and heart failure: pathophysiology and potential implications
receptor de pressão e a subsequente resposta pressó- rica. for therapy, Circulation 118:863, 2008.
As ondas vasomotoras têm considerável importância Schultz HD, Li YL, Ding Y: Arterial chemoreceptors and sympathetic nerve
teórica, pois demonstram que os reflexos nervosos que activity: implications for hypertension and heart failure, Hypertension
50:6, 2007.
controlam a pressão arterial obedecem aos mesmos
Zucker IH: Novel mechanisms of sympathetic regulation outflow in chronic
princípios aplicáveis aos sistemas mecânicos e elétricos de heart failure, Hypertension 48:1005, 2006.
controle. Por exemplo, se a resposta do feedback for

223

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