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WBA0160_V1.

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Cultura Corporal: Interfaces com a
Psicomotricidade
Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade
Autor: Leonardo Augusto D’Almeida Barros
Como citar este documento: Barros, Leonardo Augusto D´Almeida. Cultura Corporal: Interfaces com a
Psicomotricidade. Valinhos: 2016.

Sumário
Apresentação da Disciplina 05
Unidade 1: Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no
08
processo de aprendizagem vivido na escola
Assista a suas aulas 33
Unidade 2: Representação e comunicação sociocultural pelo movimento 40
Assista a suas aulas 62
Unidade 3: As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com
69
elementos do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica
Assista a suas aulas 87

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Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade
Autor: Leonardo Augusto D’Almeida Barros
Como citar este documento: Barros, Leonardo Augusto D´Almeida. Cultura Corporal: Interfaces com a
Psicomotricidade. Valinhos: 2016.

Sumário
Unidade 4: Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação
94
temporal e espacial
Assista a suas aulas 110
Unidade 5: Percepção da formação da personalidade por meio do movimento 118
Assista a suas aulas 134
Unidade 6: Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consci-
141
ência do corpo
Assista a suas aulas 159

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Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade
Autor: Leonardo Augusto D’Almeida Barros
Como citar este documento: Barros, Leonardo Augusto D´Almeida. Cultura Corporal: Interfaces com a
Psicomotricidade. Valinhos: 2016.

Sumário
Unidade 7: O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais 168
Assista a suas aulas 187
Unidade 8: O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais 194
Assista a suas aulas 211

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Apresentação da disciplina

Ao pensarmos em Educação Infantil, pro- É importante ressaltar que a formação de


vavelmente nos vêm à cabeça inúmeras um educador que reconhece a importância
imagens mentais, como: bebês, crianças, da criança em movimento coaduna-se com
pais que trabalham e precisam deixar seus a relação com a cultura, isto é, um corpo
filhos em segurança, alimentação, higiene, cultural em movimento, que é sujeito his-
proteção, aprendizado, entre outras tantas tórico e de direito, produtor cultural. Este
ideias. Entretanto, além destas representa- olhar crítico e sensível é que devemos trazer
ções, faz-se urgente pensar em corpos em para dentro da escola, atuando com crian-
movimento, aprendizado e desenvolvimen- ças a partir de uma perspectiva de constru-
to a partir da relação entre corpo, mente e ção de um sujeito, de um corpo inteiro que
cultura. necessita de experiências ricas e significa-
Esta disciplina tem como objetivo incluir os tivas para o seu desenvolvimento integral.
corpos das crianças em todo o processo de Sabemos que as instituições de Educação
ensino-aprendizagem, pois entende-se que Infantil, por um longo tempo, foram com-
os corpos devem ser incluídos e valorizados preendidas apenas como lugares para cui-
como inerentes ao processo de desenvolvi- dar das crianças pequenas, mas hoje nossa
mento, findando com a dicotomia entre o sociedade assume que a instituição escolar
corpo e a mente, ou físico-cognitivo. tem como responsabilidade oferecer um es-
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paço rico em estímulos, para que, a partir de na com os gestos, os choros, afagos, mordi-
diferentes abordagens, as crianças possam das, palavras, enfim, uma infinidade de lin-
vivenciar esta etapa educativa tão impor- guagens, que Loris Malaguzzi compreendeu
tante com qualidade, seja em termos de seu com muita propriedade quando escreveu as
desenvolvimento cognitivo, afetivo, social “Cem linguagens das crianças”. Perceba que
ou físico. os bebês e as crianças encontrarão em seus
Assim, nosso objetivo é que você possa re- corpos um mecanismo privilegiado para
fletir que planejar atividades para as crian- estabelecer esta comunicação, portanto, o
ças pequenas perpassa pela compreensão educador não pode furtar-se de perceber
de que elas sentem, pensam e vivenciam o como a criança e seu corpo criam, recriam,
mundo de forma particular e subjetiva. O ressignificam o mundo que as cerca.
que exige que o educador atue exercitando Estas manifestações serão extremamente
uma pedagogia da escuta, o que implica re- importantes, porque manifestam a cons-
conhecer a criança com todos os seus sen- trução do sujeito e sua relação com o co-
tidos. nhecimento/reconhecimento com o mundo
As crianças possuem uma linguagem espe- que lhe é imediato. Se, por um lado, esta é
cífica e própria para se comunicar, e o pro- a beleza da representação do ato educativo
fessor deve reconhecer que esta se relacio- na Educação Infantil, por outro é um grande
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desafio aos educadores. processo de individualização deve ser a
Por fim, todos nós temos a responsabilidade marca da criação do sujeito, o qual possui
de trabalhar em conjunto em prol de uma necessidades educativas, de afeto e ritmos
educação de qualidade, não só no sentido próprios às suas especificidades enquanto
de propiciar às crianças um espaço seguro seres sociais e como indivíduos.
para o seu desenvolvimento, ou ambiente
propício à leitura e escrita, mas especial-
mente na criação de um espaço no qual se-
jam educados e cuidados seus corpos, suas
mentes, sua cultura e sua história.
Em nossa disciplina discutiremos os as-
pectos clássicos da Educação Física rela-
cionados à psicomotricidade, mas também
buscaremos compreender que o processo
de desenvolvimento físico-motor não está
separado do desenvolvimento cultural da
criança, da sua consciência corporal e da
consciência como sujeito. O respeito pelo
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Unidade 1
Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de
aprendizagem vivido na escola

Objetivos

1. Apresentar as principais caracterís-


ticas da trajetória psicomotora das
crianças.
2. Compreender o que são os estágios de
desenvolvimento humano de acordo
com Piaget e Gallahue.
3. Conhecer diferentes relações entre os
estágios e a vida das crianças.

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Introdução

Para iniciarmos nossas reflexões, gostaria de pontuar que o conceito de cultura corporal será o
horizonte de análise que permeará todas as construções conceituais que iremos desenvolver ao
longo desta disciplina. Assim, para que você já possa se apropriar desta categoria conceitual,
apresento que cultural corporal deve ser compreendida como

Acervo de formas de representações do mundo que o homem tem produzido


no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças,
lutas, exercícios, ginásticas, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e
outros que podem ser identificados como formas de representação simbólica
de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente de-
senvolvidas. (SOARES, 1992, p. 38).
O desenvolvimento humano ao qual procuramos nos aproximar é analisado pelo viés educacio-
nal, mas também pela ótica da constituição do corpo-infância e do corpo-vida, tal como o debate
promovido por tantos teóricos contemporâneos, mas especialmente Arroyo e Silva (2012) e Neira
(2008). Nesta trajetória nos interessa perceber que a todo momento somos estimulados e daí a
urgência em refletir sobre a função da Educação Física para a Educação Infantil e suas implicações
para a constituição das representações imagéticas sobre seus corpos.
9/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Neste momento você estudará sobre os es-
tágios de desenvolvimento humano que são Para saber mais
inerentes ao processo de desenvolvimento
dos seres humanos. Nosso objetivo é ana- Recomendo que você leia o artigo “O CUIDADO E
lisar, discutir e valorizar o processo de de- A EDUCAÇÃO ENQUANTO PRÁTICAS INDISSOCI-
senvolvimento da criança antes e durante o ÁVEIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL”. Disponível em:
processo de inserção no contexto escolar. <http://www.anped.org.br/sites/default/fi-
les/gt07-1824.pdf>. Acesso em 29 set. 2016.
Perceba que estamos apresentando um
educador que está atento não somente
aos cuidados de segurança e higiene das Compreendendo que na Educação Infantil o
crianças, os quais são constitutivos da vida cuidado e a educação são indissociáveis, re-
na Educação Infantil, mas também de um fletiremos sobre os arcabouços de Gallahue
profissional que está atento aos diferentes e Ozmun (2003), Go Tani (1988), Piaget
referenciais necessários para educar uma (1977), entre outros, que nos apresentam
criança como um sujeito em processo de diferentes momentos no desenvolvimento
desenvolvimento educativo. humano.
Assim, perceba que nosso objetivo é estabe-
lecer esta interface entre a cultura corporal
10/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
e o desenvolvimento motor, o qual pode ser cação Infantil, e especialmente preocupado
analisado como uma contínua alteração no com o viés de colocar a criança como centro
comportamento motor, durante o processo do planejamento didático-pedagógico.
permanente de aprender a mover-se com
controle e competência, ao longo do ciclo 1. Aproximações do corpo-vida/
da vida, relacionando-se à idade cronoló- corpo-infância
gica, mas independente dela, que apenas
fornece estimativa aproximada, ocorrendo O desenvolvimento da criança em suas di-
da interação das necessidades e exigências mensões biopsicossociais-culturais exige
das tarefas motoras, a biologia do indivíduo que possamos compreender os fundamen-
e as condições do ambiente. (GALLAHUE; tos fisiológicos de seu desenvolvimento para
OZMUN, 2003). que possamos compreender seu corpo-vida
e seu corpo-infância. Uma criança, quando
Estes e outros conceitos serão tratados
nasce, chega ao mundo com os movimentos
nesta e nas demais aulas desta disciplina,
reflexos, tais como: o ato de respirar e sugar.
sempre a partir de diferentes olhares, com
Estas ações são relevantes em termos de
exemplos baseados no cotidiano escolar,
sobrevivência, mas também como uma das
com o objetivo de enriquecer o seu reper-
primeiras relações com o mundo.
tório de possibilidades de atuação na Edu-
11/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
De acordo com Garanhani (s/d, p. 2017),

Na pequena infância o corpo em movimento constitui a matriz básica, em


que se desenvolvem as significações do aprender, devido ao fato de que
a criança transforma em símbolo aquilo que pode experimentar corporal-
mente e seu pensamento se constrói, primeiramente, sob a forma de ação.
A criança pequena necessita agir para compreender e expressar significados
presentes no contexto histórico-cultural em que se encontra.

Para saber mais


Os movimentos reflexos são movimentos involuntários que representam estímulos sensoriais nas crian-
ças, especialmente quando nascem. Quando você coloca o dedo na palma da mão de uma criança e ela
fecha, é um exemplo de movimento reflexo.

12/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Após ao nascimento as interações da criança com o mundo e com o seu próprio corpo tornam-se
cada vez mais intensas. Acompanhar o desenvolvimento motor da criança é fundamental tanto
para seu processo de maturação, crescimento, como para a aquisição e reorganização psicoló-
gica.
Este reconhecimento sobre o próprio corpo, como mordidas e agarradas nos pés, contemplação
das mãos, entre muitos outros, será fundamental para que as crianças possam construir as ha-
bilidades relacionadas ao seu desenvolvimento relacionado ao domínio motor, cognitivo e emo-
cional.
Ainda referente a este processo de desenvolvimento, podemos pontuar que

O desenvolvimento físico normal é caracterizado pela maturação gradual do


controle postural pelo desaparecimento dos reflexos primitivos, em torno de
4 a 6 meses de idade, como o reflexo de Moro; o reflexo tônico cervical assi-
métrico (RTCA); o reflexo de Galant; os reflexos plantares; os reflexos orais e
pela indução das reações posturais (retificação e equilíbrio).
13/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Em uma avaliação dos reflexos primitivos torna-se relevante observar que,
mesmo quando presentes na idade esperada, deve-se avaliar se a sua inten-
sidade é adequada para aquela fase. De modo geral, estes reflexos primitivos
estarão presentes durante os primeiros seis meses de vida, e serão paulati-
namente inibidos, na medida em que padrões de endireitamento e de equi-
líbrio forem surgindo.

Assim, o desenvolvimento motor como processo gradativo de refinamento


e integração das habilidades e dos princípios biomecânicos do movimento,
de modo que o resultado seja um comportamento motor consistente e efi-
caz. A eficácia é alcançada na prática de um comportamento. (CARVALHO,
2011, p. 13).
Perceba que todo este processo será fundamental para o desenvolvimento integral da criança.
Logo em seu primeiro ano de vida, o desenvolvimento das crianças (em sua maioria) é algo muito
dinâmico.
Este desenvolvimento, que também é cultural, implica em perceber que a criança começa a ma-
nifestar suas primeiras predileções, tais como: o bebê que adora determinado brinquedo começa
14/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
a perceber diferentes formas de chegar até
ele, e cada forma com maior eficiência, en- Para saber mais
tão o bebê começa a se arrastar, mas logo
Recomendo que você leia a dissertação “O DE-
depois percebe que pode engatinhar e che-
SENVOLVIMENTO MOTOR NORMAL DA CRIANÇA
gar mais rápido até o brinquedo; neste pro-
DE 0 A 1 ANO: ORIENTAÇÕES PARA PAIS E CUI-
cesso contínuo a exploração sobre o próprio
DADORES”. Disponível em: <http://web.unifoa.
corpo será cada vez mais intensa.
edu.br/portal_ensino/mestrado/mecsma/
O desenvolvimento das funções cognitivas arquivos/37.pdf>. Acesso em 29 set. 2016.
será responsável por influenciar de forma
dinâmica a estruturação do pensamento
lógico. Gostaria de chamar a sua atenção que o de-
senvolvimento motor e cognitivo da crian-
ça não depende apenas de aspectos bioló-
gicos, mas também dos estímulos sociais e
afetivos. A seguir apresento uma imagem
sobre o desenvolvimento de um aspecto da
motricidade dos bebês.

15/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Figura 1 – O desenvolvimento do bebê em relação à psicomotricidade

Fonte: http://psicfadeup.blogspot.com.br/2011/07/desenvolvimento-motor.html. Acesso em 29 de setembro de 2016.

16/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Para Emmi Pilker, este processo de desenvolvimento da motricidade deveria ser livre, pois a ex-
periência da criança faz com que ela amplie suas experiências e necessidades sobre o próprio
corpo.

Enquanto aprende a contorcer o abdômen, rolar, rastejar, sentar, ficar de


pé e andar, (o bebê) não apenas está aprendendo aqueles movimentos,
como também o seu modo de aprendizado. Ele aprende a fazer algo por
si próprio, aprende a ser interessado, a tentar, a experimentar. Ele aprende
a superar dificuldades. Ele passa a conhecer a alegria e a satisfação deri-
vadas desse sucesso, o resultado de sua paciência e persistência. (PILKER,
1940, s/p)
Em seus estudos, Pilker percebeu que a criança que se move em liberdade desenvolve autonomia
e consciência corporal. Diferentemente de seus antecessores, ela refutou a ideia de que seria pa-
pel do adulto “ensinar” à criança as posições para que ela pudesse se desenvolver. O movimento
livre implica que a criança não necessita da intervenção direta do adulto, pois isto não será uma
precondição para a aquisição dos diferentes estágios do desenvolvimento, do equilíbrio e do
movimento em si. Para ela, o fundamental é que a criança esteja em um ambiente que possibilite
17/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
este processo de experimentação, que per-
mita que a criança tenha iniciativa e reflita Para saber mais
sobre o movimento e o corpo. Recomendo que você acesse os domínios sobre
Como você pode analisar, o processo de o desenvolvimento da criança. Disponíveis em:
equilíbrio permite que ela explore seu pró- <http://www.efdeportes.com/efd144/edu-
prio corpo, bem como vivencie todas as cacao-fisica-na-educacao-infantil.htm>
possibilidades de desenvolvimento. Um as- <http://psicfadeup.blogspot.com.
pecto que deve ser ressaltado é que a for- br/2011/07/desenvolvimento-motor.html>
ma como as crianças descobrem o mundo
é diversa, pois está relacionada a processos Acesso em 29 set. 2016.
individuais e inscrita no contexto em que
É dentro deste mesmo espectro que pensa-
cada criança vive. Mas, observe que o cor-
mos no corpo-vida e no corpo-infância de
po-vida cria a ligação entre suas dimensões
nossas crianças, onde a Educação Infantil é
biológica, social e cultural. um lócus privilegiado para que a criança pos-
sa realmente exercitar o seu momento de ser
criança, e isto também implica aprendizagem
corporal. Para Arroyo (2012), o corpo-infân-
cia apresenta-se em constante disputa pelas
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vivido na escola
diferentes instituições, ou seja, o Estado, a 2. Refletindo sobre os estágios
escola, a família, a mídia, a religião expressa de desenvolvimento humano
“marcas e tatuagens históricas das subjetivi-
dades e coletivos sociais”. Lembre-se de que Para que você compreenda o que são es-
este é um corpo biológico e social e o profes- tágios do desenvolvimento, é necessário
sor deve estar atento a este processo, para aprofundarmos nossa análise no processo
que possa compreender a criança como um do desenvolvimento humano, pois ele for-
ser integral. nece importantes referenciais para os edu-
cadores da Educação Infantil. Aponto que a
atual crítica sobre este referencial teórico
Para saber mais está relacionada à questão de não compre-
Recomendo que você leia o artigo “O corpo-in- ender a criança em seu processo de subje-
fância nos “exercícios de ser criança” nas aulas de tivação e de formação enquanto sujeito so-
Educação Física na Educação Infantil e nos anos cial.
iniciais do Ensino Fundamental”. Disponível em: A Psicologia do Desenvolvimento exerceu
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/motri- forte influência sobre as propostas educati-
vivencia/article/viewFile/2175-8042.2015v- vas ao longo do século XX no contexto bra-
27n45p6/30213>. Acesso em 29 set. 2016. sileiro. Assim, apresentamos, na imagem a
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vivido na escola
seguir, dois teóricos dentro desse referencial teórico, Piaget (pirâmide da esquerda) e Gallahue
(pirâmide da direita):
Figura 2 – Pirâmides comparativas entre Gallahue e Piaget

Fonte: O autor, adaptado de <http://www.efdeportes.com/efd193/relacao-entre-


-gallahue-e-ozmun-e-piaget.htm>. Acesso em: 10 nov. 2016.

20/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Para saber mais
Piaget foi um grande estudioso do desenvolvimento humano. Em sua teoria ele subdividiu o desen-
volvimento humano em quatro estágios. Para que você tenha maior conhecimento sobre ele, reco-
mendo que acesse a reportagem sobre sua biografia. Disponível em: <http://www.portaleducacao.
com.br/psicologia/artigos/53974/jean-piaget-biografia>. Acesso em 29 set. 2016.

Para que possamos ser mais assertivos, neste capítulo vamos nos pautar nos dois primeiros es-
tágios da pirâmide baseada em Piaget e nos três primeiros estágios na pirâmide baseada em
Gallahue.
Assim, observe o quadro a seguir, atente-se que apenas abordaremos as fases correspondentes
às faixas etárias presentes na Educação Infantil:

21/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Quadro 1 - Fases do desenvolvimento para Piaget e Gallahue

Fase do desenvolvi- Fase do desenvolvi-


Características Características
mento Piaget mento Gallahue
A partir de reflexos neuroló- Período intrauterino aos 4
gicos básicos, o bebê começa meses: Estágio de Codifica-
a construir esquemas de ação Fase Motora Refle- ção de informações. De 4 me-
Sensório-motor para assimilar mentalmente ses a 1 ano: Estágio de deco-
xiva
(0 a 2 anos) o meio. As noções de espaço dificação das informações.
e tempo são construídas pela (0 a 1 ano)
ação. O contato com o meio é
direto e imediato.

22/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Denominado também como Do nascimento até 1 ano: Es-
estágio da inteligência sim- Fase Motora Rudi- tágio de inibição de reflexos.
bólica – pois a criança con- mentar
De 1 a 2 anos:
segue criar símbolos para (0 a 2 anos)
representar os objetos e lidar Estágio de pré-controle.
Fase Motora Funda- De 2 a 3 anos:
mentalmente com eles. Ca-
mental
racteriza-se pela interiori- Estágio inicial (02 a 03 anos)
Pré-operatório
zação de esquemas de ação (2 a 7 anos) - primeiras tentativas de rea-
(2 a 7 anos) construídos no estágio ante- lização dos movimentos.
rior.
Estágios Elementar (04 a 05
anos) - aprimora-se a sincro-
nização dos elementos tem-
porais e espaciais, porém os
padrões de movimentos são
restritos ou exagerados.
Fonte: O autor.

23/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Compreender estes estágios servirá para diferenças, até por estarem em estágios di-
ser uma vertente dentro do planejamen- ferentes.
to escolar relacionado ao desenvolvimento Tani et al. (1988) afirmam que “pode-se di-
motor, bem como para nos aproximarmos zer que a ordem em que as atividades são
de algumas características que as crianças dominadas depende mais do fator matura-
pequenas poderão apresentar ao iniciarem cional, enquanto o grau e a velocidade em
sua socialização dentro da Educação Infan- que ocorre o domínio estão mais na depen-
til. Gostaria de enfatizar que estes estágios dência das experiências e diferenças indi-
não serão vivenciados de forma igual entre viduais”. Como podemos perceber, dentro
todas as crianças, até porque não podemos desta corrente teórica denominada de “De-
esquecer que elas possuem experiências senvolvimentista”, o fator ambiental é pre-
múltiplas e características singulares. ponderante em relação ao cultural.
Conhecer os estágios do desenvolvimento
é importante ao educador para que saiba
quais os momentos que as crianças podem
estar vivenciando. Mas, novamente enfati-
zo que as fases do desenvolvimento não são
um padrão, uma vez que os alunos possuem
24/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
• Intransitividade: Considerar que o
Para saber mais desenvolvimento pleno das aprendi-
Go Tani é um estudioso da Educação Física, for-
zagens em cada estágio é fundamen-
mado em Educação Física pela Universidade de
tal para a consolidação dos estágios
São Paulo, com mestrado e Doutorado em Hi-
subsequentes e, ainda, que as carac-
roshima University. Dedica a sua vida em estudos
terísticas de cada período são incor-
da Educação Física voltados ao desenvolvimento
poradas de forma qualitativa nas eta-
humano.
pas posteriores;
• Crescimento: Aumento do tamanho e
Dentro da linha desenvolvimentista, além do volume da estrutura;
dos estágios do desenvolvimento, é impor- • Desenvolvimento: Aperfeiçoamento
tante ressaltar que o processo maturacional e aquisição de novas funções.
humano também está pautado nos seguin- Segundo Rosa Neto (2002), o desenvolvi-
tes itens: mento da motricidade compreende: motri-
• Universalidade: Todas as crianças cidade fina; motricidade global; equilíbrio;
esquema corporal; organização espacial;
passarão por todas as fases de desen-
organização temporal e lateralidade.
volvimento;

25/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Para Costa (2008, p. 6):

O termo habilidade motora refere-se ao desenvolvimento do controle mo-


tor, precisão e exatidão na execução dos movimentos fundamentais e es-
pecializados. As habilidades motoras são desenvolvidas e refinadas até o
ponto em que as crianças são capazes de utilizá-las com considerável fa-
cilidade e eficiência dentro de seu ambiente.
Até aqui, vocês tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre o processo de desenvolvimento
humano a partir de uma ótica desenvolvimentista. Isso significa que existe apenas esta análise?
Logicamente que não! Como apresentado no início do capítulo, é apenas uma das múltiplas len-
tes com as quais os educadores podem enxergar os seres humanos.
É importante ressaltar que o desenvolvimento humano vai além das questões motoras, pois sa-
bemos da relevância dos aspectos culturais sobre o processo de constituição de cada indivíduo.
Assim, mesmo refletindo sobre um conteúdo que trata do trabalho com o corpo físico, é funda-
mental pensarmos no ser humano como um todo integrado e não dicotomizado, o que implica
refletir sobre seus aspectos constitutivos (pensar, sentir, agir), rompendo com um “olhar” mecâ-

26/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
nico sobre a criança e um ambiente esco- to pleno da criança. Chamo sua atenção
lar com o objetivo exclusivo de promover o em perceber que é pela compreensão do
bem-estar físico. próprio corpo, de sua corporeidade, como
apontado por Pilker e a motricidade livre,
que a criança irá desenvolver os conceitos e
Para saber mais o esquema corporal.
Recomendo que você leia “As múltiplas lin-
guagens na Educação Infantil”. Disponível em:
<http://www.profala.com/arteducesp145. Para saber mais
htm>. Acesso em 29 set. 2016. Recomendo que assista ao vídeo que irá mos-
trar o desenvolvimento motor da criança a partir
Segundo Mattos e Neira (2002), a Educação de seus movimentos com liberdade. Disponível
Física vai muito além de uma determina- em: <https://www.youtube.com/watch?v=-
da disciplina presente no currículo, pois é 48seR2DRrUw>. Acesso em 29 set. 2016.
considerada, hoje, um meio privilegiado, na
medida em que abrange a pessoa na sua to-
talidade. O caráter de unidade da educação
por meio das atividades físicas é reconhe-
cido como essencial para o desenvolvimen-
27/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Glossário
Desenvolvimento motor: contínua alteração no comportamento motor, durante o processo
permanente de aprender a mover-se com controle e competência, ao longo do ciclo da vida.
Fases do desenvolvimento: Períodos nos quais os seres humanos passam em busca do seu de-
senvolvimento por completo.
Estímulos: Acontecimentos externos que favorecem o desenvolvimento das crianças.

28/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
?
Questão
para
reflexão

Diante do que estudamos até aqui, você já percebeu que


é importante (re)conhecer as crianças que nos chegam
na Educação Infantil como seres humanos dotados de
uma história de vida, que receberam inúmeros estímulos
e estão vivenciando diversas fases de desenvolvimento.
Assim, gostaria que você refletisse: qual a importância
do professor na Educação Infantil conhecer os estágios
de desenvolvimento compreendendo a criança como um
sujeito histórico-cultural e de direitos?

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Considerações Finais

• Os educadores devem ser conhecedores de informações importantes sobre a


trajetória de vida dos alunos até sua chegada à Educação Infantil.
• Reconhecer o corpo como uma ferramenta poderosa de conhecimento do
mundo faz com que o educador valorize o movimentar das crianças.
• É fundamental conhecer e compreender os diferentes autores que estuda-
ram as crianças e elaboraram fases de seu desenvolvimento.
• Fazer relações entre o desenvolvimento humano e as características das
crianças na fase escolar.

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Referências

ARROYO, Miguel G., SILVA, Maurício Roberto da (orgs). Corpo Infância: Exercícios Tensos de ser
criança, por outras pedagogias do corpo. São Paulo, Editora Vozes, 2012.
CARVALHO, M. V. P. O desenvolvimento motor normal da criança de 0 a 1 ano: orientações para
pais e seus cuidadores. Dissertação de Mestrado. Fundação Oswaldo Aranha. Centro Universitá-
rio de Volta Redonda: Programa de Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde e do
Meio Ambiente, 2011.
COSTA, Anderson Dalla. Educação física escolar: uma abordagem desenvolvimentista. São Pau-
lo, 2008
GARANHANI, Marynelma Camargo. O corpo em movimento na Educação Infantil: uma lingua-
gem da criança. Universidade Federal do Paraná. Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/
educere/educere2005/anaisEvento/documentos/pal/PAL001.pdf. Acesso em 13 out. 2016.
GALLAHUE, D. L., OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, ado-
lescentes e adultos. São Paulo, Phorte Editora, 2003.
MATTOS, Mauro Gomes de; NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física Infantil: construindo o movi-
mento na escola. Guarulhos, SP: Phorte Editora, 2002.
PIAGET, Jean. O desenvolvimento do pensamento: equilibração das estruturas cognitivas. Lis-

31/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Referências

boa: Dom Quixote, 1977.


PIKLER, E. What Can Your Baby Do Already? Hungary. English translation, Sensory Awareness
Foundations’ Winter 1994 Bulletin. 1940.
ROSA NETO, Francisco. Manual da Avaliação Motora. Porto Alegre: Artemed, 2002.
SOARES, C. L. et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992
TANI, G., et al. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.

32/219 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: Crianças corpo-vida: Trajetórias Aula 1 - Tema: Crianças corpo-vida: Trajetórias
da cultura corporal e relação corpo/movimento da cultura corporal e relação corpo/movimento
no processo de aprendizagem vivido na escola. no processo de aprendizagem vivido na escola.
Bloco I Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA-
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/0ba-
bf8e44833d4ce671f7f6af902094208d>. 10f5a0187857ada9ea1dc9d77f6db>.

33/219
Questão 1
1. Os estágios do desenvolvimento humano são:

a) Estruturas rígidas onde todas as pessoas passaram da mesma forma.


b) São estruturas que possuem relação com a vida das pessoas.
c) São estruturas que não possuem relação com a vida das pessoas.
d) São estruturas que servem como base de análise do desenvolvimento humano, onde todas
as pessoas passarão por essas etapas.
e) São suposições sobre o desenvolvimento sem fundamento teórico.

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Questão 2
2. O processo de desenvolvimento das crianças no primeiro ano de vida
em sua maioria é:

a) Muito lento em relação às outras etapas da vida.


b) Muito rápido em relação às outras etapas, exceto em alguns casos específicos.
c) Igual a todas as pessoas, não existem razões para ser diferente.
d) Muito rápido em relação às outras etapas da vida e igual para todas as pessoas.
e) Não existem pesquisas que tratam deste tema.

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Questão 3
3. Para Piaget, a fase sensório-motora ocorre entre o seguinte período da
vida da criança:
a) De 0 a 1 ano
b) De 3 a 5 anos
c) De 0 a 5 anos
d) De 0 a 2 anos
e) De 0 a 7 anos.

36/219
Questão 4
4. Para Gallahue, a fase de 0 a 2 anos é denominada:

a) Fase Motora Rudimentar.


b) Fase Sensório-motora.
c) Fase Motora Fundamental.
d) Fase Motora Experimental.
e) Fase Operatório Formal.

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Questão 5
5. Em uma análise do desenvolvimento humano a partir de uma linha
desenvolvimentista, é importante destacar os seguintes quesitos:
a) Universalidade, Criticidade, Crescimento e Desenvolvimento.
b) Universalidade, Intransitividade, Crescimento e Cultura corporal do movimento.
c) Universalidade, Intransitividade, Crescimento e Desenvolvimento.
d) Universalidade, Intransitividade, Criatividade e Desenvolvimento.
e) Universalidade, Interdisciplinaridade, Criatividade e Desenvolvimento.

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Gabarito
1. Resposta: D. 3. Resposta: D.

De acordo com a bibliografia, todas as pes- De acordo com Piaget, a fase Sensório-mo-
soas passarão pelas etapas descritas, salvo tora ocorre na vida da criança entre 0 e 2
casos onde existam limitações intrínsecas anos.
ou extrínsecas às pessoas.
4. Resposta: A.
2. Resposta: B.
De acordo com Gallahue, a fase motora ru-
A fase de 0 a 1 ano é uma fase na qual o ser dimentar ocorre na vida da criança entre 0 e
humano se desenvolve de forma muito di- 2 anos.
nâmica, por exemplo, o fato de controlar os
membros do corpo, sentar, engatinhar e até 5. Resposta: C.
andar.
A Universalidade, Intransitividade, Cresci-
mento e Desenvolvimento são quesitos que
devem ser levados em consideração no de-
senvolvimento humano a partir da aborda-
gem desenvolvimentista.
39/219
Unidade 2
Representação e comunicação sociocultural pelo movimento

Objetivos

1. Compreender a importância da cul-


tura no processo de desenvolvimento
das crianças.
2. Trazer ferramentas para que os edu-
cadores enxerguem as principais in-
formações corporais que os alunos
trazem.
3. Reconhecer a importância das carac-
terísticas culturais trazidas pelos alu-
nos como fundamentos para as ativi-
dades.

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Introdução

No item anterior, estudamos o desenvolvi- do, jogando, dançando, sua observação in-
mento das crianças a partir de uma visão dica um “olhar sensível” sobre o desenvol-
desenvolvimentista, mas também por uma vimento motor, no qual o brincar é um mo-
perspectiva culturalista, que compreende mento privilegiado para o desenvolvimento
a criança como um ser histórico, cultural, infantil, isto é, você analisa o desenvolvi-
social e de direitos. Neste momento iremos mento da criança em termos de equilíbrio,
aprofundar a nossa discussão compreen- força, flexibilidade, mas também em rela-
dendo o desenvolvimento da criança em ção à aquisição cada vez mais complexa da
um contexto no qual o desenvolvimento linguagem, dos processos de socialização
da criança e do movimento vai além do ato e interação social, entre tantos outros. Ou
motor, ou seja, o professor deve transgredir seja, não estamos observando um sujeito
apenas as questões “físicas”, planejando em sua constituição integral e completa.
com as crianças atividades que possam de- Desta forma, observamos e planejamos vi-
senvolver a criança em sua totalidade (cog- vências que vão além de apenas uma perna
nitiva, afetiva social e motora). que chuta uma bola, uma mão que segura
Para começar, é necessário refletir: quando um carrinho ou uma boneca, ou um aglo-
você, educador, está em contato com uma merado de ossos, articulações e músculos
criança (ou um grupo de crianças) brincan- que dança. A partir de agora, você verá que
41/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
existem neste movimento humano, seja ele crianças que ficam deitadas, que sentam,
qual for, signos muito fortes, derivados de que engatinham, que andam, pois para cada
experiências advindas de sua cultura. etapa será necessário compreender suas
E como deverá ser a comunicação com esta necessidades de aprendizagem, bem como
criança? A comunicação deverá ser afetiva, os brinquedos e materiais mais adequados.
porque planejar experiências para as crian-
ças engloba pensar em sua afetividade. O 1. O papel da cultura na vida
que implica em pensar em um corpo que das crianças
adquire cada vez mais consciência corpo-
A criança, desde o momento de sua concep-
ral e expressividade. Lembre-se de que este
ção, já está inserida em um contexto cultu-
movimento é uma forma de estar e viver o
ral, logo ao nascer este processo ocorre por
mundo.
diferentes vieses. Como exemplo podemos
A criança e suas relações culturais permi- imaginar situações como quando a menina
tirão a ampliação do domínio corporal, da nasce: em alguns casos, logo é colocado um
lateralidade e da dominância lateral, bem enfeite de berço que remeta ao conteúdo
como a organização e orientação espaço- simbólico do que é “ser menina”, por exem-
temporal, entre outros. Dentro deste pro- plo, uma boneca, uma sapatilha de balé, etc.
cesso, precisamos pensar em vivências para
42/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
Já com os meninos acontece a mesma coisa, só que geralmente é colocada no berço uma chu-
teira, uma bola, um carrinho, algum emblema de times de futebol, entre outros. Neste sentido,
abordaremos a Educação Física como uma prática educativa que apenas orienta e ensina os sa-
beres corporais institucionalizados de forma mecânica e padronizada. 
Aqui gostaria de realizar uma conceituação importante, a cultura corporal ou a cultura corporal
do movimento é representada por manifestações como: danças, lutas, jogos, esportes e brin-
cadeiras que externalizam a motricidade humana, e este seria o objeto de estudo da Educação
Física.

Nessa concepção, a cultura não é só um conjunto de modos de vida, mas


também práticas que expressam significados que permitem aos grupos hu-
manos regular e organizar todas as relações sociais. Nessa perspectiva, toda
e qualquer ação social expressa ou comunica um significado e, nesse sen-
tido, são práticas de significação, o que indica que cada instituição ou ativi-
dade social cria e precisa de um universo próprio, distinto, de significados e
práticas, isto é, sua própria cultura (Neira, 2008, p. 06).
Perceba que a cultura envolve aspectos materiais e imateriais do capital simbólico de uma so-
ciedade. Por ser valorativo seu significado, bem como seus signos, depende das características
43/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
de cada agrupamento social, o que está re- processo não é unilateral, ou seja, a criança
lacionado com a variabilidade cultural. A não está apenas internalizando a cultura,
cultura é, portanto, uma marca poderosa mas ela está produzindo uma cultura de in-
que acompanhará a criança por toda a sua fância própria.
vida. Os educadores que pretendam formar
crianças de acordo com as suas necessida-
des deverão obrigatoriamente atentar-se a Para saber mais
estas questões tão importantes ao proces- Recomendo que você leia o artigo “REFLEXÕES
so educativo. ACERCA DO CONCEITO DE CULTURA”. Disponível
Desse modo, ações como brincar, dançar, em: <http://publicacoes.unigranrio.com.br/
jogar são formas de expressividade das index.php/reihm/article/viewFile/213/502>.
crianças, em contextos educativos, onde o Acesso em 29 set. 2016.
movimento exprime a cultura corporal de
forma própria e singular. Devemos estar
atentos que estas ações são intencionais
e demonstram as representações que as
crianças fazem do seu meio cultural, reple-
to de sentidos, signos e significados. Este
44/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
Para Gomes (2005), o corpo é um elemento-chave de aporte às práticas culturais, assim, o pla-
nejamento do currículo da Educação Física, na Educação Infantil, exige que o professor compre-
enda que seus conteúdos não são mecânicos, ou seja,

lida com o conteúdo “basquetebol” ou “dança”, o objetivo não deve ser


apenas chegar às formas institucionalizadas/codificadas de movimentar-
-se nessas atividades, ou à conceitualização/teorização como ápice do
processo de ensino e aprendizagem, porém, abrir espaço também para
novas mensagens gestuais, imprevistas e inusitadas (GOMES, 2005, p. 37).
Ao pensarmos no desenvolvimento das crianças, não estamos restritos à questão motora, mas
às questões relacionadas à adaptação a um contexto social e cultural.

Para saber mais


Recomendo que você leia a reportagem “Como a cultura influencia no desenvolvimento da criança”. Dis-
ponível em: <http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2015/06/como-cultura-influencia-no-
-desenvolvimento-da-crianca>. Acesso em 29 set. 2016.

45/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento


Chamo sua atenção para compreender que é necessário o esforço dos gestores e edu-
a linguagem corporal é uma manifestação cadores em compreender sua função social
da cultura. Por isto, pensar em um desen- na formação das crianças. Daólio (2004, p.
volvimento motor com qualidade significa 02) afirma que “cultura é o principal concei-
desenvolver as quatro capacidades moto- to para a Educação Física”, uma vez que as
ras básicas, bem como dialogar com a pro- manifestações culturais, como já apresen-
blematização sobre os aspectos culturais, tamos acima, são expressões das manifes-
privilegiando a construção da criança com tações culturais. E, quando o professor que
autonomia e liberdade. atua na Educação Infantil coloca isto em
seu horizonte de análise, repensa formas de
compreender sua prática pedagógica como
2. A cultural corporal e a cultura complexa e relacionada às outras formas de
dentro da escola conhecer e produzir o mundo.
A escola não é apenas um prédio físico, mas Daólio (2004, p. 3) ainda insiste que o pro-
uma instituição responsável pelo proces- fessor de Educação Física não trabalha com
so de socialização primária das crianças, o corpo ou o movimento de forma aprio-
portanto, para que realmente realize a sua rística, ou seja, não atuamos com o “corpo
missão educativa de formar seres humanos, em si” e tampouco como “o movimento em
si”. “O que irá definir se uma ação corporal
46/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
é digna de trato pedagógico pela educa- alteridade. Nesta direção também devemos
ção física é a própria consideração e análise nos reportar à afirmação de Daólio (2004, p.
desta expressão na dinâmica cultural espe- 10) de que “qualquer abordagem da Educa-
cífica do contexto onde se realiza”. Assim, ção Física que negue esta dinâmica cultural
compreender o desenvolvimento motor da inerente à condição humana correrá o ris-
criança não pode remeter a uma perspecti- co de se distanciar do seu objetivo último:
va tradicional e propedêutica, na qual inte- o homem como fruto e agente da cultura.
ressa somente a dimensão da eficiência do Correrá o risco de desumanizar-se”.
movimento, desconsiderando a sua cons- Assim, um outro ponto crucial é refletirmos
trução cultural, social, política e econômica. sobre o que é ser criança dentro dos dife-
O movimento espontâneo da criança não rentes contextos. Analise a afirmação de
é alvo de ser “corrigido”, “aperfeiçoado” ou Galeano (1999, p. 30)
“padronizado”, uma vez que dele depreen-
de o processo de aquisição da autonomia da
criança.
Podemos refletir sobre as experiências cor-
porais, tais como: colocar a criança em fren-
te ao espelho para que ela possa se reco-
nhecer e começar a criação do conceito de
47/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
Dia após dia nega-se às crianças o direito de ser crianças. Os fatos, que
zombam desse direito, ostentam seus ensinamentos na vida cotidiana. O
mundo trata os meninos ricos como se fossem dinheiro, para que se acos-
tumem a atuar como o dinheiro atua. O mundo trata os meninos pobres
como se fossem lixo, para que se transformem em lixo. E os do meio, os
que não são ricos nem pobres, conserva-os atados à mesa do televisor,
para que aceitem, desde cedo, como destino, a vida prisioneira. Muita ma-
gia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças.
Para o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (2002), em seu artigo 2º, “considera-se crian-
ça, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela
entre doze e dezoito anos de idade”.

Para saber mais


Recomendo que você leia o ECA. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L8069Compilado.htm>. Acesso em 29 set. 2016.

48/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento


Assim, como você pôde perceber, ser crian- De acordo com a LDB 9.394/96, em seu arti-
ça não se relaciona apenas com sua idade go 29: “A educação infantil, primeira etapa
cronológica, mas tem relações intrínse- da educação básica, tem como finalidade o
cas com o que é ser criança na cultura lo- desenvolvimento integral da criança de até
cal. Logo, o professor deve saber que atuará 5 (cinco) anos, em seus aspectos FÍSICO,
junto a crianças com diferentes trajetórias psicológico, intelectual e social, comple-
de vida, mesmo que toda a turma tenha a mentando a ação da família e da comunida-
mesma idade cronológica. O que nos leva a de”. (Grifo nosso).
questionar: qual a necessidade de valorizar-
mos o corpo na Educação Infantil?
Se você respondeu que é muito significati-
vo, está em consonância com nossa discus-
são, pois o corpo carrega a marca da cultura,
pois os corpos-infantis, dependendo de seu
contexto social, carregam marcas de discri-
minação e violência das mais diferentes for-
mas, como raça/etnia, gênero, classe social,
entre tantas outras.
49/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
A criança fora do contexto escolar anda, cai,
Para saber mais chora, ri, bate, apanha, canta, assiste TV,
corre, aprende brincadeiras, ensina brinca-
Recomendo que você leia a LDB e a Lei
deira, passeia, brinca, descobre o mundo e
nº12.796/13, que criou a obrigatoriedade da ma-
o (re)significa. Quando chega o horário da
trícula das crianças com quatro anos completos na
entrada na escola, é impossível que todo
Educação Infantil. Disponível em: <http://www.
esse conhecimento prévio fique de lado,
planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm e
adormecido até a hora da saída. Na verda-
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
de, esse conhecimento é o ponto de partida
ato2011-2014/2013/lei/l12796.htm>. Acesso
para grande parte das atividades realiza-
em 29 set. 2016.
das dentro da escola, sendo assim, é nosso
compromisso a sua valorização.
Além de compreender a criança como um
ser cultural e valorizar seu corpo dentro da
escola, é função da Educação Infantil ofe-
recer espaço rico em estímulos para que as
crianças possam se desenvolver da melhor
forma.

50/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento


te, você está respondendo: o escorregador,
Para saber mais o banco de areia, a gangorra, as árvores, sa-
las de aula, mesas e cadeiras, entre tantas
É importante você, como educador, “passear” no
outras coisas.
entorno do seu local de trabalho. É fato que os
entornos de algumas escolas não são nada convi- Nada disso! A primeira regra é: não seja um
dativos, mas tenha esta experiência, você poderá educador “vidente”, não tente responder
analisar como é a real cultura em que seu aluno pelas crianças o que elas veem! A resposta
está inserido, e assim poder atuar melhor dentro para a pergunta acima é simples: Pergunte
da escola. à criança!
Segunda questão importante a ser trata-
Então vamos lá, o que os educadores que
da, segundo Freire (1993), é abolir a famo-
atuam na Educação Infantil podem fazer
sa abordagem muito adotada nas escolas:
para serem profissionais que respeitam o
“A metodologia do traseiro”, que, segundo
corpo e a cultura corporal do movimento
o autor, funciona mais ou menos assim: a
dos alunos? Para começar a analisar as pos-
única relação importante que o educador
síveis atuações, responda a uma pergunta:
valoriza no processo de aprendizagem dos
O que uma criança vê quando está no par-
alunos é a união das “nádegas” dos alunos
que da escola? Imagino que, provavelmen-
com a “cadeira escolar”, isto é, se o aluno
51/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
está sentado e quieto: Fantástico! O educador está feliz, pois controla seu corpo, seu movimento,
seus sentimentos e expressões. Controlar o corpo e o movimento é uma forma de controlar as
ideias, os questionamentos...

Métodos de confinamento e engorda. Aplicáveis indiferentemente a por-


cos, vacas, galinhas e homens. Atesta-o a metodologia do traseiro, a mais
cruel e frequente nas nossas escolas. Crianças confinadas em salas e car-
teiras, mais imóveis que os bichos que já mencionei. Como se, para apren-
der, fosse necessário o contato permanente do traseiro com a carteira. Mas,
assim como os nazistas o sabiam, o sistema escolar também sabe. O corpo
tem que se conformar aos métodos de controle, caso contrário, as ideias
não podem ser controladas. (FREIRE, 1993, p. 114)

52/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento


Para saber mais
A metodologia do traseiro é um termo utilizado por João Batista Freire, em protesto a inúmeras escolas que
negam o direito de movimento das crianças, valorizando apenas o que é produzido dentro da sala de aula,
enquanto as crianças estão sentadas. Em seu texto “Métodos de confinamento (como fazer render mais
porcos, galinhas, crianças...)”, Freire faz comparações entre as crianças e os demais animais, como vacas e
porcos. Espero que este livro traga um “mal-estar” que instigue repensar as práticas docentes.

Desta forma, trago para você uma reflexão sobre um contexto prático. Para isto, vou me remeter
à pesquisa de Neira (2008, p. 46-47) e à fala de duas professoras pesquisadas por ele sobre a
prática da Educação Física no contexto escolar:

É, não gostei do aquecimento, não do exercício em si, mas da minha co-


locação. Eu estimulava o exercício, mas não controlava a turma. Estava no
meio ao correr, tinha alunos atrás, não conseguia controlar e não tinha a
certeza se estavam fazendo aquecimento.

53/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento


Poderia acontecer alguma coisa e isto é fundamental do ponto de vista
de organização da aula. Outra coisa que eu não gostei tem a ver com essa
questão da organização da aula que é, na parte principal da primeira aula
e mesmo na segunda aula, quando do exercício criei dois grupos que se
confrontam quando poderia eventualmente criar três ou quatro grupos,
isto é, para diminuir a fila de espera e aumentar o empenhamento motor
(Profa. A).

Não gosto quando eles se pegam, por exemplo, quero incutir uma regra,
mas eles estão tão obcecados com outra coisa que apagam, começam aos
berros uns com os outros. Eu estou sempre a dizer a mesma coisa, mas
eles não compreendem. Eles desorganizam-se. Fazem um jogo assim, um
bocado anárquico, faz-me confusão. Acho que é mais isso, a anarquia de-
les e que eu devo também interferir. É obrigação (Profa. B).
É necessário valorizar o movimento humano em sua beleza e totalidade, utilizando-o como fer-
ramenta de aprendizagem. Outra questão importante a ser analisada vai além da bibliografia
educacional, mas também está relacionada ao corpo.
54/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
A expressão “o corpo fala”, de Weil e Tom- nino e ser menina”, esquecendo que
pakow (1980), deve servir de perspectiva este é um momento de experimenta-
para a observação docente, ou seja, uma ção e construção das representações
forma de exercício de seu “olhar sensível” e sociais. Muitos autores se debruçam
que permeia a avaliação diagnóstica do que sobre este tema, como Daniela Finco e
é ser criança, suas formas de se expressar, Ana Lúcia Goulart.
suas brincadeiras, suas formas de falar, de
brincar, enfim, de todos os indícios de nossa
prática pedagógica junto aos alunos.
Para saber mais
Recomendo que você leia o artigo “Crianças
Por último, reflita que quando as crianças
no tempo presente: a sociologia da infância
estão em movimento, o educador não pode
no Brasil”. Disponível em: <http://www.scie-
“colocar suas experiências de criança como
lo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
a experiência correta aos alunos”. Muitos
d=S0103-73072012000200017>. Acesso em
educadores fazem questão de dizer aos
seus alunos o que é ser criança, dar pales- 29 set. 2016.
tras sobre do que as crianças brincam, entre
outros. Mas, qual o risco dessa prática?
• Atribuir conceitos do que é “ser me-
55/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
• Valorização apenas das atividades ça e seus movimentos não significa pos-
que o educador realizava e que propõe tular que exista uma “melhor forma de ser
para os seus alunos. criança”, mas de estimar a comunicação so-
• Transferir seus medos de criança, por ciocultural dos alunos. Este processo exige
exemplo, quando o(a) professor(a) era um empenho do educador em despir-se de
aluno(a), em uma determinada brin- preconceitos, com o objetivo de enriquecer
cadeira quando era aluno(a), caiu e o processo de desenvolvimento psicomotor
se machucou; resumo: nenhum aluno e cultural das crianças, oferecendo uma es-
pode realizar essa atividade porque é cola de Educação Infantil rica de estímulos
“extremamente perigosa”. e, acima de tudo, com significados ao aluno.

Como já apontamos, o corpo é uma das Inúmeros referenciais propõem que a escola
maiores pontes entre a criança e o mundo, seja uma extensão do que acontece fora da
então, em momentos de brincadeiras, jogos, escola, mas ainda nós, educadores, insisti-
danças e fantasias, as crianças apresentam mos em transformá-la em um lugar à parte
o que para elas é o importante, esta deve ser do mundo. É importante que os educadores
a premissa para o nosso trabalho com elas. observem as crianças com todos os seus
sentidos, para forjarmos estratégicas ped-
Observar, compreender e valorizar a crian-
agógicas que permitam que elas constru-
56/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
am sua autonomia, criticidade, de forma a
compreender e intervir na realidade em que
estão inseridas, construindo uma rede de
significados em torno do que se aprende na
escola e do que se vivencia fora dela.

57/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento


Glossário
Cultura corporal: Significados corporais construídos a partir de experiências vividas pelo ser hu-
mano de acordo com sua cultura.
Desenvolvimento integral: Físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação
da família e da comunidade.
Avaliação diagnóstica: Avaliação com o objetivo de avaliar as principais características corpo-
rais e culturais dos alunos a fim de ter informações importantes para guiar o processo educativo.

58/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento


?
Questão
para
reflexão

Daólio (2004) salienta que o conceito de “cultura” é o


principal conceito dentro da Educação Física. Assim, re-
fletindo sobre a abordagem da cultura corporal, indique
quais são os principais pontos que necessitam ser con-
siderados no processo educativo.

59/221
Considerações Finais

• Desde quando nascem, já são embutidos nas crianças significados da


cultura corporal do movimento sobre o que é ser menino e menina.
• Na escola, não existem apenas corpos em movimento, mas signos
culturais importantes impregnados neste corpo, onde um movimen-
to nunca é isolado a ele.
• Analisar e valorizar a “visão” que a criança possui dos fatos e signifi-
cados acima de qualquer pré-conceito do educador, evitando assim
distorções no processo educativo.
• Observar, compreender e valorizar as questões da cultura corporal do
movimento trazidas pelos alunos não significa concordar, mas com-
preender isso como mecanismo propulsor de conhecimento.

60/219
Referências

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_______ Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Rio
de Janeiro: Imprensa Oficial, 2002.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.    
DAÓLIO, Jocimar. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores Associados,
2004.
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própria prática pedagógica. Currículo sem Fronteiras, v. 8, n. 2, pp. 39-54, Jul/Dez, 2008.
WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala: a linguagem silenciosa da comunicação não
verbal: SP: Vozes, 1980.
61/219 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
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Aula 2 - Tema: Representação e comunicação Aula 2 - Tema: Representação e comunicação


sociocultural pelo movimento. Bloco I sociocultural pelo movimento. Bloco II
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Questão 1
1. De acordo com a sua leitura, contexto social é considerado:

a) A análise da realidade de um determinado grupo a partir de relatórios emitidos pela escola.


b) Informações obtidas por órgãos oficiais como IBGE, a fim de relatar situações de risco vividas
pelas crianças.
c) Análise da realidade a partir de informações obtidas pelos educadores e escola como um
todo, a partir do cotidiano escolar, com o objetivo de conhecer a realidade dos alunos.
d) Avaliação das necessidades básicas do público atendido pela instituição escolar em entre-
vistas agendadas com a família dos alunos e comunidade do entorno.
e) Textos elaborados com análises das principais características sociais dos alunos, analisando
as diferentes realidades que vivemos no Brasil.

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Questão 2
2. De acordo com a LDB 9.394/96, educação infantil, primeira etapa da
educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral a partir
do desenvolvimento:

a) Físico, psicológico, intelectual e social, complementando com noção de higiene pessoal.


b) Físico, psicológico, intelectual e social, complementando com a ação da família e da comu-
nidade.
c) Físico, psicológico, intelectual e social, complementando com noções lógico-matemáticas.
d) Físico, psicológico, intelectual e social, complementando o letramento.
e) Físico, psicológico, intelectual e social, complementando com o ensino das artes.

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Questão 3
3. Item fundamental para compreender uma criança é conhecer suas
percepções sobre as coisas. De acordo com o texto, a melhor maneira de
identificar o que uma criança vê é:

a) Aplicar uma ficha de anamnese.


b) Análise do portfólio apresentado pelos educadores dos anos anteriores.
c) Avaliar a criança em movimento, de preferência com outros dois educadores, para evitar
única opinião.
d) Perguntar à criança o que ela vê.
e) Não existem ferramentas consistentes para analisar casos como estes.

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Questão 4
4. A expressão “o corpo fala”, de acordo com o texto, significa:

a) Que a partir de suas formas de se expressar, mesmo sem saber se comunicar verbalmente, a
criança fala a partir de seu corpo.
b) Os sons emitidos por diferentes partes do corpo, a partir de diversas acústicas, são maneiras
de experimentar o seu corpo.
c) O corpo fala, mesmo sem a comunicação verbal, por exemplo, uma criança senta de uma
determinada maneira, isso já identifica sua opção sexual.
d) As crianças que conseguem falar o nome das principais partes do corpo têm maiores chan-
ces de conhecê-lo e utilizá-lo da melhor forma.
e) A fala deve ser acompanhada com muito cuidado, pois a partir dela as crianças se comuni-
cam com o mundo.

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Questão 5
5. O ponto de partida para a realização de atividades corporais com
crianças da Educação Infantil é:

a) A experiência e formação do educador.


b) Análise das estruturas físicas das crianças para que não aconteçam acidentes.
c) Avaliação inicial por pesquisas realizadas com o conselho de escola, a partir das expectativas
da comunidade.
d) A partir da experiência das crianças, criando uma conexão com sua cultura corporal do mo-
vimento.
e) A partir do plano de ensino criado no início do ano.

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Gabarito
1. Resposta: C. balhamos apenas com suposições.

A análise do contexto social dos alunos pos- 4. Resposta: A.


sui maior valor quando realizada pelas pes-
soas envolvidas no dia a dia das crianças. A comunicação humana não existe apenas
pela fala, o corpo humano se comunica de
2. Resposta: B. outras formas, por exemplo, por gestos e
olhar.
Alternativa correta a partir das Informa-
ções contidas na Lei de Diretrizes e B. Lei nº 5. Resposta: D.
9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.
É importante que os educadores valorizem a
3. Resposta: D. cultura corporal do movimento como pon-
to de partida para os demais aprendizados,
Os educadores precisam compreender os pois a partir disso as crianças podem atri-
significados do que as crianças veem em buir maiores significados ao aprendizado.
seu dia a dia, desta maneira podemos aten-
dê-las da melhor forma, caso contrário tra-

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Unidade 3
As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos
do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica

Objetivos

1. Compreender qual a importância das diferen-


tes formas de expressão no desenvolvimento das
crianças.
2. Identificar as principais características das brinca-
deiras, jogos, esportes, lutas e ginástica nas ativi-
dades corporais dentro da Educação Infantil.
3. Reconhecer as atividades como ferramentas para
potencializar o aprendizado, valorizando a cultura
e o desenvolvimento integral dos alunos da Edu-
cação Infantil.

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Introdução

Até este momento discutimos sobre a im- mônio histórico-cultural se fixou pelas ex-
portância do movimento humano para a pressões hoje conhecidas por brincadeiras,
criança, especialmente refletindo sobre esportes, ginásticas, lutas e danças, entre
este processo relacionado à Educação In- outras”.
fantil. Compreendemos que esta criança Agora você conhecerá diferentes formas
é um ser ativo, capaz e protagonista que de expressão do corpo das crianças, como
está em amplo processo de formação tan- brincadeiras, jogos, ginásticas e lutas, e
to biológico como social/cultural. E será o relacionando-as às diferentes formas de
binômio biológico-cultural que significa os abordar as brincadeiras, os jogos, a ginásti-
movimentos da/para a criança. O papel do ca e as lutas dentro da escola.
educador é perceber e identificar em seu dia
a dia estes signos importantes e incorporá- O intuito desta discussão é que você conhe-
-los em práticas significativas com as crian- ça seus alunos, como eles aprendem, qual o
ças. estágio do desenvolvimento em que estão e
o que é significativo a eles, pois esse será o
Dentro da escola possuímos inúmeras ma- ponto de partida.
nifestações culturais e esportivas que ca-
minham lado a lado ao desenvolvimento da A ideia é que você não fique preso às brin-
criança. Segundo Neira (2008), “esse patri- cadeiras, jogos, ginástica ou às lutas, mas

70/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
que possa utilizar este conhecimento no proporcionar um espaço rico e diversificado
trabalho de outras abordagens corporais de estímulos aos alunos, com vivências sig-
com seus alunos. nificativas para que as crianças possam se
desenvolver.
1. A importância das expressões Dessa forma, é importante, antes de tudo,
na Educação Infantil situar e embasar a prática, pois quando o
conteúdo é olhado de maneira fria, é pos-
Este capítulo utiliza o termo “expressões”
sível que o observador julgue que é preciso
porque os jogos, as brincadeiras, as ginás-
apenas reproduzir elementos das brinca-
ticas, as lutas e as demais manifestações
deiras, dos jogos, das ginásticas e das lutas.
corporais apresentam diferentes formas de
Quando o educador se vê na “obrigação” de
expressão corporal, enriquecendo o acervo
cumprir com os preceitos das formas de ex-
dos pequenos alunos.
pressão do corpo, então pode recair em si-
Ao mesmo tempo em que são apresenta- tuações tais como:
das aos alunos atividades de cunho espe-
Reproduzo jogos que me eram significativos
cífico, é importante ressaltar que o objetivo
na minha época escolar.
da Educação Infantil não é “ensinar”, “dida-
tizar” conteúdos de forma específica, mas • Reproduzo danças e coreografias da
71/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
moda ou do meu repertório musical, lares.
ou ainda apenas são abordadas em Para Neira (2008), é função social da Edu-
datas comemorativas. cação Física escolar proporcionar ao aluna-
• Apresento uma modalidade de lutas do das diferentes etapas de escolarização
de uma pessoa que eu conheço, des- uma reflexão pedagógica sobre o acervo
sa maneira “me livro” desse item tão das formas de representação simbólica de
complexo. diferentes realidades vividas pelo homem,
historicamente criadas e culturalmente de-
• As brincadeiras ficam reservadas aos
momentos livres dos alunos (parque, senvolvidas.
recreio).
• Ginástica? Eles já fazem muita quan-
do brincam, ou pior ainda, o(a) edu-
cador(a), com muita força de vontade,
mas sem muito efeito, propõe séries
de exercícios que são aplicados aos
adultos nas academias e locais simi-

72/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
ças, que não se coloca como mera reprodu-
Para saber mais tora de movimento e atividades alienadas,
ao contrário, torna-se um meio de apropria-
Marcos Garcia Neira é professor de Educação Fí-
ção destes saberes. O objetivo do educa-
sica, professor da Universidade de São Paulo.
dor é que seus alunos se reconheçam, bem
Neira defende que nos tempos atuais, a principal
como reconheçam os colegas como impor-
função dos professores, sejam eles de Educação
tantes no seu dia a dia.
Física ou demais áreas, não é mais desenvolver
chutes ou lançamentos, mas sim a análise e refle- Ao analisarmos os conteúdos específicos
xão sobre as produções humanas que envolvem o da dança no trabalho com as crianças, en-
movimento. contraremos a coreografia, a consciência
corporal, o condicionamento físico, mas
As brincadeiras, jogos, lutas, ginástica são
também questões fundamentais como am-
muito importantes para o desenvolvimento
pliação de repertórios, improvisação, a lu-
dos alunos, mas não devem ser abordados
dicidade, a formação estética, simbólica e
como um fim em si mesmos. É importante
cultural. Neste sentido, a criança vivencia a
compreender que são saberes necessários
cultura como uma forma de expressão das
para que cheguemos aos nossos objetivos,
relações que estabelece com o próprio cor-
ou seja, o ato de criação por parte das crian-
po e com o corpo do outro, expressando em
73/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
seus movimentos suas emoções e sua cul- capacidade de agir com o corpo. Uma
tura. criança com uma formação adequada
do esquema corporal terá reflexos em
No tocante aos aspectos da psicomotrici-
aspectos como sua grafia, leitura ex-
dade, a maturação fisiológica permitirá que
pressiva e harmoniosa, ritmo e cadên-
o movimento se torne cada vez mais com-
cia no ato da leitura de textos;
plexo, especialmente no que concerne ao
ritmo, às posições, à autoimagem, permi- b) Equilíbrio: o desenvolvimento desta
tindo uma melhor percepção dos objetos e função encontra-se relacionado às
do próprio espaço. aptidões estáticas e dinâmicas, como
controle da postura e aquisição da lo-
A dança ajudará no desenvolvimento de
comoção e sustentação;
funções como:
c) Organização Latero-Espacial: a fun-
a) Esquema corporal: o qual ajuda na ção da lateralidade será responsável
formação da representação da ima- pela função da dominância do ato
gem que a criança possui sobre seu motor e na consolidação das praxias,
corpo. Salientamos que a relevância organizando de forma adequada suas
da construção do esquema corporal atividades motoras globais;
está diretamente relacionada aos mo-
vimentos do corpo, mas também da d) Ritmo: será responsável pela organi-

74/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
zação periódica dos atos motores, influenciando diretamente na capacidade de organiza-
ção espacial da criança. O ritmo marca diversas atividades humanas, desde o caminhar, até
o próprio ato de dançar.
Isso não significa que todas as atividades devem ser direcionadas, pois o brincar livre é uma ex-
pressão da linguagem e da cultura produzida pela criança, bem como da liberdade em relação
ao seu próprio corpo. Esta expressividade perpassa a autonomia que a criança adquire gradual-
mente, a qual é imprescindível ao seu desenvolvimento.
Perceba que aqui estamos lançando mão de conceitos oriundos da chamada Psicomotricidade
Relacional, a qual pode ser definida como aquela que acredita que

o corpo não é essencialmente cognição, mas também o lugar de toda sen-


sibilidade, afetividade, emoção da relação consigo e com o outro. É visto
como lugar de prazer, de desejo, de frustração e de angústia. Lugar de lem-
branças de todas as emoções positivas e negativas vividas pela criança em
relação com os outros, particularmente, com as figuras parentais. (VIEIRA;
BATISTA; LAPIERRE, 2004, p. 27),

75/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
“ferramenta” é que uma ferramenta não
Para saber mais faz nada sozinha, mas depende de alguém
que saiba usá-la para cumprir a sua função;
Recomendo que você leia o artigo a seguir para
sendo assim, educadores que conhecem
conhecer mais sobre a Psicomotricidade Rela-
sobre o que estão tratando conhecem as
cional. Disponível em: <http://www.pucpr.
diferentes ferramentas para chegarem aos
br/eventos/educere/educere2008/anais/
seus objetivos.
pdf/317_152.pdf>. Acesso em 30 nov. 2016.
As lutas, além de trabalharem as funções
A Psicomotricidade Relacional é compreen- motoras acima mencionadas, também
dida como uma ferramenta para a interven- permitem que as crianças tenham acesso
ção pedagógica junto ao desenvolvimento a esta construção cultural de nossa socie-
infantil. O conceito de ferramenta é muito dade. Além de permitirem reflexões sobre a
utilizado no mundo educacional, pois re- diferença delas em relação a questões as-
força que existe um objetivo maior, onde sociadas à violência.
as atividades são instrumentos para que os Para Neira (2008), são consideradas temá-
educadores possam chegar ao seu objetivo. ticas de ensino todas as manifestações da
Outra analogia feita em relação ao termo cultura corporal: os esportes midiáticos, os
esportes radicais, as danças folclóricas e ur-
76/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
banas, as brincadeiras infantis, os videoga-
mes, as lutas, as artes marciais, as ginásticas Link
construídas e a variedade das formas expres-
A importância dos jogos e Brincadeiras na Educa-
sivas dessa modalidade, entre tantas outras.
ção Infantil. Disponível em: <https://www.you-
Por último, devemos salientar que a ginás- tube.com/watch?v=1RpVz2e5Bq8> Acesso
tica também cumpre uma função educativa em: 10 nov. 2016.
importante, à medida que atividades como
pular, correr, rolar, saltar, balançar, escalar,
equilibrar, rastejar, girar são fundamentais
2. As ferramentas do
para o seu desenvolvimento. Lembre-se de
desenvolvimento psicomotor
que a criança constrói o seu pensamento a
partir da experimentação corporal, logo, a
das crianças
vivência motora é essencial para a constru-
Antes de seguirmos, gostaria de ressaltar
ção do sujeito em sua integralidade.
que o objetivo desta discussão não é dar
“receitas” prontas de como se trabalhar
com as brincadeiras, jogos, ginástica e as
lutas nas escolas, até porque, conforme
você já percebeu, a didática relacionada a
77/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
estas temáticas dependerá do contexto ed- Esperamos que você diga: “corda”!
ucativo no qual você esteja inserido e das Isso não significa que as crianças não ten-
próprias crianças que serão protagonistas ham a oportunidade de aprender e vivenciar
deste processo. Em contrapartida, também outras atividades, pelo contrário, é nosso
não é possível apenas apresentar infor- dever ampliar o repertório motor e cultur-
mações aos alunos, sem proporcionar a eles al de nossos alunos, mas sempre atentando
subsídios para a sua prática. ao que é significativo para eles.
Utilizando a brincadeira, jogo, luta, ginásti-
ca, além das outras manifestações corpo-
rais existentes, é muito importante que o
Para saber mais
O repertório motor está intimamente ligado à ex-
ponto de partida seja a sondagem do que
periência motora das crianças. Para o educador
é significativo às crianças, por exemplo: se
“ajudar” a criança a possuir um robusto reper-
você atua em uma instituição onde algu-
tório, é importante proporcionar que os espaços
mas brincadeiras populares são significati-
sejam ricos em desafios, que as crianças possam
vas para o público, como o pular corda, qual
conviver com os colegas e possam ter momentos
atividade utilizará como ferramenta de en-
para criar o seu próprio conhecimento.
sino?

78/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
Ainda pautado na brincadeira de corda, no seja, usar o seu próprio corpo. Pode ser uma
dia a dia das crianças na escola, a brinca- ferramenta para conhecer os diferentes
deira pode ser realizada como um fim em planos (alto, médio e baixo), ou reproduzir
si mesma ou como ferramenta pedagógica as brincadeiras populares da sua região.
que leva a determinado ponto.
Só relembrando: esta proposta atende às
diferentes fases do desenvolvimento hu- Link
mano? Lembre-se, existem inúmeras car- Conheça diversas brincadeiras de corda, acessan-
acterísticas que são levadas em consider- do o link disponível em: <http://mapadobrincar.
ação, como questões familiares, culturais, folha.com.br/brincadeiras/corda/indice/>
religiosas. Sendo assim, alguns exemplos Acesso em: 10 nov. 2016.
abaixo acabam por se dissolver na rotina de
uma escola.
Vamos lá: a mesma corda, para as crianças A partir de dois anos, a mesma corda pode
de até dois anos, pode ser uma ferramen- se tornar uma cobra, um cipó ou algo que o
ta de exploração, algo que “os pequenos” próprio grupo define, por exemplo, a corda
podem pegar, puxar, se pendurar, bater, ou em uma contação de história. Assim, levar

79/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
em consideração o momento das crianças é a educação é construída com pouquíssimo
central para estimular a questão motora, ao corpo, como diz João Batista Freire (1989),
mesmo tempo que traz consigo o simbolis- ao passo que deveria ser feita de corpo in-
mo característico da fase ou faixa etária que teiro!
está sendo vivenciada por cada criança.
Quando tratamos de lutas, geralmente nos
Já as crianças acima de quatro anos, com a deparamos com um frenesi causado no con-
mesma corda, podem ser estimuladas pelo texto escolar, como se luta fosse sinônimo
educador a criar jogos que trabalhem habil- de violência, especialmente se ela for ad-
idades diversas, como ritmo, saltos, lateral- otada como conteúdo da Educação Infan-
idade etc.
til. Ao contrário do senso comum, sabemos
Independentemente da faixa etária e local que estas são atividades ricas nas questões
de trabalho, é fundamental que o educador motora e culturais. Assim, se executada por
sempre proporcione aos alunos novos desa- profissionais com a visão de ser humano e
fios motores e que sejam logicamente sig- não de reprodução ou performance, o tra-
nificativos. balho com lutas na Educação Infantil surte
O importante nesse processo é a valorização benefícios múltiplos, tais como: autocon-
do movimento como construtor de conhe- fiança, valores de paz, concentração, entre
cimento e da cultura, já que, muitas vezes, muitos outros.
80/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
Na prática da Alfabetização Corporal, isso fórmulas e de construção e transformação
quer dizer que, desde a Educação Infantil de cultura.
até o Ensino Médio, nossos alunos devem
ser respeitados na sua motivação e no seu
interesse pela brincadeira, jogo, ginástica e
Para saber mais
luta. Leia “Os principais conceitos da Alfabetização
Corporal”, disponível em <http://novaescola.
As brincadeiras de pular corda, o pega-
org.br/educacao-fisica/fundamentos/no-
pega, a cabra cega, bola ao cesto, seja na
vo-status-expressao-corporal-423950.sht-
Educação Infantil, seja no Ensino Médio, são
ml?page=1> Acesso em: 10 nov. 2016.
formas de jogo, obviamente cada um den-
tro de um grau específico de complexidade.
Independentemente do elemento tra-
Um jogo que no presente é entendido como
balhado na escola (luta, jogos, ginástica ou
um espaço de “trabalho” que envolve pro-
dança), é fundamental que o professor seja
dução, compromisso, regra, participação e
capaz de trazer significação para as propos-
cooperação, mas que abre portas para o fu-
tas, o que exige a compreensão do processo
turo, já que se configura também como um
de aprendizagem como algo dinâmico. Além
espaço fértil de transgressão, de ressignifi-
disso, é importante que o profissional esteja
cação, de liberdade, de ruptura com velhas
81/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
despido de qualquer tipo de pré-julgamento Agora, o mais importante é a qualificação do
ou estereótipos preconceituosos, especial- exercício de sua prática, onde é importante
mente se as atividades realizadas não sejam ressaltar que as atividades por si só não são
de sua preferência. O ponto crucial é dar voz garantia de sucesso e de desenvolvimento.
aos alunos e realizar uma escuta ativa, pois, A atuação de um educador atento, embasa-
de acordo com um dos maiores educadores do e comprometido não com a perfeição dos
contemporâneos, Paulo Freire (1997), escu- movimentos, mas com o desenvolvimento
tar o aluno não significa que você concor- pleno das crianças, é a ação mais significa-
da com ele, mas entende estas informações tiva deste espetáculo chamado educação.
como importantes.
Você percebe o quanto é importante a atu-
ação dos educadores nas práticas corporais
na Educação Infantil?
Você reconhece a importância das brinca-
deiras, jogos, lutas e ginásticas como ele-
mentos fundamentais no desenvolvimento
humano?

82/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
Glossário
Jogo como ferramenta: Abordagem na qual o jogo não entra como objetivo da aula, mas ferra-
menta para que os objetivos sejam alcançados da melhor forma.
Atividades receitas: São atividades prontas, com conduta rígida, nas quais não são permitidas
adaptações à realidade de cada grupo.
Construtor do conhecimento: Termo segundo o qual se considera o aluno como protagonista
na construção do conhecimento, adaptando as regras conforme as suas habilidades e necessi-
dades.

83/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
?
Questão
para
reflexão

Dentro das escolas de Educação Infantil, quando trata-


mos de atividades da cultura corporal do movimento, as
brincadeiras, jogos, esportes, lutas e ginástica são ins-
trumentos catalisadores da aprendizagem significativa.
Assim, reflita como estas práticas ajudariam no desen-
volvimento pleno das crianças.

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Considerações Finais

• O educador precisa desenvolver atividades que tenham qualidade social e


estejam focadas no desenvolvimento global da criança dentro da Educação
Infantil.
• A Educação Infantil deve trabalhar com conteúdos amplos, proporcionando
a diversidade de possibilidades e um repertório rico de oportunidades.
• É fundamental que em todas as atividades propostas pelo educador, ele te-
nha um olhar atento ao que é realmente importante para o grupo em ques-
tão, para assim escolher a melhor abordagem do conteúdo.
• O professor não deve selecionar as atividades a serem realizadas dentro dos
jogos, brincadeiras, lutas, ginástica somente a partir de sua experiência ou
tendências do momento, mas sim atender inicialmente o que possui maior
significado ao público.

85/219
Referências

FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione,
1989.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1997.
NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Pedagogia da cultura corporal: crítica e alternativas. São Paulo:
Editora Phorte, 2008.
VIEIRA, J. L.; BATISTA, M. I.; LAPIERRE, A. Psicomotricidade relacional: a teoria de uma prática. 2.
ed. Curitiba: Filosofart / CIAR, 2004.

86/219 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
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Aula 3 - Tema: As diferentes formas de expres- Aula 3 - Tema: As diferentes formas de expres-
são do corpo e sua construção histórica:o brin- são do corpo e sua construção histórica:o brin-
car com elementos do jogo, do esporte, das lu- car com elementos do jogo, do esporte, das lu-
tas, da ginástica. Bloco I tas, da ginástica. Bloco II
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ce9a0501d2379c561a2f5b24a6f3374f>. 2d7656e1fcd5c250db2454dcac8dfbc5>.

87/219
Questão 1
1. Ao trabalhar com jogos na Educação Infantil, de acordo com o texto, o
principal risco é:

a) Que as crianças se machuquem, causando problemas aos professores.


b) Proporcionar jogos tipicamente femininos aos meninos da turma.
c) Selecionar jogos a partir somente de experiências vividas pelos professores.
d) A falta de materiais adequados para as atividades, prejudicando o desenvolvimento das ati-
vidades.
e) A falta de espaços adequados para as práticas corporais.

88/219
Questão 2
2. A prática das lutas nas escolas de Educação Infantil pode ser
considerada:

a) Uma oportunidade para as crianças aprenderem a se defender dos perigos que existem em
volta das escolas.
b) Uma ferramenta pedagógica importante, pois traz consigo habilidades importantes ao de-
senvolvimento corporal das crianças, além de aspectos culturais.
c) Uma forma de difundir a selvageria dentro das escolas, na contramão de todo trabalho rea-
lizado pelos educadores em trazer paz para dentro das escolas.
d) Ferramenta fantástica de aprendizado aos alunos, além disso, uma grande oportunidade de
encontrarmos talentos para no futuro representar o Brasil.
e) O PCN proíbe a prática de lutas dentro das escolas de Educação Infantil, por entender que as
crianças ainda não possuem maturação para práticas deste tipo.

89/219
Questão 3
3. A ginástica na Educação Infantil pode ser considerada como:

a) Promoção da saúde.
b) Aprendizado sobre a importância de ter momentos fitness na vida cotidiana.
c) Importante ferramenta de aprendizagem corporal.
d) Canal de comunicação entre o mundo dos adultos e o mundo das crianças.
e) Importante ferramenta de combate à obesidade infantil e outras tantas doenças que hoje
assolam as crianças.

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Questão 4
4. Os materiais são muito importantes para que as diferentes atividades
aconteçam. De acordo com o texto, nós, como educadores, devemos levar
em consideração as seguintes questões:

a) A qualidade do material.
b) Se o material está de acordo com a idade das crianças.
c) A classificação indicativa escrita nos diferentes materiais para não cometermos atos falhos.
d) A quantidade de crianças, para que possamos proporcionar que cada criança tenha a opor-
tunidade de ter pelo menos um material.
e) As principais características das crianças para que o material seja uma ponte na construção
das brincadeiras e favorecendo o aprendizado e o simbolismo.

91/219
Questão 5
5. De acordo com o texto, a alfabetização corporal deve:

a) Apresentar às crianças o alfabeto para que possam aprender a ler e escrever de maneira
mais dinâmica.
b) Respeitar a motivação das crianças e no seu interesse pelas atividades corporais, assim agin-
do em seu desenvolvimento de maneira integral.*
c) Segundo a dinâmica da alfabetização corporal, quando a criança conhece pelo menos uma
atividade que inicie com cada letra do alfabeto, podemos dizer que seu repertório motor
está desenvolvido.
d) Respeitar o cronograma de aprendizagem, disponibilizado pelo professor, para que as crian-
ças cheguem ao seu objetivo final, a alfabetização.
e) Acompanhar o novo plano nacional de educação, onde todas as crianças devam ser alfabe-
tizadas até o final da Educação Infantil.

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Gabarito
1. Resposta: C. da ginástica e incorporar a ela a ludicidade
das crianças.
Se apenas parto das experiências dos edu-
cadores, corro o risco de trazer atividades 4. Resposta: E.
carregadas de verdades absolutas e com um
fim pronto. Os materiais facilitam o aprendizado, o
principal item que temos que levar em con-
2. Resposta: B. sideração no trabalho motor com crianças
é: quais são os objetivos da atividade pro-
As lutas são atividades ricas nas questões posta.
motoras, culturais e atitudinais; quando
abordadas de maneira correta, tornam-se
5. Resposta: B.
um componente fundamental para o de-
senvolvimento integral das crianças. Devemos atentar à motivação das crianças
em relação às atividades, pois é o ponto de
3. Resposta: C. partida para que os educadores, juntamen-
te aos alunos, possam construir conheci-
A ginástica dentro da Educação Infantil é mentos consistente e transformadores.
totalmente diferente do universo adulto. É
importante apropriar-se das características
93/219
Unidade 4
Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e
espacial

Objetivos

1. Valorizar a cultura corporal do movi-


mento como ferramenta inerente ao
desenvolvimento dos alunos da Edu-
cação Infantil.
2. Conhecer as principais características
da orientação espacial e temporal na
vida das crianças.
3. Identificar possíveis atividades que
contemplem o trabalho de orientação
espacial e temporal de cada grupo.

94/219
Introdução

Nossa proposta é que você seja sensibiliza- to escolar, contudo, procuramos uma abor-
do para a atuação na Educação Infantil, que dagem que não seja dicotomizada ou que
é uma modalidade muito importante para privilegie o cognitivo em detrimento de ou-
o desenvolvimento integral das crianças. tras funções, pois temos a crença de que
Acredito que você compreenda que a princi- somente compreendendo o indivíduo como
pal linguagem a ser tratada com as crianças um corpo-infância é possível pensar em seu
é o brincar, porque, além de ser uma prática desenvolvimento integral.
social, é fundamentalmente a prática mais
significativa dentro do seu desenvolvimen-
to.
É neste contexto que devemos identificar
e valorizar as características culturais dos
alunos e como sua cultura pode ser agre-
gada ao ensino das brincadeiras, jogos, lu-
tas, entre outras manifestações corporais e
culturais. Perceba que estamos privilegian-
do o desenvolvimento do universo motor
das crianças e sua importância no contex-
95/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Você, educador, consciente de seu papel
dentro da escola, é a mola propulsora do
Para saber mais desenvolvimento humano, pois cria opor-
tunidade de as crianças passarem por todas
O ato de executar na Educação Infantil vai além
as etapas (apreciar, executar, criar e refletir),
do apenas realizar uma atividade corporal, é um
como uma grande corrente do aprendizado.
conjunto de ações onde estimulamos a expressão
das crianças em sua totalidade. Além disso, o exe- Para que você entenda essa grande corren-
cutar a partir destes preceitos trabalha na cons- te é importante entender a importância de
trução da autonomia das crianças. Neste sentido, cada elo, sendo assim, lhe serão apresenta-
a cultura corporal e seu processo de alfabetiza- das as principais características da orienta-
ção pelo movimento carregam conhecimentos ção temporal e espacial. Vale ressaltar que
e representações que permitem que o indivíduo o apreciar, executar, criar e refletir é impor-
determine sua identidade, bem como crie carac- tante em todo o aprendizado motor na Edu-
terísticas que o diferenciam e, ao mesmo tempo, cação Infantil. Sendo assim, vamos explorar
conferem reconhecimento como membro de seus esta sequência.
grupos.

96/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
1. Orientação ou estrutura ganiza e coordena seus movimentos dentro
temporal de uma lógica temporal.
Como forma de ilustrar a importância do
Perceba que neste momento vamos estudar conhecimento espacial-temporal, Mattos
a orientação ou a estrutura temporal, que e Neira (2002) apresentam dados obtidos
deverá desenvolver nas crianças a sua ca- pelo DNER, que indica que a maior parte dos
pacidade de adquirir noções de simultanei- acidentes em ultrapassagens acontece por
dade, sequência, ordem, duração, tempo e uma dificuldade no cálculo entre as diferen-
ritmo. Assim, para que o aluno possa cons- ças de velocidade entre os veículos envolvi-
truir estes conceitos é fundamental que os dos em ação.
vivencie.
A estrutura temporal constituída pela crian-
Nossa discussão está pautada nas análises ça será responsável por situá-la em função
de Mattos e Neira (2002), que recorrem aos de diferentes eventos, tais como: antes e
postulados de Piaget. Devemos nos lembrar depois, presente, passado e futuro, proces-
que Piaget indicou que as dimensões fun- sos ciclos e sua respectiva renovação (dia e
damentais da ação humana são: o espaço e noite, dias da semana, meses do ano, etc.).
o tempo. Enfatizamos que estas são cate- A este fluxo contínuo de acontecimentos
gorias indissociáveis, isto é, nosso corpo or- determinamos de horizonte temporal. Esta
97/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
capacidade desenvolvida será fundamental nas são cientes do presente, porque é o tem-
em seu processo de letramento e alfabeti- po que estão vivenciando e experimentan-
zação, para além do movimento. do, portanto é necessário criar situações de
Por isto, a estrutura temporal é um compo- aprendizagem para que possam extrapolar,
nente proeminente na Alfabetização Cor- captar e discernir a sequência temporal.
poral. Note que a criança, durante seu co- Na questão motora, vemos a mesma si-
tidiano, mobiliza a todo momento estes co- tuação. Quem nunca jogou uma bola para
nhecimentos, ou seja, as crianças se depa- uma criança e ela acabou batendo em sua
ram com situações como: ao atravessarmos cabeça, e depois da bolada, a criança fecha
uma rua, tem que calcular o espaço da rua e os braços no movimento de apreensão da
o tempo de chegada do veículo que transita bola?
nela, para assim iniciar a travessia. No cotidiano da escola, tenho que calcular o
Nossas crianças pequenas possuem inúme- tempo que o amiguinho levará para vir com
ros desafios para compreender as nuances a balança e o espaço que tenho que percor-
do tempo. Por vezes, encontramos nossos rer para não ser acertado por ele, ou mesmo,
alunos dizendo que ontem será o meu ani- calcular a velocidade de um amigo que corre
versário!; A Páscoa está perto!; Quando eu em minha direção para que eu possa desviar
vou embora? As crianças inicialmente ape- e não bater de frente com ele.
98/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Para que estas noções possam ser cons-
truídas é necessário que a criança adquira Link
os movimentos básicos, bem como a cons-
ciência das relações no tempo. O que será Você acha que o brincar é algo importante para as
desdobrado em aprender: crianças? Confira no site <https://novaescola.
org.br/conteudo/1236/brincar-na-creche>
• Simultaneidade; Acesso em: 10 nov. 2016
• Ordem e sequência;
• Duração dos intervalos;
Em outra analogia em relação ao movimen-
• Renovação cíclica de certos períodos;
to das crianças, Matos e Neira (2002) apre-
• Ritmo: o que exige noção de ordem, sentam a necessidade de que ele tenha um
sucessão, duração e ordem. O ritmo começo, meio e fim. Por exemplo, em uma
pode ser motor, auditivo ou visual. brincadeira com bola, uma queimada (ou
queimado, carimba ou outro nome, depen-
dendo da região do Brasil onde é jogado),
tenho que calcular a distância do adversá-
rio para, assim, calcular a força empregada

99/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
no lançamento e a velocidade da corrida, é Já nos é fato que na diversidade de ativida-
necessário sincronizar os movimentos a fim des na Educação Infantil, deve-se seguir a
de acertá-lo. Desta forma, mesmo bem pe- máxima segundo a qual as atividades de-
quenas, as crianças elaboram cálculos mui- vam ser sempre carregadas de estímulos
to complexos para resolver problemas mo- variados, muita imaginação, valorização de
tores. atividades significativas e a participação
ativa dos alunos, mesmo bem pequenos,
valorizando-os como produtores de conhe-
Para saber mais cimento.

O professor mediador é aquele que, ao invés de


trazer o conteúdo pronto, é aquele que estimula Link
o desenvolvimento de seus alunos. O professor Os simbolismos na Educação Infantil. Disponível
mediador não é o dono do conhecimento, mas um em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.
parceiro de atividades que, com sua experiência, br/document/?code=vtls000284890> Aces-
abre diversas possibilidades para que junto aos so em: 10 nov. 2016.
alunos o conhecimento seja construído.

100/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Assim, Mattos e Neira (2002) apresentam crianças.
como sugestão de desenvolvimento da Quem nunca ficou com “cabelos em pé” ao
orientação temporal atividades que possam encontrar uma criança “enfiada” em alguns
permitir: lugares que você nunca imaginou que pu-
• Aquisição de noções de antes, duran- desse ser explorado? Exemplos aparecem
te e depois, primeiro, segundo, último; aos milhares, mas há os clássicos, como
guarda-roupas, muros, telhados, entre tan-
• Percepção de duração;
tos outros. O que ocorre em algumas escolas
• Apreciação de estruturas rítmicas (rá- é que, infelizmente, a única possibilidade do
pido e lento); espaço que as crianças têm a oportunidade
• Velocidade e aceleração. de explorar é o local de guardar a mochila e
sentar na sala para realizar as atividades do
2. Estrutura espacial dia.
Muitos educadores evitam realizar ativida-
O ato de conhecer e explorar os diferentes
des motoras com medo de as crianças se
espaços é fundamental para nos localizar-
machucarem, mas já é comprovado que a
mos. As atividades de exploração dos espa-
maior parte dos machucados não aconte-
ços são, geralmente, muito desejadas pelas
ce em atividades motoras como brincadei-
101/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
ras, jogos e vivências corporais múltiplas. ta uma crítica a este processo em seu tex-
Devemos lembrar que a motricidade livre é to ‘Métodos de confinamento: como fazer
fundamental para o desenvolvimento, e as render mais porcos, galinhas, crianças”. O
crianças “aprendem a cair” porque experi- problema nas escolas não é o movimento,
mentam seus corpos e o movimento e as- muitas vezes é a falta deles. Queremos mui-
sim se machucam menos. to que nossos alunos utilizem o pequeno
espaço de uma folha, com motricidade fina
Devemos salientar que a lateralidade apa- de pegar um objeto tão pequeno como um
rece no processo de maturação neurológica lápis, giz, pincel, pedimos que nossos alu-
da criança, mas isso, por si só, não garan- nos desenhem utilizando toda a folha ao in-
te a sua aquisição. Dessa forma, os alunos vés de apenas um pequeno espaço, ou de-
provavelmente desenvolverão a orientação senterramos os clássicos leve João ao outro
espacial no decorrer da vida escolar na Edu- lado da folha seguindo a linha pontilhada,
cação Infantil, mas somente sua maturação mas esquecemos de uma máxima impor-
não garante isso. Sendo assim, nós, como tante, do geral para o específico.
profissionais da educação, temos que atuar
Então, que tal pensarmos da seguinte ma-
como mediadores desse e de outros conhe-
neira: estimular a exploração de grandes
cimentos.
espaços, utilizando grandes músculos, pois
João Batista Freire (1993) nos apresen-
102/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
apropriando de uma motricidade geralmen-
te mais fácil aos pequenos traz informações Link
importantes para quando reduzimos a uma A construção das noções espaçotemporais na
folha. Educação Infantil: situações pedagógicas. Dis-
Assim, a consciência espacial é a relação ponível em: <http://editorarealize.com.br/re-
que a criança estabelece entre seu corpo e vistas/fiped/trabalhos/431fc863d4d215b7e-
o meio. Nesta direção devem ser desenvol- 08ae02c1adda43f_1965.pdf> Acesso em: 10
vidos os esquemas relacionados ao sistema nov. 2016.
visual e ao tático-cinestésico. Para que isto
ocorra a criança deverá compreender os Novamente inspirados em Mattos e Neira
sentidos de direção, localização e distância, (2002), podemos definir estruturação espa-
onde forja a: cial como a tomada de consciência de um
corpo no meio ambiente, o que permite que
• Orientação espacial;
a criança possa localizar, explorar espaços,
• Organização espacial; bem como organizar objetos e movimentá-
• Compreensão das relações espaciais. -los no espaço.
Sendo assim, apresentamos sugestões de

103/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
estruturação espacial: tura, utilizando atividades como ferramen-
tas para potencializar o desenvolvimento
• Tomar consciência do espaço em que
das crianças em um ambiente rico em desa-
está (isso inclui apropriar-se do espa-
fios e convidativo ao conhecimento. Por úl-
ço da escola);
timo, reflita que o desenvolvimento do es-
• Perceber o solo como ponto de apoio; quema corporal ocorre pela consciência do
• Perceber medidas e a forma dos espa- corpo como meio de comunicação consigo
ços percorridos; mesmo e com o meio. O que exige desen-
volvimento da motricidade, das percepções
• Ter noção de direção e localização es-
espaciais e temporais, e da afetividade. Ain-
pacial;
da nesta direção, a criança deve ser capaz de
• Conhecer dentro/fora; conhecer o corpo como um todo; conhecer
• Perceber a direção de um espaço per- o corpo segmentado; controlar os movi-
corrido. mentos globais e segmentados; equilíbrio
estático e dinâmico e a expressão corporal
Assim, lembre-se de que nosso foco deve ser
harmônica. 
proporcionar atividades prazerosas, que re-
speitem os estágios motores dos alunos, de
maneira significativa, respeitando sua cul-
104/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Para saber mais
Muitas correntes defendem que as crianças não
podem ser divididas em departamentos. Des-
sa forma, uma atividade em que o educador tem
como objetivo estimular experiências artísticas
em seus alunos, também estimula a motricidade
no ato de pegar um lápis ou um pincel. Sendo as-
sim, quando propor atividades, procure diversifi-
car os estímulos para que seus alunos possam ser
enxergados como seres em constante conexão.
Lembre-se: não se trata de abordar o movimento
pelo movimento, mas uma criança que se cons-
trói como sujeito biológico e social-cultural.

105/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Glossário
Orientação espacial: é a capacidade que o indivíduo tem de situar-se e orientar-se, em relação
aos objetos, às pessoas e ao seu próprio corpo em um determinado espaço. É saber localizar o
que está à direita ou à esquerda; à frente ou atrás; acima ou abaixo de si, ou ainda, um objeto
em relação a outro.
Orientação temporal: capacidade de adquirir noções de simultaneidade, sequência, ordem,
duração, tempo e ritmo.
DNER: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.

106/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
?
Questão
para
reflexão

A relação entre ensino-aprendizagem na concepção do tra-


balho com orientação temporal e espacial, tratando de cor-
po na cultura corporal do movimento, vai além de apenas re-
alizar uma atividade. É importante dar a oportunidade de ir
além, proporcionar que a criança aprecie as atividades, exe-
cute movimentos a partir de sua experiência, reflita sobre a
sua ação e tenha a oportunidade de criar situações novas a
partir de seus aprendizados. Como você acredita que o pro-
fessor deve planejar estas atividades para garantir o desen-
volvimento pleno das crianças?
107/221
Considerações Finais

• É fundamental aos educadores compreenderem a importância das concep-


ções da orientação espacial não só em atividades corporais, mas em toda a
ação pedagógica.
• Os conceitos da orientação temporal são de suma importância no cotidiano
escolar e na vida.
• A cultura corporal do movimento deve estar presente quando selecionamos
atividades que contemplem o estímulo das concepções espaciais e tempo-
rais.
• Além de apenas proporcionar atividades que trabalhem os conceitos da
orientação espacial e temporal, é fundamental que o educador, a partir do
olhar da cultura corporal dos alunos, proporcione que as crianças possam
apreciar, executar, criar e refletir sobre as atividades executadas.

108/219
Referências

FREIRE, João Batista. Métodos de confinamento (como fazer render mais porcos, galinhas, cri-
anças...). In: MOREIRA, W. W. (org) Educação física e esportes: perspectivas para o século XXI.
Campinas: Papirus, p.109-122, 1993.
MATTOS, Mauro Gomes de; NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física Infantil: construindo o mov-
imento na escola. Guarulhos, SP: Phorte Editora, 2002.

109/219 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Assista a suas aulas

Aula 4 - Tema: Apreciar, executar, criar e refle- Aula 4 - Tema: Apreciar, executar, criar e refle-
tir: a cultura corporal e as concepções de orien- tir: a cultura corporal e as concepções de orien-
tação temporal e espacial. Bloco I tação temporal e espacial. Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
b966c018f78a2734a5e26f8c2cca3307>. d6607f679bc243997919b83ebec3f714>.

110/219
Questão 1
1. Ontem será o meu aniversário! A partir desta frase tão comum entre os
pequenos alunos da Educação Infantil, podemos dizer que é importante
realizar trabalhos referentes a:

a) Concepções de estrutura espacial.


b) Concepções do conhecimento sobre lateralidade.
c) Concepções de estrutura temporal.
d) Concepções de conhecimento de motricidade fina.
e) Conhecimento avançado do calendário, para que possa saber o significado de dia e mês.

111/219
Questão 2
2. No trabalho de conhecimento sobre a estrutura espacial, na analogia
ao movimento das crianças é necessário que seja abordado:

a) Noção de começo, meio e fim.


b) Noção de reconhecimento do corpo em relação ao espaço.
c) Noção sobre introdução, desenvolvimento e conclusão de uma aula.
d) Noção de músculos agonistas e antagonistas, em relação ao movimento das crianças.
e) Fica a critério do educador qual tema será abordado.

112/219
Questão 3
3. De acordo com Mattos e Neira (2002), estruturação espacial é:

a) Tomada de consciência de um corpo e características temporais, auxiliando a criança a loca-


lizar, explorar espaços, além de organizar objetos e movimentá-los no espaço.
b) Tomada de consciência de um corpo no meio ambiente, auxiliando a criança a localizar, ex-
plorar espaços, além de organizar objetos e movimentá-los no espaço.
c) Tomada de consciência de um corpo no meio ambiente, auxiliando a criança a localizar-se
em sua cidade.
d) Tomada de consciência de um corpo auxilia a criança a localizar, explorar o espaço da folha,
importante nas aulas de artes.
e) Tomada de consciência do educador em relação ao corpo das crianças, para que saibamos
qual a predominância de escrita dos alunos.

113/219
Questão 4
4. De acordo com João Batista Freire, o maior problema da escola
quando pensamos em seus corpos são:

a) A falta de espaços adequados para as práticas corporais e na alfabetização corporal.


b) O problema nas escolas não é a falta de movimento, mas os períodos em que eles são reali-
zados! Expor uma criança ao Sol do meio-dia é uma afronta aos princípios de ensino-apren-
dizado.
c) O problema central está na formação dos educadores que deixam de lado os corpos das
crianças e apenas se pautam em questões higienistas.
d) O problema nas escolas é o movimento e seus significados, em sua maioria fora da realidade
das crianças.
e) O problema nas escolas não é o movimento, muitas vezes é a falta deles. Queremos muito
que nossos alunos utilizem o pequeno espaço de uma folha, mas não damos a oportunidade
para que eles explorem os grandes espaços.

114/219
Questão 5
5. No texto lido, as concepções temporais e espaciais foram divididas. Em
relação ao cotidiano escolar podemos considerar uma prática:

a) Correta, pois não devemos abordar todos os temas ao mesmo tempo.


b) Incorreta. No cotidiano escolar, a criança não pode ser dividida em fragmentos, uma ativi-
dade pode ser ao mesmo tempo um convite para o conhecimento temporal e espacial, isso
depende dos objetivos dos educadores.
c) Como será abordado é indiferente ao cotidiano escolar.
d) Incorreta. No cotidiano escolar, a criança não pode ser dividida em fragmentos, uma ativi-
dade deve obrigatoriamente englobar diferentes habilidades, não podemos perder tempo,
nossas crianças são muito importantes.
e) Depende do local onde as aulas são realizadas. Geralmente, na região Sudeste, as crianças
possuem menos experiências, pois vivem em uma cidade vertical. Já as crianças da região
Nordeste podem ser mais estimuladas, pois suas experiências motoras são mais refinadas,
pois vivem em locais mais abetos.

115/219
Gabarito
1. Resposta: C. mento.

A orientação temporal é aquela que propor- 3. Resposta: B.


ciona à criança noção de tempo, por exem-
plo, ontem, amanhã, daqui a uma hora. É Segundo os autores, a criança, a partir de
muito importante que os educadores esti- atividades desta natureza, possuem a ca-
mulem atividades desta natureza. pacidade de localizarem-se de formas mais
consistente em diferentes espaços, habili-
2. Resposta: A. dades inerentes ao desenvolvimento huma-
no.
Na mesma linha de análise utilizada na
questão anterior, é fundamental que os 4. Resposta: E.
educadores proporcionem às crianças no-
ções de começo, meio e fim, diferente de O problema não é o movimento, mas a falta
muitos educadores que encerram as ativi- dele. Mesmo que um educador não possui
dades propostas sem colocar em discussão grande fundamentação em relação à psi-
estas questões, dando a impressão de que comotricidade humana, mas proporciona
a atividade pode terminar a qualquer mo- espaço para que a criança construa o seu
conhecimento com o corpo, traz maiores
116/219
Gabarito
benefícios às crianças do que educadores,
muitas vezes fundamentados, mas que dei-
xam seus alunos somente dentro das salas,
em sua maioria, imóveis.

5. Resposta: D.
Não entendemos as crianças como seres
fragmentados, mas como seres únicos. Nas
práticas corporais é importante a variedade
de estímulos, favorecendo o aprendizado
integral das crianças.

117/219
Unidade 5
Percepção da formação da personalidade por meio do movimento

Objetivos

1. Reconhecer a psicomotricidade rela-


cional como abordagem importante
no processo de formação da persona-
lidade da criança.
2. Conhecer as principais diferenças en-
tre a psicomotricidade funcional da
psicomotricidade relacional.
3. Aplicar os principais preceitos da psi-
comotricidade relacional no cotidiano
escolar.

118/219
Introdução

A psicomotricidade é baseada em diversos Note que o termo psicomotricidade nesta


estudos que analisam os seres humanos em abordagem procura demonstrar a conexão
seu desenvolvimento em suas diferentes entre o desenvolvimento da motricidade,
atuações. da afetividade e da cognição (inteligência).
Neste momento, desejo que você se apro- Nesta abordagem o enfoque são os ges-
xime de estudos que utilizam a psicomo- tos e os exercícios analisados e executados
tricidade para percepção da formação da de forma técnica, para que a criança possa
personalidade. Certamente que a partir da adquirir competências motrizes. Logo, os
utilização de um dos instrumentos mais exercícios são mecânicos e repetitivos, pois
poderosos no desenvolvimento humano, o deverão ser aperfeiçoados gradualmente.
movimento. A psicomotricidade relacional, como já dito
Você irá aprofundar seus conhecimentos so- acima, é uma vertente da psicomotricidade
bre a Psicomotricidade Relacional. Para ini- funcional, ela tem como objetivo principal o
ciar nossa discussão, vamos retomar um pou- desenvolvimento a partir do enfoque social
co sobre a sua origem. A psicomotricidade e emocional.   Ganha muita força no meio
relacional surgiu a partir da “psicomotricida- acadêmico em todas as etapas da educação
de tradicional”, conhecida como psicomotri- e vai além disso, hoje é utilizada no meio clí-
cidade funcional. nico e em diversas empresas, pois sua capa-
119/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento
cidade de analisar conflitos e atuar direta- funções motrizes, ao contrário, é a com-
mente na autoestima das pessoas envolvi- preensão de que pelo movimento a criança
das em diferentes locais é bem abrangente; é capaz de se expressar e externalizar dife-
assim, independentemente do público ser rentes linguagens. Este corpo-infância em
um aluno, um paciente ou um funcionário movimento irá interagir e encontrar novas
de empresa, sua aplicação gera benefícios. possibilidades de estar no mundo e de exis-
tir nele criando significação em relação ao
Diferente da psicomotricidade funcional, meio.
que possui uma metodologia diretiva, em
testes a partir de família de exercícios e Nesta direção, é fundamental perceber que
os adultos devem desenvolver uma sensibi-
base na capacidade motora, a psicomotri-
lidade, uma escuta ativa das crianças, para
cidade relacional possui uma metodologia
observar e decidir quais são os pontos de in-
não diretiva, em um trabalho que privilegia
flexão no desenvolvimento infantil, no qual
o brincar e, portanto, potencializa a apren-
deverão intervir, ou em quais momentos
dizagem e o desenvolvimento.
deverão apenas observar a ação da criança.
Devemos notar que a base teórica que di-
É por isto que os materiais e os espaços para
reciona esta prática pedagógica é a via cor-
a atuação com a criança devem ser ricos em
poral, mas não pela ênfase no movimento
possibilidades de experimentações e possi-
repetitivo e mecânico para a aquisição das
120/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento
bilidades de exploração. Um ponto crucial é do em determinado momento. Perceba que
estar sempre atento à segurança da crian- a linguagem corporal com a criança é per-
ça, mas isto não significa que os espaços e passada pelo vínculo de afetividade que se
materiais não devem ser estimulantes e de- forma entre a criança e seu professor.
safiadores. A questão central relaciona-se Perceba que os movimentos são análogos a
a criança sentir-se confiante e motivada a como se todas as crianças estivessem falan-
explorar o meio e o próprio corpo, a fim de do (e estão), onde o educador, conhecedor
experienciar múltiplas possibilidades. da psicomotricidade humana, possui ferra-
Dentro das escolas de Educação Infantil, os mentas para analisar esse movimento, com-
educadores podem se apropriar das infor- preender o que está por trás dele em relação
mações a partir da psicomotricidade rela- aos seus sentimentos e atua de forma positi-
cional. Quando uma criança não sabe falar, va na vida das crianças.
ou ainda, fala, mas não sabe se expressar A psicomotricidade relacional possui a ca-
corretamente, qual o canal principal de co- pacidade de explorar todo o potencial que a
municação ela utilizará? O corpo! criança possui. Além de suas questões mo-
O corpo é sua fala, com ele a criança é capaz toras ou de questões cognitivas, existe uma
de dizer se está triste, feliz, com medo, com base afetiva e emocional.
dor, com fome, ou seja, o que está sentin-
121/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento
Por meio da psicomotricidade relacional fo- Para iniciar a discussão, a psicomotricidade
ram aprimoradas técnicas onde se utiliza a funcional está ligada à família de exercícios,
própria expressão corporal. já a relacional entende o corpo como via
principal da aprendizagem e utiliza o brincar
1. A psicomotricidade relacional como ponte de aprendizado. A psicomotri-
cidade funcional tem como objetivo educar
A psicomotricidade relacional foi criada, na as diferentes condutas motoras, para que a
década de 1970, por André Lapierre. A psi- pessoa possa se integrar de forma melhor
comotricidade relacional tem sua base na na vida cotidiana e escolar, surgiu a partir
psicanálise e diz respeito à relação primá- das concepções da Educação Física.
ria entre mãe e filho. A psicomotricidade
relacional não é uma invenção, sua origem
advém de outros conhecimentos, em uma Link
relação com as outras ciências, com o ob- O que é a Psicomotricidade relacional. Disponí-
jetivo de desenvolver os seres humanos em vel em: <https://www.youtube.com/watch?-
sua totalidade. Como o próprio André La- v=luw0ikSO99g> Acesso em: 10 nov. 2016.
pierre (2002) apresenta, “meu corpo é o lu-
gar onde vivo, sinto e existo”.

122/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento


O professor é usado em muitos momentos deve ser levado em consideração: dentro
como modelo que guia o desenvolvimento das escolas de Educação Infantil, as crianças
das crianças, além da utilização de diversos aprendem muito a partir das relações, espe-
materiais para a sua prática. A psicomotri- cialmente aquelas relacionadas:
cidade funcional tem objetivos preestabe-
lecidos durante a aula e guia a execução • À sua história
como modelo. Já a psicomotricidade rela- • Às relações
cional utiliza-se do brincar, a aprendizagem
• A partir das diferenças.
e o desenvolvimento são potenciados, as-
sim, a criança expressa sentimentos a partir Na psicomotricidade relacional o cotidiano
do corpo, trabalhando, entre outros temas, também é valorizado, principalmente para
com a formação de sua personalidade. a construção da personalidade da criança
como um ser que se relaciona, um ser ativo
Na psicomotricidade relacional a própria
capaz de mediar conflitos e que vê as dife-
expressão do indivíduo é utilizada para su-
renças como algo normal. E, claro, se pen-
perar suas dificuldades, onde o jogo, o brin-
sarmos na construção da personalidade,
car, a brincadeira, são a base no desenvolvi-
na Educação Infantil o corpo está presen-
mento das crianças
te neste processo obviamente, pois este é
Um paralelo com o cotidiano da criança um corpo que vive e experimenta múltiplos
123/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento
contextos que criam marcas em sua forma- • Agressividade (trabalhar a agressivi-
ção e desenvolvimento. dade positivamente)
É muito importante ressaltar que quando • Limites
a criança brinca, não apenas se movimen- • Autonomia
ta, ou gasta energia, mas sim estrutura seu
aparelho psíquico e forma a sua persona- • Frustração
lidade. Como já dito, o corpo é o media- • Afetividade, sexualidade.
dor para o desenvolvimento do psiquismo
(aspecto da emoção, neuromotor neuro-
linguístico e neurocognitivo da criança), a
Para saber mais
partir do comportamento, do movimento. Muitos educadores evitam tratar do tema sexu-
Além disso, o afeto e a emoção são fatores alidade nas escolas, principalmente na Educação
fundamentais para o desenvolvimento das Infantil, entretanto, estudiosos na área quebram
funções psicomotrizes da criança. paradigmas em relação aos tabus colocados a
esse tema com os pequenos e vão além, indicam
A psicomotricidade relacional é fundamen-
fortemente este trabalho, pois a Educação Infan-
tal para um trabalho profundo no mundo
til é o período de maior descoberta do corpo por
da criança, principalmente abordando os
parte da criança.
seguintes temas:
124/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento
É fundamental que o educador saiba que o movimento como uma ferramenta pode-
não existe limite para o desenvolvimento da rosa e consistente para o desenvolvimento
criança, o limite está nela; quanto mais lon- não só motor das crianças, mas também na
ge ela possa ir, mais longe o educador cami- sua formação afetivo-social.
nha com ela. Sendo assim, convém mais uma
vez ressaltar que o educador esteja despido 2. A psicomotricidade
de qualquer pré-julgamento no trato com relacional na Educação Infantil
as crianças e atue como um mediador do
conhecimento e não como um juiz que defi- Até agora você teve a oportunidade de co-
ne até onde a criança pode ir. O objetivo do nhecer uma grande vertente da psicomo-
educador é provocar, facilitar e estimular a tricidade, a denominada psicomotricidade
utilização de diferentes materiais para que relacional. Neste momento é importante
a criança se desenvolva. realizar uma análise voltada ao mundo da
psicomotricidade relacional e à Educação
Enfim, onde está a maior força da psicomo-
Infantil.
tricidade na formação da personalidade da
criança? Está na espontaneidade do proces-
so, a criança pensa que está brincando, mas
os educadores, com seu olhar clínico, veem
125/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento
o brincar é a linguagem que permeia todas
Para saber mais as atividades da Educação Infantil, inclusi-
Muitos traços da personalidade que levaremos ve estão demarcadas pelos DCNEIs. Quando
por toda a vida são definidos até os três anos de uma criança está brincando e se aproxima
idade, período onde a criança está na Educação outra criança, os “protocolos” são jogados
Infantil. A psicomotricidade relacional dentro da por terra, não há a necessidade de saber o
Educação Infantil possui importante relação, pois nome da pessoa que está ao seu lado, ou o
a criança pode ser ouvida de acordo com todo o time pelo qual ela torce, o importante é que
seu desenvolvimento, principalmente quando se ela entre no universo da brincadeira junto
trata da sua personalidade. comigo. Sendo assim, para brincar é preciso
se “relacionar”, e quando brinca, existe todo
Como a base da psicomotricidade relacional um ser complexo que está brincando, tudo
são brincadeiras, é de fácil aplicação dentro o que a psicomotricidade relacional precisa
das escolas de Educação Infantil, pois quan- para atuar na vida das crianças. 
do brincam (e como você sabe, brincar para Como na psicomotricidade relacional não
a criança é coisa séria), você vê o quão rápido se utiliza a palavra, o olhar, o contato, a for-
as crianças fazem amizades quando estão ma de se conectar com o outro torna-se
em uma brincadeira ou jogo. Ressalto que imprescindível na relação. Note que o ine-
126/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento
ditismo do método reside no fato de que a
criança, por meio do lúdico, consegue reve-
lar, de modo natural, o que se passa no seu
Link
mundo interior, sem necessidade de qual- O conceito de psicomotricidade, Prof. Lino. Dis-
quer expressão verbal. ponível em: <https://www.youtube.com/wat-
ch?v=SFHdePvxCfo> Acesso em: 10 nov. 2016.
O educador da Educação Infantil que tra-
balha com a psicomotricidade relacional, a
partir das atividades, trabalha com a crian- O educador, quando trabalha com a psico-
ça em sua estrutura psíquica e no decorrer motricidade relacional, não atua a partir de
do processo, certamente, irá ajudar de for- uma prática dirigida, mas a partir de jogos,
ma efetiva a criança a construir toda a sua não da forma costumeira, na qual as regras
personalidade e demais marcas que irão lhe já estão preestabelecidas, cabendo aos par-
acompanhar por toda a sua vida. ticipantes respeitá-las passivamente para
assim chegarem ao objetivo central. Na psi-
comotricidade relacional, o fim é apresen-
tado pelo grupo de alunos, no qual eles di-
rão qual é a finalidade do jogo.

127/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento


No decorrer das atividades, o momento es-
pontâneo é algo fundamental no processo Para saber mais
de trabalho da psicomotricidade relacional, A psicomotricidade utiliza inúmeros materiais
pois a partir dele as crianças apresentam com o objetivo de facilitar o desenvolvimento
seus sentimentos, seus conflitos e os confli- psicomotor das crianças. Dependendo da faixa
tos com o grupo, um momento privilegiado etária das crianças, alguns materiais são utiliza-
para que os educadores possam trabalhar dos. Materiais como bolas de diferentes tama-
questões importantes ao desenvolvimento nhos, arcos, cordas, bastões e tecidos são muito
infantil, sendo que a fonte é o próprio aluno. explorados nas aulas de psicomotricidade.
Similar à psicomotricidade funcional, a psi-
comotricidade relacional dentro da Educa- No processo de construção da sua persona-
ção Infantil trabalha a partir de materiais lidade, a criança, dentro da escola, aprende
diversos (não se desespere caso em sua lições importantes para o seu futuro. Den-
instituição escolar não tenha diversidade tre muitas, possuímos:
de materiais), onde a criança se relaciona
consigo e com os amigos. O educador, nes- • A aceitação de limites
te percurso, observa as crianças e auxilia no • Ajudar a criança a se expressar
processo.
128/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento
• Auxiliar a criança a ouvir os colegas er os seus alunos não só na questão motora,
• Auxiliar as crianças que são tímidas a mas também nas questões de construção
se expressarem da personalidade.

• Ajudar as crianças consideradas líde-


res a escutarem os demais.
Enfim, apesar de a psicomotricidade rela-
cional ser relativamente nova na Educação
Infantil, muitos educadores desconhecem a
grande ferramenta de trabalho motor, cog-
nitivo e emocional que possuem em suas
mãos, cabendo a eles acessá-las. Agora
que você já teve uma introdução ao tema,
se envolva nesta corrente que entende o
corpo das crianças como fonte inestimável
de conhecimento, e, acima de tudo, invis-
ta parte do seu tempo pedagógico na con-
strução de diferentes formas de desenvolv-

129/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento


Glossário
Psicanálise: Método desenvolvido por Sigmund Freud, para tratar distúrbios psíquicos a partir
da investigação do inconsciente.
Neurolinguística: ciência que estuda as relações entre a estrutura do cérebro humano e a ca-
pacidade linguística, com atenção especial à aquisição da linguagem.
Neurocognição: Área acadêmica que se ocupa do estudo dos mecanismos biológicos relacio-
nados à cognição.

130/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento


?
Questão
para
reflexão
É surpreendente a força que o corpo humano possui no desenvol-
vimento dos seres humanos! Durante nossa discussão, você teve
a oportunidade de conhecer a influência do corpo em todo esse
processo, embasado em uma abordagem desenvolvimentista e
da cultura corporal.
O mais surpreendente é que o corpo também pode ser um veículo
que auxilia na formação da personalidade da criança a partir da
psicomotricidade relacional. Agora reflita: quando um educador
que restringe o corpo da criança ao processo de desenvolvimento
impede que a criança cresça e se desenvolva com plenitude?

131/221
Considerações Finais

• A psicomotricidade relacional não é uma invenção, mas nasceu de estudos


da psicomotricidade funcional.
• A psicomotricidade relacional advém da psicanálise, onde entende o corpo
como ferramenta de construção da personalidade.
• Os materiais utilizados na psicomotricidade relacional são os mesmos que
os utilizados na psicomotricidade funcional.
• Dentro das escolas de Educação Infantil, a psicomotricidade relacional pos-
sui grande força, pois a partir da brincadeira e dos movimentos espontâne-
os, o educador pode reconhecer as principais necessidades dos alunos e agir
de forma direcionada.

132/219
Referências

LAPIERRE, André; LAPIERRE, Anne. Trad. PEREIRA, M. E. O Adulto Diante da Criança de 0 a 3


anos – Psicomotricidade Relacional e Formação da Personalidade. Curitiba: UFPR: CIAR., 2002
LAPIERRE, André; AUCOUTOURIER, Bemard. Fantasmas Corporais e Prática Psicomotora. São
Paulo: Ed. Manole, 1984.

133/219 Unidade 5 • Percepção da formação da personalidade por meio do movimento


Assista a suas aulas

Aula 5 - Tema: Percepção da formação da per- Aula 5 - Tema: Percepção da formação da per-
sonalidade através do movimento. Bloco I sonalidade através do movimento. Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
27cb4e8a995c0beeb1664b253f2922ce>. 6feefe7ff76a544c947f2e9b81b2b74e>.

134/219
Questão 1
1. A psicopedagogia relacional teve sua origem a partir da:

a) Fisiologia
b) Pediatria
c) Psicologia
d) Psicanálise
e) Educação Física.

135/219
Questão 2
2. Durante uma aula de psicomotricidade funcional o educador é visto
como:

a) Modelo
b) Guia
c) Mediador
d) Coordenador
e) Observador.

136/219
Questão 3
3. Nas atividades realizadas com base na psicomotricidade relacional de
maneira geral não são utilizados:

a) Materiais
b) Espaços diversos
c) Fala
d) Expressões corporais
e) Relacionamento.

137/219
Questão 4
4. O objetivo de educar as diferentes condutas motoras é atributo da?

a) Psicanálise
b) Psicomotricidade Funcional
c) Cultura Corporal
d) Psicomotricidade Relacional
e) Educação Infantil.

138/219
Questão 5
5. A grande semelhança que facilita o trabalho da psicomotricidade
relacional na Educação Infantil é porque as duas valorizam:

a) O Brincar
b) A Higiene
c) Inserção da criança no Ensino Fundamental
d) As famílias silábicas
e) Os jogos de regra.

139/219
Gabarito
1. Resposta: D. identificação e resolução de conflitos.

Segundo estudiosos da psicomotricidade 4. Resposta: B.


relacional, sua origem advém de diversos
estudos, inclusive da psicanálise. A psicomotricidade funcional, advinda da
Educação Física, tem como objetivo o de-
2. Resposta: A. senvolvimento humano e a educação das
diferentes famílias motoras das pessoas.
Diferentemente da psicomotricidade rela-
cional, a psicomotricidade funcional utiliza- 5. Resposta: A.
-se do professor como modelo para que os
alunos entendam as atividades e cheguem A psicomotricidade relacional possui muita
aos objetivos da aula. força dentro das Escolas de Educação In-
fantil, pois utiliza-se das brincadeiras e dos
3. Resposta: C. movimentos espontâneos como base para
seus estudos.
Na psicomotricidade relacional, as expres-
sões possuem mais força do que a fala. As
relações durante as atividades auxiliam na
140/219
Unidade 6
Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência
do corpo

Objetivos

1. Valorizar a percepção de esquema


corporal como inerente ao desenvol-
vimento motor das crianças.
2. Introduzir nos conteúdos escolares
atividades que estimulem a consciên-
cia do corpo por parte das crianças.
3. Compreender o aprendizado de es-
quema corporal e consciência do cor-
po como um processo complexo, uti-
lizando diversos estímulos para seu
êxito.

141/219
Introdução

Sua trajetória até este momento da discipli- tro das escolas de Educação Infantil: “Cabe-
na foi repleta de provocações relacionadas ça, ombro, joelho e pé”? Ou melhor, quem
ao desenvolvimento humano. Inicialmente, nunca cantou ou dançou a canção? Esta
as características do desenvolvimento hu- música infantil tão comum na maioria das
mano a partir de uma visão desenvolvimen- escolas de Educação Infantil remete ao co-
tista, logo após foram apresentadas as prin- nhecimento mesmo que de forma superfi-
cipais características culturais das crianças, cial. Ao tratarmos de corpo e a criação de
e as características da psicomotricidade seus esquemas, a Educação Infantil tem
funcional e relacional, dando maiores sub- como objetivo a exploração do movimen-
sídios às discussões sobre a importância do to humano, suas principais funções e uma
corpo no desenvolvimento das crianças. questão fundamental engendrada pela re-
Neste tema você terá contato com informa- lação entre a criança e o meio em que vive.
ções que vão mais a fundo no desenvolvi- Mais uma vez é importante lembrar que
mento motor das crianças, é fundamental para que tudo isso aconteça, todos nós,
que você mergulhe em seu conteúdo sem como participantes da educação das crian-
esquecer-se de tudo o que foi trabalhado ças, devemos proporcionar um espaço rico
até então. dentro das instituições escolares, propor-
cionando a exploração dos espaços, das
Quem nunca ouviu a seguinte música den-
142/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
brincadeiras, das danças, ou qualquer outra tos:
manifestação corporal, além da utilização
1. Consciência dos diversos segmentos
de diferentes materiais, por exemplo, brin-
do corpo por meio de exercícios apro-
quedo e sucatas, com diversos estímulos e
priados para a formação corporal (es-
valorizando o aprendizado e o relacionando
quema corporal);
com os demais alunos.
2. Exercícios para ação corporal e que
As atividades corporais (não exclusivamen-
possam desenvolver a flexibilidade e
te praticadas nas aulas de Educação Física)
equilíbrio;
possuem um papel primordial no aprendi-
zado e, consequentemente, no desenvolvi- 3. Exercício para a coordenação fina e
mento dos indivíduos, estimulando as fun- grossa;
ções psicomotoras que formarão a base e 4. Exercício de lateralidade;
darão sustentação para a aprendizagem,
5. Exercícios para percepção espaço-
auxiliando assim o desenvolvimento global
temporal.
das crianças.
De acordo com Negrine (1986), para que os
movimentos possam ser realizados, devem É importante ressaltar que os conteúdos
ser levados em consideração alguns aspec- apresentados anteriormente estão dividi-

143/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
dos por questões didáticas, entretanto, no das crianças.
cotidiano escolar, o ser-brincante brinca de
lateralidade, certamente isto também en-
globa a motricidade. Sendo assim, é impor- Link
tante pensar nos seres humanos em todo o As crianças têm muito o que aprender na creche.
momento a partir de sua totalidade, princi- Disponível em: <https://novaescola.org.br/
palmente quando se trata de crianças. conteudo/117/creche-pode-ensinar> Acesso
em: 10 nov. 2016.
Dessa maneira, você está pronto para ini-
ciar este tema, fundamental ao desenvolvi-
mento psicomotor, pois a partir de estudos
e análises referentes à importância do estí-
mulo e aprendizado de esquema motor, do
equilíbrio, da coordenação motora (coorde-
nação motora fina e coordenação motora
grossa), da lateralidade e do espaço-tem-
po, daremos grandes condições de atuar na
motricidade, cognição e questões afetivas

144/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
1. Esquema motor dades de movimentação da(s) parte(s) es-
tudada(s). Além disso, é capaz de aumentar
No processo de desenvolvimento psico- a noção da imagem do corpo e dos meios
motor das crianças, o item esquema motor de ação que estabelecem, com a memória,
possui grande influência. a formação do esquema corporal, exploran-
Muito além da canção infantil que inicia este do, assim, seu corpo de forma lúdica.
tema, quando trabalhado a partir de um viés
educacional, o conhecimento de esquema
corporal ultrapassa apenas o conhecimento
Para saber mais
O esquema corporal é muito importante no de-
da nomenclatura e conhecimento do siste-
senvolvimento humano, principalmente na fase
ma muscular, mas adentra na exploração da
da Educação Infantil. Esquema corporal pode ser
“perfeita máquina” chamada corpo huma-
definido como conhecimento das diferentes par-
no.
tes do corpo e a organização das diferentes es-
No desenvolvimento psicomotor, a partir truturas corporais que auxiliam a criança em sua
do esquema corporal, a criança tem a opor- capacidade funcional.
tunidade de conhecer as diferentes partes
do seu corpo, e ainda melhor, reconhecer e
experimentar quais as diferentes possibili-
145/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
Para que todo este aprendizado aconteça, quenos.
existe melhor forma de conhecer as estrutu- Para estimular os alunos, não é preciso criar
ras corporais e a apropriação de esquemas “algo de outro mundo”, suas ações para fa-
motores do que oferecer à criança a possi- zer com que as crianças possam explorar
bilidade de treinar algo que melhor sabe fa- suas estruturas corporais podem ser bem
zer? Sem dúvida, a resposta é o Brincar! simples, por exemplo:
Lembre-se de todo o conteúdo que você Ao entrar na sala de aula, a cada dia o edu-
teve a oportunidade de estudar até agora, cador propõe uma forma diferente para as
neste momento leve-o para seu local de crianças entrarem na sala. Por exemplo, em
trabalho como educador (se você ainda não um determinado dia, o educador fica em pé
possui um, faça um exercício simples, ima- na entrada da sala com as pernas abertas e
gine), não importa se seu local de trabalho todos os alunos devem “resolver o proble-
é grande ou pequeno, está ao ar livre ou é ma” apresentado por ele, ou seja, entrar na
um local coberto, se possui espaço específi- sala, utilizando o seu corpo de maneira ade-
co para atividades corporais ou não, o mais quada.
importante é que este espaço (ou espaços)
favoreça diversidade de estímulos aos pe-

146/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
2. Equilíbrio
Para saber mais
Equilibrar-se é um desafio que acompanha
O estímulo do educador ao aluno em relação ao
as crianças desde muito cedo, o ato de ficar
conhecimento do corpo e os trabalhos de equi-
sentado sem apoio, além do fortalecimento
líbrio são fundamentais para o desenvolvimento
muscular, exige muito equilíbrio. Com o de-
das crianças, mas vai além disso. Estudos dizem
correr do desenvolvimento das crianças, o
que este trabalho auxilia na prevenção de aciden-
ficar em pé, andar e mais para frente, o cor-
tes como batidas e quedas, sendo fundamental
rer, são grandes testes de equilíbrio.
para a independência da criança.
Todos nós falamos de equilíbrio, mas, afinal,
qual o seu conceito? “Equilíbrio é a noção
de distribuição do peso do corpo em relação No desenvolvimento psicomotor, o equi-
ao centro de gravidade, pode ser trabalha- líbrio é determinante para o sucesso da
do estática e dinamicamente” (TOLKMITT, criança, seja no mundo das brincadeiras,
1993). jogos, danças, entre outros.

147/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
3 Coordenação motora conhecida como motricidade ampla, é con-
siderada a possibilidade de controle e orga-
Tão importante para a vida das crianças, a nização da musculatura ampla para a reali-
coordenação está presente desde o ato de zação de movimentos complexos, conheci-
andar, correr, saltar, ao ato motor fino de mento e controle do próprio corpo e de suas
pegar um lápis em movimento de pinça para partes (imagem corporal, esquema corporal
escrever algo. e conhecimento corporal), envolvendo prin-
É importante lembrar que, não somente cipalmente o trabalho de membros inferio-
na coordenação motora, mas em todos os res, superiores e do tronco.
itens que compõem o conhecimento de es- Pegar ou lançar uma bola, bater corda, sal-
quemas corporais, as características cog- tar de um arco para o outro são exemplos
nitivas são inerentes ao processo. Você se que para nós são simples, mas para os pe-
lembra de que “não é somente uma perna quenos que estão se desenvolvendo é um
que chuta uma bola”, mas um ser humano desafio que deve ser estimulado de diferen-
por completo em suas características mo- tes formas para sua resolução.
toras, cognitivas, afetivas e culturais.
Já a Coordenação Motora Fina é a capaci-
A Coordenação Motora Global, também dade de controlar pequenos músculos para
exercícios refinados. A motricidade fina é a
148/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
movimentação de pequenos músculos de Para que a criança consiga trabalhar sua
forma ordenada. motricidade fina, é necessário estimular sua
No trabalho psicomotor dentro das escolas motricidade grossa. Como você espera que
de Educação Infantil é importante levar em uma criança tenha um movimento tão es-
consideração a seguinte máxima: “Em ativi- pecífico de pegar um lápis com dois dedos,
dades motoras, comece do amplo e depois se você, educador, não valoriza os movi-
vá ao específico!” mentos amplos como o correr, saltar, pegar,
lançar, amassar, dobrar, entre outros estí-
mulos diversos?
Link Assim, volto a enfatizar: proporcione uma
A importância do Brincar. Disponível em: <ht- grande variedade de movimentos para que
tps://www.youtube.com/watch?v=HpiqpD- os pequenos sejam estimulados a cumprir
vJ7-8> Acesso em: 10 nov. 2016. movimentos específicos.

4. Lateralidade

a) Sabemos que já trabalhamos os te-


mas lateralidade e tempo e espaço,
149/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
mas faz-se necessário abordá-los no- para outros aprendizados presentes no pro-
vamente. cesso de escolarização. Reconhecer o seu
b) Limpe o seu joelho esquerdo! corpo, viver o que é direita e esquerda, reco-
nhecer o seu lado preferencial, entre outros
c) Todos os alunos para o lado direito! estímulos relacionados à lateralidade, au-
Esses são exemplos relativamente simples xiliam na localização de atividades em uma
do cotidiano que expressam o quanto a la- folha, ou ainda, na construção da escrita,
teralidade está presente em nossa ativida- evitando assim o espelhamento das letras.
de como educadores. Mais do que conhecer
o que é “direita e esquerda”, a lateralidade 5. Espaçotempo
proporciona o conhecimento do corpo por
parte da criança, em uma conscientização Analisar o espaço é começar com algo mais
simbólica, interiorizada dos dois lados do íntimo do que saber calcular um determina-
corpo, localização em relação ao espaço, do local.
diante de objetos e outras pessoas. Já parou para pensar que o ponto de par-
Como diversas vezes ressaltamos neste cur- tida é a própria criança? Certamente que
so, principalmente na Educação Infantil, as sim, pois a todo momento, durante nossa
atividades corporais trazem fundamentos discussão, lhe foram apresentadas diversas
150/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
formas enfatizando que a criança está no
centro de todo aprendizado. Para saber mais
Sendo assim, faça as seguintes perguntas A organização espacial vai além da capacidade
aos seus alunos: de explorar diferentes espaços. Estudos agregam
também a ela a capacidade de a criança situar-se
Qual o meu espaço, qual o espaço do outro,
em diferentes locais, orientar-se e movimentar-
de qual espaço eu faço parte?
-se em um determinado espaço. Além disso, en-
O ponto de partida para que possamos co- globa conhecimentos como as relações de diver-
nhecer o espaço que ocupo é conhecendo o sos fatores, como: perto, longe, em cima, embai-
espaço que o meu corpo ocupa. Parece algo xo, dentro, fora, entre outros.
simples, mas podemos apostar que, mesmo
você sendo uma pessoa adulta, possui di- Agora a definição de organização temporal
ficuldade para reconhecer as reais propor- pode ser entendida como a capacidade que
ções de seu corpo. a criança possui de relacionar ações em de-
terminado tempo.
Os itens descritos acima são fundamentais
para o desenvolvimento psicomotor e a per-

151/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
cepção do esquema corporal das crianças. brando que atividades são ferramentas
Juntos, formam um grupo de habilidades para ensinar algo) servirá para apresentar
que impulsionam o conhecimento corporal aos alunos todos os itens elucidados neste
das crianças. Talvez você esteja pensando item.
agora: Pegue uma folha de papel que se aproxime
• Na teoria tudo é muito claro, mas do tamanho dos alunos, peça que um aluno
como fazer na prática? se deite nesta folha e que um ou mais alu-
Ainda seguindo a linha de não apresentar nos contorne o seu corpo. Logo após faça o
receitas, mas possibilidades, convido você a inverso, proporcionando que os alunos se
refletir: reconheçam como corpo.

Você quer realizar uma atividade simples, Após o desenho, deixe que as crianças “se
mas muito interessante? Se você nunca re- contemplem”, e proporcione a elas uma
alizou esta atividade, faça, pois o resultado aula teórica, explique o que significa cada
estético e pedagógico é sensacional; agora, pedaço do grande “raio x” do seu corpo.
se já realizou, experimente novamente com A partir daí a prática irá depender do seu
um novo olhar. objetivo, o importante é que o tema central
A atividade que lhe será apresentada (lem- “o corpo humano”, percepção do esquema

152/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
corporal e consciência do seu corpo seja dos alunos.
trabalhado. Após a realização das atividades específi-
cas, quando retornarem à sala, você, educa-
Link dor, pode estimular que as crianças pintem
Trabalho de alunas do 4º ano Magistério (esque- quais partes do corpo foram utilizadas.
ma corporal). Disponível em: <https://www. Percebe como as coisas se encaixam?
youtube.com/watch?v=28DENi4RI2c> Aces-
Finalizando, vale muito a pena dizer que as
so em: 10 nov. 2016.
habilidades citadas neste tema não neces-
Durante as atividades, você pode pensar em sariamente são trabalhadas de forma sepa-
brincadeiras, jogos, ritmos, ou qualquer ou- rada. Você, como educador que não apenas
tra manifestação corporal que contemple reproduz atividades, mas conhece sobre
o equilíbrio, a lateralidade, exploração do seres humanos, terá a capacidade de es-
espaço, vivências a partir da motricidade colher os melhores caminhos para o desen-
grossa ou fina, enfim, de acordo com seus volvimento integral de seus alunos.
objetivos, claro, relacionando com a cultu- A partir de tudo o que foi estudado até ag-
ra corporal do movimento e analisando de ora, suas possibilidades de ter uma ação
acordo com o estágio de desenvolvimento mais eficaz na vida das crianças aumentam
153/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
a cada momento.
Agora você será preparado para valorizar
ainda mais a criança como protagonista
de seu aprendizado; sendo assim, após re-
alizar as atividades deste tema, mergulhe
no próximo, onde será trabalhado um tema
inerente à vida das crianças, o lúdico.

154/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
Glossário
Motricidade fina: É considerada a movimentação de pequenos músculos em ações complexas,
como escrever, por exemplo.
Equilíbrio: Noção de distribuição do peso do corpo em relação ao centro de gravidade.
Sistema muscular: formação pelos músculos esqueléticos, tendões, bandas fibrosas através
das quais os músculos estão unidos aos ossos e às outras estruturas.

155/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
?
Questão
para
reflexão
O aumento da percepção do esquema corporal e consciência do
corpo ocorre a partir de um conjunto de ações no cotidiano escolar
que levam as crianças a serem estimuladas a reconhecer o seu cor-
po, saber diferenciar suas partes e ir além disso, explorar as diferen-
tes possibilidades de ações deste corpo.
Como em todos os itens já trabalhados até este momento, a pos-
sibilidade de uma escola de Educação Infantil desafiadora, com
educadores que medeiam esse processo de aprendizado a partir de
variedades de atividades, é o diferencial no desenvolvimento psi-
comotor dos alunos. Assim, reflita sobre outras atividades que po-
deriam ser realizadas para promover o desenvolvimento global das
crianças.

156/221
Considerações Finais

• O aumento da percepção do esquema corporal vai além do conhecimento


dos nomes dos membros do corpo humano.
• A partir do conhecimento do esquema corporal, a criança começa a melho-
rar sua própria visão e como ela se localiza no meio ambiente.
• Além de evitar quebras e acidentes, o conhecimento de equilíbrio propõe
autonomia às crianças, para que possam explorar o mundo de forma segura
e eficaz.
• É importante que quando trabalhada a coordenação motora na Educação
Infantil, o educador pense em atividades que vão de concepções dos movi-
mentos amplos para os movimentos específicos.

157/219
Referências

LAPIERRE, André; LAPIERRE, Anne. Trad. PEREIRA, M. E. O Adulto Diante da Criança de 0 a 3


anos – Psicomotricidade Relacional e Formação da Personalidade. Curitiba: UFPR: CIAR., 2002.
LAPIERRE, André; AUCOUTOURIER, Bemard. Fantasmas Corporais e Prática Psicomotora. São
Paulo: Ed. Manole, 1984.
NEGRINE, Airton. Educação Psicomotora: A Lateralidade E A Orientação Espacial. Porto Alegre:
Pallotti, 1986.
TOLKMITT, Valda Marcelino. Educação Física: uma produção cultural. Curitiba, PR: Módulo, 1993.

158/219 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
Assista a suas aulas

Aula 6 - Tema: Psicomotricidade e o desenvol- Aula 6 - Tema: Psicomotricidade e o desenvol-


vimento motor: Percepção do esquema corpo- vimento motor: Percepção do esquema corpo-
ral e consciência do corpo. Bloco I ral e consciência do corpo. Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
1d/1b6ae0d8c6c86e21937499b934980f44>. 87142352ca7cd37dcf148a62a1cd620e>.

159/219
Questão 1
1. A partir do conhecimento de esquema motor, a criança:

a) Conhece as diferentes formas de estimular os músculos em atividades laborais.


b) Participa de estudo científico que avalia o nome dos membros e suas ligações.
c) Vivencia diferentes atividades, proporcionando conhecimento do corpo com o objetivo de
promoção da saúde e prevenção de doenças que assolam o universo infantil.
d) Conhece as diferentes partes do seu corpo, reconhece por inúmeras vivências possibilidades
de movimentação e aumenta a noção da imagem do corpo e dos meios de ação.
e) Participa de dinâmicas corporais que proporcionam às crianças noção do corpo a partir de
explanações consistentes por parte do educador.

160/219
Questão 2
2. Muito importante para construção de esquema corporal e consciência
de corpo, as relações entre perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora
estão intimamente ligadas ao?

a) Conhecimento de coordenação motora grossa.


b) Conhecimento de equilíbrio.
c) Conhecimento do espaçotempo.
d) Conhecimento de coordenação motora fina.
e) Conhecimento de esquema motor.

161/219
Questão 3
3. Na Educação Infantil, em uma visão psicomotora, a noção de
conhecimento do corpo vai além do conhecimento da nomenclatura de
suas partes, mas sim a partir de:

a) Vivências motoras, proporcionando aos alunos momentos de pesquisa em diferentes plata-


formas, aumentando assim seu repertório conceitual.
b) Vivências culturais que possuem força contemporânea com o objetivo de apresentar aos
pais o que há de mais atual em termos de manifestações culturais rítmicas.
c) Vivências motoras e culturais, proporcionando aos alunos momentos de exploração do cor-
po, conhecimento de suas possibilidades de ação em seu cotidiano, em um aprendizado in-
tegral.
d) Conteúdo cuidadosamente elaborado com o objetivo de enriquecer o repertório motor dos
alunos com atividades apresentadas pelos educadores e reproduzidas pelos alunos.
e) Atividades motoras complexas e importantes ao desenvolvimento integral dos alunos, a
partir de base nacional de desenvolvimento motor, material de apoio ao enriquecimento
motor de todas as crianças de nosso país.

162/219
Questão 4
4. De acordo com o texto, o conhecimento de distribuição do peso do
corpo em relação ao centro de gravidade é atribuído ao:

a) Esquema motor
b) Equilíbrio
c) Tempo-espaço
d) Lateralidade
e) Coordenação motora fina.

163/219
Questão 5
5. Para o desenvolvimento psicomotor dos alunos na Educação Infantil, é
importante que se leve em consideração:

a) A presença de educador físico, pois a partir de sua formação os alunos conseguirão se de-
senvolver de forma integral.
b) Não é necessária a obrigatoriedade de um educador físico, entretanto é necessário que o
educador tenha formação de psicomotricidade com ênfase na Educação Infantil.
c) Não é necessária a obrigatoriedade de um educador físico, entretanto é necessário que o
educador conheça os principais preceitos da psicomotricidade, tenha em seu poder um ma-
nual de desenvolvimento humano e pelo menos 300 horas de vivências motoras, pois o edu-
cador não pode ensinar aquilo que não conhece.
d) A presença de educador físico é necessária somente em períodos de mentoria, pois no coti-
diano, o educador é capaz de trabalhar com a psicomotricidade, a cultura corporal do movi-
mento e, principalmente, atuar na realidade de seus alunos, valorizando o corpo como fer-
ramenta de desenvolvimento.

164/219
Questão 5

e) Não é necessária a obrigatoriedade de um educador físico, entretanto é necessário que o


educador conheça os principais preceitos da psicomotricidade, da cultura corporal do movi-
mento e, principalmente, da realidade de seus alunos, valorizando o corpo como ferramenta
de desenvolvimento.

165/219
Gabarito
1. Resposta: D. Oportunizar aos alunos a possibilidade de
exploração do seu próprio, colocá-lo em
O conhecimento de esquema motor vai movimento, pensando nos alunos de forma
muito além do conhecimento das partes do integral (cognitiva, afetiva, motora e cultu-
corpo, principalmente na Educação Infan- ral), é a base de uma formação consistente
til, onde a vivência e a experimentação são utilizando a psicomotricidade na escola.
base para o conhecimento corporal, de sua
imagem e formas de utilizá-lo no cotidiano. 4. Resposta: B.

2. Resposta: C. Dentre as alternativas, o equilíbrio é o maior


responsável (não o único) pelo estímulo aos
De acordo com o sexto tema, as relações alunos em aprender sobre a distribuição do
entre perto, longe, em cima, embaixo, den- peso do corpo em relação ao centro de gra-
tro, fora estão intimamente ligadas ao co- vidade.
nhecimento de espaço e tempo, conteúdo
inerente ao desenvolvimento motor. 5. Resposta: E.

3. Resposta: C. Um educador, mesmo que não formado


em Educação Física (isso não significa que
166/219
Gabarito
a presença de professores de Educação Fí-
sica dentro das escolas não seja importan-
te), mas estudioso do desenvolvimento hu-
mano e atento às principais características
culturais dos alunos, é totalmente capaz de
fazer um trabalho corporal agregador com
crianças da Educação Infantil.

167/219
Unidade 7
O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais

Objetivos

1. Valorizar as atividades lúdicas como


inerentes ao desenvolvimento das
crianças na Educação Infantil.
2. Reconhecer as principais característi-
cas das atividades lúdicas e atividades
direcionadas.
3. Criar relações importantes entre as
atividades lúdicas e o cotidiano esco-
lar.

168/219
Introdução
Quando conversamos com as pessoas, per- tra boas razões para protagonizar uma boa
cebemos que cada uma possui diferentes brincadeira.
habilidades que a destacam em meio a uma
multidão. Alguns sabem cozinhar muito Em todos os momentos, o livre brincar da
bem, outros produzem artesanato. Você que criança sempre está acompanhado de mui-
está nos lendo, dentre tantas habilidades, to simbolismo, onde a criança é protago-
certamente é um comunicador por excelên- nista na construção do seu conhecimento.
cia. Agora responda: qual a maior vocação É importante dizer que os aspectos cultu-
das crianças? Ou melhor, o que elas melhor rais estão enraizados no mundo do lúdico,
sabem fazer? onde, na maioria esmagadora de vezes, as
brincadeiras são reproduções do mundo em
Certamente você está dizendo, BRINCAR! que ela vive, interagindo com sua realidade
Diferente da forma com que os adultos pen- e, ainda melhor, a ressignificando.
sam, para as crianças brincar é um assun- Freire (2002), em sua obra “O jogo: entre o
to sério que dominam com maestria! Para riso e o choro”, nos relata que quando uma
que as mais impressionantes brincadeiras criança está brincando, para ela não existe
aconteçam, não importa se a criança possui a distinção entre os dois mundos (o mundo
grandes espaços ou não, materiais adequa- real e o mundo da brincadeira), o autor diz
dos ou pura adaptação, ela sempre encon- que enquanto brinca, ela está “realmente”
169/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
vivendo o mundo da brincadeira, totalmen- educadores, podemos (e devemos) ir mais
te envolvida como protagonista no roteiro longe, proporcionar momentos para que as
de sua história. crianças possam explorar o universo lúdico
Quando um adulto (detentor da razão?) in- em toda a sua riqueza.
terfere na brincadeira, como, por exemplo, Dentro das escolas, no planejamento dos
a mãe bloqueando a brincadeira dizendo educadores, deve-se pensar em espaços
que está na hora da criança tomar banho, privilegiados (quando é dito espaço, não
não está interrompendo simplesmente uma significa espaço físico), para que a brinca-
atividade, está retirando abruptamente a deira, o lúdico e a possibilidade de constru-
criança do mundo em que estava inserida. ção de diversos conhecimentos a partir da
A citação acima ilustra o quanto é impor- brincadeira aconteçam.
tante o brincar e o lúdico para a criança. Va- A partir do lúdico, os educadores conse-
mos lembrar que esta é a linguagem mais guem obter informações privilegiadas e em
relevante da criança. Pensando nisso, os primeira mão das crianças, nas quais a sua
adultos muitas vezes esquecem o quanto é conduta a partir disso certamente será mais
importante o brincar e a brincadeira na vida eficaz no processo de desenvolvimento e
das pessoas, temos a obrigação de respeitar construção do conhecimento.
algo tão importante para as crianças, e nós,
170/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Os educadores que fazem isso não propor- 1. O lúdico
cionam um prêmio às crianças que obede-
cem ou cumprem com uma determinada A palavra lúdico tem origem no latim “ludus”,
tarefa, mas utilizam o brincar como parte que quer dizer “jogos” e “brincar”. O lúdico
integrante em seu planejamento de ativi- está relacionado a uma forma de aprendiza-
dades. do prazerosa, na qual a criança demonstra o
Desta maneira, todas as crianças têm a ga- seu jeito de ser relacionado ao contexto so-
nhar, principalmente porque elas são consi- ciocultural em que ela está inserida.
deradas como o centro do nosso processo. Diversos autores valorizam o lúdico como
A partir de agora você terá contato com a parte importante do desenvolvimento dos
origem e definição de lúdico, e a sua impor- seres humanos, dentre eles Piaget (1967, p.
tância dentro da escola, especificamente na 20), que diz: “Por meio de uma atividade lúdi-
Educação Infantil. ca, a criança assimila ou interpreta a realida-
de”.
Bons estudos!

171/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Para Vygotsky (1984, p. 40), “É enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma crian-
ça. É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual
externa, dependendo das motivações e tendências internas e não por incentivos fornecidos por obje-
tos externos”.

Para saber mais


Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 17 de novembro de 1896, foi um professor de literatura e muito
interessado em psicologia.

Pensador importante em sua área e época, foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual
das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida, sua obra é muito estudada até
os dias atuais.

Foi descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934,
por tuberculose, com apenas 37 anos de idade.

O lúdico e as atividades lúdicas possuem grande força no processo de desenvolvimento humano,


pois são grandes facilitadores tanto na construção de sua personalidade, como no progresso de
cada uma das suas funções importantes, como as psicológicas, intelectuais e morais.
172/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Huizinga (1951) diz que, ainda que a brinca- Todos os educadores devem ser provocados
deira infantil deixe de ser séria, quando uma pela força da ludicidade, para que valorizem
criança brinca, ela o faz de modo bastante o lúdico em ações diárias, pois a ludicidade
compenetrado. não ajuda apenas as crianças, traz também
E você, educador, qual a importância do lú- inúmeras contribuições aos adultos.
dico na sua prática pedagógica? Dentro da escola, o educador tem gran-
Você o considera como importante, como des responsabilidades na renovação das
apenas ocupação do tempo livre ou como práticas escolares. Cabe a ele trabalhar na
prêmio às crianças que obedeceram? melhoria da qualidade geral do ensino, es-
tudando práticas já existentes ou desen-
Desejo que você reflita sobre este tema
volvendo novas práticas que permitam aos
rumo à valorização e certamente à maior
inclusão de atividades lúdicas no seu coti- alunos desenvolverem e construírem o seu
diano educacional. Lembre-se: o papel fun- próprio conhecimento.
damental da Educação Infantil é o desen- Enfim, ludicidade tem importância funda-
volvimento da criança pelo brincar. Assim, mental para a construção do conhecimen-
se suas crianças brincam em todos os mo- to. Na Educação Infantil não há como pen-
mentos, esteja seguro de que elas estão fa- sar em prática pedagógica sem que haja a
zendo exatamente o que deveriam. presença do lúdico. Dessa maneira, o próxi-
173/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
mo subitem apresentará a importância do pelo corpo e por suas atitudes, a partir das
lúdico na Educação Infantil. atividades lúdicas, apresenta conteúdos fi-
dedignos espetaculares.
2. O lúdico na Educação Infantil Encontramos, em inúmeras escolas de Edu-
cação Infantil, brinquedotecas muito bem
Em todo momento em nossa discussão foi
estruturadas, que servem como uma vitrine
ressaltada a importância da valorização das
para os pais que venham conhecer a escola,
principais características culturais dos alu-
mas em seu dia a dia não são utilizadas pe-
nos, e o quanto é importante utilizar essas
las crianças.
informações como ferramentas facilitado-
ras ao aprendizado significativo dos alunos.
As brincadeiras e jogos lúdicos são fantás-
ticos apresentadores destas características,
pois elucidam aos educadores as principais
características das crianças.
Muito mais do que questionários ou fichas
de avaliação, a real expressão da criança

174/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
O objetivo aqui não é defender ou não que
Para saber mais existam brinquedotecas, é sabida a realida-
de de muitas escolas, o objetivo aqui é de-
Os estudos relacionados à importância do brincar
fender fortemente que os momentos lúdi-
e do brinquedo para o desenvolvimento na infân-
cos tenham um espaço privilegiado no coti-
cia vêm crescendo há anos entre os educadores
diano das instituições escolares, favorecen-
pelo mundo. Em 1976, foi realizado em Londres
do a todos os envolvidos neste processo:
o 1º Congresso sobre empréstimo de brinquedos.
Logo após, outros congressos importantes ocor- • Favorecendo aos alunos, que podem
reram, como em 1981, o II Congresso de Brinque- “exercitar” sua habilidade de criar, re-
dotecas, em Estocolmo; em 1987 - Congresso In- criar, reproduzir sua realidade e inte-
ternacional de Toy Libraries, no Canadá; em 1990, ragir com os colegas.
V Congresso Internacional de Brinquedotecas, em • Favorecer aos educadores, pois a partir
Turim, e em 1993, Encontro Mundial sobre o brin- da análise das atividades lúdicas, pos-
car, na Austrália. Fonte: <http://www.pedago- sam conhecer mais seus alunos(as) e
gia.com.br/artigos/importanciadabrinque- assim ser mais assertivos em suas ati-
doteca1/?pagina=1> Acesso em: 10 nov. 2016. vidades.
• Favorecer as instituições educacio-
175/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
nais, pois realmente cumprirão com beça desse garoto? Claro que ele também
seu objetivo de proporcionar possibi- brincará de outras profissões, mas quem
lidades múltiplas de desenvolvimento está mais próximo de seu mundo é o mecâ-
dos seres humanos. nico.
Outra característica importante das ativi-
dades lúdicas dentro da escola é apresenta- Link
da por Vygotsky (1984). Os elementos fun- Vygotsky versus Piaget – Teorias. Disponível em:
damentais da brincadeira são: a situação <https://www.youtube.com/watch?v=N-
imaginária, a imitação e as regras. Segundo QH-e8OOaM8> Acesso em: 10 nov. 2016.
o autor, sempre que brinca, a criança cria
uma situação imaginária onde assume um
papel, que pode ser, inicialmente, a imita- Essas informações são muito importan-
ção de um adulto observado. tes no processo de ensino-aprendizagem!
Quando pensamos em desenvolvimento
Imagine um adulto que possui a profissão
psicomotor, não vemos apenas pernas chu-
de mecânico e seu filho sempre o vê traba-
tando uma bola, ou mãos penteando o ca-
lhando. Quando esse menino estiver brin-
belo de bonecas, nós vemos seres humanos
cando livremente nos momentos lúdicos,
dotados de sentimentos, cultura, desejos
qual profissão você imagina que virá à ca-
176/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
por trás desse ato motor. Com as crianças é tudo mais simples, pois
As atividades corporais, por si só, são capa- elas ainda não assumem diferentes másca-
zes de fazer com que as pessoas mostrem ras sociais, mas se mostram como realmen-
quem “realmente são”. te são. Mas as atividades corporais, princi-
palmente as lúdicas, nos trazem informa-
ções mais profundas do que realmente as
Para saber mais crianças pensam e sentem.
Persona vem do teatro grego, eram máscaras nas Embasados em Teixeira e Figueiredo (1970),
quais um único ator era capaz de interpretar dife- existem inúmeros motivos pelos quais os
rentes personagens. No mundo contemporâneo, educadores (neste caso, na Educação Infan-
utilizamos o termo persona para ilustrar os dife- til) valorizam e utilizam as atividades lúdi-
rentes personagens que vivemos em nosso coti- cas no processo de aprendizagem dos pe-
diano. Quando as pessoas estão em atividades quenos:
corporais, é como se suas máscaras (ou personas)
caíssem e a pessoa mostra quem realmente é. 1 - As atividades lúdicas correspondem
a um impulso natural da criança, e neste
sentido, satisfazem uma necessidade in-
terior, pois o ser humano apresenta uma
tendência lúdica;
177/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
2 - O lúdico apresenta dois elementos quemas mentais. Sendo uma ativida-
que o caracterizam: o prazer e o esforço de física e mental, a ludicidade aciona e
espontâneo. Ele é considerado prazero- ativa as funções psiconeurológicas e as
so, devido à sua capacidade de absor- operações mentais, estimulando o pen-
ver o indivíduo de forma intensa e total, samento e ainda articulando o raciocí-
criando um clima de entusiasmo. É este nio;
aspecto de envolvimento emocional que
o torna uma atividade com forte teor de 4 - As atividades lúdicas integram as vá-
motivação, capaz de gerar um estado rias dimensões da personalidade: afeti-
de vibração e euforia. Em virtude desta va, motora e cognitiva. Como atividade
atmosfera de prazer dentro da qual se física e mental que mobiliza as funções e
desenrola, a ludicidade é portadora de operações, a ludicidade aciona as esferas
um interesse intrínseco, canalizando as motora e cognitiva, e à medida que gera
energias no sentido de um esforço total envolvimento emocional, apela para a
para consecução de seu objetivo. Por- esfera afetiva. Assim sendo, vê-se que a
tanto, as atividades lúdicas são excitan- atividade lúdica se assemelha à ativida-
tes, mas também requerem um esforço de artística, como um elemento integra-
voluntário; dor dos vários aspectos da personalida-
3 - As situações lúdicas mobilizam es- de. O ser que brinca e joga é, também, o
178/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
ser que age, sente, pensa, aprende e se O jogo pedagógico possui as seguintes ca-
desenvolve. racterísticas:
Para que você possa se fundamentar melhor • Grande força pedagógica
em relação ao universo lúdico, é importante
• Objetivo de alcançar um objetivo (ou
saber diferenciar o jogo pedagógico do jogo
objetivos) específico(s)
lúdico. Muitos educadores se veem na obri-
gação de “pedagogizar” todas as atividades • A intenção de provocar aprendizagem
na escola; nesse “desespero educacional”, significativa
os educadores apresentam jogos nos quais • Estimular a construção de novo co-
não podem sair do script inicial! Imagine nhecimento
isso para uma criança da Educação Infan-
til, cheia de vida, imaginação e vontade de • Despertar o desenvolvimento de uma
criar, sendo podada por isso. Na Educação habilidade operatória à intervenção
Infantil, com a grande variedade de aborda- do indivíduo nos fenômenos sociais e
gens e necessidades dos alunos, o equilíbrio culturais e que o ajude a construir co-
é o sucesso. nexões.
Já as atividades lúdicas possuem as seguin-
É importante apresentar algumas diferen-
tes características:
ças entre o jogo pedagógico e o jogo lúdico.

179/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
• Levar o indivíduo ao prazer, O jogo no processo de ensino-aprendiza-
• Estimular a imaginação gem atua a partir de seu caráter desafia-
dor, pelo interesse do aluno e pelo objetivo
• Diversão
proposto, sempre levando em consideração
• Entretenimento a maturidade da criança para superar seu
• Fim em si mesmo desafio, as características culturais dos alu-
• Pode ser reiniciada a qualquer mo- nos e seus principais significados, e nunca
mento. quando o educando revelar cansaço pela
atividade ou tédio por seus resultados. Em
outras palavras, “mate o jogo, antes que ele
Link morra sozinho!”
Exemplo de estudos de jogos lúdicos e peda-
gógicos com o tema meio ambiente. Disponível
em: <http://www.pucpr.br/eventos/educe-
Link
Corpo e movimento na Educação Infantil. Disponí-
re/educere2009/anais/pdf/2012_988.pdf>
vel em: <https://www.youtube.com/watch?-
Acesso em: 10 nov. 2016.
v=TC3RpoTFb1w> Acesso em: 10 nov. 2016.

180/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
O lúdico é uma estratégia insubstituível que O lúdico no processo de ensino-aprendi-
pode (e deve) ser usada como combustível zagem não pode ser um privilégio, mas sim
na construção do conhecimento humano, uma necessidade real, pois leva o educando
pois sua grande força impulsiona o desen- a tomar consciência de si, da realidade e a
volvimento das diferentes habilidades ope- esforçar-se na busca dos conhecimentos,
ratórias, elucida como a criança realmente sem perder o prazer em aprender. É garanti-
é, trazendo informações “limpas” (sem in- do que os alunos que aprendem brincando
terferências) de como a criança realmen- são os mais dedicados, pois internalizam o
te é, quais são seus reais desejos (mesmo processo de aprendizagem de uma maneira
sendo pessoas tão pequenas). Além disso, que poucos fazem, porque vivem o momen-
é uma importante ferramenta de progresso to.
pessoal. Além de todos os benefícios apre- Para tanto, é necessário e urgente habili-
sentados, é importante ressaltar que as ati- tar o educador para que este elemento tão
vidades lúdicas também contribuem para a necessário à formação da aprendizagem do
construção e desenvolvimento da persona- educando possa ser inserido como aspecto
lidade das crianças. indispensável na interação do relaciona-
mento educando-aprendizagem.

181/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Finalizando, vale mais uma vez ressaltar que,
para que o desenvolvimento psicomotor da
crianças, seja ele estimulado pelo lúdico, por
brincadeiras ou jogos direcionados ou por
qualquer outra abordagem, só realmente
acontecerá se o ambiente escolar favorecer
o desenvolvimento dos alunos, incluindo
ao aprendizado a mente das crianças (cog-
nitivo), seus corações (questões afetivas),
sua vida (questões culturais) e seus corpos
(questões motoras). Dessa forma, invista o
seu tempo de estudos e no cotidiano esco-
lar, invista em espaços importantes em seu
planejamento para que este aprendizado
aconteça.

182/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Glossário
Lúdico: Palavra derivada do latim “ludus” que significa “jogos” e “brincar.
Pedagogizar: Prática comum nas escolas de criar caráter de ensino às diferentes práticas do
cotidiano escolar.
Persona: Máscara do teatro grego que possibilitava a um único ator representar inúmeros per-
sonagens.

183/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
?
Questão
para
reflexão
O lúdico na Educação Infantil não é um privilégio, mas um com-
ponente obrigatório dentro das escolas. O lúdico é um mergu-
lho que a criança faz em relação ao mundo da diversão, alegria e
aprendizado.
Os educadores da Educação Infantil devem proporcionar mo-
mentos exclusivos ao lúdico, para que as crianças possam exer-
citar a imaginação e terem a oportunidade do aprendizado em
múltiplas esferas, inclusive na formação da personalidade. Re-
flita porque há propostas educativas voltadas para crianças que
não privilegiam o brincar como centro da aprendizagem.

184/221
Considerações Finais

• Diversos autores defendem o lúdico como ferramenta importante para o


desenvolvimento integral do ser humano, principalmente na fase de Educa-
ção Infantil.
• Quando uma criança está brincando, está realmente inserida no mundo das
brincadeiras. O educador deve respeitar esse momento das crianças e, além
disso, estimular que seja uma prática comum dentro das escolas.
• As atividades lúdicas são instrumentos poderosos de informação aos edu-
cadores, pois fazem com que a criança apresente a sua cultura, sua visão de
mundo e seus desejos.
• Os jogos pedagógicos são ferramentas fundamentais para alcançar dife-
rentes objetivos, entretanto, as possibilidades de proporcionar os jogos lú-
dicos na Educação Infantil proporcionam que a criança desenvolva diversas
habilidades.

185/219
Referências

FREIRE, J. B. O jogo: entre o riso e o choro. Campinas, Autores Associados, 2002.


HUIZINGA, J. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 1999.
PIAGET, Jean. A psicologia da inteligência. Lisboa, Fundo de Cultura, 1967.
TEIXEIRA, Mauro Soares. FIGUEIREDO, Jarbas Sales. Recreação para todos: manual teoria e práti-
ca. 2. ed., São Paulo: Obelisco, 1970.
VYGOTSKY, L. S. A formação da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

186/219 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
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Aula 7 - Tema: O corpo lúdico e as descobertas Aula 7 - Tema: O corpo lúdico e as descobertas
por meio de jogos e manifestações culturais. por meio de jogos e manifestações culturais.
Bloco I Bloco II
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Questão 1
1. O termo lúdico advém:

a) De ludus, termo do latim que significa brincadeira sem significado.


b) De ludus, termo do grego que significa jogo.
c) De ludus, termo do latim que significa jogos e brincadeiras*.
d) De ludicidade, que significa ocupar o tempo livre.
e) De ludus, termo do latim que significa fonte de atividades.

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Questão 2
2. Para Piaget, por meio da atividade lúdica:

a) A criança assimila ou interpreta a realidade *


b) Os educadores podem avaliar as crianças de forma quantitativa
c) A criança não assimila a sua realidade, mas prepara esquemas mentais para passar de está-
gio de desenvolvimento.
d) A escola promove integração entre os participantes e avalia a realidade do grupo.
e) Piaget não estudou o lúdico.

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Questão 3
3. De acordo com o que você estudou no tema, o lúdico deve possuir
espaço no planejamento do educador:

a) Privilegiado, pois o brincar faz parte da vida da criança.


b) Moderado, pois a Educação Infantil não possui mais um viés assistencial, sendo assim, de-
vem ser trabalhadas questões educacionais.
c) Privilegiado, após as atividades pedagógicas os alunos merecem um prêmio para se diverti-
rem.
d) As brincadeiras não necessitam entrar no planejamento, pois já fazem parte do cotidiano.
e) Fica a critério de cada educador incluir ou não as atividades lúdicas no seu planejamento.

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Questão 4
4. De acordo com o texto estudado, as brinquedotecas nas escolas são:
a) Importantes, pois é uma forma de divulgar os trabalhos da escola.
b) Não são importantes, pois não agregam às questões pedagógicas do cotidiano escolar.
c) Importantes, mas não devem ser tratadas como ambiente pedagógico, mas sim de descom-
pressão das energias das crianças.
d) Não são importantes, pois o lúdico não agrega valor ao desenvolvimento das crianças.
e) Importantes ao desenvolvimento das crianças, sendo assim, devem ser melhor utilizadas,
não só como vitrine da instituição.*

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Questão 5
5. As atividades lúdicas dentro das escolas de Educação Infantil:

a) Favorecem aos alunos que podem reproduzir as atividades apresentadas pelos educadores.
b) Favorecem aos alunos que podem “exercitar” sua habilidade de criar, recriar, reproduzir sua
realidade e interagir com os colegas. *
c) Desfavorecem aos alunos, pois fogem do trato pedagógico necessário para a formação das
pessoas.
d) Favorecem aos educadores, pois enquanto as crianças brincam, pode ser adiantado o preen-
chimento do diário de classe.
e) Favorecem a instituição escolar, pois possuem mais força para negociar com a comunidade
a compra de materiais adequados para a qualidade da educação.

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Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: E.
A palavra lúdico advém de ludus, palavra A brinquedoteca não é apenas um espaço
que vem do latim e significa jogos e brinca- da escola, ou uma vitrine para que as pesso-
deiras. as possam observar, é um espaço rico para
que as crianças possam aprender e viven-
2. Resposta: A. ciar o lúdico.

Em seus estudos, Piaget diz que enquanto a 5. Resposta: B.


criança participa de atividades lúdicas, as-
simila e interpreta a realidade em que vive. As atividades lúdicas vão além do apenas
brincar, com o lúdico as crianças são capa-
3. Resposta: A. zes de exercitar sua habilidade de criar, re-
criar, reproduzir sua realidade, e ainda mais,
O que a criança melhor sabe fazer? Brincar! interagir com os colegas.
Sendo assim, a escola deve proporcionar
espaço privilegiado para essa prática.

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Unidade 8
O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais

Objetivos

1. Reconhecer a importância de um novo


profissional que acompanha a evolu-
ção do mercado de trabalho.
2. Valorizar o trabalho do Educador de
Educação Infantil como um promotor
do desenvolvimento motor e agente
de difusão da cultura corporal.
3. Promover uma Educação Infantil que
prepara as crianças para o futuro sem
esquecer-se do momento atual, favo-
recendo o desenvolvimento pleno das
crianças.
194/219
Introdução

Durante toda a discussão, você teve a opor- Ou ainda, por que valorizar a figura de um
tunidade de perpassar por inúmeras possi- professor de Educação Infantil como al-
bilidades de interação entre criança, corpo, guém que analisa, identifica a cultura de
cultura e conhecimento. Agora é funda- seus alunos e valoriza sua cultura corporal
mental reconhecer e valorizar o trabalho do movimento como marcas importantes e
do educador como agente catalisador de informações inerentes ao processo educa-
todo esse processo de desenvolvimento das tivo?
crianças na fase de Educação Infantil.
Existem inúmeras possibilidades de respos-
Para lhe provocar um pouco mais, responda ta, mas a mais importante é definida de ma-
as perguntas abaixo. neira extremamente simples:
Por que valorizar a figura do professor de
Para mudar a vida das crianças! Tenho certe-
Educação Infantil como alguém capaz de
za de que você tem internalizado que o tra-
reconhecer o corpo da criança como parte
balho pedagógico na Educação Infantil ar-
fundamental do seu desenvolvimento?
ticula de forma indissociável tanto o cuidar
Por que valorizar a figura do professor de como o educar. Estas são faces de uma mes-
Educação Infantil como um alfabetizador ma moeda, logo, um profissional qualificado
corporal? compreende este processo e o respeita na
sua ação com as crianças.
195/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
A concepção de educador atualmente vai tacam, pois assumem o papel de consulto-
muito além do simples fato de transmitir res, analisando as principais características
ou ensinar conteúdos, além de avaliar alu- e necessidades de seus clientes e não mais
nos se alcançaram determinado nível de co- apresentam casa, mas sim lares, não ven-
nhecimento ou ministrar determinada aula dem mais imóveis, eles vendem sonhos.
de acordo com sua disciplina. Lembre-se: o Na educação, mesmo com a rejeição de
conteúdo da Educação Infantil, se é que po- muitos, a realidade segue a mesma linha.
demos chamá-lo assim, é o brincar. Os profissionais que estavam acostumados
O mundo atual necessita de pessoas que apenas a “passar conteúdos”, ou se você pre-
atendam diferentes necessidades respei- ferir os termos críticos de Perrenoud (2000,
tando as especificidades e singularidades p. 23), serem meros “dadores de aulas”, hoje
dos indivíduos. Um garçom não é mais a se veem frente às necessidades cada vez
pessoa que serve a refeição aos seus clien- mais complexas e que exigem uma qualifi-
tes, atualmente também é especialista em cação muito mais abrangente e específica
vinhos que harmonizam com a comida; os do que aquela em que os professores que
corretores imobiliários não são mais as pes- ensinaram as gerações anteriores. Assim, é
soas que levam seus clientes para conhece- fundamental que os profissionais da educa-
rem casas, hoje, muitos profissionais se des- ção percebam sua profissão como algo mais
196/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
amplo, complexo e dinâmico. Na educação, na; você, especialista em Educação Infantil,
a exigência de sair da sua “zona de confor- está acima de uma abordagem higienista,
to” é imprescindível para uma educação de com todas as suas atribuições relacionadas
corpo inteiro. aos alunos nos âmbitos da higiene, prote-
Educadores “de sala” hoje também são res- ção, estimulando as crianças ao autoco-
ponsáveis pelo desenvolvimento motor das nhecimento. É importante que você pos-
crianças, além disso, devem ser grandes co- sa reconhecer-se como um ser integrante
nhecedores da cultura onde esses alunos de um grupo, reconhecido e valorizado em
estão envolvidos, e acima de tudo, devem seus saberes e práticas. Engajado em de-
conhecer sobre seres humanos, seguindo a senvolver práticas relacionadas à motrici-
máxima de Freire (1997, p. 20), onde diz que dade humana e as principais características
a “criança aprende mentalmente o que faz da alfabetização corporal e da valorização
fisicamente, ou seja, coloque suas crianças da cultura corporal do movimento.
em movimento, não somente para gasta-
rem energia, mas para se desenvolverem”.
Por esse motivo você está aqui, lendo es-
sas palavras e participando desta discipli-

197/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
crianças sobre a possibilidade e a capacida-
Link de de se comunicar corporalmente favorece
a práxis do conhecimento humano.
A criança em seu mundo! Mario Sérgio Cortella.
Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=-y1-o_kJ5Kk> Acesso em: 10 nov.
2016.
Para saber mais
O termo práxis é muito utilizado na bibliografia
1. O papel do educador como que trata de questões corporais na escola. Como
o corpo é excluído do processo pedagógico, ou, ao
agente de desenvolvimento da
contrário, as características conceituais são mui-
cultura corporal
tas vezes abolidas das atividades corporais, a pro-
Boa parte das discussões caminha no sen- posta é que corpo e mente, conceitual e atitudi-
tido de que os educadores, além de ensinar nal, conceitual e prática, possam caminhar juntos
os conteúdos teóricos, mesmo que na Edu- rumo ao desenvolvimento integral das crianças.
cação Infantil, estes conteúdos sejam rela-
tivamente flexíveis e perpassados pelo lúdi-
co. A função de ensinar e estimular todas as

198/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
Ao mesmo tempo que lhes são atribuídas realmente o educador é “o detentor” do co-
as novas funções, os educadores da Educa- nhecimento única e exclusivamente porque
ção Infantil, muitas vezes, rebatem dizendo possui título “superior” e experiência de
que “não são especialistas na linguagem vida?
do corpo”. Isso é a mais pura verdade, junto
à “falta de muitos não receberam estímu-
los em sua fase escolar, tampouco em sua
Para saber mais
Por muito tempo o educador foi considerado o
formação no Ensino Superior”, mas, mesmo
“mestre”, o detentor do poder, onde cabia aos
assim, são responsáveis por fazerem a me-
alunos apenas escutarem para poderem apren-
diação entre os conhecimentos socialmen-
der algo. Os famosos “tablados ou palcos” no iní-
te construídos e os alunos, aqueles que vão
cio das salas de aula não eram apenas para que o
para a escola aprender o que fora dela não
educador tivesse mais visão da sala, mas também
se aprende.
para demonstrar a sua “superioridade” em rela-
A realidade nos mostra que ensino e apren- ção aos alunos. Com o advento da Escola Nova, o
dizagem estão intimamente ligados, até professor “desceu” e começou a se relacionar com
porque não existe ensino se não houver os alunos no mesmo plano, facilitando assim as
aprendizado. Outra questão inerente é de- conexões e aprendizado.
finir “quem aprende com quem”. Será que
199/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
Na temática do corpo, movimento, a cultu- possibilidade de viver uma vida mais ativa e
ra corporal do movimento e principalmen- saudável.
te a importância do professor são os focos O que precisa ser valorizado por nós, educa-
deste último tema. Sendo assim, a missão dores, é um corpo como um movimento que
dos educadores é apresentar e integrar as é uma forma de expressão e aprendizado,
crianças à cultura corporal, ampliando seus devemos pensá-lo não apenas como um ato
conhecimentos e alargando as possibilida- mecânico de reprodução das culturas, mas
des do se movimentar, de interagir com os como uma das pontes mais importantes en-
amigos. tre ser humano/cultura/aprendizado.
Acreditamos que a partir deste olhar, as Enquanto o senso comum, ao avistar crian-
crianças que souberem utilizar seus corpos ças com seus corpos em atividade, pode
e se comunicarem a partir dele terão, prova- imaginar que elas estejam “apenas” brin-
velmente, mais possibilidades de inserção e cando, jogando, dançando ou lutando, nós,
interação social. educadores que conhecemos a psicomotri-
Podemos supor que as crianças e jovens cidade, a cultura corporal do movimento, a
analfabetos corporalmente são excluídos, alfabetização corporal, vemos o espetáculo
marginalizados e pouco compreendem as do desenvolvimento humano acontecendo
relações do corpo em movimento com a e utilizamos as ferramentas aprendidas com
200/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
o objetivo de proporcionar um aprendizado a educação é uma construção social e de-
integral às crianças. pende de seus atores, logo, o caminho ide-
Em atividades corporais proporcionadas al para cada turma, cada criança, depende
pelos educadores na Educação Infantil, seja de vivência, do contexto em que elas e você,
no parque, ou no pátio, um dos objetivos educador, estejam inseridos.
é sistematizar e dar intencionalidade a um O ideal é fazer das aulas momentos que va-
jeito de fazer o movimento e a cultura, uma lorizam o corpo na Educação Infantil, guia-
vez que pretende contribuir para que este das por educadores que valorizam o corpo
movimento seja carregado e impregnado como comunicação com o mundo, um es-
de vida, conhecimento, cultura e de um es- paço onde cada criança possa se conhecer
tilo de vida fisicamente ativo e consciente, melhor, conhecer o seu corpo e suas pos-
com crianças que são protagonistas e, por- sibilidades, e, em se conhecendo, que pos-
tanto, construtoras de seu conhecimento. sam ser capazes de fazer suas escolhas, for-
Na prática, muitas são as possibilidades e jando a autonomia necessária para a busca
muitos são os conteúdos de uma possível de uma vida mais recheada pelo prazer do
abordagem, cabe ao educador selecionar “movimento”, de SE MOVIMENTAR.
as melhores para os determinados momen- Dessa forma, o educador atua como faci-
tos do cotidiano escolar. Lembre-se de que litador desse aprendizado, sempre respei-
201/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
tando, apoiando e intervindo quando ne- Outra questão importante a ser ressalta-
cessário. da, quando falamos de educadores, é a
O julgamento e intervenção sobre o que é imparcialidade na escolha das atividades.
certo ou errado é outro quesito a ser discu- Lembramos que são ferramentas para que
tido quando refletimos sobre educadores e possamos chegar ao nosso objetivo, mas
sua atuação na Educação Infantil. Devemos inúmeros educadores ditam ou selecionam
nos questionar sobre o que é ser menino, brincadeiras, jogos, danças que fizeram
o que é ser menina, as atividades que são parte do seu cotidiano, atuando como im-
adequadas para cada gênero, atividades posição de uma cultura dominante, caben-
com cunho religioso, atividades culturais, do aos alunos apenas reproduzirem e aca-
entre outros, pois estas são questões com- tarem as regras do professor.
plexas e de fundamental importância no dia Com o objetivo de evitar conflitos, o diálo-
a dia dos educadores. Espero que você per- go inicialmente com os alunos e com a co-
ceba que um caminho que seja mais ade- munidade é fundamental para o sucesso do
quado, provavelmente, seja o bom senso e processo. Não devemos pensar que, por se
uma postura dialógica com as crianças, sua tratar de crianças pequenas, que elas são
família e os demais membros da comunida- incapazes de escolher e deliberar. Nunca se
de escolar. esqueça que elas são sujeitos históricos e de
202/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
direito, e o exercício da escolha, do escutar a a barriga de ninguém, o importante é din-
opinião dos demais colegas, é um processo heiro no bolso!”
fundamental para o exercício da cidadania. Este argumento é verídico em sua totali-
dade, pois somos uma categoria profission-
2. O que esperar das novas al, tal como tantas outras, e o reconhec-
gerações na Educação Infantil? imento social e salários compatíveis com
nossa qualificação são deveres de qualquer
O maior sonho de qualquer educador é
sociedade que se pretenda “educadora”.
agir positivamente na vida das pessoas.
Contudo, sabemos que esta não é a única
Questões salariais são importantes, qual-
motivação dos educadores, pois, quantos de
idade de trabalho e outras reivindicações
nós, apesar de condições não ideais, ao ver
pertinentes de uma categoria sempre estão
uma criança crescer e se desenvolver como
em nosso horizonte de análise, mas a opor-
uma pessoa melhor, potente, ativa, crítica,
tunidade de ver que seu trabalho foi bem
não se sente feliz e realizado? Podemos in-
feito e impactou positivamente a vida das
ferir que isto ocorre porque as crianças e
pessoas é o maior pagamento que o edu-
nossos alunos, de um modo geral, são fruto
cador pode receber. Alguns podem pensar:
do nosso trabalho, e esta ação dialética de
“Isto tudo é muito bonito, mas não enche
formação e transformação age tanto sobre
203/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
eles como sobre nós.
Nosso principal compromisso deve ser ga- Link
rantir e criar meios para que todas as cri- A história da Educação Infantil. Disponível em:
anças que passam para a Educação Infantil <https://www.youtube.com/watch?v=d-
tenham a oportunidade de se desenvolv- 2ZN4lyc8oA> Acesso em: 10 nov. 2016.
er integralmente, como sujeitos históricos,
culturais, plenos, potentes e de direitos.
Além dos cuidados básicos como a higiene, Outra questão fundamental sobre a Edu-
alimentação e segurança, que são muito cação Infantil de qualidade é um olhar aten-
importantes para o crescimento, os educa- to às questões motoras, pois sabemos de
dores devem romper a abordagem higieni- sua influência sobre as demais áreas do con-
sta e criar a possibilidade de proporcionar à hecimento, assim, é fundamental propor-
criança viver o agora, e, ao mesmo tempo, cionar à criança meios de desenvolvimento
ser preparada para o futuro é muito impor- que sejam compatíveis com a sua singular-
tante. idade. Neste mesmo sentido, lembre-se de
que a avaliação na Educação Infantil serve
para observar e retratar o desenvolvimento
das crianças em sua integralidade, isto quer
204/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
dizer que ela deve ser avaliada a partir de si da-a e a transforme.
mesma, sendo respeitado o seu momento Com o embasamento da psicomotricidade,
e estimulando o seu contínuo desenvolvi- da cultura corporal e da alfabetização cor-
mento. A avaliação não serve para classifi- poral, a Educação Infantil é aquela que pos-
car ou homogeneizar o processo de apren- sibilita à criança utilizar o seu corpo como
dizado, ao contrário, confere um status de ferramenta de desenvolvimento e comu-
especificações das diferenças e traços car- nicação com o mundo, além de ter a opor-
acterísticos de cada criança e, ao mesmo tunidade de poder brincar livremente e ex-
tempo, de pertencimento a um determina- pressar seus desejos, sentimentos e sonhos.
do grupo social. O lúdico que perpassa a educação com cri-
A atuação do educador na Educação Infantil anças precisa estar impregnado nas práti-
implica forjar práticas onde os alunos pos- cas e no próprio éthos educativo.
suem a oportunidade de serem compreen- Para que tudo isso aconteça, é fundamental
didos como seres biológicos, mas também que as crianças possam ter a oportunidade
culturais, podendo expressar-se a partir de de encontrar educadores comprometidos e
sua história, realizando o que Paulo Freire qualificados para atuarem de forma inves-
(1997) sinalizava como proporcionar que a tigativa e instigante com seus alunos, bus-
criança vivencie a sua realidade, compreen- cando práticas pedagógicas inovadoras e
205/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
criativas que atendam às necessidades das
crianças. Um educador que atue como um
companheiro, um mediador do conheci-
mento e do desenvolvimento amplo e pleno
destes sujeitos em formação.

206/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
Glossário
Zona de conforto: Termo utilizado pela psicologia e Programação Neurolinguística para ilustrar
local ou estado de estagnação do ser humano, impossibilitando-o de se desenvolver.
Abordagem Higienista: Abordagem que se preocupa com a higiene das pessoas, com o objeti-
vo de evitar doenças.
Práxis: A união entre a teoria e a prática.

207/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
?
Questão
para
reflexão
O mundo mudou e a educação deve acompanhar essas mu-
danças! Com as mudanças na forma de conhecimento, nas
relações, tecnologias, a forma de trabalho passou por uma
revolução, não havendo espaço às pessoas que são “as espe-
cialistas”. Na educação o processo é similar, os educadores
devem assumir um papel polivalente, onde estão envolvidos
com a educação e o desenvolvimento integral dos seres hu-
manos e não apenas para transmitir o seu conhecimento.
Reflita: o que você acredita que seja necessário para uma
formação integral do educador na Educação Infantil?

208/221
Considerações Finais
• O mundo mudou e a Educação deve acompanhar essas mudanças.
• O educador contemporâneo é aquele que rompe o estereótipo de especia-
lista em determinada área e toma uma postura na qual entende que traba-
lha com seres humanos e não somente com conteúdos preestabelecidos.
• A Educação Infantil deve ser aquela que valoriza a criança não somente na
questão biológica, mas também entende a criança como um ser cultural e
social.
• Uma Educação Infantil que respeita a criança garante a ela espaços impor-
tantes para que o livre brincar seja garantido.

209/219
Referências

FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione,
1989.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1997.
NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Pedagogia da cultura corporal: crítica e alternativas. São Paulo:
Editora Phorte, 2008.
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

210/219 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
Assista a suas aulas

Aula 8 - Tema: O trabalho do educador na edu- Aula 8 - Tema: O trabalho do educador na edu-
cação infantil: Diálogos com as culturas corpo- cação infantil: Diálogos com as culturas corpo-
rais. Bloco I rais. Bloco II
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211/219
Questão 1
1. De acordo com o texto, o novo profissional é aquele que:

a) Se especializa em somente uma área de atuação.


b) É o profissional que não possui uma visão ampla de mercado, sendo assim, não vê a neces-
sidade de estudar.
c) É a pessoa que entende o mercado como amplo, havendo a necessidade de conhecer diver-
sas possibilidades de ação, oferecendo um serviço de qualidade. 
d) Não existe a necessidade de pensar em novas possibilidades de ação, pois o mercado se
mantém como antes.
e) É o profissional que está disposto a abolir as abordagens tradicionais que só atrasam a evo-
lução do mercado.

212/219
Questão 2
2. A necessidade de uma Educação Infantil diferenciada parte do
pressuposto de que:

a) A partir da liberdade pedagógica, cada escola faz o que é de seu interesse com o objetivo de
educar as crianças.
b) De expandir a atuação da escola, incluindo nela informática e diferentes tecnologias. 
c) De uma Educação Infantil além do cuidado e segurança, onde a criança é vista como um ser
complexo.
d) De expandir a atuação da escola, incluindo nela a alfabetização e letramento. 
e) De uma Educação Infantil pautada principalmente no cuidado e segurança, onde a criança é
vista como um ser complexo.

213/219
Questão 3
3. O termo analfabeto corporal remete-se à:

a) Incapacidade da pessoa em reconhecer o seu corpo em sua funcionalidade e como uma fer-
ramenta de comunicação com o mundo.
b) Incapacidade da pessoa em reconhecer o nome das principais partes do corpo e sua funcio-
nalidade.
c) Incapacidade da pessoa em reconhecer o nome das principais partes do corpo pela falta de
conhecimento de leitura e escrita.
d) Incapacidade da pessoa em reconhecer seu corpo pela má gestão de materiais nas escolas.
e) Incapacidade das pessoas em reconhecer o seu corpo, pelo simples motivo de que as escolas
não possuem materiais adequados à sua prática.

214/219
Questão 4
4. O ideal para as novas gerações que passarão pela Educação Infantil,
quando se trata de questões corporais, é que terão a oportunidade de
vivenciar:

a) O seu corpo em plenitude, conhecendo sua estrutura, aplicando-a aos esportes e lutas.
b) O seu corpo como ferramenta de desenvolvimento e conhecimento e construção de sua cul-
tura.
c) O seu corpo como ferramenta de aprendizagem e reprodução da cultura dos educadores
envolvidos.
d) O seu corpo como um ser biológico que se desenvolve exclusivamente a partir de estímulos
motores.
e) O seu corpo como ferramenta de desenvolvimento a partir das diretrizes da Secretaria de
Educação, estabelecidas em seu conselho deliberativo.

215/219
Questão 5
5. A utilização da práxis com o objetivo de estimular as características
práticas do desenvolvimento psicomotor:

a) Os conteúdos trabalhados a partir do diálogo entre o educador e cultura corporal devem ser
abordados a partir da cultura esportiva.
b) A utilização da práxis, com o objetivo de trabalhar conteúdos teóricos com o objetivo de es-
timular a competência leitora e escritora nas crianças.
c) De metodologia específica com conteúdos teóricos, inerentes ao desenvolvimento intelec-
tual da criança.
d) Estímulo da práxis, objetivando desenvolver a união entre teoria e prática rumo ao desen-
volvimento de leitura e escrita das crianças.
e) A utilização da práxis com o objetivo de desenvolver a união entre teoria e prática rumo ao
desenvolvimento psicomotor das crianças.

216/219
Gabarito
1. Resposta: C. nar à criança a capacidade de reconhecer o
seu corpo e saber como utilizá-lo da melhor
Atualmente, em todas as áreas, o profissio- forma na vida.
nal é aquela pessoa capaz de ter conheci-
mentos múltiplos para conseguir atender 4. Resposta: B.
da melhor forma o seu público.
O corpo da criança deve ser tratado em ca-
2. Resposta: C. racterísticas biológicas, mas ir além disso,
reconhecê-lo como construtor de cultura,
A Educação Infantil deve ir além do cuidado desse modo, os educadores atendem da
e segurança, mas atender a questões peda- melhor forma as necessidades das crianças.
gógicas que auxiliam no desenvolvimento
da criança e a preparam para os desafios do 5. Resposta: E.
Ensino Fundamental.
A práxis é muito utilizada nas atividades
3. Resposta: A. corporais, pois estimula que os educado-
res vão além somente das características
A alfabetização corporal favorece a criança
corporais, mas também trabalhando com a
em diversos aspectos, entre eles, proporcio-
união entre a teoria e a prática, rumo ao de-
217/219
Gabarito
senvolvimento integral das crianças.

218/219

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