Você está na página 1de 21

UNIDADE II: FARMACOCINÉTICA

 1. Neurotransmissores e o sistema nervoso central


 Sistema nervoso central
O sistema nervoso está dividido em duas secções anatómicas: o sistema nervoso central
(SNC), que compreende o cérebro e a medula espinal, e o sistema nervoso periférico, que
inclui os neurônios localizados fora do cérebro e da medula espinal – ou seja, qualquer
nervo que entra ou sai do SNC.
O sistema nervoso periférico está subdividido nas divisões eferente e aferente. Os
neurônios eferentes transportam os sinais oriundos do cérebro e da medula espinal para os
tecidos periféricos, e os neurônios aferentes trazem as informações da periferia para o SNC.
Os neurônios aferentes proveem impulsos sensoriais para modular a função da divisão
eferente por meio de arcos reflexos ou vias neurais que intermedeiam a ação reflexa.

Divisão funcional do Sistema Nervoso


 Sistema nervoso somático ou da vida de relação
 Aferente
 Eferente
 Sistema nervoso autônomo ou visceral ou da vida vegetativa
 Aferente
 Eferente
 Sistema Nervoso Somático
Sistema nervoso motor voluntário, que está sob controle consciente. Cada uma das suas
vias consiste em um único neurônio. Onde o soma está situado no sistema nervoso central e

Página | 1
o axônio se liga ao órgão efetor, que é um músculo esquelético.   
 Sistema nervoso autônomo (vegetativo)
O sistema nervoso autônomo (SNA), junto com o sistema endócrino, coordena a regulação
e a integração das funções corporais. O sistema endócrino envia sinais aos tecidos-alvo,
variando os níveis de hormônios na corrente sanguínea. O sistema nervoso exerce sua
influência pela rápida transmissão de impulsos elétricos nas fibras nervosas que terminam
nas células efetoras, as quais respondem especificamente à liberação de substâncias
neurotransmissoras.
Características
 Sistema involuntário, que controla e modula o funcionamento, primariamente,
dos órgãos viscerais.
 Formado por neurônios motores que controlam músculos lisos, músculo
cardíacos e glândulas.
 Formado por dois neurônios, um pré-ganglionar e outro pós-ganglionar.
 O corpo celular de cada neurônio pré-ganglionar fica situado no SNC.             
Divisão anatômica do Sistema nervosa autônomo
 Divisão simpática
 Divisão parassimpática
Ambas as partes coordenam os aspectos fisiológicos que ocorrem continuamente no dia-a-
dia do ser humano, adaptando-o as mais adversas situações que ocorrem no meio. Embora
sejam duas partes de um mesmo sistema, os componentes simpático e parassimpático
diferem em muitos pontos, sejam eles anatômicos, bioquímicos ou funcionais.
Basicamente, o SNA simpático medeia reações de luta e estresse, enquanto o SNA
parassimpático medeia reações de repouso e digestão.
As diferenças bioquímicas entre eles são importantes do ponto de vista farmacológico, pois
dizem respeito à acção dos fármacos a nível do SNA: os fármacos que imitam a acção do
sistema nervoso simpático são denominadas simpaticomiméticos, ao passo em que as
drogas que imitam ações do parassimpático são chamadas de parassimpaticomiméticos.
 Neurotransmissores
Neurotransmissores são sintetizados em várias partes da célula nervosa e armazenam-se em
vesículas localizadas nos terminais sinápticos, de onde são liberados mediante impulso

Página | 2
adequado.
Chegando aos botões terminais, os impulsos nervosos promovem a liberação de substâncias
químicas especiais denominadas neurotransmissores.
 Colinérgicos : Acetilcolina
 Monoaminas: Epinefrina, dopamina, histamina, norepinefrina e serotonina.
 Aminoácidos: ác.glutâmico, ác. Aspártico, GABA, glicina e taurina.
 Neuropeptídeos: Angiotensina II, glucagônio, neurotensina, opióides endógenos,
substância P, ACTH, MSH,VIP.
 Purinas: ATP, adenosina
 Substâncias gasosas: NO, CO
 Outras: Insulina, benzodiazepínicos.
Existem fibras nervosas em que se verifica predomínio de determinado neurotransmissor e
que, por isso, constituem alguns sistemas específicos do SNC:

 Noradrenérgico – norepinefrina
 Colinérgico – acetilcolina
 Dopaminérgico – dopamina
 Serotoninérgico – serotonina
 Peptídeos opióides endógenos: encefalinas, endorfinas e dinorfinas.

Farmacocinética
É a acção do organismo sobre o fármaco.
Farmacocinética é o caminho que o medicamento faz no organismo. Não se trata do estudo
do seu mecanismo de acção mais sim as etapas que o medicamento sofre desde a
administração até a excreção, que são:
Absorção
Distribuição                                                                              Organismo activo
Metabolismo ─►
Excreção                                                                                    O fármaco Passivo

Uma vez que o medicamento entra no organismo, essas etapas ocorrem de forma
simultânea sendo essa divisão apenas de carácter didáctico.

Página | 3
1. Absorção: é a passagem de um medicamento de seu local de administração para o
plasma. É importante para todas vias excepto a via intravenosa.
A absorção dos fármacos realiza-se maioritariamente na membrana lipídica da mucosa do
trato gastrointestinal e pode resultar de um ou mais dos seguintes processos:
 Difusão directa
 Difusão passiva
 Transporte activo
Difusão directa
Resulta da passagem do fármaco através dos poros das membranas celulares. Só as
moléculas esféricas de peso inferiores a 150 ou lineares de peso inferior a 400 são capazes
de sofrer este tipo de difusão, sendo pouco os medicamentos que estão nestas condições.
Difusão passiva
É a mais frequente para medicamentos com características pouco ou nada polares. Este tipo
de difusão depende de vários factores como:
 Lipossolubilidade do fármaco – quanto mais for elevado o coeficiente de partilha
óleo/água maior a percentagem do fármaco a ser absorvido pelo processo de difusão
passiva. No, entretanto, o fármaco para ser absorvido necessita de ter algumas propriedades
hidrofílicas, uma vez que as substancias exclusivamente lipossolúveis não são absorvidas.
 Estado de ionização- é bastante importante, uma vez que, só a fracção não ionizada
pode ser absorvida por difusão passiva. Esta absorção é tanto maior quanto menos ionizado
estiver o fármaco.
Os fármacos que são sais de ácidos e bases fracas estão poucos ionizados e, a
lipossolubilidade de fracção não ionizada, a maior parte de fármaco, afeta a passagem
através do trato gastrointestinal, pelo que a velocidade e a percentagem de absorção
dependem da concentração da fracção não ionizada.
2. Transporte activo
É um processo de absorção especializado, feito contra o gradiente de concentração,
necessitando de um transportador especifico que assegure a absorção de moléculas como
aminoácidos, iões (Na+, K+, I+) ou certos ácidos e bases fortes. Este tipo de transporte

Página | 4
consome energia e alem disso é um processo que pode saturar. São poucos os
medicamentos que são absorvidos pelo processo de absorção activa, sendo os
cardiotónicos, ferro, riboflavina (vitamina B2) e acido ascórbico os mais conhecidos.
A natureza das refeições também pode influenciar de modo significativo a absorção de
fármacos por transporte activo uma vez que os nutrientes são absorvidos preferencialmente
por este mecanismo de transporte.
O medicamento em comprimido pode ser absorvido em pequenas partículas, somente
depois de dissolvidos. Uma vez absorvida ocorrerá o efeito do medicamento.
A absorção pode ser completa ou parcial, dependendo de factores que influenciam ou que
interferem.
Factores que influenciam na absorção:
 Área de contacto(superficie absortiva);

 Duração do contacto;

 Intimidade do contacto;

 Irrigação da superfície;

 Espessura da superfície;

 Factores fisiológicos e patogénicos;

 Alimentação;
 Estabilidade;

 Solubilidade do princípio activo e velocidade de dissolução;

 Dimensão das partículas;


 Formas farmaceuticas;
 Vias de administraçao.
Tabela nº 1: Factores que influenciam a absorção   
Factores Maior absorção Menor absorção
Concentração do fármaco Maior Menor
Forma farmacêutica Liquida Solida
Área de contacto ou absortiva Grande Pequena
Irrigação da superfície Intensa Fraca

Página | 5
Condições patológicos Inflamação Inchaço /edema
Espessura da superfície Fina Espessa
Duração de contacto Maior Menor

Tabela nº 2: Factores que influenciam a velocidade de absorção


Factores Maior absorção Menor absorção
Tempo de esvaziamento Maior    Menor
Motilidade intestinal Menor Maior
Alimentação Ausência Presença
Factores da formulação Presença Ausência
Metabolismo entérico Ausente Presente

Tabela Nº 3: Factores que influenciam na biodisponibilidade dos medicamentos


administrados por via oral
Factores
Características do fármaco -Inactivação antes da absorção gastrointestinal
-Absorção incompleta
-Efeito de primeira passagem no fígado
Forma farmacêutica -Estado físico do medicamento
-Excipiente ou veículo do medicamento
Interacção com outras substâncias no -Alimentos
tracto gastrointestinal - Medicamentos   
Características do paciente pH gastrointestinal
Motilidade gastrointestinal
Perfusão
Flora intestinal
Função hepática
Fenótipo genético

3. Distribuição: é processo que permite o acesso do fármaco, através da circulação

Página | 6
sanguínea, a todo o organismo, nomeadamente aos locais de acção, onde vai exercer
os seus efeitos terapêuticos.
Após a absorção do medicamento pela corrente sanguínea, este atinge vários tecidos do
organismo. As variações individuais de cada paciente podem alterar a distribuição do
medicamento no organismo.
Factores que influenciam a distribuição do fármaco no organismo
 Fluxo sanguíneo
 Passagem do fármaco do plasma para o fluido intersticial e deste para a célula;
 Lipossolubilidade relativa do composto;
 Permeabilidade capilar;
 Ligação do fármaco à proteínas plasmáticas como a Albumina e globulinas;
 Barreiras orgânicas  que tornam a distribuição do fármaco nestes locais; bastante
peculiares:
 Barreira Hematoencefálica  
 Barreira Hematoplacentária
Processo que permite o acesso do fármaco, através da circulação sanguínea, a todo o
organismo, nomeadamente:
 local de acção terapeutico, onde vai exercer os seu efeitos desejados;
 Reservatorio tecidual, onde vai ser acumulado sem exercer efeito terapeutico;
 Local de acçao inesperada, onde vai exercer uma acçao indesejada, provocando
efeito colateral;
 Local onde são metabolizados, podendo exercer a sua acção ou serem inactivados;
 Local onde são excretados.

4. Eliminação dos fármacos : é a remoção do princípio activo do organismo, ou por


metabolização hepática ou por excreção renal.

Os fármacos são eliminados do organismo por: biotransformação ou excreção. Os dois


órgãos mais importantes para a eliminação da maioria dos fármacos são os rins e o fígado.
 Metabolismo ou biotransformação
Metabolismo também chamado de biotransformação é toda alteração na estrutura química
que os fármacos sofrem no organismo, geralmente por processos enzimáticos, pode ser por

Página | 7
Activação ou por inactivação.
Isto é, a transformação química do fármaco em um composto mais facilmente excretado.
O objectivo de tal processo é acelerar a sua excreção, pois os fármacos são reconhecidos
como substâncias estranhas ao organismo.
    A     Obtenção de Mais Mais
transformação compostos hidrossolúveis facilmente
dos fármacos mais polares excretados
visa pelos rins

O principal órgão de biotransformação é o fígado, podendo ocorrer em menor


percentagem nos pulmões, rins, intestino, placenta, pele, cérebro. São órgãos que possuem
enzimas inactivadoras. Tal processo, pode também transformar um fármaco inactivo (pró-
fármaco) em um fármaco activo.
Exemplo: Enalapril, quem faz efeito são seus metabólitos activos, ou seja, primeiro
precisa ser biotransformado para depois exercer seu efeito terapêutico.
Excreção - é o processo pelo qual um fármaco inalterado e os seus metabólitos são
removidos do organismo.

Os rins são o principal órgão excretor, mas os intestinos, pulmões, saliva, suor, leite
materno podem actuar na excreção dos medicamentos no organismo; se causar rápida
excreção diminuirá o seu efeito.

Farmacodinâmica
É a acção do fármaco sobre o organismo.
Farmacodinâmica é o estudo dos efeitos bioquímicos e fisiológicos de uma droga. O
mecanismo de ação de uma droga podem incluir a ligação de molécula de droga a um,
receptor, enzima ou canal de íon, resultado da resposta fisiológica observável. Finalmente
esta resposta pode ser intensificada ou acentuada pela edição de outras substâncias com
acções similares ou opostas.

A interacção, a nível celular, entre um medicamento e certos componentes celulares –

Página | 8
proteínas, enzimas ou receptores-alvo, representa a acção do fármaco. A resposta decorrente
dessa acção é o efeito do fármaco.

Farmacodinâmica                                                                                                                                           
A farmacodinâmica tem como objectivo principal delinear as interacções físicas e químicas
entre fármaco e célula-alvo.
Os fármacos interagem com o organismo de diversas formas. Normalmente formam
ligações químicas com sítios específicos chamados receptores, presentes no organismo.
Estas ligações se formam somente se a droga e o receptor possuírem estruturas químicas
semelhantes. A relação entre a estrutura química e o seu receptor é como a observada entre
uma chave e a sua fechadura.
Os fármacos que se ligam a um receptor e são capazes de estimular uma resposta são
conhecidas como agonistas. As que se ligam a um receptor mas não estimulam uma
resposta são chamadas de antagonistas. As que se ligam a um receptor para estimular uma
resposta, mas inibem outra são chamadas de agonistas parciais.

Fatores de risco para a interação entre fármaco e nutrientes


Quando o medicamento é administrado, simultaneamente com alimentos, a um paciente,
podem agir de forma independente ou interagirem entre si. Com aumento ou diminuição de
efeito terapêutico, aumento das reacções adversas e comprometer o estado nutricional.

Página | 9
Os fatores de risco para a interacção entre fármaco e nutrientes são:
 Condição socioeconómica
 Hábitos alimentares   
 Distúrbios renais e hepático
 Doenças crônicas debilitantes
 Deficiência proteica
 Desnutrição e anemia
 Alcoolismo
 Dependência às drogas
 Natureza dos nutrientes
 Características dos medicamentos
 Funcionamento do TGI
Existem diversos mecanismos pelos quais podem ocorrer interações entre fármacos e
nutrientes:
 Criação de uma barreira mecânica provocando a não absorção do fármaco.
 Formação de quelatos entre fármaco e nutriente
 Alteração da velocidade de dissolução do medicamento
 Alteração da velocidade de esvaziamento gastrointestinal
 Aumento da motilidade gastrointestinal
 Aumento do fluxo de sangue par o fígado
 Aumento da secreção da bílis, ácidos e de enzimas de metabolização
 Inibição do metabolismo do fármaco
 Competição com o mesmo sistema de transporte
As interações entre nutrientes e fármacos podem alterar a biodisponibilidade, a acção ou a
toxidade de um ou mesmo de ambos.     

Fármacos que alteram a ingestão dietética


Alguns medicamentos são capazes de gerar alterações na mucosa oral, como inflamação e
redução da inflamação salivar (xerotomia), e podem estar envolvidas na redução da
ingestão alimentar. Dividem- se em:

 Fármacos que alterar a percepção sensória dos alimentos

Página | 10
 Anfetamina, benzocaína, fenitoína, quimioterápicos, cisplatinos (antineoplásico),
captopril (anti-hipertensivo) amprenavir (antiviral), fenitoína (anticonvulsivo),
claritromicina (antibiótico).

 Fármaco que causam xerotomia (boca seca) que por sua vez causam secção do
paladar e provocam estomatite, glossite (inflamação da língua).

 Antidepressivos

 Anti-histamínicos e antiespasmódicos.

 Fármaco que causam frequentemente mucosite (inflamação da mucosa oral) grave,


levando a dor intensa que impossibilita a ingestão de alimentos sólidos e líquidos.

 Agentes quimioterápicos antineoplásicos.

 Fármacos que destroem bactérias orais naturais provocando a candidíase

 Corticosteróides inalados

 Cefalosporinas

 Agentes quimioterápicos

 Fármacos que irritam a mucosa gástrica: desconforto, náuseas, vômitos, úlceras

 Quimioterápicos

 Analgésicos AINES

 Fármacos que alteram o apetite

 Diminuindo o apetite: Anfetaminas, colchicina, digoxina, furosemida,


hidroclorotiazida, carbamazepina, anti-infeciosos, antineoplásicos.

 Aumentando o apetite: Anti-histamínicos, psicotrópicos, corticosteróides,


anticonvulsivantes (ácido valproico, gabapentina), anticoncecionais com estrogénio,
antidiabéticos (insulina, sulfonilureias, tiazolinedionas), antipsicóticos (clozapina,
olanzapina, risperidona e quetiapina), antidepressivos tricíclicos e inibidores da MAO.

Fármacos que afectam a absorção dos nutrientes:

Interação fármaco /Nutriente é o desequilíbrio nutricional por acção de um


medicamento, ou quando um efeito farmacológico é alterado pela ingestão de nutrientes ou
estado nutricional do paciente.
A interação entre alimentos e medicamentos ocorre quando um alimento, ou um de seus

Página | 11
componentes, interfere nos parâmetros farmacocinéticos e farmacodinâmicos. Também
consideramos que há interação, quando um fármaco altera o uso de um nutriente pelo
organismo. Mas, ela só é clinicamente significativa quando a resposta terapêutica é
modificada ou resulta em má nutrição.
A absorção de nutrientes e de alguns fármacos tem mecanismos semelhantes e em muitos
casos competitivos, tendo como principal alvo de interação o trato gastrointestinal, não
ocasionando consequências fatais, mas sendo relativamente frequente o surgimento de
efeitos adversos.
A interacção entre os alimentos e os medicamentos pode produzir-se no decorrer de todas
as etapas biofarmacêuticas e farmacocinéticas.
Interação entre medicamentos e alimentos tem sido um problema de grande relevância na
prática clínica, pois, os nutrientes podem interferir modificando os processos de absorção,
distribuição, biotransformação e excreção, ocasionando a não eficácia terapêutica.
Este tipo de interação causa o aumento ou a redução de biodisponibilidade. Os fármacos
podem alterar a absorção dos nutrientes pela alteração do pH intestinal, quelação ou outros
mecanismos de complexação, alteração da motilidade gastrointestinal, alteração da
estrutura funcional do intestino e a actividade das enzimas e alteração da flora bacteriana
intestinal.

Fármacos que alteraram a motilidade gastrointestinal

 Acelerando o peristaltismo intestinal: laxantes (Bisacodyl), diminuem a absorção


da gordura, potássio e cálcio.

 Diminuindo o peristaltismo intestinal: antiespasmódicos (buscopan, atropina,


propantelina),

Fármacos que alteraram o PH gástrico

 Promovendo a alteração da acidez gástrica: Antiácidos diminuem a absorção da


vitamina B12, Cálcio, Ferro, Magnésio, Zinco e reduzem a biodisponibilidade da vitamina
A, carotenoides e tiamina.

Fármacos que alteraram a estrutura funcional do intestino e a actividade das enzimas

 Danificando a superfície intestinal:

 Quimioterápicos, colchicina e ácido paraminossalicílico: reduzem a absorção da

Página | 12
vitamina B12,

 Ácido acetilsalicílico (aspirina) – lesão a mucosa reduzindo a absorção do ferro e


cálcio.

 Afectando a acção da bile: Colestiramina, Neomicina.

Fármacos que alteraram a flora bacteriana intestinal

 Fármacos que destroem bactérias intestinais: Antibióticos, Quimioterápicos

 Fármacos que induzem a formação de complexos.

 Complexação nutriente e medicamento: Tetraciclinas e cálcio, hipoglicemiantes


orais e vitaminas B12, óleo mineral e vitaminas lipossolúveis.

Tabela nº1: Resumo das interações na absorção

Cálcio Laxativos, antiácidos, neomicina, ácido acetilsalicílico, tetraciclina,


ciprofloxacina
Β- Caroteno Óleo mineral
B12 Antiácidos, colchicina e ácido paraminossalicílico
Ferro Antiácidos, aspirina, tetraciclina, ciprofloxacina
Magnésio e zinco Antiácidos, tetraciclina, ciprofloxacina

Folato Trimetoprim, pirimetamina

Fármacos que afectam o metabolismo dos nutrientes   

Alguns fármacos inibem a síntese de determinadas enzimas, por competirem, por


competirem e inativarem vitaminas que são importantes em todas estruturas (cofactores das
enzimas). Exemplos:

 Fármacos que aumentam o metabolismo dos nutrientes

 O cotrimoxazol (sulfametoxazol +trimetoprim): folato.   

Página | 13
 Fármacos que diminuem o metabolismo dos nutrientes

 A Fenitoína, fenobarbital: folato, biotina, vitamina D.

 Antagonismo

 O metotrexato antagoniza o ácido fólico e a varfarina a vitamina K.

 Antivitaminas   

Antivitamina ou antagonista é uma substancia natural ou artificial que interfere com a


síntese ou metabolismo das vitaminas.

Muitos antagonistas de vitaminas são compostos semelhantes, em estrutura, à molécula


activa. Tomando o lugar da vitamina, eles tornam a coenzima inactiva. São compostos que
diferem minimamente de sua vitamina correspondente tem o papel de enganar os
organismos inibindo a função biológica da componente genuína.

Exemplo: rosoflavina (antivitamina da vitamina B2), gingkotoxina (antivitamina da


vitamina B6).

Se um alimento contém antivitaminas, eles limitam ou inibem a absorção das


vitaminas que ingerimos naquele alimento. São antivitaminas:

 Antibiotina: a avidina é encontrada na clara do ovo , uma substância que inibe a


absorção da vitamina biotina  (também chamada de vitamina H) no intestino. Isso só é um
problema ao comer ovos crus, pois o calor destrói a avidina.

 Antitiamina: a absorção de tiamina ou vitamina B1 pode ser afetada pela presença


da enzima tiaminase I, pois degrada a vitamina tiamina. Esta enzima tiaminase é encontrada
em peixes, crustáceos e carnes orgânicas. Défice dessa vitamina são observados em
populações que consomem muito peixe cru, o que é evitado pelo calor, pois o cozimento
destrói a tiaminase I. A deficiência de tiamina leva à doença do beribéri. A
enzima tiaminase II (presente nas samambaias) e ácido cafeico (que não tem nenhuma
relação com cafeína e está presente em chás verdes e pretos, farelo de trigo etc.)  também
interagem com a tiamina .

Página | 14
 Ácido ascórbico oxidase: é uma enzima que destrói a vitamina C. Podemos
encontrá-la em pepinos, pêssegos, repolho, abóbora, cenoura, tomate, batata, etc. É
facilmente inativado pelo calor, por exemplo, escaldando a 100 °   por 1 minuto. Essa
técnica é chamada de "branqueamento", pois evita o escurecimento enzimático. O que
fazemos então? Comer alimentos vegetais frescos e cozidos no vapor, uma das técnicas
culinárias que destrói o mínimo de nutrientes.

 Niacinogénio: é uma substância que impede a absorção de niacina ou vitamina


B3. É encontrado no milho e só é inativado embebendo o cereal com hidróxido de cálcio
(cal morta). Curiosamente, esse é um processo milenar realizado pelas culturas da América
Central, que aprenderam a embeber o milho com cinzas para poder limpá-lo com mais
facilidade. Dessa forma, eles também inativaram o niacinogênio e evitaram a pelagra , uma
doença causada pela deficiência de niacina.

Fármacos que interferem com as vitaminas

Fármacos antiepiléticos

 Fenobarbital e fenitoína aumentam do metabolismo da vitamina D, vitamina K e


ácido fólico. Pacientes em tratamento crónico podem precisar de suplementos.

 Carbamazepina pode afetar o metabolismo da biotina, vitamina D e ácido fólico


(pode também reduzir a absorção), levando a uma possível diminuição destas vitaminas.

 Contracetivos orais (com estrogénio) - Observa-se uma redução dos níveis de


vitamina B12, vitamina C, riboflavina, vitamina B6, folatos e zinco

 -Inibidores da HMG CoA reductase (estatinas) - Bloqueiam a síntese de ácido


mavalónico, precursor da Coenzima Q10 (e do colesterol). A Coenzima Q10 tem um papel
importante na produção de energia na forma de ATP.

 Isoniazida - INH (anti-tuberculose) - bloqueia a conversão de piridoxina na sua


forma ativa. Também aumenta a excreção de piridoxina na urina. Pacientes com baixa
ingestão estão em maior risco.

 Hidralazina, penacilamina, levodopa e cicloserina são também antagonistas de

Página | 15
piridoxina

 Inibidores da monoaminoxidase

Os inibidores da MAO (monoamino oxidase), usados no tratamento da depressão, são


medicamentos que inibem as enzimas que degradam a serotonina, epinefrina e outros
compostos; como resultado, essas substâncias se acumulam no organismo provocando um
estado de euforia.

Mecanismo de Ação

Inibem a enzima monoamina oxidase (MAO), responsável por metabolizar monoaminas


como a noradrenalina, dopamina e serotonina, aumentando assim a concentração sináptica
destas e condicionando maior excitação dos neurónios que possuem receptores para estes
mediadores. Como resultado, essas substâncias se acumulam no organismo provocando um
estado de euforia.

A tiramina é um composto farmacologicamente ativo que se forma pela descarboxilação


bacteriana do aminoácido tirosina, que é normalmente degradada pela via da MAO.
Quando do uso de inibidores dessa via metabólica, a tiramina se acumula, provocando uma
severa hipertensão, cefaléia e palpitações Portanto, os alimentos ricos em tiramina como os
queijos fortemente curados devem ser excluídos da dieta de indivíduos que fazem uso desse
medicamento. Outros alimentos que contem tiramina ou dopamina (outra amina que exerce
o mesmo efeito) são: carnes curadas, embutidos, fígado de galinha e bovinos, vinho,
vinagre de vinho, arenque em conserva, feijão fava, iogurte, cerveja, chocolate, ovas de
peixe, abacate, banana, passas, molhos de soja, fava, colas, café, chocolate, chá.

Existe dois subtipos especificos de MAO:

 MAO-A: possui como substrato essencial a noradrenalina (NA) e serotonina (5-


HT). Seu bloqueio é desejado para o tratamento específico da depressão.

 MAO-B: possui como substrato essencial a dopamina. Seu bloqueio é desejado


para o tratamento específico da Doença de Parkinson.

Os IMAO nunca são o medicamentos    de primeira escolha para o tratamento da depressão,


Página | 16
sendo aconselhável o seu uso em última instância, uma vez que apresentam efeitos tóxicos
e adversos bastante eminentes. Os IMAOs causam uma inibição que é irreversível e não-
seletiva, pelo que bloqueiam a acção dos dois subtipos da enzima (MAO-A e MAO-B).

Indicações:

 Depressão: quando outros tratamentos são ineficientes

 Depressão com características histéricas

 Fobias

 Pânico

Representantes: Fenelzina, tranilcipromina, seleginina, moclobemida, Clorgilina.

Efeitos colaterais:

 Aumento do peso corporal,

 Estimulação do SNC;

 Hipotensão postural

 Inquietação;

 Insónia;

 Toxicidade hepática

 Estimulação central - pode produzir tremores

 Convulsões com superdosagem;

 Resposta hipertensiva grave a alimentos contendo tiramina;

Superdosagem: convulsões e mania.

Interacções

 IMAO + tiramina - crises hipertensivas e hemorragia intracraniana.

Página | 17
A tiramina é um composto farmacologicamente ativo que se forma pela descarboxilação
bacteriana do aminoácido tirosina, que é normalmente degradada pela via da MAO.
Quando do uso de inibidores dessa via metabólica, a tiramina se acumula, provocando uma
severa hipertensão, cefaléia e palpitações Portanto, os alimentos ricos em tiramina como os
queijos fortemente curados devem ser excluídos da dieta de indivíduos que fazem uso desse
medicamento. Outros alimentos que contem tiramina ou dopamina (outra amina que exerce
o mesmo efeito) são: carnes curadas, embutidos, fígado de galinha e bovinos, vinho,
vinagre de vinho, arenque em conserva, feijão fava, iogurte, cerveja, chocolate, ovas de
peixe, abacate, passas, molhos de soja, fava, colas, café, chocolate, chá.

       Excreção dos nutrientes   

Alguns fármacos podem alterar a reabsorção de alguns minerais nos rins.    A excreção
inadequada de fármacos pode causar toxicidade, a excreção excessiva de fármacos pode
reduzir o efeito terapêutico, o pH urinário pode afetar a excreção de fármacos. Dietas
extremas podem alterar o pH urinário.

 Fármacos que aumentam a excreção:

 Diuréticos de ansa (furosemida) aumentam a excreção de potássio, magnésio, sódio e


cálcio - Os pacientes em tratamento com doses elevadas de diuréticos podem precisar de
suplementos de potássio e magnésio - Os eletrólitos deve ser monitorizados

 Diuréticos tiazídicos aumentam a excreção de potássio e magnésio e poupam cálcio


pela intensificação da sua reabsorção renal

 Diuréticos poupadores de potássio (espirinolactona, triantereno): aumentam a


excreção de sódio, cloro e cálcio e poupam potássio. Deve-se ter cautela com alimentos
ricos em potássio, já que podem causar hipercalemia.

 Glicocorticóides: reduzem a excreção de sódio e amentam a de potássio e de cálcio.

 Fármacos que diminuem a excreção

 Glicocorticóides: reduzem a excreção de sódio e aumentam a de potássio e de cálcio.


É recomendado dieta com baixo teor de sódio, dieta rica em potássio. Suplementos de

Página | 18
cálcio e vitamina D são recomendados com o uso de corticosteroides a longo prazo para
prevenir a osteoporose.

 IECA e vitamina K

Tabela nº 2: Deficiências nutricionais induzidas por medicamentos

Fármacos Alimento/nutrientes Recomendações

Ceftriaxona, Ampicilina, Vitamina K e Vitamina B Aumentar a ingestão de dietas que


Gentamicina, Cefalotina, 12 contenham pré e pró-bióticos, que
Oxacilina, Cefalexina, Amoxicilina, estão presentes em iogurtes e
Benzilpenicilina, produtos lácteos fermentados e
Ciprofloxacina e Eritromicina nos componentes das fibras
alimentares.
Cloranfenicol Ferro, ácido fólico, Aumentar o consumo de alimentos
ricos nesses nutrientes.
riboflavina,
Vitaminas    A, B6 e B12
Dexametasona, Hidrocortisona e Vitaminas A, C, B6, e Aumentar ao consumo de frutas
Prednisona ácido fólico. nos intervalos das refeições e
Ca, K, P, Mg, Zn e tiamina evitar o consumo de lacticínios
após refeições que contenham
ferro.
Omeprazol, Ranitidina e Cimetidina Vitamina B12 Aumentar a ingestão de alimentos
ricos nessa vitamina, como ovos,
leite e derivados, frutos do mar,
fígado, etc.
Diclofenac Alimentos em geral Ingerir o medicamento durante a
refeição ou logo após com um
copo de água.
Óleo mineral Vitaminas A, D, E e K Não ingerir alimentos ricos em
vitaminas A, D, E e K junto ou
próximo à administração da
substância.

Página | 19
Tabela nº 3: Possíveis interacções entre alimentos/nutrientes e fármacos

Fármacos Alimentos/nutrientes Mecanismos/efeios       Recomendações

Cardiovasculares

Amilorida Cálcio (leite e queijo) Depleta a absorção de Evitar a administração com


cálcio (Ca) alimentos ricos em Ca

Captopril Alimentos em geral Diminui a absorção do Administrar uma hora antes ou duas
fármaco horas após as refeições

Carvedilol Alimentos em geral Administrar com Administrar com alimentos


alimentos diminui a
hipertensão ortostática

Digoxina Cenoura (fibras) Diminui a absorção do Evitar a administração com


fármaco alimentos ricos em fibras

Nifedipina Alimentos em geral Aumenta a Administrar com alimentos


biodisponibilidade do
fármaco

Propanolol Leite (proteínas) Aumenta a Administrar com alimentos


biodisponibilidade do hiperproteicos
fármaco

Anti-inflamatórios

Ácido acetilsalicílico Suco de maracujá (vitamina C) e alface Depleta a absorção das Não ingerir alimentos ricos em

Página | 20
(vitamina K) vitaminas vitaminas C e K, ácido fólico,
tiamina e aminoácidos, próximo ou
durante a administração dos
medicamentos

Diclofenaco Alimentos em geral Diminui o risco de lesão Ingerir com alimentos para diminuir
no TGI o risco de lesão da mucosa gástrica

Paracetamol Cenoura e alface (fibras) Diminui a absorção do Evitar alimentos ricos em fibras
fármaco junto ou próximo à administração
do medicamento

Diuréticos

Espironolactona Leite e carne (potássio) Retém potássio (K) Evitar a administração com
alimentos ricos em K

Furosemida Abóbora, arroz, cenoura, carne (Sódio) Depleta sódio (Na) Evitar a administração com
alimentos ricos em Na

Hidroclorotiazida Queijo, ovo frito e carne Aumenta a absorção do Administrar


fármaco e depleta sódio com alimentos
gordurosos

Antiulcerosos

Hidróxido de Carne e feijão (Ferro) Depleta a absorção de Não ingerir alimentos contendo Fe
alumínio Ferro (Fe) junto ou próximo à administração
do medicamento

Omeprazol Frango e leite (vitamina B12) Depleta a absorção da Não ingerir alimentos ricos em
vitamina B12 vitamina B12 juntoou próximo à
administração do medicamento

Ranitidina Leite e carne (vitamina B12) Depleta a absorção da Não ingerir alimentos ricos em
vitamina B12 vitamina B12 junto ou próximo à
administração do medicamento

Laxantes

Óleo mineral Abóbora (vitamina A) e Depleta a absorção das vitaminas A e Não ingerir alimentos
salada de verduras K ricos em vitaminas A,
(vitamina K) D, E e K

Página | 21

Você também pode gostar