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FUNDAMENTOS DA FARMACOLOGIA
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila} 3
FARMACOCINÉTICA
a. peso molecular,
b. forma molecular,
c. grau de ionização,
d. solubilidade da forma não ionizada em lipídios,
e. gradientes eletroquímicos.
Difusão através dos capilares: É a primeira barreira. Depende dos mesmos fatores da
absorção, só que em sentido oposto, do plasma ao interstício. Adicionalmente, sofre a
influência determinante da pressão sanguínea e do fluxo regional.
Compartimentos especiais:
a. Barreira Hematoencefálica (poros de 8 Å, capa de astrócitos, areas pérvias)
b. Barreira Hematoliquórica (plexos coróides)
c. Placenta (trofoblastos): Não se trata de uma „barreira‟ como muitos pensam,
praticamente todas as drogas ingeridas pela mãe chegam ao feto.
Ligação das drogas aos tecidos e proteínas plasmáticas: Só a droga livre exerce efeito
sistêmico. A ligação das drogas aos tecidos reduz a taxa de excreção e às proteínas
plasmáticas leva à formação de reservatórios e posterior redistribuição das drogas,
primeiro para órgãos mais vascularizados e, em seguida, para os de menor fluxo regional.
Onde,
t½ = meia-vida
f = fração absorvida
d = dose individual
Vd = volume de distribuição (droga absorvida/concentração
plasmática)
T = doseamento (em meias-vidas)
II. BIOTRANSFORMAÇÃO
1) PAPEL DA BIOTRANSFORMAÇÃO
Reações da Fase II: São reações sintéticas ou de conjugação. Acoplam substratos endógenos
à droga, tais como o ácido glicurônico, um amino ácido ou outras substâncias. Raramente
levam à formação de metabólitos ativos.
Solubilidade Lipídica: Favorece a penetração das drogas no retículo endoplasmático com sua
consequente ligação à enzima citocromo P450, o componente fundamental do sistema
oxidativo.
5) MECANISMOS OXIDATIVOS
São realizados pelas oxidases de função mista ou monoxigenases. Estas exigem a presença de
um agente redutor (doador de elétrons), o NADPH (dinucleotídeo da nicotinamida e adenina
reduzido) e oxigênio molecular. A citocromo P450 e a redutase da citocromo P450 são os
componentes fundamentais destes processos oxidativos que, basicamente, transferem elétrons
do NADPH para o complexo P450-DROGA-Fe3+ que, na presença de oxigênio, resulta na
produção da droga oxidada e água. Contudo, as aminas biogênicas (deaminação) são oxidadas
pela monoaminoxidase (MAO) da parede externa das mitocôndrias e, em grau bem menor,
pela catecol-orto-metiltransferase (COMT) do citoplasma.
a. desalquilação
b. hidroxilação alifática (cadeia aberta) ou aromática (anel benzênico)
c. oxidação e hidroxilação de radicais aminados
d. formação de radicais sulfóxido
e. dessulfuração
6) SÍNTESE GLICURÔNICA
As outras reações sintéticas incluem acetilação, conjugação com glicina, com sulfatos e O- S-
e N-metilações.
Centenas de drogas, que podem ser substratos específicos ou inespecíficos destas enzimas,
podem induzir a sua atividade. A indução enzimática tem importância na:
a. terapêutica
b. toxicologia
c. toxicidade de tratamentos crônicos
d. desenvolvimento de tolerância
III. EXCREÇÃO
As drogas podem ser excretadas na forma intacta ou como metabólitos. Com exceção do
pulmão, os órgãos excretores eliminam os compostos polares mais facilmente que os
apolares.
Filtração glomerular
3 processos: Secreção tubular ativa
Reabsorção tubular passiva
Secreção Tubular Ativa: A secreção ativa de certos anions e cátions ocorre nos túbulos
proximais. Muitos ácidos orgânicos (tal como a penicilina) e metabólitos (como os
glicuronatos) utilizam-se dos mesmos mecanismos que secretam substâncias endógenas tal
como a uréia. Bases orgânicas (tal como o tetraetilamônio) são transportados por um sistema
específico que secreta a colina, histamina e outras bases endógenas. Ambos sistemas são
relativamente não-seletivos e íons orgânicos de carga similar competem pelo transporte.
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Reabsorção Passiva: As formas apolares das bases e ácidos fracos sofrem reabsorção passiva
nos túbulos proximal e distal. Como a reabsorção é dificultada para substâncias polarizadas,
pode-se acelerar a eliminação de ácidos ou bases fracos pela alcalinização ou acidificação da
urina, respectivamente. O efeito é maior para ácidos ou bases fracos de pKa similar ao pH da
urina (5.0 a 8.0). Entretanto, a alcalinização pode aumentar de 4 a 6 vezes a eliminação de
ácidos relativamente fortes, como os salicilatos, quando o pH da urina é alterado de 6.4 para
8.0. O procedimento é muito importante para a desintoxicação do indivíduo.
Mecanismos não seletivos de transporte de íons orgânicos, similares aos dos túbulos renais,
também ocorrem na formação da bile. Os esteróides são excretados por mecanismos
específicos.
Embora os metabólitos biliares possam ser excretados nas fezes, eles são, mais comumente,
reabsorvidos e excretados pelos rins.
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FARMACODINÂMICA
Demonstra-se que a relação entre efeito e concentração de droga livre (isto é, a droga que não
está ligada a proteínas inertes, tais como a albumina), pode ser descrita pela seguinte equação:
[D]
Efeito = Efeito máximo , onde KD = k2/k1
KD + [D]
Figura 1. Interações de agonistas com receptores biológicos. A - No caso mais simples, em que a ocupância dos
receptores pelo agonista obedece a lei de ação das massas, a relação entre concentração do agonista (em escala
linear) e efeito pode ser descrita por uma hipérbole retangular. B – O efeito da resposta em função do logarítmo da
concentração do agonista é uma função sigmoidal. Na ausência de cooperatividade negativa ou positiva, uma
variação de 100 vezes na concentração do agonista produzirá 10 a 90% dos efeitos simétricamente distribuídos ao
redor da CE50. C – Agonistas diferem quanto à potência e eficácia. A CE50 corresponde à concentração do agonista
que produz 50% do efeito. A droga L é mais potente que as drogas M e N; as drogas L e N são mais eficazes que M,
um agonista parcial. D – Como o efeito também depende da atividade intrínseca (eficácia) do agonista, a ocupância
nem sempre está relacionada ao efeito observado. Conseqüentemente, as curvas dose-resposta situam-se,
freqüentemente, à esquerda das curvas dose-ocupância dos receptores. Em outros termos, a concentração do
agonista que corresponde à constante de dissociação ou de equilíbrio (KD), na qual 50% dos receptores estão
ocupados, é maior que a CE50, a concentração que produz 50% do efeito.
k1 k3
E + S ES E + P (1)
k2
V=k3[ES] (2)
[E][S]
___________________
[ES] = (7)
KM
Como a concentração do complexo enzima-substrato [ES] é muito pequena, a
concentração do substrato [S] é praticamente igual à sua concentração total. Contudo, a
concentração da enzima livre [E] é igual à concentração da enzima total [E T] menos a
concentração do complexo enzima-substrato [ES].
[S]
V = k3 [ET] _______________ (10)
[S]+KM
1/V = ([S]+KM)/Vmax[S]
ou
1/V = 1/Vmax + KM/Vmax [S] (11)
[S] [D]
V = Vmax _______________ Efeito=Efeito máximo _______________
[S]+KM [D]+KD
NEUROTRANSMISSÃO
existem no axônio, e são permeáveis a vários tipos de íons (Fig.1, direita). Estes canais
estão envolvidos na neurotransmissão. Note que o canal não „transporta‟ o íon. A entrada
ou saída de um íon decorrerá de suas concentrações interna e externa, isto é, do seu
gradiente de concentração. Estes gradientes são pré-formados por proteínas funcionais da
membrana que operam como „bombas iônicas‟, transportando os íons contra gradientes de
concentração. Portanto, elas dependem de energia, consumindo grandes quantidades de
trifosfato de adenosina (ATP). Em realidade, as bombas são ATPases, enzimas que
convertem o ATP em difosfato de adenosina (ADP) e fosfato. A energia liberada pela
remoção do radical fosfato é utilizada no transporte dos íons contra os gradientes. Este
mecanismo resulta no aumento das concentrações de Na+ e K+ no exterior e interior da
célula, respectivamente.
Uma vez liberado, o transmissor poderá ligar-se a receptores pré- ou pós-sináticos, ser
inativado por enzimas, recaptado para o terminal pré-sináptico ou glia, ou difundir-se ao meio
adjacente e ser eliminado pelo organismo. Embora toda neurotransmissão dependa do PA,
elas diferem quanto aos eventos pós-sinápticos, sendo:
Figura 3. Neurotransmissão ionotrópica. O esquema ilustra as sinapses de 2 botões axonais com uma
espícula dendrítica.
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Tal como o receptor nicotínico, todos os receptores ionotrópicos são formados por 4 ou 5
subunidades, cada qual composta de 4 -hélices (M1-M4) que transfixam a membrana. As
propriedades excitatórias ou inibitórias dos receptores dependem das -hélices que compõem
a parede do ionóforo.
RECEPTOR NMDA:
Figura 8. Molécula de AMPc (A) e sua formação (tons laranja e vermelho) após a estimulação do
neurônio sensitivo do molusco Aplysia californica com 5-HT.
Figura 10. Interação de múltiplos receptores e canais iônicos num único neurônio.
Figura 11. Distribuição de sintetase neuronal do óxido nítrico (áreas claras). Em ordem
decrescente, as estruturas mais ricas em NOSn são os bulbos olfatórios, o cerebelo, as camadas
superficiais do colículo superior, a camada externa do colículo inferior, o tálamo anterior, o corpo
estriado e o hipocampo. A distribuição heterogênea sugere um papel no processamento de
informação.
a) Amplificação do sinal original: como os efetores primários são enzimas que operam no
limite de difusibilidade, uma única molécula do neurotransmissor pode levar à formação
de milhares de moléculas de 2ºs mensageiros, amplificando o sinal original.
b) Alteração da conformação de enzimas: conforme já mencionamos, os 2ºs mensageiros
ativam fosfocinases, direta ou indiretamente. A fosforilação de proteínas tem um papel
fundamental no metabolismo e sinalização celular.
c) Alteração de uma subunidade de canal iônico: dentre os efeitos da fosforilação de
proteínas, a fosforilação de canais iônicos tem especial importância, aumentando ou
reduzindo a condutância para um determinado íon.
d) Alteração do citoesqueleto: Os neurônios apresentam formas que variam da exuberância
de um neurônio de Purkinge, cuja árvore dendrítica é uma verdadeira „antena parabólica‟
que capta todo e qualquer sinal ao seu alcance, aos modestos „tufos‟ dendríticos de
interneurônios envolvidos no processamento local de informação. Estas formas
dependem de proteínas estruturais (por ex., filamentos de actina ou tubulina) cuja
fosforilação pode causar alterações significativas de forma e função dos neurônios.
e) Alteração de fatores transcricionais: os 2ºs mensageiros podem agir, de forma direta ou
indireta, em processos nucleares, interagindo com fatores transcricionais que ativam ou
inibem a expressão de determinados genes. Podem, portanto, causar tanto a sub-
regulação (downregulation) quanto a sobre-regulação (upregulation) de enzimas ou
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receptores. A alteração significativa dos níveis de enzimas ou da densidade dos
receptores pode requerer um tempo muito maior que aquele das ações sinápticas da
droga. Estes mecanismos podem explicar a latência extremamente longa, às vezes, de
várias semanas, do efeito clínico dos antidepressivos ou das drogas para o tratamento
profilático da enxaqueca.
Figura 13. Principais sítios sinápticos de ação das drogas. Em geral, o precussor (1) tem de ser captado
pelo terminal para que haja a síntese (2) do transmissor. Contudo, os transmissores peptídeos são
sintetizados nos ribossomas e transportados ao botão terminal. A síntese do transmissor pode ser alterada
pela disponibilidade dietária do precussor ou pela inibição das enzimas de síntese ou metabolização. Em
seguida, o transmissor tem de ser armazenado em vesículas via transportadores vesiculares (3), caso
contrário será degradado por enzimas citoplasmáticas (4). Por exemplo, a reserpina ocasiona a depleção
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de noradrenalina através do bloqueio do transporte para a vesícula. O transmissor também pode ser
deslocado do grânulo por um neurotransmissor-falso, formado a partir de um precussor anômalo, tal
como ocorre na síntese de metilnorepinefrina a partir da metildopa. Por outro lado, a inibição da enzima
de degradação leva à acumulação do neurotransmissor. Por exemplo, o antidepressivo Pargilina é um
inibidor da monoaminoxidase. Em seguida, o neurotransmissor é liberado na fenda sináptica (5). A toxina
botulínica e a guanetidina bloqueiam a liberação de acetilcolina e noradrenalina, respectivamente. Caso
liberado, o transmissor poderá ligar-se a receptores pós-sinápticos ionotrópicos (6) ou metabotrópicos (7),
resultando em efeitos que são mimetizados por agonistas ou bloqueados por antagonistas. Os curares e a
atropina são antagonistas de receptores colinérgicos nicotínicos (ionotrópicos) e muscarínicos
(metabotrópicos), respectivamente. Por sua vez, a fenoxibenzamina e o propranolol são antagonistas dos
receptores e -adrenérgicos, respectivamente, e os antiesquizofrênicos são antagonistas de receptores
dopaminérgicos. A ligação do transmissor a um receptor ionotrópico causará a depolarização ou
hiperpolarização da membrana pós-sináptica . Contudo, sua ligação a um receptor metabotrópico resulta
na substituição do GDP pelo GTP na subunidade- da proteína-G. O complexo G-GDP ativará uma
enzima de membrana, o efetor primário (8), que formará o segundo mensageiro (9). Este poderá ativar
uma fosfocinase (ou quinase protéica) (10), que tranferirá radicais de fosfato a um canal iônico (11) ou a
outras proteínas intracelulares, ou agirá em organelas citoplasmáticas, ou no núcleo da célula, ativando ou
inibindo processos transcricionais (12), resultando no aumento ou diminuição da síntese de proteínas
funcionais (receptores, enzimas, co-enzimas). O transmissor também pode agir em receptores pré-
sinápticos (13) que controlam o processo de síntese (14) mediante 2º mensageiros. A clonidina e a
ioimbina são exemplos de agonista e antagonista do receptor adrenérgico pré-sináptico 2. O término da
ação do transmissor pode ocorrer por recaptação ativa para o terminal (15), degradação enzimática pós-
sináptica ou extracelular (16) ou difusão no meio externo e eliminação (17). Os antidepressivos agem pela
inibição da recaptação de noradrenalina (maprotilina) e serotonina (fluoxetina), ou de ambas as
monoaminas (imipramina). A cocaína inibibe a recaptação de dopamina e noradrenalina.
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ANESTÉSICOS LOCAIS
DEFINIÇÃO. Os anestésicos locais (AL) são drogas que aplicadas localmente produzem o
bloqueio reversível da geração e condução dos potenciais de ação, causando a perda das
sensações de uma região do corpo, sem perda da consciência. Os AL agem em qualquer parte do
sistema nervoso e em qualquer tipo de fibra, mielinizada ou não. Portanto, quando administrados
nas vizinhanças de um tronco nervoso, produzem tanto anestesia quanto paralisia da região
inervada.
Figura 1. Estrutura química dos principais anestésicos locais. A clorprocaína tem a mesma
fórmula da procaína, porém, com um átomo de cloro na posição 2 do anel benzênico.
B
Inativo Ativo Desativado
Os resíduos de aminoácidos importantes para a ação dos AL encontram-se nas partes central e
interna do segmento transmembrânico 6 (-hélice 6) da região IV da subunidade . A
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substituição do resíduo hidrofóbico de isoleucina pela alanina permite o acesso aos anestésicos
quaternários.
Figura 3. Sítio de ação dos anestésicos locais. Os anestésicos locais ligam-se ao segmento
transmembrânico S6 da região IV da subunidade do canal de sódio. I, F e Y são resíduos de
isoleucina, fenilalanina e tirosina, respectivamente.
Tabela 1. Ação diferencial dos anestésicos locais (AL) sobre as fibras nervosas de funções e
propriedades distintas.
Classe do Axônio
⌀
Velocidade
Bloqueio Localização
Mielina de Condução Função
pelos AL Anatômica
(µm) (m.s-1)
Grupo Subgrupo
A +
Aferências/eferências Motora e
sim 6-22 10-85
de músculos/tendões Propriocepção
A ++
Tono
A A ++ Eferências para fusos sim 3-6 15-35
Muscular
Autonômic
B ++++ Pré-ganglionares sim <3 3-15 Visceromotora
as
0,3-
Simpáticas ++++ Pós-ganglionares não 0,7-1,3 Visceromotora
1,3
EFEITO DO pH. A ação anestésica também depende do pH do tecido e do pKa do AL. Como
os AL são bases fracas (pKa entre 8 e 9), eles atravessam a membrana mais facilmente em meios
alcalinos, nos quais se encontram na forma apolar. Contudo, a redução da permeabilidade em
meios ácidos pode ser compensada pela ligação mais forte da forma ionizada (catiônica) ao canal
de Na+.
Embora o pH ácido dos tecidos infeccionados tenha sido apontado como a causa principal do
efeito reduzido dos AL nestes tecidos (a outra razão, talvez mais convincente, é a hiperalgesia do
tecido inflamado), o efeito do pH parece ser mais complexo do que se supõe. De fato, como todo
sal de base fraca, os sais comerciais dos AL são levemente ácidos e ionizam-se em pH alcalino.
Assim, demonstrou-se que o bloqueio da condução nervosa pelos anestésicos comerciais pode
ser revertido pelo ligeiro aumento do pH de 7,2 para 9,6.
bém reduzem os efeitos tóxicos sistêmicos dos AL. Preparações de cocaína não necessitam de
vasoconstritores uma vez que ela é, em sí mesma, vasoconstritora, pois inibe a recaptação de
noradrenalina e adrenalina.
EFEITOS ADVERSOS.
Sistema Nervoso Central: Devido à depressão de neurônios inibitórios, podem produzir agitação
e tremores que podem evoluir para convulsões clônicas seguidas de depressão do SNC e até
mesmo morte por parada respiratória. Também podem produzir sonolência, zumbidos e tontura
dentre outros efeitos centrais.
Sistema Cardiovascular: O miocárdio pode ser deprimido após a absorção sistêmica de doses
elevadas dos AL, reduzindo a excitabilidade, condução e força de contração do coração. Os AL
também causam vasodilatação das arteríolas. Embora estes efeitos ocorram com maior
freqüência nas doses altas e após os efeitos centrais, alguns pacientes podem apresentar colapso
cardiovascular e morte com doses baixas, possivelmente, por uma ação ao nível do marca-passo
cardíaco. Contudo, enquanto a bupivacaína e etidocaína causam taquicardia e fibrilação, a
lidocaína e procainamida são antiarrítmicos estabelecidos.
Músculo Liso: Os AL deprimem as contrações do intestino „in vivo‟ e „in vitro‟ e relaxam vasos
e brônquios. Contudo, pequenas concentrações podem promover inicialmente contrações do trato
gastrointestinal. Administrações espinhal, epidural e instilação intraperitoneal podem causar
bloqueio simpático, aumentando o tônus gastrointestinal.
As amidas são degradadas no retículo endoplasmático dos hepatócitos por desalquilação seguida
de hidrólise, sendo contraindicadas em pacientes hepáticos.
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GASES ANESTÉSICOS
DEFINIÇÃO. Os gases anestésicos são gases ou líquidos voláteis que promovem anestesia pela
perda total, porém temporária, da consciência.
PROPRIEDADES GERAIS
I. MODO DE AÇÃO: Não foi demonstrada nenhuma relação entre estrutura molecular e
atividade ou potência dos anestésicos gerais. Existe, no entanto, uma teoria físico-química:
como a potência está diretamente correlacionada à solubilidade lipídica dos anestésicos,
acredita-se que estes alterariam a matriz lipídica da membrana dos neurônios com a
consequente alteração da condutância dos seus canais iônicos.
Figura 1. Correlação da potência anestésica com a solubilidade lipídica do anestésico geral. Note que a
potência anestésica, dada pela concentração alveolar mínima para indução da anestesia cirúrgica, e a
solubilidade lipídica, dada pelo coeficiente de partição, são maiores para o metoxiflurano e menores
para o N2O.
II. FARMACOCINÉTICA
Figura 2. Curva de saturação do anestésico geral. Note que a saturação é mais rápida para o
N2O, que é menos solúvel, e mais lenta para o metoxiflurano, que é o mais solúvel dos 3
gases anestésicos.
3. ABSORÇÃO DO ANESTÉSICO
4. DISTRIBUIÇÃO DO ANESTÉSICO
Figura 3. Curva de eliminação do anestésico geral. Note que a eliminação é mais rápida
para o N2O, que é menos solúvel, e mais lenta para o metoxiflurano, que é o mais solúvel
dos 3 gases anestésicos.
IV. TOXICIDADE
V. PRINCIPAIS ANESTÉSICOS
1. DROGAS
DEPRESSORES: HALOTANO=METOXIFLURANO<ENFL.<ISOFL.
PCO2 VMR RESP AO CO2 RESP À
ANÓXIA.
NÃO DEPRESSORES: N2O (efeitos pequenos agravados pelos opióides).
2.8. BIOTRANSFORMAÇÃO
Os nociceptores podem ser térmicos, que são ativados por temperaturas maiores
que 45oC ou menores que 5oC, mecânicos, que são ativados por pressão, ou polimodais,
que respondem a estímulos térmicos, mecânicos ou químicos. Como toda informação
somestésica, a zona de entrada destas informações é o corno dorsal da medula, em
particular, as lâminas I, II e III, conhecidas por substância gelatinosa.
Figura 4. Ação dos opióides no corno dorsal da medula: bloqueio da neurotransmissão e inibição dos
neurônios sensitivos e de projeção espinotalâmica.
Portanto, ao final dos anos 60 não restavam quaisquer dúvidas sobre a existência
de um sistema analgésico endógeno. Mais importante, demonstrou-se que tanto a analgesia
por morfina, quanto a analgesia por estimulação intracraniana, eram atenuadas, ou
bloqueadas, por naloxona, um antagonista opióide. Nos anos 70, munidos dos ensaios de
radioligantes, os pesquisadores lançaram-se à busca dos receptores e neurotransmissores
responsáveis pela analgesia.
Os resultados não tardaram a aparecer. Estes e estudos posteriores revelaram a
existência de vários tipos e subtipos de receptores opióides, confirmando hipóteses
anteriores que haviam sido formuladas com base nas ações diferenciadas dos opióides, em
particular, da nalorfina, que antagoniza a analgesia por morfina, mas tem efeitos
analgésicos próprios. Adicionalmente, a nalorfina causa menos depressão respiratória e, ao
contrário da morfina, produz ansiedade e disforia. Os receptores µ, e, e respectivos
subtipos, cujos genes já foram clonados, são os receptores opióides „clássicos‟. Mais
recentemente, propôs-se a existência dos receptores e , que, no entanto, estão menos
caracterizados.
A descoberta dos opióides endógenos ocorreu menos de dez anos após a
demonstração da existência dos receptores. Surpreendentemente, eles eram peptídeos,
moléculas totalmente diferentes dos opióides conhecidos até o momento. Não obstante,
demonstrou-se uma analogia estrutural da morfina com os 4 aminoácidos (tyr-gly-gly-phe)
que conferem atividade opióide a estes peptídeos. Cada família de peptídeo opióide deriva
de um polipeptídeo precursor, com distribuição anatômica diferenciada. Os precursores são
moléculas com alto peso molecular e podem dar origem a vários produtos finais. Por
exemplo, a pró-ópiomelanocortina (POMC) origina, primeiramente, a -lipotropina, o
hormônio estimulante dos melanócitos (-MSH) e a corticotrofina (ACTH). Em seguida, a
-lipotropina é processada, dando origem ao -MSH e -endorfina. Por isso, devido à
origem comum do ACTH e da -endorfina, os níveis plasmáticos de ambos os peptídeos são
aumentados durante o estresse.
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A) RECEPTORES OPIÓIDES: São receptores metabotrópicos cuja ativação reduz as
concentrações intracelulares de AMPc e a condutância ao Ca2+, mas aumenta a
condutância ao K+. Portanto, os opióides hiperpolarizam os neurônios e bloqueiam a
neurotransmissão, efeitos típicos de sua ação no corno dorsal da medula. Por outro lado, como
os opióides inibem os neurônios, a ativação do sistema analgésico descendente ocorre por
mecanismos indiretos. De fato, demonstrou-se que os opióides inibem os neurônios
gabaérgicos da matéria cinzenta periaquedutal, ativando as projeções descendentes
responsáveis pela analgesia.
Abaixo seguem as principais propriedades dos receptores opióides „clássicos‟ e de
seus subtipos.
AGONISTAS: Morfina
AGONISTAS PARCIAIS: Buprenorfina
AGONISTAS-ANTAGONISTAS Nalorfina( -; , +), Pentazocina ( -)
ANTAGONISTAS: Naloxona, Naltrexona
Tabela 4. Ações dos principais opióides nos receptores. (+) agonista, (-) antagonista, (±) agonista
parcial, (0) sem afinidade.
RECEPTOR
OPIÓIDE
(mu) (delta) (kappa)
MORFINA ++ + +
FENTANIL +++ + +
SUFENTANIL ++++ + +
_
PENTAZOCINA ? ++
_
BUTORFANOL ? ++
_
NALBUFINA ? ++
BUPRENORFINA ? _
_
NALORFINA + +
_ _ _
NALOXONA
_ _ _
NALTREXONA
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5. CARACTERÍSTICAS DA ANALGESIA: A analgesia é seletiva, afetando,
predominantemente, o componente emocional da dor (sofrimento). Portanto, embora ainda
presente, a dor torna-se mais tolerável ao paciente. Não obstante, a analgesia não é um mero
subproduto dos efeitos emocionais, uma vez que a administração intratecal de opióides produz
profunda analgesia segmentar sem a ocorrência de efeitos motores ou emocionais. Embora os
opióides sejam bastante eficazes na dor nociceptiva, eles têm efeitos menores nas dores
neuropática e inflamatória. Adicionalmente, a dor contínua é mais sensível que a dor
espasmódica (pontadas). Entretanto, até mesmo as cólicas renais e biliares podem ser
atenuadas por doses suficientes de morfina.
7. FARMACOCINÉTICA
METADONA 92 24 89 35 ND ND
ND ND ND
NALOXONA 2* 1,2 ND
* A despeito da absorção quase completa, sofre metabolismo hepático de 1a passagem, #
depressão respiratória.
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8. DROGAS E INDICAÇÕES
A) ANALGESIA
B) CONSTIPANTES (antidiarréicos)
Não devem ser administrados nas disenterias, ou seja, fezes líquidas com muco e sangue
que são características de quadros infecciosos. Entretanto, são úteis nos casos de
diarréias causadas por estresse (cólon irritável) ou problemas alimentares e metabólicos
de menor gravidade.
C) ANTITUSSÍGENOS
Codeína.
Dextrometorfanol (isômero óptico do levorfanol de ação similar à codeína, porém,
seus efeitos constipantes e subjetivos são menores e não produz analgesia).
D) ANTAGONISTAS
Naloxona, naltrexona.
E) EMÉTICOS
DROGAS DA NEUROLOGIA
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HIPNÓTICOS
1. DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA DOS DISTÚRBIOS DO SONO:
Estudos de epidemiologia de vários países monstraram que cerca de 35% da população adulta
sofre de alguma dificuldade para iniciar o sono, para mantê-lo, ou ambos, sendo que 8% têm
problemas crônicos e 27% ocasionais. Dos 35%, cerca de 17% descrevem seus problemas como
„bastante incômodos‟. A incidência de problemas do sono é maior em mulheres e idosos.
O custo econômico dos problemas de sono nos EUA foi estimado entre US$ 92,4 e 107,5
bilhões (incluindo cuidados médicos, perda de dias de trabalho ou produtividade, acidentes e
gastos com seguro). Somente os custos médicos foram estimados em cerca de US$ 11 bilhões,
dos quais US$ 1,1 bilhão foram devidos a gastos com medicamentos. Estimativas mais
conservadoras relativas aos 10% de insones graves da população apontam custos de US$ 30 a 35
bilhões.
A insônia pode ter várias causas tais como, doenças sistêmicas, distúrbios psiquiátricos (35%
dos casos), uso de drogas, fatores puramente comportamentais, disritmias circadianas (horário de
verão, insônia da segunda-feira, jet-lag), ou distúrbios primários do sono. O tratamento adequado
exige o diagnóstico diferencial.
a) Apnéia do sono.
b) Narcolepsia.
a) Terror noturno.
b) Sonambulismo.
c) Enurese noturna.
d) Distúrbio comportamental do sono paradoxal (sono MOR).
Contudo, o sono parece ser controlado por dois mecanismos básicos. O primeiro controla o
ciclo sono-vigília, qual seja, as alterações na profundidade do sono. O segundo controla o
ciclo atividade-inatividade, determina o tempo total de sono, bem como de outros eventos, e
tem um período de, aproximadamente 24 h. São os rítmos de „cerca de um dia‟, ou ritmos
circadianos.
A) CICLO SONO-VIGÍLIA
Tabela 1. Rítmos eletroencefalográficos (alfa, beta, delta e teta) e principais eventos comportamentais
das fases do sono. Abreviaturas: MOR – movimentos oculares rápidos, PGO – ondas ponto-genículo-
ocipitais, PA – pressão arterial, FC – freqüência cardíaca.
Figura 3. Estruturas envolvidas no controle do sono: TAL - tálamo, APO - área pré-óptica, NSQ -
núcleo supraquiasmático, NBM - núcleo basal de Meynert.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 59
A
C
0
TEMPERATURA MÍNIMA
2 TEMPERATURA MÁXIMA
ATIVIDADE
4 INATIVIDADE
6
ISOLAMENTO (DIAS)
10
12
14
16
18
20
22
24
0 12 24 12 24 12 24 12 24 12 24 12 24 12 24 12 24
HORAS DO DIA
Figura 5. Variação do tempo e arquitetura do sono com a idade do indivíduo. Note-se que nos idosos há
uma redução do tempo total, do sono de movimentos oculares rápidos e da fase IV (sono profundo), que é
considerada a fase mais repousante do sono. Também, há um aumento no número de despertares.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 61
NEURÔNIO DO
NÚCLEO RETICULAR
DO TÁLAMO
Figura 7. Os rítmos sincronizados são coerentes com as rajadas de potenciais do núcleo reticular do
tálamo (RE). Os disparos dos neurônios gabaérgicos do RE hiperpolarizam os neurônios tálamo-corticais
(Th-Cx), causando a abertura de canais de Ca2+ voltagem-dependentes de baixo limiar (canais de Ca2+
„transientes‟, ou tipo-T) que operam em potenciais inferiores a -70 mV. As correntes de Ca2+ geram
potenciais lentos na freqüência típica dos fusos (7-14 Hz), os quais são os sinais estigmáticos do início do
sono (de Steriade, 1993).
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 63
Na+
Ca2+
Cl-
Figura 8. Aspectos intracelulares das atividades oscilatórias em neurônios do núcleo reticular do tálamo
(RE), neurônios tálamo-corticais (Th-Cx) e potenciais do trato piramidal (PT). As sequências de fusos
marcadas com um asterisco estão ampliadas na parte inferior da figura. Os neurônios gabaérgicos do RE
são os marca-passos dos rítmos sincronizados (fusos e rítmo delta), causando a hiperpolarização dos
neurônios Th-Cx (Cl-). A hiperpolarização de-inativa (de-inactivate) as correntes de Ca2+ de baixo limiar
que operam com potenciais de membrana inferiores a -70 mV, gerando potenciais oscilatórios lentos
(Ca2+) que são ocasionalmente coroados por um potencial de Na+ (de Steriade, 1988).
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 64
Figura 9. Ausência de atividade eletroencefalográfica de fusos dos núcleos do tálamo anterior („tálamo
límbico‟) do gato. Estes núcleos são naturalmente desprovidos de aferências do núcleo reticular do
tálamo. Gráficos superior e médio: histogramas das amplitudes dos potenciais de fuso (sp, spindle
potentials), filtrados para 7-14 Hz, em registros simultâneos dos núcleos centrolateral (CL) e ântero-
ventral (AV) do tálamo de uma preparação com transecção intercolicular. As abcissas representam o
tempo real. Registro inferior: efeito da alteração do potencial de membrana no modo de disparo de um
neurônio do núcleo ânteromedial do tálamo numa preparação sob anestesia barbitúrica. Os disparos
tônico, em rajadas (seta à esquerda), induzidos por despolarização do neurônio no estado de repouso (-60
mV), transformam-se em potenciais lentos, de baixo limiar, coroados por potenciais de Na+ quando a
membrana é hiperpolarizada para –72 mV. À direita pode-se observar a recuperação do modo tônico de
disparo. A seta curva indica um potencial isolado de baixo limiar. Portanto, experimentalmente, os
neurônios do tálamo anterior também podem gerar ritmos sincronizados. Não o fazem naturalmente
porque são desprovidos das aferências gabaérgicas do núcleo reticular (de Steriade, 1988).
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 65
8. GÊNESE DO RÍTMO DESSINCRONIZADO
NEURÔNIO NEURÔNIO NEURÔNIOS
CORTICAL TÁLAMO- DOS NÚCLEOS
CORTICAL PEDUNCULOPONTINO
E LÁTERODORSAL
K+
Figura 10. Aspectos intracelulares do bloqueio da atividade de fuso num neurônio no núcleo reticular do
tálamo (A) e num neurônio tálamo-cortical (B) do núcleo geniculado lateral. Sequências espontâneas de
um fuso (1) e seu bloqueio (2) por uma breve estimulação (setas) do núcleo peribraquial do sistema
ativador reticular ascendente (SARA). O bloqueio da atividade do núcleo reticular do tálamo (NRT) é
devido ao aumento da condutância ao K+ mediado pela ativação de receptores muscarínicos. A excitação
inicial, imediatamente após a estimulação do SARA, é devida à ativação de receptores nicotínicos. A
ativação do SARA promove o bloqueio da atividade rítmica do NRT e o conseqüente despertar do
indivíduo. De forma oposta, a redução da atividade do SARA nos momentos que antecedem o sono dá
início à atividade rítmica do NRT (de Steriade, M., 1988).
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 66
Figura 11. Excitação de um neurônio tálamo-cortical do núcleo geniculado lateral pela estimulação do
núcleo peribraquial da formação reticular do mesencéfalo (componente do SARA). Registros
intracelulares: A) estímulos aplicados ao núcleo peribraquial (setas) eliciam uma excitação de pequena
latência, devida à ativação de receptores nicotínicos, seguida de uma excitação com latência de 1-2 s e
duração prolongada (cerca de 6 segundos), possivelmente, devida à liberação de peptídeos co-localizados
nos neurônios colinérgicos do núcleo peribraquial. B) Registro em maior velocidade para mostrar os dois
componentes, nicotínico e peptidérgico, da excitação induzida pela estimulação do núcleo peribraquial do
SARA. Note a despolarização prolongada da membrana do neurônio (de Steriade, M., 1988).
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 67
Hipnóticos atuais
Zolpidem 29,4 > 4.400 685 > 4.400 > 4.400 > 4.400
Zopiclone 66,7 70,0 262 325 52,7 178
Triazolam 0,7 2,3 1,3 7,8 0,6 2,0
Midazolam 1,8 17,8 3,6 24,4 0,8 5,5
Flunitrazepam 2,0 34,9 1,5 31,6 1,0 3,8
Os valores de Ki foram calculados através da fórmula de Cheng e Prusoff, K i = CI50/(1+C/Kd), onde C representa a
concentração de [3H]-flumazenil usada no experimento (Graham et al.,1996).
Tabela 3. Potenciação pelo GABA (GABA shift) da capacidade de vários hipnóticos e do DMCM,
(um agonista inverso do receptor benzodiazepínico) em inibir a ligação do [3H]-flumazenil às
formas recombinantes de receptores GABAA do rato (1 2 2 , 3 2 2, 5 2 2). A potenciação, é
dada pelo quociente da concentração inibitória (CI50) na ausência (CI50|GABA) e presença
(CI50|GABA) do GABA. O GABA shift é um índice da interação alostérica do GABA com os
ligantes do sítio de ligação dos benzodiazepínicos.
Potenciação pelo GABA (GABA shift)
1 2 2 3 2 2 5 2 2
9. FARMACOCINÉTICA
medicação conforme a necessidade. Por fim, pacientes que se queixam dos „efeitos
ansiogênicos do dia seguinte‟ que são mais freqüentes com os benzodiazepínicos de curta
duração, têm maior tolerância aos benzodiazepínicos de duração intermediária. Em geral,
estes benzodiazepínicos são os metabólitos ativos dos hipnóticos nordiazepínicos.
Tabela 5. Duração da ação hipnótica de vários compostos. A tabela refere-se à meia-vida (T½) do
„efeito‟, isto é, o tempo necessário para que os efeitos hipnótico-sedativos desapareçam em 50%
dos indivíduos. Portanto, a meia-vida do efeito inclui a ação dos metabólitos ativos, mesmo
quando toda droga precussora já foi totalmente eliminada.
Duração da Ação Hipnótica
Classe Curta Intermediária Longa
(T½ < 4h) (4h <T½ < 24h) (T½ < 24h)
Benzodiazepínicos Midazolam Lorazepam Clordiazepóxido,
Triazolam Alprazolam Diazepam,
Bromazepam Flurazepam,
Oxazepam Clonazepam
Temazepam Flunitrazepam,
etc
Ciclopirrolonas Zopiclone --- ---
Imidazopiridinas Zolpidem --- ---
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 72
Figura 1. Degeneração da substância negra pars compacta (SNpc) (e da área ventral de Tsai ,
AVT) pela administração de MPTP em camundongos. SNpr – substância negra pars reticulata
(coloração para degeneração neuronal por prata aminocúprica).
Figura 4. Lesão excitotóxica de neurônios do córtex motor (camada 5) do rato produzida pela
administração de uma dose elevada de ácido caínico (coloração para degeneração neuronal por
prata amino cúprica).
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CÓRTEX CEREBRAL
NEOESTRIADO
D1(+) D1(+) D2(-)
SUBSTÂNCIA GLOBO NÚCLEO
NEGRA PÁLIDO SUBTALÂMICO
pars compacta pars lateralis
1) Precussores da dopamina
2) Liberadores de dopamina
Droga - Amantadina
Farmacocinética - É bem absorvida por via oral e tem uma ação prolongada. É
excretada inalterada pela urina.
Propriedades Clínicas: Ela é menos eficaz que a levodopa, mas mais eficaz que
os antimuscarínicos. Seus efeitos são perceptíveis após alguns dias de tratamento,
mas diminuem após 6-8 semanas. Portanto, evita-se seu uso contínuo,
introduzindo-a apenas quando o paciente requerer melhoras adicionais.
5) Agentes anticolinérgicos
A) FISIOPATOLOGIA DA ESPASTISCIDADE
B) DROGAS
1.1. Baclofen
1.2. Diazepam
Droga - Dantrolene
hepatotoxicidade (0,1-0,2%), que pode ser fatal e que ocorre em tratamentos com
mais de 60 dias. O tratamento deve ser interrompido se não se obtém benefícios
após 45 dias de tratamento
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6. FISIOPATOLOGIA DA ENXAQUECA
1) Pode-se tratar a enxaqueca com drogas que não requerem prescrição como
aspirina e agentes anti-inflamatórios não esteroidais?
2) Se a terapia aguda for necessária, qual é a droga mais eficaz e com menores
efeitos colaterais?
3) O quadro exige um tratamento profilático?
Estes casos devem ser tratados com ALCALÓIDES DO ERGOT (extraídos do fungo
Claviceps purpúrea) ou com os TRIPTANOS.
Tabela 3. Estrutura química e principais ações farmacológicas dos alcalóides do ergot. Os
alcalóides azuis são, predominantemente, agonistas da 5-HT, sendo indicados no
tratamento agudo, e os verdes, antagonistas indicados no tratamento profilático. Note as
propriedades singulares da bromocriptina e metisergida. A bromocripitina, um potente
inibidor da liberação de prolactina, só é prescrita na enxaqueca associada ao ciclo
menstrual.
PRINCIPAIS AÇÕES FARMACOLÓGICAS
DOS ALCALÓIDES DO ERGOT
RECEPTORES
RECEPTORES RECEPTORES
DOPAMINÉRGICO
SEROTONÉRGICOS ADRENÉRGICOS
S
Sumatriptano
Rizatriptano
Naratriptano Agonistas seletivos
Zolmitriptano de receptores Inativos Inativos
Almotriptano 5-HT1D/1B
Eletriptano
Frovatriptano
Alcalóides do ergot - Náusea, vômito, fraqueza nas pernas e dores musculares, às vezes
severas, podem ocorrer nas extremidades. Dores precordiais e dor sugestiva de angina,
assim como taquicardia ou bradicardia transientes, possivelmente por vasoespasmo
coronariano. Em geral, são drogas seguras quando adequadamente prescritas.
Triptanos – Efeitos de pouca gravidade são relatados. A injeção subcutânea causar dor
local por cerca de 30 s. Os efeitos cardíacos são os mais importantes. A droga não deve ser
dada por via intravenosa devido ao efeito potencial de provocar vasoespasmo coronariano.
Não deve ser administrado em pacientes com angina ou hipertensão não controlada.
ANTICONVULSIVANTES
2. CAUSAS:
Epilepsia idiopática ou primária: Descargas excessivas da matéria cinzenta
sem causa identificável
Epilepsia secundária: Trauma cerebral, AVC (hemorragia, isquemia), neoplas-
ma, infecção, medicamentos ou tóxicos, síndrome de abstinência, febres
infantis, uremia, demência de Creutzfeldt-Jakob, etc.
3. MODELOS DE EPILEPSIA:
a) Epilepsia por gel de alumina:
Redução da [GABA] no foco primário.
b) Epilepsia por abrasamento (kindling):
Estímulos sublimiares diários por 10 a 15 dias desencadeiam crises es-
pontâneas, possivelmente, por alterações plásticas das sinapses (LTP?).
c) Epilepsia genética:
- epilepsia atáxica em camundongos (tottering): Aos 20 dias ocorre um aumento
da [NE] no locus coeruleo.
- epilepsia táctil em gerbils: Aos 50 dias ocorre um aumento da [GABA] no
hipocampo.
- epilepsia audiogênica em camundongos: Desencadeada por ruído branco.
- epilepsia fótica em macacos: Desencadeada por luz estroboscópica.
- epilepsia mioclônica juvenil em homens: Gene, provavelmente, no braço
curto do cromossoma 6.
d) Epilepsia química:
- bicuculina, picrotoxina, estricnina, pentilenotetrazol, penicilina
- anestésicos locais
e) Epilepsia por depressão alastrante (Leão, 1940):
- aplicação cortical de KCl gera uma onda concêntrica de despolariza-
ção seguida de depressão da atividade cortical
PENTOBARBITAL FENOBARBITAL
8.TRIAGEM FARMACOLÓGICA:
Dois grupos são claramente identificáveis:
1) Antagonismo de convulsão por eletrochoque grande mal e
epilepsia Jacksoniana
2) Antagonismo de convulsão por pentilenotetrazol pequeno mal
9.EFICÁCIA CLÍNICA:
Controle total 50%
Melhora 25%
Resistentes 25%
10.CLASSIFICAÇÃO TERAPÊUTICA
11.EFEITOS COLATERAIS:
12. FARMACOCINÉTICA
DROGAS DA PSIQUIATRIA
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 99
A consciência das emoções, tal como a consciência de ‘estar com medo’ ou ‘estar com
raiva’, não é diferente das outras formas de consciência.
frente é uma maçã, de que a sentença foi pronunciada em português, ou que você
encontrou a solução de um problema matemático. O que difere nas diversas formas de
consciência é a área específica do córtex cerebral e os sistemas que provêm informações
para as formas específicas de consciência. Não obstante, embora todos nós saibamos que
as emoções influenciam a cognição de forma acentuada, é muito mais difícil alterar as
emoções por meio da cognição. Não basta desejar que a ansiedade ou medo desapareçam,
para que isto efetivamente ocorra. Aliás, embora o homem busque por situações que
alteram seu estado emocional, por exemplo, indo ao cinema ou à praia, ou ingerindo
drogas lícitas, como o álcool, ou mesmo ilícitas, como a cocaína e heroína, ele tem um
controle limitado sobre suas emoções. Em geral, as emoções são eliciadas pelos estímulos
externos de forma automática, sem que tenhamos qualquer controle sobre as mesmas. Isto
ocorre devido ao padrão de circuitos neurais do nosso cérebro que favorece a influência
dos sistemas emocionais sobre os sistemas cognitivos, mas não o inverso. Não obstante, a
terapia cognitiva baseia-se no controle das nossas emoções através da interpretação dos
conteúdos cognitivos do discurso do paciente.
secção espinhal cervical (C3 ou C4) que expressam emoções idênticas àquelas dos
indivíduos sadios. Portanto, Cannon sugeriu que a emoção é um processo cerebral
independente do feedback das aferências viscerais. No entanto, as últimas contribuiriam
para a consciência subjetiva da própria emoção e das respostas somáticas e viscerais
associadas.
O desenvolvimento da eletroencefalografia por Hans Berger (1933) e a
descoberta do sistema reticular ativador ascendente (SARA) por Horace Magoun e
Giuseppe Moruzzi (1949), forneceram a base empírica da teoria de Donald Lindsley
(1951), segundo a qual as emoções seriam devidas à ativação (arousal) cortical. Lindsey
baseou-se no fato de que o SARA recebe aferências de todos os órgãos sensoriais e do
córtex, podendo mediar emoções produzidas por estímulos fisiológicos tanto externos
quanto internos, ou mesmo pelos pensamentos. Adicionalmente, Lindsey apoiou-se em
seus próprios estudos que mostraram que o EEG é dessincronizado no susto, apreensão e
ansiedade, passando para uma atividade de ondas rápidas de baixa amplitude, e que a
lesão da formação reticular do mesencéfalo produz apatia, sonolência e hipocinesia,
comportamentos opostos aos observados nos estados de excitação emocional. A principal
crítica a esta teoria reside na inespecificidade da ativação cortical. Surpreendentemente,
existe uma grande similaridade desta teoria com os modelos contemporâneos de emoção
baseados na ativação do locus cerúleo, um núcleo situado na transição mesopontina que é
a principal origem do sistema noradrenérgico ascendente. Não obstante, a ativação
cortical é um componente inerente à resposta emocional.
Nestes experimentos, o filme era apresentado para dois grupos, um com os sons terríveis
originais e o outro com uma voz sobreposta, minimizando ou „intelectualizando‟ os fatos.
Como o primeiro grupo sentiu-se muito pior, Lazarus concluiu que „a cognição é uma
condição tanto necessária, quanto suficiente para produção da emoção‟.
estão fortemente ligados à execução das respostas somáticas e viscerais. Assim, enquanto
a cognição é flexível, permitindo escolher uma dentre várias respostas, os mecanismos de
avaliação emocional reduzem as opções a poucas respostas selecionadas pela evolução. A
ligação estreita dos mecanismos de avaliação emocional com os sistemas de execução das
respostas faz com que haja a execução simultânea das emoções e do conjunto apropriado
de respostas quando há a detecção de um evento significante. Como resultado as respostas
corporais invariavelmente acompanham as emoções emocionais e fazem parte de sua
experiência consciente.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 105
Figura 1. Corte coronal do cérebro do rato mostrando os limites aproximados das zonas periventricular
(laranja), medial (roxo) e lateral (verde) do hipotálamo. A amígdala e parte do córtex temporal também
estão representados. AMm – amígdala medial, ARQ – núcleo arqueado, f – fórnice, HDM – hipotálamo
dorsomedial, HVM – hipotálamo ventromedial, Pf – núcleo hipotalâmico perifornicial.
Comportamento de Beber: Existem pelo menos 4 tipos de estímulos que fazem que o
indivíduo procure água: a) aumento da osmolaridade sanguínea, b) hipovolemia, c)
estímulos orofaríngeos, d) fatores cognitivos. Embora as vias que integram as respostas de
beber aos estímulos orofaríngeos e cognitivos sejam pouco conhecidas, sabe-se muito
mais acerca da ingestão desencadeada por hemorragia e hipovolemia. Em graus leves ou
moderados de hemorragia, a hipovolemia causa o aumento da secreção de renina pelos
rins. Esta converte o angiotensinogênio em angiotensina I, a qual é convertida em
angiotensina II pela enzima conversora de angiotensina dos pulmões. A angiotensina II
produz vasoconstrição e induz a liberação de aldosterona pelo córtex adrenal, que retém
sódio e água, restaurando o volume sangüíneo. Contudo, quando a hemorragia é intensa, a
resposta mais importante é o aumento da secreção de vasopressina pela neuro-hipófise.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 107
Além do potente efeito vasoconstritor, a vasopressina tem uma ação direta nos túbulos
distais do néfron, impedindo a perda de água (por isso ela também é chamada de
hormônio antidiurético). A angiotensina também tem efeitos centrais fundamentais,
penetrando no sistema nervoso central através do órgão subfornicial, uma região carente
de barreira hematoencefálica que contém alta densidade de receptores para este hormônio.
A ativação destes receptores deflagra uma série de respostas, incluindo a liberação de
vasopressina, ajustes pressóricos e sede. De fato, os grupos celulares do hipotálamo
periventricular envolvidos na secreção de vasopressina e no controle dos neurônios pré-
ganglionares do sistema nervoso autônomo (núcleos supra-óptico e divisão magnocelular
do núcleo paraventricular), recebem aferências do órgão subfornicial, sugerindo sua
participação na organização das respostas à hipovolemia. A área pré-óptica medial
também recebe aferências do órgão subfornicial e exerce um papel importante no controle
do comportamento de beber. Não se sabe, no entanto, como este comportamento é
deflagrado pela área pré-óptica medial.
Figura 2. Modelo da participação da zona medial do hipotálamo em dois sistemas neurais distintos, porém
interconectados, relacionados aos comportamentos defensivos e reprodutivos. Os dois componentes da zona
medial recebem informações do telencéfalo e projetam-se às regiões associadas com respostas viscerais,
vigília, atenção e memória e aspectos específicos dos comportamentos sexual e de defesa. Abreviaturas:
AHL – área hipotalâmica lateral, AMv – núcleo ânteromedial do tálamo, APOlt – área pré-óptica lateral,
APOm – área pré-óptica medial, AVT – área ventral tegumentar, CS – colículo superior, CUN- núcleo
cuneiforme, FR – formação reticular do mesencéfalo, HA – núcleo hipotalâmico anterior, HDM – núcleo
hipotalâmico dorsomedial, HVMdm – núcleo hipotalâmico ventromedial (pars dorsomedialis), HVMvl –
núcleo hipotalâmico ventromedial (pars ventrolateralis), MCPA – matéria cinzenta periaquedutal, PMd –
núcleo pré-mamilar dorsal do hipotálamo, PMv – núcleo pré-mamilar ventral do hipotálamo, RE – núcleo
reuniens do tálamo, TU – região tuberal do hipotálamo (modificado de Canteras et al., 2001).
Figura 3. A reação de falsa-ira em gatos descorticados requer a integridade do hipotálamo posterior. Bard e
Cannon mostraram que a reação de falsa-ira era preservada se o tronco cerebral fosse seccionado na linha
amarela, mas desaparecia se a secção fosse feita na linha vermelha. Estes resultados foram a primeira
evidência da importância crucial do hipotálamo na expressão desta resposta. Abreviaturas: II – ventrículo
lateral, III – 3o ventrículo , fM – foramen de Monro, ca – comissura anterior, CM – corpos mamilares, cp –
comissura posterior, fr – fascículo retroflexo, fx – fórnice pós-comissural, HA – hipófise anterior, HP –
hipófise posterior, HIP - hipotálamo, MCPA – matéria cinzenta periaquedutal, mt – fascículo
mamilotalâmico, NCd – núcleo caudado, NR – núcleo rubro, P – ponte, TbO – tubérculo olfatório, t.opt –
trato óptico.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 111
Figura 4. O neurofisiologista suíço Walter Hess realizou um mapeamento extenso dos comportamentos
obtidos por estimulação elétrica do tronco do mesencéfalo de gatos livres e não anestesiados. A figura
mostra o mapa das respostas de fuga, defesa, comer e dormir num corte sagital do tronco cerebral. Hess
realizou vários mapas similares para uma diversidade de respostas somáticas e autonômicas. Note que a área
da falsa-ira de Bard e Cannon coincide com as áreas da reação afetiva de defesa descritas por Hess.
Abreviaturas como na Fig. 3 (modificado de Hess, 1947).
face medial dos hemisférios cerebrais. Ele denominou este anel de o grande lobo da orla
(le grand lobe de l’ourlet) (Fig. 5). Era uma visão forçada do que viu. Nos anos
posteriores ele foi persuadido a chamar o anel de o grande lobo límbico (le grand lobe
limbique). Posteriormente, no entanto, o anel passou a ser chamado de rinencéfalo, dada a
convicção de que ele somente serviria ao sentido da olfação. De fato, a única estrutura
sensorial diretamente conectada ao lobo límbico é o trato olfatório, que se liga ao uncus
(literalmente, gancho), uma região na base do cérebro em que o grande lobo límbico
dobra sobre si mesmo em direção caudal.
CORPO CÓRTEX DE
CALOSO ASSOCIAÇÃO
GIRO
CINGULADO
CÓRTEX
PRÉ-FRONTAL
MEDIAL
COMISSURA fórnice
ANTERIOR
HIPOTÁLAMO
HIPOCAMPO
PITUITÁRIA
Figura 5. Representação esquemática do „grande lobo da orla‟ ou „grande lobo límbico‟, de Pierre Broca.
Acima, localização esquemática das principais estruturas do prosencéfalo. Abaixo, representação
esquemática do grande lobo límbico num corte coronal dos hemisférios cerebrais.
CTX
fls
TA GCp
CPFm fx-pré
fmt fx
CA
fx-pós
CM
BO HA
HVM HP
P
LT
HPC
Figura 6. O circuito de Papez. A descrição destas vias teve enorme importância na medida em que forneceu
um substrato neuroanatômico de possíveis influências hipotalâmicas sobre o córtex cerebral. Estas vias
poderiam explicar como as emoções alteram nossa consciência. Esquema superior: 1. fascículo
mamilotalâmico, 2. fascículo longitudinal superior, 3. fórnice. Esquema inferior: BO – Bulbo olfatório, CA
– comissura anterior, CTX – Córtex de associação, P – Pituitária, LT – lobo temporal, CPFm – córtex pré-
frontal medial, CM – corpos mamilares, fmt – fascículo mamilotalâmico, TA – tálamo anterior, fls –
fascículo longitudinal superior, GCp – giro cingulado posterior, HPC – hipocampo, fx – fórnice, fx-pré –
fórnice pré-comissural, fx-pós – fórnice pós comissural, HA – hipotálamo anterior, HVM – hipotálamo
ventromedial, HP – hipotálamo posterior.
CTX
fls
TA GCp
CPFm fx-pré
fmt fx
CA
NIET
NPV et
fx-pós
CM
BO HA
HVM HP
P
vav
LT
AM AC HPC
ABL
Figura 7. O sistema límbico. Paul McLean incluiu a amígdala ao Circuito de Papez e criou o conceito de
Sistema Límbico para indicar o conjunto de estruturas que apresenta conexões íntimas com o hipotálamo. A
amígdala conecta-se ao hipotálamo através das vias amigdalofugais ventrais e, através de um caprichoso
trajeto dorsal aos corpo estriado, pela estria terminal. A última pode mediar as respostas neuroendócrinas do
estresse. Esquema superior: 3a e 3b - componentes pré- e pós-comissurais do fórnice. 4. estria terminal, 5.
fibras amigdalofugais ventrais. Esquema inferior: AC – amígdala central, AM – amígdala medial, vav – vias
amigdalofugais ventrais, et – estria terminal, NIE – núcleo intersticial da estria terminal (bed nucleus of
stria terminalis), HPV – núcleo hipotalâmico paraventricular. Demais abreviaturas como na Figura 2.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 117
CTX
fls
TA GCp
CPFm fx-pré
S fmt fx
HB
CA
NIET fr
NPV et
em NCMR
fx-pós
CM
BO HA
HVM HP
NI
P
vav
LT
AM AC HPC
ABL
Figura 8. Vias terciárias do Sistema Límbico. O fórnice também projeta-se densamente para a área septal
lateral, que é uma área de projeção específica do hipocampo. Através da estria medular, a área septal
projeta-se para a habênula (estrutura do epitálamo) e esta para os núcleos central mediano da rafe e
interpeduncular, via fascículo retroflexo (trato de Vicq d‟Azyr). Desta forma, a área septal pode modular os
núcleos mesencefálicos monoaminérgicos, em particular, o NCMR, que se projetam para estruturas
telencefálicas (Fig. 6). Abreviaturas: S – septo, em – estria medular (do tálamo), HB – habênula, fr –
fascículo retroflexo, NCMR – núcleo central mediano da rafe, NIP – núcleo interpeduncular.
CTX
fls
TA GCp
CPFm fx-pré
S fmt fx
HB
CA
NIET fr
NPV et
em NCMR
fpm
fx-pós
CM
BO HA
HVM HP fnd LC
NI AVT
P
vav
LT
AM AC HPC
ABL
Figura 9. Vias quaternárias do Sistema Límbico. O desenvolvimento dos métodos neuroquímicos modernos
de mostrou que as projeções noradrenérgicas do locus cerúleo (LC), dopaminérgicas da área ventral
tegumentar de Tsai (AVT) e serotonérgicas do núcleo central mediano da rafe (NCMR) projetam-se para
áreas extensas do sistema límbico. Abreviatura: fnd – fascículo noradrenérgico dorsal, fpm – fascículo
prosencefálico medial. Demais abreviaturas como nas figuras anteriores.
fatal. Num certo sentido, a terceira fase poderia ser chamada de „síndrome geral de
desadaptação‟.
CTX
fls
TA GCp
CPFm fx-pré
S fmt fx
HB
CA
NIET fr
NPV et
em NCMR
fpm
fx-pós fs
CM
BO MCPA
HA LC
HVM HP PMD fnd
NI AVT
P
vav
LT
AM AC HPC
ABL
GCa
CTX
fls
GCp V1
CPFm TA
fx-pré
S fmt fx
HB
CA
NIET fr
NPV et
em NCMR
fpm CS
fx-pós fs
CM
BO MCPA
tolf HA LC
HVM HP PMD fnd
trh NTS
top NI AVT
GM
tolf-ac P
vav
LT
AM AC HPC
ABL
tet
VIAS PRIMÁRIAS (Circuito de Papez)
VIAS SECUNDÁRIAS (vias amigdalo-hipotalâmicas) NC
Figura 11. Portas do sistema límbico. Os estímulos externos podem influenciar a atividade do sistema
límbico diretamente, via trato olfatório acessório (tolf-ac), que monitora ferormônios, ou trato retino-
hipotalâmico (trh), que controla os ritmos circadianos, ou ainda, via trato espinotectal (tet), que conduz
informações nociceptivas. Também pode receber informações indiretas visuais do colículo superior (CS),
córtex visual primário (V1) e córtex auditivo primário (A1). Por fim, recebe informações viscerais do
núcleo do trato solitário (NTS).
ESTRESSE ORIGINAL
RESISTÊNCIA AO ESTRESSE
GLICOCORTICÓIDES
NORMAL
Anti-Choque
Choque
ESTRESSE NOVO
Figura 12. A síndrome geral de adaptação. Após a resposta inicial („reação de alarme‟), segue-se o
„estágio de resistência‟ durante o qual a resistência ao estresse original continua a se desenvolver, com o
aumento dos níveis de glicocorticóides (representados por linhas vermelhas), mas declina para novas
formas de estresse. Se o estresse continua por tempo suficiente, o estágio de resistência é substituído
pelo „estágio de exaustão‟, com o declínio catastrófico da resistência a todas formas de estresse.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 122
RESPOSTA NEURO-HUMORAL NO ESTRESSE
ESTRESSE
PVN HPC CÉREBRO SNS
HIPOT
ADRENAL
AVP CRF
NA GLICOCORTICÓIDES
EPI HIPÓF
ANG-II
VIP
EPI
TIMO
ALDO
18-OH-11
ACTH DOCA ANGIO
RENINA
RIM
Figura 13. Resposta neuro-humoral do estresse. Os círculos e traços brancos representam neurônios
do sistema nervoso simpático (SNS). As setas vermelhas representam estimulação ou liberação, e as
setas azuis representam controles de retroalimentação negativa. CRH – hormônio liberador da
corticotrofina, ANG-II – angiotensina II, NE – norepinefrina, EPI – epinefrina, HAD – hormônio
antidiurético, VIP – peptídeo intestinal vasoativo, ACTH – corticotrofina, 18-OH-11-DOCA – 18-
hidróxi-desóxicorticosterona.
Figura 14. Modelo da organização hierárquica do sistema de defesa do gato. Lesões da amígdala (AMI) e
hipotálamo (HIP) não aboliram a reação de defesa eliciada por estimulação da matéria cinzenta
periaquedutal (MCPA). Ao contrário, as lesões desta estrutura aboliram a reação de defesa induzida por
estimulação das primeiras estruturas. Abreviaturas: CS – colículo superior, CTX – córtex, et – estria
terminal, fld – fascículo longitudinal dorsal (Schütz), fmt-fascículo mamilotalâmico, fx – fórnice, HIP –
hipotálamo, MCPA – matéria cinzenta periaquedutal, P – ponte, TA – tálamo anterior (modificado de De
Molina e Hunsperger, 1962).
Figura 15. Vias envolvidas na resposta de medo condicionado (reação de congelamento) produzida por um
som que foi previamente pareado a um choque. O estímulo condicionado (CS) é processado por duas vias:
1) a via do corpo geniculado medial pars ventralis (GMv), que projeta-se ao córtex auditivo, e 2) a via do
corpo geniculado medial pars medialis (GMm), que projeta-se ao córtex auditivo e amígdala lateral (LA).
Presumivelmente, o processamento do pareamento som-choque ocorreria na amígdala que recebe as duas
aferências. As respostas comportamentais, autonômicas e neuroendócrinas do medo condicionado seriam
mediadas pelas projeções da amígdala central (CE) ao hipotálamo e MCPA. Outras abreviaturas: AB -
núcleo anterobasal da amígdala B – núcleo basal da amígdala, CPU – caudato/putamen, HPA – eixo
hipotálamo-pituitária-adrenal, PIR – córtex piriforme, PRh – córtex peri-rinal (modificado de LeDoux,
2001).
ANSIOLÍTICOS, PANICOLÍTICOS E
AGENTES ANTI-OBSESSIVOS
elementos, (1) uma emoção similar ao medo e (2) o comportamento de defesa (fuga
ou ataque e respostas autonômicas) que seria o único elemento conveniente (um
biólogo diria adaptativo). Conseqüentemente, questionou se haveria alguma situação
em que a ansiedade fosse, de fato, útil à proteção do indivíduo. Para responder esta
questão, Freud dividiu a reação emocional ao perigo em dois componentes, (1) a
ansiedade preparatória (anxious readiness), que se expressaria pelo aguçamento dos
sentidos e aumento do tono muscular, e (2) o desenvolvimento da ansiedade
(development of anxiety), propriamente dita. Freud concluiu que a ansiedade
preparatória é o único elemento conveniente da reação ao perigo, uma vez que que
facilita a resposta de fuga.
Embora o aguçamento dos sentidos e o aumento do tono muscular também
sejam produzidos pelo mero aumento da atenção, a natureza aversiva da ansiedade
adiciona propriedades motivacionais inexistentes na primeira. Assim, quando a
perspectiva de uma prova gera níveis adequados de ansiedade (ansiedade preparatória),
o aluno é motivado ao estudo, protegendo-se de uma eventual punição. A ansiedade
declinará à medida que ele obtém as informações necessárias para ser aprovado. Nesta
situação, níveis reduzidos de ansiedade geraram respostas apropriadas, exercendo um
papel motivacional adequado. Contrariamente, níveis intensos de ansiedade (terror)
seriam prejudiciais ao aprendizado que é a defesa do aluno contra uma eventual
reprovação. Em 1906, Yerkes e Dodson, pioneiros da psicologia animal comparativa,
chegaram a conclusões semelhantes ao demonstrar que existe um nível ótimo de
„ativação emocional‟ (arousal, stress) para o desempenho de uma tarefa de uma dada
complexidade, havendo a deterioração do desempenho nos níveis mais intensos de
ativação. A relação em „U‟ invertido entre aprendizado e ativação emocional ficou
conhecida como a lei de Yerkes-Dodson.
Dois aspectos de extrema importância estão ausentes na análise de Freud
sobre a ansiedade objetiva. Primeiro, a imobilidade comportamental (congelamento)
também ocorre em níveis reduzidos de ansiedade e é um recurso altamente conveniente
das presas para passarem despercebidas aos predadores. Em realidade, acredita-se que
a resposta de fuga seja menos característica da ansiedade do que a imobilidade. O
segundo aspecto foi ressaltado por Nicolaas Tinbergen (um dos fundadores da
etologia) e desenvolvido em profundidade por John Bowlby. Trata-se da a função do
medo na promoção da coesão social, reforçando os laços de grupo durante a defesa dos
indivíduos adultos ou da prole.
Analisando a diferença dos termos medo e ansiedade, Freud sugere que a
ansiedade está associada à condição emocional, propriamente dita, enquanto o medo
refere-se ao mesmo estado emocional, porém, com a atenção voltada a um objeto
externo. A ansiedade patológica seria, desta forma, o medo sem causa conhecida.
Freud chamou o transtorno de ansiedade generalizada de „expectativa
ansiosa‟ (anxious expectation) e considerou ser o sintoma central das neuroses, é
exemplar desta condição. Nas palavras de Freud, o transtorno consiste num „quantum
de ansiedade flutuante (a quantum of freely floating anxiety) que controla nossas idéias
por atecipação‟. Por exemplo, a esposa que sofre de ansiedade generalizada teme
contrair pneumonia toda vez que seu marido tosse, situações em que lhe ocorre a idéia
de uma procissão fúnebre. Se ao chegar à sua casa, encontra dois homens conversando,
imagina que um dos filhos caiu da janela; se ela escuta um sino tocar, imagina que
virão trazer-lhe más notícias, etc.
A definição de ansiedade como medo sem causa conhecida, é
particularmente ilustrativa das neuroses freudianas que seriam devidas a traumas
(experiências emocionalmente carregadas) associados a predisposições da libido
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 127
Clordiazepóxido Diazepam
700
pombo 1
pombo 2
Porcentagem da Freqüência Controle (%)
600 pombo 3
pombo 4
pombo 5
500
400
300
200
100
0
-2 0 2 4 -2 0 2 4
Log3-Dose (mg/kg)
(Wuttke & Kelleher, 1970)
EXTINÇÃO.
Fluoxetina ANTIDEPRESSIVOS
Fluvoxamina SELETIVOS PARA 5-HT
AGENTES Paroxetina
ANTIPÂNICO Sertralina
Citalopram
Escitalopram
Alprazolam BENZODIAZEPÍNICOS
Clonazepam
Propranolol BLOQUEADOR
AGENTES COADJUVANTES ADRENÉRGICO
Figura 3. O receptor GABA-A e os sítios de ligação dos benzodiazepínicos (). Acima – receptor
gabaérgico Abaixo esq. – efeitos de um benzodiazepínico (BZD), de um antagonista de benzodiazepínico
(flumazenil) e de um antagonista do GABA (bicuculina) sobre a condutância ao cloreto do receptor
gabaérgico. Abaixo dir. – potenciação pelo benzodiazepínico (diazepam) do potencial pós-sináptico
inibitório produzido pela estimulação de uma fibra gabaérgica. O etanol exerce um efeito eletrofisiológico
similar mediante mecanismo de ação desconhecido.
Figura 4. Família de proteínas das subunidades do receptor GABAA humano. O dendograma (à esquerda)
representa as homologias entre as seqüências de aminoácidos de cada subunidade. A diferença entre as
subunidades é proporcional às distâncias horizontais. PKA – fosfocinase protéica A, PKC – fosfocinase
protéica C (McKernan & Whiting, 1996).
IMIPRAMINA INIBIDORES DA
CLOMIPRAMINA RECAPTAÇÃO DE
NORADRENALINA E
SEROTONINA
FLUOXETINA INIBIDORES SELETIVOS DA
FLUVOXAMINA RECAPTAÇÃO DE
PAROXETINA SEROTONINA
SERTRALINA
CITALOPRAM
NÃO SINERGISTAS ESCITALOPRAM
DO GABA BUSPIRONA AGONISTAS PARCIAIS DE
GEPIRONA RECEPTORES 5-HT1A
IPSAPIRONA
MEPROBAMATO ???
PROPRANOLOL BLOQUEADOR
-ADRENÉRGICO
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 141
1) EFEITOS CENTRAIS
2) EFEITOS PERIFÉRICOS
3) TOLERÂNCIA, DEPENDÊNCIA E DESINTOXICAÇÃO
DL: DE:
Quantidade
Droga e Conteúdo Máximo por Dose Dose
Letal
Comprimido ou Cápsula Letal Terapêutica
DL/DE de
(mg) Média Média
Comprimidos
(mg) (mg)
MORFINA (20) 130 15 8,6 6,5
CLORPROMAZINA (100) 2000 75 26,6 20
FENOBARBITAL (100) 6000 150 40 60
MEPROBAMATO (400) 30000 800 37,5 75
CLORDIAZEPÓXIDO (25) 17000 25 680 680
DIAZEPAM (10) 19000 10 1900 1900
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 142
7) SÍTIOS DE AÇÃO
Figura 6. Reação de congelamento (freezing behavior) produzida por estimulação elétrica da matéria
cinzenta periaquedutal. O rato aparenta um estado de hipervigilância, completamente imóvel, com olhos
totalmente abertos e endireitamento das orelhas, como que em situação de perigo. Nas intensidades maiores
o rato apresenta, seqüencialmente, trotes, galope, saltos, defecação e micção.
d) EFEITOS ADVERSOS
Efeitos atáxicos: cerebelo
Efeitos sobre a memória (amnésia anterógrada): hipocampo
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 143
8) INDICAÇÕES CLÍNICAS
Ansiedade Benzodiazepínicos,
Generalizada buspirona, inibidores
seletivos da recaptação de
5HT
Antidepressivos, inibidores
Síndrome do Pânico seletivos da recaptação de
Ansiedade
5HT, alprazolam, clonazepam
Clomipramina, inibidores
Transtorno Obsessivo-
seletivos da recaptação de
Compulsivo
5HT, benzodiazepínicos
Benzodiazepínicos, IMAOs,
Fobia social
propranolol
Miorrelaxantes de Ação
Diazepam
Central
Insônia ver Hipnóticos
Pré-Anestésicos ver Anestésicos gerais
Anticonvulsivantes ver Anticonvulsivantes
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 144
1. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
2. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
4. EPIDEMIOLOGIA
5. BIOLOGIA DO TOC
6. FARMACOTERAPIA DO TOC
Os transtornos afetivos nem sempre são de fácil caracterização, podendo haver a superposição
dos sintomas com os quadros de ansiedade ou psicoses. De fato, a ansiedade crônica (estresse)
freqüentemente causa depressão e a depressão severa, ansiedade.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 148
DEPRESSÃO MAIOR
Unipolares (ou Melancolia),
DEPRESSÃO ATÍPICA
CAUSA
CRISES MANÍACAS, DEPRESSIVAS ou
DESCONHECIDA
MISTAS (ambas num único episódio),
(Psicoses Endógenas)
Bipolares DESORDEM BIPOLAR ATÍPICA
CICLOTIMIA
Gêmeos monozigóticos 65 --
7) MEDICAMENTOS ANTIDEPRESSIVOS:
OS TRICÍCLICOS E IMAO TÊM EFICÁCIA DE 33%, APENAS, SENDO QUE 1/3 DOS
PACIENTES “RESPONDEM” AO PLACEBO E 1/3 SÃO RESISTENTES ÀS DROGAS,
INDICANDO-SE, NESTE CASO, A ELETROCONVULSOTERAPIA (ECT).
A) PSICOESTIMULANTES
São drogas obsoletas utilizadas nos anos 30. Além de desenvolverem dependência e tolerância,
seu efeito antidepressivo, melhor dizendo, euforizante, é fugaz.
Drogas: anfetaminas, a metanfetamina e o metilfenidato (Ritalina).
São agonistas adrenérgicos indiretos e, diferentemente da efedrina, de ações predominantemente
centrais. A cocaína tem efeitos similares.
Seu mecanismo é sugestivo dos processos envolvidos com a depressão. As anfetaminas
aumentam a liberação de NA, DA e 5HT, inibem a recaptação de NA e DA, inibem a
monoaminoxidase (MAO) e são agonistas parciais de receptores -adrenérgicos. A cocaína inibe
a recaptação de NA e DA.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 152
B) INIBIDORES DA MONOAMINOXIDASE (IMAO)
A MONOAMINOXIDASE (MAO) é a principal enzima inativadora das catecolaminas. Sabe-se
que existem 2 isoenzimas: a MAO-A, que degrada a NA e a 5HT e tem localização intra- e
extracelular e a MAO-B, que degrada NA e DA (-feniletilaminas) e tem localização
extracelular.
Os IMAO foram introduzidos nos anos 50 a partir da observação dos efeitos psíquicos da
isoniazida.
IMAO-A e B: Iproniazida, Pargilina, Fenelzina, Tranilcipromina
IMAO-A: Clorgilina, Moclobemina (inibição reversível da MAO-A)
IMAO-B: Deprenil (eficaz associado ao 5-HTP) e Selegilina (não interagem c/a
tiramina)
Os inibidores da MAO-A são mais potentes que os inibidores da MAO-B.
Com exceção da tranilcipromina (que tem fórmula similar à anfetamina) não apresentam efeitos
imediatos, somente após dias ou semanas de tratamento.
A interação dos IMAO com a reserpina ilustra seu modo de ação:
Reserpina apenas: efeito simpatolítico e depressão
IMAO+Reserpina: efeito simpatomimético e agitação psicomotora
Reserpina+IMAO: reversão gradual da depressão, sem ocorrência de efeitos periféricos
A depressão reserpínica também é revertida por outros antidepressivos, não IMAO.
São produtos tóxicos, principalmente dada a sua interação com simpatomiméticos ou tiramina
(presente em quantidade em certos queijos, vinhos e alimentos com leveduras), quando podem
causar crises hipertensivas.
Efeitos colaterais dos IMAO:
a) Sobredosagem: agitação, alucinações, hiperreflexia, hiperpirexia, convulsões
b) Hepatotoxicidade rara mas grave.
c) Efeitos centrais de doses elevadas: tremores, insônia, agitação, hipomania.
d) Sistema cardiovascular: Hipotensão ortostática, interação com simpatomiméticos (tiramina,
levodopa, anfetaminas.
e) Outros: impotência, vertigem, fraqueza, abolição do sono paradoxal (MOR)
Os IMAO não são obsoletos mas somente devem ser utilizados quando outros medicamentos
falham.
C) ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS
Foram introduzidos nos anos 50 e são as drogas-padrão do tratamento da depressão maior.
São compostos estruturalmente similares aos antipsicóticos fenotiazínicos (clorpromazina)
No entanto, apesar de similares aos fenotiazínicos, não interferem com a dopamina.
São inibidores da recaptação de 5-HT e NA mas, tal como os fenotiazínicos, também são
anticolinérgicos, antiadrenérgicos 1 e anti-histamínicos, propriedade relacionada aos efeitos
hipnosedativos.
A amitriptilina apresenta efeitos anticolinérgicos mais potentes, e a nortriptilina menos potentes.
A protriptilina apresenta efeitos psicoestimulantes (amina secundária), sendo usada na
narcolepsia.
Apresentam efeitos graduais (2 a 3 semanas) e meia-vida entre 20 e 80 hs.
Sua substituição pelos IMAO , e vice-versa, é altamente tóxica e somente deve ser realizada 15
dias após a suspensão dos tratamentos iniciais
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 153
IMIPRAMINA DESIPRAMINA
AMITRIPTILINA NORTRIPTILINA
INIBIÇÃO PREFERENCIAL
DE RECAPTAÇÃO 5-HT NA
O MECANISMO DE AÇÃO DO LÍTIO ainda não está estabelecido, nem mesmo ao nível
celular, quanto mais para os seus efeitos de estabilização do ânimo. Saliente-se, no entanto, que a
liberação de noradrenalina, in vitro, induzida por estimulação de fatias de cérebro, é bloqueada
pelo pré-tratamento com lítio. Também foi sugerido que o lítio facilita a recaptação de
catecolaminas. Estes mecanismos são opostos aos dos antidepressivos e seriam os mecanismos
esperados se a mania resultasse do aumento da atividade catecolaminérgica.
Não explicam, no entanto, porque o lítio também é eficaz para a fase depressiva da desordem
bipolar. Propôs-se, recentemente, que o lítio age pela inibição da inositol-1-fosfatase, a enzima
responsável pela desfosforilação do inositol-monofosfato (IP1) em inositol. O lítio, desta forma,
inviabilizaria a produção de 1,4,5-inositol-trifosfato (IP3), que é um segundo mensageiro
fundamental para o metabolismo do Ca2+ intracelular, deprimindo os neurônios cujos receptores
estão associados à esta via.
EFEITOS COLATERAIS:
Certamente as teorias monoaminérgicas dos distúrbios afetivos não são mais aceitas na
sua forma inicial. Não deve existir uma relação simples entre monoaminas e
depressão/mania.
Pode haver a disfunção de um ou vários sistemas de neurotransmissores.
Existem evidências da interação de vários sistemas de neurotransmissores na etiologia dos
distúrbios afetivos.
A depressão pode envolver distúrbios neuroendócrinos, principalmente, hiperfunção do
eixo hipotálamo-pituitária-adrenal.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 161
ANTIPSICÓTICOS
(ANTI-ESQUIZOFRÊNICOS, NEUROLÉPTICOS OU
TRANQUILIZANTES MAIORES)
Tabela 1. Internamentos em hospícios nos E.U.A. antes e após a introdução dos antipsicóticos
na clínica.
Todos antipsicóticos são antidopamínicos, seja por bloqueio de receptor, seja por
depleção dopaminérgica. As principais evidências deste mecanismo, são:
1) A estrutura espacial da clorpromazina superpõe-se à da DA, em particular, os 3
átomos de carbono da cadeia lateral ligados ao nitrogênio, presentes em quase todos
antipsicóticos, ajustam-se ao receptor da DA.
2) A potência antipsicótica correlaciona-se com a capacidade de deslocar ligantes do
receptor D2 (clozapina, que também tem alta afinidade ao D4, é exceção).
3) Drogas que facilitam a transmissão dopaminérgica, tais como a L-DOPA,
apomorfina, anfetamina e cocaína, podem produzir estados psicóticos.
4) Apenas o isômero do flupentixol, um bloqueador dos receptores de DA muito mais
potente que o isômero , tem efeitos clínicos.
Alguns antipsicóticos também apresentam efeitos antimuscarínicos, antiadrenérgicos
(receptores ), anti-serotonérgicos e anti-histamínicos (ex. clorpromazina).
Outros, como o pimozide, são bloqueadores bastante específicos da dopamina, porém
pouco seletivos com relação ao tipo D1 (D1 e D5) e tipo D2 (D2 , D3 e D4) de receptores
dopaminérgicos.
A sulpirida é um antagonista bastante seletivo de receptores do tipo D2 e a clozapina para
receptores D4.
4. RELAÇÃO ESTRUTURA-ATIVIDADE
TIPO D1 TIPO D2
D1 D5 D2a D2b D3 D4
Agonistas
Dopamina + ++ ++ ++ +++ +++
Apomorfina + ++ +++ +++ +++ +++
Antagonistas
Fenotiazinas + + +++ +++ +++ ++
Tioxantenos +++ +++ +++ +++ 0 0
Butirofenonas + + +++ +++ + +
Clozapina + + + + + +++
TIPO D1 TIPO D2
D1 D5 D2a,b D3 D4
Caudato/ Caudato/
Córtex Pré-
Putamen, Hipocampo, Putamen, N.Accumbens, Frontal,
N.Accumbens, Hipotálamo, N.Accumbens, T.Olfatório Amígdala,
Tub.Olfatório Tálamo Tub.Olfatório, Mesencéfalo
Hipófise
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 164
AÇÕES SINÁPTICAS DAS DROGAS DOPAMINÉRGICAS
Figura 2. Sinapse dopaminérgica (acima) e neurônios e vias que utilizam a dopamina como
neurotransmissor (abaixo).
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 165
5. AÇÕES NÃO-DOPAMINÉRGICAS
6. SÍTIOS DE AÇÃO
ANTAGONISMO EFEITOS
Ach DA EXTRAPIRAMIDAIS
TIORIDAZINA ++ ++ +
CLORPROMAZINA + ++ ++
HALOPERIDOL 0 ++++ ++++
7. INDICAÇÕES EM PSIQUIATRIA
NEUROPATOLOGIA: Constatou-se dilatação dos ventrículos laterais que pode ser indício de
atrofia do tecido nervoso. Estudos post mortem revelaram reduções específicas do giro para-
hipocampal, amígdala, hipocampo, em particular, no hemisfério esquerdo. Estas alterações
têm sido relacionadas aos problemas de linguagem e lógica.
RESPOSTA ÀS FENOTIAZINAS
SINAIS/SINTOMAS
EM DOSES DE MANUTENÇÃO
Sintomas esquizofrênicos
Incoerência +++
Afeto embotado +++
Isolamento +++
Autismo +++
Alucinações ++
Paranóia +
Grandiosidade +
Agressividade 0
Sintomas não-esquizofrênicos
Ansiedade, tensão, agitação 0
Culpa, depressão 0
DROGA 75
PLACEBO 25
A) EFEITOS EXTRAPIRAMIDAIS:
PRINCIPAIS MAIOR
SÍNDROME MECANISMO TERAPIA
SINTOMAS RISCO
espasmos agudos
APK (Ach)
DISTONIA AGUDA da língua, face, 1 a 5 dias ?
BZD
pescoço, costas
bradicinesia,
antagonismo
PARKINSONISMO rigidez muscular, 5 a 30 dias APK (ACh)
dopaminérgico
marcha arrastada
motricidade redução da dose
ACATISIA contínua e 5 a 60 dias ? APK (ACh)
involuntária BZD
movimentos da
TREMOR boca e língua meses ou
? APK (ACh)
PERIORAL (parkinsonismo anos
tardio)
aumento da ação
dopaminérgica
discinesia
por aumento da
DISCINESIA orofacial, “tics” meses ou
sensibilidade prevenção
TARDIA dos membros e anos
dos receptores
tronco
ou da síntese de
DA
B) EFEITOS HORMONAIS:
1. ABUSO
Todas as culturas usam ou usaram algum tipo de droga para alterar o espírito ou o comporta-
mento de seus indivíduos.
Conseqüentemente, a maioria das sociedades aceita algumas drogas, rejeitando as demais.
A insatisfação e frustração inerentes à sociedade humana contribuem para que alguns
indivíduos ou grupos sejam mais propensos ao consumo de drogas que os demais.
Por sua vez, as normas sociais dependem do poder e dos interêsses econômicos
O abuso, portanto, dependerá da sociedade, da época, da circunstância, da droga e da dose.
A abordagem médica, ou seja, aquela que considera as conseqüências sobre a saúde da
interação droga-organismo, é a abordagem fundamental do abuso das drogas.
Psilocybes mexicana
(psilocibina)
Stropharia cubensis
(psilocibina)
Claviceps purpúrea
(LSD)
Lophophora Williamsii
(mescalina)
FIGURA 1. Todas as culturas usam ou usaram algum tipo de droga, naturais, como o álcool, cocaína,
psilocibina e mescalina, semi-sintéticas como o LSD, ou sintéticas como as anfetaminas.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 172
2. DEPENDÊNCIA DE DROGAS: DEFINIÇÕES
BARBITÚR
BENZODIAZEPÍ ANFETAMINAS,
OPIÓIDES ÁLCOOL I- -NICOS COCAÍNA
NICOTINA
COS
Enjôo Euforia Sedação Sedação Euforia Enjôo
Vômito Sonolência Sonolência Sonolência Alerta Vômito
Prazer Ataxia Ataxia Ataxia Agitação Alerta
Bem Estar Nistagmo Nistagmo Nistagmo Insônia Prazer
Miose Amnésia Amnésia Amnésia Anorexia
Anorexia Hipotensão Hipotensão Irritação
Anergia Bradipnéia Bradipnéia Delírios
Hipotensão Apnéia Apnéia Paranóia
Bradipnéia Coma Coma Estereotipias
Apnéia Morte Morte Taquicardia
Morte Hipertensão
Convulsões
Morte
200
C
100
B
A
0
0 20 40 60 80 100
Tempo (horas)
Figura 4. Registro cumulativo das respostas de auto-administração de morfina. Depois de treinado, o
rato começou a receber uma dose de 10 mg/kg de morfina (A). A redução da dose para 3,2 mg/kg (B)
causou o aumento da taxa de resposta, e a supressão completa causou um aumento ainda maior (C)
seguido de um decréscimo gradual.
10:1
100
respostas
32:1
180:1
400:1
4 8 12 16 20 24
TEMPO (horas)
Dependência Dependência
Classe Drogas Tolerância
Psicológica Fisiológica
Opióides +++ +++ +++
Inalantes +++ +/0 +/0
Sedativos Álcool +++ +++ ++
Barbitúricos +++ +++ ++
Benzodiazepínicos + + +
Anfetaminas +++ + +
Cocaína +++ + +/-
Psicoestimulantes
Nicotina ++ ++ +
Cafeína + +/0 +/0
Alucinógenos ++ 0 +++
Psicotomiméticos
Maconha ++ 0 0/-
+ PRESENTE, 0 AUSENTE, - EFEITO INVERSO (SENSIBILIZAÇÃO)
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 177
7. BASES NEURAIS DA DEPENDÊNCIA
9. MECANISMOS DA TOLERÂNCIA
1. TRANSTORNOS ALIMENTARES
2. DIAGNÓSTICO DA OBESIDADE
A obesidade pode ser definida como uma doença em que a saúde do indivíduo é afetada
pelo excesso de gordura, levando à redução da qualidade e expectativa de vida. Mas,
quando podemos dizer que um indivíduo é “obeso”? Segundo os critérios da OMS, o
diagnóstico da obesidade baseia-se no índice de massa corporal (IMC) (Tab.1). O IMC
é calculado dividindo-se o peso do indivíduo (em quilogramos) pelo quadrado de sua
altura (em metros). Em particular, o risco de diabetes-II em mulheres aumenta 5 vezes
com IMCs maiores que 25 kg/m2 e 35 vezes para IMCs maiores que 35 kg/m2. Outros
índices incluem a circunferência abdominal e o quociente abdômen-quadril, que são
importantes no diagnóstico de obesidade mórbida associada ao excesso de gordura
abdominal. Portanto, a obesidade pode ser definida como um distúrbio multifatorial do
balanço calórico em que a ingesta calórica diária do indivíduo excede o gasto de calorias,
resultando num IMC anormalmente elevado.
L.C. Schenberg, Neurofarmacologia (não está autorizada a divulgação pública desta apostila) 180
A B B
Leptina 100
120
Criança obesa
Percentil 98%
Percentil 50% 95
Percentil 2%
100
90
Peso (kg)
85
80
80
Peso (kg)
60
75
40 70
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Meses de Tratamento
20 C
Total Massa Magra Massa Gorda
0
0
0 2 4 6 8 10
Perda de Massa Corporal (kg)
Idade (anos) -2
Em conseqüência destes achados, o tecido adiposo tem sido considerado como um órgão
endócrino difuso, tanto pelo papel dos adipócitos como sensores do estado energético do
organismo quanto pela sua importância na secreção de leptina, citocinas e outros
mediadores autócrinos, parácrinos e endócrinos.
6. O RECEPTOR DA LEPTINA
A B
Figura 6. A) RECEPTORES DE
TIROSINA-CINASES. Existem 4 classes de
de receptores de tirosina-cinase. Os tipos 1 e 2
possuem regiões extracelulares ricas em
cisteínas e os tipos 3 e 4 têm regiões similares
às dos anticorpos (em azul) e 2 regiões
intracelulares com atividade fosfocinásica. As
regiões com atividade tirosina-cinásica estão
em vermelho e são citosólicas. Os receptores 1,
3 e 4 sofrem dimerização após a ligação com o
transmissor. A insulina liga-se a um receptor do
tipo 2, onde cada cadeia é ligada à cadeia e
outra cadeia por pontes de dissulfeto. B) O
RECEPTOR DA LEPTINA É UMA
TIROSINA-CINASE DO TIPO JANO
(JAK). A ativação do receptor de leptina
(LepR-B ou ObR-B) resulta na produção de
homo- ou heterodímeros chamados
transdutores e ativadores de sinais de
transcrição (STAT, signal transducer and
activator of transcriptions) que migram para o
núcleo onde agem como fatores de transcrição.
Os STAT também podem ativar a via da
fosfocinase ativada por mitógeno (MAPK,
mitogen-activated protein kinase).
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8. CAUSAS DA OBESIDADE
9. FARMACOTERAPIA DA OBESIDADE
Embora a primeira linha de ataque à obesidade seja por meio de dietas e exercício físico,
estes freqüentemente falham ou têm efeitos apenas transientes. As únicas alternativas são
as técnicas de cirúrgia bariátrica (ou plástica, como lipoaspiração) e a terapia com
medicamentos anorexigênicos ou hipocalóricos, na obesidade, ou orexígenos, ansiolíticos
e antidepressivos, na anorexia nervosa.
SIBUTRAMINA
ORLISTATE
O orlistate age por um mecanismo periférico. Ele reage com sítios ativos da lípases
gástricas e pancreáticas, inibindo irreversivelmente estas enzimas e, desta forma,
impedindo a degradação da gordura a ácidos graxos e gliceróis. Portanto, causa uma
redução dose-dependente da absorção das gorduras , com o aumento correspondente de
sua excreção fecal, que atinge o equilíbrio em 30% da gordura dietária..
Associado à dieta hipocalórica, produz uma perda modesta (em média, 2,9%), porém
consistente, do peso dos indivíduos obesos, dos quais 12% perdem mais que 10% do
peso corporal.
O orlistate também tem efeitos benéficos em pacientes com diabetes-II, reduzindo os
níveis circulantes de leptina, com a melhora dos índices metabólicos, sem interferir com a
ação dos hormônios da tireóide e outros hormônios. Porém, ele não altera os gasto
energético.
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Ele é totalmente eliminado nas fezes e absorvido em quantidades desprezíveis. Portanto,
os efeitos adversos limitam-se a cólicas, flatulência e incontinência fecal. Pode ser
necessário o tratamento suplementar com vitaminas lipossolúveis que deixam de ser
absorvidas no tratamento com orlistate.
Pacientes obesos com depressão respondem bem aos inibidores seletivos da recaptação de
serotonina.