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FARMACOCINÉTI

CA E VIAS DE
ADMINISTRAÇÃO

PROF. FABIULE DE MELO


AULA 02
Roteiro de aula
• Conceito de farmacocinética
• Processos da farmacocinética
• Aplicação clínica da farmacocinética
• Vias de administração
• Fatores que alteram a farmacocinética
O QUE É A FARMACOCINÉTICA?
• É o ramo da farmacologia que se ocupa dos estudos da absorção, distribuição dos
fármacos aos compartimentos, metabolismo (ou biotransformação) e excreção.
Basicamente estuda o movimento de um fármaco em um organismo vivo.

• É importante do ponto de vista terapêutico, controlar a ação dos fármacos no organismo


e saber o quanto destes consegue chegar ao tecido.

• Tem por objetivo alcançar e manter a concentração plasmática necessária de um


fármaco para garantir o efeito terapêutico sem produzir efeitos tóxicos.

• Ampliam a probabilidade de sucesso terapêutico e reduz a ocorrência de efeitos


adversos.
Caso clinico 1
• Uma mulher de 64 anos chega ao serviço de urgências com sinais e
sintomas de hipocalcemia, entre eles, parestesia de lábios, língua,
mãos e pés, espasmos musculares. No exame de laboratório informa
cálcio sérico de 5mg/dL (VR 8,5 a 10,5mg/dL). Qual dos seguintes
fármacos sería o mais adequado para o tratamento da paciente?

a. Carbonato de Calcio
b. Alendronato
c. Gluconato de Calcio
d. Calcitonina
PROCESSOS DA FARMACOCINÉTICA
absorção
• Estuda o passo dos fármacos desde o exterior ao meio interno
(circulação sistêmica)
• É necessário que seja capaz de atravessar as membranas
biológicas.
• A eficácia e velocidade da absorção vai depender da via de
administração  por isso, esta etapa não se aplica
1. Bi-camada aos
lipídica fármacos
(externa é hidrofílica e
administrados de forma IV a interna é hidrofóbica)
2. É móvel e fluida (as moléculas individuais
se movem lateralmente)
3. Proteínas de membrana  alvo
farmacológico
4. Relativamente impermeável à moléculas
polares
Como os fármacos atravessam a mc?
• O fármaco se move da região de
concentração alta para a de
concentração baixa. A difusão passiva
não envolve transportador, não é
saturável e apresenta baixa
especificidade estrutural. A maioria
dos fármacos é absorvida por esse
mecanismo.
• Outros fármacos podem entrar na célula por
meio de proteínas transportadoras
transmembrana especializadas que facilitam
a passagem de moléculas grandes. Essas
proteínas transportadoras sofrem alterações
conformacionais, permitindo a passagem de
fármacos ou moléculas endógenas para o
interior da célula, movendo-os de áreas de
alta concentração para áreas de baixa
concentração. Não requer energia, pode ser
saturado e pode ser inibido por compostos
que competem pelo transportador.
• O transporte ativo dependente
de energia é movido pela
hidrólise de trifosfato de
adenosina. Ele é capaz de mover
fármacos contra um gradiente
de concentração – ou seja, de
uma região com baixa
concentração de fármaco para
outra com concentração mais
elevada. Esse processo é
saturável.
• Estes tipos de absorção são usados
para transportar fármacos excepcionalmente
grandes através da
membrana celular.
• Endocitose: engolfamento de moléculas do
fármaco pela membrana e seu transporte para
o interior da célula pela compressão da
vesícula cheia de fármaco.(exemplo 
vitamina B12)
• A exocitose é o inverso da endocitose. Muitas
células usam a exocitose para secretar
substâncias para fora por um processo similar
ao da formação de vesículas.
Outras formas de absorção
• Filtração: as moléculas atravessam por canais aquosos da MC. O
tamanho da molécula é o único regulador do poro quando esta é
neutra.

• Ionóforos: são pequenas moléculas hidrofóbicas que se dissolvem na


bi-camada lipídica e aumentam sua permeabilidade. Podem ser de
dois tipos: transportadores moveis e formadores de canais.

• Lipossomas: vesículas sintéticas formadas por uma ou mais camadas


fosfolipidicas que albergam fármacos hidro ou lipossolúveis,
macromoléculas, material genético modificado
Fatores que modificam a absorção
• Solubilidade do produto: solubilidade é a máxima quantidade de
soluto que se dissolve em um solvente. O liquido intersticial (que
conforma o LEC) que rodea as células, é o responsável pela
dissolução. Logo, um fármaco hidrossolúvel (de baixo pelo molecular)
se dissolve mais rápido e atravessa a MC em comparação a um
lipossolúvel.

• Formulação do fármaco: quanto mais sólido, mais lenta é a liberação

• pH do meio: a grande maioria dos fármacos são bases e ácidos fracos.


Barbituricos e Salicilatos por exemplo, são ácidos fracos, ionizados,
• Fluxo de sangue no local de absorção: a mucosa intestinal é bem mais
vascularizada em comparação com o estômago, favorecendo a absorção. É um
dos motivos pelo qual o intestino é um dos principais locais de absorção de
medicamentos administrados via oral.

• Superfície de absorção: Com uma superfície rica em bordas em escova contendo


microvilosidades, o intestino tem uma superfície cerca de 1.000 vezes maior que
a do estômago; por isso, a absorção de fármacos pelo intestino é mais eficiente.

• Tempo de contato com a superfície de absorção: Se um fármaco se desloca muito


rapidamente ao longo do TGI, como pode ocorrer em uma diarreia intensa, ele
não é bem absorvido. Contudo, qualquer retardo no transporte do fármaco do
estômago para o intestino reduz a sua velocidade de absorção.
Caso clinico 2
• Uma mulher de 64 anos com antecedente de intervenções cirurgicas abdominais
por doença de Crohn, chega ao serviço de urgências com constipação e vômito
fecaloide. É feito o diagnóstico de obstrução do intestino delgado, sendo realizada
a cirurgia para liberação de aderências e ressecção da alça intestinal estenosada.
Durante o pós-operatório se observa elevação da PA, sendo medicada com
Metoprolol VO; entretanto não se observa melhora dos níveis pressóricos. Isto se
deve provavelmente à:
a. Efeito de primeira passagem hepática
b. Diminuição da passagem do fármaco através do intestino
c. Diminuição da irrigação GI
d. Destruição do fármaco pelo acido do estômago
e. Aumento da união à proteínas do fármaco
DISTRIBUIÇÃO
• Ao chegar na circulação sanguínea, o
fármaco será distribuído pelos tecidos. Por A passagem do fármaco do plasma
tanto a distribuição depende, em essência, ao interstício depende do débito
da BIODISPONIBILIDADE do fármaco. cardíaco e do fluxo sanguíneo
regional, da permeabilidade
capilar, do volume do tecido, do
grau de ligação do fármaco às
• Estuda o transporte do fármaco dentro do proteínas plasmáticas e tissulares e
da lipofilicidade relativa do
compartimento sanguíneo e sua posterior fármaco.
penetração nos tecidos.

• O transporte do princípio ativo pode


ocorrer de diversas formas: incorporadas
às hemácias, ligado às proteínas de forma
biodisponibilidade
• Representa a taxa, a extensão e a velocidade com que um fármaco administrado alcança a
circulação sistêmica e chega aos tecidos, bem como o tempo pelo qual desaparece dele.
• Exemplo: se 100 mg de um fármaco são administrados por via oral, e 70 mg desse fármaco são
absorvidos inalteradamente  biodisponibilidade é de 70%.
• Fármacos administrados de forma IV tem 100% de biodisponibilidade no tecido alvo

• EXISTEM FATORES QUE INFLUENCIAM NA BIODISPONIBILIDADE:


• Biotransformação hepática de primeira passagem;
• Solubilidade do fármaco e sua forma farmacêutica;
• Via de administração;
• Instabilidade química;
• Natureza da formulação;
• Condições fisiopatológica do paciente.
• PROPRANOLOL
• DICLOFENACO SÓDICO
• MORFINA
• MEPERIDINA
Curva de concentração plásmatica
DO PONTO DE VISTA TERAPEUTICO, A BIODISPONIBILIDADE MÁXIMA NEM
SEMPRE É O MAIS APROPRIADO. UMA ABSORÇÃO MAIOR PODE ASSOCIAR-
SE COM UM INCREMENTO NA APARIÇÃO DE EFEITOS ADVERSOS. O QUE
REALMENTE SE PRETENDE É CONSEGUIR NIVEIS ADEQUADOS DURANTE
MAIS TEMPO, OU SEJA, UMA BIODISPONIBILIDADE OTIMIZADA OU
PROGRAMADA.
A. Fluxo sanguíneo
• A taxa de fluxo de sangue para os
(cérebro, fígado e rins) é maior do que
para os músculos esqueléticos. O tecido
adiposo, a pele e as vísceras têm fluxo
sanguíneo ainda menor. A variação no
fluxo de sangue explica parcialmente a
curta duração da hipnose produzida por
um bólus de injeção IV de propofol.

B. Ligação dos fármacos à proteínas
plasmáticas
• A albumina é a principal proteína ligadora e pode atuar como uma
reserva de
fármaco.
• A união em sua grande maioria é reversível, e ocorre por sua
lipossolubilidade.

• Pode se ligar tanto a bases fracas, porém principalmente a fármacos


ácidos fracos.
• IMPORTANTE: fármacos unidos a PP não produzem efeito biológico pois
é a fração livre que difunde nos tecidos, porém é o principal meio para
transporte e armazenamento do principio ativo  mantém assim os
níveis plasmáticos. Logo:
c. Permeabilidade capilar
• Os fármacos passam do sangue ao liquido
intersticial através dos poros capilares por
difusão passiva se forem lipossolúveis, e por
filtração se forem hidrossolúveis.

• Tal passagem depende do grau de resistência do


capilar, por exemplo, os capilares do SNC tem
resistência máxima a passagem de princípios
ativos (muitas vezes precisa de transporte ativo),
já que a união entre as células endoteliais são
justapostas e sem frestas.

• Já no fígado, a resistência dos sinusoides é


mínima, no músculo esquelético é intermédia.
d. Ligação a proteínas dos tecidos

• Os fármacos podem acumular como resultado da ligação a lipídeos,


proteínas ou ácidos nucleicos.

• Os principais reservatórios são, em realidade, os tecidos. Inclusive se


acumulam em tecidos não alvo (ou “não diana”)  exemplo: tecido
adiposo que acumula fármacos lipófilos  regressam lentamente à
circulação e sofrem a “redistribuição”.

• O principal reservatório transcelular é o aparelho gastrointestinal


(fármacos de absorção lenta)
As barreiras de locais específicos
• BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA
• BARREIRA PLACENTÁRIA
• BARREIRA TESTICULAR
• BARREIRA DO PROCESSO CILIAR (OLHO)
BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA
Duas barreiras a conforma: a hematoencefálica e a
hematocefalorraquídea.
Barreira placentária
• Barreira multicelular,
extremamente complexa, derivada
tanto de tecidos fetais quanto de
maternos.

• Como se interligam intensamente


 os fármacos atravessam a
barreira por difusão facilitada

• Como se gera os efeitos


teratogênicos de fármacos? A
placenta e o fígado fetal têm
Cinética de distribuição
• Como os fármacos estão em constante movimento, a distribuição se estuda por modelos
compartimentais, para vê-lo por um ponto estático.

• Compartimento: conjunto de estruturas ou territórios que um fármaco acessa de maneira


similar, por tanto, se considera que se distribui uniformemente.

• Na prática clinica, se considera 3 compartimentos:


• Central: constituído por água plasmática intersticial e intracelular de fácil acesso, são tecidos bem
irrigados (coração, pulmão, rim, glândulas endócrinas, SNC)
• Periférico superficial: existe água intracelular pouco acessível, ou seja, tecidos menos irrigados (pele,
tela adiposa subcutânea, medula óssea), proteínas e lipidios.
• Periférico profundo: constituído por depósitos tissulares com os quais o fármaco se une fortemente 
liberação lenta.
Modelos compartimentais
• Modelo monocompartimental: se distribui rápido e uniformemente. A
concentração plásmática e o efeito biológico são paralelos.

• Modelo bicompartimental: a maioria dos fármacos adota este


modelo. Primeiro se distribui nos compartimentos centrais, e depois
aos periféricos. O paralelismo entre efeito biológico e concentração
plasmática se alcança na fase pós-distributiva

• Modelo tricompartimental: se distribui no compartimento central,


que posteriormente se equilibra com o periférico superficial, porém
ocorre que o fármaco tem alta afinidade pelo compartimento
Caso clínico 3
• A administração de uma dose de carga IV de um fármaco X a um paciente origina uma concentração
plasmática inicial de 100mcg/L. Na seguinte tabela se ilustra a concentração deste fármaco em função
do tempo, depois da dose de carga inicial:
Tempo (horas) CP (mcg/L)
0 100
1 50
5 25
9 12,5

• Qual a semivida (em horas) desse fármaco?


a. 1
b. 2
c. 4
d. 5
e. 9
Metabolismo (biotransformação)
• Pode definir-se como a eliminação química ou a transformação
metabólica de um fármaco.

• A biotransformação promove a inativação do composto original


(metabólitos), bem como sua ativação. Exemplo: Enalapril VO  ao se
metabolizar se biotransforma em Enalaprilato  forma ativa.

• Fígado: principal órgão biotransformador

• Outros: intestino delgado, sangue, rim, pulmão, glândula suprarrenal,


ação bacteriana, etc
Fases do metabolismo
Fase I Fase II
• Geralmente se liberam grupos funcionais da
molécula para aumentar sua ionização e • É uma fase de conjugação
hidrossolubilidade. com substratos endógenos 
• São reações não sintéticas: ativação, hidrossolúveis, facilmente
mudança de atividade ou inativação.
• Farmacos lipofílicos passam por esta fase excretados pelos rins ou pela
• A maioria utiliza a via do citocromo P450 bili  sem efeito biológico.
(superfamília de isoenzimas).
• Acido acético, acido
• Algunos fármacos inibem e outros induzem a glicurônico, acido sulfúrico,
atividade das isoenzimas  efeitos adversos aminoácidos
graves. (exemplo: o efeito provocado pelo
Omeprazol quando administrado junto com
Varfarina)
• A reação de glicuronidação é
a forma de conjugação mais
Fatores de podem influenciar o metabolismo
• Sexo (H:M tem maior atividade enzimática devido a testosterona VS
estradiol)
• Idade (os extremos da vida)
• Fatores fisiopatológicos
• Estado imunológico
• Aspecto farmacológico do próprio fármaco
• Estado de nutrição
• Predisposição genética
eliminação
• É o processo pelo qual a substância, agora inativa, passa do meio
interno para o exterior.

• As principais vias são: renal (90%  as que foram biotransformadas),


pulmonar e hepatobiliar.

• Vias de menor referencia: glândulas salivares, estômago, intestino,


glândulas sudoríparas, lagrimais, pele
Eliminação renal

• Filtração glomerular: o fármaco livre (não


ligado à albumina) difunde-se através das
fendas capilares para o espaço de
Bowman como parte do filtrado
glomerular
• Secreção tubular proximal: os fármacos
que não foram transferidos para o filtrado
glomerular saem dos glomérulos através
das arteríolas eferentes, que se dividem
formando um plexo capilar ao redor do
lúmen no túbulo proximal.
Excreção por outras vias

• Excreção biliar: geralmente substâncias de alto pelo molecular, não


ionizadas. Muitos permanecem na forma ativa na bile, o que pode
ser favorável pela circulação enterohepática (exemplo: Ampicilina,
Rifampicina).
• Excreção gástrica e intestinal: geralmente apresentam excreção
lenta, já que podem ser reabsorvidos (exemplo: morfina  o que
explica a diminuição da peristalse)
• Excreção no leite materno: a concentração depende da união do
fármaco às proteínas plasmáticas e proteínas do leite, além de sua
origem base ou ácida (bases fracas são mais facilmente excretadas
devido o pH menor do leite em relação ao plasma).
A importância da meia vida (t ½)
• Se define pelo tempo que leva a concentração plasmática de um
fármaco reduzir pela metade.

• Quanto mais rápida a eliminação  menor será a meia vida

• Importância clínica: define a pauta de administração

• Para ser eliminado, o liquido plasmático passa pelo processo de


depuração (ou aclaramento, ou clearence): capacidade que o órgão
tem de aclarar cada mililitro de plasma do fármaco aí presente. Nos
referimos a clearence total ou sistêmico ao índice de depuração de

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