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DEFINIÇÃO

Processos farmacocinéticos e suas principais características. Significado


deste ramo da Farmacologia, os principais fatores capazes de alterá-los e a
aplicação clínica.

PROPÓSITO
Compreender os processos farmacocinéticos para gerar decisões acertadas
acerca da terapia e dos esquemas terapêuticos, evidenciando como o
organismo é capaz de reagir na presença dos fármacos em relação à
:
absorção, distribuição, eliminação e ao metabolismo.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Definir o conceito e os princípios de farmacocinética, o processo de


absorção de fármacos e suas vias de administração

MÓDULO 2
:
Descrever os processos farmacocinéticos de distribuição e metabolismo e
seus fatores de interferência

MÓDULO 3

Reconhecer os processos farmacocinéticos de eliminação e a


farmacocinética clínica

INTRODUÇÃO

Moléculas estranhas ao organismo precisam ultrapassar diferentes barreiras


:
para que tenham acesso à circulação e, posteriormente, aos tecidos.
Dependendo do local de introdução, os agentes externos (farmacológicos ou
não) precisam ultrapassar membranas celulares e, na maioria das vezes,
alcançar tecidos via vasos sanguíneos e circulação linfática.

Portanto, seguida a administração, um agente farmacológico precisa ser


absorvido e distribuído para o tecido alvo, a fim de gerar seu efeito. Em
conjunto com os métodos citados, é preciso superar o constante trabalho do
fígado no processo de metabolismo e, em alguns casos, eliminação.

Neste tema, veremos que os processos farmacocinéticos compreendem


absorção, distribuição, metabolismo e eliminação dos fármacos (ADME).
Para todos os processos, há um fator em comum: para que eles sejam
realizados, precisam da passagem do fármaco através das membranas
plasmáticas que compõem as células.

Poucas são as situações em que o fármaco poderá ser administrado no


local previsto para sua ação, a exemplo de um anti-inflamatório tópico na
pele ou na mucosa inflamada. Com muito mais frequência, um agente será
administrado em um compartimento corporal (como o trato gastrointestinal)
e deverá se deslocar até o seu sítio de ação (por exemplo, o coração). Isso
exige a absorção do fármaco no trato gastrointestinal; depois, o sangue irá
distribuí-lo para o coração, passando pelo metabolismo hepático. Por fim,
será eliminado a uma taxa que possibilite uma concentração plasmática
eficaz, sem o risco elevado de efeitos adversos ou tóxicos.

O estudo da farmacocinética, portanto, é importante para a identificação das


características que favorecem a passagem dos fármacos pelos diferentes
compartimentos e por suas barreiras, como também para entendimento do
quão afetado é o sistema fisiológico na presença dos fármacos.
:
OS PROCESSOS
FARMACOCINÉTICOS

A farmacocinética é o estudo do percurso dos fármacos no organismo.


Nesse ramo da Farmacologia, os processos farmacocinéticos se preocupam
em descrever as características de cada processo e, dessa forma, definir os
fatores capazes de alterá-los.

Como descrito na introdução, a passagem dos fármacos por diferentes


barreiras celulares é um processo importante para assegurar sua chegada
ao tecido-alvo. Para tanto, algumas características precisam ser
consideradas: permeação e grau de ionização.

Fonte: Shutterstock
:
PERMEAÇÃO

A permeação dos fármacos pode ser realizada através de dois mecanismos:

MECANISMOS PASSIVOS

Sem necessidade de gasto de energia.

Difusão simples, aquosa e lipídica.

Configuração do transporte dos fármacos pelos compartimentos


aquosos (espaço intersticial, citosol, poros aquosos presentes na
parede dos vasos sanguíneos).

MECANISMOS ATIVOS

Necessidade de gasto de energia.

Configuração do transporte dos fármacos pelas membranas


plasmáticas.

Fator limitante mais significativo na permeação dos fármacos, uma vez


que são inúmeras as barreiras lipídicas que separam os
compartimentos corporais.

Nesse sentido, entende-se que, para cada fármaco, o coeficiente de


partição lipídeo/água é que definirá quão fácil será o deslocamento entre os
ambientes aquosos e lipídicos.

Ainda de forma passiva, os fármacos podem utilizar componentes


facilitadores, quando sua estrutura química é grande demais para atravessar
:
membranas, como as proteínas transmembranares. Da mesma forma, o
transporte ativo de fármacos é possível, mas é realizado por transportadores
que atuam contra o gradiente de concentração e despendem energia para
alimentar esse processo. A endocitose também é possível.

Todos esses processos estão ilustrados na imagem a seguir.

Fonte: Shutterstock
 Fármacos se movem através das barreiras das membranas e da célula
por diferentes vias. BRUNTON et al ., 2018.

Nesse contexto, pode-se dizer que alguns fatores definem a taxa e


penetração dos fármacos nos tecidos, sendo eles: o coeficiente de partição
(lipossolubilidade x hidrossolubilidade); tamanho da molécula e espessura
(da área de contato). Esses fatores são utilizados para previsão do fluxo
passivo de moléculas ao longo de um gradiente de concentração, a
conhecida Lei de difusão de Fick:
:
GRAU DE IONIZAÇÃO

Principalmente importante para ácidos e bases fracas, a carga eletrostática


de uma molécula definirá a atração por dipolos de água e, dessa forma, sua
hidrossolubilidade. Como visto anteriormente, a lipossolubilidade é uma
característica que facilita a difusão dos fármacos pelas membranas, sendo,
portanto, a ionização do fármaco um fator que compromete essa difusão. De
maneira geral, o pH do meio onde os fármacos são disponibilizados definirá
quão ionizados eles estarão, favorecendo ou não sua difusão pelas
membranas.

BASES FRACAS

Compõem grande parte dos fármacos.

LEI DE DIFUSÃO DE FICK

Onde C1 é a concentração mais alta; C2, a concentração mais baixa;


a área é a área na qual está ocorrendo a difusão; o coeficiente de
permeabilidade é a medida de mobilidade das moléculas da droga; e
espessura é a espessura da via de difusão.
:
ENDOCITOSE

Nesse caso, o fármaco é englobado por uma vesícula formada pela


membrana plasmática e, posteriormente, liberado no citosol da célula
que o englobou.

A forma não ionizada sempre será a mais lipossolúvel, e assim:

Em pH ácido (pH<7): os fármacos ácidos ficam mais lipossolúveis, pois a


maior parte de suas moléculas estão na forma não ionizada.

Em pH básico (pH>7): os fármacos básicos ficam mais lipossolúveis, pois a


maior parte suas moléculas estão na forma não ionizada.

Em urina ácida, drogas de caráter básico são mais bem eliminadas, e o


contrário também é verdadeiro. Se a droga, ainda que filtrada pelo rim,
estiver na sua forma não ionizada e, portanto, lipossolúvel, ao alcançar o
túbulo renal, poderá ser reabsorvida, e, assim, não será eliminada.
:
Fonte:Shutterstock

 EXEMPLO

A utilidade desse conceito pode ser exemplificada no processo de


eliminação renal dos fármacos. A eliminação de uma droga é um processo
que, por vezes, deve ser favorecido na clínica, em quadros de intoxicação.

A estratégia de alcalinizar a urina para favorecer a eliminação de um agente


de caráter ácido, por exemplo, justifica-se pelo fato de se aumentar, em
ambiente alcalino, a porção da droga ácida na sua forma ionizada,
impedindo sua reabsorção e, consequentemente, garantindo a permanência
no túbulo renal e sua eliminação na urina, como ilustrado a seguir:
:
 Retenção de uma base fraca na urina quando a urina é mais ácida do
que o sangue.
concentração total da droga na urina é sete vezes maior que no sangue.
(KATZUNG, 2010).

ABSORÇÃO E VIAS DE
ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS
:
Fonte:Shutterstock
 Etapa biofarmacêutica necessária para disponibilizar o fármaco
administrado na forma sólida ao TGI, para que haja o processo de absorção.

É definida como o movimento do fármaco de seu sítio de administração para


a circulação sistêmica. Sabe-se que fármacos sólidos administrados pela via
oral, antes de sofrerem absorção, necessitam se libertar da formulação, que
deve se desintegrar nos fluidos luminais, liberando o fármaco. A absorção
dos fármacos pode ser quantificada pela biodisponibilidade, que é definida
como a fração da dose administrada que efetivamente alcança o sítio de
ação, ou a circulação sistêmica, que levará o fármaco até seu sítio.

A formulação é um dos fatores que afetam a absorção, como mencionado


acima. Fármacos sólidos precisam passar por uma etapa chamada de
biofarmacêutica, onde se tem a desintegração, desagregação e dissolução
do fármaco antes que ele esteja disponível para absorver. Tal etapa já não é
necessária para formulações líquidas, conforme esquema ao lado.
:
BIODISPONIBILIDADE

Para fármacos administrados pela via oral, tendo dessa forma o trato
gastrointestinal como local de administração, muitos fatores podem
interferir na absorção, afetando, assim, a biodisponibilidade.
:
Dessa forma, parte do que é administrado pode não estar disponível para
absorção e ser eliminado nas fezes. Além disso, as propriedades físico-
químicas do fármaco (já discutidas acima), o metabolismo de ataque no
próprio intestino e a passagem pelo fígado podem reduzir significativamente
a porção do fármaco que alcançará a circulação sistêmica.

O que é retirado do lúmen do TGI é inicialmente levado para a circulação


porta. Chegando ao fígado, onde o metabolismo e a excreção biliar ocorrem,
parte dos fármacos já pode ser eliminada.

Portanto, se a capacidade metabólica e excretória do fígado e do intestino


para o fármaco forem altas, a biodisponibilidade é reduzida
substancialmente, é o que chamamos de efeito de primeira passagem.
Para tanto, a biodisponibilidade pode ser calculada na forma de um fator (F),
como a seguir:
:
É importante ressaltar que a via intravenosa, diferente da via oral, não
submete o fármaco a todas essas interferências citadas, sendo, portanto,
uma via cujo fator de biodisponibilidade é = 1. Para as outras vias de
administração, mesmo parenterais, o fator de biodisponibilidade pode se
aproximar de 1, ou ficar bem abaixo disso. É preciso considerar as
características de cada via.

PADRÃO
UTILIDADE LIMITAÇÕES E
VIA DE
ESPECIAL PRECAUÇÕES
ABSORÇÃO

Valiosa para Aumenta o


A absorção
Intravenosa uso em risco de efeitos
é evitada.
emergências. adversos.

Imediata, no Adequada
Inadequada
caso de para
Subcutânea para grandes
soluções algumas
volumes.
aquosas. suspensões

Imediata, no Contraindicada
Adequada
caso das durante o
Intramuscular para volumes
soluções tratamento
moderados.
aquosas. anticoagulante.
:
Variável.
Depende da
Depende de Conveniente
Ingestão oral adesão do
muitos e econômica.
paciente.
fatores.

 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem


horizontal

Fonte: Adaptado de BRUNTON et al ., 2018.

VIA

Intravenosa

F=1 por definição

VIA

Subcutânea
:
VIA

Intramuscular

VIA

Ingestão oral
:
PADRÃO DE ABSORÇÃO

A absorção é evitada. Os efeitos podem ser imediatos. Adequada para


grandes volumes e substâncias irritantes, ou misturas complexas,
desde que diluídas.

PADRÃO DE ABSORÇÃO

Imediata, no caso de soluções aquosas. Lenta e prolongada, no caso


das preparações de depósito.

PADRÃO DE ABSORÇÃO
:
Imediata, no caso das soluções aquosas. Lenta e prolongada, no caso
das preparações de depósito.

PADRÃO DE ABSORÇÃO

Variável. Depende de muitos fatores.

UTILIDADE ESPECIAL

Valiosa para uso em emergências. Permite a titulação da dose.


Geralmente é necessária para proteínas de alto peso molecular e
fármacos peptídicos.

UTILIDADE ESPECIAL

Adequada para algumas suspensões pouco solúveis e para instilação


de implantes de liberação lenta.
:
UTILIDADE ESPECIAL

Adequada para volumes moderados, veículos oleosos e algumas


substâncias irritantes. Adequada para a autoadministração (p. ex.,
insulina).

UTILIDADE ESPECIAL

Mais conveniente e econômica; geralmente é mais segura.

LIMITAÇÕES E PRECAUÇÕES

Aumenta o risco de efeitos adversos. Em geral, as soluções precisam


ser injetadas lentamente. Inadequada para soluções oleosas ou
substâncias pouco solúveis.
:
LIMITAÇÕES E PRECAUÇÕES

Inadequada para grandes volumes. As substâncias irritantes podem


causar dor ou necrose.

LIMITAÇÕES E PRECAUÇÕES

Contraindicada durante o tratamento anticoagulante. Pode interferir


com a interpretação de alguns exames diagnósticos (creatinocinase).

LIMITAÇÕES E PRECAUÇÕES

Depende da adesão do paciente. A biodisponibilidade pode ser


errática.

Além da biodisponibilidade, outro conceito importante a ser tratado em


farmacocinética é a bioequivalência. Clique para conhecer o conceito.

BIOEQUIVALÊNCIA
:
Dois medicamentos são considerados equivalentes farmacêuticos se eles
tiverem os mesmos ingredientes ativos, na mesma concentração ou dose e
via de administração. Serão considerados bioequivalentes quando tiverem a
mesma biodisponibilidade, alcançando a mesma concentração plasmática
máxima no mesmo tempo.

Quando bioequivalentes, as duas formulações serão intercambiáveis. Tais


estudos são realizados observando-se as concentrações plasmáticas
alcançadas a partir de amostras de sangue recolhidas dos indivíduos em
intervalos de tempo específicos. Os dados são apresentados graficamente,
onde são apresentadas, no eixo vertical, as concentrações plasmáticas do
fármaco e, no eixo horizontal, os tempos relacionados à evidenciação
dessas concentrações (tempo em que a amostra foi coletada), sendo o
tempo zero o momento em que o fármaco foi administrado.

INTERCAMBIÁVEIS

Intercambiável define que algumas fórmulas podem substituir outras, é


a relação dos medicamentos genéricos com os medicamentos de
referência.
:
PARA ADMINISTRAÇÃO VIA ORAL

O fármaco deve passar pelo estômago e/ou intestino, ser libertado da sua
forma de dosagem (formulação), dissolver-se totalmente ou parcialmente e
ser absorvido. As amostras de sangue revelam concentrações aumentadas
de fármaco até atingirem um pico máximo de concentração (Cmáx),
declinando após alcançar o pico, e, se não administradas novas doses, esse
declínio chega a zero.

PARA ADMINISTRAÇÃO INTRAVENOSA


:
O fármaco manifesta sua concentração plasmática máxima pouco tempo
depois de sua administração, e, a partir daí, as amostras que se seguem
revelam concentrações cada vez menores com o tempo.

No gráfico da concentração de fármaco versus tempo, a area under the


curve ((AUC – área sob a curva) ) (AUC) representa a quantidade total
de fármaco absorvido na circulação sistêmica, e, portanto, o fator de
biodisponibilidade (F) pode ser calculado pela razão entre a AUC da
formulação com o fármaco na qual se pretende identificar a
biodisponibilidade e a AUC para a forma intravenosa desse mesmo fármaco
(que por definição é de 100%; F=1).

VIA ORAL (VO)


É o método mais comum, mais seguro e mais conveniente. Apesar disso,
possuiu desvantagens. A absorção dos fármacos pode ser prejudicada por
suas características físico-químicas (baixa lipossolubilidade e
permeabilidade pelas membranas), êmese (por irritação da mucosa
gástrica), destruição do fármaco pelo pH ácido estomacal e interação com
alimentos (quimicamente ou fisicamente, onde a presença do alimento por si
só impede o contato do fármaco com a parede do TGI). Além disso, o
metabolismo hepático, dependendo da intensidade, pode reduzir
drasticamente a absorção do fármaco, como já visto anteriormente.

A absorção no TGI é ainda direcionada pelos seguintes fatores: área de


superfície de contato, fluxo sanguíneo no sítio de absorção e concentração
do fármaco nesses sítios. A maior parte da absorção é por difusão passiva,
:
que é favorecida quando o fármaco é lipossolúvel e está em maior parte na
forma não ionizada. Apesar de entendermos que fármacos ácidos fracos
estarão menos ionizados no estômago, pelo fato de o intestino ser um

compartimento com extensa área de superfície de contato (~200m2_ por


conta das microvilosidades), a absorção de fármacos será maior no
intestino, mesmo que o fármaco esteja predominantemente ionizado nessa
região. Dessa forma, quanto mais rápido o fármaco chegar ao i ntestino,
melhor será a absorção, ou seja, quanto maior for o esvaziamento gástrico,
mais rápido o fármaco será absorvido (com raras exceções). Por vezes,
quando um fármaco gera irritação gástrica ou é extensamente degradado
nesse compartimento, estratégias como formas farmacêuticas com
revestimento entérico são preconizadas.

VIA SUBLINGUAL (SL)


A absorção se dá pela mucosa oral e por vasos drenados para a veia cava
superior. O fármaco é protegido do metabolismo de primeira passagem e
alcança rapidamente tanto a circulação sistêmica como seu sítio de ação. A
exemplo, tem-se a nitroglicerina, um vasodilatador de urgência usado em
pacientes com angina de peito.

VIA RETAL (VR)


Por essa via, há menor submissão dos fármacos ao metabolismo de
primeira passagem. A mucosa do reto é extensamente vascularizada,
permitindo absorção de fármacos administrados nesse compartimento.
Alguns fatores implicam em desvantagens; trata-se de uma via
desconfortável para o paciente, e alguns fármacos podem gerar irritação
local. Em geral, a absorção é boa, mas incerta.

VIA SUBCUTÂNEA (SC)


Administração no tecido subcutâneo. É possível quando o fármaco não gera
irritação ou necrose no tecido. Normalmente, a absorção nesse local é
:
constante e gera um efeito sustentado do fármaco. A insulina, por exemplo,
possuiu diferentes preparações (usando complexos proteicos e variação de
pH), que permite sua liberação sustentada, o que é um benefício para a
insulinoterapia.

VIA INTRAMUSCULAR (IM)


A absorção de fármacos por essa via dependerá da formulação e do fluxo
sanguíneo local. Formulações mais oleosas retardam a absorção dos
fármacos administrados por essa via, gerando um mecanismo de depósito
no músculo com liberação lenificada para a circulação sistêmica.
Dependendo do local, e tendo ele melhor perfusão sanguínea, a absorção
também é melhorada. Em geral, é mais rápida a absorção quando a injeção
é feita no deltoide (ombro), quando comparado ao glúteo máximo.

VIA INTRAVENOSA (IV)


Como já descrito anteriormente, para essa via, a biodisponibilidade é
completa (F=1). É de grande valia quando há necessidade de efeito
imediato. Trata-se, portanto, de uma via que requer cuidados redobrados,
pois reações desfavoráveis podem acontecer. A dose a ser administrada
precisa estar rigorosamente acertada, pois não pode haver contaminação
microbiológica nem de partículas sólidas na preparação. Além disso,
fármacos em veículos oleosos e que tenham partículas que precipitem no
sangue não podem ser administrados, afinal, uma vez administrados, não
há recuo.

VIA PULMONAR
Algumas drogas podem ser inaladas e absorvidas através do epitélio
pulmonar. O acesso à circulação é rápido e, dessa forma, a chegada ao sítio
de ação também, com a vantagem de evitar o metabolismo de primeira
passagem. Por essa via, pode-se administrar fármacos com intenção de
ação sistêmica e local. Quando se deseja uma ação no próprio
:
compartimento pulmonar, é preciso pensar em retê-lo nesse compartimento;
isso, em geral, é ajustado pela preparação que se utiliza ou por fármacos da
classe com menor lipossolubilidade, que tendem a permanecer no pulmão,
em vez de ir para a circulação sistêmica.

VIA TRANSDÉRMICA
A pele representa um órgão protetor bastante eficiente. Quando há a
pretensão de absorção pela via transdérmica, deve-se considerar fármacos
com lipossolubilidade capazes de atravessar as diferentes camadas
celulares que formam os tecidos. A absorção pode ser aumentada quando o
fármaco é colocado em suspensão em veículos oleosos e sob fricção.
Patches tópicos são muito interessantes nessa via, a exemplo dos adesivos
de nicotina, para tratar abstinência de tabaco, e estrogênio, para terapia de
reposição.

NESTE VÍDEO, ABORDAREMOS AS DIFERENTES


:
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO E DIFERENTES CURVAS
DE ABSORÇÃO.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. OBSERVAMOS QUE, NA FARMACOCINÉTICA, ALGUMAS


CARACTERÍSTICAS DOS FÁRMACOS SÃO MUITO
IMPORTANTES PARA DEFINIR SUA PERMEABILIDADE
ATRAVÉS DAS BARREIRAS BIOLÓGICAS. NESSE
CONTEXTO, MARQUE A QUESTÃO VERDADEIRA:
:
A) As membranas plasmáticas permitem a passagem de fármacos
hidrossolúveis por difusão passiva simples, sem auxílio de nenhum
componente facilitador.

B) A definição do quão fácil será a movimentação do fármaco entre os


compartimentos biológicos dependerá do seu coeficiente de partição lipídeo/
água, pois, sendo lipossolúvel, terá melhor difusão por estruturas lipídicas,
e, sendo hidrossolúvel, por ambientes aquosos (espaço intersticial).

C) A endocitose de fármacos é possível, entretanto exigirá energia para que


seja realizada.

D) Quanto mais lipossolúvel, mais o fármaco se utilizará dos poros aquosos


presentes nas membranas e na parede vascular para se movimentar de um
ambiente biológico para outro.

2. A BIODISPONIBILIDADE DE UM FÁRMACO É
INFLUENCIADA PELAS CARACTERÍSTICAS DO PRÓPRIO
FÁRMACO E PELA VIA DE ADMINISTRAÇÃO ESCOLHIDA.
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA EM RELAÇÃO A
ESSE CONCEITO.

A) A via oral possuiu adversidades que comprometem a absorção dos


fármacos, como a interação com alimentos, reduzindo, dessa forma, a
biodisponibilidade.

B) Não é possível atestar sobre a biodisponibilidade de fármacos


administrados pela via intravenosa, pois, após a administração, o fármaco
se dissolve na circulação, sendo impossível detectá-lo.

C) A via transdérmica não gera absorção dos fármacos; sendo assim, eles
não serão biodisponíveis por essa via.
:
D) Pela via pulmonar, espera-se que fármacos mais lipossolúveis
permaneçam no pulmão e fármacos mais hidrossolúveis atinjam a
circulação sistêmica com mais facilidade.

GABARITO

1. Observamos que, na farmacocinética, algumas características dos


fármacos são muito importantes para definir sua permeabilidade
através das barreiras biológicas. Nesse contexto, marque a questão
verdadeira:

A alternativa "B " está correta.

A lipossolubilidade permitirá a difusão dos fármacos por estruturas lipídicas


(membrana plasmática fosfolipídica), mas dificultará o acesso a ambientes
aquosos (citosol, espaço intersticial). A hidrossolubilidade complica,
portanto, a passagem de fármacos pelas membranas fosfolipídicas. Quanto
maior a lipossolubilidade, maior o coeficiente de partição, melhor a difusão
direta pelas membranas e menor a utilização de poros. Na alternativa C, o
erro está em dizer que a endocitose ocorrerá caso haja quebra de ATP. O
uso de ATP só é realizado em transporte ativo, que não é o caso da
endocitose.

2. A biodisponibilidade de um fármaco é influenciada pelas


características do próprio fármaco e pela via de administração
escolhida. Assinale a alternativa correta em relação a esse conceito.

A alternativa "A " está correta.

Os alimentos podem interagir com os fármacos formando complexos


:
insolúveis e não absorvíveis, reduzindo suas biodisponibilidades. A via
intravenosa, ao contrário do que é descrito na alternativa B, é a de maior
biodisponibilidade (100%). Pela via transdérmica, apenas fármacos muito
lipossolúveis sofrem absorção sistêmica, mas é um evento possível. A
alternativa C, portanto, está incorreta. Na alternativa D, o erro está em
considerar que a lipossolubilidade manterá os fármacos administrados pela
via pulmonar, aprisionados nesse órgão, quando sabemos que é o inverso.

PROCESSO FARMACOCINÉTICO
DE DISTRIBUIÇÃO
Após a absorção ou a inserção do fármaco diretamente na circulação
sistêmica, é necessário que ele seja entregue ao tecido-alvo para que
exerça sua ação. O processo de saída do fármaco da circulação sistêmica
para os diferentes tecidos é denominado de distribuição.

Dependendo de suas propriedades físico-químicas, o fármaco pode ser


distribuído para o espaço intersticial ou fluido intracelular. A chegada do
fármaco aos órgãos e tecidos é determinada por alguns fatores,
principalmente: fluxo sanguíneo e permeabilidade dos capilares que
irrigam o órgão/tecido.
:
Fonte:Shutterstock

Além do fluxo sanguíneo e da permeabilidade dos capilares que irrigam os


tecidos, outros eventos devem ser considerados no processo de distribuição
dos fármacos. Clique nos eventos que listamos a seguir.

FLUXO SANGUÍNEO

Tecidos bem perfundidos de sangue recebem mais fármaco do que


tecidos menos perfundidos. Dessa forma, espera-se que fígado, rim e
cérebro recebam mais fármaco, pois o fluxo sanguíneo para esses
compartimentos é bastante pronunciado. Da mesma forma, é
esperado que a pele, o músculo e o tecido adiposo recebam menos
fármaco, afinal o fluxo sanguíneo é menos pronunciado.
:
PERMEABILIDADE DOS
CAPILARES

Outro fator que precisa ser considerado e a permeabilidade dos


capilares que irrigam tais compartimentos. No caso do cérebro, por
exemplo, tem-se a presença de capilares oclusivos, que compõem a
barreira hematoencefálica. Para alcançarem essa região, os fármacos
precisam permear esses capilares. Logo, apesar de ter um bom fluxo
sanguíneo, nem todos os fármacos são bem distribuídos para o
cérebro ou o sistema nervoso central como um todo; na realidade,
uma minoria o fará.

LIGAÇÃO A PROTEÍNAS PLASMÁTICAS


Muitos fármacos circulam na corrente sanguínea ligados a proteínas
plasmáticas. Albumina é a principal carreadora de fármacos ácidos, e a α1-
glicoproteína ácida, a principal carreadora de fármacos básicos. Ocorre que
a fração do fármaco ligada a proteínas plasmáticas se torna, nesse
momento, uma fração, apesar de existente, farmacologicamente inativa,
enquanto a fração livre (não ligada) é a farmacologicamente ativa, capaz de
sair do vaso, alcançar o tecido alvo e gerar ação.

A ligação é geralmente reversível, de forma que a retirada do fármaco da


circulação (por eliminação ou distribuição para o tecido) gere redução de
fármaco livre. Na mesma medida, o fármaco antes ligado se desliga da
proteína circulante, restaurando o equilíbrio entre as porções de fármacos
:
ligados e desligados das proteínas.

Entende-se, portanto, que as frações livres e ligadas se mantêm constantes


em função desse equilíbrio dinâmico que é formado. A alta ligação às
proteínas circulantes infere em maior risco de efeitos adversos e tóxicos.

A primeira consideração sobre esse evento é a redução da velocidade de


eliminação dos fármacos, uma vez que, ligados às proteínas circulantes, o
processo de filtração renal é impedido. Isso aumenta o tempo de
permanência do fármaco no organismo como veremos no esquema,

 Demonstração da ligação de fármacos às proteínas plasmáticas,


atentando para o fato de que fármacos mais ligados sofrem menor
depuração (clearance ), ou seja, eliminação renal, gerando concentração
total do fármaco maior na circulação sistêmica, apesar de mantidas as
porcentagens livres. Adaptado de Smith, Di e Kerns, 2010.

Além disso, é preciso considerar que muitos fatores podem alterar a ligação
do fármaco a essas proteínas: hipoalbuminemia; condições que resultem em
respostas de fase aguda (Câncer e infarto são exemplos dessa fase.) ;
:
alterações nos níveis hormonais (Muitos hormônios são carreados pelas
proteínas circulantes.) . Qualquer fator que gere competição pela mesma
proteína na qual está ligado o fármaco pode, de forma repentina, aumentar
sua porção livre (Farmacologicamente ativa.) e, dessa forma, gerar um
aumento de efeito. Observe abaixo.

 Demonstração da competição entre dois fármacos pela mesma proteína


plasmática. Percebe-se que o fármaco deslocado da proteína (fármaco A)
passa a ter maior porção livre e, dessa forma, maior capacidade de ação no
tecido-alvo. Fonte: Adaptado de Portal da Educação.

LIGAÇÃO A TECIDOS
Alguns fármacos tendem a acumular-se em tecidos, adquirindo
concentrações até maiores do que as que atingem no sangue e no espaço
extracelular. A ligação nos tecidos normalmente ocorre por afinidade a
constituintes celulares, como proteínas, fosfolipídeos, e é um processo
reversível.

Quando grande parte do fármaco se encontra ligado ao tecido, o mesmo


serve de reservatório, o que prolonga a ação do fármaco no organismo.
Além disso, o acúmulo no tecido pode gerar toxicidade local (a exemplo da
ototoxicidade produzida pelos aminoglicosídeos). Muitos fármacos
:
lipossolúveis se acumulam no tecido adiposo. O percentual desse tecido em
alguns indivíduos, como em pessoas obesas, pode contribuir para acúmulo
de fármacos, aumentando o risco de gerar reservatório.

Ainda nesse contexto, é importante ressaltar que alguns fármacos se ligam


a tecidos em um evento chamado de redistribuição. Muitas vezes, a redução
da concentração plasmática do fármaco é observada, mas não
necessariamente sua eliminação. Após o efeito primário, no tecido-alvo,
alguns fármacos podem se redistribuir para outros tecidos, o que, muitas
vezes, contribui para encerrar rapidamente seu efeito, a exemplo do
tiopental.

TAMANHO DOS FÁRMACOS


Outro fator que pode afetar a distribuição é o tamanho dos fármacos.
Fármacos demasiadamente grandes tendem a ficar retidos no espaço
intravascular pois não conseguem difundir pela parede dos vasos.

Um exemplo claro desse evento é a heparina que fica contida ao espaço


intravascular por conta de seu alto peso molecular.

No caso específico da heparina, que é um anticoagulante, isso não gera


prejuízos em sua ação, todavia, para os fármacos cujo receptor se encontra
nos diferentes tecidos é a presença do fármaco no espaço intersticial, que
garante o efeito farmacológico.

O VOLUME APARENTE DE
DISTRIBUIÇÃO

Uma das medidas em farmacocinética utilizadas para mensurar, ainda que


de forma pouco realística, a distribuição do fármaco administrado após uma
:
dose é o volume de distribuição (Vd). O volume aparente de distribuição,
Vd, é definido como o volume de líquido necessário para conter a
quantidade total da substância no corpo, na mesma concentração presente
no plasma. Dessa forma, o Vd pode ser medido a partir da seguinte
equação:

Observa-se que:

Fármacos muito ligados às proteínas plasmáticas ou de grande tamanho


possuem um Vd aparente menor (heparina Vd=0,05L/Kg);


Fármacos polares, que conseguem sair do espaço intravascular, mas
tendem a ficar no espaço extracelular, possuem um Vd mediano
(Vd=0,2L/Kg);


Fármacos mais lipossolúveis, que conseguem se difundir pelas membranas
celulares, possuem Vd mais alto (morfina Vd=2L/Kg).

METABOLISMO/BIOTRANSFORMAÇÃO
DE FÁRMACOS
:
O metabolismo dos fármacos é outro processo farmacocinético que contribui
para a retirada do fármaco da circulação sistêmica. Entretanto, ele faz isso
auxiliando na eliminação desses fármacos.

Muitos agentes lipofílicos não passam rapidamente para o ambiente aquoso


da urina, diminuindo a gerência do rim sob sua eliminação. O metabolismo
dos fármacos contribui nesse sentido, pois os produtos formados
(metabólitos) são mais hidrossolúveis e, portanto, mais bem eliminados
pela via renal. Há casos ainda que tais metabólitos formados são inativos, o
que pode contribuir para o término da ação farmacológica. Em outros casos,
o metabólito gerado, apesar de mais polar e hidrossolúvel, possuiu atividade
biológica e até atividade tóxica.

Fonte: Shutterstock

A biotransformação dos fármacos é majoritariamente realizada pelo fígado e


ocorre por reações de fase 1 (oxidação, redução, hidrólise, e por ação das
enzimas citocromo P450) e reações de fase 2 (conjugação). Como já
:
relatado anteriormente, o TGI pode metabolizar fármacos, além de outros
tecidos, como o pulmão, o rim e até mesmo as enzimas presentes no
sangue; por isso, são chamadas de vias secundárias.

CLIQUE NOS ESQUEMAS E LEIA O TEXTO

 As duas fases do metabolismo de fármacos. Fonte: Adaptado de Rang


et al ., 2003.
:
 Ciclo da reação catalisada pela enzima da família CYP 450, onde DH é o
fármaco, e DOH, o produto (metabólito) oxidado. Fonte: Adaptado de Rang
et al ., 2003.

ESQUEMA 1

As enzimas de fase 1 levam à introdução de grupos funcionais como –


OH, –COOH, –SH, –O– e NH2, o que aumenta a solubilidade em água
e altera a atividade biológica do fármaco, inclusive gerando inativação.

Em algumas situações, porém, a reação de fase 1 pode ser benéfica,


principalmente as reações de hidrólise, que podem favorecer a
ativação de pró-fármacos. Pró-fármacos são compostos inativos que,
:
ao serem biotransformados, são convertidos em seus compostos
ativos.

Essa estratégia pode favorecer a absorção de fármacos pouco


lipossolúveis, melhorando a disponibilidade do fármaco para o seu
sítio de ação.

As reações de fase 2 são realizadas através da conjugação de


componentes biológicos que elevam significativamente a
hidrossolubilidade dos seus produtos.

Alguns exemplos são os aminoácidos (glicina), derivados de


carboidratos (ácido glicurônico), sulfato, metil, acetil e glutationa. Esse
processo é limitado, pois depende da presença desses substratos,
necessitando de quantidades maiores de substratos para a fazer as
reações de fase 2.

Um exemplo é quando um fármaco é administrado em sobredose,


pois, com isso, é possível que o processo fique saturado,
incapacitando o fígado de concluir a biotransformação do fármaco.

ESQUEMA 2

As enzimas do citocromo P450 (enzimas da reação de fase 1) são


proteínas do heme, que formam uma grande família; cada uma é
designada pela abreviatura CYP, seguida de um conjunto de números
e letras. Já foram descritas mais de 74 famílias de genes CYP, das
quais as três principais são CYP1, CYP2 e CYP3, e elas estão
envolvidas no metabolismo das substâncias no fígado.
:
A formação de glicuronídio, por exemplo, envolve a constituição de um
composto de fosfato, a uridina difosfato, a partir do qual o ácido glicurônico é
transferido para um átomo rico em elétrons no substrato, formando uma
ligação amida, éster ou tiol. A UDP-glicuronil transferase catalisa essas
reações.

Várias substâncias endógenas importantes, como a bilirrubina e os


corticosteroides suprarrenais, também são conjugadas pelo mesmo sistema,
conforme esquema ao lado.

Fonte:Shutterstock

Uma vez que algumas reações de fase 1 são realizadas por meio de
enzimas, alguns fatores podem interferir na capacidade delas. Em seres
humanos, já são descritas variações interindividuais nas enzimas P450. O
polimorfismo genético de algumas enzimas gera em determinados
indivíduos aumento ou redução da capacidade catalítica dessas enzimas,
predispondo esses indivíduos a um risco maior de efeitos adversos ou
tóxicos. Uma variante do gene CYP2D6, por exemplo, resulta em
:
hidroxilação deficiente ou extensa da debrisoquina.

Algumas consequências clínicas importantes relacionadas ao polimorfismo


genético da CYP estão disponíveis no quadro a seguir. É possível observar
os defeitos na biotransformação de fármacos devido a polimorfismo na
enzima CYP450, responsável pelo processo e por suas consequências
clínicas.

Droga e Uso Consequências


Defeito
terapêutico clínicas*

Bufuralol (bloqueador
Exacerbação do
Oxidação dos receptores β-
bloqueio β, náusea
adrenérgicos)

Debrisoquina (anti- Hipotensão


Oxidação
hipertensiva) ortostática

Rubor facial,
Oxidação Etanol sintomas
cardiovasculares

Síndrome
Hidralazina (anti-
N- Acetilação semelhante ao
hipertensiva)
lúpus eritematoso

Isoniazida Neuropatia
N- Acetilação
(antituberculosa) periférica
:
Mefenitoína Toxicidade por
Oxidação
(antiepilético) superdosagem

Sintomas
Oxidação Esparteína
oxitócicos

Succinilcolina
Hidrólise de
(bloqueador Apneia prolongada
éster
neuromuscular)

 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem


horizontal

 Fonte: Adaptado de BRUNTON et al ., 2018

ALGUNS FATORES, INCLUSIVE OS AMBIENTAIS,


PODEM INDUZIR OU INIBIR AS ENZIMAS. EXISTEM
INIBIDORES E INDUTORES ENZIMÁTICOS TANTO
NA DIETA QUANTO NO AMBIENTE.
Alguns agentes farmacológicos atuam como inibidores, e fazem isso
competindo pelo sítio ativo da enzima, apesar de não serem substratos
(quinidina é um potente inibidor competitivo da CYP2D6). Outras inibem de
forma não competitiva (cetoconazol forma complexo estável com a forma

Fe3+ do ferro hêmico da CYP3A4).


:
INIBIDORES

A erva de São João e o suco de grapefruit e inibem o metabolismo de


alguns fármacos.


:
INDUTORES

E a couve-de-bruxelas e o tabaco induzem as enzimas P450.

FÁRMACOS INIBIDORES
Alguns agentes farmacológicos atuam como inibidores, e fazem isso
competindo pelo sítio ativo da enzima, apesar de não serem substratos
(quinidina é um potente inibidor competitivo da CYP2D6).

Outras inibem de forma não competitiva (cetoconazol forma complexo

estável com a forma Fe 3+ do ferro hêmico da CYP3A4).

FÁRMACOS INDUTORES
No grupo dos indutores, temos as substâncias rifampicina, etanol e
carbamazepina, que aumentam a atividade das enzimas CYP450 e da
conjugação, quando administradas cronicamente. A indução enzimática
pode aumentar ou diminuir a toxicidade de substâncias.

O paracetamol possui metabólitos (produto do metabolismo) de fase 1 que


geram toxicidade; portanto, a toxicidade aumenta após indução enzimática.
:
Para os pró-fármacos, a indução enzimática por alimentos, os fatores
ambientais ou outros fármacos favorecem a biotransformação e, por
conseguinte, a produção da substância ativa. Alguns exemplos estão
organizados abaixo.

 Fármacos que produzem metabólitos ativos ou tóxicos após o processo


de biotransformação. Fonte: Adaptado de Rang et al ., 2003
:
VÍDEO COM AVALIAÇÃO

Neste vídeo, abordaremos as duas fases da biotransformação:


:
VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. A DISTRIBUIÇÃO DE FÁRMACOS É UMA ETAPA QUE


DEFINE A ENTREGA DO FÁRMACO AO TECIDO. MARQUE
A OPÇÃO VERDADEIRA EM RELAÇÃO A ESSE PROCESSO
FARMACOCINÉTICO.

A) A ligação a proteínas plasmáticas favorece a saída do fármaco do vaso


sanguíneo, aumentando sua distribuição.

B) Alguns tecidos sofrem acúmulo dos fármacos, a exemplo do tecido


adiposo com fármacos hidrossolúveis.

C) A permeabilidade do capilar que irriga o tecido também define quanto do


fármaco será distribuído para ele, uma vez que, no caso da barreira
hematoencefálica, por exemplo, a oclusão promovida impede a entrega de
alguns fármacos para o SNC.

D) O fígado quase não recebe fármacos da circulação sistêmica, pois, além


de ter baixo fluxo sanguíneo, os vasos são pouco permeáveis.
:
2. SABE-SE QUE A BIOTRANSFORMAÇÃO DOS
FÁRMACOS OCORRE, EM GRANDE PARTE, NO FÍGADO.
EM RELAÇÃO ÀS DIFERENTES REAÇÕES REALIZADAS,
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.

A) As reações de fase 1 são as de conjugação, substratos endógenos com


o ácido glicurônico se unem aos fármacos ou a seus metabólitos de fase 1.

B) As reações de fase 2 são as de oxidação, exigem a ação das enzimas da


citocromo P450 e são saturáveis.

C) As reações de fase 1 incluem as de oxidação, podem utilizar-se das


enzimas da citocromo P450 e são passíveis de indução e inibição.

D) As reações de fase 2 não são saturáveis, pois os substratos necessários


são sempre produzidos pela célula hepática em grandes quantidades.

GABARITO

1. A distribuição de fármacos é uma etapa que define a entrega do


fármaco ao tecido. Marque a opção verdadeira em relação a esse
processo farmacocinético.

A alternativa "C " está correta.

Alguns tecidos são irrigados por vasos que permitem maior permeabilidade
do conteúdo intravascular; outros, como no caso da barreira
hematoencefálica, são oclusivos, tornando difícil a passagem dos fármacos
e, portanto, sua chegada ao tecido. A ligação a proteínas plasmáticas
aprisiona o fármaco no vaso, diminuindo sua passagem para o tecido. O
tecido adiposo funciona como tecido de depósito para fármacos
:
lipossolúveis, em razão da afinidade deles por esse ambiente. Ao contrário
do que é descrito na alternativa D, o fígado é bem perfundido de sangue e
possui capilares bastante permeáveis.

2. Sabe-se que a biotransformação dos fármacos ocorre, em grande


parte, no fígado. Em relação às diferentes reações realizadas, assinale
a alternativa correta.

A alternativa "C " está correta.

Nas reações de fase 1, as de oxidação incluem as catalisadas pelas


enzimas da família da citocromo P450. Alguns fatores, como alimentos,
fatores ambientais e fármacos, podem aumentar ou diminuir a capacidade
dessas enzimas. As reações de fase 2 são as de conjugação, que podem
utilizar substratos endógenos, como aminoácidos, ácido glicurônico e
glutationa. São, portanto, saturáveis, pois dependem da presença desses
substratos.

OS PROCESSOS
:
FARMACOCINÉTICOS DE
ELIMINAÇÃO

A saída dos fármacos do organismo pode ser realizada por diferentes vias.
Sabe-se que os processos de eliminação renal e hepático biliar são muito
importantes e que outras vias secundárias também são utilizadas.

SUOR
:
LÁGRIMAS

LEITE MATERNO
:
VIA PULMONAR

VIA PULMONAR

É a principal para via de eliminação dos fármacos administrados


também por essa via.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
O fármaco pode ser eliminado na sua forma não alterada ou na forma
de metabólito.

Com exceção do pulmão, os órgãos excretórios eliminam melhor


:
compostos polares do que altamente lipofílicos.

Para que a eliminação seja eficiente, os que são lipossolúveis, em


geral, dependem de conversão a seus metabólitos mais
hidrossolúveis.

A eliminação de fármacos no leite materno deve ser identificada, pois


isso é possível para alguns fármacos; dessa forma, o recém-nascido,
ao ser amamentado, fica vulnerável aos efeitos do fármaco. É
importante ressaltar que O pH do leite é mais ácido do que o pH do
plasma; assim, compostos básicos poderão concentrar-se nesse fluido

Em algumas situações, quando administrado pela via oral, boa parte


do fármaco sequer alcança a circulação, pois é eliminada nas fezes
antes de ser absorvida.

O rim é o órgão mais comprometido com a eliminação dos fármacos,


porém apenas 30% deles são eliminados na sua forma não
modificada. O que quer dizer que o fígado precisa auxiliar o rim
metabolizando os fármacos, para que consigam ser eliminados. Além
disso, alguns alcançam o sistema porta e o fígado, que retorna o
fármaco para o TGI lançando-o diretamente no intestino ou pela bile,
eliminando-o.
:
Fonte:Shutterstock

Estando presente na circulação sistêmica e ao passar pelo glomérulo, o


fármaco, ou seu metabólito, pode ser filtrado. Isso dependerá da taxa de
filtração glomerular, de o fármaco estar na sua forma livre e ser menor que
20 mil dáltons para conseguir se difundir pelos capilares glomerulares.

Ainda que não tenha sido filtrado, é possível que o fármaco seja secretado
ativamente no túbulo renal por carreadores de ácidos ou de bases
existentes nessa região.

O processo de secreção tubular representa grande parte da eliminação de


substâncias ligadas a proteínas plasmáticas. Ao alcançar o lúmen do túbulo,
existe a possibilidade de o fármaco permanecer e, assim, ser excretado na
urina ou retornar à circulação sistêmica pelo processo de reabsorção.

As células tubulares são pouco permeáveis às formas ionizadas, e a


reabsorção passiva dessas substâncias depende do pH.
:
NO TÚBULO RENAL

Nesse caso, portanto, a secreção dependerá da afinidade do fármaco


ou de seu metabólito através desses carreadores e quão disponível
eles estarão, já que podem saturar.

PH

Quando o pH da urina está mais alcalino, ácidos fracos são ionizados


e excretados mais facilmente; em urina mais ácida, bases fracas serão
mais bem eliminadas. Isso ocorre porque formas ionizadas não são
reabsorvidas e permanecem no túbulo, sendo, por fim, eliminadas. Da
mesma forma, sendo lipossolúvel, o fármaco, ou o metabólito,
consegue sofrer reabsorção, retornando à circulação sistêmica e
sendo menos eliminado

Como observado, o pH da urina pode interferir na eliminação de fármacos.


Alimentos e/ou compostos que alterem o pH da urina podem favorecer ou
desfavorecer a eliminação de um fármaco pela via renal, pois, ao favorecer
sua forma ionizada, a permanência no túbulo é garantida, mas, ao favorecer
a forma não ionizada, há risco de reabsorção.

Alguns outros fatores devem ser considerados como interferentes na


eliminação de fármacos:

 Escolha uma das Etapas a seguir.


:
FATOR 1
FATOR 2
FATOR 3
Idade (neonatos e idosos possuem menor taxa de filtração glomerular).

Quadros patológicos (insuficiência renal e hepática – este segundo pelo fato


de reduzir a capacidade do fígado de gerar os metabólitos hidrossolúveis,
que são mais bem eliminados).

Ligação a proteínas plasmáticas (quanto maior a ligação, menor será a


filtração no glomérulo).

Para fármacos que dependem da secreção tubular, devemos considerar as


interações medicamentosas possíveis quanto à competição pelos
carreadores tubulares. Quando dois fármacos competem pelo mesmo
carreador, isso implica em menor secreção de um deles – a administração
de probenecida acompanhada de penicilina é um exemplo positivo dessa
interação (a probenecida reduz a eliminação da penicilina, fazendo-a
permanecer mais tempo em circulação). Entretanto, para outras interações,
há o risco de efeitos tóxicos.

De forma geral, pode-se pensar que a redução da concentração plasmática


do fármaco se deve à sua distribuição, redistribuição e eliminação.

Em farmacocinética, a eliminação dos fármacos é descrita como depuração


ou clearance (CL).

No nível mais simples, a depuração de um fármaco é um evento que prevê


sua taxa de eliminação em relação à sua concentração (C). Por sua vez, um
fármaco se retira do espaço intravascular, seja por distribui-se ao tecido,
seja por eliminação, a concentração plasmática decresce. Observe
atentamente as etapas nas imagens a seguir, que ilustram modelos de
distribuição e eliminação dos fármacos.
:
 Clique nas figuras abaixo para ver as informações.

FIGURA A

Podemos comparar a injeção intravenosa de um fármaco com a adição dele


dentro de uma proveta. Quando não movimento de fármaco para fora da
proveta, o gráfico mostra apenas aumento na concentração até um máximo
e depois um platô.
:
FIGURA B

Neste caso, existe uma via de eliminação (representada pela torneira) e por
isso o gráfico apresenta um declínio após atingir a concentração máxima. A
inclinação da curva diminui porque a redução do material na proveta faz
com que a eliminação também diminua, exponencialmente.
:
FIGURA C

O fármaco é colocado em um compartimento (sangue) e se distribui para um


segundo compartimento (volume extravascular). Neste caso, o gráfico
mostra um aumento íngreme (referente ao momento em que o fármaco é
adicionado), depois há um decaimento exponencial até um novo platô
(quando a quantidade de fármaco fica em quantidades equilibradas nos dois
compartimentos).

FIGURA D
:
Esta figura ilustra a representação mais condizente com o mecanismo de
eliminação e equilíbrio extravascular. No gráfico, perceba que há uma fase
precoce de distribuição e posteriormente uma fase de eliminação mais lenta.

Ao administrar por via intravenosa uma quantidade específica do fármaco, o


mesmo se dispersa pela circulação sistêmica e para os compartimentos
extravaculares. A eliminação e a distribuição definem a redução progressiva
da quantidade do fármaco na circulação sistêmica.

A depuração é um evento que soma a eliminação do fármaco por todas as


vias. A eliminação do fármaco, como assinalado anteriormente, envolve
processos realizados no rim, no fígado, nos pulmões, no suor, no leite
materno, entre outros.

A depuração total é o somatório da depuração em todas essas vias e


expressa o volume de fluido biológico, como o sangue ou plasma, do qual o
fármaco se livra por unidade de tempo.

Fonte: Conhecimento Científico

É expressa em volume por tempo sobre por peso (ex: mL/min por Kg),
:
onde CL é depuração ou taxa de eliminação.

Para a maioria dos fármacos, a depuração é constante na faixa de


concentração plasmática aferida em situações clínicas. Assim, a velocidade
de eliminação é proporcional à concentração, logo: Taxa de eliminação =
CL X C

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
Esse tipo de eliminação é denominado eliminação de primeira
ordem e pode ser calculada pela razão entre a dose e a ASC
(CL=DOSE/ASC). Para poucos fármacos, ou quando a dose é
excessiva para os que realizam a eliminação de primeira ordem, a
eliminação é ou torna-se saturada, denominando-se eliminação
passível de saturação. Caso o fluxo sanguíneo não limite a eliminação,
a relação entre a velocidade de eliminação e a concentração será:
:
A equação é semelhante a de Michaelis-Menten, que expressa cinética
enzimática, onde Vmáx é a capacidade máxima de eliminação do
fármaco, e Km é a concentração do fármaco em que a velocidade é
50% da máxima. Substâncias como o etanol e a aspirina obedecem a
esse perfil de eliminação. Ao saturar a capacidade de eliminação, a
concentração continua crescendo com o aumento da administração da
droga. Não se pode utilizar a ASC no cálculo da depuração nesse
perfil.

Outro parâmetro farmacocinético importante a ser considerado na


eliminação dos fármacos é o tempo de meia-vida (t1/2), que se refere

ao tempo necessário para se reduzir à metade a quantidade do


fármaco no organismo. É definido através da seguinte equação:

Existem dois principais modelos para definir a distribuição e o decaimento


da quantidade do fármaco na circulação. O modelo de um compartimento é
mais simples e estabelece que o fármaco se distribui igualmente para os
compartimentos corporais, como se todos fossem um só, comparado a um
compartimento central.

Sendo assim, a verdadeira meia-vida terminal será maior do que a calculada


pela equação, ou outros parâmetros podem se mostrar diferentes. Um
:
exemplo de como considerar o modelo certo faz diferença, como mostramos
a seguir.

COMPARTIMENTO CENTRAL

Este exemplo foi apresentado anteriormente. Observe a figura:

Na maioria dos casos, porém, o modelo de multicompartimento


descreve melhor a farmacocinética do fármaco, como se, por exemplo,
órgãos como o coração, fígado e pulmão, que são menores e bem
perfundidos, representassem o compartimento central, e tecidos com
perfusão mais lenta, como pele, gordura e osso, se comportassem
como outro compartimento. Veja a figura:
:
CURVA DE CP X TEMPO SEGUIDA DE UMA
ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACO IV (500MG) PARA UM
PACIENTE DE 70KG.

Neste painel a concentração foi medida após e em intervalos de 2 horas


após a administração. Ao extrapolar a curva para concentração plasmática
no tempo zero (Cp0), o gráfico sugere que o fármaco é eliminado a partir de
um compartimento com um t1/2 de 4 horas. O volume de distribuição (V),
calculado a partir da Cp0 medida, foi de 31,3 L, e o clearance , de 90
mL/min.
:
CURVA DE CP X TEMPO SEGUIDA DE UMA
ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACO IV (500MG) PARA UM
PACIENTE DE 70KG.

Neste painel a amostragem antes de 2 horas indicou uma cinética


multiexponencial. O t1/2 não modificou (4 h), entretanto o clearance foi de
84 mL/min, e Vd, de 26,8 L. Houve um erro de 10% na estimativa do
clearance quando as duas horas iniciais foram ignoradas.

FARMACOCINÉTICA CLÍNICA

EFEITO DE ESQUEMA DE DOSES


REPETIDAS

A administração de doses repetidas de um fármaco é um evento mais


comum do que a administração de uma única dose. A infusão contínua é um
esquema de doses repetidas mais extremo.

Entende-se que a concentração plasmática aumenta até atingir uma


concentração em estado de equilíbrio dinâmico, onde a velocidade de
:
administração torna-se igual à velocidade de eliminação.

Fonte:Shutterstock

Fonte:Shutterstock
 Perfil de variação da concentração plasmática esperada para um
esquema de infusão contínua (A), injeções repetidas mais frequentes (B),
injeções repetidas menos frequentes (C). Fonte: Adaptado de RANG et al .,
:
2003

A velocidade de eliminação, como já descrito acima, é igual ao CL


(clearance ) x C (concentração – nesse caso, a concentração no estado de
equilíbrio dinâmico), logo:

Um esquema de injeções repetidas possuiu um padrão mais oscilante, mas


o princípio é o mesmo. De forma geral, quanto menores e mais frequentes
as doses, mais próximo o perfil se parecerá com o da infusão contínua, e as
oscilações serão menores, conforme o gráfico ao lado.

O equilíbrio dinâmico é alcançado após quatro ou cinco tempos de meia-


vida.

 SAIBA MAIS

O alcance da concentração plasmática de equilíbrio é possível quando o


fármaco apresenta uma cinética de eliminação de primeira ordem, o que
gera uma taxa de eliminação proporcional à taxa de absorção, possibilitando
o alcance desse equilíbrio.

Para fármacos com cinética de eliminação de ordem zero ou cinética de


saturação, quando a taxa de eliminação não é proporcional ao aumento da
concentração plasmática, o perfil de curva observado é diferente.
:
Fonte: Adaptado de Rang et al., 2003.

NA CINÉTICA LINEAR, A CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA


NO ESTADO DE EQUILÍBRIO DINÂMICO É DIRETAMENTE
PROPORCIONAL À DOSE.

Comparação do perfil da curva de fármacos administradas via oral a cada


12 horas com cinética de primeira ordem (linear), onde o equilíbrio dinâmico
é alcançado.

Fonte: Adaptado de Rang et al., 2003.

NA CINÉTICA DE SATURAÇÃO, UM PEQUENO


INCREMENTO NA DOSE RESULTA EM UM EFEITO
DESPROPORCIONAL SOBRE A CONCENTRAÇÃO
PLASMÁTICA.

Comparação do perfil da curva de fármacos administradas via oral a cada


12 horas na cinética de saturação, onde o equilíbrio dinâmico é imprevisível.
:
SOBRE DOSAGENS REPETIDAS
Para um esquema de doses repetidas, tem-se, portanto, que os fármacos
devem ser administrados de modo a manter uma concentração plasmática
de equilíbrio, que gere o efeito esperado e seja segura. Cada dose deve ser
suficiente para repor o fármaco eliminado na dose anterior. A dose a ser
administrada a cada tomada, para manter essa concentração-alvo, é
chamada de dose de manutenção. Uma vez que, no estado de equilíbrio, a
taxa de “entrada” (administração) iguala-se à taxa de “saída” (eliminação) do
fármaco no organismo, substituindo-se a concentração (C) pela
concentração-alvo (C alvo) (que se espera ter) na equação da taxa de
eliminação, temos que:

Para vias de administração, onde a biodisponibilidade não é 100%, ou seja,


F<1, como no caso da via oral, a taxa de administração deve ser ajustada
pelo fator de biodisponibilidade. Logo, usaremos Taxa de administração x F
na equação.

A taxa de administração para doses repetidas representa a dose de


manutenção a ser administrada em relação ao intervalo entre essas doses:

Em algumas situações, antes de gerar um esquema de manutenção, é


preciso alcançar rapidamente a concentração plasmática alvo. Nesses
:
casos, é possível administrar uma dose de ataque, que é capaz de elevar
imediatamente a concentração ao nível-alvo. Essa dose pode ser calculada
da seguinte forma:

VÍDEO COM AVALIAÇÃO

Neste vídeo, apresentamos um estudo de caso para abordar um esquema


de doses repetidas.
:
VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. A ELIMINAÇÃO DE FÁRMACOS PODE SER REALIZADA


POR VIAS PRINCIPAIS (RIM, FÍGADO, PULMÃO – PARA
FÁRMACOS ADMINISTRADOS POR ESSA VIA) OU POR
VIAS SECUNDÁRIAS (LEITE MATERNO, SUOR, LÁGRIMAS).
NA DEPURAÇÃO RENAL, TRÊS PROCESSOS ESTÃO
ENVOLVIDOS. A RESPEITO DESTES, PODE-SE DIZER QUE:

A) A filtração glomerular é possível para fármacos de grande tamanho que


:
não conseguem ser secretados pelos carreadores tubulares.

B) A secreção ativa no túbulo renal é determinada pela lipossolubilidade do


fármaco, não importando seu caráter ácido ou básico.

C) Sendo lipossolúvel, é garantida a eliminação do fármaco pela via renal,


pois a probabilidade de reabsorção tubular é quase nula.

D) A filtração glomerular e a secreção tubular garantem a inserção do


fármaco no túbulo renal, mas é possível que ele não seja eliminado caso
ocorra a reabsorção.

2. PARA SE OBTER UMA CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA


DE TEOFILINA DE 10MG/L PARA TRATAMENTO DE ASMA
BRÔNQUICA – CONSIDERANDO CL 2,8L/H/70KG, UM
PACIENTE NORMAL SOB OS DEMAIS ASPECTOS –, DE
QUANTO DEVE SER A TAXA DE INFUSÃO DESSE
FÁRMACO? (HOLFORD ET AL ., 1993).

A) 50mg/h/70Kg.

B) 28mg/h/70Kg.

C) 15mg/h/70Kg.

D) 10mg/h/70Kg.

GABARITO

1. A eliminação de fármacos pode ser realizada por vias principais (rim,


fígado, pulmão – para fármacos administrados por essa via) ou por
vias secundárias (leite materno, suor, lágrimas). Na depuração renal,
três processos estão envolvidos. A respeito destes, pode-se dizer que:
:
A alternativa "D " está correta.

Os três processos (filtração, secreção e reabsorção) definem a depuração


renal de fármacos. Apesar de filtrados e secretados, caso tenham
lipossolubilidade e estejam na forma não ionizada, os fármacos ou
metabólitos podem ser reabsorvidos e retornar à circulação sistêmica.
Fármacos de grande tamanho não são filtrados no glomérulo; a secreção
ativa no túbulo é independente da lipo ou hidrossolubilidade, depende do
caráter ácido ou básico do fármaco, pois é preciso afinidade dos
carreadores presentes no túbulo renal.

2. Para se obter uma concentração plasmática de teofilina de 10mg/L


para tratamento de asma brônquica – considerando CL 2,8L/h/70Kg,
um paciente normal sob os demais aspectos –, de quanto deve ser a
taxa de infusão desse fármaco? (Holford et al ., 1993).

A alternativa "B " está correta.

Pois a taxa de administração= CL x C alvo, logo taxa de infusão=


2,8mg/h/70Kg x 10mg/L = 28mg/h/70Kg.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como observado ao longo de todo o conteúdo abordado, a farmacocinética


engloba um conjunto de processos e parâmetros importantes a serem
:
considerados no processo de administração de medicamentos.

A forma como o organismo reage à presença do fármaco define a maneira


como vamos manuseá-lo e trabalhar seu uso nos diferentes indivíduos. É
importante observar que, apesar de muitos parâmetros farmacocinéticos
serem estimados a partir de medidas observadas na maioria dos indivíduos
testados, as características particulares, como presença de quadros
patológicos ou polimorfismo genético, podem distanciar o comportamento do
paciente do comportamento observado na maioria. Isso requer grande
atenção no momento da escolha e administração de fármacos pelos
profissionais da saúde.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS

BRUNTON, L. L.; HILOW-DANDAN, R.; KNOWMAN, C. B. Goodman e


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Discovery 2010, 9, 929–939.

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contendo lamivudina e zidovudina em plasma humano .
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CONTEUDISTA

Luiza Villarinho Pereira Mendes

 CURRÍCULO LATTES
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