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Farmacocinética: descomplicando conceitos da farmacologia |


Colunistas
Comunidade Sanar
 11 min • 21 de mar. de 2021

 Índice

1. Introdução

2. Farmacocinética

3. Absorção

4. Distribuição

5. Metabolismo

6. Excreção

7. Conclusão

Introdução

A farmacocinética é uma parte essencial para o estudo da farmacologia, já


que ajuda na compreensão da atuação de tais fármacos no organismo.

A farmacocinética estuda o caminho do fármaco no organismo, desde a sua


administração, absorção, distribuição e metabolismo, até a sua excreção.
Cada uma dessas etapas pode afetar positiva ou negativamente a ação do
fármaco, dependendo da forma como for aproveitada – por exemplo, a
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absorção de fármacos como o omeprazol se dá de forma mais eficiente
quando se está de jejum.

Farmacocinética

O estudo da farmacocinética é essencial para determinar a efetividade


clínica de um medicamento, já que é a partir dela que saberemos os
caminhos dos fármacos no organismo, se ele foi bem-sucedido em
ultrapassar barreiras fisiológicas e em sua distribuição nos órgãos-alvo. A
farmacocinética, dessa forma, compreende o estudo do caminho do
fármaco no corpo humano, desde a sua administração até a sua
metabolização ou excreção, passando por várias etapas, como a absorção, a
distribuição e a metabolização. Durante esse estudo, adquire-se
conhecimento sobre o que pode facilitar ou dificultar a absorção de um
determinado fármaco, o que pode ser feito para melhorar sua distribuição,
e, também muito importante, é possível determinar interações
medicamentosas que podem ocorrer em diferentes fases, como na
metabolização dos fármacos no fígado.

A farmacocinética se divide em absorção, distribuição, metabolização e


excreção. Na absorção, é importante aprender sobre os diferentes locais em
que ela pode ocorrer e as barreiras fisiológicas que dificultam o processo
absortivo; já na distribuição, estuda-se os caminhos dos medicamentos até
chegarem ao órgão-alvo, seja pela corrente sanguínea ou linfática; no
metabolismo dos fármacos, vê-se que eles podem ser transformados em
metabólitos inativos, prontos para excreção, ou até mesmo em compostos
mais ativos que o inicial, e isso se dá por atividade enzimática; por último,
na excreção, entende-se quais os locais por onde o organismo elimina o
fármaco.

Absorção

A absorção de um fármaco se dá após a sua administração e depende da


passagem desse fármaco pelas barreiras do organismo. Exemplos da
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proteção exercida pelo organismo são a secreção ácida no estômago e
básica no intestino, que podem aumentar ou diminuir a entrada do
medicamento, de acordo com as suas propriedades químicas.

Outro fator importante definido durante a absorção é a biodisponibilidade,


ou seja, a fração do fármaco que alcançará a circulação sistêmica, de acordo
com a forma de administração realizada, as propriedades químicas do
fármaco e algumas características próprias do paciente. A respeito das
formas de administração, podem ser divididas em vias enterais, ou seja, oral
e retal, e parenterais, a exemplo das transdérmicas.

A via enteral é a forma mais simples e prática de se administrar um fármaco,


já que engloba a administração oral. Apesar disso, é necessário que o
medicamento apresente certa resistência, já que ele será exposto a
ambientes ácidos, no estômago, e básicos, no intestino. De forma geral, para
que um fármaco seja administrado via oral e seja bem absorvido pelo
organismo no trato digestivo, ele deve apresentar característica hidrofóbica
e carga neutra, já que essas são absorvidas de forma mais eficiente do que
moléculas hidrofílicas e de carga negativa. Depois de absorvidos, os
fármacos não cairão diretamente na circulação sistêmica. Antes disso, serão
transportados pelo sistema porta até o fígado, onde sofrerão um processo
chamado de metabolismo de primeira passagem. Nesse momento, o
fármaco pode tanto sofrer uma baixa em seus metabólitos ativos quanto ser
biotransformado em metabólitos mais ativos que o original, e é por isso que
é necessário conhecer o metabolismo de cada fármaco no organismo e,
também, a dose necessária para que, caso ocorra diminuição da
concentração ativa, ainda exista metabólitos efetivos suficientes para
alcançar o órgão-alvo. É possível concluir, portanto, que a
biodisponibilidade do fármaco, quando administrado de forma enteral/oral,
será menor que a concentração administrada originalmente, já que
ocorrerão perdas durante o processo de metabolismo de primeira
passagem.

TABELA: Vias de administração de fármacos


VIA VANTAGENS  Índice DESVANTAGENS
Enteral (p. ex., O fármaco exposto ao ambiente GI e ao
administração oral metabolismo de primeira passagem
Simples, de baixo custo, conveniente, indolor e não causadora de infecção
de ácido requer absorção GI, e sua liberação no
acetilsalicílico) local de ação farmacológica é lenta
Parenteral (p. ex.,
Rápida liberação no sítio de ação farmacológica, alta biodisponibilidade, Efeito irreversível; potencialidade de
administração
sem risco de metabolismo de primeira passagem ou inativação em produzir infecção, dor, medo; necessidade
intravenosa de
ambiente GI adverso de pessoal técnico experiente
morfina)
Transmucosa (p. Rápida liberação no sítio de ação farmacológica, não sujeita ao
ex., administração metabolismo de primeira passagem ou a ambientes adversos do trato GI, Existem poucos fármacos disponíveis
respiratória de frequentemente indolor, simples e conveniente, baixa indutora de para administração por essa via
beclometasona) infecção, liberação direta nos tecidos afetados (p. ex., brônquios)
Transdérmica (p.
Simples, conveniente, indolor, excelente para administração contínua ou Exige fármaco altamente lipofílico,
ex., aplicação de
prolongada, não sujeita a metabolismo de primeira passagem ou liberação lenta no sítio de ação
adesivo de
ambientes adversos do trato GI farmacológica; pode provocar irritação
nicotina)

FONTE: GOLAN, David E. et al. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacologia. 3. ed. Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

Nas vias parenterais, o fármaco é administrado diretamente na circulação


sistêmica. Dessa forma, a biodisponibilidade do fármaco é igual à
concentração original, já que não haverá perdas durantes a absorção. As
diferentes formas de administração parenterais diferem entre si na
velocidade de ação do fármaco, já que depende do fluxo sanguíneo no
tecido em que o medicamento foi administrado. Assim, a administração
mais rápida é a intravenosa, em que ocorre a introdução direta do
medicamento na circulação. Enquanto isso, a administração subcutânea
ocorre no tecido adiposo, que é pouco vascularizado e, portanto, leva a uma
ação mais lenta do fármaco. Já a intramuscular, por ocorrer em espaço
melhor vascularizado, causará uma ação farmacológica mais rápida, Entrar
mas não
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se comparando Etapas da carreira intravenosa.
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Além desses dois principais tipos, os fármacos também podem ser
administrados por membranas mucosas e por via transdérmica. O primeiro,
sendo um ambiente altamente vascularizado, a exemplo das mucosas ocular,
sublingual e nasal, apresenta rápida absorção e baixa taxa de infecção. Já o
segundo é ideal para fármacos que precisam de uma administração lenta e
por longos períodos de tempo, sendo absorvidos a partir da pele
diretamente para o sangue, como o exemplo dos adesivos de nicotina.

Distribuição  Índice
A distribuição do fármaco é feita principalmente pela circulação sistêmica, e
secundariamente pela circulação linfática. É a partir desse momento que os
metabólitos são capazes de alcançar os órgãos-alvo.

Depois de chegar à circulação sistêmica, os fármacos distribuem-se


rapidamente a outros compartimentos do corpo, chegando aos seus locais
de ação ou sendo excretados. Para que não sejam excretados de forma
muito rápida, podem ser armazenados em tecido adiposo ou muscular, de
forma que são liberados desses reservatórios conforme a concentração do
fármaco diminui na circulação sistêmica.

Além disso, a ligação dos fármacos a proteínas plasmáticas, como a


albumina, também aumenta o tempo de disponibilidade do fármaco na
circulação sistêmica e, consequentemente, o tempo de ação desse fármaco.
Quando ligados a tais proteínas, os fármacos ficam inibidos de sofrerem
difusão pela membrana dos órgãos-alvo, de forma que somente os
metabólitos livres na circulação passarão para realizarem sua ação final.
Depois, quando a concentração de fármaco livre estiver diminuída, aqueles
ligados às proteínas plasmáticas serão liberados, de modo que conseguirão
se propagar através da membrana.

Ligação das proteínas e sequestro de fármacos

FONTE: GOLAN, David E. et al. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacologia. 3. ed. Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

Metabolismo

O fígado é o principal órgão responsável pela metabolização dos fármacos


no organismo, devido à grande quantidade de enzimas metabólicas
presentes no órgão. Tais reações de metabolização são chamadas de
biotransformação, nas quais o fígado é capaz de transformar o fármaco em
metabólitos ativos, inativos e/ou facilitando sua eliminação.

As reações de biotransformação podem ser classificadas em duas fases: fase


I ou de oxidação/redução e fase II ouconjugação/hidrólise.
Índice
As reações de
oxidação/redução mais conhecidas são aquelas realizadas pelas enzimas do
citocromo P450 microssomal, e nelas grupos polarizados são adicionados
ou encobertos, modificando a estrutura química do fármaco. Os pró-
fármacos são ativados nas reações de fase I e são medicamentos
administrados de forma inativa, ativados no fígado. Já as reações de
conjugação/hidrólise têm como objetivo inativar um metabólito ou
aumentar a sua solubilidade, de forma a aumentar a sua excreção na urina
ou na bile.

Excreção

A excreção dos fármacos do organismo geralmente se dá por via renal ou


biliar e é facilitada devido à metabolização dos fármacos nas fases de
oxidação/redução e conjugação/hidrólise, já que podem aumentar a
hidrossolubilidade dos fármacos.

A excreção renal é a mais comum, mas depende da natureza hidrofílica dos


fármacos. Esses podem ser filtrados no glomérulo renal, secretados no
túbulo proximal, reabsorvidos no lúmen tubular e transportados de volta ao
sangue, e excretados para a urina. É o equilíbrio entre essas quatro
dinâmicas que mostrará a taxa de excreção de fármacos pelos rins.

Filtração, secreção e reabsorção nos rins

FONTE: GOLAN, David E. et al. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacologia. 3. ed. Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

A excreção biliar geralmente se dá pela ajuda de alguns membros da


superfamília de transportadores do conjunto de ligação do ATP. Para serem
eliminados, os fármacos passarão por todo o intestino delgado e intestino
grosso, podendo sofrer circulação entero-hepática, ou seja, ser
reabsorvidos no intestino delgado, caindo na circulação porta e, depois
disso, na circulação sistêmica.

Conclusão  Índice
A farmacocinética é parte importante da farmacologia para o entendimento
da dose ideal de cada fármaco, as barreiras que ele precisará ultrapassar, a
garantia de que a biodisponibilidade seja suficiente, além de ensinar sobre
sua distribuição nos órgãos-alvos, metabolização – principalmente no
fígado –, e excreção renal e biliar.

A absorção pode ser tanto enteral, sendo importante lembrar da


biodisponibilidade e do efeito de primeira passagem, e parenteral. Já a
distribuição dos fármacos explica o seu caminho na circulação sistêmica até
os órgãos-alvos. O metabolismo, mecanismo muito importante, pode
transformar os fármacos em metabólitos ativos ou inativos, facilitando a
excreção, e ocorre principalmente no fígado. Por último, a excreção, ou seja,
eliminação do fármaco do organismo, que ocorre principalmente por via
renal ou biliar.

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O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da


sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de


colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar
decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço
empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.

Referências:

FONTE: GOLAN, David E. et al. Princípios de farmacologia: a base


fisiopatológica da farmacologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2014.

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