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INTEGRAÇÃO

METABÓLICA

“Sabemos que cada tecido e, em geral,


cada célula do organismo secretam no
sangue produtos ou fermentos especiais
que influenciam todas as outras células
i n t e g r a n d o - a s , d e s s a f o r m a , p o r
mecanismos diferentes do sistema
nervoso.”
- Charles Édouard Brown-Séquard and J.
d’Arsonval, 1891.
A presença do alimento no trato digestivo é o único
estímulo para o início da digestão?
Fase cefálica da digestão
Liberação de ácido gástrico

conversa sobre alimentação

conversa sobre esportes

Liberação de ácido gástrico durante uma hora de silêncio, seguida por ½ hora de uma conversa sobre
esportes (o) ou alimentação (•). A barra preta indica o período de ½ hora quando as discussões
ocorreram.
Figura retirada de: Tom Brody. Nutritional Biochemistry, 2ª edição, Academic Press, 1999.
Etapas da digestão

boca parótida
acessóri
a
parótida ducto
parótid
o
sublingual

submandibul
ar
Etapas da digestão
fundo
antro
pilórico
boca corpo

esôfago
piloro
estômago células células
mucosas mucosas

células
lúmen do parietais
estômago

células
principais células
principais

células
parietais lúmen do
estômago
Glândula gástrica
(fundo do estômago)
Digestão no estômago

Hormônios

ü Gastrina: secretada pelas células G (antro estomacal), estimula a secreção de
suco gástrico (HCl) pelas células parietais.
Estímulo principal: proteínas dietéticas

ü Grelina: estimula o apetite

Enzimas

ü Lipase gástrica

ü Pepsinogênio – pepsina: secretado pelas células principais


Digestão no estômago

Gastrina e a produção de suco gástrico

Secreção de suco gástrico e níveis séricos de gastrina após uma refeição.


Reproduzido de Blair et al., 1987
Digestão no estômago

Digestão de proteínas em recém-natos

ü  pH do estômago não é tão baixo: menor ativação de pepsina

Importância: permitir absorção dos anticorpos da mãe presentes no


leite (colostro)
Etapas da digestão

fígado
vesícula biliar
pâncreas
duodeno

intestino delgado
Digestão no intestino delgado

Hormônios e peptídeos

ü Secretina (bicarbonato e fluido)
ü Colecistocinina (CCK): regulação da contração da vesícula
biliar, ativação de pepsinogênio e regulação da motilidade e controle da ingestão de
distensão do estômago (saciedade) alimentos
ü Glucagon-like peptide (GLP-1) – aumenta secreção de
insulina (saciedade)
ü Grelina (apetite)


Enzimas

ü Enteroquinase (conversão de tripsinogênio em tripsina)
ü Fosfatases alcalina e ácida
ü Sacarase
ü Lactase digestão de carboidratos da dieta
ü Maltase
ü Isomaltase
Digestão no intestino delgado – órgão auxiliares
Pâncreas

ü Bicarbonato

Enzimas:
ü Tripsinogênio
ü Quimotripsinogênio
ü Procarboxipeptidase A e B
ü Pro-elastase
ü Pro-fosfolipase
ü Amilase
ü Lipase
ü DNAse
ü RNAse


Fígado e vesícula biliar

ü Sais biliares – digestão lipídeos
Regulação e controle da ingestão de alimentos

Relação entre ingestão, gasto e armazenamento de energia


O que mais pode controlar a disponibilidade
de nutrientes para o corpo?
Microbioma humano

Cresci GA, Bawden E. Gut Microbiome: What We Do and


Don't Know. Nutr Clin Pract. 2015 Dec;30(6):734-46.
Microbioma humano

Cresci GA, Bawden E. Gut Microbiome: What We Do


and Don't Know. Nutr Clin Pract. 2015 Dec;30(6):
Microbioma humano

Dieta
Regulação e controle da ingestão de alimentos

+ tecido adiposo è + leptina è - consumo alimentar


+ oxidação de ácidos graxo
Regulação e controle da ingestão de alimentos

Núcleo arqueado no hipotálamo –


leptina e insulina

ü Inibição de peptídeos orexígenos


(NPY)

ü Estímulo de peptídeos anorexígenos


(α-MSH)

mutação do gene ob – fenótipo obeso


(hipotálamo)

estimulam o apetite

-
(neuropeptídeo Y)
inibem o apetite
(hormônio estimulante de
melanócito α)

+ - +
ANOREXIGÊNICO OREXIGÊNICO
METABOLISMO TECIDO ESPECÍFICO: divisão do trabalho
Cérebro Transporta íons para
manter o potencial
Secreta insulina e Pâncreas de membrana;
glucagon em resposta a integra o corpo e
mudanças na arredores; envia
concentração de glicose Sistema
sinais para outros linfático
sanguínea. órgãos.

Processa gorduras, Fígado


carboidratos e
proteínas da dieta; Carrega lipídeos do
sintetiza e distribui intestino para o
lipídios, corpos fígado.
cetônicos e glicose para
Tecido
outros tecidos; Sintetiza,
converte o excesso de adiposo estoca e
nitrogênio em uréia. mobiliza
triacilgliceróis.
Veia Porta (tecido adiposo
marrom:
Carrega nutrientes do
responsável
intestino para o fígado.
pela
Intestino delgado termogênese)

Usa ATP para realizar


Absorve nutrientes da trabalho mecânico.
dieta, move para o
sangue ou sistema
linfático

Musculo esquelético
Nutrientes (carboidratos, proteínas e açúcares)

Hidrolisados e absorvidos pelas A maioria dos açúcares e


células epiteliais do intestino aminoácidos e alguns triacilgliceróis
(TAG) passam para o sangue e são
conduzidos ao fígado.

Os triacilgliceróis
penetram no sistema VEIA PORTA: rota direta
linfático e daí entram dos órgãos do sistema
no tecido adiposo. digestivo para o fígado.

Células de Kupffer: função imunológica;



Fígado Hepatócitos: transformam os nutrientes obtidos da
dieta nos combustíveis e precursores necessários
aos outros tecidos e os exportam para o sangue.
Fígado

Açúcares:
ü GLUT2: transportador de glicose hepático, altamente eficiente;

ü A glicose entra nos hepatócitos e é fosforilada pela hexoquinase IV (Glicoquinase),


produzindo glicose6-fosfato.
ü Glicoquinase: ↑ Km para a glicose, não é inibida pelo seu produto (glicose 6-fosfato)
Aminoácidos:
ü Precursores para a síntese de proteínas;
ü O fígado é local da biossíntese da maioria das proteínas presentes no plasma
sanguíneo;
Lipídios:
ü Os lipídios que entram nos hepatócitos possuem diferentes destinos;
glicose
6-fosfatase

Fígado
Biossíntese de ácidos
graxos e colesterol.
Fígado

Ciclo da alanina-glicose
Durante o intervalo entre as
refeições, especialmente se
prolongado, há alguma degradação
de proteínas em aminoácidos.
Fígado
Podem suprir a
demanda
energética até
30% no coração e
de 60-70% no
cérebro

Grande parte dos


lipídios
sintetizados é
transportada
para outros
tecidos pelas
lipoproteínas. O excesso de acetil CoA é
convertido em corpos
cetônicos, acetoacetato e
β-hidroxibutirato, que são
Na maioria das lançados no sangue e
circunstâncias, os ácidos transportados até os tecidos
graxos são os principais periféricos, onde são usados
combustíveis oxidativos do como combustível do ciclo
fígado. de Krebs.
Fígado

O fígado funciona como o centro distribuidor do


organismo: exportando nutrientes em proporções
corretas a outros órgãos, atenuando as flutuações
no metabolismo causadas pela natureza
intermitentes da ingestão alimentar e processando o
excesso de grupos amino em uréia e outros
produtos a serem eliminados pelos rins.
TECIDO ADIPOSO

ü  Adipócitos: 15 % da massa de um homem adulto jovem, com aproximadamente 65 %


dessa massa na forma de triacilgliceróis;

ü  Apresentam via glicolítica ativa;


ü  Usam o ciclo do ácido cítrico para oxidar piruvato e ácidos graxos e realizar a
fosforilação oxidativa mitocondrial;

ü  Em períodos de alta ingestão de carboidratos, pode converter a glicose (por meio do


piruvato e acetil-CoA) em ácidos graxos, e a partir destes os triacilgliceróis são
sintetizados e armazenados como grandes lóbulos gordurosos. No entanto, a maior
parte da síntese de ácidos graxos ocorre nos hepatócitos;
ü  Armazenam triacilgliceróis que chegam do fígado e do trato intestinal.
ü  Liberação de ácidos graxos é estimulada por epinefrina e glucagon e inibida por insulina
(quando aumenta a necessidade de combustível).
Localização do tecido adiposo marrom em bebês.
MÚSCULO
MÚSCULO
FIBRA MUSCULAR DO TIPO I
-  Oxidativa
-  Vermelha
-  Contração lenta
-  Exercício prolongado e
repetitivo (ciclismo,
maratona, etc)

TIPO I: muita mitocôndria,


vermelha, contração lenta,
gera pouca tensão, resistente à
fadiga, suprimento de vasos
sanguíneos maior, produz ATP
de forma relativamente lenta
mas constante (fosforilação
oxidativa).

DA POIAN & CASTANHO. Integrative Human Biochemistry, 2015.
FIBRA MUSCULAR DO TIPO II
-  Glicolítica
-  Branca
-  Contração rápida
-  Exercício de explosão, de
curta duração (100 m
rasos, luta ou fuga)

TIPO II: pouca mitocôndria,


branca, contração rápida, gera
tensão maior, pouco resistente
à fadiga, produz ATP de forma
relativamente rápida (via
glicólise), utiliza o ATP mais
depressa do que pode repô-lo.
Em atividade máxima, o
glicogênio muscular é
degradado até lactato pela
fermentação.

DA POIAN & CASTANHO. Integrative Human Biochemistry, 2015.


ATP-PCr – phosphocreatine, creatine kinase, adeniyate kinase
PDH – pyruvate dehydrogenase
TCA – tricarboxylic acid cycle
ETC - electron transport chain
FABP – fatty acid binding protein

Advanced Exercise Physiology: Essential Concepts and Applications


Ehrman, Kerrigan & Keteyian. Human Kinetics, 2018.
Fibra I (oxidativa)
Fibra II (glicolítica)

Schiaffino & Reggiani, Physiol Rev 2011, doi:10.1152/physrev.00031.2010


CICLO DE CORI

Os músculos esqueléticos
armazenam relativamente
pouco glicogênio (~1% do seu
peso total) , isso limita a
quantidade de energia
glicolítica disponível durante
um esforço máximo.
O MÚSCULO CARDÍACO difere do músculo esquelético por estar
continuamente ativo em ritmo regular de contração e relaxamento e pelo fato
de seu metabolismo ser aeróbio todo o tempo.

Os ácidos graxos são os o


combustível principal usado no
coração, mas utilizam também
glicose e corpos cetônicos que são
trazidos pelo sangue.
CÉREBRO

Manutenção do potencial elétrico


CÉREBRO
Ø  Os astrócitos (2º maior tipo celular do cérebro) podem oxidar ácidos graxos;
Ø  O cérebro tem um metabolismo respiratório muito ativo (20% do O2 total em
repouso);
Ø  Tem pouco glicogênio;
Ø  Dependente da glicose que chega pelo sangue;
Ø  Pode utilizar o β-hidroxibutirato (um corpo cetônico) formado a partir dos
ácidos graxos dos hepatócitos (importante durante o jejum prolongado, depois
que todo glicogênio hepático esgotar).
Ø  O cérebro oxida a glicose pela glicólise e ciclo do ácido cítrico, e o fluxo de
elétrons dessas oxidações através da cadeia respiratória fornece quase todo o
ATP usado por essas células.

Profª Luisa Ketzer


Metabolismo da glicose no cérebro:
(a) descansado e (b) em privação de sono por 48 horas.
SANGUE
Ø  Transporta oxigênio, metabólitos e hormônios;
Ø  O ser humano adulto possui 5-6 litros de sangue;

90%

10%

Componentes inorgânicos (10 %, CaCl2, MgCl2, KCl) Proteínas do plasma (70 %): albumina, VLDL, LDL, HDL,
Componentes orgânicos (20 %, glicose, imunoglobulinas)
aminoácidos, citrato, corpos cetônicos.

Profª Luisa Ketzer


SANGUE

Profª Luisa Ketzer


TRANSPORTADORES DE GLICOSE
Tecido Adiposo e Muscular
(2) Quando a insulina interage com o seu
receptor, vesículas movem-se para a superfície e
fundem-se com a membrana plasmática, (3) Quando o nível de glicose
aumentando o número de transportadores de diminui, os transportadores de
glicose na membrana plasmática. glicose são removidos da
membrana plasmática por
endocitose, formando
pequenas vesículas.

(1) Transportadores de
glicose são “estocados”
dentro da células na
membrana de vesículas.

(5) Endosomo enriquecido com


transportadores de glicose tornam-se (4) As pequenas vesículas
pequenas vesículas, prontas para retornar fundem-se com o grande
à superfície quando os níveis de insulina endosomo.
aumentam novamente.
Tecido Adiposo e Muscular
Refeição rica em carboidrato:
↑ glicose na corrente sanguínea
↑ secreção de insulina pelo pâncreas e
↓ secreção de glucagon.

Ilhotas de
Langerhans

Profª Luisa Ketzer


Regulação pela
glicose da secreção
de insulina pelas
células pancreáticas.

Profª Luisa Ketzer


Bem
alimentado
EFEITO DA INSULINA
Em resumo, o efeito da insulina é favorecer

a conversão do excesso de glicose sanguínea

em duas formas de armazenamento:

glicogênio (fígado e músculo) e


triacilgliceróis (no tecido adiposo).
Jejum
Jejum
prolongado
Gliconeogênese

Fígado


EFEITO DO GLUCAGON
O efeito do glucagon é, portanto, estimular a
síntese e a liberação da glicose pelo fígado e
mobilizar os ácidos graxos do tecido adiposo
para serem utilizados no lugar da glicose por
outros tecidos que não o encéfalo. Todos estes
efeitos do glucagon são mediados por
fosforilação proteica dependente de APMc.
Profª Luisa Ketzer
Níveis de Substratos e Hormônios no Sangue
Substrato ou Hormônio Estado Pós-absortivo Jejum Inanição
Absortivo (12 h) (3 dias) (5 semanas)
Insulina (µU/mL) 40 15 8 6
Glucagon (pg/mL) 80 100 150 120
Glicose (mM) 6,1 4,8 3,8 3,6
Ác. Graxos (mM) 0,14 0,6 1,2 1,4
β-hidroxibutirato (mM) 0,03 0,1 1,4 6,0

- em 1 semana de jejum o cérebro pode obter metade de sua energia dos corpos cetônicos

-  na inanição os ácidos graxos fornecem 75 % e os corpos cetônicos 25 % da energia para


células que não exigem glicose
Concentrações de glicose após refeição
0-4 horas após dieta
4 - 16 horas após dieta
16 - 28 horas após dieta
2 – 24 dias após dieta

RBCs -hemácias
24 – 40 dias após dieta
RBCs -hemácias
Combustível metabólico disponível em homem com peso normal (70 kg)
e em homem obeso (140 kg) antes de iniciar o jejum.
EFEITO EPINEFRINA (ADRENALINA)
EFEITOS METABÓLICOS DA ADRENALINA

DA POIAN & CASTANHO. Integrative Human Biochemistry, 2015.


EFEITO DO CORTISOL

- Diversos agentes estressores (ansiedade, medo, dor, infecção,
jejum, glicose sanguínea baixa) estimulam a liberação do hormônio
corticosteroide CORTISOL do córtex adrenal;
- Age no fígado, músculo e tecido adiposo para suprir o organismo
com combustível para manejar a situação estressante;
- Ação lenta, promove mudança nos tipos e nas quantidades de
determinadas enzimas sintetizadas em suas células alvo;
- Tecido adiposo: aumento na liberação de ácido graxos a partir dos
triacilgliceróis armazenados.
EFEITO DO CORTISOL

- Estimula a degradação de proteínas musculares e a exportação
dos aminoácidos para o fígado, onde servem como precursores
para gliconeogênese;
- No fígado, estimula a gliconeogênese por estimular a síntese da
PEP-carboxiquinase;

- O efeito dessas alterações metabólicas é a restauração dos níveis


normais de glicose e o aumento dos estoques de glicogênio,
pronto para das suporte à resposta de luta ou fuga comumente
associada ao estresse.
DIABETE MELITO

- TIPO 1 (ou diabete melito insulina-dependente): destruição
autoimune das células β pancreáticas e de uma consequente
incapacidade de produzir insulina em quantidade suficiente;
- TIPO 2 (ou diabete melito não insulina-dependente):a insulina é
produzida, mas alguns aspectos do sistema de resposta aos
hormônio estão defeituosos. As pessoas tornam-se resistentes à
insulina.
- Oxidação excessiva, mas incompleta, dos ácidos graxos do fígado.
A acetil –CoA produzida pela β-oxidação não pode ser oxidada
completamente pelo ciclo de Krebs, porque a alta relação [NADH]/
[NAD+] produzida pela β-oxidação inibe o ciclo.
- ↑ acetil-CoA = ↑ corpos cetônicos acetoacetato e β-
hidroxibutirato (CETOSE).
DIABETE MELITO

- O acetoacetato pode ser convertido em acetona – hálito alterado;
- Os corpos cetônicos são ácidos carboxílicos que se ionizam,
liberando prótons. A produção de ácido pode superar a capacidade
do sistema tampão bicarbonato do sangue e produzir uma redução
no pH sanguíneo (ACIDOSE), ou em combinação com a cetose,
CETOACIDOSE, uma combinação potencialmente letal.

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