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FISIOLOGIA DO APARELHO DIGESTÓRIO EM CÃES E GATOS

Profa. Me. Vanessa Pavesi de Faria

RESUMO

INTRODUÇÃO

Para entender a fisiologia digestiva de cães e gatos precisamos voltar aos


seus ancestrais, observando a domesticação de cães a partir de lobos selvagens
e dos gatos que advém de felinos africanos. Embasados na teoria da cadeia
alimentar os pets (Cães e Gatos) foram classificados como carnívoros, mas hoje
entendemos que na verdade cães são animais com características onívoros
oportunistas, podendo retirar de produtos de origem animal e vegetal nutrientes
para sua manutenção fisiológica. Já os felinos são carnívoros estritos, e
necessitam de alimento de origem animal para suprir nutrientes essenciais. A
diferença entre ambos os animais também está aparente quando observamos o
seu comportamento alimentar, onde os gatos se alimentam várias vezes durante
o dia, com alimentos de pequeno valor calórico, como se caçasse pequenas
presas; e o cães se alimentam com maior intervalo e em maior quantidade
calórica, ou seja, de uma a duas vezes por dia, além de terem costume de
enterrarem suas sobras.

ANATOMIA DIGESTIVA DE CÃES E GATOS

Os pets convencionais são monogástricos, que possuem um


comprimento de tubos digestivos menor quando comparados a herbívoros
(Figura 1). A boca destes animais tem como principal função a apreensão do
alimento, seus dentes molares são pontiagudos e não permitem uma mastigação
complexa como nos ruminantes, por isso no máximo os utilizam para
dilacerar/cortar ou quebrar o alimento em partículas menores. Após o alimento
ser deglutido este chega a primeira porção do tubo digestivo, o esôfago, onde o
bolo alimentar será conduzido da região de cabeça para região abdominal por
movimentos peristálticos com direção de crânio para caudal.
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O estomago destes animais possui ação importante na chamada digestão
química e física, pois além dos movimentos peristálticos produzidos pelos feixes
musculares de sua túnica intermediária, também libera ácido clorídrico (HCL), o
que auxilia a quebra do alimento em partículas menores. O intestino delgado é
composto pelo duodeno, jejuno e íleo, e tem como principal função a mistura de
secreções como sais biliares e enzimas pancreáticas ao quimo, e absorção de
nutrientes através da sua mucosa especializada. O duodeno está localizado logo
após o estômago, e tem sua mucosa com microvilos para facilitar a absorção
dos nutrientes luminais para os capilares entéricos. O intestino grosso é
composto pelo ceco (não funcional), colón e reto, e está relacionado
principalmente na absorção hidroeletrolítica.

Figura 1: Trato intestinal de um cão (representação esquemática). Fonte: KÖNIG


& LIEBICH, 2021.

FISIOLOGIA DIGESTIVA DE CÃES E GATOS

O sistema digestório tem como função principal transportar nutrientes


como aminoácidos, açucares, água e eletrólitos para o sistema circulatório
distribuir para todas as células do corpo. Para tal, o alimento sofre processos

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como digestão química (através de secreções glandulares), digestão mecânica
(através de movimentos peristálticos) e uma pequena quantidade de digestão
microbiológica.
No estomago as células parietais produzem duas substâncias
importantes, uma é o HCL com papel importante de manter o meio ácido para
ativar a Pepsina e lipase gástrica, além de manter o equilíbrio microbiológico do
estômago. Outra substância que advêm destas células é o fator intrínseco
responsável pela combinação com vitamina do complexo B, permitindo sua
posterior absorção no intestino. Estas duas secreções são controladas pelo
sistema nervoso autonômico, em especial pela liberação do neurotransmissor
parassimpático acetilcolina, além de outros fatores como liberação de gastrina e
histamina. Outros tipos de células presentes no estomago, e suas funções
podemos observar na tabela 1.

Tabela 1: Relação de tipos de células encontradas na mucosa gástrica de cães


e gatos, relacionadas ao seu tipo de produto secretado e ação produzida.
Tipo de Célula Produto de Secreção Função da Secreção
Mucosa (Colo) Muco e Bicarbonato Formação de barreira de proteção entre
mucosa e HCL
Parietais HCL e fator Intrínseco HCL mantem meio ácido para ativação da
pepsina, e fator intrínseco que auxilia absorção
de vitamina B12.
Principais Pepsinogênio e Lipase Pepsinogênio no meio ácido se transforma em
pepsina que digere proteínas e Lipase quebram
gorduras (em cães).
Tipo D Somastatina Inibe liberação de HCL
Tipo G Gastrina Estimula secreção de HCL

Após a passagem pelo estômago o alimento triturado e aquoso ganha o


nome de quimo, e chega a primeira porção do intestino delgado, o duodeno,
onde recebera a secreção exócrina do pâncreas com presença de enzimas e
bicarbonato. O suco pancreático tem como principal função fazer a digestão
enzimática dos nutrientes, podemos observar os tipos de enzimas e suas ações
na tabela 2, além de liberar NaHCO₃ que irá neutralizar os ácidos. Outras
secreções pancreáticas são os hormônios (função endócrina), como insulina e
glucagon, ambos responsáveis pelo balanço glicêmico do organismo.

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Na fase duodenal também se observa a chegada da bile, produzida no
fígado, esta tem papel de emulsificar gorduras ingeridas e torna-las partículas
menores aptas a receber ação das lipases originando ácidos graxos e gliceróis.
A quebra de carboidratos e proteínas é auxiliada ainda pela secreção de
peptidases, aminopeptidases, sacarase, maltase, lactase e isomaltase pelos
enterócitos.

Tabela 2: Relação de tipos de enzimas pancreáticas de cães e gatos,


relacionadas ao seu tipo de ação (substrato= substância em que atua, e produto=
substância final).
Enzima Substrato Produto
Amilase Amido Maltose
Lipase Gorduras Ácidos graxos e glicerol
Tripsina Proteínas Peptídeos
Quimiotripsina Proteínas Peptídeos
Nucleases Ácidos nucleicos Nucleotídeos

O quimo é misturado as enzimas pelos movimentos peristálticos, além de


transportado pelo intestino onde as substâncias são absorvidas pelos enterócitos
e captadas pelos capilares entéricos. Todas os nutrientes absorvidos são
drenados ao fígado pelo sistema porta hepático, onde ocorre os processos de
metabolização. Os movimentos peristálticos e todo sistema digestório são
regulados através do SNC, em especial pelo sistema nervoso autônomo
(parassimpático) e sistema nervoso entérico, endócrinos e parácrinos.
Os microrganismos intestinais exercem um impacto benéfico direto sobre
a saúde nos pets, além de principalmente em cães exercerem a ação de
metabolismo de nutrientes e liberação de ácidos graxos de cadeia curta.
Finalizando o quimo chega ao intestino grosso onde ocorre absorção de água, e
sódio, formando assim o bolo fecal. Será composto por ceco (não funcional),
cólon, sigmoide e reto.

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